quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Doces da Dona Nena são o sabor do sertão

Foto: Silvio Oliveira

Os Doces da Dona Nena são o sabor do sertão em compotas. Umbu, mangaba, jaca, mamão, goiaba, doce de queijo, de leite batido, em bolas, com ameixa, doce de carambola. Ufa! E as cocadas? O ponto é parada obrigatória na Rodovia SE 206, entre os municípios de Nossa Senhora da Glória e Monte Alegre, em Sergipe.

Dona Nena ganhou fama na região graças aos seus mais de 25 tipos de doces caseiros fabricados artesanalmente, vendidos todos os dias, das 7 às 18h. A procura é tão grande que são vendidos mais de 10kg de cocada por dia. Os preços variam de R$ 2 a R$ 8 (doces) e de R$ 3 a R$ 6 (biscoitos).

Dona Nena é ponto de parada obrigatório para quem aporta no sertão, seja para morar ou conhecer seus encantos e sabores mil.

Com informações de Silvio Oliveira.

Texto e imagem reproduzidos do site: fmamanhecer.com

Antiga foto da cidade de Aracaju

Foto reproduzida do site: skyscrapercity.com

Conheça Sergipe



 


Conheça Sergipe

Sergipe é o menor estado brasileiro, com 21.962,1 Km2. Localizado no litoral da região Nordeste, entre os estados da Bahia e de Alagoas, e uma população estimada de 1.784.475 habitantes.

O estado de Sergipe possui 75 municípios que abrigam ecossistemas variados com belíssimas paisagens, cidades históricas – Laranjeiras e São Cristóvão, além de manifestações culturais e artesanais próprias.

A capital de Sergipe é o município de Aracaju, considerada a cidade com melhor qualidade de vida do Brasil. Ela foi fundada em 1855, sendo a primeira cidade planejada do país. Devido ao pequeno tamanho do Estado, a cidade mais distante da capital é Canindé, a 213 km.

Dados Gerais
Localização: Nordeste
Área: 21.962,1 km²
População: 1.784.475 habitantes
Relevo: Planície litorânea com várzeas e depressão na maior parte do território
Ponto mais elevado: Serra Negra (742 m)
Rios principais: São Francisco, Vaza-Barris, Sergipe, Real, Piauí, Japaratuba
Vegetação: Mangues no litoral, faixa de floresta tropical e caatinga na maior parte do território
Clima: Tropical atlântico no litoral e semi-árido
Hora local: Horários de Brasília
Capital: Aracaju
Habitante: Aracajuano, aracajuense
População: 461.534 habitantes
Data de fundação: 17/3/1855
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Dados estatísticos e informações obtidas nos sites
www.governo.se.gov.br e www.ibge.gov.br
Crédito das imagens e fotografias: Governo do Estado de Sergipe
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 Texto reproduzido do site: tce.se.gov.br

Sabor Sergipe - Feijão

Foto reproduzida do site: f5news.com.br

sábado, 26 de novembro de 2016

Museu da Gente Sergipana, em Aracaju

Museu da Gente Sergipana, na Avenida Ivo do Prado, em Aracaju/SE.
Foto: Márcio Garcez.
Reproduzida do site: agencia.se.gov.br

quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Tradição, arte e fonte de renda: a história da 'capital sergipana do barro'

 



























Publicado originalmente no site da Agência Sergipe de Notícias, em 07/07/2015.

Tradição, arte e fonte de renda: a história da capital sergipana do barro.
Saiba mais sobre o município de Santana do São Francisco, no qual quase 5 mil habitantes vivem apenas da cerâmica

Por Monique Garcez, repórter da ASN

As águas lúcidas e vibrantes do Velho Chico poderiam ser o ponto de partida de qualquer relato sobre Santana do São Francisco, município distante cerca de 120 km de Aracaju. Isso se, outra matéria prima da natureza não fosse o carro-chefe da região. O barro, que suja os pés e faz lama, é o mesmo que esculpe, ganha forma e vai para o mundo. É o barro de Pezão, Capilé e Chicô, antigos artesãos da cidade, e também de 70% da população que reside nesta localidade do Baixo São Francisco.

