domingo, 19 de outubro de 2025

Bairro São José: Onde o Silêncio do Mangue se Transformou em Memória

Foto (legenda e crédito) postada pelo blog, para ilustrar o presente artigo
Vista aérea do Santuário São José, na Praça Tobias Barreto,
 no bairro São José, na cidade de Aracaju-SE.
Imagem: Canal do YouTube/Cineasta Fábio Jaciuk
Reproduzida do site: www youtube com

Artigo compartilhado do site ROACONTECE, de 4 de outubro de 2025  

Bairro São José: Onde o Silêncio do Mangue se Transformou em Memória

Por Emanuel Rocha*

Memórias de um bairro que cresceu sobre águas perdidas, onde fé, esporte, ciência e cultura se entrelaçam.

Nas semanas anteriores, navegamos pelas ruas do América e do Siqueira Campos, sentindo o pulsar de suas memórias e entendendo como cada bairro traça sua própria narrativa dentro do coração de Aracaju. Hoje, no São José, seguimos o mesmo fio de histórias, descobrindo como passado e presente se encontram nas margens de rios, praças e vielas, compondo a poesia viva da cidade.

Mais que um simples endereço na geografia de Aracaju, o bairro São José nasceu entre águas e memórias, onde o passado e o presente se encontram. Sua história começou com a união de duas localidades: a Fundição, situada ao sul do Centro da cidade, margeando o Rio Sergipe, onde funcionavam o depósito de inflamáveis e a sede dos primeiros clubes de regatas da cidade, o Cotinguiba Esporte Clube, o Clube Sportivo Sergipe, ambos fundados em 1909, e o Iate Clube de Aracaju, de 1953. E também o Bariri, área pantanosa nas proximidades do Carro Quebrado, atual Salgado Filho, com riachos que precisaram ser aterrados e canalizados. Hoje, essa região compreende o entorno da Paróquia São José e do Hospital São Lucas. Para que o bairro pudesse florescer, foi preciso silenciar o mangue. Ecossistemas inteiros foram destruídos, a água e a lama transformadas em ruas, praças e casarões. A beleza urbana custou caro à natureza, e o silêncio do mangue ainda ecoa entre as construções que hoje dominam a paisagem.

No coração espiritual do bairro está a Paróquia de São José, criada em 1924. Seus sinos marcaram casamentos, batizados, despedidas e esperanças. Em 11 de julho de 2023, o templo foi elevado a Santuário Arquidiocesano São José, celebrando em 2024 o centenário de sua fundação. Hoje, o santuário permanece como guardião da fé e da memória de um bairro que transformou águas em pedra e silêncio em oração.

Entre as joias do bairro floresceu o Cotinguiba Esporte Clube, fundado em 1909. Antes do futebol, veio o remo, esporte que marcou sua estreia e lhe deu supremacia. Com 38 conquistas estaduais, sendo dez consecutivas, o Cotinguiba desenhou nas águas do Sergipe a coragem e o ritmo que o eternizariam. O futebol chegou depois, e com ele as cores azul e branco, eternizadas nas conquistas de 1918, 1920, 1923, 1936 e 1942. Desde a primeira decisão estadual, o clube rivalizou com o Sergipe, conquistando corações e deixando um legado inesquecível.

O bairro São José é também polo de ciência, cultura, espiritualidade e cidadania. O ITPS, criado em 27 de junho de 1923 como Instituto de Química Industrial e transformado em 1948 em Instituto de Tecnologia e Pesquisa, abriga laboratórios de referência e o Museu de Química, fundado em 2006. O Instituto Parreiras Horta, criado através da Lei n° 836 de 14 de novembro de 1922, no governo de Maurício Graccho Cardoso, foi inaugurado em 5 de maio de 1924. Teve como primeiro dirigente o médico Dr. Paulo Parreiras Horta, que permaneceu à frente da instituição até 8 de dezembro de 1924. À época, sua missão era o preparo e a distribuição das vacinas antivaríola e antirrábica. Com o passar dos anos, o instituto expandiu suas atribuições, agregando exames laboratoriais que marcaram a consolidação da medicina científica em Sergipe.

No campo da cultura, o Teatro Atheneu, o mais antigo em atividade no Estado, acolheu gerações de artistas sergipanos e nacionais, tornando-se espaço de formação e memória da arte local. Já a Associação Atlética de Sergipe, fundada em 24 de maio de 1925, foi palco de grandes gritos de carnaval, competições esportivas realizadas nas quadras de futebol ou na piscina olímpica, além de aniversários, casamentos, gincanas escolares e momentos de lazer que marcaram a vida social sergipana.

O São José também recebeu importantes instituições. A sede do IPHAN esteve no bairro temporariamente, enquanto o IML funcionou ali por décadas, guardando registros de dor e lembrança que atravessaram gerações. É ainda sede da Secretaria de Segurança do Estado e do Centro de Treinamento da Seleção Brasileira de Ginástica Rítmica, reforçando a relevância contemporânea do bairro.

Na dimensão espiritual, além da força católica irradiada pelo Santuário São José, encontra-se a União Espírita Sergipana, fundada em 9 de setembro de 1930, onde Divaldo Franco realizou sua primeira palestra pública, marco do espiritismo em Sergipe e no Brasil.

No campo da memória arquitetônica, destaca-se o Casarão dos Rollemberg, construído em 1919 com forte influência do Art Nouveau. Foi residência de uma das famílias políticas mais influentes de Sergipe. Tombado como patrimônio estadual, hoje abriga o Memorial da Advocacia Sergipana, oferecendo exposições, palestras e visitas educativas, revelando o diálogo entre a arquitetura local e os padrões europeus, bem como a história da elite aracajuana do século XX.

Também de grande importância histórica está a Capitania dos Portos de Sergipe. A primeira foi criada em 12 de janeiro de 1848 pelo Decreto nº 549 do Império, extinta em 1850 e restabelecida definitivamente em 18 de outubro de 1854, pelo Decreto Imperial nº 1861. Desde então, mantém existência contínua, simbolizando a soberania marítima e a relevância estratégica de Sergipe nas rotas do Atlântico.

No campo educacional, o bairro consolidou-se como um verdadeiro celeiro de formação. O Colégio Atheneu Sergipense, o Colégio Arquidiocesano, o Colégio Patrocínio e o Colégio Dom Luciano formaram gerações de aracajuanos, unindo tradição e excelência. A essa herança soma-se o pioneirismo do Jardim de Infância Augusto Maynard, inaugurado em março de 1932 como Casa da Criança, na gestão do interventor federal Augusto Maynard. A instituição foi idealizada pelas jovens normalistas Helena Abud, Miran Santos e Raquel Cortez, que levaram a proposta ao interventor e mobilizaram recursos para concretizá-la. Inspirada nos princípios da Escola Nova, inovou ao unir pedagogia e arquitetura em um projeto moderno para a época. Em 1942, passou a se chamar oficialmente Jardim de Infância Augusto Maynard, permanecendo como símbolo de renovação educativa e esperança para a infância em Aracaju.

A urbanização do bairro avançou entre as décadas de 1950 e 1970. Praças e ruas calçadas se multiplicaram, abrindo espaço para o Estádio Lourival Baptista, o Batistão, e consolidando o bairro como polo de serviços médicos. Médicos, advogados e arquitetos migraram para bairros mais distantes, e antigas residências cederam lugar a consultórios, escritórios e hospitais. Ainda assim, núcleos residenciais permanecem, com idosos guardando memórias e histórias como verdadeiros guardiões do tempo.

Hoje, o São José é um bairro de contradições harmoniosas, memória e progresso, poesia e vida cotidiana. O mangue silenciado, as remadas do Cotinguiba, os carnavais da Atlética, os palcos do Atheneu, os laboratórios do ITPS, os sinos do Santuário, a força da União Espírita e os bancos escolares do Maynard e dos colégios históricos se entrelaçam, guardando em cada rua, praça e edifício a história viva de Aracaju.

Quando a noite cai, o bairro revela sua face mais serena. Entre o concreto e o asfalto, ainda ecoam as águas, as vozes, os passos e os sonhos. O São José permanece como guardião da memória, testemunha do tempo e poesia viva de uma cidade que cresceu sobre suas próprias escolhas.

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* Emanuel Rocha é historiador, coautor dos livros Bacias Hidrográficas de Sergipe, Unidades de Conservação de Sergipe e Bairro América: A saga de uma comunidade. Também atua como repórter fotográfico e poeta popular.

