segunda-feira, 14 de julho de 2025

Lizaldo Vieira: A poesia e a ecologia servidas na bandeja


Artigo compartilhado do site RADAR SERGIPE, de 13 de julho de 2025

Lizaldo Vieira: A poesia e a ecologia servidas na bandeja
Por Luiz Eduardo Oliva *

"A cidade dorme, os sábios brincam de ver o perigo que ronda o entorno. Muitos vacilam, oscilam para o mal, a plebe inerte, nem sente, só a vida não cochila no reinventar dos arranjos do novo amanhã que não se cansa do porvir com águas puras e correndo nas nascentes tranquilas e torneiras que enchem o pote da população...” texto poético de Lizaldo Vieira

Um dos principais nomes dos movimentos ecológicos de Sergipe começou sua vida como garçom atendendo no gabinete do reitor da Universidade Federal de Sergipe no final dos anos 1970. Da causa de servir não mais abandonou, tendo incursionado em outras áreas até vir a falecer em 7 de julho deste 2025, aos 69 anos. Era Lizaldo Vieira, poeta, ambientalista e político. 

Para dizer desse garçom que abraçou a causa da ecologia é necessário remeter um pouco à década de 1980, onde havia um pujante movimento político e cultural dentro da Universidade Federal de Sergipe marcado pela resistência à ditadura militar, pela emergência de novas expressões artísticas e movimentos sociais e pelo início de um novo pensamento voltado para a redemocratização, para os direitos humanos e pelas primeiras lutas por um meio ambiente sustentável e socialmente justo.

Aquele ambiente universitário fez surgir lideranças inovadoras que ocupariam importantes papéis da vida sergipana e brasileira nos anos 90 até os dias atuais. Marcelo Deda, Edvaldo Nogueira, Luiz Alberto, Tânia Soares (primeira deputada federal por Sergipe), Abrahão Crispim, Clímaco, Samarone, Chico Buchinho, Bosco Mendonça, Edval Góis e Lizaldo Vieira são alguns. Os dois últimos começaram como garçons servindo no gabinete do Reitor Aloísio de Campos.  Servindo cafezinho e água logo ficariam atentos ao que acontecia ao derredor e não tardaram a se integrarem aos movimentos que ali acontecia. Edval hoje é o presidente do Partido Comunista do Brasil (PC do B) e Lizaldo migraria para o movimento ecológico onde descobriu o talento para a poesia. 

Acompanhei Lizaldo desde aqueles tempos.  Nascido em Siriri foi criado na Capela e depois migrou para Aracaju. Na sua Capela fica a conhecida reserva ecológica Refúgio de Vida Silvestre Mata do Junco ou simplesmente Mata do Junco cuja biodiversidade vive constantemente ameaçada. Lizaldo abraçou a causa foi um dos fundadores do Movimento Popular Ecológico de Sergipe (MOPEC). Integrou e coordenou o Fórum em Defesa da Grande Aracaju, iniciativa voltada para o planejamento urbano.   Era presença constante em debates, eventos e movimentos ligados à preservação da natureza chegando a integrar, a nível nacional a Coordenação Nacional da Rede de ONGs da Mata Atlântica.

Na política partidária, foi um dos fundadores do Partido Verde (PV) em Sergipe e depois filiou-se ao Partido dos Trabalhadores. Em ambos disputou o cargo de vereador, embora sem sucesso em razão de um eleitorado ainda clientelista e sem percepção para a importância em eleger lideranças dedicadas ao meio ambiente.   

Na Universidade Federal de Sergipe, além do garçom, também atuou administrativamente no Departamento de Direito, no Centro de Ciências Humanas, na Prefeitura do Campus, no Departamento de Administração Acadêmica, na Divisão de Patrimônio, no Centro de Educação a Distância (CESAD) e foi chefe do Horto Florestal. Além de suas funções administrativas, representou os técnico-administrativos nos Conselhos Superiores (CONSU e CONEPE) e integrou a diretoria do Sindicato dos Trabalhadores Técnico-Administrativos da UFS (SINTUFS).

Paralelamente, mantinha uma produção poética que refletia sua sensibilidade e seu engajamento social, frequentemente compartilhada nas redes e em apresentações culturais. Em 2023 publicou o livro de poesias “Travessia de um deserto” para denunciar o descaso da humanidade para as coisas do meio ambiente. 

De garçom para ambientalista não há muitas distâncias. O garçom serve a pessoas em pequenos ambientes. O ambientalista serve a todos os seres viventes no maior dos ambientes, o planeta terra.  Lizaldo Vieira, em momentos distintos, incorporou essas duas atividades com o mesmo zelo. Na bandeja da consciência entendeu que podia servir muito mais, numa luta que nunca cessa. Na última segunda-feira partiu calmo como viveu, embora fosse irrequieto na luta pelo que acreditava. Deixou um punhado de poemas e a lição de que servir à ecologia é servir ao imenso bar que é o planeta terra. 

