sábado, 28 de julho de 2018

A aviação sergipana e o comandante Walmir Almeida

Foto do arquivo de Eduardo Almeida e postada pelo blog, para ilustrar o presente artigo.

Texto publicado originalmente no Blog Luiz Eduardo Costa 

Artigo de Eduardo Almeida,  filho de Walmir Almeida

Dia do Aviador - A aviação sergipana e o comandante Walmir Almeida 

Nas comemorações do Dia do Aviador e da Semana da Asa, um nome não pode ser esquecido em Sergipe, o do Comandante Walmir Lopes de Almeida.

Sergipano de Riachão do Dantas, Walmir migrou para Aracaju ainda criança, aos 5 anos de idade com a família. Despertado pelo desejo de voar, o menino Walmir acordava ainda de madrugada e, sozinho, escondido da mãe, caminhando em completa escuridão, ia da Rua Estância, onde residia, até o Campo de Aviação, o atualmente extinto Aeroclube de Sergipe, vencendo morros, areais, pistas de lama e mato, vestindo apenas um short, devido às suas poucas condições e lá, encostava na cerca e deleitava-se observando os aviões de guerra decolarem e pousarem em seu ballet aéreo que tanto o encantava. Foi caso de amor à primeira vista e de quem nunca mais se separou, fazendo disso uma relação estável e apaixonada que perduraria até seus últimos dias.

“...Ave! Sobe ao ar, grande bólido alado, linda garça voadora...”

O Campo de Aviação, denominado de Campo de Anipum, era o antigo Aeroporto de Sergipe, onde as pessoas embarcavam para suas viagens a outros estados do Brasil, nos tempos áureos do glamour e do romantismo da aviação, a bordo invariavelmente dos Douglas DC-3, um dos ícones da aviação que interligou o país pelo ar. Depois veio a se tornar Aeroclube de Sergipe.

De tanto ficar na cêrca, certa feita alguém chamou aquele menino para empurar o avião para dentro do hangar e aí pronto(!), tocando a máquina, despertou definitivamente no menino o vírus das alturas que, depois de infectado, não há mais cura. Em outra ocasião, um dos pilotos o chamou para dar um vôo e lá se foi o menino Walmir, já com pose de aviador ao encontro do que sua alma clamava, tornando presença constante em seus sonhos, dormindo ou acordado, aquele momento mágico.

Tornou-se arrimo de família aos 13 anos de idade com a perda do Pai e dividia seu tempo entre o trabalho, a família e a aviação. Vindo a trabalhar no Palácio do Governo como fotógrafo oficial, obteve a ajuda do Interventor do estado, General Maynard, para concluir seu curso de piloto.

Desde então fez do campo de aviação a sua segunda morada ou talvez, a primeira. Lutou bastante por aquela instituição, se fez presente, ocupou cargos, entregou-se de corpo e alma, sem que houvesse reconhecimento por isso.

A aviação sergipana muito deve ao Comandante Walmir Almeida, pois, sempre comprometido com a aviação e com o próximo, sustentou durante 8 anos, às suas custas, todas as despesas do Aeroclube de Sergipe, em um período de crise, evitando assim seu fechamento e o encerramento das atividades aéreas no estado, sendo considerado um dos Patronos da Aviação Sergipana.

Foi proprietário da Concorde-Distribuidora de Combustíveis de Aviação, único posto do estado, à época, de revenda de gasolina para aeronaves. Venceu competições aéreas e ostenta até hoje o título de maior proprietário sergipano de aeronaves particulares, tendo possuído 13 aviões próprios, além de dedicar sua vida à aviação. Foi o piloto sergipano com maior número de horas de vôo. Visitou todos os países do mundo e um dos feitos de Walmir foi realizar a rota do Correio Aéreo Nacional pela Cordilheira dos Andes, sozinho, em seu próprio avião, em um vôo solitário e perigoso.

