sábado, 13 de dezembro de 2025

Deputados da Alese manifestam pesar pela morte de Dr. Deoclécio Vieira Filho


Fotos: Jadilson Simões – Agência de Notícias Alese

Publicação compartilhada da Agência de Notícias Alese, de 12 de dezembro de 2025

Deputados da Alese manifestam pesar pela morte do Secretário Especial de Legislação, Dr. Deoclécio Vieira Filho

Por Stephanie Macedo

 A Assembleia Legislativa do Estado de Sergipe (Alese) lamenta, com profundo pesar, o falecimento do Secretário Especial de Legislação da Casa, Dr. Deoclécio Vieira Filho, ocorrido na noite desta quinta-feira (11), em sua residência, em Aracaju. Servidor histórico e referência técnica do Parlamento sergipano, ele deixa um legado marcado pela competência, pela dedicação exemplar ao serviço público e pela construção de bases sólidas para o processo legislativo estadual. Está decretado luto oficial por três dias no âmbito do Poder Legislativo.

O presidente da Alese, deputado Jeferson Andrade, externou solidariedade à família, aos amigos e aos servidores da Casa, ressaltando a dimensão institucional do legado deixado por Dr. Deoclécio. 

Em nota, o parlamentar destacou:

“Recebo com profundo pesar a notícia do falecimento do Dr. Deoclécio, servidor histórico e parte viva da trajetória da Assembleia Legislativa de Sergipe. Foram mais de décadas de contribuição, como Secretário-Geral da Mesa Diretora, sempre com uma dedicação que impressionava e inspirava todos nós.

Dr. Deoclécio não apenas conhecia a rotina da Casa, ele ajudou a construí-la. Tinha o hábito de orientar, esclarecer e acolher, com a serenidade de quem viveu a história da Alese por dentro e a generosidade de quem sempre quis ver o Parlamento funcionando da melhor forma possível. Seu jeito simples, firme e correto de servir era uma lição diária.

Para mim, a quem ele acolhia e ensinava com imensa generosidade, sua partida tem o peso e a dor da perda de um pai. Conviver com ele era aprender um pouco mais sobre o sentido do serviço público. Por isso, sua ausência toca profundamente todos que admiravam seu trabalho e seu exemplo.

Neste momento de dor, expresso minha solidariedade à família, aos amigos e aos colegas da Assembleia. Que a memória e o exemplo de Dr. Deoclécio continuem iluminando o nosso trabalho e honrando tudo aquilo que ele ajudou a construir.”

Homenagens do Parlamento

Deputados estaduais e servidores do Poder Legislativo também utilizaram suas redes sociais para manifestar pesar pelo falecimento de Dr. Deoclécio, destacando a convivência, o respeito construído ao longo dos anos e a contribuição técnica deixada à Alese.

O secretário-geral da Mesa Diretora da Alese, Dr. Igor Albuquerque, que trabalhou ao lado de Dr. Deoclécio por décadas, também prestou homenagem. “Muito triste com o passamento do grande amigo Deoclécio Vieira Filho. Meu amigo de muitos anos e a minha maior referência de Serviço Público. Desde a última administração do governador João Alves Filho (2003-2006) tive o privilégio de dividir o dia-a-dia pessoal e profissional com essa figura ilustre e do bem. Deixará saudades e uma grande lacuna no meio jurídico de Sergipe. Rogo a Deus que conforte a família nesse momento de dor.”

Familia

Dr. Deoclécio deixa a esposa D. Neuza Vieira, e três filhos: o médico Marcos Aurélio, o cirurgião-dentista Márcio Augusto, e a jornalista Bianca Natália. O velório será realizado no hall da Assembleia Legislativa de Sergipe a partir das 9h30, e o sepultamento ocorrerá no Cemitério Parque Colina da Saudade, às 17 horas.

Uma vida dedicada ao serviço público

Advogado, formado em Direito pela Universidade Federal de Sergipe (1975), Dr. Deoclécio Vieira Filho iniciou a carreira no serviço público federal, onde já acumulava mais de 21 anos de atuação antes de ingressar no Governo do Estado de Sergipe. Ao longo de mais de sete décadas de vida pública, tornou-se uma das mais sólidas referências técnicas da administração sergipana.

Foi Procurador do Estado da Classe Especial, admitido após aprovação em concurso público. Exerceu diversas funções estratégicas no Poder Executivo Estadual, entre elas:

– Chefe da Assessoria Jurídica da Secretaria de Estado da Educação;
– Coordenador de Legislação de Métodos Administrativos (1979);
– Chefe da Assessoria Técnica (1981);
– Consultor Administrativo (1983);
– Adjunto de Secretário (1984);
– Secretário de Estado de Governo (1985);

Durante esse período, respondeu também pelo expediente da Secretaria de Desenvolvimento Urbano, Saneamento e Energia.

Em 1989, foi nomeado Secretário Especial para Reforma Administrativa e Assuntos Extraordinários; em 1990, Secretário Especial para Assuntos Parlamentares. Em 1991, assumiu o cargo de Subsecretário de Estado de Governo, função que exerceu até 2007. Com a reestruturação administrativa de 1995, teve seu cargo transformado para Subsecretário de Estado da Casa Civil.

Dr. Deoclécio também integrou diversos órgãos colegiados relevantes, como conselhos de administração e deliberação de entidades da administração indireta, entre elas: DTH, SEGRASE/IOSE, PRODASE/EMGETIS, CEHOP, BANESE, DETRAN/SE, COHIDRO/CODERSE e FUNDESC.

Referência na Alese

Em 2007, a convite do então presidente da Assembleia Legislativa, deputado Ulices Andrade, assumiu o antigo Departamento Técnico-Legislativo (DTL), posteriormente transformado em Diretoria Legislativa (DIRLEG). Com a evolução institucional da Casa, tornou-se o primeiro titular da Secretaria-Geral da Mesa Diretora (SGM).

Desde 2023, exercia o cargo de Secretário Especial de Legislação da Alese, posição em que continuava contribuindo para aperfeiçoar rotinas, orientar equipes, construir normas e fortalecer a segurança jurídica do Parlamento.

Dr. Deoclécio tornou-se amplamente reconhecido como uma referência em produção normativa e processo legislativo em Sergipe, sendo responsável por formar gerações de profissionais e por colaborar decisivamente na modernização administrativa da Casa.

Legado

Dr. Deoclécio Vieira Filho deixa um legado de integridade, profundo conhecimento técnico, espírito público e compromisso institucional. Sua trajetória se confunde com a própria evolução da administração pública sergipana e com a memória técnica da Assembleia Legislativa.

A Alese registra seu pesar e manifesta gratidão por toda a contribuição deixada por Dr. Deoclécio ao longo de uma vida dedicada ao bem comum e ao fortalecimento das instituições do Estado de Sergipe.

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Publicação compartilhada da Agência de Notícias Alese, de 12 de dezembro de 2025

Na Alese, deputados, familiares e amigos prestaram homenagens a Deoclécio Vieira Filho

Por Alessandro Santos Monteiro

 Em clima de profunda consternação, a Assembleia Legislativa de Sergipe (Alese) recebeu, nesta sexta-feira (12), o velório do secretário especial de Legislação, Dr. Deoclécio Vieira Filho, um dos nomes mais marcantes da história jurídica e administrativa do Estado. O hall da Casa ficou movimentado desde as primeiras horas da manhã, quando autoridades, servidores, familiares, amigos e a população passaram a chegar para prestar suas últimas homenagens ao jurista, que faleceu na noite anterior, em Aracaju, aos 90 anos.

Nascido em São Cristóvão em 15 de setembro de 1935, Dr. Deoclécio acumulava mais de 70 anos dedicados ao serviço público, tendo participado da elaboração, revisão e orientação de praticamente todo o arcabouço legislativo e normativo das últimas quatro décadas em Sergipe.

