terça-feira, 30 de abril de 2024

Maria Feliciana: uma história de vida comovente



Créditos das fotos: 1 e 2 de César Cabral e 3 de Leonardo Barreto.

Publicação compartilhada do site RADAR SERGIPE, de 29 de abril de 2024

Maria Feliciana: uma história de vida comovente.

Faleceu no último sábado (27) e foi sepultada ontem, domingo (28), a sergipana Maria Feliciana, considerada como uma das das mulheres mais altas do mundo.

Do alto dos seus 2,25 metros de altura, Maria Feliciana ficou conhecida nacionalmente e até fora do país pela curiosidade das pessoas que queriam vê-la de perto e comprovar o seu singular tamanho. Por isso, durante muitos anos, nas décadas de 60/70/80, ela passou a integrar as caravanas de vários artistas sergipanos que percorriam o nordeste para apresentações em circos e espaços públicos, pois a sua fama de mulher mais alta do Brasil despertava a curiosidade do público. Josa, o Vaqueiro do Sertão, e as duplas Ozano e Ozanito e Adalto e Adailton tiveram, durante muito tempo, a companhia de Maria Feliciana como uma atração a mais nos seus shows.

No final da década de 60, a popularidade de Maria Feliciana era tanta que terminou por, popularmente, dar o seu nome ao Edifício Estado de Sergipe, construído pelo então governador Lourival Baptista, no centro comercial de Aracaju. Dotado de 29 andares, na época foi considerado o maior prédio do nordeste brasileiro, daí o "apelido" de Maria Feliciana, como é até hoje chamado pelos sergipanos.

Nos últimos anos, Maria Feliciana vinha enfrentando problemas de saúde e, com poucos recursos financeiros, tinha dificuldades para adquirir medicamenos e até mesmo gêneros alimentícios. Por esse motivo, alguns amigos, a exemplo do professor Lula, constantemente organizavam bingos filantrópicos para suprir tais necessidades.

Ela estava internada em um hospital particular da capital sergipana, onde foi diagnosticada com pneumonia, e faleceu em decorrência de complicações cardíacas. O seu sepultamento ocorreu ontem, domingo (28), no Cemitério da Cruz Vermelha, em Aracaju.

No dia 25 de maio de 2019, o jornalista César Cabral entrevistou Maria Feliciana e contou um pouco da sua história na secção "Por Onde Anda Você", do RADAR SERGIPE. 

Em homenagem póstuma, a matéria está aqui reproduzida. Vá em paz, Maria Feliciana, pessoa simples que elevou o nome de Sergipe e orgulhou os sergipanos.

* 27/05/1946   + 27/04/2024

Onde Anda Você, Maria Feliciana

Maria Feliciana dos Santos, nasceu no dia 27 de maio de 1946, em Amparo do São Francisco (SE). Filha única de Antônio Quintino dos Santos e Maria Rodrigues dos Santos teve uma infância igual a tantas outras crianças carentes nascidas às margens do Velho Chico.

Maria Feliciana

Entretanto, ao atingir a adolescência, começou a chamar a atenção dos moradores do lugar pela avantajada altura que lhe diferenciava de todas as mocinhas da sua idade. Foi por esse motivo que, aos 16 anos, foi levada para Aracaju por um amigo da família que lhe apresentou a “Josa, O Vaqueiro do Sertão”, cantor e apresentador do programa Festa Na Casa Grande, pela Rádio Difusora de Sergipe, atual Rádio Aperipê. Josa fazia muitos shows em cinemas e circos pelas cidades do interior de Sergipe, Bahia e Alagoas e Maria Feliciana, com uma altura incomum (2,25m) certamente seria uma atração a mais, nos shows do sanfoneiro.

Dito e feito. Maria Feliciana passou a residir em Aracaju, sob os cuidados de Josa e da esposa D. Valdice, que a tratavam como uma pessoa da família. Durante 10 anos, a partir de 1962, Maria Feliciana passou a ser uma das atrações dos shows de Josa, o Vaqueiro do Sertão. Juntos, viajaram pelo sertão nordestino e a sua fama de mulher mais alta do mundo chegou ao sul do país.

Levados por Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, Josa e Maria Feliciana foram para o Rio de Janeiro onde ficaram por dois meses e participaram de vários programas de rádio e televisão. No Programa do Chacrinha recebeu o título de Mulher Mais Alta do Mundo e ganhou a faixa de “Rainha das Alturas”. Isso fez com que Luiz Gonzaga lhe desse uma coroa para fazer jus à faixa recebida.