* Luiz Eduardo Oliva - Advogado, poeta, professor e membro da Academia Sergipana de Letras Jurídicas

Texto e imagem reproduzidos do site: radarse com br

quinta-feira, 10 de julho de 2025

Sergipe festeja 205 anos de independência da Bahia

Legenda da imagem: A cópia do decreto de Emancipação Política de Sergipe, datado de 1820, encontra-se no Palácio Museu Olímpio Campos, em Aracaju (Crédito da foto do decreto: Marcelle Cristinne)

Artigo compartilhado do site DESTAQUE NOTÍCIAS, de 8 de julho de 2025

Sergipe festeja 205 anos de independência da Bahia

Há 205 anos, no dia 8 de julho de 1820, os sergipanos receberam do Rei Dom João VI, a Carta Régia decretando a emancipação política de Sergipe do Estado da Bahia. A independência do território sergipano foi marcada por intensas lutas políticas. A historiadora e professora da Universidade Federal de Sergipe, Terezinha Alves de Oliva, relata que o tema da emancipação de Sergipe ainda é um desafio para os estudiosos. Ela conta que, em seus estudos, Felisbelo Freire descreve que alçar Sergipe a uma capitania independente foi a maneira que o Rei D. João VI encontrou para compensar a participação dos sergipanos na vitória da Corte Portuguesa sobre a Revolução Pernambucana de 1817.

O território sergipano foi conquistado em 1590 por Cristóvão de Barros. Desde então, Sergipe ficou sob a tutela da Bahia. “Durante mais de dois séculos, Sergipe foi capitania subalterna, dedicada a abastecer a capital baiana através da sua produção agropecuária, recebendo dela as autoridades, as famílias dominantes, os encargos e os produtos do seu comércio”, expõe a historiadora.

Ainda de acordo com Terezinha Oliva, somente no século XVIII a economia de Sergipe conquistou uma nova estatura com o crescimento da atividade açucareira, tornando-se visível a movimentação das exportações sergipanas pelos portos baianos.

Nas primeiras décadas do século XIX, a capitania contava com mais de duas centenas de engenhos a estabelecer relações com o comércio da Bahia, com os capitalistas que financiavam a produção e controlavam o comércio de açúcar que abasteciam o comércio de escravos e de todos os bens demandados pela sociedade açucareira.

Contestação

Com o retorno do rei a Portugal, as medidas tomadas por Dom João para emancipar Sergipe foram contestadas. Apesar da nomeação do Brigadeiro Carlos César Burlamaqui como governador de Sergipe ter ocorrido em 25 de julho de 1820, ele somente tomou posse em 20 de fevereiro de 1821. Ocorrida em São Cristóvão, a posse se deu em clima conturbado pela chegada de cartas da Bahia que determinavam que ela não se realizasse.

Apesar dos protestos baianos, a posse ocorreu em fidelidade ao Rei Dom João VI. No entanto, no dia 18 de março do mesmo ano, o governador foi deposto do cargo por uma força armada a mando da Bahia, reforçada pelo apoio da Legião de Santa Luzia, comandada pelo senhor de engenho Guilherme José Nabuco de Araújo. Carlos Burlamaqui foi conduzido preso para Salvador.

Com este episódio, frustrou-se, temporariamente, a emancipação política de Sergipe. Se por um lado os senhores de engenho não queriam a independência, por outro, líderes do agreste e do sertão, criadores de gado como Joaquim Martins Fontes e José Leite Sampaio, tomaram posição em defesa da Emancipação Política de Sergipe e, a partir de 1822, pela Independência do Brasil. “Os dois processos se confundem e confluem”, conta Terezinha Oliva.

A adesão à Independência do Brasil significou a aceitação da Emancipação de Sergipe, uma vez que o Imperador Pedro I confirmou a Carta Régia de D. João VI. “Sergipe fica politicamente separado da Bahia e torna-se uma província do Império”, diz a historiadora.

Independência econômica

A Emancipação Política de Sergipe também influenciou a economia local. A partir da independência, de acordo com o economista Ricardo Lacerda, a elite econômica e política local, ainda que relativamente frágil e incipiente, começou a diminuir sua dependência em relação à praça comercial de Salvador. Segundo ele, a base da economia de Sergipe no momento de sua emancipação destacava-se pela atividade açucareira com um grande número de engenhos em funcionamento.

“As principais lideranças políticas e econômicas eram vinculadas à atividade açucareira. Mas a pecuária ocupava uma ampla extensão do território sergipano nas áreas mais interioranas. Em torno da atividade principal, formou-se um complexo econômico distintivo, com o surgimento de casas de exportação e importação, fundamentais para o financiamento da atividade açucareira e os núcleos urbanos se adensaram e se multiplicaram na zona canavieira”, destacou.

De acordo com Lacerda, a atividade algodoeira vai se consolidar somente na segunda metade do século XIX, impulsionada pela revolução industrial inglesa e pela oportunidade surgida com o vazio de suprimento de algodão causado pela guerra civil norte-americana.

A industrialização de Sergipe se dará com a expansão da indústria têxtil nas últimas décadas do século XIX. Essas duas atividades vão dominar a economia sergipana por um longo período. Somente na segunda metade do século XX, Sergipe vai conhecer uma transformação industrial de maior vulto com a implantação da fábrica de cimento, a exploração de petróleo pela Petrobrás e mais adiante a produção de fertilizantes.

Duas datas

Pelo fato da Emancipação Política de Sergipe, em 8 de julho de 1820, ter sido bastante conturbada e contestada pelos líderes baianos e pelos senhores de engenho, a memória popular não registrou a data para festejar. Segundo Terezinha Oliva, a primeira comemoração que se tem notícia se deu no dia 24 de outubro de 1836.

“Nesta data, a festa cívico-religiosa foi marcada pelo canto do Hino de Sergipe, com letra de Manoel Joaquim de Oliveira Campos e música de Frei José de Santa Cecília. Em 1839 o dia 24 de outubro foi decretado como feriado da Emancipação”, conta.

As duas datas permaneceram como feriado: 8 de julho, data da elevação de Sergipe a Capitania Independente; 24 de outubro, data da recuperação da Independência de Sergipe consagrada pelo povo. No fim da década de 1990, a Assembleia Legislativa de Sergipe cancelou o feriado de 24 de outubro, pois a festa popular havia deixado de acontecer, e instituiu o Dia da Sergipanidade, preservando uma antiga memória ligada à Independência de Sergipe.