Como fotógrafo e cinegrafista aéreo, foi considerado pelos Governadores Leandro Maciel e Lourival Batista como o “Mestre das Lentes”, tendo este útilmo citado “...foram as imagens aéreas mais lindas do nosso estado que já tive o prazer de contemplar!”. Walmir registrou fatos sociais e políticos da época durante vários governos, também do alto, a bordo do seu Cessna que pilotava com maestria, à exemplo das imagens aéreas da inauguração do Estádio Lourival Batista, o 'Batistão', que foram amplamente veiculadas nos jornais do sul do país, bem como em um documentário cinematográfico, realizado pela sua produtora Cine-Produções Atalaia, que tinha como contratado niguém menos que Cid Moreira, sobre a sêca no nordeste que foi exibido em todo o Brasil pelo Canal 100 e pela Ponte Cinematográfica Nacional, bem como em diversos países da Europa, à exemplo da Suécia, Itália, Alemanha, França, entre outros, com imagens aéreas do Rio São Francisco e de algumas cidades do nosso estado, levando ao conhecimento do Brasil e do mundo os problemas enfrentados e que gerou a sensibilização de governos desses países, conseguindo assim ajuda internacional para o combate ao mal que assolava o nosso sertão, sendo inclusive condecorado pessoalmente em Brasíllia pelo Presidente João Goulart por duas vezes.

Seu maior orgulho era ter ensinado seus filhos e seu neto, o "Cmte. Dudu", a voar, inserindo-os na aviação desde os 2 anos de idade, dando-lhes asas, ao invés de raízes, como ele costumava dizer. Foi revendedor de aviões Cessna em Sergipe. Iniciou o primeiro serviço de táxi-aéreo sergipano, utilizando suas aeronaves para transportar autoridades, enfermos e quem necessitasse, entre eles o Ministro Mário Andreazza, Amyr Klink-o navegador solitário, entre outros,  chegando inclusive a pousar nas areias da Praia 13 de julho e na Colônia 13, em Lagarto, contratado por Dom José Vicente Távora para uma inauguração no povoado. Nessa passagem com D. Távora, Walmir, sempre espirituoso e com um tirocínio que lhe era peculiar, foi questionado pelo Padre se eles conseguiriam pousar lá, visto que naquele tempo as estradas eram intransitáveis e Walmir então respondeu rapidamente:

Padre, não se preoucupe, porque lá em cima a gente não fica não!”.

Walmir era um daqueles românticos da aviação, que tinha o voar no sangue e reconhecia aeronaves pelo cantar dos motores e pelo perfume deixado em sua passagem, inebriando-se com isso. Conversas sobre aviação invariavelmente duravam horas, sem que se percebesse a passagem do tempo, pois os ouvintes deleitavam-se em suas histórias e 'causos' da sua experiência de vida, ávidos por aprender a essência dos 'velhas águias'. Todos os anos participava, por força de uma promessa, da Procissão de Bom Jesus dos Navegantes, efeuando evoluções com suas aeronave, tornando-se uma tradição aquele aviador junto à procissão, e elogiado pelo Governador Leandro Maciel, que disse ser “as acrobacias aéreas mais bonitas que já presenciei. Esse rapaz nasceu pra isso e é um talento legitimamente nosso. Dá-nos orgulho!”

Realizava gratuitamente “vôos de coqueluche”, após o encerramento dessa atividade pela FAB em nosso estado e que era um efetivo remédio para os acometidos dessa enfermidade. Mesmo tendo perdido uma de suas aeronaves em um acidente em Vitória, no Espírito Santo, no qual ele comandou uma aterrissagem forçada em um morro e a aeronave logo após explodiu, Walmir, apesar do susto, não abandonou a aviação, ao contrário, narrava em tom jocoso o fato aos alunos. Devido à sua reconhecida e notória experiência na área, foi o único sergipano autorizado pelo Comando da Força Aérea Brasileira a trasladar um avião doado pelo Governo Federal para o ensino de alunos, à noite e sem que a aeronave possuísse equipamentos para vôo noturno! Foi homenageado pela Força Aérea Brasileira no Aeroporto Santa Maria, na Semana da Asa. Membro da FAA-Federal Aircraft Association, foi homenageado na maior feira de aviação do mundo, a Air Venture, em Oshkosh, nos Estados Unidos, a qual visitou por vários anos. Pioneiro na revenda de aeromodelos em Sergipe, deu inicio à modalidade no estado. Foi também capa da maior e mais respeitada publicação mundial sobre aviação, a revista FLYING.

