segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

Aracaju no meu viver, por Odilon Machado

Foto reproduzida do Google e postada pelo blog, para ilustrar o presente artigo

Texto publicado originalmente no site do Portal INFONET, em 17 de março de 2010

Aracaju no meu viver

Por Odilon Macahdo (Blog Infonet) 

Quando eu nasci, Aracaju estava vivendo a ressaca de uma noite de festas. Comemorava-se a ascensão da nova constituição estadual, nascida em 1947, em pleno regime de liberdades após o período autoritário de Getúlio Vargas.

Eu nasci no número 192 da Rua de Pacatuba. Neste tempo minha Rua era uma das mais destacadas artérias da cidade. Por ali passava tudo, de procissão a enterro, desfile de bloco de carnaval, marcha de soldado, passeata de estudante, sem falar que o leite vinha de carrocinha e o pão em cesto e quentinho.

A Rua de Pacatuba era e continua limitada pelas praças Fausto Cardoso e Camerino.

Na primeira, a Praça Fausto Cardoso, encontravam-se os poderes legislativo e executivo de Sergipe; o governo no Palácio Olímpio Campos e a Assembléia no Palácio Fausto Cardoso. Hoje estes palácios ali estão, conservando o nome e sem mudança de feitio, mas exibindo des-feitio humano, de rastro e degradação, dizendo somente o que foi, o que não é nada por sinal, como bem dizia o poeta que não amava a pegada marcada, por só pesada.

Mas a Praça dos Palácios também exibia dois grandes hotéis, o de Rubina e o Sul Americano, ocupando duas esquinas, e um casario rasteiro, espaço que continha uma sorveteria Aurora de lembrança fugaz, algumas repartições que não existem mais, restando por persistentes apenas somente os prédios do arquivo e/ou biblioteca pública, e a sede da Delegacia Fiscal Federal.

No mais tudo foi derrubado, surgindo os cinqüentenários Edifícios Walter Franco, São Carlos e do Cine Pálace, então o melhor cinema da cidade, e em tempos mais recentes a prediação do Poder Judiciário, o Fórum Tobias Barreto, e da nova Assembléia Legislativa no Palácio João Alves Filho, bem como grandes espaços vazios usados como abrigo e estacionamento de automóveis.

Se a Praça Fausto Cardoso era vibrante e importante, a Praça Camerino era tranqüila e silenciosa exibindo uma arbórea extensão residencial, e um calçadão excelente para os volteios de bicicleta, centrada com a estátua de Sílvio Romero, livro à mão e de costas ao rio, contemplando o lado mais aristocrático da Praça e seu casario.

A Praça Fausto Cardoso de meu tempo de menino era cortada de jardins num colorido de flores, verdadeiro convite para o deleite das tardes e noitinhas à brisa vinda do Rio Sergipe, acolhedora e amena.

Neste tempo as águas estuarinas do Sergipe por límpidas e convidativas, recebiam levas de banhistas à sua margem direita nas manhãs ensolaradas. Margem que era e continua nossa, enquanto do outro lado a paisagem exibia o longínquo o colar coqueiral da ilha de Santa Luzia. Uma distância maior, porque nesse tempo ainda não existia a canoa motorizada de Xeba, e a travessia se fazia lenta ao sabor da correnteza com velas ao vento, em pirogas preguiçosas e jangadas perigosas.

Vejo-me criança à margem do rio Sergipe na cacunda de meu pai. Seria um dia de domingo talvez, porque eram muitos os banhistas no seu leito. Havia inclusive um trampolim nas imediações do Colégio do Salvador, ou mais além, acessível somente aos bons nadadores que os havia bastante.

Alguns desses nadantes atravessavam o rio a nado, como Zé Peixe e seus irmãos, raça anfíbia que se perpetuou como história viva e que ainda permanece conosco, em braçadas mais ousadas, abraçando ainda o doce rio salgado, hoje menos belo, por maculado.

Porque o Rio Sergipe sempre osculou salgadamente a Rua da Frente da cidade, quer por cota rala e fundura rasa frente ao mar, quer porque o subsolo sergipano é montado em farta camada salina; os sais evaporitos que seriam a grande esperança do Estado.

E o estuário era tão salgado que alguns, por desvio ou pouco avio, o chamavam em desapego de “a maré” , quando se lhe pescavam muitos siris de isca e jereré. Mas que hoje restou pior, virando caudal esgoto da cidade que lhe amou em pequenez.

Um vício da cidade e do bicho homem que em devolvendo o beijo amoroso, no rio resolveu espalhar e emporcalhar com a própria escumalha, em dejeção e excremento.

Isso desde o meu tempo de menino, só para historiar a evolução fecal de coliforme partindo de eras antanhas das “fábricas de cocô”, como assim eram apelidadas as deficientes e mal afamadas estações elevatórias de efluentes, e que eram em número de três; a primeira localizada no oitão da alfândega, ao lado do palácio Serigy e das suas esféricas bolas de cimento armado, a segunda na travessa que prenunciava a larga Avenida do Barão do Maroim, e a terceira no conjunto mais além da fundição, junto ao Cotinguiba Clube ou ao Sergipe seu irmão, nas regatas e no futebol.

Hoje o rio é quase cloaca, um impeditivo para as disputas de regatas e os demais esportes náuticos. E os governos se sucedem em multivariada ideologia, todos bostando no rio. Uns defecando escondidos, outros obrando abertamente, em pouca vergonha ou envergonhados, mas todos cagando no rio.

Uma cagação bem ampliada, porque a cidade no meu tempo de menino era pequena e limitada, que chegava a ser contida por linhas de bondes decadentes, como traços limitantes dos contornos citadinos. Tempo em que a fossa estuarina não se fazia visível como agora, e era agradável os passeios de bonde que me pareciam cômodos e eficientes.

Relembro estes passeios acompanhados de minha Nanan, a nossa cozinheira, segunda mãe que tivera, em carinhos e atenção, com o bonde seguindo uma linha do centro ao sul pela Rua de Itabaiana , salvo engano, depois virando na Avenida Augusto Maynard, estendendo-se em demanda da Rua da Frente, a pouco lembrada Ivo do Prado, depois atingindo a o Bairro Industrial e chegando até o sopé da ladeira do Santo Antônio.

Mas se o rio transmudou em cloaca os bondes foram logo aposentados, sendo-lhes retirados os trilhos em desuso exílio de sucata e ferro velho, igual ao relógio de quatro faces, que nunca exibira exatidão uníssona, bem posto e bem centrado na pavimentação a paralelepípedos entre o jardim da retreta dominical e o entre – vão dos palácios executivos e legislativos, local onde se implantou uma herma do Almirante Barroso junto ao primeiro e último mictório público.

Mijadouro que não mais existe, mas que por uso perfunctório separava a grande tragédia política da cidade; Fausto não mirava Olímpio, e este mesmo que o quisesse tinha na frente um panteão miccional a lhe cobrir o empenho de uma possível mirada fatal.

Voltando agora a esta sequencia de praças chegávamos à sede matriz da igreja catedral, cercada por um belíssimo parque zoológico com direito a aquário, sinuoso leito de canal, repleto de peixes e alevinos, despertando nos meninos o ludo e a inspiração, com direito a araras esganiçadas em farto viveiro de pássaro, capivaras, cotias, caititus e outros roedores, sem falar numa onça que ficava por detrás da igreja, e outros animais como macacos e papagaios, com direito a sabão de macaco, uma frutinha espumosa de fedor empesteante que caia das árvores junto a muitos oitis amarelinhos, todos fustigados pelo lento e pegajoso andar do bicho preguiça,

Assim era Aracaju, com o Parque Teófilo Dantas engalanado para as feirinhas de fim de ano, onde o carrossel do negro Tobias reinava ao centro em apitos de corridas.
  