Relatos bíblicos dizem que Deus fez o céu e a terra e que da costela de Adão se fez a mulher. Em Santana do São Francisco, do barro se fez mulheres, homens, vasos, animais e mais uma centena de seres e objetos. Do barro construíram-se casas, olarias, vidas inteiras e a história de toda uma região, que tira do fundo de grandes buracos o sustento diário.

A partir de traços fortes, pinturas delicadas, grandes formas e frágeis miniaturas, as esculturas de argila ganham vida. A cidade do norte do estado é polo da produção ceramista. Conhecida antigamente como Carrapicho, a localidade foi batizada como capital sergipana do artesanato. Logo em sua entrada, o rio da pesca, dos tototós e dos barquinhos dá as boas vindas. O centro de artesanato, que reúne 68 pontos de venda, é também um dos pontos de recepção. Um pouco mais a frente, à beira da pista, olarias, com grandes fornos, produzem as cerâmicas. Do outro lado, em grandes terrenos baldios, carroças vêm e vão com o barro. Os chamados aprontadores também se concentram neste lugar. Eles ‘apilam’, ‘agoam’, pisam e amaciam a argila.

Do modo de falar a produção do barro

Assim como diversos países, Santana do São Francisco tem seu próprio dicionário. Agoar é colocar água no barro. Pinicar, mexer com a enxada. Apilar é preparar a argila. Maromba é o maquinário que ‘apronta’ o barro, ou seja, amacia. Candangue é o ajudante do artesão. Torno é onde as peças são modeladas. Aprontador é quem retira e prepara a matéria prima. Pisa é a unidade de medida. 10 pisas equivalem a 30 pedaços de argila. Essa é a quantidade que uma carroça suporta carregar. E cada 10 pisas valem R$ 15.

Explicados os vocábulos, é mais fácil esclarecer como funciona a cadeia produtiva da cerâmica. É tudo bem organizado e, em geral, as tarefas são divididas de modo que, a mão de obra do início não é a mesma do fim.

Tudo começa no terreno baldio. Grandes buracos são cavados para retirada da argila. O primeiro monte de terra retirado não serve, pois é recheado de impurezas, terra e mato. Cerca de 30 cm abaixo do solo é onde está o material de trabalho dos ceramistas, segundo conta o aprontador José Gilmar dos Santos. Ele explica que, quanto mais fundo, melhor a qualidade do barro. E se engana quem pensa que o material já sai pronto do subsolo. Para que a argila seja manuseada, ela passa por um processo que dura em média três dias.

De acordo com o aprontador Ernando dos Santos Mendes Filho, depois de retirado o barro, é necessário agoá-lo e pinicá-lo algumas vezes. Há também o processo de pisada da argila, que serve para amaciá-la. E dentre esse período de mexer e remexer o material, também é preciso deixá-lo descansar. Só depois disso tudo é que os carroceiros, outros membros da cadeia produtiva, podem levar e distribuir as pisas, que, nas mãos dos ceramistas, já chegam ao custo de R$ 25.

“Consigo aprontar 100 pisas por semana”, conta Ernando. Ele iniciou os trabalhos com o barro ainda criança. O aprontador diz que não gostava de estudar e que aos 10 anos começou a acompanhar o pai. “Fui ficando adulto e, como dizem, engrossando os ossos, e continuei. Graças a Deus tiro meu sustento daqui, seja pouco ou muito. A partir daqui já conquistei uma casa e as coisas dela. Consigo viver bem, sem aperreação”, comenta.

Perto da área onde Ernando aprontava o barro, estava Kátia de França, sua família e alguns ajudantes trabalhando em uma olaria. No local, vários processos de produção da cerâmica acontecem. Com tarefas delimitadas, cada uma das sete pessoas é responsável por colocar a argila na maromba, modelar as peças no torno, promover o polimento, colocar para secar e queimar no forno, produzir os detalhes e realizar a pintura.

“Trabalhar com cerâmica é algo que gosto muito. Principalmente porque envolve a minha família. Produzimos todos juntos e tenho meus filhos por perto. Para mim, é muito gratificante. As pessoas vêm de fora para conhecer nosso trabalho e me sinto orgulhosa”, relata Kátia, acrescentando que a produção de sua olaria é destinada para várias localidades, dentre elas Brasília, Minas Gerais e Bahia.

