SERGIPE, sua terra e sua gente.
sábado, 13 de dezembro de 2025
Deputados da Alese manifestam pesar pela morte de Dr. Deoclécio Vieira Filho
quinta-feira, 4 de dezembro de 2025
Morre a historiadora e pesquisadora Verônica Nunes
Foto: UFS/Arquivo
Publicação compartilhada do site HORA NEWS, de 1 de dezembro de 2025
Morre a historiadora e pesquisadora Verônica Nunes, referência na cultura sergipana
A historiadora, museóloga e pesquisadora Verônica Maria Meneses Nunes faleceu nesta segunda-feira, 1º, aos 73 anos. A Universidade Federal de Sergipe (UFS) confirmou a informação.
O velório ocorre nesta segunda-feira, desde às 14h30, no OSAF, situada na Rua Itaporanga, nº 436. Já o sepultamento está marcado para esta terça-feira, às 11h, no Cemitério Santa Isabel, em Aracaju.
Em nota oficial, a UFS manifestou pesar pela perda da docente, destacando sua contribuição acadêmica e cultural. A instituição apresentou solidariedade aos familiares, amigos, colegas e ex-alunos, ressaltando que o legado da professora permanece como referência para a história da universidade e para a valorização da cultura sergipana.
Trajetória acadêmica
De acordo com a UFS, Verônica marcou sua passagem pela instituição com uma atuação expressiva. Iniciou sua carreira no Departamento de História e, posteriormente, integrou o Departamento de Museologia, onde fortaleceu iniciativas de ensino, pesquisa e ações voltadas à preservação da memória e do patrimônio cultural de Sergipe.
Formada em História pela UFS em 1977, a professora também era mestre em Memória Social e Documento pela UniRIO (1993) e doutora em Arqueologia pela própria universidade. Sua produção acadêmica concentrou-se na História Cultural, com destaque para pesquisas sobre religiosidade e patrimônio cultural sergipano, campos nos quais deixou significativa contribuição.
Texto e imagem reproduzidos do site: horanews net
sexta-feira, 21 de novembro de 2025
quinta-feira, 20 de novembro de 2025
José Carlos Maynart Garcez Vieira (1943 - 2025)
Morreu, meu primo e grande amigo, JOSÉ CARLOS MAYNART GARCEZ VIEIRA (ZÉ DO CARTÓRIO), deixa esposa, Conceição e os filhos: Marcos, Max, Maysa, Márcia e Marta, sobrinhos dos já falecidos - irmãos de Zé - Henrique, Aminthas, Luiz Carlos, Júlio, Mabel, Eduardo e Paulo, filhos dos saudosos tios Aminthas e Layra.
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Zé, em uma de suas últimas fotos, quando foi homenageado, na cerimônia de inauguração da nova Casa de Apoio Anna Garcez, no último mês de outubro...
Foto da AMO - Zé, recebendo placa das mãos de Conceição Balbino.
domingo, 16 de novembro de 2025
Sergipanidade e Luiz Antonio Barreto
Artigo compartilhado do blog de SAMARONE, de 5 de novembro de 2025
Sergipanidade e Luiz Antonio Barreto.
Por Antonio Samarone*
A Prefeita Emília fez justiça, ao renomear o Centro Cultural de Aracaju em Palácio-museu Luiz Antonio Barreto.
Sem muitas dúvidas, Luiz foi o maior intelectual sergipano, na segunda metade do século XX.
Luiz Antonio Barreto é o “Senhor Sergipanidade”, um guardião da cultura sergipana, como disse recentemente o sobrinho de Zé Calazans.
Luiz Antonio, acreditava que a sergipanidade era um conceito em construção, e começou com Tobias Barreto. Foi longe!
Contudo, sergipanidade é um conceito, por enquanto, mal construído.
Luiz Antonio deixou algumas dicas:
“Sergipanidade é o conjunto de traços típicos, a manifestação que distingue a identidade dos sergipanos, tornando-o diferente dos demais brasileiros, embora preservando as raízes da história comum.”
“A sergipanidade inspira condutas e renova compromissos, na representação simbólica da relação dos sergipanos com a terra, e especialmente com a cultura, e tudo o que ela representa como mostruário da experiência e da sensibilidade.”
Os atuais entusiastas da sergipanidade não acrescentaram nada.