Parque de muitos brinquedos. Dos barcos puxados a corda, aos carrosséis aviões; dos chuveiros e rodas gigantes, das rifas e dos tiros ao alvo em espingardas de ar comprimido, pescarias de prenda e laçadas em jogo de argola, sem falar da série de roletas nos jogos par ou impar, vermelho ou negro, com fichas e placas coloridas faiscando de luzes em sons atraentes de promessas.

E porque não falar dos picolés da Yara e do São José, e do sorvete da Cinelândia, preenchidos na casquinha às colheradas? Ah, que saudade do big-bom e do picolé vitaminado da Yara, enrolados cuidadosamente em papeis sedosos! Que dizer também do cachorro quente de Seu João, inigualável? Um pão Jacó apenas, preenchido com carne frita com batatas?

Que dizer das ruas calmas de pouca insegurança, tempo em que os automóveis vinham e voltavam pela mesma via sem contramão, universo de veículos contado a dedos, com as placas enumeradas segundo um status de importância tola, mas social?

Que dizer de outro tempo, onde já maior eu percorria a cidade nos pedais de uma bicicleta, sem vencer as suaves ladeiras do Santo Antônio e as da Rua de Laranjeiras, terríveis, sobretudo a de sentido oeste leste. Tempo em que a cidade se extinguia nos areais suíços do oratório Dom Bosco e de Bebé, nos apecuns alagados junto ao fundo da Igreja e do Colégio São José, justo na Praça Pinheiro Machado onde Tobias Barreto imperava solitário e esquecido, e do Aribé bem longínquo, cedendo o próprio nome a um Siqueira Campos de descabida homenagem, sem falar da Tebaida, do Carro Quebrado e da terrível estrada Timoteana que desapareceram e foram perdidos…

Falar do Aracaju de Santo Doutor, de Escarrate e do Moleque Namorador, que saiam xingando e ameaçando surrar de cacete os meninos que os provocavam. Aracaju de Maria Inocentinha, Sá Maria dos Cachorros e de tantos loucos e pedintes. E de tantas que se vendiam nos prostíbulos do Vaticano, o nosso mercado em cópia espúria de Bramante.

Aracaju de ancoradouro estreito onde os parcos navios vencendo a estreita barra aportavam à ponte do Lima, o principal trapiche portuário. Sergipe que dizia querer um porto para firmar o Estado em soberania. E que depois o porto chegou e muito pouco vingou.

Aracaju de praias distantes como Atalaia Velha, que era uma viagem para lá chegar, vencendo uma ponte que desabou, e Atalaia Nova, esta bem mais distante ainda, lá do outro lado do Rio Sergipe, difícil de atravessar, onde o sonho de uma ponte era impossível. E sem falar do Mosqueiro de impossível acesso.

Aracaju da praia formosa; de uma balneabilidade lodosa e duvidosa, recebendo águas palustres pelos canais das quatro bocas, onde o banho era vertido por bueiros traiçoeiros.

Aracaju heróica e rebelde exibindo coragem e altivez brandindo armas nos movimentos tenentistas do audaz 13 de Julho, hoje mais esquecido que exaltado.

Aracaju cidade projetada em tabuleiro de xadrez, segundo a concepção do Engenheiro Pirro e conforme a ousadia de Inácio Barbosa e de João Gomes de Mello, o Barão de Maroim. Mas que depois perdendo o traço e seu compasso, rejeitou a regra e a simetria, preferindo o caos como engenharia. Um pecado recorrente com a prediação teimando em avançar no passeio do público e no espaço urbano das ruas

Aracaju, Cajueiro de Papagaios, no dizer de muitos e de Garcia Moreno, em seu livro de crônicas assim nomeado.

Aracaju de tantas saudades e encantos. Aracaju cantada em muitos versos e em muitos hinos, como os de Antônio Feijó, Freire Ribeiro e Alfeu Meneses (Hino do Centenário de Aracaju), que poucos cantam por não mais conhecerem o seu refrão, e outros como José Gentil Leite (Hino de Sesquicentenário de Aracaju), Leozírio Guimarães (Aracaju), Antônio Garcia (Aracaju, uma estrela), Cláudio Miguel (Cheiro da Terra), Antônio Vilela (Atalaia), Hugo Costa (Paisagem de Aracaju), e tantos outros bem ou menos recitados...

E outros cantos a Aracaju de autoria desconhecida, como a cantata infantil que apresento por final, sem som e sem visual, só por lembrança da minha Tereza menina, neste dia sorridente do 155º aniversário da cidade Capital do meu viver:

Aqui em baixo deste céu azul
Vive coberta pela mão divina
Neste torrão tu és de norte a sul
A linda e bela cidade menina.

O Cotinguiba a beijar-te a fronte,
Tão docemente com carinhos mil.
Ali também o coqueiral defronte
Ama e protege a caçulinha do Brasil

Aracaju, tão pequenina!
Tua beleza encanta a toda a gente
Quem a olhar-te fica enamorado,
E o coração apaixonado sente

Lindo cenário de beleza,
Beleza rara deste céu primaveril.
Aracaju presente que Papai do Céu
Ofereceu para o orgulho do Brasil.

Texto reproduzido do site: infonet.com.br/blogs

quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

Chorando ainda por Nina

Nina como está no meu livro “Despercebido… 
mas não indiferente.”

Publicado originalmente no site do Portal INFONET, em 5 dezembro de 2019

Chorando ainda por Nina
Por Odilon Machado

Encontrei com Luiz numa loja de sapato.

La vinha ele, a esposa na frente, ele com um boné na cabeça, olhos escuros na face, meio perdido no lusco-fusco da loja, escurecido pelo óculos que permite olhar, sem desvendar, poder até fingir, não reconhecer, nem identificar, o que não se quer, por melhor escolher.

– Luiz! – gritei eu para seu espanto.

Luiz era o mesmo Luiz Santana, que eu identificara nos meus escaninhos de lembrança, após tantos anos passados.

Luiz olhou para mim, estendeu a mão com uma desconfiada gentileza, logo despertada por um coração que vibrou alegre, radiantemente rejuvenescido.

– Odilon! Odilon Cabral Machado, nós fomos Professores Eméritos juntos!

– Pois é! – adiantei rápido – E eu fui o orador da solenidade, nos quarenta anos da nossa Universidade Federal de Sergipe!

– Odilon! – disse-me ele – Nina, sua irmã, será homenageada no dia 8 de dezembro próximo, por ocasião das “Bodas de Ouro” de nossa formatura como Bacharéis de Direito!

A memória me trouxe Nina de volta, seus sonhos, seus desejos, tudo aquilo que fora perdido, vivido e jamais esquecido, cinquenta anos passados, o que me leva a tomar como tema, chorando ainda por ela, em meio à alegria de seus colegas, como Luiz, que a vida permitiu comemorar o justo jubileu de ouro.

Peço licença a meus leitores para externar um pouco do que me assoma a alma e a lembrança, momentos que me são mais íntimos, mas que merece o destaque, o compartilhamento, puro e simples, mesmo que possa parecer bobo e até desnecessário.