Gilson Dantas também é um dos que faz da argila o seu ganha pão. Há 30 anos atuando como ceramista, ele conta que construiu sua família a partir do trabalho com o barro. “Gosto de coração. Dá para viver bem com o que ganho aqui. Agradeço muito a Deus por essa profissão”, destaca. O artesão diz que consegue obter, em média, R$ 2.500 mensais, dispensando o que gasta com despesas.

Dos pequenos trabalhos a grandes bustos, santos e figuras públicas. Wilson de Carvalho, conhecido como Capilé, é famoso por construir grandes esculturas. Ele já fez peças de 1,80 m para presépio, vasos de 1,60 m e muitas outras criações, que são produzidas sem moldes. “Minha marca são as peças gigantes. Faço manualmente, pois acho mais gratificante, e assim o trabalho se torna único”, relata.

Produção atrativa

A cultura do barro em Santana do São Francisco passa de pai para filho. O município comporta mais de 500 artesãos que, segundo Wellington Lima, diretor do centro de artesanato, produzem uma média entre 12 e 15 mil peças. A cerâmica é escoada para todo o Brasil e muita gente também vai até a pequena cidade do Baixo São Francisco para conhecer de perto a arte.

Esse é o caso dos turistas do Rio de Janeiro Mara e Marcos Aguiar, que ficaram encantados com a produção cerâmica. Eles estavam viajando de carro por diversos estados, quando vieram para Sergipe, ouviram falar sobre Santana do São Francisco e decidiram conhecê-la. “Estávamos interessados em ver o artesanato sergipano, então fomos perguntando e ficamos sabendo que aqui poderíamos encontrar”, comentou Marcos, que elogiou a qualidade das peças.

A arte da cerâmica, que se aperfeiçoa com o tempo, é, segundo o artesão e diretor do centro de artesanato, Wellington Lima, também alvo também de pessoas que vêm de outras cidades para ganhar dinheiro. “Hoje você não encontra mais casa para alugar ou vender aqui em Santana do São Francisco. Posso dizer que 50% da nossa população são de gente de fora”, disse.

E é dessa cadeia produtiva de cavar, aprontar o barro, moldar a cerâmica e decorar, que os artesãos de Santana do São Francisco vivem. A população de 7.038 habitantes, segundo o IBGE, carrega na alma e no sangue a cultura que, seja de geração para geração, ou difundida por moradores de outras cidades, se sustenta e ostenta o título de capital sergipana do barro.

Texto e imagens reproduzidos do site: agencia.se.gov.br

Centro de Turismo, no Parque Teófilo Dantas, em Aracaju

Foto reproduzida do sitedobareta.com.br/cidade

Município de Ribeirópolis




 Foto reproduzida do blog: sergipemaravilhoso.blogspot.com.br

Povoado Serra do Machado, no município de Ribeirópolis



Foto reproduzida do site: emserradomachado.com

Povoado Serra do Machado, no município de Ribeirópolis


Fotos: Daiane Mendonça.
Reproduzidas do site: emserradomachado.com

quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Lições de Mestre

Mamede Paes Mendonça em seu escritório.

Publicado originalmente no site do Jornal A Tarde, em 06/09/2015.

Lições de Mestre.
Por Ronaldo Jacobina.

No centenário de Mamede Paes Mendonça, a saga do homem humilde que deixou a vida rural no interior de Sergipe para tornar-se um dos empresários mais respeitados do país

O aroma do Kouros, fragrância de Yves Saint Laurent, espalha-se pela enorme sala do primeiro andar de um prédio simples da Praça Conde dos Arcos, no Comércio. O ar-condicionado mantém a temperatura em 18° C, enquanto o rádio permanece ligado na mesma estação. Nas paredes, comendas, placas, diplomas, prêmios, fotos e outras homenagens rendidas ao dono do escritório.

Do lado esquerdo da mesa principal, uma pasta estilo 007 guarda seus pertences inseparáveis. Abaixo da confortável cadeira de couro de espaldar alto repousa um par de sandálias franciscanas que o ocupante da sala costumava trocar pelos sapatos logo que iniciava o expediente. Sobre a mesa de madeira com tampo de vidro o cartão de visitas revela sua identidade: Mamede Paes Mendonça. Na linha abaixo, o cargo: diretor-presidente de Paes Mendonça S/A.

