sábado, 27 de outubro de 2018

"Perfis Acadêmicos" de J. Anderson Nascimento


Publicado originalmente no blog Academia Literária de Vida, em 22/10/2018 

"Perfis Acadêmicos" de J. Anderson Nascimento

O livro manterá para sempre a memória acadêmica sergipana registrada em primeira mão.

Uma das últimas publicações do escritor e presidente da Academia Sergipana de Letras (ASL) – José Anderson Nascimento - com o título “Perfis Acadêmicos”, traz um manancial de dados, fruto de uma grande pesquisa, desde seus fundadores até os atuais ocupantes das quarenta cadeiras que formam o Sodalício. A obra com 757 páginas, impressa pela SEGRASE – Serviços Gráficos de Sergipe, inicia com o Prefácio escrito pelo notável escritor Jackson da Silva Lima. Já temos luzes sobre a criação da Hora Literária, em 17 de julho de 1927, que inicia com 17 membros, e vamos entendendo que todo agrupamento tem seus conflitos, mas há a hora de conciliação ou então, cada um segue seu caminho. A Hora Literária ao passar efetivamente à Academia Sergipana de Letras, engloba o Estatuto, as cadeiras, os patronos e seus respectivos acadêmicos, mesmo registrando algumas mudanças.

Anderson Nascimento, abre a introdução com a frase de Machado de Assis – “Uma Academia tem de ser integrada por três espécies: literatos, personalidades - para conferir visibilidade à instituição - e jovens para trazer alegria”. É isso que temos na ASL: escritores, poetas, historiadores, jornalistas, professores, advogados, políticos e jovens estudantes encantados pela literatura.

O autor produziu, realmente, uma obra didática. Leitura para todos que gostam de ler, base para conhecimento e fonte de pesquisa para qualquer pessoa interessada em literatura, nos escritores sergipanos e suas obras.

É instigante a narrativa do escritor pois ele conduz tudo com descrição de fatos, datas e textos de obras. Vamos conhecendo a história desde aquele 17 de julho, a chegada de cada membro, a lista de patronos, suas cadeiras, seus embates, alguns textos dos escritores, a mudança para Academia Sergipana de Letras, o aumento de cadeiras (agora 40) trazendo biografias dos 171 membros entre patronos, fundadores, sucessores e atuais ocupantes. O livro manterá para sempre a memória acadêmica sergipana registrada em primeira mão. Interessante observar que 5 cadeiras só foram ocupadas por 3 acadêmicos; 23 por 4; 8 por 5 e 4 por 6 acadêmicos.  Assim cada uma das cadeira vai nos trazendo nomes de escritores, poetas ilustres que deixaram obras marcantes no Estado e além fronteiras.  Há uns não tão famosos mas, se reconhece que de alguma forma deram à Academia o apoio em benefícios estruturais e promocionais, por isso o reconhecimento aos mecenas. O livro tem leitura para muitos dias. Outro livro que deve ser bem recebido é das suas pesquisas sobre as ruas e avenidas de Aracaju como existiam no passado. Seguindo listas de endereços antigos, ele descreve os casarões, estabelecimentos comerciais, pontos pitorescos, e seus proprietários, fazendo-nos relembrar ou conhecer personalidades que marcaram a vida aracajuana. Pesquisa abrangente e que lhe custou  anos, à procura de contato com pessoas ainda residindo no local ou vizinhos e parentes dos falecidos, inclusive, a tentativa em recuperar velhas e grossas listas telefônicas...