No Rio de Janeiro, Maria Feliciana foi recebida pelo governador Negrão de Lima, no Palácio das Laranjeiras, que lhe presenteou com o pagamento de hospedagem, por um mês, em um hotel da cidade maravilhosa.

De volta a Aracaju, continuou a morar na residência de Josa e com ele voltou a fazer apresentações pelos estados de Sergipe, Bahia, Alagoas, Piauí, Goiás e Minas Gerais. A sua presença nos shows do sanfoneiro era um atrativo a mais, pois, a curiosidade do povo em conhece-la, aumentava a arrecadação da bilheteria.

Casou-se em 1973, então com 27 aos, com Assuíres José dos Santos com quem teve três filhos: Charles, Shirley e Cleverton além dos cinco netos e um bisneto. Ao casar, deixou de viajar com Josa, O Vaqueiro do Sertão, pois como teria que ir acompanhada do marido e Josa levava zabumbeiro e triangueiro, não havia espaço para todos, num só veículo.

Passou, então, a viajar com a dupla Ozano e Ozanito. Novamente 10 anos de convivência profissional. A dupla, afinadíssima, tinha programa na Rádio Atalaia AM e era sucesso de público por onde passava. Maria Feliciana ajudou, ainda mais, no sucesso dos violeiros. Ozanito lembra que todos viajavam num fusca e, mesmo assim, Maria Feliciana conseguia acomodar as suas longas pernas dentro do acanhado veículo.

Por fim, Maria Feliciana passou a viajar com a dupla Adalto e Adailton e o sanfoneiro Lourinho do Acordeão. Novamente 10 anos de estrada até quando decidiu não mais viajar, após completar 47 anos.

Maria Feliciana, recebeu do povo a melhor das homenagens, pois, espontaneamente, a população passou a denominar com o seu nome, o Edifício Estado de Sergipe, o maior até agora construído em Aracaju.

Pobre e com dificuldades financeiras, Maria Feliciana está há 15 anos numa cadeira de rodas e quase não sai de casa devido à dificuldade de locomoção. Recebe uma pensão de R$ 1.200,00 dada pelo então governador Albano Franco, cujo recurso serve para comprar medicamentos e pagar pequenas despesas da residência.

Maria Feliciana mora na casa número 282, da rua São Jorge, no Bairro Santos Dumont, em Aracaju. O imóvel é próprio e foi adquirido e doado pelo BANESE.

Texto e imagens reproduzidos do site: radarse com br 

quarta-feira, 17 de abril de 2024

Pedro Raimundo Dos Santos (1947 - 2024)

Post compartilhado do perfil do Facebook/Yara Belchior, de 16 de abril de 2024

"COLUNA YARA BELCHIOR - SAÚDE E PAZ!!! // PASSOU PARA O PLANO ESPIRITUAL O GRANDE PROFISSIONAL DA COMUNICAÇÃO, EMPRESÁRIO, RADIALISTA E RÁDIO AMADOR DAS ANTIGAS, Pedro Raimundo Dos Santos, QUE DURANTE MUITOS ANOS TRABALHOU NO PALÁCIO OLÍMPIO CAMPOS, FORNECENDO MUITA COMPETÊNCIA NA ÁREA TECNOLÓGICA, QUE ENVOLVIA, INCLUSIVE, A MELHOR SONORIZAÇÃO E ESTRUTURA TÉCNICA PARA OS GRANDES EVENTOS, SOLENIDADES E INAUGURAÇÕES PARA MUITOS E INESQUECÍVEIS GOVERNOS, GOVERNADORES, PREFEITOS, EMPRESAS, EMPRESÁRIOS E PRESIDENTES DOS TRÊS PODERES EM ARACAJU-SERGIPE-BRASIL E ALÉM FRONTEIRAS. // FOI RECEBIDO NO PLANO ESPIRITUAL EM 14.04.2024, DOMINGO, COM AS MELHORES MÚSICAS CLÁSSICAS, COM CERTEZA!!! // VOCÊ Ê NOTA 10, HISTÓRICO E INESQUECÍVEL, MESMO, CARÍSSIMO PEDRO RAIMUNDO!!! // SAÚDE E PAZ, ORAÇÃO E FÉ: - A VIDA NÃO ACABA NUNCA!!! // E SALVE, JORGE, SALVE!!! www salvejorge com"  (Y.B.)