Texto reproduzido do site: roacontece com br

sábado, 18 de outubro de 2025

Festas do Centenário de Emancipação Política de Sergipe, 1820-1920

Artigo compartilhado do site DESTAQUE NOTÍCIAS, de 17 de outubro de 2025

Alegrai-vos Sergipanos!: Festas do Centenário de Emancipação Política de Sergipe, 1820-1920

Por Amâncio Cardoso *

Uma das datas cívicas mais festejadas da História de Sergipe foi a comemoração do centenário de nossa emancipação política em relação à Bahia. A efeméride ocorreu em Aracaju, no dia 24 de outubro de 1920, rememorando o decreto de D. João VI (1767-1826), de 08 de julho de 1820. Mas, por tradição, desde pelo menos 1836, a independência era comemorada em 24 de outubro, pois teria sido a data em que a notícia do decreto chegara do Rio de Janeiro até Sergipe.[1]

No centenário, em 1920, os brios dos sergipanos ainda estavam feridos, devido aos insolúveis litígios pelas fronteiras sul e oeste de nosso Estado com a Bahia. Era a secular “Questão dos Limites”, cuja desvantagem sempre recaiu sobre a menor unidade federativa. Mas como registra o hino de Sergipe, em alusão à nossa independência frente à Bahia, ele conclama que “devemos festejar”.[2]

Assim sendo, a grande festa do centenário de independência de Sergipe ocorreu com relativa pompa, conforme os limites dos cofres públicos e particulares.[3] Dentre os empresários, os que mais contribuíram com dinheiro para os festejos foram Ribeiro Chaves & Cia (proprietários da fábrica de tecidos Confiança); Antônio do Prado Franco (um dos proprietários da Usina Central em Riachuelo) e Cruz, Ferraz & Cia (proprietários da fábrica de tecidos Sergipe Industrial). As famílias, por sua vez, se prepararam com o melhor vestuário. Para isso, o comércio varejista anunciou o recebimento de “lindo sortimento de sedas e artigos de armarinho para os festejos de outubro”.[4]

A iniciativa para comemorar o centenário surgiu entre os membros do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe (IHGSE). A ideia, como vimos, foi encampada e financiada pelo governo, empresários e profissionais liberais. Comissões de trabalho foram formadas e a programação oficial publicada nos jornais. Ela continha cinco dias de festas: de 23 a 27 de outubro.[5]

No dia 23, teve início a Exposição-Feira dos produtos agropastoris e industriais dos municípios, no galpão do Entreposto do Estado. Nas praças Pinheiro Machado (atual Tobias Barreto) e da Estação Ferroviária (atual área dos mercados centrais) houve, à noite, cinema ao ar livre; fogos de artifício e bandas de música.

Já em 24 de outubro, o dia oficial, houve alvorada; cantou-se o Te Deum na catedral (hino em missa de ação de graças que exalta Deus); fez-se içamento da nova bandeira de Sergipe, que ainda é a atual, no mastro do palácio de governo; houve desfile militar na praça Fausto Cardoso; inaugurou-se a estátua do filósofo Tobias Barreto, na praça Pinheiro Machado (atual Tobias Barreto), como representação da intelectualidade sergipana no país; realizaram-se banquete e baile noturnos no palácio do governo e festejos populares nas praças. Enquanto no dia 25, ocorreram à tarde festas e inaugurações no posto zootécnico da Ibura, no município de Socorro; e à noite, houve baile por convite no Cinema Rio Branco.[6]

Por fim, nos dias 26 e 27 ocorreram bailes de gala; recepções exclusivas; inauguração da seção de pecuária no Depósito Municipal, na rua de Siriri; e eventos abertos, com destaque para as regatas no rio Sergipe, à tarde, com quatro páreos, sendo um deles disputado por “senhorinhas’, concorrendo à taça do Centenário.[7]

O governo do estado, para perpetuar as comemorações, publicou o Álbum de Sergipe, organizado pelo jovem escritor e advogado Clodomir Silva (1892-1932), que apresentou uma síntese histórica, socioeconômica, geográfica e político-administrativa, impresso na gráfica do Jornal O Estado de São Paulo, com imagens de Leone Ossovigi (SP), que fotografou os municípios para ilustrar a publicação.[8] Além dele, foram contratados os fotógrafos Fabian (RJ) e Guilherme Rogatto, que veio de Maceió. Ademais, também foram contratados artistas italianos, que estavam em Salvador, “para cuidar, entre outras atribuições, das obras de ampliação e reforma do palácio do Governo”.[9]

Outra forma de perpetuar a memória do centenário de independência de Sergipe foi a confecção e distribuição, pelo governo, de medalhas de ouro e bronze para autoridades e instituições científicas; bem como a realização de reformas arquitetônicas e urbanas na capital e no interior do Estado, a exemplo das reformas em vários prédios públicos; arrematação da empresa de bondes; aterramentos de ruas e construção de grupos escolares.[10]

Além de eventos cívicos, a festa do centenário também contou com a participação de artistas da terra. Neste sentido, a comissão central convidou o “Centro Artístico Sergipense” para apresentar espetáculo composto de monólogos, recitativos, cançonetas e mímica.[11] Também foi convidado para expor seus quadros o renomado pintor sergipano Oséas Santos (1865-1949), que morava em Salvador.[12]

A grande festa do centenário de emancipação política, em 1920, não se isentou da conotação ideológico-partidária do período. Afinal, o líder político de então era o próprio presidente do Estado, o experiente militar e ex-senador Pereira Lobo (1864-1933). Sua liderança se evidenciou, sobretudo, após o vácuo deixado pelas mortes de Fausto Cardoso (1864-1906) e Olímpio Campos (1853-1906); e também pela frágil saúde do seu antecessor e então senador, General Oliveira Valadão (1849-1921), que faleceria um ano depois dos festejos. Ao deixar o governo de Sergipe, em 1922, Pereira Lobo elegeu-se Senador da República pela segunda vez, de 1923 a 1930.[13]

Na efeméride do centenário, os organizadores queriam marcar na memória coletiva o potencial “material” de Sergipe, assim como o Estado era gigante no campo intelectual, representada pelo celebrado Tobias Barreto. Desta forma, houve um esforço para apresentar à nação o poder econômico do Estado, apesar de estar circunscrito em “território reduzidíssimo e com seu desenvolvimento por muito tempo tolhido [sobretudo pela Bahia]”, como anunciara um jornal à época.[14]

Dessa maneira, estava subjacente no discurso sobre o aludido centenário a ideia de que o passado inglório, sob a tutela da opressora Bahia, havia terminado; e que o então governo seria um marco divisor. Ou seja, Sergipe estaria experimentando uma nova fase de modernização material e autonomia moral, despertando o orgulho de ser sergipano nas novas gerações, simbolizado nos eventos programados nos cinco dias de festa e registrado no número especial da Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, cuja diretoria idealizara e organizara o magno evento.[15]

Como vimos, as comemorações do centenário de independência política de Sergipe em 1920 foi um momento de reelaboração da identidade sergipana, capitaneada pela elite econômica e intelectual, como forma de manutenção do poder político, assentada em instituições estatais e científicas.

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* É historiador.

Notas e referências:

[1] Embora os membros do IHGSE tenham proposto o 08 de julho de 1920 como dia da comemoração do centenário de emancipação, com base no decreto de D. João VI, o governador do Estado optou por celebrar os festejos no dia 24 de outubro de 1920, data reconhecida pelo povo. Essa divergência parece ter como pano de fundo uma animosidade entre Pereira Lobo e os intelectuais do Instituto, conforme FERRONATO, Cristiano; et al. Comemoração do primeiro centenário da emancipação política de Sergipe: Um olhar a partir das revistas do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe (IHGSE). RIHGSE, Aracaju, nº 50, 2020, p. 52-65.

[2] Hino de Sergipe. Letra de Manoel Joaquim de Oliveira Campos; Música de Frei José de Santa Cecília, 1836. Disponível em:  www educadores diaadia pr gov br/. Acesso em: 04/06/2025.

[3] LOBO, José Joaquim Pereira. Mensagem apresentada à Assembleia Legislativa. Aracaju, 07 de setembro de 1920. p. 05 et passim.

[4] Livro de Honra. Correio de Aracaju, 03 de setembro de 1920, nº 2.951, p. 02; Correio de Aracaju, 04 de setembro de 1920, nº 2.952, p. 01 e 04.

[5] Revista do IHGSE. Aracaju: Typ. Commercial, v. 5, nº 9, 1920.

[6] A estátua de Tobias Barreto é de autoria do escultor italiano, que vivia em São Paulo, Lorenzo Petrucci (1868-1928). Ele também havia esculpido em Aracaju a estátua de Fausto Cardoso, em 1912, e o obelisco a Inácio Barbosa, em 1917. Sobre a produção e o significado da ereção da estátua de Tobias Barreto, ver: ROCHA, Renaldo Ribeiro. A grande festa do centenário da independência de Sergipe. Revista do IHGSE, Aracaju, nº 48, 2018, v. 1. p. 159-176.

[7] “As festas comemorativas de nossa Emancipação política”. Correio de Aracaju, 02 de setembro de 1920, nº 2.950, p. 01; Correio de Aracaju, 03 de setembro de 1920, nº 2.951, p. 02; Correio de Aracaju, 10 de setembro de 1920, nº 2.956, p. 01; Correio de Aracaju, 11 de setembro de 1920, nº 2.957, p. 01-02; Correio de Aracaju, 15 de setembro de 1920, nº 2.960, p. 02; Correio de Aracaju, 17 de setembro de 1920, nº 2.962, p. 01.