Texto e imagem reproduzidos do site: destaquenoticias com br

sexta-feira, 4 de julho de 2025

O legado de pai para filho


Carlos Hermínio de Aguiar Oliveira

Artigo compartilhado do site DESTAQUE NOTÍCIAS, de 27 de junho de 2025

O legado de pai para filho
Por Luiz Hermínio de Aguiar Oliveira*

Na última sexta fieira (20/06/25) ocorreu na Academia de Artes e Letras de Neópolis (ALANE) uma solenidade muito especial, em que pai e filho foram homenageados por suas brilhantes trajetórias de vida. Naquela oportunidade, Carlos Hermínio de Aguiar Oliveira ex-superintendente regional da 4ª SR da CODEVASF (1990-2000), e atual Conselheiro Representante dos Empregados no Conselho de Administração da referida empresa, tomou posse na cadeira de número 24 daquele sodalício, cujo patrono é seu saudoso pai Luiz Alves de Oliveira, Ex-Inspetor Geral do Banco do Brasil que se notabilizou pela esplêndida obra de soerguimento da Cooperativa Mista de Agricultores do Treze (Lagarto-SE) na década de 60. Naquela oportunidade, o irmão do homenageado, o Ex-reitor da UFS professor Luiz Hermínio, foi escolhido para fazer saudação ao patrono da cadeira (transcrita abaixo), por ter escrito livros sobre a biografia do seu pai, cujos exemplares foram doados para compor o acervo bibliográfico daquela instituição cultural. A “Família dos Hermínios” lotou a auditório da “ALANE” e estava em júbilo pela homenagem que lhe fora prestada através de doação de exemplares da produção literária da academia, atualmente presidida pele Exmo. Sr. Excelentíssimo Senhor Manoel Humberto Gonzaga Lima. O ineditismo desta solenidade deveu-se não somente ao fato de terem sido homenageados numa sessão pai e filho, naturalmente unidos por laços de sangue, mas sobretudo pelo compromisso que ambos assumiram em defesa das parcelas da sociedade marginalizadas do benefício do desenvolvimento socioeconômico, valorizando sempre a competência técnica e respeitando os princípios morais que devem balizar o desenvolvimento de toda sociedade. Assim, nesta solenidade não foi celebrada apenas uma continuidade geracional, mas sobretudo a força de um legado que se perpetua no tempo através do exemplo de dedicação, honradez e amor ao próximo, seguido fielmente pela Família dos Hermínio.

Discurso do Prof. Luiz Hermínio

Hoje é uma data muito especial para a nossa família. Em primeiro lugar porque testemunhamos aqui o reconhecimento do valor acadêmico, cientifico e literário do nosso irmão Carlos Hermínio de Aguiar Oliveira, empossado na cadeira de número 24, que tem como como patrono nosso saudoso pai Luiz Alves de Oliveira, referencial maior de nossa família. Os atributos curriculares do recipiendário já foram destacados no discurso de saudação proferido pelo presidente da academia o Exmo. Sr. Manoel Humberto Gonzaga Lima, no entanto gostaria de acrescentar mais algumas qualidades do mais novo membro desta academia, registradas no brilhante prefácio do livro Luzes do Farol de Cordouan para o Rio São Francisco, escrito pela nossa irmã, a Dra. Anita Hermínia de Aguiar Oliveira, professora aposentada da UFS, onde ressalta o cuidadoso zelo, com que os pais do autor o prepararam para vida e o trabalho, alimentando em seu coração sentimentos de nobreza e gratidão, para não agir com estranheza e superficialidade diante da natureza, da terra, do mar e do ser humano e acrescenta, que a mencionada obra representa uma grande contribuição para o aprimoramento da gestão das águas da bacia hidrográficas do Brasil e expressa seu amor pelo rio São Francisco. Ressalta ainda, que na construção da referida obra fica patente a genialidade do autor e sua vocacionada atuação profissional expressa pela sua fibra, moral e ética, refletidas no compromisso com as leis, Instituições, parcerias e colegas.

Este registro da prefaciante, constitui-se num farol que lança luzes sobre a qualidade da formação de nossa família, a família dos hermínios, que nos foi proporcionada por nossos pais Luiz Alves de Oliveira e Maria Hermínia de Aguiar Oliveira.

Luiz Alves nasceu no dia 14.12.1926 em Aracaju, no Bairro Siqueira Campos, filho da família humilde, em um período precoce da sua juventude foi entregador de carvão e com o dinheiro que arrecadava comprava o livro do professor para ensinar aos filhos dos ricos e com esse salutar hábito se tornou professor de português, inglês, francês, matemática e ciências contábeis. Ele foi sempre um eterno estudante, auferindo conhecimento nas mais distintas áreas do saber, o que lhe conferiu capacidade intelectual para corrigir as teses de pós-graduação de seus filhos nas diversas áreas do conhecimento cientifico tais como medicina, odontologia, geografia, educação e administração. Foi um estudioso da religião católica, estudou várias encíclicas papais e escreveu um dossiê pela canonização do Papa Pio XII de quem era fiel devoto. Todo este cabedal cultural mostra a propriedade da sua escolha como patrono da cadeira 24 deste egrégio sodalício.