A professora e escritora Maria Lígia Madureira Pina (que ocupou a cadeira n. 27 por 19 anos -1995/2014) e era vice-presidente quando faleceu) costumava elogiar Anderson pela persistência e dedicação à Academia. Assim, ela procedeu para com a Academia Literária de Vida que fundou. Que ninguém criticasse nada da ASL, pois ela tinha sempre palavras ponderadas e incisivas para defender e principalmente tratando-se de Anderson. E realmente, ele fez muito ao longo de suas gestões, quase a completar uma década. Reativou e fez crescer o número de acadêmicos correspondentes; reformou o prédio (encontrou caidaço!!!); instalou um auditório, sala de reunião, copa e escritório completos; renovou móveis no ambiente de lançamento dos livros; reabilitou a biblioteca e procura informatizar o arquivo. Mantém funcionários nos setores. Vem batalhando já algum tempo para instalar um elevador, o que ajudaria muito nas visitas de pessoas idosas à Biblioteca. Para isso continua buscando apoio, doações e conquistando parcerias. Também firmou vários convênios com faculdades do Estado e de São Paulo, com secretarias de Estado, inclusive é curadora do Espaço Formadores da Nacionalidade e do Espaço de Convivência Cultural, localizado na Orla de Atalaia, visando incentivar a divulgação e o conhecimento das obras artísticas ali existentes. A Academia distingue personalidades de méritos relevantes com a Medalha do Mérito Cultural Silvio Romero - a mais alta condecoração da ASL - e outras placas honoríficas Ofenísia Freire (Cultura); Orlando Dantas (Jornalismo); Horácio Hora (Artes Plásticas); Marcos Ferreira de Jesus (Política). Ao lado de tudo isso, cultiva a herança deixada pelo ex-presidente Antônio Garcia Filho, o Movimento de Apoio Cultural – MAC. O apoio tornou-se escola para futuros acadêmicos. Dali muitos escritores receberam incentivo e forças para pleitear uma cadeira na Academia. Hoje está mantido com o nome de Movimento Cultural Antônio Garcia Filho (uma homenagem ao fundador), reunindo vinte membros. A Academia retomou a publicação da Revista, cujo primeiro número data de 1931 e vem publicando periodicamente, um Boletim Informativo muito bom, cujos coordenadores editorias são os membros do MAC: Lúcio Antônio Prado Dias e Claudefranklin Monteiro, e a acadêmica Luzia Nascimento é a jornalista responsável.

Dizem os fracos de ideias que uma academia literária só serve para bate papos e cafezinhos, outros, mais radicais, que não servem para nada. Já sabemos aonde vai dar quem não gosta de ler, não aprecia o estudo e não zela pela educação. Bendita seja ASL! Bem aventurados sejam seus ocupantes! Por muitos e muitos anos.

Parabéns Anderson Nascimento pelo belo e importante livro “Perfis Acadêmicos”.

Aju, abril/2018
Shirley Maria Santana Rocha
Presidente da Academia Literária de Vida
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Vejam mais:  https://seer.ufs.br

Texto e imagem reproduzidos do blog: academialiterariadevida.blogspot.com

sexta-feira, 26 de outubro de 2018

Lourival, o primeiro governador do regime militar

Foto reproduzida do portal.unit.br e postada pelo blog 
para ilustrar o presente artigo

Foto reproduzida do site pt.wikipedia.org e postada pelo blog
 para ilustrar o presente artigo

Texto publicado originalmente no site do Portal Infonet, em 22 de outubro de 2018

Lourival, o primeiro governador do regime militar

Por Marcos Cardoso 

O primeiro governador sergipano indicado pelo regime militar foi Lourival Baptista, cujo aniversário de nascimento aconteceu neste mês. Ele foi um importante político sergipano que poderia ser lembrado pela habilidade e astúcia, pela popularidade e pela capacidade de realização, mas ficou marcado pela associação do seu nome aos militares.

Lourival soube tirar proveito da ditadura para crescer como homem público. Na linguagem popular atual, ele se deu bem. Mas a sua biografia não pode ser resumida a isso.

Baiano do quase vizinho município de Entre Rios, onde nasceu em 3 de outubro de 1915, Lourival chegou a Sergipe em 1943 para trabalhar como médico. Veio exercer sua profissão na Fábrica de Tecidos São Gonçalo, em São Cristóvão, a convite de Augusto do Prado Franco, da família proprietária da indústria, de quem tinha sido colega na Faculdade de Medicina da Bahia. Já chegou casado com dona Hildete Falcão Baptista, com quem teve quatro filhos.

Revelando-se hábil político, com o apoio do colega udenista soube aproveitar os ventos favoráveis do fim da ditadura Vargas para eleger-se deputado estadual em 1946. Em 1950, elegeu-se prefeito de São Cristóvão e, em 1958, conquistou o primeiro de dois mandatos consecutivos de deputado federal.

O golpe de 1964 lhe foi favorável. Já escolado nas artes e nas artimanhas da política, em 1966 deu o seu próprio golpe de mestre. A sucessão estadual daquele ano transcorria da forma como preceituava o Ato Institucional n° 2, ou seja, a Assembleia Legislativa de cada estado escolheria três nomes que seriam submetidos ao voto decisivo do presidente Humberto de Alencar Castello Branco.