Quais são esses traços típicos? Nada de consistente. Havia divergências sobre o dia da sergipanidade. O dia 24 de outubro foi instituído como dia da sergipanidade. A data foi oficializada em 2019, pela Lei nº 8.601, para celebrar o conjunto de traços culturais e o orgulho do povo sergipano.
“Alegrai-vos sergipanos, ressurge a mais bela aurora./ Com cânticos doces/ Vamos festejar, festejar, festejar...” Hino de Sergipe.
O Governador Marcelo Déda foi um entusiasta da sergipanidade.
Déda encomendou uma História do Povo de Sergipe, ao intelectual baiano Antonio Risério. O livro, não sei as razões, foi recolhido.
A comunicóloga e ex-secretária de Estado da Comunicação e da Cultura durante a gestão do governador Marcelo Déda (PT), Eloísa Galdino, destacou que, ao longo da gestão, parte do projeto e da missão era elevar a autoestima do povo sergipano, através do resgate de símbolos, datas, patrimônios. Mangue jornalismo (05/072023).
O jornal enxerga a criação do conceito de sergipanidade, a uma ação vinculada ao marketing governamental e aos intelectuais criadores da política cultural de Sergipe.
Parece que avançamos: sem muita convicção, a sergipanidade passou a interessar a acanhada política pública de turismo.
Luiz Antonio Barreto deixou uma ideia em construção.
Continuamos patinando.
Ao ser perguntado, um doutor da UFS, deu uma resposta evasiva: “A sergipanidade se manifesta no falar, no comer, no rezar e no viver cotidiano de cada sergipano. É um sentimento que não se vê, não se explica, mas se sente.”
Ou seja, a gente sente, mas não sabe o que é!
Luiz Antonio conhecia o pensamento de Gilberto Freire, que liderou a criação cultural do Nordeste, com o seu Manifesto Regionalista de 1936.
O Nordeste é uma realidade inventada pela literatura, música, movimentos messiânicos, cangaço, cordel, teatro, religião.
No início do século XX, não existia o Nordestino, como singularidade cultural.
Darcy Ribeiro teorizou sobre a criação do brasileiro, Gilberto Freire pensou o nordestino, Luiz Antonio teve a ideia de criar culturalmente o sergipano. Ele sabia muito, e sonhou com a sergipanidade.
Deixou a tarefa: o que o sergipano tem que não é comum aos demais brasileiros e mais, especificamente, que não é comum aos demais nordestinos.
O que torna o sergipano culturalmente original?
Cultura vista como a dimensão simbólica da existência humana.
Marcelo Déda acreditava que o conceito de sergipanidade aumentaria a nossa auto-estima, aliás, que continua baixa.
O dia da sergipanidade é comemorado pelo Poder Público com músicas, danças e bandas baianas.
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* Antonio Samarone – Secretário de Cultura de Itabaiana.
Texto e imagem reproduzidos do blogdesamarone blogspot com
segunda-feira, 10 de novembro de 2025
Zé Peixe, o herói das marés sergipanas
Artigo compartilhado do site ROACONTECE, de 26 de outubro de 2025
O Peixe Homem das Águas de Sergipe, Nadando Entre Sonhos e Memórias
Por Emanuel Rocha*
Nas águas sergipanas, o homem-peixe deixou sua marca de luz, coragem e lembranças que desafiam o tempo
Na Semana da Sergipanidade, nada melhor que recordar a história de um homem que fez das águas o próprio lar e da coragem a sua bandeira. Zé Peixe, o herói das marés sergipanas, nadava entre o real e o lendário, desafiando ondas, correntes e distâncias com a leveza de quem nasceu para servir. Filho do rio e do vento, tornou-se símbolo de bravura e simplicidade, um nome que atravessou o tempo carregando a essência do povo de Sergipe: forte, destemido e profundamente ligado à terra e ao mar.