Duas décadas depois de sua morte, tudo permanece como ele deixou. O ritual é uma homenagem. Em meio a tantas lembranças, tudo é tão real que não sobra espaço para a morbidez. Preservar o acervo pessoal foi a maneira que a família encontrou de manter viva a memória do homem simples e de pouco estudo que, graças a sua habilidade para os negócios, transformou-se, ainda em vida, numa das maiores referências empresariais do setor varejista brasileiro. Depois de morto, virou mito. "É como se ele permanecesse entre nós. Todos os dias, ligamos o ar e borrifamos o perfume na sala que ele usava para senti-lo vivo", explica José Augusto Andrade Mendonça, 70, o quarto dos seis filhos do sergipano.

O herdeiro é o responsável pela administração do espólio do pai. O prédio é um dos muitos bens que compõem o patrimônio deixado pelo empresário e que inclui imóveis espalhados por outros estados. A maioria, arrendada às redes de supermercados que compraram o Paes Mendonça. Ali, ninguém fala em números. "Os herdeiros vivem de seus próprios negócios", ressalta José Augusto, com o cuidado de quem está à frente de um inventário ainda não concluído pela Justiça.

No mercado, especula-se que cada um dos herdeiros abocanha uma fortuna mensal com a renda dos aluguéis. As apostas são altas. Verdade ou lenda, ninguém nunca saberá. O segredo se mantém restrito aos filhos, netos e a um ou outro dos 18 funcionários que o Paes Mendonça S/A ainda mantém na folha de pagamento.

A fama de bom comerciante de Mamede se mantém até hoje. Em agosto passado, quando teria completado 100 anos, teve parte de sua história registrada num livro (A história em depoimentos - Mamede Paes Mendonça) que reúne relatos de amigos mais próximos e de familiares. Em diversas capitais brasileiras foi reverenciado por seus pares. De associações comerciais a entidades da área supermercadista, todos celebraram o capiau que, no final dos anos 1950, deixou o povoado de Serra do Machado, em Sergipe, para conquistar o Brasil com a receita simples de bom comerciante. Fórmula essa que costumava revelar a quem queria saber o segredo do seu sucesso: "Comprar bem, vender bem e pagar em dia".

Fama maior ganhou pelo seu estilo, digamos peculiar, de administrar os negócios. Os causos em torno do tabaréu nordestino que chegou a ter 150 lojas de supermercados distribuídas pelos estados da Bahia, Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro viraram lendas. Esperto, as usava a seu favor.

"Logo que cheguei a Salvador, tive que ser criativo para sobreviver e crescer no meio de concorrentes fortes e experientes. Certas ideias minhas eram consideradas esquisitas, mas sempre davam certo. Na boca do povo, ganhavam outra roupagem e se transformavam em vários outros causos. Assim se formou um verdadeiro folclore na Bahia em torno do meu jeito de negociar", revelou o empresário durante uma palestra aos estudantes de administração da Universidade de São Paulo, em 1988.

Uma dessas lendas foi contada pelo próprio Mamede neste mesmo encontro na USP e transcrita para o livro (não disponível para venda), organizado pelo ex-gerente-geral de administração de Paes Mendonça S/A, Raymundo Paiva Dantas, 71, em parceria com a família. "Espalharam que eu havia comprado algumas toneladas de sal, mas que havia escrito cal e que, quando fui reclamar, o representante mostrou o pedido onde escrevi de próprio punho, cal. Aí eles diziam que eu balancei a cabeça e falei: pois é, era sal, eu esqueci a cedilha". Gargalhada geral.

Mamede se divertia com os causos atribuídos a ele. "Nunca procurei desmentir ou corrigir. Pelo contrário, sempre gostei desses casos, pois eles me deram uma freguesia imensa, uma popularidade grande e muitas oportunidades de bons negócios", brincou. Irreverente, costumava afirmar que sua imagem de empresário ficou ligada ao folclore de tal forma que ele próprio, às vezes, tinha dificuldade de separar verdade e mentira. "Eu mesmo, diante de histórias tão boas, passei a acreditar nelas".