Quando os aviões do Aeroclube se encontravam parados por manutenção ou falta de recursos, Walmir empregava seus aviões gratuitamente para o ensino dos alunos, sempre evitando que a aviação fosse interrompida em nosso estado. Apesar de ter perdido um de seus filhos, o Cmte. Walmir Jr., em um acidente aéreo, Walmir não abandonou a aviação, realizando um vôo solitário poucos dias após; um vôo em homenagem ao filho morto…

O mesmo conselho que dava aos seus filhos e neto, dava aos alunos. Quando algum deles  tinha medo de entrar em nuvens de chuva, ele dizia: “pois é para lá que nós vamos! Feche os olhos e nivele o avião, inclusive nas curvas, aí eu vou saber que você esta preparado. Limpe sua mente, faça de vocês dois um só. O bom avião é como o bom piloto, ele gosta de voar.”.

Um exemplo de homem, cidadão, trabalhador, vencedor em todas as áreas que atuou, fllho, irmão e Pai, infelizmente o espaço que dispomos é muito curto para falarmos de Walmir Lopes de Almeida e da sua extensa experiência de vida, tanto que seu filho, o Cmte.Eduardo ou "Carlinhos", como seu querido Pai o chamava, seu maior admirador, pré-lançou com o Pai ainda em vida, sua biografia, durante seu aniversário, na Maçonaria, no ano de 2010, intitulado "Meu Pai, o Comandante Walmir / A história que se tornou um livro, um livro que se tornará história" e o primeiro de uma série de volumes em literatura de cordel que fará sobre a vida do seu querido Pai.

Todos os anos, o Alto Comando do Ministério da Aeronáutica envia mensagem oficial ao seu filho, parabenizando o Comandante Walmir pela data, agradecendo pela sua valorosa contribuição à aviação brasileira, eternizando-o.

Walmir é um legítimo exemplo dos abnegados, um palinuro da aviação que escreveu seu nome na história para a eternidade criando uma relação de amor puro entre homem e máquina que jamais se extinguiria, fazendo deles um só.

Walmir nos deixou em 2012 e, na sua última mensagem, disse: “Quando eu partir para meu último vôo, não se preocupem comigo, eu estarei bem, estarei nas nuvens, onde eu sempre quis estar. Lá é o meu lugar.”

Fica então a nossa homenagem a esse nosso orgulho legitimamente sergipano.

Câmbio final...

AVE, Walmir!

Texto reproduzido do blogluizeduardocosta.com.br

terça-feira, 10 de julho de 2018

Luciano José Cabral Duarte (21.01.1925 - 29.05.2018)

 Dom Luciano durante a Tarde de Poesia dedicada à  Graziella Cabral ( in-memoriam) em 17.12.2005. Foto acervo ALV

23.10.1981- X FASC - solenidade de reabertura do Museu de Arte Sacra 
São Cristóvão/Sergipe. Foto acervo ALV.

Publicado originalmente no blog Academia Literária de Vida, em 30/05/2018

Dom Luciano Cabral Duarte 

Luciano José Cabral Duarte (21.01.1025 - 29.05.2018)

     Faleceu dia 29 e foi sepultado hoje (30) na Igreja de São Salvador, centro da cidade, o Arcebispo Emérito de Aracaju, Dom Luciano José Cabral Duarte. A fundadora da Academia Literária de Vida, Maria Lígia Madureira Pina, sua ex-aluna na Faculdade de Filosofia, falecida em 2014, sempre dizia do seu bem querer, sua admiração e a sua gratidão ao professor, ao intelectual, ao sacerdote que abriu novos caminhos para a juventude sergipana. Foi como professor universitário, que ele investiu esforços, tempo, estudo, amigos, relacionamento com políticos para fundar a nossa Universidade Federal em maio de 1968, sendo que antes já tinha sido instalas as faculdades de Química, Filosofia, Serviço Social, Economia e Medicina. Anos depois veio o Colégio de Aplicação, destinado a servir de treinamento para os estagiários da Universidade. Sacerdote da Igreja São Salvador por longos anos, depois Bispo Auxiliar de Aracaju e finalmente Arcebispo, sua carreira sacerdotal, social e intelectual tinha respaldo nos estudos pelo Institut Catholique de Paris e o título de Doutor da Universidade de Paris em Filosofia com a mais alta condecoração concedido pela instituição da Sorbonne - “Très honorable”, com a tese “La Nature de I’Intelligence dans le Thomisme et dans la Philosophie de Hume”, Depois publicada em forma de livro. Foi bolsista da Embaixada Norte-Americana. Foi redator e diretor do jornal A CRUZADA, em Aracaju e jornalista correspondente do Brasil para a revista O CRUZEIRO, no Concílio Vaticano II, quando era o Papa João XXIII. Escreveu por vários anos para o Jornal Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo e no Jornal do Brasil. Foi presidente do Conselho Diretor da Fundação Universidade Federal de Sergipe e membro do Conselho Federal de Educação, por vários anos. Foi presidente do Departamento de Ação Social do Conselho Episcopal Latino- Americano, e depois eleito o 1º. vice-presidente deste Conselho.