Nas margens do Rio Sergipe, nasceu um menino que parecia feito do próprio mar. Cada onda lhe sussurrava segredos, cada correnteza guiava seus passos, e cada mergulho se tornava uma lição de coragem. Chamaram-no Zé Peixe, filho das águas e guardião das marés, que desde cedo aprendeu que a vida se mede em braçadas e que a verdadeira grandeza se revela na harmonia entre o homem e o rio que o viu crescer
Em 1927, Aracaju respirava ao ritmo do Rio Sergipe. As águas refletiam o céu e carregavam histórias antigas, enquanto o vento trazia o cheiro do mar e o murmúrio das marés embalava a cidade. As ruas ainda eram de barro, as casas baixas, e o cotidiano se desenrolava entre mercados, barcos e redes estendidas ao sol. O rio corria livre, invadia cais e margens e parecia guardar segredos que só quem nascia à sua beira podia ouvir
Filho de Dona Vectúria, professora de matemática, e de Seu Nicanor Ribeiro Nunes , funcionário público, José Martins Ribeiro Nunes, o futuro Zé Peixe, era o terceiro de seis irmãos, cercado pelo riso e pelo burburinho da casa familiar. Entre o sol que brilhava sobre a água e o reflexo das nuvens correndo pela correnteza, ele aprendeu cedo a escutar o rio. Cada onda trazia uma lição, cada maré um segredo e cada barco, um convite ao sonho. Assim, de mãos pequenas e pés molhados, crescia Zé Peixe, menino do rio, alma moldada pela água, pela brisa e pelo infinito movimento das correntes que passavam diante de sua casa
Zezinho iniciou seus estudos no Jardim de Infância Augusto Maynard, fez o primário no colégio de Dona Glorianha Chaves, cursou o ginásio no Colégio Jackson de Figueiredo e concluiu o segundo grau no Colégio Tobias Barreto. Entre lições de livros e ensinamentos do rio, aprendia o equilíbrio entre conhecimento e coragem, entre o mundo escolar e o mundo das águas
Aos quatro anos, o menino que se tornaria Peixe já nadava como poucos. Bastava atravessar a rua Ivo do Prado e pular, onde o peixe se tornava mar. Acostumou-se a atravessar rios e canais, ir chupar caju no outro lado, na ilha, voltando indo e voltando a nado.
Nunca foi fácil entrar via marítima por nenhum dos extremos da ilha, mas para Zé Peixe isso não era problema. Com doze anos, conhecia como ninguém o movimento das areias no leito do Rio Sergipe, podendo conduzir com segurança as embarcações. Cada correnteza, cada banco de areia móvel era, para ele, um mapa vivo, uma partitura de águas que ele dominava com precisão e intuição
Sempre se encontrava com os mais pobres que viviam no mercado, mendigos e transeuntes que já eram fãs de suas aventuras marítimas. Sua generosidade era lendária: desde menino ajudava os desvalidos, doando o que tivesse ao primeiro que pedisse, dividindo parte de seus salários com os pedintes. Dizem os mais antigos que não havia outra generosidade igual e que Zé Peixe, mesmo com fama e respeito, jamais deixou de ser amigo dos humildes
Aos oito anos, quando aviões sofreram um acidente no Rio Sergipe, pegou seu bote, remou com coragem até o local e trouxe, firme, um bilhete do piloto para a Capitania dos Portos. O comandante o repreendeu severamente por se intrometer em assuntos de segurança nacional, mas o gesto marcou o início de sua fama entre os profissionais do mar e os curiosos da cidade, mostrando que, mesmo franzino, era forte, decidido e ágil, feito do mesmo sal que corria nas águas que o moldaram
Em 1938, com apenas 11 anos, o comandante Aldo Sá Brito de Souza, precisando de agilidade numa tarefa urgente, mandou que um marinheiro chamasse Zé Peixe. O marinheiro comentou o codinome dado pelo almirante, que logo se espalhou, consolidando para sempre o nome que o acompanharia. O almirante, embora repreendesse a presença do menino nas atividades da Capitania, às vezes o chamava quando era necessário seu conhecimento precoce das coisas do mar
Ainda menino, mas com a coragem de quem já conhecia o murmúrio das águas, Zé Peixe ajudou a Marinha em momentos de tragédia. Quando os navios Aníbal Benevólo, Bagé, Baependi e Arararaquara foram torpedeados na costa sergipana, ele participou do resgate, recolhendo corpos e auxiliando onde podia. Este serviço não se limitou a um ponto do rio ou da praia: esteve no Mosqueiro, na Atalaia Velha, em Nova e até no Pomonga, enfrentando o mar e a dor com a serenidade de quem sabe que cada vida perdida merece respeito e cuidado. Mesmo jovem, seu gesto de bravura e dedicação já prenunciava o homem que se tornaria símbolo de coragem, generosidade e amor pelo rio que o viu crescer