Família

A dedicação ao trabalho o fazia sentir-se culpado de não poder dar mais atenção à família. Falha parcialmente compensada quando os filhos cresceram e foram se juntar ao pai no comando dos negócios. "Ele gostava de ter todo mundo por perto, era controlador, mas sabia ouvir e respeitar as vontades de cada um. No final, prevalecia sua opinião", conta José Augusto. Sempre que a agenda permitia, reservava os domingos para levar os filhos pequenos para passear. "Íamos à praia de Piatã ou ao Alto do Bonfim, de onde se podia ver a cidade. Mesmo nos momentos mais íntimos, sempre mantinha um olho voltado para as crianças enquanto o outro buscava novos terrenos onde pudesse construir uma loja".

Os veraneios eram em Dias D'Ávila ou em Itaparica. Nunca teve casa de praia. "Como não podia deixar o trabalho, nas férias escolares aparecia em dias alternados", escreveu o filho Jaime Andrade Paes Mendonça, no depoimento para o livro. Segundo ele, o pai não nasceu para esbanjar dinheiro. "Era equilibrado nos gastos, valorizava cada centavo. Como negociador era duro, porém flexível". Católico fervoroso, se em um domingo perdia a missa, no seguinte assistia à celebração duas vezes. "Para compensar", justificava. À mulher, Lindaura, companheira de uma vida e parceira de trabalho nos tempos difíceis das primeiras empreitadas, dedicava atenção especial. "Quando montou a padaria, ainda lá no interior de Sergipe, ela ajudava a descascar os cocos para fazer os bolachões e depois ia atender no balcão", conta a vizinha e amiga Isabel Oliveira, 90, que acompanhou toda a sua trajetória desde a infância.

Segundo ela, ainda menino, Mamede costumava acompanhar o pai, seu Elisário, quando este ia à cidade vizinha comprar mantimentos. "Ele aproveitava que os caçuás iam vazios e os enchia de cambucá, que vendia na feira. Como não podia perder tempo, vendia a mercadoria no atacado aos feirantes. Com isso, juntou dinheiro e montou o primeiro comércio", lembra.

Isabel, conhecida como Fiinha, conta que mais tarde, quando também migrou para a capital baiana, suas vidas voltaram a se cruzar. Seu irmão, Pedro, que ela criou como filho, acabou casando com uma irmã de Lindaura, Teresa Oliveira, 81.

Virou uma família só. É a própria Teresa quem relembra algumas das histórias que testemunhou do empresário. Irmã caçula, foi tomada como afilhada do casal Paes Mendonça, com quem viveu até o dia em que saiu de casa para casar. "Ele era um homem muito ocupado, mas nunca deixou de ser atencioso com minha irmã. Só reclamava porque ela não gostava de viajar e nem de ir à festas, que ele adorava". Foi o cunhado quem fez seu casamento com Pedro, que, mais tarde, tornou-se um dos principais executivos da rede.

Ballantines

Casamentos, aliás, era outra especialidade do empresário. "Era um casamenteiro, não podia ver uma pessoa solteira que logo lhe arranjava um noivo ou uma noiva. Muitos escolhidos entre a própria família". Teresa conta que a casa em que o casal morava, na Graça, parecia um clube. "Ele gostava da casa cheia e agregava todo mundo. De amigos a funcionários".

As farras eram regadas a Ballantines, marca que trouxe para o Brasil nos tempos em que os importados eram artigo de luxo. Nesta época, distribuía 56% de todo o uísque consumido no Brasil. Tornou-se embaixador do escocês e chegou a ser homenageado pela fábrica, na Escócia, onde usou o kilt, tradicional traje daquele país, composto de saia xadrez, camisa e suspensórios. Achou tão divertido que não dispensou nem a gaita de fole.