Em reconhecimento à sua trajetória, o presidente da Assembleia, deputado Jeferson Andrade, decretou luto oficial de três dias no Poder Legislativo.

Exemplo de servidor público e referência técnica do Parlamento

Ao longo de sua carreira, Dr. Deoclécio atuou em diversas frentes do Executivo e do Legislativo, tornando-se para muitos parlamentares e servidores uma verdadeira enciclopédia do Direito Público Serigipano. Sua presença constante na Alese, sua disponibilidade para orientar e sua postura firme, porém acolhedora, marcaram a memória daqueles que conviveram com ele.

Marco Aurélio, médico da Alese e filho de Dr. Deoclécio

Com emoção, Marco Aurélio descreveu a essência do pai, ressaltando sua generosidade e caráter raro:

“Meu pai sempre foi muito gentil com todo mundo. Tinha uma capacidade incrível de se relacionar, de tratar cada pessoa com respeito e acolhimento. Nunca vi meu pai cultivar inimizades. Ao contrário, ele criava amizades, mantendo sempre bons contatos com todos. Ajudava quem precisava, independente de quem fosse. Ele fazia questão de ver as pessoas crescerem; apoiava, patrocinava projetos, dava conselhos.”

Marco também destacou a incansável dedicação do pai ao serviço público:

“Foram 70 anos de trabalho. Ele era servidor público na essência da palavra. Durante a pandemia, mesmo já idoso, não deixou de vir trabalhar. Ele se sentia responsável pela missão que tinha. Era apartidário, conseguia lidar com todos os profissionais, com todos os políticos, e isso mostrava como ele era grande. Meu pai carregava o Estado nas costas. É um exemplo de servidor público que dificilmente veremos novamente.”

Dr. Igor Albuquerque, secretário-geral da Mesa Diretora da Alese

Profundamente abalado, Dr. Igor Albuquerque exaltou a relevância histórica de Dr. Deoclécio para o Estado:

“A Assembleia Legislativa foi apenas o último capítulo da trajetória dele. Deoclécio dedicou mais de seis décadas ao serviço público e deixou sua marca principalmente no Governo do Estado, onde teve papel fundamental na construção e revisão da base normativa de Sergipe nos últimos 45 anos.”
Para o Dr. Igor, a perda é pessoal e institucional:

“Era um grande jurista, mas também um ser humano excepcional. Uma pessoa a quem devo muito. Ele me aconselhou inúmeras vezes, ajudou muita gente ao longo da vida. Quem o via de longe podia achar seu jeito carrancudo, mas bastava se aproximar para descobrir a pessoa maravilhosa que ele era. Trabalhamos juntos desde 2003. Parte de quem eu sou como servidor público devo a ele. Hoje o Parlamento perde um mestre; e nós, amigos, perdemos alguém insubstituível.”

Deputado Garibalde Mendonça, vice-presidente da Alese

Garibalde lembrou com emoção os longos anos de convivência com Dr. Deoclécio, ressaltando que poucos tiveram tanto contato com ele quanto sua própria geração de parlamentares.

“Eu tive o prazer e o privilégio de conviver com doutor Deoclécio talvez até mais que muitos parlamentares que hoje estão na Casa. Foram anos de aprendizado contínuo, porque a cada conversa com ele a gente saía mais preparado, mais consciente do nosso papel. Ele tinha uma competência ímpar, dessas que não se encontram com facilidade, um caráter que falava por si e uma bondade natural que fazia com que todos buscassem sua orientação.”

O deputado destacou que Deoclécio era um porto seguro em momentos de dúvidas jurídicas:

“Era procurado por todos nós porque representava segurança. Explicava, orientava, esclarecia e nos ajudava a tomar as decisões certas. Mesmo com 90 anos, seguia lúcido, firme e com uma disposição admirável. São 90 anos muito bem vividos, com uma história que se confunde com a história do próprio Estado de Sergipe. Doutor Deoclécio deixa um legado profundo nesta Casa e no Governo. Ele foi essencial para todos nós, para todas as gestões pelas quais passou. Era amigo, conselheiro e uma referência. Que Deus o receba em paz e conforte toda sua família.”

Deputado Luciano Bispo

Luciano Bispo destacou a dimensão histórica da atuação de Dr. Deoclécio no Executivo e no Legislativo.

“Doutor Deoclécio fez história em Sergipe, e não foi uma história pequena. Ele participou de momentos decisivos da administração pública, ainda lá nos governos de João Alves, ajudando a redigir leis, a estruturar políticas públicas e a orientar o Estado nos caminhos corretos.”

O parlamentar ressaltou a confiança que todos depositavam no jurista:

“Ele era um homem honesto, sereno, seguro nas palavras e nas decisões. Conhecia as leis do nosso Estado na palma da mão, como ninguém. Às vezes a gente entrava na sala dele com dúvidas enormes e saía com tudo esclarecido, porque ele tinha essa capacidade de simplificar sem perder rigor técnico.”

Para Luciano, a perda é irreparável:

“A Assembleia deve muito a ele. Era um servidor, mas sobretudo um patrimônio humano do Parlamento. Ele cumpriu sua missão na Terra com maestria, com dignidade e com respeito ao povo sergipano.”

Deputado Georgeo Passos

Georgeo enfatizou o respeito que Dr. Deoclécio conquistou entre diferentes gerações de parlamentares:

“Doutor Deoclécio deixa um legado fortíssimo de compromisso com a coisa pública. Quando cheguei aqui, em 2015, passei a chamá-lo de ‘ministro’, porque sua postura, sua bagagem técnica e sua grandeza lhe davam esse título informal.”

O deputado recordou a importância de Deoclécio no processo legislativo:

“Era sereno, sempre disposto a ajudar, a ouvir, a dar conselhos valiosíssimos. Participou diretamente da elaboração ou revisão de mais de 80% das leis que chegaram do Poder Executivo nas últimas décadas. No plenário, na Mesa, na Secretaria-Geral, em tudo que envolvia o funcionamento da Casa, havia o toque dele.”

Georgeo concluiu com admiração:

“É uma perda enorme. Ele ajudou a moldar o Estado de Sergipe. Deixa um legado extraordinário, de ética, técnica e humanidade.”

Deputada Kitty Lima

Kitty Lima lembrou com afeto da forma acolhedora como foi recebida ao entrar na vida parlamentar:
“Cheguei aqui muito jovem, cheia de dúvidas, e doutor Deoclécio me recebeu com um carinho que nunca vou esquecer. Ele era um crânio, desses que não precisam nem consultar papel, sabia todas as leis de cabeça. Era como um pai, um professor, alguém que transmitia segurança.”

A deputada também destacou o lado humano e sensível dele:

“Por trás daquela figura séria, havia um coração enorme. Ele adorava animais. Deixou mais de dez gatinhos que cuidava como filhos. Dizia sempre: ‘Nos meus gatos, ninguém mexe’. Isso mostra o tamanho da sensibilidade dele. Ele já faz falta e continuará fazendo.”

Deputado Netinho Guimarães

Com visível pesar, o deputado Netinho Guimarães destacou a dimensão da perda para Sergipe e para o Parlamento:

“Hoje é um dia muito triste para todos nós. Sergipe perde uma verdadeira enciclopédia viva, alguém que dominava como poucos o conhecimento jurídico e a história do nosso Estado. Doutor Deoclécio era um homem da lei em toda a essência: correto, dedicado, comprometido com o serviço público e guiado por princípios sólidos.

Era também um servidor exemplar, daqueles que deixam marca não apenas pelo trabalho, mas pela forma humana, gentil e respeitosa com que tratava cada pessoa. Uma figura íntegra, um coração bondoso, sempre pronto a orientar, a ensinar e a estender a mão a quem precisasse.

Com sua partida, perde o Parlamento, perde o Estado, perdem todos que tiveram o privilégio de conviver com ele. Perdemos um grande amigo, cuja ausência será profundamente sentida, mas cujo legado permanecerá vivo.”