Na lista tríplice de Sergipe constavam os nomes do ex-governador Leandro Maynard Maciel, do ex-governador e então deputado federal Arnaldo Garcez e do empresário Augusto Franco, que até então não tinha ocupado cargo público.

A história nunca esclareceu os argumentos apresentados por Lourival Batista, mas ele conseguiu passar a perna nos três fortes candidatos, convencer o marechal presidente e acabar sendo ungido governador de Sergipe, cargo que ocupou a partir de 31 de janeiro de 1967, tendo como vice-governador o advogado e professor da Universidade Federal de Sergipe, Manoel Cabral Machado.

Dizem que o amigo Luiz Viana Filho, ministro de Castelo e que governou a Bahia no mesmo período, foi peça fundamental no convencimento do presidente. Naquele mesmo ano de 1966, Leandro Maciel foi eleito senador e Augusto Franco foi eleito pela primeira vez deputado federal, todos pela Arena, o partido oficial do governo.

Primeiro governador nomeado pelos generais — os outros foram Paulo Barreto de Menezes, José Rollemberg Leite e Augusto Franco —, o que se sabe é que Lourival Baptista manteve uma relação muito próxima, que alguns consideram até de bajulação, com os militares.

Enquanto durou o regime, é de conhecimento público os mimos que ele fazia às autoridades em Brasília, a quem levava com frequência presentes regionais típicos, como os sorvetes de mangaba da Cinelândia, a mais famosa sorveteria de Aracaju na época. Se teve relação direta com as arbitrariedades do regime militar é algo que a Comissão da Verdade pode esclarecer.

Mas graças a essa relação de proximidade e ao bom momento econômico vivido pelo Brasil no período, Lourival conseguiu fazer um governo operoso, realizador de obras importantes, como o Edifício Estado de Sergipe, uma espécie de centro administrativo que ficou conhecido com o nome de Maria Feliciana. Com 28 pavimentos, é até hoje o maior prédio construído no Estado e do alto do qual, diz a lenda, ele gostaria de avistar a sua querida São Cristóvão.

Construiu o estádio de futebol que ainda é a principal praça de esportes local — inaugurado no dia 9 de julho de 1969 com a Seleção Brasileira comandada por Pelé, que venceu a Seleção Sergipana por 8 a 2 —, a rodovia ligando a BR-101 a Lagarto e um teatro no bairro Getulio Vargas, todas as obras batizadas com o seu nome. Também se chama Lourival Baptista um conjunto habitacional no bairro Capucho.

Além de construir casas, estradas e escolas, ele ampliou a presença da Chesf no Estado, criou o Distrito Industrial de Aracaju, trouxe um escritório da Petrobras para Sergipe e implantou o Tribunal de Contas do Estado. Nas palavras do historiador Ibarê Dantas, ele foi um “administrador operoso e conciliador”, tendo atuado em um contexto favorável.

Lourival governou até o dia 14 de maio de 1970, quando se afastou para disputar o Senado. Ocupou a câmara alta por três mandatos, de 1971 a 1994, sendo que o segundo mandato de senador não foi conquistado nas urnas, mas por indicação.

Ele foi um dos senadores biônicos, parlamentares eleitos indiretamente por um Colégio Eleitoral por obra e graça do Pacote de Abril de 1977, que foi uma resposta dos militares ao resultado das eleições anteriores, de 1974, quando a grande maioria das vagas do Senado em disputa foi conquistada por políticos do MDB. Em Sergipe, o jovem médico Gilvan Rocha foi a surpresa que derrotou nas urnas o experiente Leandro Maciel.

Mas na eleição de 1986, Lourival reelegeu-se para o último mandato de senador. No derradeiro pleito eleitoral que disputou, em 1994, perdeu a vaga para o petista José Eduardo Dutra. O velho político morreu em Brasília quase 19 anos depois, no dia 8 de março de 2013, aos 97 anos.

Nas palavras do então governador Marcelo Déda, foi um homem que ao longo de sua trajetória aportou contribuições para o desenvolvimento de Sergipe, “seja como médico de fábrica atendendo aos operários em São Cristóvão, no começo da sua carreira política, seja como senador que se destacou pelo combate ao fumo, chamando a atenção da nação brasileira para as consequências nefastas do tabagismo para a saúde pública, seja no período quando governou o Estado e teve a oportunidade de edificar obras públicas que até hoje são utilizadas pelos sergipanos”.