Mas, o que é desnecessário? – Pergunto eu, um velho tolo, que teima em rejeitar a gaveta dos usados e obsoletos, os mortos arquivos de desusados destinos a reter poeira e traça nos armários.

Desta irmã, a título de recordação e não obituário, direi que seu nome era Nina Maria Cabral Machado, nascida em 11 de março de 1946, na Rua de Pacatuba em Aracaju, filha de Maria de Lourdes e Manoel Cabral Machado, nossos pais.

O nome, como era comum na minha família, era uma homenagem a nossa avó paterna, Professora Maria Evangelina Cabral Machado, educadora conhecida como Dona Nina, idealizadora do Asilo São José, na cidade sergipana de Capela.

Como as lágrimas abafam a inspiração e tentando aplacar os meus índices glicêmicos, num desafio que nunca venci, mesmo agora tomando enormes quantidades de pílulas em prévias de insulina, ouso republicar um texto meu, datado dias após a morte de Nina, acontecida no já longínquo 28 de maio de 1978, que restou em mim enquanto tristeza inesquecível.

Segue o texto:

Nina

Você foi embora muito cedo, com 32 anos apenas.

Jamais pensei que você seria tão efêmera, tão frágil e tão fugaz.

Você era forte, disposta, corajosa e eu não ficava atrás.

Em casa, e só em casa, chamavam-nos ‘a Leoa’ e ‘o Tigre’. Um equívoco, uma coisa da qual nunca gostáramos, por depreciativa e chata, e porque a finalidade era ‘desleonizar’ a leoa e ‘destigrar’ o tigre.

Uma coisa equivocada, sobretudo, vendo o que foi sua passagem pela vida…

Mas, deixa pra lá! Ficou a lembrança e a missão de fazer diferente com a prole felina que chegasse.

Você chegou sempre na minha frente, e assim foi na vida e na morte.

Você viu a luz primeiro, quer quando abriu os olhos em 11 de março de 1946, e eu ainda não existia, quer quando os fechei (e fui eu que os fechei!) em 28 de maio de 1978, dia em que você partiu em busca do criador, nossa causa e objetivo.

Nossa diferença de idade, pouco mais que catorze meses, nos tornou alunos da mesma aula com Tia Anita (Professora Helena Barreto), no Educandário Brasília, pesquisadores da mesma experiência de vida e, sobretudo, forjadas foram as nossas personalidades no mesmo fogo e no mesmo cadinho.

Tínhamos as nossas diferenças, tão naturais à concepção psicossomática.

Era até compreensível que existissem entre nós as divergências infantis e até adolescentes, afinal malhados na mesma bigorna, nunca abdicaríamos das nossas identidades, que se eriçavam mais das vezes, afinal todo jovem é sedento de afirmação. E é um equívoco tolhê-la, afinal alguém já disse para os jovens, aquilo que bem pode ser aplicado a todo filho; “aos jovens só podemos dar raízes e asas!”

Passada esta fase juvenil em que andamos paralelamente os mesmos passos, veio-nos o amadurecimento e com ele a responsabilidade de viver. E assim passamos a trilhar caminhos diferentes, porque você constituiu família logo, e eu pouco depois, em busca da realização integral, só possível com a preservação da espécie.

E Deus lhe deu o marido amado e três filhos amoráveis. Mas, o destino não lhe reservou uma alegria plena, afinal o seu primogênito seria um quase vegetal sorridente.

E aí você virou realmente uma leoa.

Não uma leoa raivosa e ameaçadora, mas a leoa que lutou até quando lhe faltaram as forças.

E assim estou a vê-la incansável, viajando com o esposo na busca da solução científica que curasse a sua criança. Vejo a revolta dos dois com os diagnósticos pessimistas e irreversíveis, se repetindo sucessivamente.

Estou a vê-la se exaurir em repetidos exercícios inúteis, tudo fazendo pela cura da criança, que era linda, sem manchas, tinha olhos de um puríssimo azul, mas que na vida só aprenderia a sorrir. Um sorriso de ternura que encantava a todos que o viam. Um santinho, por que não?

Mas, se as mães existem também para santificar os filhos, as mães padecem o seu calvário quando sua criança não enseja a plena esperança de vida.

E assim carregando a sua cruz, sem entrega-la a um Simão Cireneu qualquer, as forças de sua vida começaram a faltar. Era o seu coração que enfraquecia, que não resistia.

Estou a lembrar um seu diálogo (o último e derradeiro) me dizendo que Deus a curaria, pois não deixaria que seu pequeno Manoel Francisco ficasse para ser cuidado sem mãe. Seria uma provação muito grande, e Deus não o permitiria que fosse missão de outrem.

Mas Deus o quis diferente. E o remédio que lhe seria de sua cura foi-lhe fulminante e letal. E você sumiu da minha frente, brusca e terrivelmente, numa convulsão tão violenta, que parecia tudo estar se avessando no seu corpo por inteiro.

E assim você passou.

Partiu sem conseguir o milagre da recuperação, que pedia para aquele risonho e indefeso ser, que por certo está a sentir a sua partida.

Agora, finda sua passagem entre nós, contemplando a sua vida, vejo-a a como um exemplo de provação.

Se a vida é mais tristeza que alegria e felicidade, seus 32 anos de vida foram incontestes exemplos desta assertiva.

Porém, como aqueles que Deus mais ama são os que mais cedo chama para o seu convívio, poupando-os da tarefa terrena de continuar ou destruir a criação, creio que você está agora no convívio de nossos antepassados e amigos, intercedendo junto ao Pai por todos nós aqui na terra.

Assim, você agora é nossa Santa!

É desse modo que a vejo nesses dias de tristeza, quando ainda é tão recente o seu afastamento.

Interceda, ó minha irmã, por todos aqueles que ainda respiram  e possuem a alegria de ser e ter, para que esse mundo seja melhor do que foi o seu. Por seus filhos pequeninos, sua razão de rir e sonhar. E em particular peço por nós, sua família, nós que sentimos a falta da sua voz, de seus verdes olhos, de seu sorriso e de sua presença, mas que esperamos, após cumprir a tarefa que nos foi destinada, encontrá-la para sempre no convívio eterno.

Deixando agora o texto escrito após o passamento de minha irmã, a Bacharela Nina Maria Cabral Machado, em 28 de maio de 1978, aos 32 anos de idade, volto ao encontro mantido com o seu colega de Faculdade Direito, Luiz Santana, para dizer algo mais sobre minha irmã e sua colega.

Nina, como as meninas da minha família, após o Curso Primário no Educandário Brasília das Professoras Helena Barreto e Alaíde Oliveira, cursou o Ginásio e o Científico no Colégio Nossa Senhora de Lourdes das Irmãs Sacramentinas.

Prestou Concurso Vestibular da Faculdade de Direito de Sergipe, graduando-se em 8 de Dezembro de 1969, no Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe.

Nina gostava de idiomas. Naquele tempo a gente estudava Latim, Francês e Inglês. Ela também estudou piano com a Professora Maria Guimarães Gesteira, chegando a se apresentar em público nos Concertos infantis da época.

Enquanto estudante de Direito, Nina exerceu a função de Promotora Substituta de Justiça na comarca de Capela, tendo atuado muito jovem no tribunal do júri daquela cidade, fazendo-o com desenvoltura e competência sem alardes.