Deputada Carminha Paiva

Carminha descreveu sua primeira impressão ao encontrá-lo no gabinete:

“Lembro bem da primeira vez que entrei na sala dele. Era impressionante: pilhas de documentos por todos os lados, leis, projetos, análises… e ele sabia exatamente onde estava cada coisa. Era de uma inteligência extraordinária.”

A deputada valorizou ainda seu compromisso com o trabalho:

“Sempre muito responsável, muito cuidadoso com cada detalhe. Ele tinha um carinho enorme pela Assembleia e pelo processo legislativo. Que Deus o acolha na eternidade.”

Deputado Kaká Santos

O deputado Kaká Santos destacou, com profundo respeito, a importância da trajetória de Dr. Deoclécio Vieira Filho para o Parlamento e para o Estado de Sergipe.

“É com grande respeito que prestamos esta homenagem a doutor Deoclécio, uma figura que marcou profundamente o Parlamento e todos que conviveram com ele. Sua dedicação ao serviço público, sua seriedade e sua imensa capacidade jurídica fizeram dele uma referência permanente dentro desta Casa. Doutor Deoclécio esteve presente em momentos decisivos da Assembleia, sempre oferecendo orientação segura, sempre disposto a ajudar. Sua ausência deixa uma lacuna não só aqui, mas em todo o Estado, onde seu trabalho contribuiu de maneira significativa para o desenvolvimento institucional. Expresso minha solidariedade aos familiares e amigos neste momento de despedida. Que sua memória continue sendo lembrada com gratidão e respeito, e que seu legado permaneça como exemplo de compromisso e dedicação ao povo sergipano.”

Deputada Linda Brasil

Linda falou sobre o papel essencial do jurista:

“É uma perda muito grande para o Parlamento e para a sociedade. Mesmo que não estivesse sempre na linha de frente, era peça-chave para que as legislações tramitassem com segurança, para que tudo fosse conduzido corretamente.”

A parlamentar reforçou o impacto duradouro da atuação de Dr. Deoclécio:

“Assessorou inúmeras mesas diretoras, orientou legislaturas inteiras e sempre garantiu a defesa da Constituição e do processo democrático. Que seja acolhido com amor.”

Ex-deputado estadual Francisco Gualberto

Gualberto reforçou a ligação afetiva e profissional com Deoclécio:

“Primeiro, quero registrar que ele é meu conterrâneo, filho querido de São Cristóvão. E, com sua partida, São Cristóvão perde um filho ilustre, alguém que sempre se destacou pelo caráter, pela dedicação e pelo compromisso com o bem comum. Mas não é apenas a nossa cidade que sente a perda: todo o estado de Sergipe perde um exemplo raro de servidor público, alguém cuja vida foi dedicada a servir à população com ética, competência e generosidade. Conheço o doutor Deoclécio há muitas décadas, acompanhando sua trajetória dedicada ao serviço público. Sempre o vi trabalhando com eficiência, com capacidade técnica ímpar e com uma dedicação que inspirava todos ao seu redor. Tive a honra, como presidente da Comissão de Constituição e Justiça desta Casa, de ser assessorado por ele, assim como também contei com sua orientação quando exerci a liderança do governo. Em todas essas funções, ele se destacou não apenas pelo conhecimento jurídico, mas pela serenidade, pelo equilíbrio e pelo compromisso verdadeiro com Sergipe e com o povo sergipano. Portanto, neste momento de tristeza, queremos expressar nosso profundo pesar pela partida de um companheiro de envergadura incomum. Que possamos desejar consolo à sua família e acreditar que Deus o colocou no melhor lugar possível. Mas, sem dúvida, para todos nós que convivemos com ele, não há como negar: Sergipe está de luto. Perdemos não apenas um servidor exemplar, mas um amigo, um mentor e um exemplo de integridade que ficará para sempre em nossa memória.”

Desembargador Edson Ulisses de Melo

O desembargador comentou a longa amizade com o jurista:

“Fomos colegas no curso de Direito e, desde aqueles primeiros anos, construímos uma amizade sólida que perdurou por toda a vida. Ele sempre se destacou pelo equilíbrio, pela sensatez e pela integridade. Todos que tiveram a oportunidade de conviver com ele o admiravam profundamente. Era, sem dúvida, um exemplo para toda a turma, alguém cuja postura e caráter inspiravam respeito e confiança.”

Edson Ulisses também ressaltou a fé que nutria na trajetória do amigo e na certeza de que sua partida seria apenas o início de uma nova etapa:

“Hoje nos despedimos com a convicção de que ele encontrará as portas do reino celestial abertas. Um homem como ele, íntegro, dedicado e de coração puro, certamente será recebido nos braços do Pai. Sua vida foi marcada por generosidade, amizade verdadeira e dedicação ao bem, deixando um legado que jamais será esquecido. Sentiremos profundamente sua falta, mas nos conforta saber que sua luz continuará a brilhar em nossas memórias e em cada gesto de bondade que ele nos ensinou a praticar.”

Delegada Georlize Teles

A recém-nomeada secretária de Estado de Políticas Públicas para as Mulheres relembrou seu primeiro contato profissional com Deoclécio:

“Conheci doutor Deoclécio quando cheguei ao Estado como delegada. Depois, à frente do Sindicato dos Delegados, precisei pensar e defender leis para a carreira, e ele foi fundamental. Nunca me disse não, nunca recusou ajudar.”

Ela destacou a sabedoria e paciência do jurista:

“Era sábio, sereno e extremamente paciente. Quando eu precisava entender uma estrutura de Estado, uma norma, uma proposta, era ele quem eu procurava. Hoje eu não poderia deixar de vir prestar essa última homenagem.”

Ex-deputado estadual Venâncio Fonseca

Venâncio recordou, com profunda emoção, os tempos em que trabalhou ao lado de doutor Deoclécio na Procuradoria-Geral do Estado:

“Conheci doutor Deoclécio na Procuradoria-Geral, onde fomos colegas. Desde o primeiro momento, impressionava a todos com sua inteligência, seu senso de justiça e sua dedicação incansável ao serviço público. Era alguém capaz de unir rigor técnico a uma sensibilidade rara, sempre atento à ética e à equidade, características que marcaram toda a sua trajetória e conquistaram a admiração de todos ao seu redor.”

O ex-deputado também destacou a proximidade que manteve com ele ao longo dos anos, acompanhando suas trajetórias paralelas no Governo e no Parlamento:

Depois, tivemos a oportunidade de conviver de perto no Governo e no Parlamento. Doutor Deoclécio foi não apenas um mestre no Direito e um servidor público extraordinário, mas também um ser humano íntegro, generoso e inspirador. Sua generosidade se manifestava em cada gesto, em cada orientação, em cada ato de amizade e solidariedade. Ele deixa um legado que ultrapassa o papel e as leis: sua história está gravada na memória do Legislativo e, sobretudo, no coração de todos que tiveram o privilégio de conhecê-lo. Hoje, lembramos não apenas de sua competência, mas da sua humanidade, e sabemos que seu exemplo continuará a nos guiar por muito tempo.”

Ex-deputado Dr. Gilson Andrade

O ex-deputado e ex-prefeito do município de Estância, Dr. Gilson Andrade, ressaltou a presença constante e marcante de Deoclécio na Assembleia Legislativa de Sergipe (Alese):

“Recebi a notícia com enorme tristeza. Tive a oportunidade de conviver com ele durante seis anos, e sempre o vi como uma referência, alguém a quem todos recorriam diante de qualquer dúvida. Sua sabedoria, calma e experiência faziam dele um verdadeiro ponto de apoio para colegas, servidores e parlamentares. Era impossível não se inspirar em sua postura ética e profissional, que transmitia segurança e confiança a todos ao seu redor.”