Ao completar 20 anos, por volta de 1947, José ingressou, por concurso, no serviço de prático da Capitania dos Portos de Sergipe. Ser prático é enfrentar o risco com mãos firmes e olhos atentos: receber navios nas águas abertas, guiá-los até o porto seguro e conduzir a saída, desafiando a barra que se levanta entre rio e mar. Mas para Zé Peixe, o trabalho tornou-se poesia em movimento. Cada navio tornava-se um parceiro de dança, cada onda lhe sussurrava segredos antigos e cada correnteza parecia obedecer ao compasso de sua experiência. Era como se o próprio rio o tivesse moldado, ensinando-lhe a escutar o murmúrio da água e a falar a língua das marés
Enquanto a maioria dos práticos subia nos barcos auxiliares, Zé Peixe seguia outro rumo, o da coragem e da entrega às águas. Na entrada ou na saída da barra do Rio Sergipe, saltava do navio, às vezes de alturas que atingiam 17 metros, como se descesse do céu ao abraço do mar, amarrava roupas e documentos à bermuda e mergulhava sem hesitar. Entregava-se às correntes, nadando com força e elegância, vencendo vento, maré e correnteza, desafiando o rio com a mesma naturalidade com que respirava. Braçada após braçada, percorria de 10 a 13 quilômetros ou mais, como se o próprio mar lhe tivesse confiado segredos ancestrais. E ele dizia, com a serenidade de quem conhecia cada onda: “A chave é seguir o rumo das águas, sem lutar contra elas.” Cada braçada, cada mergulho era lição de valentia, ritmo e harmonia com o mundo que o formou
Naqueles instantes, o rio e o mar não eram apenas elementos físicos, eram parceiros e adversários, e Zé conhecia cada recanto da barra como se conhecesse seu próprio corpo. Cada banco de areia móvel, cada variação da maré, cada sopro do vento costeiro, ele sentia e antecipava como música. Conduzia navios mercantes, de carga ou de passageiros, com a confiança de quem conversa com as águas e a precisão de quem dança ao ritmo das ondas. O rio e o mar, eternos companheiros, moldavam seus gestos, e cada manobra parecia poesia em movimento, escrita pelo corpo de Zé Peixe e pelo compasso das correntes
Zé Peixe nunca passava despercebido pelas ruas. Transeuntes admiravam sua presença serena e firme, e cada um tinha um jeito de chamá-lo: “Zé Peixe”, pelo rio que parecia correr em suas veias; “Zé”, com respeito e carinho; “homem do rio”, reconhecendo nele a alma das águas; ou mesmo “Zezinho”, sussurrado pelos mais íntimos, como quem celebra a ternura e a familiaridade de um amigo que nasceu do mar e das marés
A vida profissional de Zé Peixe reuniu feitos que beiram o lendário. Em 1952, dizem historiadores que ele salvou uma tripulação de remadores do Rio Grande do Norte após naufrágio junto à barra do Rio Sergipe, como se o próprio rio lhe tivesse emprestado braços, coragem e o segredo das águas. Além-mar, jornais e revistas se encantaram com seu modo singular de praticagem. Na Alemanha, escreveram sobre “o homem-peixe”, aquele que nadava dez quilômetros após o navio, tornando bravura e precisão quase em poesia, como se cada braçada fosse verso e cada mergulho, estrofe
Ao longo de sua trajetória, Zé Peixe recebeu condecorações que eram reflexo da alma que habitava seu corpo: a Medalha Almirante Tamandaré da Marinha do Brasil, a Medalha de Ordem do Mérito Sergipano e o título de Cidadão Sergipano do Século XX. Em 2013, o Museu da Gente Sergipana eternizou sua coragem em uma escultura em tamanho real, chamada “O Prático”, lembrança viva da lenda que caminhou, nadou e dançou com as águas, para que a nova geração jamais esqueça que existem homens feitos do rio, do mar e da poesia que corre entre eles
Mesmo com fama e reconhecimento, Zé Peixe manteve a humildade de quem conhece a força do rio e sabe que a verdadeira grandeza não se ostenta. Familiares lembram que autocarros de excursão paravam diante de sua casa para vê-lo e fotografá-lo, mas nada disso jamais perturbou sua serenidade nem desviou sua vida simples
Nos últimos anos, a memória começou a se apagar como a bruma que se levanta das águas ao amanhecer. Recolheu-se à sua casa, afastando-se dos navios que tanto amou e enfrentou silenciosamente a doença de Alzheimer