[8] LOBO, José Joaquim Pereira. Mensagem apresentada à Assembleia Legislativa. Aracaju, 07 de setembro de 1920. p. 10.

[9] José Joaquim Pereira Lobo. Disponível em: www palacioolimpiocampos se gov br/Acesso em: 05/06/2025; BARRETO, Luiz Antonio. Aracaju, festa e presentes. Gazeta de Sergipe. Aracaju, 17 e 18 de março de 2002, nº 12.943, p. B-4.

[10] LOBO, José Joaquim Pereira. Mensagem apresentada à Assembleia Legislativa. Aracaju, 07 de setembro de 1920. p. 10 et passim.

[11] Tomaram parte nos espetáculos os seguintes membros do Centro Artístico Sergipense: Misael Cardoso; Jordão de Oliveira; Milton de Assis; Nomizio de Aquino; Carlos Andrade; Ariston Ribeiro; Freire Pinto; Athico Marques; Heitor Leal. Ver Correio de Aracaju, 24 de setembro de 1920, nº 2.968, p. 01.

[12] CARDOSO, Amâncio. Oséas Santos: trajetória de um pintor sergipano. Disponível em: www f5news com br. Acesso em: 08/06/2025.

[13] Pereira Lobo. Disponível em: www25 senado leg br/. Acesso em: 07/06/2025.

[14] Correio de Aracaju, 25 de setembro de 1920, nº 2.969, p. 02.

[15] Revista do IHGSE. Aracaju: Typ. Commercial, v. 5, nº 9, 1920.

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Texto e imagem reproduzidos do site: www destaquenoticias com br

quarta-feira, 8 de outubro de 2025

Soutelo: A Discreta Elegância de um Homem da Cultura

Artigo compartilhado de Post do Facebook/Luiz Eduardo Oliva, de 9 de janeiro de 2022

Soutelo: A Discreta Elegância de um Homem da Cultura 

Por Luiz Eduardo Oliva *

Por quase quarenta anos o professor Luiz Fernando Ribeiro Soutelo foi uma referência ativa como intelectual, pontuando principalmente como um guardião das coisas da cultura sergipana. Recebo a notícia de sua morte, segunda, dia 03. Verifico-lhe a idade: 72 anos. Vou ao livro “Perfis Acadêmicos” da Academia Sergipana de Letras, escrito por seu presidente José Anderson Nascimento e vejo que desde 1985 ele já fazia parte daquela Academia. 

O que é de admirar é que Soutelo ingressou como acadêmico bem jovem, aos 36 anos, numa Academia repleta de intelectuais da maior grandeza, muitos com idade avançada. Portanto foi companheiro de nomes que marcaram definitivamente a cultura sergipana. 

Ao adentrar ao sodalício das letras sergipanas Soutelo recebeu a aprovação pelo voto e conviveu com nomes da estirpe intelectual do historiador Silvério Fontes, do médico e compositor Antônio Garcia, do professor Felte Bezerra, dos poetas Santo Souza, José Amado Nascimento, Clodoaldo de Alencar Filho, Wagner Ribeiro, Eunaldo Costa, das poetisas Núbia Marques, Gizelda Moraes, Carmelita Pinto Fontes da historiadora Thetis Nunes, da grande educadora Ofenísia Freire, do romancista Mário Cabral, do arcebispo Luciano Duarte, do jurista Bonifácio Fortes, do museólogo José Augusto Garcez, do intelectual multifacetado Luiz Antonio Barreto do poeta e crítico literário Manoel Cabral Machado, do jurista e ex-ministro Fontes de Alencar, do romancista e também jurista Artur Oscar de Oliveira Deda, dos escritores ex-governadores Seixas Dória e Luiz Garcia, do ex-senador e cartunista Gilvan Rocha, do historiador Acrísio Torres, do jornalista e escritor Ariosvaldo Figueiredo.  

São remanescentes, na Academia, da época do ingresso de Soutelo somente Anderson Nascimento, José Abud, Francisco Rollemberg e Carmelita Fontes. Significa dizer que, literalmente e literariamente Soutelo representava uma testemunha viva do fazer cultural em Sergipe por quase meio século. Coube a ele a responsabilidade de suceder o médico e fabulista (um gênero raro) José Olino de Lima Neto na Cadeira de nº 30. 

Embora fosse dono de uma cultura invejável, Soutelo atuava mais na retaguarda dos órgãos que colaborou. O Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe é um deles, o Conselho Estadual de Cultura outro, onde foi seu presidente e um dos mais longevos conselheiros, tendo contribuído e muito para a preservação do patrimônios= histórico e artístico de Sergipe. Soutelo tinha a delicadeza de ligar para os amigos e emitir opinião sobre assuntos diversos. Não raro ligava-me para comentar meus artigos publicados neste Jornal da Cidade. Da ultima vez, perguntei por uma palestra que ele fez no início dos anos 1990, demonstrando porque São Cristóvão era a quarta cidade mais antiga do Brasil. Contou-me do parecer do historiador Hélio Vianna ao Conselho Federal de Cultura que oficializava a primeira capital dos sergipanos no patamar de 4ª cidade mais antiga e ficou de me enviar o texto, mas logo ficou enfermo.

A assistente social e professora Guadalupe Oliva, que foi colega dele quando ambos lecionavam da Universidade Tiradentes destacou sua personalidade ímpar: “inteligente, elegante, discreto e parcimonioso era um homem de educação fina e delicadeza peculiar. Era o que poderíamos descrever como ‘o bom moço’ um personagem dos Tempos do Imperador”. E completou:  “Soutelo era culto, amante da história e pesquisador nato, um homem admirável”.  

O corpo do intelectual Luiz Fernando Soutelo foi velado na sede da Academia Sergipana de Letras. Além da família, amigos, intelectuais, artistas estiveram presentes. Como bem disse sua irmã Luiza Maria, em discurso emocionado de agradecimento aquele momento não parecia um velório e sim um encontro cultural e um congraçamento de amigos. 

O ambiente, as conversas em torno da personalidade do acadêmico demonstrava o quanto Soutelo era querido e admirado. Soutelo, de fato, foi um homem aglutinador da cultura até no ultimo momento da sua despedida. Deixou uma obra vasta, em artigos que publicou, mas muita coisa inédita. 

Como sugestão, o Estado de Sergipe, através do Conselho de Cultura, bem que poderá prestar a justa homenagem publicando, quiçá pela Editora Diário Oficial – Edise, o que nos legou Luiz Fernando Ribeiro Soutelo. Será uma homenagem também à cultura sergipana. 

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* Advogado, poeta, ex-secretário de Estado dos Direitos Humanos e da Cidadania e membro da Academia Sergipana de Letras Jurídicas.

** Artigo Publicado no Jornal da Cidade/SE, edição nº 14.529 de 08  a 10  de janeiro de 2022, onde Luiz Eduardo Oliva escreve quinzenalmente.

Texto reproduzido de post do Facebook/Luiz Eduardo Oliva

terça-feira, 7 de outubro de 2025

Carmelita Pinto Fontes parte aos 92 anos...

Professora Carmelita Fontes: uma mulher à frente do seu tempo

Artigo compartilhado do site JLPOLÍTICA, de 7 de outubro de 2025

Carmelita Pinto Fontes parte aos 92 anos e deixa legado eterno na educação e cultura sergipana

Por Pascoal Maynard *

A manhã desta terça-feira, 7, trouxe uma notícia que entristeceu profundamente o meio acadêmico e cultural de Sergipe: faleceu, aos 92 anos, a professora e poeta Carmelita Fontes, uma das mais respeitadas educadoras e intelectuais do Estado. 

Nascida em Laranjeiras, em 1º de fevereiro de 1933, Carmelita Pinto Fontes formou-se em Letras pela Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe em 1957. Iniciou sua carreira docente em 1962, lecionando na mesma instituição e, posteriormente, na Universidade Federal de Sergipe, onde permaneceu até sua aposentadoria em 1991.

Com pós-graduação em Linguística, Literatura Francesa e Literatura Hispano-Americana, Carmelita se destacou como educadora, pensadora, poeta e defensora da cultura regional. 

Foi cofundadora da Academia Sergipana de Jovens Escritores e atuou em conselhos estaduais de Cultura e Educação. Sob o pseudônimo Gratia Montal, escreveu para jornais como A Cruzada, Diário de Aracaju e República de Lisboa. 

Produziu quase 20 peças de teatro infantil e publicou o livro de poemas Tempo de Dezembro, em 1982, considerado um marco da poesia sergipana.

Em 1984, foi eleita para a Academia Sergipana de Letras, ocupando a cadeira nº 38. Sua atuação como educadora foi tema de dissertações acadêmicas e recebeu homenagens públicas. Entre seus ex-alunos, destaca-se o ex-governador Marcelo Déda, que sempre reconheceu sua influência formadora.