O ex-parlamentar também enfatizou o comprometimento exemplar de Deoclécio com seu trabalho:
“Ele estava aqui todos os dias, sempre presente, sempre disposto e sempre preparado. Sua dedicação ia muito além do esperado; cada orientação, cada conselho, cada gesto refletia sua paixão pelo Direito e pelo serviço público. Deixa uma lacuna enorme na Assembleia e nos corações de todos que tiveram a honra de trabalhar ao seu lado, mas seu legado permanecerá para sempre. Ele ajudou a orientar gerações inteiras de deputados, deixando marcas profundas de profissionalismo, generosidade e humanidade que jamais serão esquecidas.”

Jornalista e ex-servidor da Alese, Habacuque Villacorte

Habacuque destacou o papel de Dr. Deoclécio como fonte confiável do Parlamento:

“Não só a Assembleia, mas Sergipe perde muito. Para nós, jornalistas, Deoclécio era referência. Ele era uma enciclopédia viva do Legislativo. Quando havia dúvida sobre a história da Casa, sobre uma lei antiga, sobre um processo legislativo, íamos direto a ele.”

O jornalista concluiu reconhecendo seu lugar na história:

“Não dá para escrever a história do Poder Legislativo sergipano sem falar de Deoclécio. Ele faz parte de cada capítulo. Sua partida deixa uma página de saudade, mas também um legado impossível de apagar.

Sepultamento

O sepultamento de Dr. Deoclécio Vieira Filho ocorreu às 17h, no Cemitério Colina da Saudade, em Aracaju. Após um velório marcado por homenagens emocionadas, o féretro, conduzido por policiais militares que compõem o Gabinete de Segurança Institucional da Assembleia Legislativa de Sergipe (GSI–Alese), seguiu acompanhado por familiares, amigos, autoridades e servidores, recebendo ainda apoio do Grupamento Especial Tático de Motos – GETAM, da Polícia Militar de Sergipe, que prestou assistência durante todo o trajeto, uma atenção especial do Governo do Estado, por meio da SSP/SE, em reconhecimento à relevância institucional e ao legado do jurista.

Em clima de respeito e profunda comoção, foram lembradas suas mais de sete décadas de dedicação ao serviço público. O descanso final de Dr. Deoclécio foi marcado por manifestações de gratidão e reconhecimento, reforçando o impacto humano, ético e profissional que ele deixa na história do Parlamento sergipano.

Texto e imagens reproduzidos do site: al se leg br

quinta-feira, 4 de dezembro de 2025

Morre a historiadora e pesquisadora Verônica Nunes

Foto: UFS/Arquivo

Publicação compartilhada do site HORA NEWS, de 1 de dezembro de 2025

Morre a historiadora e pesquisadora Verônica Nunes, referência na cultura sergipana

A historiadora, museóloga e pesquisadora Verônica Maria Meneses Nunes faleceu nesta segunda-feira, 1º, aos 73 anos. A Universidade Federal de Sergipe (UFS) confirmou a informação.

O velório ocorre nesta segunda-feira, desde às 14h30, no OSAF, situada na Rua Itaporanga, nº 436. Já o sepultamento está marcado para esta terça-feira, às 11h, no Cemitério Santa Isabel, em Aracaju.

Em nota oficial, a UFS manifestou pesar pela perda da docente, destacando sua contribuição acadêmica e cultural. A instituição apresentou solidariedade aos familiares, amigos, colegas e ex-alunos, ressaltando que o legado da professora permanece como referência para a história da universidade e para a valorização da cultura sergipana.

Trajetória acadêmica

De acordo com a UFS, Verônica marcou sua passagem pela instituição com uma atuação expressiva. Iniciou sua carreira no Departamento de História e, posteriormente, integrou o Departamento de Museologia, onde fortaleceu iniciativas de ensino, pesquisa e ações voltadas à preservação da memória e do patrimônio cultural de Sergipe.

Formada em História pela UFS em 1977, a professora também era mestre em Memória Social e Documento pela UniRIO (1993) e doutora em Arqueologia pela própria universidade. Sua produção acadêmica concentrou-se na História Cultural, com destaque para pesquisas sobre religiosidade e patrimônio cultural sergipano, campos nos quais deixou significativa contribuição.

Texto e imagem reproduzidos do site: horanews net

quinta-feira, 20 de novembro de 2025

José Carlos Maynart Garcez Vieira (1943 - 2025)

Morreu, meu primo e grande amigo, JOSÉ CARLOS MAYNART GARCEZ VIEIRA (ZÉ DO CARTÓRIO), deixa esposa, Conceição e os filhos: Marcos, Max, Maysa, Márcia e Marta, sobrinhos dos já falecidos - irmãos de Zé - Henrique, Aminthas, Luiz Carlos, Júlio, Mabel, Eduardo e Paulo, filhos dos saudosos tios Aminthas e Layra.

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Zé, em uma de suas últimas fotos, quando foi homenageado, na cerimônia de inauguração da nova Casa de Apoio Anna Garcez, no último mês de outubro...

Foto da AMO - Zé, recebendo placa das mãos de Conceição Balbino.

domingo, 16 de novembro de 2025

Sergipanidade e Luiz Antonio Barreto

Artigo compartilhado do blog de SAMARONE, de 5 de novembro de 2025

Sergipanidade e Luiz Antonio Barreto. 
Por Antonio Samarone*

A Prefeita Emília fez justiça, ao renomear o Centro Cultural de Aracaju em Palácio-museu Luiz Antonio Barreto. 

Sem muitas dúvidas, Luiz foi o maior intelectual sergipano, na segunda metade do século XX. 

Luiz Antonio Barreto é o “Senhor Sergipanidade”, um guardião da cultura sergipana, como disse recentemente o sobrinho de Zé Calazans.

 Luiz Antonio, acreditava que a sergipanidade era um conceito em construção, e começou com Tobias Barreto. Foi longe! 

Contudo, sergipanidade é um conceito, por enquanto, mal construído. 

Luiz Antonio deixou algumas dicas: 

“Sergipanidade é o conjunto de traços típicos, a manifestação que distingue a identidade dos sergipanos, tornando-o diferente dos demais brasileiros, embora preservando as raízes da história comum.” 

“A sergipanidade inspira condutas e renova compromissos, na representação simbólica da relação dos sergipanos com a terra, e especialmente com a cultura, e tudo o que ela representa como mostruário da experiência e da sensibilidade.”

Os atuais entusiastas da sergipanidade não acrescentaram nada.

 Quais são esses traços típicos? Nada de consistente. Havia divergências sobre o dia da sergipanidade. O dia 24 de outubro foi instituído como dia da sergipanidade. A data foi oficializada em 2019, pela Lei nº 8.601, para celebrar o conjunto de traços culturais e o orgulho do povo sergipano.

“Alegrai-vos sergipanos, ressurge a mais bela aurora./ Com cânticos doces/ Vamos festejar, festejar, festejar...” Hino de Sergipe.

O Governador Marcelo Déda foi um entusiasta da sergipanidade. 

Déda encomendou uma História do Povo de Sergipe, ao intelectual baiano Antonio Risério. O livro, não sei as razões, foi recolhido. 

A comunicóloga e ex-secretária de Estado da Comunicação e da Cultura durante a gestão do governador Marcelo Déda (PT), Eloísa Galdino, destacou que, ao longo da gestão, parte do projeto e da missão era elevar a autoestima do povo sergipano, através do resgate de símbolos, datas, patrimônios.  Mangue jornalismo (05/072023).

O jornal enxerga a criação do conceito de sergipanidade, a uma ação vinculada ao marketing governamental e aos intelectuais criadores da política cultural de Sergipe.

Parece que avançamos: sem muita convicção, a sergipanidade passou a interessar a acanhada política pública de turismo. 

Luiz Antonio Barreto deixou uma ideia em construção. 

Continuamos patinando. 

Ao ser perguntado, um doutor da UFS, deu uma resposta evasiva: “A sergipanidade se manifesta no falar, no comer, no rezar e no viver cotidiano de cada sergipano. É um sentimento que não se vê, não se explica, mas se sente.” 