      Dom Luciano fez parte da minha infância, pois minha mãe o ouvia diariamente, através da Rádio Cultura, (que ele trabalhou junto a Dom José Vicente Távora para instalar) em verdadeiros discursos, mas compreensíveis a qualquer pessoa, discorrendo não só sobre religião, mas dos problemas atuais que afligiam o país. Sua oratória era famosa no mundo inteiro, tinha o dom do improviso, quem o ouvia se encantava, sendo considerado o maior orador sacro do País. Seus livros referendados internacionalmente são prova cabal do seu conhecimento, da vida itinerante pelo mundo, exemplos estão nos livros “Europa e Europeus”, “Europa, Ver e Olhar”. Idealizou e organizou junto com o governo da época, o Museu de Arte Sacra de São Cristóvão, tentou a experiência pioneira de reforma agrária através do órgão PRHOCASE - Promoção do Homem do Campo - as terras doadas pela Cúria ele entregou às famílias por cessão por dez anos com a ajuda de governo do Estado, instituições e amigos. Taxado por uns de comunista, por causa disso, no entanto, era ferrenho defensor da democracia e abominava o comunismo, registrado em seus discursos e escritos, mas foi defendido pela maioria. Provou sua lealdade e princípios ao atender apelos de prisioneiros da ditadura, ao ajudar suas famílias, ao recolher estudantes de dentro dos quarteis e trazê-los para salas de aulas na universidade, graças a sua diplomacia junto aos militares. Membro da Academia Sergipana de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe e tantas outras instituições, no Brasil e além fronteiras, sempre honradas com sua presença excepcional.

     Dono de uma memória extraordinária, ironicamente, a doença da qual foi vítima, Alzheimer, o fez prisioneiro do esquecimento. Viveu assim durante muitos anos amparado no carinho e cuidados da  irmã Carmem Dolores que sempre procura cultivar seu trabalho através do Instituto Dom Luciano, reunindo livros, discursos, revistas com suas publicações, fotos e objetos. São demonstrativos da admirável pessoa que nos deixou ante a saudade e nossa eterna gratidão, por tudo que fez em prol do seu povo. Descanse em Paz Dom Luciano.

Carmem, sua missão foi cumprida com amor e abnegação.
Nosso  abraço fraterno
Shirley Maria Santana Rocha – presidente da ALV e demais membros: Maria da Conceição Ouro Reis, Yvone Mendonça de Sousa, Maria Hermínia Caldas, Cléa Brandão de Santana. Josefina Cardoso Chagas, Adelci Figueiredo  Santos, Marlaine Lopes de Almeida, Raylane Andreza Dias Navarro Barreto, Sandra Maria Natividade, Jane Alves Nascimento Moreira de Oliveira, Maria Inácia Santos Dória, Tânia Cristina Santos de Souza, Izabel Cristina Melo dos Santos Pereira, Maria Eunice Guimarães Santos Garcia, Maria Edneide dos Santos Lemos, Maria Zélia da Silva Rocha.

Texto e imagem reproduzidos do blog: academialiterariadevida.blogspot.com

sábado, 7 de julho de 2018

Artur: Ontem, Hoje e Sempre




Publicado originalmente no Facebook/Carlos Alberto Déda, em 03 de julho de 2018

Artur: Ontem, Hoje e Sempre
Por Carlos Alberto Déda

Essa última semana de junho foi de grande emoção e tristeza para toda minha família. É que na noite de sexta-feira, dia consagrado a São Pedro, meu querido irmão Artur Oscar partiu para o reino dos Céus. Seguiu os ditames da vida e foi ao encontro dos amigos e parentes que também partiram para outra esfera, deixando imensa saudade.