Em 26 de abril de 2012, num dia em que o sol brilhava mais do que de costume, refletindo em cada onda do Rio Sergipe, e as águas balançavam suavemente, ecoando agradecimentos silenciosos por tudo que Zé Peixe havia dado ao rio e à cidade, ele partiu. Aos 85 anos, a vida do homem-peixe se fundiu com as marés que tanto amou, como se cada correnteza o levasse para sempre em seu abraço eterno. Aracaju se fez mais quieta naquele instante, e o vento parecia sussurrar sua lenda pelas ruas, lembrando que há homens feitos de água, coragem e poesia, que jamais se despedem por completo
O governo decretou três dias de luto oficial em Sergipe, e sua história continuou a correr, lenta e firme, nas águas e na lembrança de todos que conheceram o homem que nasceu do rio, viveu pelo rio e agora se fundia com ele eternamente
Zé Peixe, filho do rio e do mar, homem que transformou seu ofício em gesto poético, fez da água mais do que um meio de vida, fez dela consagração, dança e lenda, um abraço eterno da coragem, da beleza e do mistério que corre entre as correntes. E é por isso que escolas, espaços culturais e a própria política deveriam enfatizar sua vida, lembrando às novas gerações quem foi este homem que, com serenidade e bravura silenciosa, salvou vidas, deu brilho ao rio e ao mar e levou o nome de Sergipe mais longe
Ele foi um herói diferente, brando e calmo, pacífico e generoso, cuja grandeza não se media em títulos ou fama, mas em cada braçada que atravessava correntes, em cada gesto que unia água e coragem, cidade e rio, homem e natureza. Que sua história continue a fluir como as águas que o moldaram, inspirando todos a reconhecer que o verdadeiro heroísmo também habita na gentileza, na coragem tranquila e no amor pelas próprias raízes
Zé Peixe, homem das águas, filho do rio e do vento, merecia mais do que recebeu. Seu nome deveria morar nas avenidas que guardaram seus passos, no leito do rio que embalou seus mergulhos e na ponte que une Aracaju à Barra como símbolo de coragem e entrega. Porque ele foi mais que um homem, foi correnteza mansa que salvou vidas e levou esperança. Mas o tempo, às vezes cruel, tenta esconder o brilho dos que nasceram simples e fizeram da simplicidade o seu maior dom. Ainda assim, o rio o guarda, o mar o chama pelo nome, e as marés sussurram sua história aos que sabem escutar. Pois heróis como Zé Peixe não morrem, apenas continuam nadando na memória do povo e no coração do Sergipe.
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* Emanuel Rocha é Historiador, poeta popular, escritor e Repórter fotográfico
Texto reproduzido do site: roacontece com br
sexta-feira, 7 de novembro de 2025
O melhor Atheneu é o “nosso”. Por que não?
Publicação compartilhada de post do Facebook/Lygia Prudente, de 4 de novembro de 2025
O melhor Atheneu é o “nosso”. Por que não?
Por Lygia Prudente Maynard Vieira
A riqueza de termos do que e de quem lembrar, de guardarmos profundas recordações da nossa juventude, das vivências de estudante, do Atheneu em si, é de inigualável valor. O baú completamente lotado de carinhosos momentos, que embalam agora, a nossa maturidade e o exercício que ora nos empenhamos, provocados pela chama acesa dos encontros anuais, dos papos mantidos através das redes sociais, massageiam o coração reportando-nos aos corredores daquela casa de ensino. As amizades ali formadas (muitas, fortalecidas ainda hoje), as paqueras, que alimentavam o dia a dia (umas levadas a um compromisso mais forte e geraram frutos, outras não, deixando só a lembrança) tornaram rica a vida no querido e esfuziante Atheneu. Infelizmente, estas recordações não nos despertam apenas alegrias, nos levam também a avocar aqueles colegas, amigos que já nos deixaram, com um aperto no coração, como em meu pensamento vem logo a minha amiga Gleide – partilhávamos os doces segredos e que se foi cedo ainda, há cerca de doze anos, e tantos outros. E as perdas frequentes que vivenciamos atualmente, alerta que fazemos parte do time da vez, pela idade que temos. Precisamos aproveitar mais e mais os encontros e as conversas, nos apegando ao que tivemos de bom, buscando a felicidade das relações estudantis, sem pensar na idade nem na aparência e de quanto divergem daquele frescor da juventude. O nosso colégio está vivo, imponente e abriga os melhores dias das nossas vidas. O melhor Atheneu é o nosso, por que não?