Ou seja, a gente sente, mas não sabe o que é!

Luiz Antonio conhecia o pensamento de Gilberto Freire, que liderou a criação cultural do Nordeste, com o seu Manifesto Regionalista de 1936. 

O Nordeste é uma realidade inventada pela literatura, música, movimentos messiânicos, cangaço, cordel, teatro, religião. 

No início do século XX, não existia o Nordestino, como singularidade cultural.

Darcy Ribeiro teorizou sobre a criação do brasileiro, Gilberto Freire pensou o nordestino, Luiz Antonio teve a ideia de criar culturalmente o sergipano. Ele sabia muito, e sonhou com a sergipanidade. 

Deixou a tarefa: o que o sergipano tem que não é comum aos demais brasileiros e mais, especificamente, que não é comum aos demais nordestinos. 

O que torna o sergipano culturalmente original?

Cultura vista como a dimensão simbólica da existência humana.

Marcelo Déda acreditava que o conceito de sergipanidade aumentaria a nossa auto-estima, aliás, que continua baixa. 

O dia da sergipanidade é comemorado pelo Poder Público com músicas, danças e bandas baianas. 

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 * Antonio Samarone – Secretário de Cultura de Itabaiana.

Texto e imagem reproduzidos do blogdesamarone blogspot com

segunda-feira, 10 de novembro de 2025

Zé Peixe, o herói das marés sergipanas

Foto compartilhada do Google e postada pelo blog, para ilustrar o presente artigo.

 Artigo compartilhado do site ROACONTECE, de 26 de outubro de 2025  

O Peixe Homem das Águas de Sergipe, Nadando Entre Sonhos e Memórias

Por Emanuel Rocha*

Nas águas sergipanas, o homem-peixe deixou sua marca de luz, coragem e lembranças que desafiam o tempo

Na Semana da Sergipanidade, nada melhor que recordar a história de um homem que fez das águas o próprio lar e da coragem a sua bandeira. Zé Peixe, o herói das marés sergipanas, nadava entre o real e o lendário, desafiando ondas, correntes e distâncias com a leveza de quem nasceu para servir. Filho do rio e do vento, tornou-se símbolo de bravura e simplicidade, um nome que atravessou o tempo carregando a essência do povo de Sergipe: forte, destemido e profundamente ligado à terra e ao mar.

Nas margens do Rio Sergipe, nasceu um menino que parecia feito do próprio mar. Cada onda lhe sussurrava segredos, cada correnteza guiava seus passos, e cada mergulho se tornava uma lição de coragem. Chamaram-no Zé Peixe, filho das águas e guardião das marés, que desde cedo aprendeu que a vida se mede em braçadas e que a verdadeira grandeza se revela na harmonia entre o homem e o rio que o viu crescer

Em 1927, Aracaju respirava ao ritmo do Rio Sergipe. As águas refletiam o céu e carregavam histórias antigas, enquanto o vento trazia o cheiro do mar e o murmúrio das marés embalava a cidade. As ruas ainda eram de barro, as casas baixas, e o cotidiano se desenrolava entre mercados, barcos e redes estendidas ao sol. O rio corria livre, invadia cais e margens e parecia guardar segredos que só quem nascia à sua beira podia ouvir

Filho de Dona Vectúria, professora de matemática, e de Seu Nicanor Ribeiro Nunes , funcionário público, José Martins Ribeiro Nunes, o futuro Zé Peixe, era o terceiro de seis irmãos, cercado pelo riso e pelo burburinho da casa familiar. Entre o sol que brilhava sobre a água e o reflexo das nuvens correndo pela correnteza, ele aprendeu cedo a escutar o rio. Cada onda trazia uma lição, cada maré um segredo e cada barco, um convite ao sonho. Assim, de mãos pequenas e pés molhados, crescia Zé Peixe, menino do rio, alma moldada pela água, pela brisa e pelo infinito movimento das correntes que passavam diante de sua casa

Zezinho iniciou seus estudos no Jardim de Infância Augusto Maynard, fez o primário no colégio de Dona Glorianha Chaves, cursou o ginásio no Colégio Jackson de Figueiredo e concluiu o segundo grau no Colégio Tobias Barreto. Entre lições de livros e ensinamentos do rio, aprendia o equilíbrio entre conhecimento e coragem, entre o mundo escolar e o mundo das águas

Aos quatro anos, o menino que se tornaria Peixe já nadava como poucos. Bastava atravessar a rua Ivo do Prado e pular, onde o peixe se tornava mar. Acostumou-se a atravessar rios e canais, ir chupar caju no outro lado, na ilha, voltando indo e voltando a nado.

Nunca foi fácil entrar via marítima por nenhum dos extremos da ilha, mas para Zé Peixe isso não era problema. Com doze anos, conhecia como ninguém o movimento das areias no leito do Rio Sergipe, podendo conduzir com segurança as embarcações. Cada correnteza, cada banco de areia móvel era, para ele, um mapa vivo, uma partitura de águas que ele dominava com precisão e intuição

Sempre se encontrava com os mais pobres que viviam no mercado, mendigos e transeuntes que já eram fãs de suas aventuras marítimas. Sua generosidade era lendária: desde menino ajudava os desvalidos, doando o que tivesse ao primeiro que pedisse, dividindo parte de seus salários com os pedintes. Dizem os mais antigos que não havia outra generosidade igual e que Zé Peixe, mesmo com fama e respeito, jamais deixou de ser amigo dos humildes

Aos oito anos, quando aviões sofreram um acidente no Rio Sergipe, pegou seu bote, remou com coragem até o local e trouxe, firme, um bilhete do piloto para a Capitania dos Portos. O comandante o repreendeu severamente por se intrometer em assuntos de segurança nacional, mas o gesto marcou o início de sua fama entre os profissionais do mar e os curiosos da cidade, mostrando que, mesmo franzino, era forte, decidido e ágil, feito do mesmo sal que corria nas águas que o moldaram

Em 1938, com apenas 11 anos, o comandante Aldo Sá Brito de Souza, precisando de agilidade numa tarefa urgente, mandou que um marinheiro chamasse Zé Peixe. O marinheiro comentou o codinome dado pelo almirante, que logo se espalhou, consolidando para sempre o nome que o acompanharia. O almirante, embora repreendesse a presença do menino nas atividades da Capitania, às vezes o chamava quando era necessário seu conhecimento precoce das coisas do mar

Ainda menino, mas com a coragem de quem já conhecia o murmúrio das águas, Zé Peixe ajudou a Marinha em momentos de tragédia. Quando os navios Aníbal Benevólo, Bagé, Baependi e Arararaquara foram torpedeados na costa sergipana, ele participou do resgate, recolhendo corpos e auxiliando onde podia. Este serviço não se limitou a um ponto do rio ou da praia: esteve no Mosqueiro, na Atalaia Velha, em Nova e até no Pomonga, enfrentando o mar e a dor com a serenidade de quem sabe que cada vida perdida merece respeito e cuidado. Mesmo jovem, seu gesto de bravura e dedicação já prenunciava o homem que se tornaria símbolo de coragem, generosidade e amor pelo rio que o viu crescer

Ao completar 20 anos, por volta de 1947, José ingressou, por concurso, no serviço de prático da Capitania dos Portos de Sergipe. Ser prático é enfrentar o risco com mãos firmes e olhos atentos: receber navios nas águas abertas, guiá-los até o porto seguro e conduzir a saída, desafiando a barra que se levanta entre rio e mar. Mas para Zé Peixe, o trabalho tornou-se poesia em movimento. Cada navio tornava-se um parceiro de dança, cada onda lhe sussurrava segredos antigos e cada correnteza parecia obedecer ao compasso de sua experiência. Era como se o próprio rio o tivesse moldado, ensinando-lhe a escutar o murmúrio da água e a falar a língua das marés