Luiz Alves aos 20 anos graduou-se em Ciências Contábeis e submeteu-se a 6 concursos para o Banco do Brasil, sendo aprovado em todos eles, nos primeiros lugares, escolhendo assumir o cargo em Penedo/ Alagoas por ser a localidade mais próxima de sua família, que residia em Aracaju. Posteriormente, se transferiu para Propriá onde conheceu o amor de sua vida a bela e virtuosa Maria Hermínia, por quem dizia nutrir um amor sobrenatural. Com ela construiu uma numerosa família de 14 filhos, aos quais lhe prestaram durante as suas existências, um atenção integral e uma formação eclética pautada nos respeito aos valores humanos inspirados na solidariedade, espiritualidade, e sobretudo amor ao próximo; plantou em todos nós a semente da meritocracia, ou seja vencer pelos próprios esforços, tanto é assim que todos os filhos são graduados e vários pós-graduados, colocados profissionalmente e respeitados na sociedade sergipana pela conduta moral e contribuição cientifica e profissional para o desenvolvimento da sociedade sergipana.

No Banco do Brasil alcançou o posto máximo da carreira profissional de inspetor geral daquela instituição. Sua maior obra, que o destacou nacionalmente e o projetou internacionalmente foi o projeto de soerguimento da Cooperativa do Treze em Lagarto /Sergipe, na década de 60, quando fora designado como supervisor administrativo financeiro daquela instituição, com a missão de reaver créditos investidos pelo Banco do Brasil naquela região. No entanto, ao chegar lá, ao constatar o estado de miserabilidade dos pobres agricultores, se compadeceu ao constatar que pelo precário estado de saúde do agricultor e da infertilidade da terra não tinham condições se quer de gerar recursos para sua subsistência quanto mais para pagar as dívidas ao Banco do Brasil e assim movido pela sua fé em Deus e inspirado no espirito de solidariedade humana decidiu por conta própria construir um projeto de desenvolvimento rural integrado com base no cooperativismo, que veio a transformar aquela cooperativa, que estava beira da falência na melhor cooperativa do nordeste brasileiro em 1970 segundo do parecer técnico da SUDENE. A partir deste espetacular resultado ele passou a ser uma referência nacional em termos de Cooperativismo, tornando-se consultor e palestrante sobre o tema em várias instituições do país incluindo universidades. Todo este maravilhoso esforço foi objeto de um livro que lancei em 2017 intitulado “O Salvador do Treze” numa referência ao cognome que recebeu dos moradores daquela região, que atribuíram aos seus esforços a salvação daquela cooperativa. Posteriormente em 2023 lancei um outro livro, desta feita versando sobre sua biografia intitulado “O Grande Homem”, numa referência ao desejo, por ele sempre propalado, para que todos se tronassem através dos seus próprios esforços grandes homens e grandes mulheres. Pelo exposto, achei oportuno presentear nesta solenidade o presidente desta academia Exmo. Sr. Manoel Humberto Gonzaga e a própria Academia com um exemplar de cada obra para que possam fazer parte dos seus arquivos.

Obrigado.

* Ex-reitor da Universidade Federal de Sergipe

Texto e imagens reproduzidos do site: www destaquenoticias com br

quinta-feira, 3 de julho de 2025

'Sergipe, de fato, é o país do Forró', por Luiz Eduardo Oliva

Foto: Divulgação/internet

Artigo compartilhado do site RADAR SERGIPE, de 25 de junho de 2025

Sergipe, de fato, é o país do Forró
Por Luiz Eduardo Oliva

Quando o falecido cantor estanciano Rogério (Pedro Rogério Cardoso Barbosa) - resolveu compor a música que virou o hino “Sergipe é o país do forró” teve muito mais de desejo com uma certa dose de vaticínio, do que demonstrava a realidade da época. O sentimento do forró e das festas juninas estava impregnado na alma sergipana, mas não necessariamente com o caráter de grandiosidade que tem nos dias de hoje.

Rogerinho (como é carinhosamente lembrado) percebeu que em Sergipe o forró se fazia presente não apenas em uma localidade, em uma cidade, mas se estendia por todo o estado. À época da composição as festas juninas estavam espalhadas por todo o Sergipe, com uma ênfase maior em Capela, Areia Branca e Estância. Mas eram manifestações simplórias, à base de fogos, fogueiras e quadrilhas improvisadas. Em Aracaju sequer havia o Forró Caju que foi criado no ano de 1993. Aliás a música de Rogerinho ao se referir a Aracaju, se reportou-se apenas ao tradicional logradouro que ainda é a rua de São João: “Quando chega mês de junho/Na Rua de São de João/O Forró vai começar/ Laiá, laiá”

Vou ao Google em busca das origens da música e me deparo com uma entrevista de Rogério na Infonet: “Pensei em tantas cidades, como na Paraíba, que só tem forró mesmo em Campina Grande; Pernambuco, que só tem Caruaru; e nós, aqui em Sergipe, temos umas 12 a 15, ou 20 cidades fazendo forró ao mesmo tempo no São João. Então, eu que sempre gostei do meu Estado, lembrei de Ivan Lins dizendo assim: ‘O amor é meu país. O meu amor é o meu país’. Então eu comecei a brigar pelo forró e dizendo a todo mundo que SERGIPE É O PAÍS DO FORRÓ, que era o meu sonho de que um dia acontecesse isso” (Entrevista a Waneska Cipriano em 23/06/2002).