Texto e imagem reproduzidos do perfil do Facebook/Yara Belchior

Link do post original e comentáros, no Facebook/Yara Belchior

https://www.facebook.com/COLUNAYARABELCHIOR/posts/pfbid0ZA6zAP98VtLU9y993rp4mfYk1mjhftB6MDCaE7SjiPskQg5NGGB5MhMT3hr6WDhNl

domingo, 7 de abril de 2024

Festa literária em Riachuelo e Muribenca

Créditos das fotos: Cris Souza

Publicação compartilhada do site RADAR SERGIPE, de 5 de abril de 2024 

Festa literária em Riachuelo e Muribenca

No dia 23 de março de 2024, à tarde, uma comitiva acadêmica formada pelo Dr. José Anderson Nascimento, presidente da Academia Sergipana de Letras, e pelos acadêmicos e acadêmicas: Domingos Pascoal de Melo, Maria das Graças Monteiro Melo, Educadora Cris Souza, Salete Nascimento, Hélio Oliveira, Arquimedes Marques e Elaine Marques, foi à cidade de Riachuelo para uma sessão da academia de letras daquele município, oportunidade em que foram empossados como membros titulares, efetivos e vitalícios: a professora Enedina Dantas do Vale, a professora Cenira da Silva e o cantor Manoel Ferreira de Santana, também conhecido como JILÓ; foram outorgados dois títulos honoríficos: o Dr. José Anderson Nascimento recebeu o diploma de presidente honorário da ARLA e o acadêmico Domingos Pascoal de Melo foi diplomado como acadêmico honorário da ARLA – Academia Riachuelense de Letras e Artes.

Houve ainda o lançamento do livro “Foi Assim”, de autoria do presidente daquela arcádia literária, professor Jodoval Luiz dos Santos.

Uma parte da comitiva, que se encontrava em Riachuelo, composta pelos acadêmicos Domingos Pascoal, Maria das Graças Monteiro Melo, Educadora Cris Souza, Salete Nascimento e Hélio Oliveira, após a solenidade em Riachuelo, dirigiu-se à vizinha cidade de Muribeca para instalar a Academia Muribequense de Letras.


A comitiva acadêmica foi recebida pelo idealizador e presidente do grupo gestor da organização e criação da AML – Academia Muribequense de Letras, professor Jorge Douglas Cabral, que apresentou a todos as instalações do Salão Paroquial e também ao Senhor Prefeito Municipal, Mário Cesar Conserva, e às senhoras: Secretária de Educação, Cultura, Turismo e Esporte, professora Jussiara Maria Santos Lima; Vereadoras: Gracinha Figueiredo e Ariane Cabral; ao Maestro Rogério dos Anjos Andrade e à sua Banda de Música JOSÉ CARLOS GOMES, formada por jovens Estudantes Muribequenses e, ao fotografo, Pedro Robson dos Santos, encarregado pelos registros instantâneos da festa.

O mestre de cerimônias, João Rocha, vindo da vizinha cidade de Japaratuba, já se encontrava, juntamente com a secretária eleita da AML, Gísela, Maria, o fotógrafo Pedro Robson dos Santos, e o maestro Rogério dos Anjos Andrade, ultimando os detalhes finais para que tivéssemos, como de fato tivemos, uma festa digna de uma instalação de uma academia de letras.

O dispositivo foi formado pelas autoridades do executivo, legislativo, judiciário, acadêmico e maçônico. Na foto que faz parte deste vídeo, podemos ver, olhando-se da esquerda para a direita: Dr. Roberto Guimarães, representando a Maçonaria; Educadora Cris Souza, presidente da Academia Literocultural de Sergipe e coordenadora do MAC - Movimento de Apoio Cultural Antônio Garcia Filho da Academia Sergipana de Letras; João Francisco (Chico Buchinho), presidente da

Academia Aquidabãense de Letras; Confreira Salete Nascimento, representando a Academia Cristinapolitana de Letras e Humanidades; Professora Jussiara Maria Santos Lima, Secretária de Educação, Cultura, Turismo e Esportes; Prefeito Municipal de Muribeca, Dr. Mário Cesar Conserva; Acadêmico Jorge Douglas Vieira Cabral Souza, idealizador, fundador e presidente da Academia Muribequense de Letras, ora instalada; Acadêmico Domingos Pascoal de Melo, responsável pela Instalação da AML- Academia Muribequense de Letras; desembargadora Maria das Graças Monteiro Melo; acadêmica Elenice Reis, presidente da Academia Literária de Vida de Propriá; acadêmica professora Maria Valdete Santos, presidente da Academia Japoatãnense de Letras e Artes; Vereadora Gracinha Figueredo e Vereadora Ariane Cabral.