Logo após a formatura, Nina se casou com o Engenheiro Agrônomo Jorge do Prado Sobral com quem teve três filhos, Manoel Francisco, o filhinho excepcional que lhe sobreviveu por sete anos e morreu aos 14 anos, o Médico Jorge Junior que lhe daria dois netos, Francisco Manoel e Nina, e o Engenheiro Agrônomo Paulo Henrique, pai de dois garotos, Paulo e Jorge.

Nina redigia muito bem, tinha boa oratória, e com certeza teria bom futuro na carreira jurídica, não fosse uma opção assumida, viver para o lar, que a afastou da profissão, sobretudo após o nascimento do filho primogênito doentio a lhe reivindicar toda atenção.

Dos colegas de Faculdade, estou a lembrar de alguns: Luiz Santana, Elvira Dina, Isabel Amaral, Ana Lúcia Campos, Anderson Nascimento, Cândida, Carlos Alberto Sobral, Mario Jorge Vieira, Wellington Mangueira, Artêmio Barreto, e outros cuja lembrança escapa.

No contexto de memória, conta-se que perguntado ao Abade Sieyès (1748-1836), único revolucionário a atingir a velhice, mesmo após ter escrito o sedicioso texto “O que é o Terceiro Estado?”, por ocasião dos “Estados Gerais”, passando depois pelo “Julgamento do Jogo da Pela”, posar de “Regicida” cortando a cabeça de Luís XVI, o Capeto, conseguindo escapar do “Terror” e de sua revanche em “Termidor”, virar Cônsul com Napoleão e Roger Ducos, vingar ministro do Império até cair em desgraça em 1815 com Waterllo e a restauração da monarquia, conservando o cocar e a cabeça, sendo único revolucionário a morrer de velho, o Ex-Abade respondeu sucinto: – “O que eu fiz?;  Vivi!”

Em tempos menos tormentosos, a mesma pergunta bem poderia ser feita agora aos colegas de Nina que jubilosos festejam a vida e os cinquenta anos de profissão vitoriosa.

Que Deus os cubra de bênçãos até para lhes dizer que Nina não viveu para poder abraçá-los como bem gostaria.

Deus quis que nós, vocês e eu, vivêssemos. Ela não viveu!

Texto e imagem reproduzidos do site:  infonet.com.br

terça-feira, 3 de dezembro de 2019

Por onde anda você: Arivaldo Carvalho

Foto: César Cabral

Publicado originalmente no site RADAR SERGIPE, em 28/09/2019 

Por onde anda você: Arivaldo Carvalho

Arivaldo Carvalho nasceu em Aracaju, no dia 6 de setembro de 1923. Filho de João Alves de Carvalho e D. Altina Moura Carvalho, se destacou como grande empresário ligado ao comércio de madeiras e, também, como notável desportista, praticante de esportes radicais.

O seu pai fundou a Serraria Carvalho, localizada na Avenida Coelho e Campos, no ano de 1935, quando ainda existia a linha férrea por onde o trem chegava até a estação do Mercado, no centro comercial de Aracaju.

No escritório, algumas condecorações na parede.

Arivaldo casou-se com a senhora Iara Sobral Carvalho (falecida), tem três filhos (Ronaldo, Renato e Arivaldinho) e oito netos e cinco bisnetos.

Desde cedo, começou a praticar atividades esportivas bem diferentes daquelas desenvolvidas pelos jovens da sua época. Aos 17 anos já frequentava o Aeroclube de Aracaju e logo se aventurou em voos panorâmicos sobre a capital sergipana. Fez curso de pilotagem para comandar pequenas aeronaves.

Enquanto esteve servindo o Exército, por ser membro do Aeroclube, integrou o grupo de salvamento das vítimas dos naufrágios ocorridos na costa de Sergipe, durante a II Guerra Mundial.

Após o fim da guerra, deixa o Exército e começa a trabalhar com o seu pai, dono da Serraria Carvalho. Comprou um caminhão para trazer madeira que compraria no Pará para abastecer a empresa, em Aracaju. Foram quase dois anos até assumir o comando da serraria, sequenciando o vitorioso empreendimento, de pai para filho.

Sempre com espírito jovem, Arivaldo Carvalho dividia o seu tempo entre a Serraria Carvalho e a prática dos seus esportes preferidos. Inovador, gostava de esportes que elevassem o nível da adrenalina.

Amante do automobilismo, participou de diversas provas nas mais diferentes categorias. Representou Sergipe na II Prova dos 500km da Bahia, em 1967, evento realizado pelo Governo Luiz Viana Filho. Em Sergipe, foi um dos organizadores e vencedor da Corrida Cristinápolis/Aracaju, pela BR-101, pilotando um Simca Chambord. Para fechar a BR e possibilitar a corrida, foi necessária a intervenção do governador Lourival Baptista.

Em julho 1971, participou do Rally da Integração Nacional, cujo percurso foi do Oiapoque ao Chuí, passando pelas principais capitais como Fortaleza, Recife, Salvador, São Paulo e Curitiba. Fez a prova pilotando um Corcel GT, incrementado.

A velocidade sempre foi a sua fiel companheira. Dessa forma, em 1968, juntamente com Fernando Melo e Eduardo Pina vai a São Paulo e compram três Karts, os primeiros de Sergipe. Fundam, então, a Associação Sergipana de Kart. As primeiras provas foram realizadas na praia de Atalaia e na Praça Fausto Cardoso, entre o Palácio Olímpio Campos e o Tribunal de Justiça de Sergipe. Com o esporte em ascensão, Arivaldo consegue com o governador Paulo Barreto de Menezes a cessão de uma área, desmembrada do Aeroclube, para que fosse construído kartódromo de Aracaju, na avenida Maranhão. Durante os anos 70 diversos campeonatos, nas mais diferentes categorias, foram realizados.

Amante de esportes náuticos, Arivaldo Carvalho foi fundador do Iate Clube de Aracaju e do CPAM (Clube de Pescadores Amadores de Molinete), tendo participado de duas equipes de pesca (Gelo e Sercar).

Membro do Aeroclube de Sergipe, foi dele o primeiro aparelho Ultraleve de Aracaju.

Arivaldo Carvalho sempre esteve ligado à aventura, à velocidade e à emoção. Praticou e difundiu o esporte, como poucos. Um desportista nato, ao pé da letra.

Como empresário foi uma referência no ramo de madeiras. Dirigiu a Serraria Carvalho por cerca de 50 anos, gerando emprego e renda, contribuindo, de maneira singular, para a construção de Sergipe.

Prestes a completar 100 anos, tem problemas com a visão e com a fala. A saúde ficou debilitada após o falecimento, recente, da sua esposa. Mora na Chácara Iara, no Mosqueiro, sob os cuidados dos filhos e cuidadores.

Texto e imagens reproduzidos do site: radarsergipe.com.br

domingo, 1 de dezembro de 2019

Homenagem a Dona Helena Barreto (1916 - 2019)

 

"Helena Barreto, D. Helena, uma das Diretoras do Educandário Brasília, professora do terceiro ano. Aos 97 anos em plena lucidez. Muito querida por todos, principalmente para quem teve a honra de ser seu aluno". (Roberto Garcez).

Foto/Legenda reproduzidas do Facebook/Roberto Garcez.


 Aniversário de Dona Helena Barreto, a grande mestra do Educandário Brasília, completando 98 anos de idade e de bem com a vida. Quê beleza!

Foto e informação de legenda: Facebook/Roberto Garcez.