Enquanto a maioria dos práticos subia nos barcos auxiliares, Zé Peixe seguia outro rumo, o da coragem e da entrega às águas. Na entrada ou na saída da barra do Rio Sergipe, saltava do navio, às vezes de alturas que atingiam 17 metros, como se descesse do céu ao abraço do mar, amarrava roupas e documentos à bermuda e mergulhava sem hesitar. Entregava-se às correntes, nadando com força e elegância, vencendo vento, maré e correnteza, desafiando o rio com a mesma naturalidade com que respirava. Braçada após braçada, percorria de 10 a 13 quilômetros ou mais, como se o próprio mar lhe tivesse confiado segredos ancestrais. E ele dizia, com a serenidade de quem conhecia cada onda: “A chave é seguir o rumo das águas, sem lutar contra elas.” Cada braçada, cada mergulho era lição de valentia, ritmo e harmonia com o mundo que o formou

Naqueles instantes, o rio e o mar não eram apenas elementos físicos, eram parceiros e adversários, e Zé conhecia cada recanto da barra como se conhecesse seu próprio corpo. Cada banco de areia móvel, cada variação da maré, cada sopro do vento costeiro, ele sentia e antecipava como música. Conduzia navios mercantes, de carga ou de passageiros, com a confiança de quem conversa com as águas e a precisão de quem dança ao ritmo das ondas. O rio e o mar, eternos companheiros, moldavam seus gestos, e cada manobra parecia poesia em movimento, escrita pelo corpo de Zé Peixe e pelo compasso das correntes

Zé Peixe nunca passava despercebido pelas ruas. Transeuntes admiravam sua presença serena e firme, e cada um tinha um jeito de chamá-lo: “Zé Peixe”, pelo rio que parecia correr em suas veias; “Zé”, com respeito e carinho; “homem do rio”, reconhecendo nele a alma das águas; ou mesmo “Zezinho”, sussurrado pelos mais íntimos, como quem celebra a ternura e a familiaridade de um amigo que nasceu do mar e das marés

A vida profissional de Zé Peixe reuniu feitos que beiram o lendário. Em 1952, dizem historiadores que ele salvou uma tripulação de remadores do Rio Grande do Norte após naufrágio junto à barra do Rio Sergipe, como se o próprio rio lhe tivesse emprestado braços, coragem e o segredo das águas. Além-mar, jornais e revistas se encantaram com seu modo singular de praticagem. Na Alemanha, escreveram sobre “o homem-peixe”, aquele que nadava dez quilômetros após o navio, tornando bravura e precisão quase em poesia, como se cada braçada fosse verso e cada mergulho, estrofe

Ao longo de sua trajetória, Zé Peixe recebeu condecorações que eram reflexo da alma que habitava seu corpo: a Medalha Almirante Tamandaré da Marinha do Brasil, a Medalha de Ordem do Mérito Sergipano e o título de Cidadão Sergipano do Século XX. Em 2013, o Museu da Gente Sergipana eternizou sua coragem em uma escultura em tamanho real, chamada “O Prático”, lembrança viva da lenda que caminhou, nadou e dançou com as águas, para que a nova geração jamais esqueça que existem homens feitos do rio, do mar e da poesia que corre entre eles

Mesmo com fama e reconhecimento, Zé Peixe manteve a humildade de quem conhece a força do rio e sabe que a verdadeira grandeza não se ostenta. Familiares lembram que autocarros de excursão paravam diante de sua casa para vê-lo e fotografá-lo, mas nada disso jamais perturbou sua serenidade nem desviou sua vida simples

Nos últimos anos, a memória começou a se apagar como a bruma que se levanta das águas ao amanhecer. Recolheu-se à sua casa, afastando-se dos navios que tanto amou e enfrentou silenciosamente a doença de Alzheimer

Em 26 de abril de 2012, num dia em que o sol brilhava mais do que de costume, refletindo em cada onda do Rio Sergipe, e as águas balançavam suavemente, ecoando agradecimentos silenciosos por tudo que Zé Peixe havia dado ao rio e à cidade, ele partiu. Aos 85 anos, a vida do homem-peixe se fundiu com as marés que tanto amou, como se cada correnteza o levasse para sempre em seu abraço eterno. Aracaju se fez mais quieta naquele instante, e o vento parecia sussurrar sua lenda pelas ruas, lembrando que há homens feitos de água, coragem e poesia, que jamais se despedem por completo

O governo decretou três dias de luto oficial em Sergipe, e sua história continuou a correr, lenta e firme, nas águas e na lembrança de todos que conheceram o homem que nasceu do rio, viveu pelo rio e agora se fundia com ele eternamente

Zé Peixe, filho do rio e do mar, homem que transformou seu ofício em gesto poético, fez da água mais do que um meio de vida, fez dela consagração, dança e lenda, um abraço eterno da coragem, da beleza e do mistério que corre entre as correntes. E é por isso que escolas, espaços culturais e a própria política deveriam enfatizar sua vida, lembrando às novas gerações quem foi este homem que, com serenidade e bravura silenciosa, salvou vidas, deu brilho ao rio e ao mar e levou o nome de Sergipe mais longe

Ele foi um herói diferente, brando e calmo, pacífico e generoso, cuja grandeza não se media em títulos ou fama, mas em cada braçada que atravessava correntes, em cada gesto que unia água e coragem, cidade e rio, homem e natureza. Que sua história continue a fluir como as águas que o moldaram, inspirando todos a reconhecer que o verdadeiro heroísmo também habita na gentileza, na coragem tranquila e no amor pelas próprias raízes

Zé Peixe, homem das águas, filho do rio e do vento, merecia mais do que recebeu. Seu nome deveria morar nas avenidas que guardaram seus passos, no leito do rio que embalou seus mergulhos e na ponte que une Aracaju à Barra como símbolo de coragem e entrega. Porque ele foi mais que um homem, foi correnteza mansa que salvou vidas e levou esperança. Mas o tempo, às vezes cruel, tenta esconder o brilho dos que nasceram simples e fizeram da simplicidade o seu maior dom. Ainda assim, o rio o guarda, o mar o chama pelo nome, e as marés sussurram sua história aos que sabem escutar. Pois heróis como Zé Peixe não morrem, apenas continuam nadando na memória do povo e no coração do Sergipe.

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* Emanuel Rocha é Historiador, poeta popular, escritor e Repórter fotográfico

Texto reproduzido do site: roacontece com br

sexta-feira, 7 de novembro de 2025

O melhor Atheneu é o “nosso”. Por que não?



Publicação compartilhada de post do Facebook/Lygia Prudente, de 4 de novembro de 2025

O melhor Atheneu é o “nosso”. Por que não?
Por Lygia Prudente Maynard Vieira

A riqueza de termos do que e de quem lembrar, de guardarmos profundas recordações da nossa juventude, das vivências de estudante, do Atheneu em si, é de inigualável valor. O baú completamente lotado de carinhosos momentos, que embalam agora, a nossa maturidade e o exercício que ora nos empenhamos, provocados pela chama acesa dos encontros anuais, dos papos mantidos através das redes sociais, massageiam o coração reportando-nos aos corredores daquela casa de ensino. As amizades ali formadas (muitas, fortalecidas ainda hoje), as paqueras, que alimentavam o dia a dia (umas levadas a um compromisso mais forte e geraram frutos, outras não, deixando só a lembrança) tornaram rica a vida no querido e esfuziante Atheneu. Infelizmente, estas recordações não nos despertam apenas alegrias, nos levam também a avocar aqueles colegas, amigos que já nos deixaram, com um aperto no coração, como em meu pensamento vem logo a minha amiga Gleide – partilhávamos os doces segredos e que se foi cedo ainda, há cerca de doze anos, e tantos outros. E as perdas frequentes que vivenciamos atualmente, alerta que fazemos parte do time da vez, pela idade que temos. Precisamos aproveitar mais e mais os encontros e as conversas, nos apegando ao que tivemos de bom, buscando a felicidade das relações estudantis, sem pensar na idade nem na aparência e de quanto divergem daquele frescor da juventude.  O nosso colégio está vivo, imponente e abriga os melhores dias das nossas vidas. O melhor Atheneu é o nosso, por que não? 