Artur era um irmão e tanto – este “e tanto” tem um significado muito especial em minha terra: indica que é o máximo, que ultrapassa os limites, que é porreta, supimpa. Ele ultrapassava os limites em preocupação e bondade com todos nós. E liderava toda a família; nos transmitia muita força e tranquilidade.

Na minha infância, o meu apoio era o irmão Carlos Eugênio (dois anos mais velho que eu), até o dia em que ele, ainda muito jovem, foi morar no Rio de Janeiro. Então, daí em diante, o meu protetor passou a ser o irmão Artur Oscar que, na intimidade de criança, chamávamos de Tutu.

Ele era nove anos mais velho que eu e cuidou de minha instrução e orientação em conjunto com meus pais. Em todos os momentos importantes de minha vida, o bom irmão esteve presente, apoiando-me, orientando-me, confraternizando as alegrias e amparando-me nos percalços da vida. Um irmão e tanto, que viverá eternamente na minha lembrança e na de todos nossos familiares.

Há poucos dias, conversávamos sobre assuntos de Simão Dias e nos lembramos dos vários artigos que ele escrevera para o jornal "A Semana", sobre cinema, poesia, as diversões da gente de nossa terra e também sobre futebol.

Ele gostava muito de acompanhar os jogos de futebol. E neste ponto havia uma ligeira divergência: ele era um grande torcedor do Vasco da Gama e eu flamenguista. Mas encarávamos isto com muita brincadeira e humor.

Na atual Copa, quando ocorreu uma exaltada discussão sobre o árbitro do jogo entre Brasil e Suíça, lembrei-me dos velhos tempos em nossa cidade, quando a seleção brasileira enfrentou a equipe húngara, na Copa do Mundo de 1954.

Artur acompanhou o jogo pelo rádio na residência do Dr. Aguiar (Médico cirurgião), que era vizinho de tia Nice, na Rua do Coité. Eu e os colegas ouvíamos a narração no rádio da barbearia de Seu Zeca Barbeiro (oficial de justiça da comarca), que ficava perto, quase em frente ao Bar de Valério.

O Brasil perdeu para Hungria pelo placar de 4 x 2. Fiquei triste, quase chorando. Mas fui consolado pelo irmão que - seguindo a exaltação do brasileiro Mário Viana - culpou o árbitro bretão, Mr. Ellis, pela desclassificação do escrete canarinho. Naquela semana, usando o pseudônimo AROSDE, ele publicou no jornal (edição de 03/07/54, página 4) o artigo “Mr. Ellis derrotou o Brasil”.

Era minha intenção no decorrer desta semana escrever aqui sobre detalhes desses momentos vividos com ele. Não o fiz divido a emoção da despedida eterna do bom irmão. Mas como a Copa de Mundo é assunto que está em pauta nos dias atuais, inclusive com abordagens intensas sobre a atuação dos árbitros, repasso para lembrança de amigos e parentes, o que ele – em seus vinte e poucos anos de idade – escreveu sobre a atuação do apitador naquela partida de 1954.

Também repasso tópicos do seu pensamento expresso em discurso no Tribunal de Justiça de Sergipe, em agosto de 2017, quando foi homenageado no dia dos pais.

Nestes dias, relembrei com imensa saudade muitos momentos de alegria vividos como o querido Tutu. Ele sempre foi um irmão e tanto que permanecerá imortal em nossos pensamentos.

Texto e imagens reproduzidos do Facebook/Carlos Alberto Déda

Link do post original no Facebook > https://bit.ly/2lXZi7I

terça-feira, 3 de julho de 2018

Dom José Vicente Távora

Foto  de Dom Távora, reproduzida do blog de Padre Isaías Nascimento
e postada no blog SERGIPE..., para ilustrar o presente artigo.

Texto publicado originalmente do Facebook/Marcos Cardoso, em 03/07/2018

O “comunista” D. José Vicente Távora
Por Marcos Cardoso

Entronizado há cinco anos, o Papa Francisco areja a Igreja Católica com ideias e práticas mais condizentes com o mundo de hoje. É um avanço para uma Igreja que historicamente vive dando demonstrações não só de conservadorismo, mas de descompasso com o tempo.