Homenagem a Dona Helena Barreto, aos 99 anos, em plena lucidez e disposição.

Uma das fundadoras do antigo "Educandário Brasília".

Foto e informação de legenda: Facebook/Roberto Garcez.

100 anos de Dona Helena Barreto, minha professora do Colégio Brasília.
Foto e legenda reproduzidas do Facebook/Tito Garcez (28/07/2016)


“Nos deixou hoje (28/11/2019) nossa querida professora do terceiro ano, D. Helena do  Educandário Brasilia, que Deus a tenha em um bom lugar” (Tasso Garcez).

Texto e imagem reproduzidos do Facebook/Tasso Garcez

Monsenhor José Carvalho de Souza





Publicado originalmente no Facebook/Jorge Carvalho Do Nascimento, em 30/11/2019

Parabenizo o amigo Monsenhor José Carvalho de Souza pela celebração dos 93 anos de vida e lançamento do livro biográfico MONSENHOR JOSÉ CARVALHO DE SOUSA: UMA VIDA, UMA OBRA, de autoria da escritora Karine Belchior de Souza. 

Noite muito agradável, em companhia de vários amigos, como o colega de carreira docente na Universidade Federal de Sergipe, Prof. Dr. Carlos Roberto Rodrigues Santos e também da Profa. Dra. Patrícia Verônica Sobral de Souza.

Texto e imagens reproduzidos do Facebook/Jorge Carvalho Do Nascimento

domingo, 24 de novembro de 2019

Morre aos 72 anos a advogada Maria Laete Fraga

Foto reproduzida do Facebook/Maria Laete Fraga

Texto publicado originalmente no site do JORNAL DO DIA, em 23/11/2019

Morre aos 72 anos a advogada Maria Laete Fraga

Morreu na manhã deste sábado, aos 72 anos, a advogada Maria Laete Fraga, ex-integrante do Conselho Seccional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/SE). A informação foi confirmada pela assessoria da entidade. Ela estava internada em um hospital particular de Aracaju, onde fazia um tratamento de saúde. O corpo foi velado no começo da tarde e enterrado no Cemitério Colina da Saudade, no Jabotiana. Nascida em Itabaiana (Agreste), ela formou-se em Direito pela antiga Faculdade Federal de Direito de Sergipe, que depois foi incorporada à Universidade Federal de Sergipe (UFS).

A formatura foi em 1966, na mesma turma do ex-governador Albano Franco e do jurista Carlos Ayres Britto, ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF). Desde então, Maria Laete conseguiu uma longa carreira como advogada na área cível. "Tinha uma personalidade forte, era corajosa, batalhadora. Mulher, negra, de origem humilde, soube com determinação vencer todas as barreiras que a vida lhe apresentou, sobretudo a barreira do preconceito. A educação foi sua grande arma", ressaltou o ex-secretário Luiz Eduardo Oliva, que era seu amigo pessoal.

Texto reproduzido do site: jornaldodiase.com.br

Laete Fraga: um legado de esperança

Foto reproduzida do Facebook/Maria Laete Fraga

Texto publicado originalmente no site JLPOLÍTICA, em 24 de novembro de 2019

Laete Fraga: um legado de esperança

Por Netônio Bezerra*

Conheci Laete Fraga nos idos de 1967, em Itabaiana. Ela me marcou, de logo, pela sua simpatia e pela sua altivez no contato com os operadores do Direito - fossem colegas advogados, magistrados, representantes do Ministério ou Público (na época ainda não havia a Defensoria Pública).

Laete era sempre atenciosa com os servidores da Justiça, do mais modesto ao mais graduado. Porém ninguém confundisse essa delicadeza com subserviência, porque se isso ocorresse a doce Laete transmutar-se-ia numa fera para preservar sua dignidade.

Assumia, na defesa dos seus clientes, uma postura viril de um leão que protege seus filhotes e assim, sobranceira, conduzia sua atividade advocatícia, sempre forte, porém preservando a ética profissional e o respeito dispensado às partes, aos colegas oponentes e às autoridades com as quais lidava.

Inteligente, batalhadora incansável na defesa das causas que patrocinava, Fraga impôs-se como um dos melhores quadros da advocacia sergipana, angariando a admiração e o respeito de tantos quantos a conheceram no seu labor advocatício.

Foi um exemplo vivo de superação de dificuldades e de demonstração de que, com perseverança, estudo, coragem e dignidade, vence-se as grandes batalhas da vida.

Você se foi, Laete, mas deixou para os de agora e para os pósteros um legado de esperança de que o mérito é a chave que abre as portas do reconhecimento e conduz ao êxito aqueles que o portam. Nossa saudade, minha e de Léa.

* É desembargador aposentado do Poder Judiciário do Estado de Sergipe.

Texto reproduzido do site: jlpolitica.com.br

sábado, 23 de novembro de 2019

Morre a advogada Laete Fraga

Foto reproduzida do Facebook/Maria Laete Fraga

Texto publicado originalmente no Facebook/Luiz Eduardo Oliva‎, em 23/11/2019

Triste com a notícia da morte da amiga advogada Laete Fraga.

Por Luiz Eduardo Oliva

Natural de Itabaiana Laete tinha uma personalidade forte, era corajosa, batalhadora. De origem humilde, mulher, negra, soube com determinação vencer todas as barreiras que a vida lhe apresentou, sobretudo a barreira do preconceito.

 A educação foi sua grande arma onde buscou a graduação em direito pela antiga Faculdade de Direito de Sergipe (depois seria incorporada à UFS) e logo Laete se transformaria na principal referência feminina da advocacia em Sergipe.

Grande e inseparável amiga da minha sogra Maria Helena, tabeliã de Itabaiana, outra grande mulher como ela, que recebeu a notícia com profunda tristeza.

Meus sentimentos à família, meu profundo respeito, admiração e homenagem à grande Laete Fraga, essa brava mulher sergipana.

Texto reproduzido do Facebook/Luiz Eduardo Oliva

quarta-feira, 20 de novembro de 2019

José Canabrava Mendonça (1933 - 2019)


Publicado originalmente no Facebook/César Cabral, em 20/11/2019

A imprensa e o esporte sergipano estão de luto.

Faleceu na manhã de hoje, quarta-feira 20/11, Canabrava de Mendonça, funcionário aposentado do Banco do Brasil e um dos mais brilhantes comentaristas esportivos. Trabalhei com ele, por alguns anos, na antiga Rádio Difusora de Sergipe, atual Rádio Aperipê. Eu e o Paulo Lacerda, apresentávamos o programa Show Esportivo (que até hoje é mantido no ar, apresentado por Raimundo Macedo) e o "Cana" (como carinhosamente era chamado) apresentava, diariamente, o seu comentário. Sempre abalizado, muito bem contextualizado, passeava facilmente pelo campo esportivo, com rara inspiração. Amante do esporte, foi atleta de basquete, vôlei, vela e pesca amadora. Sempre ligado ao Cotinguiba Esporte Clube, foi seu dirigente e atleta. O corpo está sendo velado na Colina da Saudade e o sepultamento está previsto para amanhã, pela manhã.

Texto e imagem reproduzidos do Facebook/César Cabral

sábado, 16 de novembro de 2019

O jornalista Raymundo Luiz da Silva e seus 90 anos

Raymundo Luiz da Silva

Publicado originalmente no site JLPOLÍTICA, em 14 de novembro de 2019

Gente Sergipana: o jornalista Raymundo Luiz da Silva e seus 90 anos

Por Antonio Samarone *

Raymundo Luiz da Silva nasceu no Aracaju em 28 setembro de 1929, filho de Manuel Messias da Silva e de dona Eremita Moura. Uma família de três filhos.