O programa “Expressão” exibirá nesta sexta-feira, dia 10, o documentário “Carmelita Fontes” que tive a honra e o privilégio de produzir e dirigir.

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* É jornalista, documentarista  e produtor cultural. Atualmente exerce o cargo de Assessor Especial da Funcap, Presidente do Conselho Estadual de Cultura e apresentador do programa Expressão na Aperipê TV.

Texto reproduzido do site: jlpolitica com br/coluna-aparte

Morre a escritora Carmelita Pinto Fontes aos 92 anos

Publicação compartilhada do site INFONET, de 7 de outubro de 2025

Morre a escritora Carmelita Pinto Fontes aos 92 anos

Ela estava internada em um hospital particular da capital. A informação foi confirmada por familiares.

Morreu no fim da tarde da segunda-feira, 6, aos 92 anos, a professora, escritora e teatróloga Carmelita Pinto Fontes, em Aracaju. Ela estava internada em um hospital particular da capital, mas a causa da morte não foi divulgada. A informação foi confirmada por familiares.

Ainda de acordo com parentes, não haverá velório. O sepultamento será realizado às 9h desta terça-feira, 7, no Cemitério Colina da Paz, em Aracaju.

Nascida em Laranjeiras, Carmelita teve uma trajetória marcante na educação, literatura e cultura sergipana. Foi professora, poetisa, contista, cronista, jornalista e dramaturga, licenciada em Letras e com pós-graduação em Linguística, Literatura Francesa e Literatura Hispano-Americana.

Teve atuação expressiva em instituições públicas e culturais, sendo membro da Academia Sergipana de Letras desde 1984, ocupando a cadeira nº 38, além de ter integrado o Conselho Estadual de Cultura, o Conselho Estadual de Educação e ter sido diretora da revista da Universidade Federal de Sergipe (UFS).

Sua produção intelectual e atuação como educadora foram alvo de homenagens, inclusive com dissertações de mestrado dedicadas à sua obra. Entre seus ex-alunos, destacou-se o ex-governador Marcelo Déda (In memoriam).

por João Paulo Schneider 

Texto e imagem reproduzidos do site: infonet com br

As marcas de um dia triste

Post compartilhado do Facebook/JorgeNascimento Carvalho, de 6 de outubro de 2025

AS MARCAS DE UM DIA TRISTE 

Dia muito triste. Acordei com a notícia da morte da querida amiga jornalista YARA BELCHIOR. O dia estava se encerrando e me chega a notícia da morte da professora CARMELITA PINTO FONTES. 

A professora partiu aos 92 anos de idade. Foi uma importante poetisa, jornalista, contista, cronista e teatróloga. Publicou muitos textos em jornais sob o pseudônimo de GRATIA MONTAL. 

Laranjeirense, teve uma longa carreira docente na área de Literatura, atuando na Faculdade Católica de Filosofia e no Departamento de Letras da Universidade Federal de Sergipe. Era membro da Academia Sergipana de Letras.

Triste 06 de outubro de 2025.

Texto e imagem reproduzidos do Post Facebook/JorgeNascimento Carvalho.

sexta-feira, 3 de outubro de 2025

Professor Vilder Santos

Post compartilhado do Facebook/Antonio Samarone, de 1 de outubro de 2025

Professor Vilder Santos
Por Antonio Samarone

Ontem, após muitos anos, reencontrei um velho amigo. Uma surpresa! Um mal-assombrado tinha me contado: Vilder "bateu as botas" na Covid. Cheguei a rezar por sua alma. 

Engano!

O professor Vilder, formado em letras vernáculas e em direito, chegou aos oitenta. A mesma dignidade, a mesma altivez. 

Quando ainda existia opinião pública, o professor Vilder participava dos debates radiofônicos. Era uma voz acreditada. Participou da equipe esportiva da rádio Cultura, comandada por Raimundo Luiz e comandou o programa “a voz do magistério”.

O pai de Vilder, foi vereador por sete mandatos e dono do lendário “Carrossel do Tobias”. Hoje, nomeia o mercado do Augusto Franco.

Vilder é adventista e poeta (triversos). Ensinou moral e cívica no Atheneu e EPB na UFS, nos tempos sombrios. 

Em uma entrevista a Osmário, em 2005, Vilder afirmou ser: “legalmente solteiro, mas sonha aprender a tocar um instrumento musical. Comprei o pandeiro e, se aparecer alguma pandeirista para me ensinar, eu topo”(risos).”

Não sei dizer se a pandeirista apareceu.

Longa vida ao professor Vilder, rumo ao centenário.

Texto e imagem compartilhados de post do Facebook/Antonio Samarone

quinta-feira, 25 de setembro de 2025

Morre o sanfoneiro Zé Américo de Campo do Brito


Publicação compartilhada do site RADAR SERGIPE, de 25 de setembro de 2025

Morre o sanfoneiro Zé Américo de Campo do Brito

A música e a cultura sergipanas estão de luto, com a morte do sanfoneiro e comerciante Zé Américo de Campo do Brito. Dono de um restaurante no Mercado de Aracaju, era uma pessoa agradável e bastante receptiva.

A cultura sergipana e, em especial, o município de Campo do Brito, amanheceram de luto nesta quinta-feira, 25 de setembro de 2025, com a triste notícia do falecimento de José Américo Cavalcante de Souza, mais conhecido como Zé Américo de Campo do Brito. O sanfoneiro, que dedicou sua vida à preservação e celebração do autêntico forró nordestino, deixa um legado imensurável e uma lacuna profunda no cenário musical e cultural do estado.

Nascido em 1955, no pé da serra do município de Campo do Brito, no povoado de Caatinga Redonda, Zé Américo era filho de seu Albino e dona Laíza Albina. Desde a infância, o forró esteve presente em sua vida, moldando sua paixão pela música e pela cultura de sua terra. Sua trajetória musical começou de forma humilde, chegando a vender cabras e uma égua para adquirir sua primeira sanfona, um testemunho de sua dedicação inabalável à arte.

 Zé Américo não apenas tocou forró; ele viveu e respirou a essência do Nordeste. Suas canções, como a emblemática "A velha casa de farinha", retratavam com lirismo e autenticidade a vida na roça, o trabalho árduo e as tradições do povo sergipano. A música, gravada em 2005, é um retrato vívido da rotina de arrancar mandioca, tirar a manipueira e fazer beiju para vender na feira, um modo de vida que ele ajudou a eternizar através de sua arte.

 Após um período em São Paulo, onde buscou novas oportunidades, Zé Américo retornou a Sergipe em 1981, consolidando sua carreira no estado. Ele se tornou uma figura proeminente no cenário musical sergipano, participando de grandes festas e eventos, além de programas de televisão locais. O lançamento de seu CD "Sonho de um Agresteiro" marcou um ponto alto em sua carreira, projetando ainda mais seu talento e a riqueza do forró autêntico.

 Zé Américo de Campo do Brito era mais do que um sanfoneiro; ele era um embaixador da cultura sergipana. Sua música e sua presença eram sinônimos de orgulho para Campo do Brito, um município que, com aproximadamente 18.149 habitantes (censo de 2022), é um berço de tradições. Ele manteve vivo um vasto repertório que representava a alma do forró e a identidade cultural de Sergipe.

 A partida de Zé Américo deixa um vazio, mas sua voz e sua sanfona continuarão a ecoar nas memórias e nos corações de todos que tiveram o privilégio de conhecer sua obra. Seu legado, de dedicação, autenticidade e amor pela cultura nordestina, permanecerá como inspiração para futuras gerações de artistas e amantes do forró. Campo do Brito e Sergipe se despedem de um de seus maiores filhos, mas a melodia de Zé Américo será eterna.

Texto e imagens reproduzidos do  seite: radarse.com.br

quinta-feira, 18 de setembro de 2025

Morre aos 83 anos o cantor Djalma, o seresteiro de Aracaju

Foto compartilhada do Facebook/Ludwig Oliveira 

Publicação compartilhada do site F5 NEWS, de 18 de setembro de 2025

Morre aos 83 anos o cantor Djalma, o seresteiro de Aracaju

Artista deixa legado do seu amor pela música e por Sergipe que ultrapassou gerações  

Por Agência Sergipe

Morreu, nesta quinta-feira (18), aos 83 anos, o cantor sergipano Djalma Silva Oliveira, conhecido como o seresteiro de Aracaju.

Nascido no dia 26 de maio de 1942, no município de Boquim (SE), o artista se popularizou no estado com sua voz inconfundível que marcou as noites de serenata e alcançou gerações. Ele também fez parte do trio Atalaia, grupo que marcou a capital sergipana nas décadas de 1960 e 1970.

O corpo do artista será velado na Osaf localizada na rua Itaporanga, 436, a partir das 13h.