A música tem somente duas estrofes que se repetem várias vezes e logo cai na memória de quem canta ou ouve. Interessante observar que o título da música é “Chamego Só” e não é “Sergipe é o país do forró” como é conhecida. Aliás o título da música aparece rapidinho no segundo verso da segunda estrofe: “É a noite inteira essa brincadeira, é chamego só” numa rima distante do primeiro verso “Sergipe é o país do forró”

O fato é que o sonho de Rogerinho virou realidade, e quem haverá de duvidar que Sergipe, de fato, é o país do forró? A festa junina cresceu e em várias cidades do interior criou-se o gosto pelo São João, tipo festa de largo, muitas vezes infelizmente, descaracterizando-a com ritmos que não condizem com o forró, com o baião, com a música tipicamente nordestina. Mas arrasta multidões dando lugar também ao “piseiro” e ao “arrocha”. Acrescente-se a suntuosidade que ganharam as quadrilhas, com brilho de evolução, guardando as devidas proporções, comparáveis às escolas de samba. "Exagero” haverão de dizer. “Grandiosidade e beleza” eu insisto em afirmar.

A grandiosidade aliás que se faz tanto no “Forró Caju” (esse ano espalhado nos bairros) como no “Arraiá do Povo” (criado inicialmente como a “Vila do Forró) iniciando já em meados de maio e perpassando por todo o mês de junho, com seus mega espaços, com a imensa quantidade de shows e artistas locais e de todo o país podendo-se inclusive comparar a megaeventos como o Rock in Rio e o Lollapalooza. “Exagero,” dirão mais uma vez os desprovidos do sentimento bairrista da sergipanidade. Mas eu reafirmo: não no país do forró!

Quem vê a festa sergipana, nas suas diversas nuances, em Aracaju ou no interior e não enxerga a grandiosidade que tomou o nosso forró, consolidando o sonho do grande Rogerinho (“era o meu sonho de que um dia acontecesse isso”) não sabe discernir o “estado de espírito” em que a música criada por Luiz Gonzaga e as manifestações tradicionais do ciclo junino transformam esse que é o menor estado da federação, em um verdadeiro país: Sergipe é de fato e de direito o país do forró!   

Texto e imagem reproduzidos do site radarse com br

quinta-feira, 19 de junho de 2025

Francisco Pimentel Franco, Chico da P. Franco (1931 - 2025)

Morre o comerciante aracajuano Chico da P. Franco

Foto reproduzida do Google e postada pelo blog

Trecho de publicação compartilhada do site RADAR SERGIPE, de 19 de junho de 2025

Morre o comerciante aracajuano Chico da P. Franco, aos 93 anos

Faleceu na noite de ontem (18), o empresário Francisco Pimentel Franco, Chico da P. Franco, aos 93 anos, de morte natural, em sua residência. Segundo familiares, ele contraiu, recentemente, uma pneumonia, cuja infecção pulmonar terminou por provocar o seu falecimento. 

O velório está sendo realizado no Velatório OSAF, localizado na rua Itaporanga, e o sepultamento está previsto para às 15h, no Cemitério Santa Isabel.

Chico da P. Franco, como era conhecido, foi um dos fundadores da TV Sergipe, primeira emissora de televisão sergipana, juntamente com outros empresários do comércio aracajuano. Foi dono de uma das mais requintadas lojas do centro comercial de Aracaju, localizada na rua João Pessoa, cujas vitrines chamavam a atenção dos consumidores pela vasta quantidade de eletrodomésticos expostos e pelo esmero na apresentação dos produtos...

Texto reproduzido do site: radarse com br

domingo, 1 de junho de 2025

Cajueiro dos Papagaios e a etimologia da palavra Aracaju


Artigo compartilhado do site RADAR SERGIPE, de 17 de março de 2025

Cajueiro dos Papagaios e a etimologia da palavra Aracaju

Por Luiz Eduardo Oliva*

Cresci vendo um livro sergipaníssimo dentre tantos que meu pai ia enchendo sua estante. Era o “Cajueiro dos Papagaios” de um dos maiores intelectuais sergipanos, o médico (João Batista Peres) Garcia Moreno. Era um livro muito bem editado e impresso para os padrões da época – sem dever a nenhuma das grandes editoras do país -  sob a batuta da mais fantástica editora que em Sergipe já existiu, a Livraria Regina comandada por José Apóstolo Sobrinho.

O livro permaneceu na estante mal lido, a não ser pelo velho e bom jornalista João Oliva (à época era ele um jovem jornalista) que ao levar para a estante os escritores sergipanos nos conduziu ao gosto e ao pertencimento daquilo que hoje chamamos sergipanidade. Haveria também o neologismo “aracajuanidade”?

Recentemente recebi da diretora da Galeria de Arte Álvaro Santos, a produtora cultural Jaci Rosa Cruz, o convite para uma Roda de Conversa na programação de comemoração dos 170 anos de Aracaju: “Cajuístas, somos cajus em terra cajueiro? ”. Logo me ocorreu o velho livro do Garcia Moreno, para entender mais profundamente o que ele dizia da etimologia da palavra Aracaju. Por empréstimos o livro já não foi mais encontrado na estante ainda existente do meu pai. Recorri então ao site “Estante Virtual” e num sebo em São Paulo havia um único exemplar do almejado livro. Nem pensei duas vezes: adquiri.  

De cara, assim que me chegou a preciosidade, logo depois da “página de rosto” uma frase explicava “a melhor hipótese etimológica” para dizer o significado de Aracaju: “na língua dos primitivos donos da terra” Aracaju significa “Cajueiro dos Papagaios”. Nada mais que isso a não ser um punhado de deliciosas crônicas de uma Aracaju bucólica passando por Santos, Paris, Laranjeiras, Maruim, Itabaiana, Lisboa, Dakar.... Note-se que Garcia Moreno reconhece já nos anos 50 os hoje dizimados “primitivos donos da terra”. Valeu o livro mais pela leitura e menos pela já conhecida informação.