Raymundo Luiz deu sorte: foi aluno da professora Guiomar Tavares, no Colégio Santo Antônio, onde fez o primário e apreendeu a tratar com carinho a língua portuguesa. Raymundo Luiz dominou cedo a crestomatia. Cursou o ginásio e o científico no Salesiano.

No Salesiano, Raymundo Luiz foi o meia armador do poderoso “Auri Verde”, time de futebol do Colégio. Aqui, ele encontrou o caminho para resolver as suas dificuldades com a matemática.

O professor Colozio tanto ensinava matemática quanto era o treinador do Auri Verde. Raymundo Luiz ia bem no futebol e péssimo em matemática. Passava pela média.

Naquele tempo em Aracaju quem terminava o segundo grau só tinha três caminhos nos estudos: os ricos iam para a Bahia fazer faculdade, os remediados ou entravam para o Exército ou faziam concurso para o Banco do Brasil. Raymundo foi contínuo do Banco do Comércio e Indústria de Sergipe, de José do Prado Franco.

Depois, passou no concurso do Banco do Brasil e foi lotado em Itabaiana. Interrompeu o curso de Filosofia que fazia na Faculdade Católica, de Dom Luciano. Em 1952, Raymundo Luiz chegou em Itabaiana na marinete de Jason Correia para trabalhar no Banco do Brasil.

A convivência em Itabaiana foi um importante capítulo na vida de Raymundo Luiz. Ainda hoje ele relembra com emoção. Nos primeiros dias, morou na pensão de Dona Antonieta (mãe de Zé Bezerra). Logo depois, enturmado, fundou a República Cajaíba, onde passou a residir com uma turma do Banco do Brasil.

Casou-se em 1953, com dona Maria de Lourdes Azevedo Silva e vão morar num bangalô alugado a Zeca Mesquita. Raymundo Luiz fez amizade com Antônio de Dóci, Oswaldo de Vivi, Divo (de quem é compadre). Como era bom de bola, foi logo recrutado pelo Tremendão da Serra, de quem vestiu a gloriosa camisa.

Raymundo Luiz foi professor de inglês no Colégio Murilo Braga. Foi quem primeiro ensinou a língua inglesa em Itabaiana. O Murilo Braga era dirigido na época pelo promotor da cidade, depois ministro do STJ, Luiz Carlos Fontes de Alencar.

Em 1956, foi transferido para o Banco do Brasil em Aracaju. Mesmo sendo apaixonado pelo Cotinguiba, jogou pelo Clube Sportivo Sergipe. No Rio, Raymundo Luiz é torcedor do Vasco da Gama.

Com a criação da Rádio Cultura, Raymundo Luiz coordenou a primeira equipe esportiva da emissora. Com Paulo Gomes, Alceu Monteiro, Jurandir Santos, Geraldo Oliveira, Antônio Barbosa, Carlos Magalhães e Wellington Elias.

Quem ouviu essa gente, pode confirmar a qualidade das transmissões. Raymundo sempre foi amante dos esportes e criou o Centro de Cultura Física de Sergipe, o percussor das atuais academias.

Na Rádio Cultura, Raymundo Luiz narrava e escrevia com uma qualificada equipe, o “Nossa Opinião”, um programa de crônicas, transmitido diariamente às 13 horas. Líder de audiência.

No jornalismo, Raymundo Luiz foi diretor do Sergipe Jornal e do poderoso Diário dos Associados de Aracaju. Raymundo Luiz é um homem de vasta cultura e profundo conhecedor da língua portuguesa. Se firmou na vida sergipana por talento e esforço, sendo um grande realizador em nossa vida cultural.

Foi secretário de Comunicação dos dois primeiros Governos de João Alves Filho, onde se destacou pela criação da TV Aperipê, um canal de cultura. No começo, a TV pública tevê dificuldades de audiência.

Raymundo Luiz inovou. Colocou carros de som nas ruas informando a programação da emissora: “hoje, depois de Roque Santeiro, assistam à TV Aperipê, programa tal”. Um sucesso: a audiência chegou a 3%.

Raymundo criou outras TVs em Sergipe. Durante a Presidência de Antônio Passos, Raymundo Luiz criou a TV Alese, no ar 24 horas; e depois criou a TV Jornal (não lembro que fim levou).

Raymundo Luiz continua lúcido, ativo, escrevendo, participando nas redes sociais. Um cidadão confortado pelo dever cumprido. Nunca ouvi um porém, uma acusação, uma crítica séria ao cidadão Raymundo Luiz.

Entrou e saiu da vida pública professando a decência. Discreto, culto, inteligente, avesso a bajulações, ele fez muito pela grandeza de Sergipe.

Pai de cinco filhos (Ângela, Sérgio, Dinara, Raymundo e Breno), avô de seis netos e bisavô de quatro bisneto, mora no mesmo lugar, com dona Maria de Lourdes, e continua escutando a beleza do canto do Curió Emoções.

* É médico, professor da Universidade Federal de Sergipe e ex-vereador de Aracaju.

Texto e imagem reproduzidos do site: jlpolitica.com.br

sexta-feira, 8 de novembro de 2019

"Faltava um pedaço de Amaral", por Jorge Carvalho


Publicado originalmente no site JLPOLÍTICA, em 06 de novembro de 2019

Opinião - Faltava um pedaço de Amaral

Por Jorge Carvalho do Nascimento *

É difícil escrever sobre Amaral Cavalcante. Não porque dele haja pouco a dizer. Difícil mesmo é selecionar o que dizer diante da vida plúrima vivida pelo poeta que encantou a minha geração. Quando eu o conheci na primeira metade da década de 70, Amaral havia chegado aos 30 anos de idade, mas era de há muito um irrequieto agitador cultural. Tinha reconhecida a sua competência como intelectual, poeta, jornalista e cronista. Foi bom faze-lo amigo e ser por ele aceito em tal condição. Admiração e amizade que me fizeram saudá-lo quando do seu ingresso na Academia Sergipana de Letras.

O menino de Simão Dias, rebento de Corina Hora do Amaral e José Cavalcante Lima carregou para sempre as marcas educativas do matriarcado familiar e o convívio com os irmãos José Nery, Tereza, Édila e Jorge. Mesmo tendo sido apartado destes aos quatro anos de idade para viver em Itaporanga D’Ajuda com as tias-avós paternas Emiliana Nery, uma professora jubilada, católica, filha de Maria, militante da Pia União, e a presbiteriana Maria dos Anjos. Foi esta última que ecumenicamente o alfabetizou e incentivou as primeiras leituras, juntamente com o padre Arthur Moura Pereira, o vizinho da família de Amaral nas margens do rio Vaza Barris.

Certamente um momento importante para forjar o grande poeta e cronista que conhecemos. O estimulo de Maria dos Anjos certamente o ensinou a ser bom leitor e influiu muito na formação do cronista e poeta. A tia-avó era uma oradora de Itaporanga D’Ajuda, que tinha guardados em seus baús discursos para todas as ocasiões: Dia da Arvore, Grito do Ipiranga, Natal, Valor do Saber. Tal como ela, Amaral aprendeu a recitá-los com voz impostada e a também angariar alguns trocados para abrilhantar os eventos sociais da cidade.