Gago de nascença, não considerava isso um problema. No seu depoimento para o livro, a neta Maria das Graças ressalta essa história: "Todos simpatizavam com ele. Nem mesmo o fato de ser gago e de ter pouco estudo o abatia". A baianidade adquirida rendeu-lhe algumas superstições. Como a de entrar e sair sempre pela mesma porta. Mesmo quando se tornou um dos homens mais ricos do estado, não mudou o estilo de vida e andava pelas ruas sem seguranças. Gostava de conversar com as pessoas e de prosear com os taxistas. Quando resolveu ir morar no hotel Praiamar, onde viveu durante 11 anos com a mulher, muitos acreditavam que era para se proteger de um eventual sequestro.

Mais uma lenda que Teresa trata de derrubar. "Eles voltaram de uma viagem e encontraram vazamentos na casa. Foram para o hotel enquanto os reparos eram feitos. Gostaram e ficaram".

Aos alunos da USP, o empresário deu uma terceira versão. "Os filhos casaram e achamos melhor viver no hotel. É uma suíte simples, mas confortável, sou muito bem tratado pelos funcionários e é até mais econômico do que manter uma casa".

Diz José Augusto que o pai adorava conversar com os hóspedes. "Quando simpatizava, emprestava o carro e ia trabalhar de táxi. Andar pelas ruas era, para ele, motivo de trabalho. Nas conversas com desconhecidos fazia suas pesquisas. "Gosto de saber o que as pessoas pensam do Paes Mendonça, o que esperam de um supermercado, os produtos que consideram indispensáveis... enfim, isso ajuda a melhorar o negócio", costumava explicar.

Baby Beef

O método pouco convencional de pesquisar mostrou-se uma estratégia infalível. "Fazíamos pesquisas de mercado, mas quando íamos apresentar os resultados, ele dizia: 'Eu sei o que responderam. O que esperam de um supermercado é limpeza, preço e qualidade'. E estava sempre certo", conta Dantas. Por telefone, do Rio Grande do Sul, onde mora, o ex-funcionário emociona-se ao falar do amigo e ex-patrão. "Era um visionário, foi pioneiro no sistema de autosserviço, criador dos hipermercados, e abriu o primeiro restaurante de alto padrão na Bahia, o Baby Beef, para seu deleite. Dizia que era para receber os amigos e fechar negócio".

Generoso, gostava da benemerência. "O tempo que Irmã Dulce viveu, seu Mamede nunca deixou faltar comida para os pacientes. E mesmo depois que ela partiu continuou nos ajudando. Ela nunca bateu na sua porta para não ser atendida", conta Maria Rita Pontes, presidente das Obras Assistenciais Irmã Dulce (Osid). Ao contrário de outros empresários, gostava de manter discrição sobre as doações que fazia, como pessoa física ou jurídica. A rede PM foi uma das pioneiras na Bahia a contratar deficientes. Começou com os surdos-mudos na função de empacotadores.

"Mamede foi um gênio como comerciante, um grande realizador. Transmitiu-me muito da experiência que tenho hoje como empresário. Tinha profunda admiração por ele", declara o sobrinho João Carlos Paes Mendonça, presidente do Grupo JCPM. O relacionamento dos dois, garante o empresário, era muito forte. "Tínhamos uma relação excelente. Ele foi meu padrinho de batismo, de meu casamento e do casamento de minha filha".

Profissional bem-sucedido tanto quanto o tio, João Carlos acabou por realizar um dos projetos que Mamede sonhava em implementar: construir um moderno shopping center na região da rodoviária. É dele o Salvador Shopping, um dos maiores e mais modernos centros de compra do país. Os resultados positivos do empreendimento mostram que o faro dos Paes Mendonça para os negócios continua rendendo história à economia brasileira.

Texto e imagem reproduzidos do site: atarde.uol.com.br

Setor varejista celebra centenário de Mamede Paes Mendonça

O empresário em seu escritório, em 1983.
Foto: Arquivo A Tarde.

Publicado originalmente no site do Jornal A Tarde, em 05/08/2015.

Setor varejista celebra centenário de Mamede Paes Mendonça.

Por Joyce de Sousa.

"Início de mês, pagamento de salário, dia de Paes Mendonça". Para quem é da geração 2000 talvez fique difícil fazer a associação, mas por, pelo menos, 30 anos a expressão foi metonímia na Bahia: ir ao Paes Mendonça era o mesmo que ir fazer compras no mercado. A marca da primeira e maior rede supermercadista da Bahia trazia o sobrenome do empresário Mamede Paes Mendonça, que nesta quarta-feira, 5, completaria 100 anos.