Texto e imagem reproduzidos do site: www f5news com br

segunda-feira, 1 de setembro de 2025

"Francisco José Alves: um memorável mestre", por Amâncio Cardoso

Professor Francisco José Alves, “Chico Padre”

Professor Francisco José Alves faleceu no último dia 28

Artigo compartilhado do site DESTAQUE NOTÍCIAS, de 31 de agosto de 2025

Francisco José Alves: um memorável mestre
Por Amâncio Cardoso *

No dia 28 de agosto de 2025, o campo historiográfico de Sergipe sofreu grande perda. Refiro-me ao falecimento do professor Francisco José Alves, do Departamento de História da UFS (Universidade Federal de Sergipe).

Professor Francisco dedicou toda sua vida ao ensino e à pesquisa de História desde 1987, quando ingressou na UFS como docente efetivo. Nesse ano, fui seu aluno. E ali se iniciou uma amizade. A partir de então nosso vínculo acadêmico tornou-se também fraterno.

O professor era doutor em História pela UFRJ (1998), mestre em Antropologia pela UNB (1990) e graduado em História pela UFS (1984). Estas formações superiores lhe deram arsenal teórico e metodológico para tratar de problemas no campo das Ciências Humanas com clareza e vivacidade, o que encantava seu alunado.

A importância da atuação acadêmica e intelectual do professor Francisco nas últimas décadas, frente ao Departamento de História, é muito considerável. Afirmo isto porque fui seu aluno durante a graduação, nas disciplinas de Teorias e Metodologias da História, bem como de Fundamentos de Antropologia. Além disso, ele me acompanhou com leituras minuciosas, críticas, indicações, empréstimos e doações de livros durante a minha graduação e pós-graduação.

Fui testemunha ocular do mestre que nos apresentava os clássicos incontornáveis: Karl Marx, Friedrich Nietzsche e Max Weber. Assim como, aqueles que marcaram os estudos historiográficos no mundo ocidental: Lucien Febvre, Marc Bloch, Fernand Braudel, Georges Duby, Edward Carr, Philippe Ariès, Paul Veyne, Pierre Bourdieu, Michel Foucault, Heyden White, Keith Jenkins, Peter Burke, Robert Darnton, Carlo Ginzburg, só para citar alguns.

Para além da pesquisa, ele também se preocupava, obsessivamente, com a qualidade textual ou a síntese. Assim, sempre nos recomendou a ficção clara e objetiva de Graciliano Ramos, dentre outros, como exemplo. Ou ainda, várias crônicas ou contos machadianos para os exercícios da escrita. Além de clássicos manuais de redação.

Ele também nos receitava, por exemplo, a maestria imaginativa de um Gilberto Freyre; o conhecimento farto das fontes de um Capistrano de Abreu ou a riqueza temática de um Câmara Cascudo para o tirocínio da pesquisa. E de quebra, nos apresentava a análise refinada de um Antônio Cândido; a perspicácia inovadora de um Sérgio Buarque de Holanda, para ficar no âmbito dos estudos nacionais.

Já em Sergipe, ele nos ensinou a importância da compilação de documentos feita por Felisbelo Freire e Maria Tétis Nunes, como contribuição para futuras pesquisas. Além de nos fazer perceber a importância da catalogação das fontes, como gesto generoso e útil aos futuros pesquisadores, e para a melhoria da qualidade das pesquisas, uma de suas preocupações.

Aliás, ele sempre foi grato à professora aposentada da UFS, Beatriz Góis Dantas, por lhe ensinar os caminhos da pesquisa acadêmica, tendo a mestra como referência. Francisco também admirava seu antecessor na disciplina de Teoria, José Silvério Leite Fontes (1925-2005) como uma das inteligências de nossa historiografia.

Com esta base, professor Francisco não transigia com banalidades. Ele valorizava o contato direto do neófito com as fontes de época para respirar sua ambiência, perceber seus matizes e desviar-se do anacronismo, pecado maior do historiador. Suas oficinas de uso das fontes históricas foram inesquecíveis.

Enfim, o professor era um humanista apaixonado por nossas virtualidades no passado, diretamente influenciado pelo historiador e filósofo Henri Marrou (1904-1977). Professor Francisco nos aproximava de textos sempre com a preocupação da leitura que disseca, fragmenta, querendo nos fazer perceber o método do autor, analisar seu discurso, para chegar à síntese interpretativa.

Não esquecerei quando dizia que as palavras têm sabor, têm peso, que ponderássemos seus significados. Dava-nos indicações de obras literárias ou emprestava-nos livros de sua generosa biblioteca para esmerilhar o discente na arte de pesquisar e escrever: “pois qualquer pesquisa acaba em texto”, advertia-nos.

A contribuição do professor Francisco José Alves para a formação de novos historiadores era lastreada no conhecimento de uma literatura erudita e diversificada; na consciência da precariedade da verdade histórica e no respeito às diferentes formas de concepção e vivência da cultura.

O professor também não descurava do rigor científico, cobrava do aprendiz os procedimentos e normas do ofício historiográfico. Ele também insistia, como disse, na importância das fontes como matéria fundamental de nosso ofício. Porém, seria mister ultrapassá-las com doses de interpretação e imaginação. Assim, seria preciso unir engenho e arte, ensinava.

Hoje, uma fieira de ex-alunos do mestre Francisco José Alves continua seu legado. Eles contribuem para a historiografia com trabalhos que versam sobre os mais variados problemas, objetos e abordagens.

Assim, a memória do professor Francisco permanece viva nas salas de aula de História, em Sergipe ou em outros estados, no trabalho de seus discípulos.

Obrigado, mestre! Descanse em paz.

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* Historiador

Texto e imagens reproduzidos do site: destaquenoticias com br

quinta-feira, 17 de julho de 2025

O museu de José Augusto Garcez

Foto compartilhada do Facebook/MTéSERGIPE/Eduardo Cabral

Foto reproduzida do blog: thiagofragata.blogspot.com

Artigo de Zózimo Lima, publicado no jornal 
'Correio de Aracaju', em 15 de setembro de 1951
Reprodução do blog: museuhsergipe.blogspot.com

segunda-feira, 14 de julho de 2025

Lizaldo Vieira: A poesia e a ecologia servidas na bandeja


Artigo compartilhado do site RADAR SERGIPE, de 13 de julho de 2025

Lizaldo Vieira: A poesia e a ecologia servidas na bandeja
Por Luiz Eduardo Oliva *

"A cidade dorme, os sábios brincam de ver o perigo que ronda o entorno. Muitos vacilam, oscilam para o mal, a plebe inerte, nem sente, só a vida não cochila no reinventar dos arranjos do novo amanhã que não se cansa do porvir com águas puras e correndo nas nascentes tranquilas e torneiras que enchem o pote da população...” texto poético de Lizaldo Vieira

Um dos principais nomes dos movimentos ecológicos de Sergipe começou sua vida como garçom atendendo no gabinete do reitor da Universidade Federal de Sergipe no final dos anos 1970. Da causa de servir não mais abandonou, tendo incursionado em outras áreas até vir a falecer em 7 de julho deste 2025, aos 69 anos. Era Lizaldo Vieira, poeta, ambientalista e político. 

Para dizer desse garçom que abraçou a causa da ecologia é necessário remeter um pouco à década de 1980, onde havia um pujante movimento político e cultural dentro da Universidade Federal de Sergipe marcado pela resistência à ditadura militar, pela emergência de novas expressões artísticas e movimentos sociais e pelo início de um novo pensamento voltado para a redemocratização, para os direitos humanos e pelas primeiras lutas por um meio ambiente sustentável e socialmente justo.

Aquele ambiente universitário fez surgir lideranças inovadoras que ocupariam importantes papéis da vida sergipana e brasileira nos anos 90 até os dias atuais. Marcelo Deda, Edvaldo Nogueira, Luiz Alberto, Tânia Soares (primeira deputada federal por Sergipe), Abrahão Crispim, Clímaco, Samarone, Chico Buchinho, Bosco Mendonça, Edval Góis e Lizaldo Vieira são alguns. Os dois últimos começaram como garçons servindo no gabinete do Reitor Aloísio de Campos.  Servindo cafezinho e água logo ficariam atentos ao que acontecia ao derredor e não tardaram a se integrarem aos movimentos que ali acontecia. Edval hoje é o presidente do Partido Comunista do Brasil (PC do B) e Lizaldo migraria para o movimento ecológico onde descobriu o talento para a poesia. 

Acompanhei Lizaldo desde aqueles tempos.  Nascido em Siriri foi criado na Capela e depois migrou para Aracaju. Na sua Capela fica a conhecida reserva ecológica Refúgio de Vida Silvestre Mata do Junco ou simplesmente Mata do Junco cuja biodiversidade vive constantemente ameaçada. Lizaldo abraçou a causa foi um dos fundadores do Movimento Popular Ecológico de Sergipe (MOPEC). Integrou e coordenou o Fórum em Defesa da Grande Aracaju, iniciativa voltada para o planejamento urbano.   Era presença constante em debates, eventos e movimentos ligados à preservação da natureza chegando a integrar, a nível nacional a Coordenação Nacional da Rede de ONGs da Mata Atlântica.