Texto e imagem reproduzidos do Facebook/Lygia Prudente

quinta-feira, 30 de outubro de 2025

Sergipanidade: o tamanho do que não cabe no mapa

Foto: Reprodução

Artigo compartilhado do site RADAR SERGIPE, de 24 de outubro de 2025 

Sergipanidade: o tamanho do que não cabe no mapa

Por Thaiara Silva*

Ser sergipana é carregar o ddd 79 no corpo, como quem traz o código de origem tatuado na alma. É ouvir “oxe” e sorrir, não porque é engraçado, mas porque é casa. É comer amendoim cozido em volta de uma conversa, na praia, com amigos ou em casa, repetindo sem culpa o gesto de quem saboreia o costume. É ver as ladeiras que desembocam em rio e o vento morno que vem do mar. É saber que o pequeno aqui nunca foi sinônimo de pouco.

Sergipe é território de grandes ideias em corpo miúdo. Terra de Tobias Barreto, que filosofou em alemão sem sair do Nordeste profundo. De Maria Thétis Nunes, que escreveu a história do que os livros costumam esquecer. De Felte Bezerra, que ensinou política com coragem e verbo firme. De Beatriz Nascimento, que abriu caminhos para pensar o Brasil preto, feminino e insurgente. De Silvio Romero, Hermes Fontes, Laudelino Freire, Gurmecindo Bessa, Ibarê Dantas e Luís Antônio Barreto, nomes que transformaram palavras em patrimônio. Entre os mestres do povo, há também que mantenha viva a herança dos tambores e das ruas, como mestre Saci, guardião da Maloca e da memória que dança e resiste, ensinando que a cultura não mora só nos livros, mas no corpo e na alma de quem celebra a ancestralidade.

E há também a Sergipanidade que se manifesta em sabores, paisagens e encontros. O turismo nos Cânions do São Francisco, com suas águas esculpidas em silêncio, é quase uma oração diante da natureza. Em São Cristóvão, a queijada que desmancha na boca, história temperada com tempo. Em indiaroba, a empadinha de aratu ainda quente carrega o gosto do afeto. A renda irlandesa de Divina Pastora tece a memória nas pontas dos dedos; Laranjeiras revive o sagrado com Lambe-sujos e os Caboclinhos, e o forró segue como idioma oficial das nossas emoções, afinal, somos literalmente o país do forró, como lembrava o saudoso Rogério. Se o forró é língua materna, a música de Isamar Barreto é o sotaque que traz o sentimento de quem vive em Aracaju. Versos que atravessam gerações e a embalam o pôr do sol na Treze de julho. A  Orla de Aracaju, essa moldura azul que abraça a cidade, do farol da Coroa do Meio até a passarela do caranguejo, continua sendo convite, espelho e descanso.

Nosso “sergipanes” é esse sotaque manso e irônico, é a forma de olhar o mundo com humor e simplicidade. É rir de si mesmo, oferecer café antes de qualquer conversa séria e ainda agradecer por morar num lugar onde o tempo parece respirar diferente. O sergipano é um povo que acolhe, que escuta, que sabe dar notícia boa em tom de prosa.

Ser sergipano é herdar uma coleção de mundos condensados. É ter o costume de falar baixo, mas sentir fundo. É o gesto tímido que guarda um orgulho enorme. É entender que nossa cultura não se mede em metros quadrados, ela se espalha no toque do tambor do afoxé, nas rezas do interior, nas rendeiras de bilro, nas fogueiras de junho e nas prosas de mercado.

Sergipe é um estado que se afirma em miudezas: na tapioca de beira de estrada, no café servido com conversa, no abraço demorado depois da missa, no forró que ainda se dança de rosto colado. Aqui, o tempo anda no ritmo de quem sabe que a pressa nunca fez parte da identidade.

Celebrar o Dia da Sergipanidade é reconhecer a força de um povo que insiste em existir com delicadeza. É saber que há grandeza em ser pequeno e universalidade em ser local. É olhar o mapa e entender que, embora sejamos o menor estado, o que cabe dentro das nossas fronteiras é infinito, porque é feito de memória, resistência e afeto.

E quando alguém me pergunta de onde eu sou, não respondo apenas “de Aracaju”. Digo com a firmeza de quem sabe o valor da origem: sou sergipana, de ddd 79, de alma larga e chão pequeno.

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*Thaiara Silva é jornalista, mestranda e especialista em Análise do Discurso, Semiótica e Marketing Digital.

Texto e imagem reproduzidos do site: radarse com br

terça-feira, 28 de outubro de 2025

Falecimento da advogada Aída Mascarenhas Campos



 Aída Mascarenhas Campos - Fotos reproduzidas do Google e postadas pelo blog SERGIPE..., para ilustrar a presente nota

Texto publicado originalmente no site da OAB SERGIPE, em 27 de outubro de 2025

Diretoria da OAB Sergipe lamenta o falecimento da advogada Aída Mascarenhas Campos

Por Karla Pinheiro

A Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional Sergipe (OAB/SE) manifesta profundo pesar pelo falecimento da advogada Aída Mascarenhas Campos, ocorrido nesta segunda-feira, 27 de outubro de 2025. Seu legado, marcado pela dedicação, sensibilidade e compromisso com a advocacia sergipana, permanecerá como exemplo para as futuras gerações.

Natural de Aracaju, filha de Laurindo Alves Campos e Isaura Maria Mascarenhas Campos, Aída formou-se em Direito pela Universidade Federal de Sergipe em 1983. Inscrita na OAB/SE sob o número 1.097, exerceu a advocacia com amor e ética por mais de três décadas, consolidando uma trajetória de respeito e reconhecimento.

Ao longo de sua carreira, ocupou cargos de grande relevância na OAB/SE: Conselheira Seccional, Secretária-Geral, Vice-Presidente e Presidente da Comissão de Direitos Humanos, além de integrar a Comissão Nacional de Direitos Humanos do Conselho Federal da OAB. Sua atuação foi sempre marcada pela firmeza de propósitos e pela defesa incansável dos direitos humanos e da advocacia sergipana.

Como Procuradora Autárquica do Estado de Sergipe, dedicou-se à Fundação Renascer, contribuindo com sensibilidade e competência na defesa dos adolescentes em conflito com a lei e no acompanhamento das medidas socioeducativas.

Em 2017, foi homenageada pela OAB/SE com a Medalha Sílvio Romero, durante a IX Conferência Estadual da Advocacia Sergipana — honraria concedida em reconhecimento à sua trajetória exemplar e ao compromisso com as causas mais nobres da profissão.

Em uma de suas reflexões sobre a advocacia, Aída afirmou:

“Sou advogada militante há mais de 20 anos, período em que adquiri uma grande experiência em lidar com as nuances, com as peculiaridades do intricado mundo jurídico processual. Nas minhas andanças e pelejas nesse extasiante mundo, já atuei em quase todos os polos, de todas as formas possíveis e até mesmo como autora de ação penal privada.”

Aída Campos deixa um legado de dedicação à justiça, à ética e à valorização da advocacia. Sua trajetória inspira não apenas os que com ela conviveram, mas todos os que acreditam na advocacia como instrumento de transformação social.

Em um ano simbólico, em que a OAB Sergipe celebra 90 anos de história, sua partida reforça a importância de reconhecer e preservar a memória de quem ajudou a construir esta instituição.

A Diretoria, o Conselho Seccional, a Caixa de Assistência e toda a advocacia sergipana se unem em solidariedade à família e aos amigos de Aída Mascarenhas Campos, com gratidão eterna por tudo o que representou para a OAB/SE e para a sociedade sergipana.