O centenário de "Seu Mamede", como era conhecido, está sendo comemorada pelo setor não só na Bahia, mas em todo o país: honrarias, missa e o lançamento de uma biografia integram a programação. Não é para menos: as lições de negócios de quem, mesmo sem ter concluído o primário, tornou-se, à época, dono da segunda rede em faturamento do país (ficando atrás apenas do Grupo Pão de Açucar) são hoje referência, sobretudo, neste ano em que é preciso mesmo ter talento extra para driblar a crise.

"Mamede Paes Mendonça foi um dos pioneiros do setor supermercadista brasileiro", afirma o presidente da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), Fernando Yamada. "Líder nato, a história dele é um grande orgulho para o nosso setor e um brilhante exemplo para todo o empresariado", completou.

A Abras divulga nesta quarta, entre os associados, homenagem pelo centenário do empresário. O edifício-sede da entidade, em São Paulo, também é batizado com o nome de Mamede Paes Mendonça, assim como, em Salvador, presta a mesma homenagem a sede da Associação Bahiana de Supermercados (Abase), no bairro de Jardim Armação.

A diretoria da entidade baiana, fundada por ele, prestigia a programação especial na capital baiana, com missa na Igreja Nossa Senhora das Vitórias, na Pupileira, em Nazaré, nesta quarta. Depois, haverá lançamento de biografia, em evento organizado pela família.

Placa

Nesta quinta-feira, 6, na Casa do Comércio, os empresários fazem uma homenagem ao centenário do comerciante, em almoço promovido pela Federação do Comércio do Estado da Bahia (Fecomércio-BA). "Um empresário à frente do seu tempo, um ícone do varejo brasileiro", define o atual presidente da Abase, João Claudio Nunes, que lamenta não ter convivido com o homenageado.

O livro que conta a vida do empresário sergipano e sua história na Bahia tem a coordenação editorial assinada pelo administrador Raymundo Dantas, que atuou durante 15 anos como gerente geral da rede, que chegou a ter cerca de 150 lojas.

Modelo de atendimento

A firma Paes Mendonça foi fundada em 1951, mas os supermercados da rede só deslancharam a partir de 1959, após uma viagem de Mamede Paes Mendonça à Argentina e Uruguai. Quando foi comprar alpiste, viu um tipo de mercearia que não tinha balcão. Visionário, implantou o modelo de autoatendimento em uma época marcada pelos serviços prestados com despachante por armazéns, vendas e feiras livres.

Assim, o tradicional "Me despache", usado para chamar a atenção do vendedor, foi dando lugar ao atendimento self service, direto nas prateleiras.

A primeira loja da rede foi aberta no "Jogo do Carneiro", no bairro da Saúde. Era um mercadinho que havia sido fundado nos anos 50. "Seu Mamede" comprou e inaugurou o novo sistema.

O talento nato de Mamede Paes Mendonça era inegável: aos sete anos, começou a trabalhar, em Sergipe, como feirante, vendendo farinha. Aos 21 anos, em 1936, já era dono de uma padaria, em sociedade com o irmão mais velho, Euclides, que acabou sendo, depois, brutalmente assassinato em praça pública, em Itabaiana, depois de ter se envolvido na política.

Com a morte do irmão, "Seu Mamede" decidiu morar em Aracaju, onde abriu um atacado de alimentos. Visionário, resolveu deixar o negócio para abrir uma loja de atacado na Bahia. A primeira loja foi fundada no Comércio. Anos depois, fundava a Casa Sergipana, um armazém de secos e molhados instalado na Baixa dos Sapateiros. Eram os negócios que tinha na Bahia até a viagem que iria mudar a sua vida, no Uruguai.

"Naquela época, ainda era difícil imaginar que o menino simples, nascido em 5 de agosto de 1915, na Serra do Machado, em Ribeirópolis, viria se tornar um dos maiores empresários brasileiros, mesmo não tendo concluído sequer o curso primário", frisa o jornalista Benneh Amorin, que atuou como estoquista e assessor de imprensa do empresário.

Texto e imagem reproduzidos do site: atarde.uol.com.br/economia