Na política partidária, foi um dos fundadores do Partido Verde (PV) em Sergipe e depois filiou-se ao Partido dos Trabalhadores. Em ambos disputou o cargo de vereador, embora sem sucesso em razão de um eleitorado ainda clientelista e sem percepção para a importância em eleger lideranças dedicadas ao meio ambiente.   

Na Universidade Federal de Sergipe, além do garçom, também atuou administrativamente no Departamento de Direito, no Centro de Ciências Humanas, na Prefeitura do Campus, no Departamento de Administração Acadêmica, na Divisão de Patrimônio, no Centro de Educação a Distância (CESAD) e foi chefe do Horto Florestal. Além de suas funções administrativas, representou os técnico-administrativos nos Conselhos Superiores (CONSU e CONEPE) e integrou a diretoria do Sindicato dos Trabalhadores Técnico-Administrativos da UFS (SINTUFS).

Paralelamente, mantinha uma produção poética que refletia sua sensibilidade e seu engajamento social, frequentemente compartilhada nas redes e em apresentações culturais. Em 2023 publicou o livro de poesias “Travessia de um deserto” para denunciar o descaso da humanidade para as coisas do meio ambiente. 

De garçom para ambientalista não há muitas distâncias. O garçom serve a pessoas em pequenos ambientes. O ambientalista serve a todos os seres viventes no maior dos ambientes, o planeta terra.  Lizaldo Vieira, em momentos distintos, incorporou essas duas atividades com o mesmo zelo. Na bandeja da consciência entendeu que podia servir muito mais, numa luta que nunca cessa. Na última segunda-feira partiu calmo como viveu, embora fosse irrequieto na luta pelo que acreditava. Deixou um punhado de poemas e a lição de que servir à ecologia é servir ao imenso bar que é o planeta terra. 

* Luiz Eduardo Oliva - Advogado, poeta, professor e membro da Academia Sergipana de Letras Jurídicas

Texto e imagem reproduzidos do site: radarse com br

quinta-feira, 10 de julho de 2025

Sergipe festeja 205 anos de independência da Bahia

Legenda da imagem: A cópia do decreto de Emancipação Política de Sergipe, datado de 1820, encontra-se no Palácio Museu Olímpio Campos, em Aracaju (Crédito da foto do decreto: Marcelle Cristinne)

Artigo compartilhado do site DESTAQUE NOTÍCIAS, de 8 de julho de 2025

Sergipe festeja 205 anos de independência da Bahia

Há 205 anos, no dia 8 de julho de 1820, os sergipanos receberam do Rei Dom João VI, a Carta Régia decretando a emancipação política de Sergipe do Estado da Bahia. A independência do território sergipano foi marcada por intensas lutas políticas. A historiadora e professora da Universidade Federal de Sergipe, Terezinha Alves de Oliva, relata que o tema da emancipação de Sergipe ainda é um desafio para os estudiosos. Ela conta que, em seus estudos, Felisbelo Freire descreve que alçar Sergipe a uma capitania independente foi a maneira que o Rei D. João VI encontrou para compensar a participação dos sergipanos na vitória da Corte Portuguesa sobre a Revolução Pernambucana de 1817.

O território sergipano foi conquistado em 1590 por Cristóvão de Barros. Desde então, Sergipe ficou sob a tutela da Bahia. “Durante mais de dois séculos, Sergipe foi capitania subalterna, dedicada a abastecer a capital baiana através da sua produção agropecuária, recebendo dela as autoridades, as famílias dominantes, os encargos e os produtos do seu comércio”, expõe a historiadora.

Ainda de acordo com Terezinha Oliva, somente no século XVIII a economia de Sergipe conquistou uma nova estatura com o crescimento da atividade açucareira, tornando-se visível a movimentação das exportações sergipanas pelos portos baianos.

Nas primeiras décadas do século XIX, a capitania contava com mais de duas centenas de engenhos a estabelecer relações com o comércio da Bahia, com os capitalistas que financiavam a produção e controlavam o comércio de açúcar que abasteciam o comércio de escravos e de todos os bens demandados pela sociedade açucareira.

Contestação

Com o retorno do rei a Portugal, as medidas tomadas por Dom João para emancipar Sergipe foram contestadas. Apesar da nomeação do Brigadeiro Carlos César Burlamaqui como governador de Sergipe ter ocorrido em 25 de julho de 1820, ele somente tomou posse em 20 de fevereiro de 1821. Ocorrida em São Cristóvão, a posse se deu em clima conturbado pela chegada de cartas da Bahia que determinavam que ela não se realizasse.

Apesar dos protestos baianos, a posse ocorreu em fidelidade ao Rei Dom João VI. No entanto, no dia 18 de março do mesmo ano, o governador foi deposto do cargo por uma força armada a mando da Bahia, reforçada pelo apoio da Legião de Santa Luzia, comandada pelo senhor de engenho Guilherme José Nabuco de Araújo. Carlos Burlamaqui foi conduzido preso para Salvador.

Com este episódio, frustrou-se, temporariamente, a emancipação política de Sergipe. Se por um lado os senhores de engenho não queriam a independência, por outro, líderes do agreste e do sertão, criadores de gado como Joaquim Martins Fontes e José Leite Sampaio, tomaram posição em defesa da Emancipação Política de Sergipe e, a partir de 1822, pela Independência do Brasil. “Os dois processos se confundem e confluem”, conta Terezinha Oliva.

A adesão à Independência do Brasil significou a aceitação da Emancipação de Sergipe, uma vez que o Imperador Pedro I confirmou a Carta Régia de D. João VI. “Sergipe fica politicamente separado da Bahia e torna-se uma província do Império”, diz a historiadora.

Independência econômica

A Emancipação Política de Sergipe também influenciou a economia local. A partir da independência, de acordo com o economista Ricardo Lacerda, a elite econômica e política local, ainda que relativamente frágil e incipiente, começou a diminuir sua dependência em relação à praça comercial de Salvador. Segundo ele, a base da economia de Sergipe no momento de sua emancipação destacava-se pela atividade açucareira com um grande número de engenhos em funcionamento.

“As principais lideranças políticas e econômicas eram vinculadas à atividade açucareira. Mas a pecuária ocupava uma ampla extensão do território sergipano nas áreas mais interioranas. Em torno da atividade principal, formou-se um complexo econômico distintivo, com o surgimento de casas de exportação e importação, fundamentais para o financiamento da atividade açucareira e os núcleos urbanos se adensaram e se multiplicaram na zona canavieira”, destacou.

De acordo com Lacerda, a atividade algodoeira vai se consolidar somente na segunda metade do século XIX, impulsionada pela revolução industrial inglesa e pela oportunidade surgida com o vazio de suprimento de algodão causado pela guerra civil norte-americana.

A industrialização de Sergipe se dará com a expansão da indústria têxtil nas últimas décadas do século XIX. Essas duas atividades vão dominar a economia sergipana por um longo período. Somente na segunda metade do século XX, Sergipe vai conhecer uma transformação industrial de maior vulto com a implantação da fábrica de cimento, a exploração de petróleo pela Petrobrás e mais adiante a produção de fertilizantes.

Duas datas

Pelo fato da Emancipação Política de Sergipe, em 8 de julho de 1820, ter sido bastante conturbada e contestada pelos líderes baianos e pelos senhores de engenho, a memória popular não registrou a data para festejar. Segundo Terezinha Oliva, a primeira comemoração que se tem notícia se deu no dia 24 de outubro de 1836.

“Nesta data, a festa cívico-religiosa foi marcada pelo canto do Hino de Sergipe, com letra de Manoel Joaquim de Oliveira Campos e música de Frei José de Santa Cecília. Em 1839 o dia 24 de outubro foi decretado como feriado da Emancipação”, conta.

As duas datas permaneceram como feriado: 8 de julho, data da elevação de Sergipe a Capitania Independente; 24 de outubro, data da recuperação da Independência de Sergipe consagrada pelo povo. No fim da década de 1990, a Assembleia Legislativa de Sergipe cancelou o feriado de 24 de outubro, pois a festa popular havia deixado de acontecer, e instituiu o Dia da Sergipanidade, preservando uma antiga memória ligada à Independência de Sergipe.