Texto reproduzido do site: infonet.com.br

quarta-feira, 24 de outubro de 2018

Cantor sergipano Pedrinho Rodrigues (1934 – 1996)


Publicado originalmente no Facebook/Mario Sergio Felix, em 15/10/2018

"No mês de Outubro, o grande cantor sergipano Pedrinho Rodrigues, estaria comemorando 84 anos. Ele nasceu no dia 13 de outubro de 1934.

 Sem dúvida nenhuma, não é dito por mim, mas, por aqueles que o viram cantar, aliás, o viram Interpretar! Pedrinho figura como um dos maiores intérpretes do samba brasileiro. Pedrinho nasceu em Aracaju, porém, fez a sua carreira toda no Rio de Janeiro.

Ao lado do organista Ed Lincoln, Orlandivo e Silvio César, Pedrinho embalou as noites cariocas. Quando deixou o grupo de Ed Lincoln e seguiu carreira solo, foi um dos mais aplaudidos sambistas brasileiros. Fez parte também, da Boite do Sargentelli,” Oba Oba”.

 Era integrante da Ala decompositores da Portela e participou com muito sucesso da criação da "Turma da Pilantragem"!O intérprete de samba preferido de Baden Powell. Como dizem no Rio de Janeiro, a “Verdadeira Voz do Crooner Brasileiro”.

 Seu disco de samba, lançado em 1962, denominado “Tem Que Balançar”, recebeu os melhores elogios, sendo referenciado como melhor disco de samba lançado naquele ano...

Texto e imagem reproduzidos do Facebook/Mario Sergio Felix

quinta-feira, 4 de outubro de 2018

Um atestado de gratidão a Antônio Carlos Franco

Foto: Arquivo JC

Publicado originalmente no site do Jornal da Cidade, em 03 de outubro de 2018

"Éramos amigos"

Um atestado de gratidão a Antônio Carlos Franco

Por Thaís Bezerra 

"Já são 15 anos de uma gigante saudade! Como é difícil falar sobre o que ACF representou na minha vida profissional. As palavras não expressam a profundidade da minha gratidão. Foram 22 anos trabalhando junto com uma figura tão forte e inesquecível, que escrever sobre ele ainda me emociona... Gostaria de escrever algo marcante como ele o foi na minha vida, mas vou escrever com a gratidão de ter tido o privilégio de tê-lo como meu amigo. E como ele faz falta não só a mim, mas a todos nós do JC.

O coração dispara, os olhos ficam molhados, as lembranças bem vivas, levam-me àquele ano de 1981, quando fui chamada por ele para uma reunião no escritório da Usina Pinheiro. Fiquei ansiosa pelo encontro, pois eu iria conversar com aquele que era exemplo de caráter, de empresário competente, vitorioso e, além de tudo, de um charme irresistível. Sonhei um sonho impossível, e ele se tornou realidade. Fui convidada para trocar de jornal. A Gazetinha era um sucesso, e ele, com sua visão grande angular na comunicação, fez uma proposta irrecusável e eu fiz a minha estreia no Jornal da Cidade em grande estilo: um caderno só meu e com meu nome na capa. Foi a glória!!!

E aí começou uma longa caminhada... Vencemos inimigos invencíveis juntos – o colunismo tem os seus espinhos, os oportunistas, os chatos - e, graças aos seus ensinamentos, venci todos. E continuo vencendo com a leitura fiel dos meus leitores todos os domingos. Ele era exigente, correto, e a cada reunião de trabalho queria sempre mais. Que a cada domingo eu aumentasse o caderno, registrasse mais fatos, escrevesse mais notas, acompanhasse as gerações, criasse polêmica, falasse de tudo e de todos, mas sempre baseada na verdade. Se fosse uma nota picante, colocasse e desse sempre o molho necessário para a discussão. Ele me dava força e fôlego para continuar. Com total liberdade de escrever o que eu quisesse, sem censura. Ele me instigava a crescer e ampliar meu espaço como colunista. Nesse ponto entrava as notas políticas que ele reafirmava: “Thaïsinha, noticie todos os fatos políticos de todos os partidos”. Não media esforços para me ajudar, para galgar novos degraus na profissão com coragem e sem culpas. E nunca passou a mão na minha cabeça.