A rigor os estudos que apontam para o significado do nome de Aracaju vem do escritor baiano de Santo Amaro, Teodoro Sampaio (1855-1037). É na sua monumental obra “O Tupi na Geografia Nacional” (1901) no capítulo “Vocabulário Geográfico Brasileiro” que está a definição da palavra “Aracaju”. Lá a grafia da palavra está acentuada na última sílaba “ARACAJÚ”. A definição é lacônica: “Ará-acayú, o cajueiro dos papagaios. Sergipe”, nada mais.  Ao buscar, no mesmo dicionário, a palavra “Ara” encontra-se acentuada: “Ará: nome dos papagaios grandes (Psittacus) ”, ou sem acento “Ara: o fruto; o que nasce; o que se colhe” e no “Acaju” encontra-se o “Acã-yú, o pomo amarelo, o caju”. Logo a junção de “ara” com “caju” de fato significa “Cajueiro dos Papagaios”.

Há inclusive, uma explicação da razão do nome da cidade, que no 17 de março de 1855 Inácio Barbosa elevou-a à condição de capital, no mais lacônico dos decretos (dois artigos apenas) um dos quais determinante: “Fica elevado à categoria de cidade, o povoado do Santo Antônio do Aracaju na barra do Cotinguiba com a denominação de cidade do Aracaju”.

Conta-se que os primeiros moradores viam, no lugar onde hoje é a Avenida Ivo do Prado, antiga Rua da Aurora e carinhosamente chamada de “Rua da Frente” vários cajueiros em toda a sua extensão e alguns papagaios e araras pousavam nos galhos para comer e descansar. Daí o nome que une araras e papagaios ao delicioso fruto do caju: “Cajueiro dos Papagaios”. Somos seus frutos, “cajuístas”, nessa cidade que nos abriga e nos acolhe e que faz 170 anos nesse 17 de março. Como diz a poesia, “Ameríndios, europeus, africanos/Filhos e filhas do mar, do sertão, filhos baldios/Aracajuanos, matutos praianos/Astutos, ousados, arredios! ”

* Articulista Luiz Eduardo Oliva - Advogado, professor, poeta, e membro das Academias Sergipana de Letras Jurídicas e Riachãoense de Letras, Artes e Cultura.

Texto e imagem reproduzidos do site: radarse com br

quarta-feira, 28 de maio de 2025

Morre aos 98 anos Monsenhor Carvalho - JE

'Adeus, Padre Carvalho', por Lilian Rocha

Post compartilhado do Facebook/Lilian Rocha, de 27 de maio de 2025

Adeus, Padre Carvalho 
Por Lilian Rocha

Ele me chamava de "mamãe", embora tivesse 32 anos a mais que eu. Ele dizia que era por causa do meu jeito, muito maternal. 

Já ele me lembrava meu avô. Não fisicamente, nem tampouco no jeito de ser, mas sim, nas muitas vezes em que subi ao refeitório para almoçar com ele. Era naquele ambiente simples dele que eu reencontrava meu avô. 

No papagaio que nos esperava na subida da longa escada, na mobília antiga, nas travessas em que eram servidas as comidas, na beterraba da salada e, principalmente, no guardanapo que ele amarrava no pescoço para não sujar a camisa,  sempre impecavelmente branca e bem engomada. 

Ali ele se despia da autoridade e se deixava ser como gostava. Ali, a conversa corria frouxa. Ele relembrava fatos de sua infância, repetia as frases cheias de sabedoria de sua avó (que eu já sabia de cor) e, entre uma garfada e outra, insistia para que eu comesse mais um pouco. 

Mas tudo isso acontecia em meio a um entra e sai frenético de funcionários do colégio, que aproveitavam aquele horário para "despachar" com ele de maneira mais rápida.  

Nunca o vi repelindo ninguém, nem pedindo pra voltar depois. Ele sempre atendia a todos, mesmo tendo que sacrificar alguns momentos do seu precioso horário de almoço. 

O refeitório era, na verdade, a extensão do seu gabinete, ou, melhor dizendo, o "atalho". Se a gente quisesse lhe pedir autorização para alguma coisa mais urgente, ali era, sem dúvida, o melhor lugar. 

Já saíamos dali com meio caminho andado e de barriga cheia, ainda por cima...

Mas nós nos conhecemos muitos anos antes. Entrei como aluna do 1 ano ginasial em 1969, com apenas 10 anos de idade.  Quando o colégio era pequeno ainda, habitado também por seminaristas que moravam no segundo andar. 

Entrei quando a farda ainda era saia plissada cinza, blusa branca e sapato preto Vulcabrás...

Quando o speedball do pátio das mangueiras era nosso maior sonho de consumo...

Quando Morena comandava a cantina e a doce e silenciosa Irmã Augusta enfeitava as capas dos nossos trabalhos com sua bela letra... 

Vi a farda se transformar em calça jeans e tênis, vi o sino se transformar em música nos intervalos e as aulas de inglês se tornarem mais modernas com recursos de audiovisual.  

Mas quando chegou o dia de ir embora, nem olhei pra trás. Saí como se o mundo fosse meu, aos 17 anos, achando que nunca mais voltaria ali.  

Mas voltei. Vinte anos depois, formada, casada e com cinco filhos, todos crianças. 

Voltei a convite dele. Queria que eu fosse professora de português e Literatura do Ensino Médio e, nas horas vagas, uma "espécie de mãe para os alunos".

Aceitei na hora.  

Meu velho colégio agora tinha se transformado numa pequena "cidade", de 4300 alunos, que tinha piscina, quadra, auditório, capela, marcenaria, livraria e tantas coisas mais. 