Texto e imagem reproduzidos do site: destaquenoticias com br

sexta-feira, 4 de julho de 2025

O legado de pai para filho


Carlos Hermínio de Aguiar Oliveira

Artigo compartilhado do site DESTAQUE NOTÍCIAS, de 27 de junho de 2025

O legado de pai para filho
Por Luiz Hermínio de Aguiar Oliveira*

Na última sexta fieira (20/06/25) ocorreu na Academia de Artes e Letras de Neópolis (ALANE) uma solenidade muito especial, em que pai e filho foram homenageados por suas brilhantes trajetórias de vida. Naquela oportunidade, Carlos Hermínio de Aguiar Oliveira ex-superintendente regional da 4ª SR da CODEVASF (1990-2000), e atual Conselheiro Representante dos Empregados no Conselho de Administração da referida empresa, tomou posse na cadeira de número 24 daquele sodalício, cujo patrono é seu saudoso pai Luiz Alves de Oliveira, Ex-Inspetor Geral do Banco do Brasil que se notabilizou pela esplêndida obra de soerguimento da Cooperativa Mista de Agricultores do Treze (Lagarto-SE) na década de 60. Naquela oportunidade, o irmão do homenageado, o Ex-reitor da UFS professor Luiz Hermínio, foi escolhido para fazer saudação ao patrono da cadeira (transcrita abaixo), por ter escrito livros sobre a biografia do seu pai, cujos exemplares foram doados para compor o acervo bibliográfico daquela instituição cultural. A “Família dos Hermínios” lotou a auditório da “ALANE” e estava em júbilo pela homenagem que lhe fora prestada através de doação de exemplares da produção literária da academia, atualmente presidida pele Exmo. Sr. Excelentíssimo Senhor Manoel Humberto Gonzaga Lima. O ineditismo desta solenidade deveu-se não somente ao fato de terem sido homenageados numa sessão pai e filho, naturalmente unidos por laços de sangue, mas sobretudo pelo compromisso que ambos assumiram em defesa das parcelas da sociedade marginalizadas do benefício do desenvolvimento socioeconômico, valorizando sempre a competência técnica e respeitando os princípios morais que devem balizar o desenvolvimento de toda sociedade. Assim, nesta solenidade não foi celebrada apenas uma continuidade geracional, mas sobretudo a força de um legado que se perpetua no tempo através do exemplo de dedicação, honradez e amor ao próximo, seguido fielmente pela Família dos Hermínio.

Discurso do Prof. Luiz Hermínio

Hoje é uma data muito especial para a nossa família. Em primeiro lugar porque testemunhamos aqui o reconhecimento do valor acadêmico, cientifico e literário do nosso irmão Carlos Hermínio de Aguiar Oliveira, empossado na cadeira de número 24, que tem como como patrono nosso saudoso pai Luiz Alves de Oliveira, referencial maior de nossa família. Os atributos curriculares do recipiendário já foram destacados no discurso de saudação proferido pelo presidente da academia o Exmo. Sr. Manoel Humberto Gonzaga Lima, no entanto gostaria de acrescentar mais algumas qualidades do mais novo membro desta academia, registradas no brilhante prefácio do livro Luzes do Farol de Cordouan para o Rio São Francisco, escrito pela nossa irmã, a Dra. Anita Hermínia de Aguiar Oliveira, professora aposentada da UFS, onde ressalta o cuidadoso zelo, com que os pais do autor o prepararam para vida e o trabalho, alimentando em seu coração sentimentos de nobreza e gratidão, para não agir com estranheza e superficialidade diante da natureza, da terra, do mar e do ser humano e acrescenta, que a mencionada obra representa uma grande contribuição para o aprimoramento da gestão das águas da bacia hidrográficas do Brasil e expressa seu amor pelo rio São Francisco. Ressalta ainda, que na construção da referida obra fica patente a genialidade do autor e sua vocacionada atuação profissional expressa pela sua fibra, moral e ética, refletidas no compromisso com as leis, Instituições, parcerias e colegas.

Este registro da prefaciante, constitui-se num farol que lança luzes sobre a qualidade da formação de nossa família, a família dos hermínios, que nos foi proporcionada por nossos pais Luiz Alves de Oliveira e Maria Hermínia de Aguiar Oliveira.

Luiz Alves nasceu no dia 14.12.1926 em Aracaju, no Bairro Siqueira Campos, filho da família humilde, em um período precoce da sua juventude foi entregador de carvão e com o dinheiro que arrecadava comprava o livro do professor para ensinar aos filhos dos ricos e com esse salutar hábito se tornou professor de português, inglês, francês, matemática e ciências contábeis. Ele foi sempre um eterno estudante, auferindo conhecimento nas mais distintas áreas do saber, o que lhe conferiu capacidade intelectual para corrigir as teses de pós-graduação de seus filhos nas diversas áreas do conhecimento cientifico tais como medicina, odontologia, geografia, educação e administração. Foi um estudioso da religião católica, estudou várias encíclicas papais e escreveu um dossiê pela canonização do Papa Pio XII de quem era fiel devoto. Todo este cabedal cultural mostra a propriedade da sua escolha como patrono da cadeira 24 deste egrégio sodalício.

Luiz Alves aos 20 anos graduou-se em Ciências Contábeis e submeteu-se a 6 concursos para o Banco do Brasil, sendo aprovado em todos eles, nos primeiros lugares, escolhendo assumir o cargo em Penedo/ Alagoas por ser a localidade mais próxima de sua família, que residia em Aracaju. Posteriormente, se transferiu para Propriá onde conheceu o amor de sua vida a bela e virtuosa Maria Hermínia, por quem dizia nutrir um amor sobrenatural. Com ela construiu uma numerosa família de 14 filhos, aos quais lhe prestaram durante as suas existências, um atenção integral e uma formação eclética pautada nos respeito aos valores humanos inspirados na solidariedade, espiritualidade, e sobretudo amor ao próximo; plantou em todos nós a semente da meritocracia, ou seja vencer pelos próprios esforços, tanto é assim que todos os filhos são graduados e vários pós-graduados, colocados profissionalmente e respeitados na sociedade sergipana pela conduta moral e contribuição cientifica e profissional para o desenvolvimento da sociedade sergipana.

No Banco do Brasil alcançou o posto máximo da carreira profissional de inspetor geral daquela instituição. Sua maior obra, que o destacou nacionalmente e o projetou internacionalmente foi o projeto de soerguimento da Cooperativa do Treze em Lagarto /Sergipe, na década de 60, quando fora designado como supervisor administrativo financeiro daquela instituição, com a missão de reaver créditos investidos pelo Banco do Brasil naquela região. No entanto, ao chegar lá, ao constatar o estado de miserabilidade dos pobres agricultores, se compadeceu ao constatar que pelo precário estado de saúde do agricultor e da infertilidade da terra não tinham condições se quer de gerar recursos para sua subsistência quanto mais para pagar as dívidas ao Banco do Brasil e assim movido pela sua fé em Deus e inspirado no espirito de solidariedade humana decidiu por conta própria construir um projeto de desenvolvimento rural integrado com base no cooperativismo, que veio a transformar aquela cooperativa, que estava beira da falência na melhor cooperativa do nordeste brasileiro em 1970 segundo do parecer técnico da SUDENE. A partir deste espetacular resultado ele passou a ser uma referência nacional em termos de Cooperativismo, tornando-se consultor e palestrante sobre o tema em várias instituições do país incluindo universidades. Todo este maravilhoso esforço foi objeto de um livro que lancei em 2017 intitulado “O Salvador do Treze” numa referência ao cognome que recebeu dos moradores daquela região, que atribuíram aos seus esforços a salvação daquela cooperativa. Posteriormente em 2023 lancei um outro livro, desta feita versando sobre sua biografia intitulado “O Grande Homem”, numa referência ao desejo, por ele sempre propalado, para que todos se tronassem através dos seus próprios esforços grandes homens e grandes mulheres. Pelo exposto, achei oportuno presentear nesta solenidade o presidente desta academia Exmo. Sr. Manoel Humberto Gonzaga e a própria Academia com um exemplar de cada obra para que possam fazer parte dos seus arquivos.

Obrigado.

* Ex-reitor da Universidade Federal de Sergipe

Texto e imagens reproduzidos do site: www destaquenoticias com br

quinta-feira, 3 de julho de 2025

'Sergipe, de fato, é o país do Forró', por Luiz Eduardo Oliva

Foto: Divulgação/internet

Artigo compartilhado do site RADAR SERGIPE, de 25 de junho de 2025

Sergipe, de fato, é o país do Forró
Por Luiz Eduardo Oliva

Quando o falecido cantor estanciano Rogério (Pedro Rogério Cardoso Barbosa) - resolveu compor a música que virou o hino “Sergipe é o país do forró” teve muito mais de desejo com uma certa dose de vaticínio, do que demonstrava a realidade da época. O sentimento do forró e das festas juninas estava impregnado na alma sergipana, mas não necessariamente com o caráter de grandiosidade que tem nos dias de hoje.