ACF não tinha idade para ser meu pai, mas agia como tal. Ensinou-me no colunismo a me fazer respeitar, a ganhar dinheiro valorizando o meu espaço fazendo a parte publicitária do Caderno TB. Aprendi a correr atrás, a criar cadernos especiais para faturar além do salário de jornalista e, graças ao seu apoio e incentivo, fui vencendo sempre, crescendo a cada ano com muito suor e dedicação, e bastante consciente do mundo em que vivo. Eu conquistei o meu espaço. Ele dizia que glamour e spothlights fazem apenas parte do cenário em que sou personagem, e queiram ou não fundamentais. Mas que o que é válido mesmo é o nosso conteúdo como pessoa. Ele sabia quem eu sou! A verdadeira “Thaïsinha gente boa”, como costumava falar. O resto é lenda...

A fortuna e o poder de vários amigos com quem eu convivo nunca me intimidaram a ser natural e a não me deslumbrar. Durante todos os anos de convívio fui grata a ACF pelos conselhos e ponderações na hora certa. Dicas preciosas de alguém que me queria bem. Íntegro, super família, que tinha na esposa, Tereza, e nos filhos, Albano, Marcos e Osvaldo, o seu eixo, a sintonia de vida. E que também sempre me deram carinho e atenção como ACF. Vivi e vivo com os pés no chão, com gratidão aos que me deram apoio. ACF sempre me permitiu falhar e renascer mais forte, mais audaciosa e menos agressiva. Afinal, em 22 nos de convivência, a gente abre o coração. Existiu até um pouco de ciúmes nos bastidores do JC, pois alguns baluartes do jornalismo achavam que eu era protegida por ele, que sempre me chamou carinhosamente de “Thaïsinha”. O que ouviam dele como resposta é que eu era profissional, responsável e trabalhadora.

Não foi à toa que, no ano 2000, ao igualar o JC aos grandes jornais do mundo inteiro em modernidade e tecnologia, para valorizar a sua equipe de trabalho, me convidou a fazer parte do Conselho de Redação do jornal e os demais membros à época, Luiz Eduardo Costa, Osmário Santos e Hugo Costa, com a presença de ACF, fui eleita a diretora deste Conselho, ao lado dos grandes. Que honra!

Portanto, quero deixar aqui o meu atestado de gratidão a ACF, pelo que sou hoje como profissional, recheado de carinho e saudade da sua figura ímpar, reconhecimento e admiração pelo chefe que ele foi. E porque não dizer, um prêmio que eu ganhei como jornalista ao ter ido trabalhar com ele no JC.

A ACF devo minha vitória financeira, o lugar ao sol no jornalismo sergipano, pois sem um grande órgão de comunicação para nos ancorar, é bastante difícil chegar onde cheguei, vitoriosa! E foi através de sua maneira dura e firme de valorizar o meu trabalho, que tudo tornou-se possível, porque em nossos sonhos nunca houve nada além de uma grande amizade e muito, muitíssimo respeito e admiração mútuas. Uma amizade tão especial como a nossa é um tesouro que se guarda no coração. E, mais uma vez, Antônio Carlos Franco, obrigada por tudo! Por você ter sido uma luz na minha vida de jornalista. E lá se vão 40 anos... Graças a Deus!"

Texto e imagem reproduzidos do site: jornaldacidade.net/thais-bezerra

segunda-feira, 1 de outubro de 2018

Um filho da terra que fez nome em Paris

Horácio Hora

Publicado originalmente no blog Academia Literaria de Vida, em 16/09/2018 

Um filho da terra que fez nome em Paris

Por Shirley Rocha

Os grandes artistas quase sempre têm uma vida difícil,  passam por períodos de altos e baixos, fases em que o sucesso é visto a qualquer obra, outras por mais que trabalhem não obtêm o reconhecimento. Geralmente na terra natal não ganham fama, nem prestigio, que talvez só venha após sua morte. Vivem romances e paixões avassaladoras. Por algumas dessas coisas passou também o pintor sergipano, Horácio Hora, nascido em 17 de setembro de 1853, em Laranjeiras, município de Sergipe, falecido em 28 de fevereiro e enterrado no dia 1 de março de 1890, em Paris, ainda muito jovem com 37 anos. A notícia de sua morte foi publicada no jornal Gazeta de Sergipe, do dia 2 de abril de 1890, número 77.