De lá voltou para Simão Dias. Foi estudar. De Simão Dias, saiu adolescente para ser aluno interno do Colégio Agrícola, em São Cristóvão. Voltou para Simão Dias, onde concluiu o Ginásio. Fez política estudantil e liderado pelo padre estanciano Joaquim Antunes Almeida, o Padre Almeida, fundou o Grêmio Escolar da instituição de ensino onde era aluno, ao lado de Clínio Carvalho Guimarães, sob a influência do seu professor de História, Lauro Pacheco.

Era o professor Lauro Pacheco quem mais falava de política para os estudantes, quem criticava o colonialismo e os abusos da propriedade latifundiária. O professor Lauro Pacheco foi uma espécie de consultor que contribuiu na redação do Regimento Interno do Grêmio. Amaral concluiu o curso ginasial e foi o orador da sua turma. O menino, agora rapaz, estava pronto para conquistar a capital do Estado. O ano era o tumultuado e tenebroso 1964. Amaral havia, já, vivido 18 anos. A dureza da vida se fez real. O comércio foi a alternativa de trabalho que se apresentou, para garantir o próprio sustento e colaborar com a renda da família. À noite, frequentava as aulas do Atheneu. Foi vendedor ambulante de aparelhos de jantar, transportando enormes e pesadas caixas de louça na cabeça. Trabalhou na Movelaria Universal, arrumando móveis.

Ao catapultar-se para Aracaju, na bagagem trouxe os primeiros poemas. Folhas de papel datilografadas. Era a sua experiência de escritor quando ele conseguiu trabalhar nos escritórios do Sergipe Jornal, onde conheceu o jornalista Luiz Eduardo Costa e fez amizade com Luduvice José, que o levou para a Academia de Jovens Escritores, organizada pela professora Carmelita Pinto Fontes. A convivência no Sergipe Jornal estimulou o aprofundamento na leitura e alargou o relacionamento social do jovem poeta de Simão Dias. Lá conheceu Florival Santos, que o convidou para ocupar o cargo de Secretário da Galeria de Arte Álvaro Santos. Ali, um novo amigo: Clodoaldo de Alencar Filho, que o apresentou aos jovens intelectuais de Sergipe: Mário Jorge, Ilma Fontes, João Augusto e Aparecida Gama, Luiz Antônio Barreto, Nino Porto, Ivan Valença, Aderaldo Argolo e Ezequiel Monteiro.

Era a poesia que agregava Amaral Cavalcante. O jornalismo era o pano de fundo. O Margelino foi o primeiro jornal alternativo que fundou naquele período. Impresso em mimeógrafo, era distribuído entre os alternativos frequentadores do Parque Teófilo Dantas. Antecedeu o Folha da Praia, periódico alternativo que inscreveu definitivamente o nome do poeta Amaral Cavalcante na galeria dos grandes do jornalismo em Sergipe. Antes disso, o inquieto Amaral fez cinema, fez teatro, criou o Teatro Livre da Sociedade de Cultura Artistica de Sergipe - a SCAS -, a Associação Sergipana de Cultura - ASC -, a Editora Jovens Reunidos - Jovreu e o Clube de Poesia. A maturidade chegou e encontrou o poeta presidindo a Fundação Cultural do Estado de Sergipe.

Amaral Cavalcante se fez intelectual e se expressou no âmbito de uma geração com nomes da maior importância. Todos reconhecidos. Cada um ao seu modo, cada um com o seu estilo, mas merecedores do aplauso público: Jackson da Silva Lima, Ibarê Dantas, Beatriz Góis Dantas, Paulo Fernando Teles de Moraes, Terezinha Oliva, Luiz Alberto dos Santos, Antônio Carlos Mangueira Viana, Francisco José Costa Dantas, Murilo Mellins, Francisco José Alves, Antônio Samarone, Marcelo Deda, José Paulino da Silva, Maria Neli Santos, Luciano Correia, Carlos Cauê e Lílian Wanderley, dentre tantos.

Suas crônicas, hoje postadas na rede mundial de computadores, atestam a linguagem de um escritor maduro, consciente da sua responsabilidade como condutor de um grande número de seguidores, um memorialista a seu modo, capaz de cascavilhar no passado não apenas fatos, mas detalhes deles, com os quais elabora textos antológicos.

O poeta, jornalista, empreendedor e agitador cultural Amaral Cavalcante é agora um experiente senhor de 73 anos de idade. Vida agitada marcada por um temperamento também iconoclasta. De um Amaral que, menino, fez primeira comunhão, frequentou a Cruzada e foi coroinha, mesmo sem entusiasmo. Afinal, como ele já confessou, da igreja católica, gostava mesmo era da pompa dos altares, dos mistérios do senhor morto guardado em caixão de vidro, de desfilar nas procissões com o distintivo da Cruzada e, principalmente, do serviço de alto-falantes e da música dolente que anunciava a hora do Ângelus.

É este o poeta, o cronista primoroso, o jornalista e editor saltador de obstáculos, o subversivo agente da contaminadora ideologia da cultura. É este o Amaral que Mário Brito nos apresenta no livro de crônicas do próprio Amaral A vida me quer bem. Aquele que foi consagrado ao reconhecimento da História e conquistou uma das cadeiras da Academia Sergipana de Letras. Glória que não o afasta de uma história de insatisfação intelectual, essencial à construção da felicidade.

Faltava um pedaço do cronista Amaral Cavalcante. Olhávamos para ele retalhados nos textos que publicava nos espaços da internet. Mário Brito juntou os cacos de Amaral e agora nos chega um belíssimo livro. Nesta quinta-feira o cronista recebe os amigos para autografar este novo livro. Saravá, Amaral! A vida lhe quer bem. 

* É professor e ex-secretário de Estado da Educação.

Texto e imagem reproduzidos do site: jlpolitica.com.br

quinta-feira, 10 de outubro de 2019

Carlos Tirso é considerado um dos maiores goleadores do futebol sergipano

Carlos Tirso é considerado um dos maiores 
goleadores do futebol sergipano
Foto: Arquivo/FSF

Publicado originalmente no site [globoesporte.globo.com/se], em 10/10/2019

Histórias incríveis: o dia em que Carlos Tirso virou lenda ao marcar dez gols, ou "onze", em um só jogo

Considerado o maior artilheiro de todos os tempos do futebol sergipano, ele é um dos grandes ídolos da história do Cotinguiba, clube que completa 110 anos neste 10 de outubro

Por Thiago Barbosa — Aracaju

Messi e Cristiano Ronaldo virtuais, nas mãos de um talentoso gamer, certamente já fizeram dez gols em um só jogo. Contudo, os da vida real, apesar de geniais e de conseguirem, há décadas, enfileirar recordes, jamais alcançaram tal feito. Coube a um vigoroso avançado do Cotinguiba, no auge da forma física aos 19 anos, estabelecer essa marca até hoje lembrada por quem viveu o romantismo do futebol sergipano nos anos 50.

Na era do futebol amador em Sergipe, o Cotinguiba, carinhosamente conhecido como Tubarão da Praia, figurava entre os grandes clubes sergipanos, vinha de um título estadual em 1952. No ano seguinte, na tarde de domingo do dia 31 de maio, conseguiu um feito até hoje incomum ao atropelar o modesto Atlético de Cobrinha com um histórico 11 a 1, resultado que não coube no placar do antigo Estádio de Aracaju, como relatou o 'A Cruzada', jornal da época.