Rogerinho (como é carinhosamente lembrado) percebeu que em Sergipe o forró se fazia presente não apenas em uma localidade, em uma cidade, mas se estendia por todo o estado. À época da composição as festas juninas estavam espalhadas por todo o Sergipe, com uma ênfase maior em Capela, Areia Branca e Estância. Mas eram manifestações simplórias, à base de fogos, fogueiras e quadrilhas improvisadas. Em Aracaju sequer havia o Forró Caju que foi criado no ano de 1993. Aliás a música de Rogerinho ao se referir a Aracaju, se reportou-se apenas ao tradicional logradouro que ainda é a rua de São João: “Quando chega mês de junho/Na Rua de São de João/O Forró vai começar/ Laiá, laiá”

Vou ao Google em busca das origens da música e me deparo com uma entrevista de Rogério na Infonet: “Pensei em tantas cidades, como na Paraíba, que só tem forró mesmo em Campina Grande; Pernambuco, que só tem Caruaru; e nós, aqui em Sergipe, temos umas 12 a 15, ou 20 cidades fazendo forró ao mesmo tempo no São João. Então, eu que sempre gostei do meu Estado, lembrei de Ivan Lins dizendo assim: ‘O amor é meu país. O meu amor é o meu país’. Então eu comecei a brigar pelo forró e dizendo a todo mundo que SERGIPE É O PAÍS DO FORRÓ, que era o meu sonho de que um dia acontecesse isso” (Entrevista a Waneska Cipriano em 23/06/2002).

A música tem somente duas estrofes que se repetem várias vezes e logo cai na memória de quem canta ou ouve. Interessante observar que o título da música é “Chamego Só” e não é “Sergipe é o país do forró” como é conhecida. Aliás o título da música aparece rapidinho no segundo verso da segunda estrofe: “É a noite inteira essa brincadeira, é chamego só” numa rima distante do primeiro verso “Sergipe é o país do forró”

O fato é que o sonho de Rogerinho virou realidade, e quem haverá de duvidar que Sergipe, de fato, é o país do forró? A festa junina cresceu e em várias cidades do interior criou-se o gosto pelo São João, tipo festa de largo, muitas vezes infelizmente, descaracterizando-a com ritmos que não condizem com o forró, com o baião, com a música tipicamente nordestina. Mas arrasta multidões dando lugar também ao “piseiro” e ao “arrocha”. Acrescente-se a suntuosidade que ganharam as quadrilhas, com brilho de evolução, guardando as devidas proporções, comparáveis às escolas de samba. "Exagero” haverão de dizer. “Grandiosidade e beleza” eu insisto em afirmar.

A grandiosidade aliás que se faz tanto no “Forró Caju” (esse ano espalhado nos bairros) como no “Arraiá do Povo” (criado inicialmente como a “Vila do Forró) iniciando já em meados de maio e perpassando por todo o mês de junho, com seus mega espaços, com a imensa quantidade de shows e artistas locais e de todo o país podendo-se inclusive comparar a megaeventos como o Rock in Rio e o Lollapalooza. “Exagero,” dirão mais uma vez os desprovidos do sentimento bairrista da sergipanidade. Mas eu reafirmo: não no país do forró!

Quem vê a festa sergipana, nas suas diversas nuances, em Aracaju ou no interior e não enxerga a grandiosidade que tomou o nosso forró, consolidando o sonho do grande Rogerinho (“era o meu sonho de que um dia acontecesse isso”) não sabe discernir o “estado de espírito” em que a música criada por Luiz Gonzaga e as manifestações tradicionais do ciclo junino transformam esse que é o menor estado da federação, em um verdadeiro país: Sergipe é de fato e de direito o país do forró!   

Texto e imagem reproduzidos do site radarse com br

quinta-feira, 19 de junho de 2025

Francisco Pimentel Franco, Chico da P. Franco (1931 - 2025)

Morre o comerciante aracajuano Chico da P. Franco

Foto reproduzida do Google e postada pelo blog

Trecho de publicação compartilhada do site RADAR SERGIPE, de 19 de junho de 2025

Morre o comerciante aracajuano Chico da P. Franco, aos 93 anos

Faleceu na noite de ontem (18), o empresário Francisco Pimentel Franco, Chico da P. Franco, aos 93 anos, de morte natural, em sua residência. Segundo familiares, ele contraiu, recentemente, uma pneumonia, cuja infecção pulmonar terminou por provocar o seu falecimento. 

O velório está sendo realizado no Velatório OSAF, localizado na rua Itaporanga, e o sepultamento está previsto para às 15h, no Cemitério Santa Isabel.

Chico da P. Franco, como era conhecido, foi um dos fundadores da TV Sergipe, primeira emissora de televisão sergipana, juntamente com outros empresários do comércio aracajuano. Foi dono de uma das mais requintadas lojas do centro comercial de Aracaju, localizada na rua João Pessoa, cujas vitrines chamavam a atenção dos consumidores pela vasta quantidade de eletrodomésticos expostos e pelo esmero na apresentação dos produtos...

Texto reproduzido do site: radarse com br

domingo, 1 de junho de 2025

Cajueiro dos Papagaios e a etimologia da palavra Aracaju


Artigo compartilhado do site RADAR SERGIPE, de 17 de março de 2025

Cajueiro dos Papagaios e a etimologia da palavra Aracaju

Por Luiz Eduardo Oliva*

Cresci vendo um livro sergipaníssimo dentre tantos que meu pai ia enchendo sua estante. Era o “Cajueiro dos Papagaios” de um dos maiores intelectuais sergipanos, o médico (João Batista Peres) Garcia Moreno. Era um livro muito bem editado e impresso para os padrões da época – sem dever a nenhuma das grandes editoras do país -  sob a batuta da mais fantástica editora que em Sergipe já existiu, a Livraria Regina comandada por José Apóstolo Sobrinho.

O livro permaneceu na estante mal lido, a não ser pelo velho e bom jornalista João Oliva (à época era ele um jovem jornalista) que ao levar para a estante os escritores sergipanos nos conduziu ao gosto e ao pertencimento daquilo que hoje chamamos sergipanidade. Haveria também o neologismo “aracajuanidade”?

Recentemente recebi da diretora da Galeria de Arte Álvaro Santos, a produtora cultural Jaci Rosa Cruz, o convite para uma Roda de Conversa na programação de comemoração dos 170 anos de Aracaju: “Cajuístas, somos cajus em terra cajueiro? ”. Logo me ocorreu o velho livro do Garcia Moreno, para entender mais profundamente o que ele dizia da etimologia da palavra Aracaju. Por empréstimos o livro já não foi mais encontrado na estante ainda existente do meu pai. Recorri então ao site “Estante Virtual” e num sebo em São Paulo havia um único exemplar do almejado livro. Nem pensei duas vezes: adquiri.  

De cara, assim que me chegou a preciosidade, logo depois da “página de rosto” uma frase explicava “a melhor hipótese etimológica” para dizer o significado de Aracaju: “na língua dos primitivos donos da terra” Aracaju significa “Cajueiro dos Papagaios”. Nada mais que isso a não ser um punhado de deliciosas crônicas de uma Aracaju bucólica passando por Santos, Paris, Laranjeiras, Maruim, Itabaiana, Lisboa, Dakar.... Note-se que Garcia Moreno reconhece já nos anos 50 os hoje dizimados “primitivos donos da terra”. Valeu o livro mais pela leitura e menos pela já conhecida informação.

A rigor os estudos que apontam para o significado do nome de Aracaju vem do escritor baiano de Santo Amaro, Teodoro Sampaio (1855-1037). É na sua monumental obra “O Tupi na Geografia Nacional” (1901) no capítulo “Vocabulário Geográfico Brasileiro” que está a definição da palavra “Aracaju”. Lá a grafia da palavra está acentuada na última sílaba “ARACAJÚ”. A definição é lacônica: “Ará-acayú, o cajueiro dos papagaios. Sergipe”, nada mais.  Ao buscar, no mesmo dicionário, a palavra “Ara” encontra-se acentuada: “Ará: nome dos papagaios grandes (Psittacus) ”, ou sem acento “Ara: o fruto; o que nasce; o que se colhe” e no “Acaju” encontra-se o “Acã-yú, o pomo amarelo, o caju”. Logo a junção de “ara” com “caju” de fato significa “Cajueiro dos Papagaios”.

Há inclusive, uma explicação da razão do nome da cidade, que no 17 de março de 1855 Inácio Barbosa elevou-a à condição de capital, no mais lacônico dos decretos (dois artigos apenas) um dos quais determinante: “Fica elevado à categoria de cidade, o povoado do Santo Antônio do Aracaju na barra do Cotinguiba com a denominação de cidade do Aracaju”.

Conta-se que os primeiros moradores viam, no lugar onde hoje é a Avenida Ivo do Prado, antiga Rua da Aurora e carinhosamente chamada de “Rua da Frente” vários cajueiros em toda a sua extensão e alguns papagaios e araras pousavam nos galhos para comer e descansar. Daí o nome que une araras e papagaios ao delicioso fruto do caju: “Cajueiro dos Papagaios”. Somos seus frutos, “cajuístas”, nessa cidade que nos abriga e nos acolhe e que faz 170 anos nesse 17 de março. Como diz a poesia, “Ameríndios, europeus, africanos/Filhos e filhas do mar, do sertão, filhos baldios/Aracajuanos, matutos praianos/Astutos, ousados, arredios! ”

* Articulista Luiz Eduardo Oliva - Advogado, professor, poeta, e membro das Academias Sergipana de Letras Jurídicas e Riachãoense de Letras, Artes e Cultura.

Texto e imagem reproduzidos do site: radarse com br