Mas a aluna que tanto queria ser professora nunca deixou de ser aluna. 

Um pedaço meu havia ficado ali, naqueles antigos corredores de azulejos verde e amarelo, naquela enorme escada vermelha que tantas vezes me viu chorando as mágoas do primeiro amor.   

E foi com esse mesmo amor de aluna que fiz gerar em mim a professora que eu sempre quis ser. Entusiasmada pelo meu trabalho, apaixonada pelos meus milhares de alunos e sempre atenta às necessidades do meu querido colégio. 

Não fui apenas professora. Fui mãe também, como ele havia me pedido pra ser. Mãe de alunos, mãe de pais de alunos, mãe de professores e até de alguns funcionários que, vez ou outra, me pediam ajuda. Vezes sem

conta, subi ao refeitório para interceder pessoalmente por algum deles...

Tudo fiz para retribuir aquele singelo convite que mudaria a minha vida para sempre.

Fiz do Arqui a extensão da minha casa. Fui professora, orientadora, redatora de jornal, produtora de peças de teatro, diretora da associação de ex-alunos, criadora do Memorial do Arqui. Durante 20 anos esqueci de mim mesma para viver o Arqui.

Mas tudo passa, nada dura para sempre.

Hoje se foi meu velho Padre Carvalho, o último vínculo que me prendia ao Arqui. 

Mas vai o homem, fica a história. 

Mas eu não fui ali me despedir do fundador e diretor de um dos maiores colégios do estado, do homem que fez história na educação de Sergipe e que formou centenas de milhares de "cidadãos capazes, dignos e verdadeiros discípulos de Cristo".

Fui ali me despedir do homem simples do refeitório, que chupava laranja depois do almoço e que me lembrava meu avô. 

E que vai me encher de saudade, sempre que eu encontrar alguém almoçando com um guardanapo amarrado ao pescoço... 

Com a gratidão e o carinho da sua "mamãe",

Lilian Rocha (27.05.25)

Texto e imagem reproduzidos do Facebook/Lilian Rocha

terça-feira, 27 de maio de 2025

"Monsenhor Carvalho (93 anos)", por Antônio Samarone

Artigo compartilhado do BLOG DE SAMARONE, de 1 de dezembro de 2019

Gente Sergipana – Monsenhor Carvalho (93 anos).
Por Antônio Samarone

José Carvalho de Souza Nasceu em Lagarto, em 24 de novembro de 1926. Filho de Joaquim Vieira Souza e Maria Carvalho de Souza. A mãe faleceu durante o seu parto. O padre Carvalho foi criado pela avó materna, dona Joana Rosa do Amor Divino.

O Padre Carvalho apreendeu as primeiras letras com a professora Maria de Cerqueira Teles, na Escola Nossa Senhora Auxiliadora. Concluiu o primário no Grupo Escolar Sílvio Romero.

O menino José Carvalho tentou aprender o ofício de alfaiate, com seu Miguel, não deu certo. Não aprendeu chulear. Tentou ser sapateiro, com o mestre Sabino, também não conseguiu. Só encheu as pernas de calo, batendo sola.

José Carvalho aprendeu um pouco de música, chegou a tocar trompa, na Lira Popular de Lagarto.

Como não se deu com o artesanato, a avó mandou o menino para a fazenda do tio, conhecido por seu Maroto, para tomar conta de terras e gado. Também não deu certo.

Depois de tentar vários caminhos, José Carvalho resolve ser padre. A avó não acreditava, achava que ele não gostava de estudar. Mas o destino estava traçado, em 14 de fevereiro de 1946, aos 20 anos, matriculou-se no Seminário de Aracaju. O reitor do Seminário era o Monsenhor Olívio Teixeira.

Concluído o curso de humanidades no Seminário de Aracaju, transferiu-se (em 1950) para o Seminário da Paraíba onde cursou filosofia. Em 1953, procurando uma melhor formação, foi buscar o Seminário do Rio Grande Sul para estudar teologia. Ordenou-se sacerdote em 02 de dezembro de 1956, na cidade do Lagarto.

Dado a sua competência e interesse pela educação, o novo padre José Carvalho, no ano seguinte (1957), já seria nomeado vice-reitor do Seminário Diocesano de Aracaju. E no mesmo ano, assumiu a reitoria do Seminário. Começava uma carreira de educador.

Em 1960, o padre José Carvalho fundou o Educandário Arquidiocesano Sagrado Coração, depois Colégio, que organizou, tornando-o um dos melhores colégio de Sergipe. O Padre Carvalho foi o seu diretor até 2012, quando de forma nunca esclarecida, a Arquidiocese de Aracaju pôs fim a uma brilhante jornada. A decisão da Arquidiocese foi, no mínimo, uma profunda ingratidão.

A vida do Monsenhor Carvalho foi o Colégio Arquidiocesano, 52 anos de dedicação.

Fui professor de ciências e biologia no Colégio Arquidiocesano por cinco anos. O ensino da teoria da evolução nos cursos de biologia em Sergipe é recente, data da década de 1970. O livro de biologia adotado passou a ser o “Biological Science Curriculum Study (BSCS)”, versão verde e azul, em português, onde a base teórica da biologia passava a ser a teoria da evolução e a genética.

Pensei, estou numa enrascada. Como ensinar a teoria da evolução, com a sua visão materialista da origem da vida, num Colégio Católico? Procurei o Monsenhor Carvalho, diretor do Colégio e expus o dilema. Ele foi sucinto e claro: “você ensina biologia e eu ensino o catecismo”. Uma aula de arejamento pedagógico.