 Tomaram posse em suas Cátedras dezenove acadêmicos e acadêmicas, cada um com seus patronos e patronas:

1- Jorge Douglas Vieira Cabral Souza - patrono Luiz Vieira Cabral; 2- José Deiwid Andrade Gonçalves - Patrono: Maria Jacira Andrade;

3- Marcos Antônio Menezes Bezerra - Patrono: Maria Irlan Menezes Bezerra (Lia de Badessa);

5- Iderlânia Costa Souza - Patrono: Francisco Adriano da Costa (Chico Bananinha);

6- Gisela Maria Carvalho Souza - Patrono: Maria da Mota Souza (Dona Santaninha);

7- Regina Tavares Santos - Patrono: Maria Izabel Tavares dos Santos;

8- Bruna Morrana dos Santos Cavalcante - Patrono: Adélia Pureza Rezende;

9- José Edmario dos Santos - Patrono: Maria Valdenice da Conceição;

10- Jeiza de Souza Ferraz - Patrono: Manoel Rozendo de Souza (Pai Velho);

11- Salmo Santos Siqueira - Patrono: Cícera Feitosa dos Santos Siqueira;

12- Igor dos Santos Santana - Patrono: Vera Lúcia dos Santos Santana;

13- Lyana Angélica Santos Cunha - Patrono: José Ariovaldo Cunha;

14- Neurimar Conserva Souza - Patrono: Mário Alves Conserva;

16- Maria Jucineide do Nascimento Lopes - Patrono: José Hugo do Nascimento;

18- Mariana Pereira Moura - Patrono: João Matos Moura;

19- Matheus Emannuel Oliveira Vieira - Patrono: Antônio Gomes Vieira.

O dia 23 de março de 2024 é uma data para ficar registrada na memória e na história do povo de Muribeca, como o dia em que nasceu a Academia Muribequense de Letras, formada por dezenove jovens intelectuais, ávidos em aprender mais e, também, transmitir o que sabem. Façam isso! A instituição que vocês tiveram a felicidade de criar será do tamanho e importância que vocês emprestarem a ela, façam-na grande, comecem pequenos, naturalmente. Porém, nunca parem de crescer. A AML já nasceu vocacionada para fazer a diferença como indutora do pensamento literário e cultural, mediadora dos saberes e do conhecimentos junto à sociedade em geral de Muribeca, mas, sobretudo, perante as escolas da cidade, estimulando a leitura, o estudo e, também, a produção da ideia escrita e a publicação de livros. “Somente o livro, sabemos nós, é o único veículo capaz de acumular e transmitir, no presente, o registro de um passado etéreo e jungi-lo à eternidade do futuro, pois somente ele detém a primazia de fazer o elo dos tempos, mantendo seguro o registro eterno da história, da memória e da vida”. Domingos Pascoal de Melo, no prefácio que fez para o livro: 50 anos da Aug.’. e Resp.’. Loja Maçônica 7 de setembro nº 01 do Oriente de Aracaju -Sergipe.

Texto e imagens rproduzidos do site radarse com br/Cultura

sábado, 6 de abril de 2024

'Considerações sobre (meu) admirável mundo novo', por Luciano Correia

Legenda da foto: Luciano e Jão, uma dupla inseparável 

Artigo compartilhado do site SÓ SERGIPE, de 4 de abril de 2024 

Considerações sobre (meu) admirável mundo novo
Por Luciano Correia (*)

Quando contei para um amigo que minha mulher estava grávida, ele vaticinou: “Você vai rejuvenescer”. Não duvidei, apesar de que me assaltavam as inseguranças e incertezas decorrentes de ser pai depois dos 60, num mundo tão intoxicado, de retrocessos nas condições de vida, de guerras com risco de levar ao Armagedon e com a natureza pegando fogo, devolvendo toda sorte de violências cometidas desde que o homem foi avançando em cada conquista, do domínio do fogo à descoberta da roda, num crescendo até chegar nos perigosos dias atuais.