Horácio Hora fez seus estudos primários em escola pública, mas se revelou aluno aplicado, mas sem ter conseguido aprender muita coisa, pois preferia viver esboçando desenhos no papel, nas pedras, nas paredes e nas calçadas de Laranjeiras, conquistando muita antipatia por parte dos moradores que encontravam seus muros com aqueles rabiscos e caricaturas. Era a veia artística predominando, evidenciando a sua natural inclinação para a pintura, mas que por falta de uma escola, de professores aptos, ficaria tolhida e entregue aos seus inúmeros ensaios. Assim, buscou o espirito aventureiro existente em nós todos e partiu para a Europa em junho de 1875, mediante a subvenção concedida pela Assembleia Legislativa, conseguida a muito custo e tempo de espera e pedido de amigos. A subvenção anual era de dois contos de réis, por espaço de três anos ele se via obrigado a “indenizar a Thesouraria Provincial depois que concluir os seus estudos, de toda a quantia que houver recebido” – documento assinado por Antônio dos Passos Miranda, presidente da Província de Sergipe, com data de 6 de maio de 1874.

Chegando a Paris, matriculou-se no mesmo ano na escola de Belas Artes, frequentando uma escola de município, de desenho e escultura dirigida pelo professor Justin Lequien, cujas lições lhe foram de grande utilidade, Já com oito meses de curso, recebeu o título de Aluno Modelo e o Primeiro Prêmio no Concurso Geral de todas as escolas de Paris. Passado mais de seis anos, com vários títulos pela experiência adquirida, “volta em junho de 1881 da culta Europa com o talento fortalecido na escola dos melhores mestres”.

Sergipe acolheu com orgulho o filho da terra, e sua mãe Maria Augusta Hora, que tinha lhe incentivado muito para a viagem, recebeu-o carinhosamente junto aos amigos, felizes com o sucesso alcançado lá fora do famoso amigo. Passados os primeiros dias de alegria já o espirito de Horácio demonstrava certa preocupação. Era a falta de dinheiro, motivo principal porque teria voltado ao Brasil. Julgava ele que aqui conseguiria o necessário para as sus despesas, mas nada, nenhum trabalho de grande vulto lhe fora confiado, nem por pessoas de prestigio e dinheiro. Assim, preparou-se para voltar a Paris, embora tivesse desejoso de ficar, depois de visitar parentes e amigos por municípios como em Estância, onde demorou-se pouco mais de um mês, na contemplação das paisagens que circundavam a cidade. Para não sair sem deixar uma lembrança de sua passagem, alguma coisa que servisse de referência aos amigos, abriu uma exposição dos seus quadros em benefício das irmãs de D. Domingos Quirino de Souza, um sergipano e conhecido bispo de Goiás. Daí segue para Laranjeiras, depois retorna à Estância.

EXPOSIÇÃO

Saindo de Estância ficou em Salvador, na capital baiana, onde foi recebido com manifestações de carinho e reconhecimento por seu talento. Convidado, monta uma exposição na Academia de Belas Artes com 43 quadros, obtendo um completo sucesso, sendo registrada em um só dia a presença de sete mil pessoas. Os professores da Academia, competentíssimos julgadores do seu mérito artístico, conferiram-lhe o diploma de “Membro Correspondente e Acadêmico de Mérito”. Era a prova de que santo só faz milagres fora de casa. A 16 de julho de 1834, parte para Europa e já em paris, conhece a prosperidade, graças ao apoio de amigos dedicados como Mr. Michaud, sempre à procura de uma novo trabalho à altura do grande artista.

Mas logo, Horácio apaixona-se por uma moça, tornando-se escravizado de maneira insensata; era aquela paixão que ataca aos românticos, que deixam a emoção tomar toda a razão. No desatino, prejudica sua carreira, todo seu futuro, porque submetia-se ao domínio tirano da amada, retirando-se do meio em que vivia, fugindo dos amigos e dos apreciadores de sua arte. Diante da miséria a que chegou, quando teve que vender tudo que possuía, até roupas, desesperançado correu à procura do amigo das horas boas e das horas más, Mr. Michaud. Mas pouco tempo lhe restava, e na hora da agonia mortal, voltou o pensamento para o Brasil, demonstrando a saudade pela terra onde nasceu. E “lamentou morrer longe da pátria nestas suas últimas palavras:  loin de mon pays”.