Texto e imagem reproduzidos do Facebook/Lygia Prudente
quinta-feira, 30 de outubro de 2025
Sergipanidade: o tamanho do que não cabe no mapa
Foto: Reprodução
Artigo compartilhado do site RADAR SERGIPE, de 24 de outubro de 2025
Sergipanidade: o tamanho do que não cabe no mapa
Por Thaiara Silva*
Ser sergipana é carregar o ddd 79 no corpo, como quem traz o código de origem tatuado na alma. É ouvir “oxe” e sorrir, não porque é engraçado, mas porque é casa. É comer amendoim cozido em volta de uma conversa, na praia, com amigos ou em casa, repetindo sem culpa o gesto de quem saboreia o costume. É ver as ladeiras que desembocam em rio e o vento morno que vem do mar. É saber que o pequeno aqui nunca foi sinônimo de pouco.
Sergipe é território de grandes ideias em corpo miúdo. Terra de Tobias Barreto, que filosofou em alemão sem sair do Nordeste profundo. De Maria Thétis Nunes, que escreveu a história do que os livros costumam esquecer. De Felte Bezerra, que ensinou política com coragem e verbo firme. De Beatriz Nascimento, que abriu caminhos para pensar o Brasil preto, feminino e insurgente. De Silvio Romero, Hermes Fontes, Laudelino Freire, Gurmecindo Bessa, Ibarê Dantas e Luís Antônio Barreto, nomes que transformaram palavras em patrimônio. Entre os mestres do povo, há também que mantenha viva a herança dos tambores e das ruas, como mestre Saci, guardião da Maloca e da memória que dança e resiste, ensinando que a cultura não mora só nos livros, mas no corpo e na alma de quem celebra a ancestralidade.
E há também a Sergipanidade que se manifesta em sabores, paisagens e encontros. O turismo nos Cânions do São Francisco, com suas águas esculpidas em silêncio, é quase uma oração diante da natureza. Em São Cristóvão, a queijada que desmancha na boca, história temperada com tempo. Em indiaroba, a empadinha de aratu ainda quente carrega o gosto do afeto. A renda irlandesa de Divina Pastora tece a memória nas pontas dos dedos; Laranjeiras revive o sagrado com Lambe-sujos e os Caboclinhos, e o forró segue como idioma oficial das nossas emoções, afinal, somos literalmente o país do forró, como lembrava o saudoso Rogério. Se o forró é língua materna, a música de Isamar Barreto é o sotaque que traz o sentimento de quem vive em Aracaju. Versos que atravessam gerações e a embalam o pôr do sol na Treze de julho. A Orla de Aracaju, essa moldura azul que abraça a cidade, do farol da Coroa do Meio até a passarela do caranguejo, continua sendo convite, espelho e descanso.
Nosso “sergipanes” é esse sotaque manso e irônico, é a forma de olhar o mundo com humor e simplicidade. É rir de si mesmo, oferecer café antes de qualquer conversa séria e ainda agradecer por morar num lugar onde o tempo parece respirar diferente. O sergipano é um povo que acolhe, que escuta, que sabe dar notícia boa em tom de prosa.
Ser sergipano é herdar uma coleção de mundos condensados. É ter o costume de falar baixo, mas sentir fundo. É o gesto tímido que guarda um orgulho enorme. É entender que nossa cultura não se mede em metros quadrados, ela se espalha no toque do tambor do afoxé, nas rezas do interior, nas rendeiras de bilro, nas fogueiras de junho e nas prosas de mercado.
Sergipe é um estado que se afirma em miudezas: na tapioca de beira de estrada, no café servido com conversa, no abraço demorado depois da missa, no forró que ainda se dança de rosto colado. Aqui, o tempo anda no ritmo de quem sabe que a pressa nunca fez parte da identidade.