Ouvia de gente mais velha uma queixa constante pelas perdas sucessivas de parentes e amigos, restando um vazio melancólico, a perda das ilusões e das utopias. Não sei se eles pensavam assim, mas comigo essa impressão chegou cedo. Aos 28 perdi um precioso amigo, Fernando Sávio, referência pessoal e literária que se considerava, como dizia ele, “um pai profissional”, parceiro de farras e infinitas e maravilhosas histórias. Depois veio Chico Mocó, um amigo irmão, genial, uma espécie de Nelson Rodrigues da crônica oral, que deixou este mundo antes dos 50. A partir daí, foi uma enfieira de grandes amigos, um atrás do outro. Alguns que imaginei insubstituíveis. E, de fato, são.

Para escurecer ainda mais o cenário já desalentador, há a deterioração das amizades que ficam, pelos motivos mais diferentes, mas sempre embalada nessa aura de refregas, agressões, ironias e toda sorte de estranhamentos que a gente jamais esperaria vindos de pessoas queridas. Dos demais, dessa juventude cuja bandeira de vida é o “tudo já”, de todos os direitos e quase nenhum dever, a gente não esperava nada mesmo. É assustador ver que essa onda belicosa que rege as relações atuais, sobretudo no pantanoso terreno virtual, também contaminou nossos velhos e sábios amigos.

Há que descontar, nesse inventário de perdas, aquelas que não resistiram à fadiga, conceito vindo da engenharia que denota envelhecimento, obsolescência e morte. De fato, algumas dessas amizades construídas com muita lógica e esmero em épocas remotas, relações que nos pareciam duradouras, foram perdendo o sentido, o interesse de uma pela outra. Como num casamento: basta que um não queira, morreu Maria Preá. Mas esse não é um processo indolor, que se dê com naturalidade e não deixe de acionar um certo saudosismo das coisas incríveis que vivemos com essas pessoas: conversas, viagens, bebedeiras e – claro – as incontáveis refregas.

Desde que meu amigo falou do rejuvenescimento que o pequeno João traria para a minha vida, fiquei pensando em como isso deveria se materializar. Finalmente eu ficaria mais magro, pra calçar os sapatos com alguma dignidade, sem a obstrução de um infame calombo? Encerraria minha longuíssima carreira de bebedor, de tão nefasta que tem se manifestado nas décadas mais recentes? Tomaria vergonha e finalmente entraria numa dessas academias de ginástica para repor músculos perdidos em anos de inércia? As perguntas fundamentais nunca têm resposta, sejam elas trivialidades como essas ou inquietações existenciais mais profundas. Afinal, qual a chave do que é certo ou errado? Onde está o roteiro das coisas certas? É como imaginar que haveria um hipotético manual de instruções para a vida. Tudo é acaso e circunstância, já disseram.

Talvez eu comece a tomar algumas providências, para meu bem e para que meu bebê tenha um pai por alguns anos, mas é fato que o simples compromisso de ajudar a criá-lo, de ter que estar próximo o máximo possível, já configura o cenário de um mundo novo para mim. Com as perdas que tive que aceitar, mais os distanciamentos impostos por amigos ainda vivos e, pasmem, de parentes, a chegada do João me flagra numa situação de disponibilidade, tempo e coração dispostos a construir com essa nova pessoa em meu mundo uma relação, talvez, menos propícia aos defeitos das outras, ou, pelo menos, livre das intoxicações que regem as sociabilidades na quadra atual. Na realidade, vejo que meu velho mundo, por tudo o que apresentei como causas e sintomas, foi ficando pra trás, sendo ocupado cada vez mais pelo mundo mágico de Jão Cabeça Quente, o Quebra-Tudo, o Berro Grosso que diariamente liga no automático às 5 da manhã e só desliga sabe-se lá que hora da noite..

O primeiro e maravilhoso ganho desse novo universo que se descortina é a minimização do mundo velho, suas certezas, verdades e mazelas. E, junto com a perda de importância das coisas, a das pessoas também, ou melhor, daquelas que as dobras do tempo tornaram irrelevantes ou as que fizeram questão de nos fustigar com algum ataque ou desprezo. No nosso filme do passado, essas imagens já não invocam boas experiências, despachando personagens dessas vivências para o limbo e esquecimento. Paralelamente, a chegada de uma pessoa por quem tenho total responsabilidade, e que terei de cuidar até quando for possível na extensão dos meus dias, traz de forma natural uma abertura de novos mundos, uma fantástica luminosidade sobre o banal cotidiano, minutos mágicos que valem, justamente, pela beleza da simplicidade.