Danniel Alves Costa – Presidente da OAB Sergipe

Texto reproduzido do site: oabsergipe org br

segunda-feira, 27 de outubro de 2025

Advogada Aída Campos morre em Aracaju

A advogada Aída Campos enfrentava sérios problemas de saúde

Publicação compartilhada do site DESTAQUE NOTÍCIAS, de 27 de outubro de 2025

Advogada Aída Campos morre em Aracaju

A advogada Aída Campos morreu, nesta segunda-feira (27), em Aracaju. O corpo será velado no Cemitério Colina da Saudade, devendo o sepultamento ocorrer, às 16 horas de hoje, no mesmo local. Aída tinha 64 anos e enfrentava sérios problemas de saúde por conta da obesidade, quadro que se agravou após ela ter sido infectada pela Covid-19 durante a fase aguda da pandemia.

Nascida em Aracaju, Aída Mascarenhas Campos era filha do saudoso advogado Laurindo Alves Campos e de Isaura Maria Mascarenhas Campos. Formou-se em Direito pela Universidade Federal de Sergipe, em 1983, e durante anos foi uma advogada militante, tendo exercido na seccional da OAB Sergipana os cargos de conselheira, secretária geral, vice-presidente, presidente da Comissão de Direitos Humanos e membro da Comissão Nacional de Direitos Humanos do Conselho Federal da OAB. Era procuradora autárquica do estado de Sergipe.

Texto e imagem reproduzidos do site: www destaquenoticias com br

domingo, 26 de outubro de 2025

'Expressão & cultura', por Neu Fontes


Artigo compartilhado do blog NEUFONTES, outubro de 2025

Expressão & cultura
Por Neu Fontes

Olá, gente boa!

Já comentei por aqui que comecei minha vida na música aos oito anos, cantando no coral do Colégio Sagrado Coração de Jesus da minha querida professora Maria José. Eu e Lula Ribeiro éramos a primeira e a segunda voz — e, muitas vezes, os solistas das canções de Roberto Carlos, como Jesus Cristo e A Montanha, entre os cânticos das missas.

O coral era regido por Manuelzinho, então ligado ao Colégio Arquidiocesano e, mais tarde, proprietário do Colégio Dinâmico, em Aracaju. Ele era o maestro e coordenador, e sempre elogiava as vozes dos meninos do Sagrado.

Minha mãe, Susete, ouvindo nossas cantorias, resolveu comprar um violão Estudante Di Giorgio da famosa Dona Caçula — uma vendedora nata, mãe do maestro Heribaldo Prata, da Escola de Música Carlos Gomes, onde eu estudaria anos depois.

Com o violão nas mãos e a voz afinada, comecei a estudar, aos nove anos, com o professor João Argolo, no Conservatório de Música de Sergipe. Por lá, já se falava nas bandas da Jovem Guarda e nos bailinhos da época: Los Guaranys e Sol Nascente; em Boquim, Os Nômades; em Tobias Barreto, a Orquestra Cassino Royale; em Estância, Os Cometas e a Orquestra Unidos em Ritmos; em Nossa Senhora das Dores, o Embalo D; em Propriá, os Átomos; e ainda Os Comanches, Los Tropicanos, Os Vickings, Brasa 10, R-Som 7, Topkap’s, Gerusa e seus Big Loys, a Orquestra do Maestro Medeiros e The Tops.

The Tops era uma das mais comentadas. Lembro que meus tios Sérgio e Moacyr falavam sobre os integrantes, que eram seus amigos. A banda era formada por Rubinho (órgão elétrico), Pithiu (contrabaixo), Marcos (guitarra base), Marcelo Brito (guitarra solo) e Pascoal Maynard (bateria). Teve ainda a participação de Tonho Baixinho.

Confesso que devo ter assistido a uma ou duas apresentações deles na Atlética — eu ainda era muito criança para frequentar os bailinhos da cidade. Mais tarde, na Academia Carlos Gomes, o professor Heribaldo falava com carinho de todos os músicos sergipanos, e sempre dizia: “Os meninos do The Tops são bons demais”.

Essas palavras ficaram na minha cabeça. Naquele tempo, a falta de registros fonográficos e midiáticos tornava quase impossível recuperar as performances dessas bandas — tudo ficava apenas na memória dos que tiveram o privilégio de ouvi-las ao vivo.

Anos depois, conheci alguns desses músicos: Marcelo Brito, Rubinho e o próprio Pithiu, que também é um grande artista plástico. Muito tempo depois, conheci o baterista Pascoal Maynard — mas, curiosamente, por intermédio do meu pai.

Foi ele quem me apresentou ao senhor e consagrado jornalista sergipano Pascoal D’Ávila Maynard, um nome que marcou a imprensa de Sergipe. Meu pai disse:

— Pascoal, esse é meu filho, ele quer ser músico.

E o jornalista respondeu, sorrindo:

— Tenho também um doido em casa… é baterista!

Perguntei:

— É o Pascoal Maynard do The Tops?

Ele riu e confirmou.

Assim soube que o “Pascoalzinho” trabalhava em banco, lidando com seguros, mas era um apaixonado pela música e pelo jornalismo. O pai comentou:

— Quem sabe um dia ele realiza essas vontades.

E realizou.

Pascoal D’Ávila Maynard Júnior foi corretor, bancário, jornalista e um dos grandes boêmios de Aracaju. Amigo e compadre do grande Ismar Barreto, ganhou dele uma homenagem na canção Viver Aracaju, interpretada pela também comadre Amorosa: “A noite vou lá no Fans, tomar chope com Pascoal, papo vai, papo vem, fofocar não faz mal.”

Pascoal Maynard é, antes de tudo, um ativista cultural. Com o tempo, tornou-se um verdadeiro agente da cultura sergipana: jornalista, produtor, cineasta, roteirista, assessor, gestor público e, acima de tudo, um incentivador incansável das artes.

Em 2005, criou o programa Expressão, que há 20 anos dá voz e visibilidade à arte, à cultura e aos artistas de Sergipe — um marco na comunicação cultural do estado.

Foi diretor dos teatros Atheneu e Tobias Barreto, chefe de gabinete e assessor da Secretaria de Estado da Cultura, assessor da Funcaju, diretor de Cultura da Funcap, e hoje preside o Conselho Estadual de Cultura. Também integra a Academia Aracajuana de Letras e o Movimento Antônio Garcia (MAC), da Academia de Letras de Sergipe.

Pascoal também participou da criação do lendário Grupo Memória, onde voltou a tocar bateria, unindo o amor pela música à paixão pela história e pelas tradições sergipanas. E até hoje ele se apresenta, com a mesma alegria e pegada firme, levando ritmo e sorriso por onde passa.

Dizem — e com muita graça — que Pascoal foi o grande incentivador musical de Edvaldo Nogueira, ex-prefeito de Aracaju, principalmente quando o assunto são os instrumentos de percussão. Falam por aí que foi ele quem botou o ex-prefeito pra sentir o balanço da zabumba, e de vez em quando ainda dá uns “toques de ritmo” nas rodas de conversa.

Pascoalzinho, como gosto de chamá-lo, acaba de completar 75 anos. Sua história se confunde com a própria sergipanidade. Concordamos e discordamos em muitas coisas — e é assim que deve ser entre pessoas que pensam e vivem cultura. Mas o carinho, a admiração e o respeito pelo que ele representa superam qualquer divergência.

Pascoal é, literalmente, “Expressão”: o cuidado com a palavra, o abrigo do bom trato, o elogio generoso e o ouvido atento a todas as tendências artísticas.

Um amigo, um mestre, um companheiro de jornada.

Um símbolo vivo da cultura sergipana.

Leia, compartilhe e comente aqui no Blog do Neu!

Porque contar essas histórias é também manter viva a nossa memória e nossa identidade cultural

Texto e imagem reproduzidos do site: neufontes com br/expressao-cultura