OBRAS

Pery e Cecy : o toque romântico do pintor

Muitos quadros que retratavam personalidades e que foram feitos na passagem de Horácio por Sergipe, já não se encontram neste Estado. Famílias mudaram-se para o Rio de Janeiro como a do aristocrata João José de Oliveira Leite que possuía o título de Barão de Timbó, levaram os quadros que hoje estão expostos no Museu Histórico Nacional.

A Virgem

Contudo registramos três verdadeiras obras de arte, de Horácio Hora: uma é seu símbolo de fé, está exposta na sacristia da Catedral Metropolitana de Aracaju, na Praça Fausto Cardoso – A Virgem, é uma cópia do quadro do pintor espanhol, Murillo, começada em Paris no ano 1877 e oferecida à igreja. Este quadro foi motivo de muitas críticas, por ser uma cópia, mas o pintor ficou emocionado e prestou de certa forma um culto à Santa Virgem e louvor ao Murillo. Outra é o quadro Pery e Cecy, feito em 1882 em Laranjeiras, inspirado pela leitura do romance O Guarany, considerado o melhor de todos os seus trabalhos feitos por aqui. Este quadro foi adquirido pela colônia sergipana, que vivia na Bahia em 1884. Atualmente, o quadro está no Museu de São Cristóvão juntamente com os desenhos, detalhes da telas muitos outros quadros que passaram para a tutela do governo sem mesmo a família saber. Outro quadro muito famoso é Miséria e Caridade, de 1884, que pertencia ao Hospital de Caridade da Sociedade de Amparo de Maria, de Estância e hoje exposto no Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe com o título de Caridade, apenas.

Miséria e Caridade -" Quem dá aos pobres empresta a Deus"

RESTOS MORTAIS

Os restos mortais do pintor Horácio Hora voltaram para a sua terra natal após 101 anos de enterrado no Cemitério de Aubervilliera-Paris. A translação foi autorizada pelos descendentes residentes em Aracaju e a partir da determinação expressa do então governador Antônio Carlos Valadares, por ocasião do ano do Quarto Centenário da Conquista de Sergipe. Os restos mortais só chegaram aqui em 29 de julho de 1991 e durante solene reunião no Instituto Histórico de Sergipe, na presença do governador do Estado, João Alves Filho, da professora e diretora do Instituto, Maria Thétis Nunes, autoridades e intelectuais foi feita uma cerimônia de entrega “ que coloca sob a guarda temporária do Instituto até que a Prefeitura Municipal de Laranjeiras providencie uma herma para recebê-los naquela cidade, conforme os entendimentos mantidos com o prefeito Antônio Carlos Leite Franco, e pela então secretária Estadual de Cultura, Aglaé D’Avila Fontes de Alencar”.

No mesmo dia e mês de nascimento de Horácio Hora, no ano de 1992, os restos mortais foram entregues em praça pública de Laranjeiras, pelo secretário de Cultura em exercício, Neemias Araújo de Carvalho, representando o governador João Alves Filho, ao prefeito da cidade, Antônio Carlos Franco, para serem colocados no túmulo construído para aquela finalidade.
Hoje, Laranjeiras aplaude a iniciativa e orgulha-se de possuir um local, referência para homenagem ao grande pintor sergipano, que foi mais reconhecido e deixou maior número de obras em terras distantes, o nosso pintor, Horácio Hora.

Agradecemos ao Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe (Atas), a Biblioteca Pública Epifânio Doria (Bio-Bibliográfico Sergipano Dr. Armindo Guaraná (pág. 120) e ao bisneto de Horácio Hora, Marcelo Hora de Araújo, que tornaram possível este breve comentário sobre o imortal pintor sergipano, patrono da cadeira n. 14 da Academia Sergipana de Letras. De Shirley Rocha, jornalista.

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Publicado no Jornal da Cidade de 17 de setembro de 1995, pág. 10.

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Em tempo:



Os quadros do casal Barão (João José de Oliveira Leite) 
e Baronesa do Timbó (Joaquina Ermelina da Costa) 
pintados por Horácio Hora que estão no 
Museu Histórico Nacional, centro do Rio de Janeiro. 


Fotos do álbum editado em 2003
Sesquicentenário de nascimento de Horácio Hora, 
pela Secretária de Estado da Cultura, 
sob comando de José Carlos Teixeira, 
com patrocínio da Petrobras, Banese e Energipe. 


Texto e imagens reproduzidos do blog: 
academialiterariadevida.blogspot.com/