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Luciano Correia - Jornalista e presidente da Fundação Cultural Cidade de Aracaju (Funcaju).

Texto e imagem reproduzidos do site sosergipe com br

'Neu Fontes - um mestre da cultura!', por Mário Sérgio Félix

Legenda da foto: Irineu Silva Fontes Junior: destino é o de trabalhar pela cultura de seu Estado

Artigo compartilhado do site JLPOLÍTICA, de 05 de Abr de 2024

Neu Fontes - um mestre da cultura!
Por Mário Sérgio Félix*

Paschoal Maynard tem um “bordão” que usa em seu programa na Tv Aperipê, muito apropriado: “Cultura, é o que a gente faz!” Diga-se de passagem, Paschoal o faz muito bem. Aliás, Paschoal respira cultura, além de ser um exímio baterista.

Do outro lado, temos também um personagem que está ligado à cultura, mais precisamente à cultura sergipana, à cultura nordestina, enfim, à cultura.

Também pudera, bebe da fonte da cultura, do berço da cultura, de sua mãe e sua avó, estancianas “da gema”. Aliás, não há uma só vez que ao falar de cultura não cite suas fontes da Estância. Está no sangue. Em suas veias, corre o líquido precioso da água do Rio Piauitinga.

Desde cedo - e bote cedo, nisso -, Irineu Silva Fontes Junior, mais conhecido como Neu Fontes, já sabia que o seu destino seria o de trabalhar pela cultura de seu Estado. Árdua, difícil, porém de grande valor para o seu reconhecimento.

A sua trajetória mostra esse reconhecimento, essa luta naquilo que ele sempre acreditou. Naqueles que no passado sempre lutaram pelo engrandecimento dessa cultura que Neu fez da sua vida o seu norte de trabalho.

Nesse norte, a música sergipana sempre esteve presente, essa batalha diária de aconchegos, desafios, intrigas, das mais variadas, porém, sempre na defesa da música sergipana.

Como aconteceu no Canta Nordeste, quando chegou a desafiar os diretores do Festival para defender a música de seu Estado, os cantores de seu Estado, a ponto de dar murros na mesa para que o regulamento aprovado fosse colocado em prática.

Não fosse a luta incessante de Neu Fontes naquele festival, talvez não tivéssemos trazidos de lá o primeiro lugar com o “Coco da Capsulana”, de Ismar Barreto e João Alberto, defendido brilhantemente pela nossa Amorosa, que de quebra, venceu como melhor intérprete.

Neu também é um excelente produtor musical. É dele o último CD lançado pelo nosso mestre João Melo, que a pedido da gravadora Som Livre, incumbiu Neu de produzir o lindo disco “Coração Só Faz Bater”, que teve a distribuição do sistema Globo.

Pioneiro naquilo que faz, Neu foi um dos primeiros cantores e compositores a defender a música sergipana com um programa totalmente voltado para a nossa música. O Programa Seleção Brasileira, até hoje tem um quadro criado por Neu, quando apresentava na rádio Aperipê FM “A Música da Semana”, que traz o artista sergipano em evidência.

São dele vários sucessos da “playlist” da rádio, como o grande sucesso do nosso saudoso Rogério, “Pecado de Pássaro”, parceria com Jorge Lins, outro ícone da cultura sergipana.

Neu também aparece no disco “Cajueiro dos Papagaios”, obra de grande importância para a música sergipana, juntamente com Lula Ribeiro e Paulo Lobo. Se elencarmos os grandes sucessos de Neu, um artigo seria pequeno para eles.

Sem ser político, porém ajudando a política, Neu tornou-se secretário de Cultura da cidade de Laranjeiras, onde exerceu um enorme trabalho de divulgação, reconhecimento e valorização desses importantes brincantes da nossa cultura. É visível essa valorização desses artistas junto à sua comunidade e principalmente no apoio logístico e financeiro.