Celebrar o Dia da Sergipanidade é reconhecer a força de um povo que insiste em existir com delicadeza. É saber que há grandeza em ser pequeno e universalidade em ser local. É olhar o mapa e entender que, embora sejamos o menor estado, o que cabe dentro das nossas fronteiras é infinito, porque é feito de memória, resistência e afeto.
E quando alguém me pergunta de onde eu sou, não respondo apenas “de Aracaju”. Digo com a firmeza de quem sabe o valor da origem: sou sergipana, de ddd 79, de alma larga e chão pequeno.
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*Thaiara Silva é jornalista, mestranda e especialista em Análise do Discurso, Semiótica e Marketing Digital.
Texto e imagem reproduzidos do site: radarse com br
terça-feira, 28 de outubro de 2025
Falecimento da advogada Aída Mascarenhas Campos
segunda-feira, 27 de outubro de 2025
Advogada Aída Campos morre em Aracaju
Publicação compartilhada do site DESTAQUE NOTÍCIAS, de 27 de outubro de 2025
Advogada Aída Campos morre em Aracaju
A advogada Aída Campos morreu, nesta segunda-feira (27), em Aracaju. O corpo será velado no Cemitério Colina da Saudade, devendo o sepultamento ocorrer, às 16 horas de hoje, no mesmo local. Aída tinha 64 anos e enfrentava sérios problemas de saúde por conta da obesidade, quadro que se agravou após ela ter sido infectada pela Covid-19 durante a fase aguda da pandemia.
Nascida em Aracaju, Aída Mascarenhas Campos era filha do saudoso advogado Laurindo Alves Campos e de Isaura Maria Mascarenhas Campos. Formou-se em Direito pela Universidade Federal de Sergipe, em 1983, e durante anos foi uma advogada militante, tendo exercido na seccional da OAB Sergipana os cargos de conselheira, secretária geral, vice-presidente, presidente da Comissão de Direitos Humanos e membro da Comissão Nacional de Direitos Humanos do Conselho Federal da OAB. Era procuradora autárquica do estado de Sergipe.
Texto e imagem reproduzidos do site: www destaquenoticias com br
domingo, 26 de outubro de 2025
'Expressão & cultura', por Neu Fontes
Expressão & cultura
Por Neu Fontes
Olá, gente boa!
Já comentei por aqui que comecei minha vida na música aos oito anos, cantando no coral do Colégio Sagrado Coração de Jesus da minha querida professora Maria José. Eu e Lula Ribeiro éramos a primeira e a segunda voz — e, muitas vezes, os solistas das canções de Roberto Carlos, como Jesus Cristo e A Montanha, entre os cânticos das missas.
O coral era regido por Manuelzinho, então ligado ao Colégio Arquidiocesano e, mais tarde, proprietário do Colégio Dinâmico, em Aracaju. Ele era o maestro e coordenador, e sempre elogiava as vozes dos meninos do Sagrado.
Minha mãe, Susete, ouvindo nossas cantorias, resolveu comprar um violão Estudante Di Giorgio da famosa Dona Caçula — uma vendedora nata, mãe do maestro Heribaldo Prata, da Escola de Música Carlos Gomes, onde eu estudaria anos depois.
Com o violão nas mãos e a voz afinada, comecei a estudar, aos nove anos, com o professor João Argolo, no Conservatório de Música de Sergipe. Por lá, já se falava nas bandas da Jovem Guarda e nos bailinhos da época: Los Guaranys e Sol Nascente; em Boquim, Os Nômades; em Tobias Barreto, a Orquestra Cassino Royale; em Estância, Os Cometas e a Orquestra Unidos em Ritmos; em Nossa Senhora das Dores, o Embalo D; em Propriá, os Átomos; e ainda Os Comanches, Los Tropicanos, Os Vickings, Brasa 10, R-Som 7, Topkap’s, Gerusa e seus Big Loys, a Orquestra do Maestro Medeiros e The Tops.
The Tops era uma das mais comentadas. Lembro que meus tios Sérgio e Moacyr falavam sobre os integrantes, que eram seus amigos. A banda era formada por Rubinho (órgão elétrico), Pithiu (contrabaixo), Marcos (guitarra base), Marcelo Brito (guitarra solo) e Pascoal Maynard (bateria). Teve ainda a participação de Tonho Baixinho.