É da Igreja ser conservadora. É da sua essência e disso depende até a sua sobrevivência. É dogmático. Mas houve tempos em que a Igreja foi, se não ousada, mais avançada. Pelo menos em questões sociais. Pelo menos no Brasil. Pelo menos em Sergipe. Um desses tempos foi o começo dos anos 60.
Uma ala da Igreja Católica estava sintonizada com a efervescência da época. O mundo passava por mudanças e a juventude brasileira dava sinais de querer mais do que mudar comportamentos sociais. Havia grupos jovens ligados à Igreja e havia um arcebispo ávido por transformações.

Era D. José Vicente Távora, criador e principal dirigente do Movimento de Educação de Base (MEB), que inovou alfabetizando através da Rádio Cultura, também criada por ele em 1959. O movimento ensinou muitas pessoas a ler e escrever, através das aulas de português, matemática e legislação que eram transmitidas pelo rádio.

“O MEB incorporou milhares de pessoas em atividades particularmente criativas, inclusive jovens universitários sequiosos de mudanças, contribuindo decisivamente para o processo de mobilização social”, segundo lembra o professor Ibarê Dantas, no livro “Os partidos políticos em Sergipe (1889-1964)”. “Apesar da tolerância com as manifestações de esquerda e com as reações de direita, D. Távora permaneceu como a principal autoridade do movimento até a véspera do golpe de 1964”.

“Atingindo cerca de 12 mil pessoas em perto de 460 localidades e 57 municípios e contando com quase 550 monitores orientados por 19 supervisores, nenhum movimento, em tempo algum em Sergipe, teve tanta influência, no sentido de proporcionar uma nova consciência aos trabalhadores rurais”, prossegue o historiador, acrescentando que D. Távora acabou sendo perseguido pelo regime militar e denunciado como comunista.

Em 1962, quando Jânio Quadros, candidato a presidente da República, esteve em Aracaju, D. José Vicente Távora propôs a ele um projeto de educação pelo rádio, a exemplo da experiência iniciada em Natal (RN) por D. Eugênio Sales. Aceita a proposta, quando Jânio assumiu a presidência o convênio foi firmado com o apoio da CNBB. Assim surgiu o MEB. O governo federal entrava com os recursos e a Igreja com a administração. Os primeiros sindicatos agrários, de inspiração cristã, nasceram em Sergipe sob a inspiração de D. Távora.

Quando aconteceu o golpe de 31 de março de 1964, a Igreja ficou dividida. “Uma ala mais ligada ao bispo auxiliar, D. Luciano Cabral Duarte, zeloso cooperador do Estado Autoritário, revelou-se simpatizante da nova ordem. Dentro dela, incluem-se alguns sacerdotes e até o bispo de Propriá, D. José Brandão de Castro, que posteriormente se manifestaria intrépido defensor das causas dos trabalhadores rurais e dos índios. A outra ala, vinculada ao arcebispo D. José Vicente Távora, recebeu o movimento como um grande retrocesso político. O próprio arcebispo, promotor do MEB, foi ameaçado de prisão. Com o fogo cruzado dos delatores que abominavam sua obra, além de submeter-se a depoimentos irritantes, esteve por vários dias praticamente confinado no Palácio Episcopal, escapando de maiores hostilidades por interferência do general Juarez Távora, seu parente. A campanha de educação popular, vista pelo patronato como a obra mais nociva à boa ordem, seria severamente afetada”, escreve Ibarê Dantas (“A Tutela Militar em Sergipe – 1964/1984”).

Conta o historiador que, hostilizado pelas autoridades militares locais, D. Távora escreveu ao general Juarez Távora e este enviou a carta ao comando do 28º BC, que mandou chamar o arcebispo, passando-lhe forte reprimenda. Mas, a partir daí, as ameaças teriam diminuído. No entanto, o MEB teve vários de seus funcionários detidos e seria reorientado sob a supervisão de D. Luciano Cabral Duarte. Posteriormente, o MEB se transformaria em “mera linha auxiliar do Mobral”.

O pernambucano D. José Vicente Távora já era bispo da capital quando, em abril de 1960, o papa João XXIII criou as Dioceses de Estância e Propriá e a Província Eclesiástica de Aracaju. Foi, portanto, o primeiro arcebispo metropolitano de Aracaju. E o foi até quando morreu, no dia 3 de abril de 1970.

Texto reproduzido do Facebook/Marcos Cardoso.

Clique no link para acessar post original > encurtador.net/cgmS3