Foi através de Neu que os principais grupos folclóricos tiveram reconhecimento nos últimos anos, claro, sem deixar de citar seus mestres que o ensinaram a trabalhar com esses grupos, a exemplo do professor Luiz Alberto, da professora Aglaé Fontes e do seu mestre Professor Luiz Antônio Barreto.

No próximo dia 23 de abril Neu estará lançando seu primeiro livro, “Som da História”, reunindo seus artigos escritos nos últimos anos através do Jornal Cinform Online. Já adianto que será um excelente livro sobre a cultura sergipana, aliás, escritos que fazem parte das pesquisas do Programa Seleção Brasileiro, do qual me utilizo para aumentar o leque de conhecimentos dos nossos artistas, da nossa música.

O evento acontecerá no Museu da Gente Sergipana, às 16:30 e se você quer conhecer essa obra desse grande agitador cultural sergipano, aparece lá. De quebra, ganha um abraço meu. Mas a festa é do amigo Neu Fontes.

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* O Articulista Mário Sérgio: É radialista, jornalista e pesquisador da MPB. 

Texto e imagem reproduzidos do site: jlpolitica com br

quarta-feira, 3 de abril de 2024

'Lembranças de 1964', por Paulo Roberto Dantas Brandão

Post compartilhado do Perfil do Facebook/Paulo Roberto Dantas Brandão, de 30 de março de 2024

Lembranças de 1964
Por Paulo Roberto Dantas Brandão

O dia 31 de março de 1964, ao que me lembro, foi um dia normal.  Lá em casa só foi alterado porque era aniversário de meu pai.  No dia 1º de abril (o dia da mentira), fui para a escola, o Educandário Brasília (então eu cursava o 2º ano primário).  Íamos a pé, eu e a meninada da rua Senador Rolemberg.  Quando lá chegamos, recebemos o aviso que não tinha aula.  Alegria geral.  Voltamos para casa, tiramos a farda, e fomos jogar bola no meio da rua.

Lembro que já estávamos na pelada, quando uma colega passou de carro, com o pai, e estranhando a turma jogando bola, perguntou se não havia aula.  Respondi que não:  Fizeram uma tal de revolução, expliquei, sem ter ideia do que viria a ser isso.

À tarde, ou no dia seguinte, aí as lembranças se embaralham, fui com minha mãe ao comércio, numa loja chamada Dernier Cri, que existia na rua João pessoa.  Minha mãe comprava algumas coisas, e havia um rádio ligado. Daí a pouco entrou uma edição extraordinária do Informativo Cinzano, de maior audiência na época, apresentado por um escroque chamado Silva Lima.  Pronunciando em destaque todos os erres e esses, ele bradou:  “acaba de ser fechado pelas gloriosas forças do exército brasileiro o jornal vermelho da cidade, a comunista Gazeta de Sergipe. Depois passamos pela porta do jornal, na Av. Rio Branco.  Havia um soldado de fuzil guarnecendo a porta. 

Outra lembrança que me vem, é que nesse dia, ou no seguinte, meu pai chegou com um caixote cheio de compras.  Preocupado com um possível desabastecimento, ele comprou logo um monte de coisas que ficaram estocadas na garagem lá de casa.

Uma outra lembrança de alguns dias posteriores foi interessante.  O governador Seixas Dórea havia sido preso, em Fernando de Noronha, junto com o governador de Pernambuco, Miguel Arraes.  Alguns dias depois, não sei a razão, autorizaram que Seixas viesse a Aracaju visitar sua mãe, que morava na rua de Itabaiana, perto de nossa casa. Com forte escolta de soldados do exército, o governador chegou de carro. Por coincidência, vinha passado por lá com minha mãe bem na hora.  Minha mãe, D. Yêda, empurrou alguns soldados, superou alguns populares da vizinhança, e apertou a mão de Seixas Dórea.  Dadas as circunstâncias, era um ato de coragem.

Todos se mostravam preocupados com o meu avô Orlando, uma possível vítima do golpe.  Mas além de uma visita de um oficial ao seu apartamento para avisar que o jornal foi fechado, nada aconteceu de mais grave.  Nos meu oito para nove anos, não tinha ideia do que acontecia.  Não imaginava que viveríamos 21 anos na escuridão.  

As tropas do General Olimpio Mourão podem ter saído de Juiz de Fora na noite do 31 de março, mas o golpe mesmo, foi no dia 1º de abril.

Texto e imagem reproduzidos do Perfil/Facebook/Paulo Roberto Dantas Brandão.