Confesso que devo ter assistido a uma ou duas apresentações deles na Atlética — eu ainda era muito criança para frequentar os bailinhos da cidade. Mais tarde, na Academia Carlos Gomes, o professor Heribaldo falava com carinho de todos os músicos sergipanos, e sempre dizia: “Os meninos do The Tops são bons demais”.
Essas palavras ficaram na minha cabeça. Naquele tempo, a falta de registros fonográficos e midiáticos tornava quase impossível recuperar as performances dessas bandas — tudo ficava apenas na memória dos que tiveram o privilégio de ouvi-las ao vivo.
Anos depois, conheci alguns desses músicos: Marcelo Brito, Rubinho e o próprio Pithiu, que também é um grande artista plástico. Muito tempo depois, conheci o baterista Pascoal Maynard — mas, curiosamente, por intermédio do meu pai.
Foi ele quem me apresentou ao senhor e consagrado jornalista sergipano Pascoal D’Ávila Maynard, um nome que marcou a imprensa de Sergipe. Meu pai disse:
— Pascoal, esse é meu filho, ele quer ser músico.
E o jornalista respondeu, sorrindo:
— Tenho também um doido em casa… é baterista!
Perguntei:
— É o Pascoal Maynard do The Tops?
Ele riu e confirmou.
Assim soube que o “Pascoalzinho” trabalhava em banco, lidando com seguros, mas era um apaixonado pela música e pelo jornalismo. O pai comentou:
— Quem sabe um dia ele realiza essas vontades.
E realizou.
Pascoal D’Ávila Maynard Júnior foi corretor, bancário, jornalista e um dos grandes boêmios de Aracaju. Amigo e compadre do grande Ismar Barreto, ganhou dele uma homenagem na canção Viver Aracaju, interpretada pela também comadre Amorosa: “A noite vou lá no Fans, tomar chope com Pascoal, papo vai, papo vem, fofocar não faz mal.”
Pascoal Maynard é, antes de tudo, um ativista cultural. Com o tempo, tornou-se um verdadeiro agente da cultura sergipana: jornalista, produtor, cineasta, roteirista, assessor, gestor público e, acima de tudo, um incentivador incansável das artes.
Em 2005, criou o programa Expressão, que há 20 anos dá voz e visibilidade à arte, à cultura e aos artistas de Sergipe — um marco na comunicação cultural do estado.
Foi diretor dos teatros Atheneu e Tobias Barreto, chefe de gabinete e assessor da Secretaria de Estado da Cultura, assessor da Funcaju, diretor de Cultura da Funcap, e hoje preside o Conselho Estadual de Cultura. Também integra a Academia Aracajuana de Letras e o Movimento Antônio Garcia (MAC), da Academia de Letras de Sergipe.
Pascoal também participou da criação do lendário Grupo Memória, onde voltou a tocar bateria, unindo o amor pela música à paixão pela história e pelas tradições sergipanas. E até hoje ele se apresenta, com a mesma alegria e pegada firme, levando ritmo e sorriso por onde passa.
Dizem — e com muita graça — que Pascoal foi o grande incentivador musical de Edvaldo Nogueira, ex-prefeito de Aracaju, principalmente quando o assunto são os instrumentos de percussão. Falam por aí que foi ele quem botou o ex-prefeito pra sentir o balanço da zabumba, e de vez em quando ainda dá uns “toques de ritmo” nas rodas de conversa.
Pascoalzinho, como gosto de chamá-lo, acaba de completar 75 anos. Sua história se confunde com a própria sergipanidade. Concordamos e discordamos em muitas coisas — e é assim que deve ser entre pessoas que pensam e vivem cultura. Mas o carinho, a admiração e o respeito pelo que ele representa superam qualquer divergência.
Pascoal é, literalmente, “Expressão”: o cuidado com a palavra, o abrigo do bom trato, o elogio generoso e o ouvido atento a todas as tendências artísticas.
Um amigo, um mestre, um companheiro de jornada.
Um símbolo vivo da cultura sergipana.
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Porque contar essas histórias é também manter viva a nossa memória e nossa identidade cultural
Texto e imagem reproduzidos do site: neufontes com br/expressao-cultura


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