"Não é força de expressão, mas o placar não comportou a avalanche de tentos que marcou o campeão do Estado frente ao medíocre quadro do Atlético. Sim, pois o escore de 11 tentos a 1 não era uma numeração adequada para uma partida de futebol. Pelo menos pensava o garoto encarregado de anotar os gols que surgissem na partida. Evidentemente, estava com a razão quando conduziu para o estádio material suficiente para anotar até o máximo de dez gols" - trouxe a publicação.

É consagrada a história entre torcedores, desportistas e cronistas da época que a grande personagem daquela partida foi o atacante Carlos Tirso, pois teria marcado dez gols. Poderia ter sido onze, mas um detalhe tirou dele o décimo primeiro tento, como o próprio contou em uma entrevista ao site oficial da Federação Sergipana de Futebol em 2007.

- Na verdade, foram onze gols. Um deles chutei forte de fora da área, a bola desviou no bum bum do zagueiro e ganhou a linha de gol. O juiz, inexplicavelmente, considerou como gol contra. E não foi - explicou Carlos Tirso.

Só no primeiro tempo, o Tubarão da Praia já vencia por 6 a 0. Marcou os outros cinco gols na etapa complementar, conseguindo, até os dias de hoje, um dos placares mais inusitados de que se tem notícia.

Manchete da época compara o feito do Cotinguiba a um placar de basquete 
Foto: Reprodução/Jornal A Cruzada

Praticamente toda a carreira esportiva de Carlos Tirso foi no Cotinguiba. Além de campeão como jogador de futebol, ele conquistou títulos também como treinador, atuando no futsal e no basquete. No salão, defendeu ainda a seleção sergipana e foi campeão Norte/Nordeste. Faleceu no dia 16 de julho de 2012 aos 78 anos.

- Ele simplesmente marcou a história centenária do Cotinguiba. Um exemplo de atleta dedicado ao esporte e amante do desporto. Foi campeão pelo Cotinguiba como jogador e treinador. Mas não foi só no futebol que ele fez história. Ele jogou basquete pelo Cotinguiba e jogou também no time de futsal que conquistou o primeiro título do clube na modalidade, em 1959 - lembrou Wellington Mangueira, presidente do clube.

Carlos Tirso também foi campeão no Cotinguiba como treinador 
Foto: Arquivo/FSF

Seresta do Tirso

Carlos Tirso, Carlos Ouro, Tirso gol... foram muitas as alcunhas deste atleta aracajuano nascido na década de 30. Depois da aposentadoria como esportista, ganhou o apelido de Carlos Seresteiro. Isso porque aflorou nele também desde cedo a inclinação pela música. Foi um reconhecido seresteiro, gravou até discos. Suas músicas foram reproduzidas nas rádios sergipanas e ele cantou bastante na noite de Aracaju. Aprendeu a tocar e a cantar quando ainda era atleta.

- Quando eu treinava basquete na quadra do Cotinguiba, todos os domingos pela manhã o presidente do clube, o famoso Charuto (outro ídolo histórico do Cotinguiba), levava sua imensa coleção de discos do Orlando Silva e colocava para tocar. Passava a manhã toda ouvindo o cantor em sua época de auge e daí passei a gostar do cantor. Fui ao seu show em 52 e gostei muito. No mesmo momento, o Sr. Bessa fazia um sarau em sua residência com as músicas de Orlando Silva - explicou Carlos Tirso certa vez em uma entrevista ao colunista Osmário Santos.

Lenda do futebol?

Quem acompanhou o futebol sergipano naquele período sempre cita este jogo memorável em que o Cotinguiba aplicou a histórica goleada sobre o Atlético de Cobrinha por 11 a 1. Torcedores e cronistas da época também fazem questão de enaltecer a grande façanha de Carlos Tirso, autor de dez gols. Décadas depois, a diretoria do Tubarão da Praia procurou inscrever o episódio no Guinness Book, o Livro dos Recordes. Mas seria preciso uma prova material de que o fato realmente teria acontecido. Era o tempo em que a televisão ainda estava engatinhando no Brasil, portanto não havia imagens do jogo.

- Durante muito tempo, buscamos documentos que pudessem atestar esse feito histórico do Carlos Tirso. Fomos algumas vezes à Federação Sergipana procurar pela súmula. Entretanto, o documento não existe mais. Houve um incêndio certa vez que destruiu muitos arquivos históricos. Buscamos também jornais da época e não conseguimos encontrar. Quando o Carlos Tirso morreu, tentamos buscar com a família algum documento que ele tivesse guardado, mas não foi possível. Então, essa história atravessa o tempo na memória de quem testemunhou na época e quem viveu aquele período e sempre relembra esse feito que até hoje ninguém alcançou - explicou Wellington Mangueira, mandatário do clube.

Mangueira tentou inscrever o feito de Carlos Tirso no Guinness Book
Foto: Thiago Barbosa

O GloboEsporte.com pesquisou alguns jornais da época e encontrou duas reportagens referentes ao jogo. Na edição do Correio de Aracaju do dia 2 de junho de 1953, a manchete trazia uma dura crítica a atuação do Atlético, mas não há no texto nenhuma menção aos autores dos gols.

Edição do Jornal Correio de Aracaju fala sobre o jogo, mas não cita 
os autores dos gols (Foto: Biblioteca/UFS)

Na edição de A Cruzada de 7 de junho de 1953, existe uma reportagem mais detalhada sobre a acachapante goleada do Cotinguiba, citando 'um placar de basquete' para definir o que aconteceu no antigo Estádio de Aracaju, onde posteriormente foi erguido o Batistão. Porém, a crônica da partida contraria a memória de quem atribui a Carlos Tirso a autoria de todos aqueles gols. Na escalação informada, sequer aparece o nome dele: Albertino, Alfredo e Braz; Zebola, Alvinho e Edgar; Nicinho, Moraes, Wedemo, Nou e Charuto.

A reportagem ainda conta que o primeiro gol foi marcado por Charuto aos 11 minutos do primeiro tempo. O segundo também foi dele, aos 21. Moraes marcou o terceiro aos 23. Tom descontou para o Atlético. Nicinho ampliou, Charuto e Nicinho fecharam o placar do primeiro tempo em 6 a 1. Na etapa complementar, Moraes marcou todos os outros gols.

Matéria de 'A Cruzada' não traz registro da participação 
de Carlos Tirso neste jogo (Foto: Reprodução/A Cruzada)

Nas duas publicações de Viana Filho sobre a história da crônica esportiva e do futebol sergipano, também não há relato específico algum sobre esse dia iluminado de Carlos Tirso. Não se sabe ao certo o que ocasionou essa inconsistência nas informações sobre o fato. Duas hipóteses podem ajudar a explicar isso. A primeira é que esses dez gols, ou "onze", segundo Tirso, tenham sido marcados em um outro jogo perdido no tempo, o que acabou confundindo as testemunhas daquela proeza do mítico atacante. Ou então, como em vários outros 'causos' do futebol, a história nasceu como lenda, ganhou proporção e fincou-se no imaginário popular. Qualquer que seja a explicação, Tirso Gol está imortalizado como um dos maiores gênios do nosso futebol serigy. Os gols e grandes realizações dele estão na memória de quem, um dia, teve a oportunidade de ver Carlos Tirso jogar.

Texto e imagens reproduzidos do site: globoesporte.globo.com/se