Outro exemplo da grandeza do Monsenhor Carvalho se deu no episódio da expulsão de alguns alunos da Escola Pública (Atheneu) por “subversão”, durante os anos de chumbo da ditadura. Os meninos ficariam com o futuro comprometido sem acesso à escola. O Monsenhor Carvalho, um homem conservador, de imediato resolveu a pendência, aceitou a matrícula dos “subversivos” no Arquidiocesano.

O Monsenhor Carvalho engrandece a galeria dos grandes educadores de Sergipe.

Como Pastor, tenho saudade das suas missas ao final das tardes dos sábados, transmitidas pela Rádio Cultura. A sua voz arrastada, com ênfase nas sílabas finais das palavras, ecoavam nos quatro cantos de Sergipe, divulgando o evangelho.

Parabéns ao pastor e educador José Carvalho de Souza.

Texto e imagem reproduzidos do blogdesamarone blogspot com

Monsenhor José Carvalho de Souza: 50 anos de compromisso com a educação

Artigo compartilhado do site EM PAUTA UFS, 3 de dezembro de 2009

Monsenhor José Carvalho de Souza: 50 anos de compromisso com a educação

Por Catarina Schneider

Monsenhor José Carvalho de Souza, 83 anos, é um nome de referência em Aracaju. Conhecido por fundar o Colégio Arquidiocesano desde 1º de março de 1960 e pela sua visão cristã moderna, é tido como um grande educador. Nascido em 24 de novembro de 1926, é bem humorado e bastante acessível, dando-se muito bem com os adolescentes e as crianças. Nascido na cidade de Lagarto, órfão de mãe desde o seu nascimento, foi criado pelos avós e tios. Desde a sua infância já pensava em ser padre. Estudou em uma escola católica, “Dona Maria Teles”, e gostava bastante de prestar atenção nas pregações que os padres faziam e de ajudar as missas como coroinha, o que demonstra sua vocação para o sacerdócio. Porém, seus tios fizeram uma pressão muito grande e ele acabou desistindo da idéia. Quando completou 17 anos, teria que vir para Aracaju cursar o ginásio no colégio Tobias Barreto em regime de internato, já que não existia segundo grau na sua cidade. Como não queria, sua avó o mandou pra fazenda. Lá ele tomou gosto pelos animais e tornou-se muito apto naquilo. “Tinha 36 cabeças de gado e sempre trocava animais com meu tio”, conta todo orgulhoso. Em uma venda de ferreiro onde levava o material da fazenda para o conserto, perto da casa onde morava em Lagarto, tinham dois adventistas (religiosos que guardam o sábado ao invés do domingo) que ficavam criticando a igreja católica. Como tinha princípios religiosos, Monsenhor Carvalho, objetivava-os discordando do que falavam. Então, uma pergunta trouxe à tona o que estava adormecido. “Eles me perguntaram se eu já havia lido a Bíblia e eu disse que não, aí eles falaram que foi por isso que eu acreditava na igreja católica, pois ela deixou de pregar a língua de Deus para pregar a língua dos homens. Naquele mesmo dia eu comprei o Novo Testamento e comparei o que tinha aprendido na escola e na igreja”, relembra. Assim, foi se apegando à igreja, ao Evangelho e voltando a freqüentar as missas. No dia 8 de setembro de 1945, na hora do jantar, seu tio o interperou: “Eu pedi a preferência da fazenda pra você e você não disse se quer ou não comprá-la, então se decida porque venderá para outra pessoa”. Então, ele disse : “Se meu avô, Zacarias da Silva Junior, em vez de me dar a fazenda, quiser custiar a despesa no seminário, prefiro ir para lá”. Sua avó não apoiou muito, pois dizia que nunca gostara de estudar e nunca havia perseverado com nada.

Porém, aquilo era o que ele realmente queria e prometeu estudar e prosperar. Assim, seu avô cedeu para ele ir ao seminário. Foi uma bomba na cidade. Filho de fazendeiro, um menino novo como outro qualquer, abandonar tudo isso e ingressar no seminário aos 19 anos. No dia 20 de fevereiro de 1946 começou uma vida de estudo e dedicação que toda a sua vontade o fez chegar ao nível dos outros em um só semestre, terminando o seminário em apenas cinco anos. Em seguida, fez um curso de Filosofia na Universidade Católica de Pernambuco em dois anos. Logo depois, o bispo escreveu dizendo que queria que ele fizesse teologia em outro lugar para o sacerdócio, e o indicou para o Rio Grande do Sul para o Seminário Maior de São Leopoldo, para onde foi. Tendo ainda uma passagem pela Faculdade de Ciências e Letras de São João Del Rei (MG), onde recebera o Diploma de Administração Escolar (outra vocação latente que lhe serviria de base para mais tarde implantar uma das mais renomadas escolas de Sergipe – O Arquidiocesano). No dia dois de dezembro de 1956, o bispo o nomeou para ser vice-reitor do seminário que assumiu aqui em Aracaju. No dia 12 de março ele o transferiu para reitor do seminário e logo depois fundou o colégio Arquidiocesano com a intenção de trazer uma formação para jovens que também não se destinavam ao sacerdócio. O objetivo geral do seu trabalho é estimular os alunos para que e eles se tornem felizes, capazes e iluminados, para que prosperem aqui e na eternidade. “Ser uma pessoa justa, com fé, que queira bem ao trabalho, tenha o suficiente para viver, seja solidário e atenda as necessidades dos outros: isso é o que tento passar para eles”, conta. Coordenador e diretor do colégio mais antigo de Aracaju que completa no próximo ano 50 anos, tem sua história relatada num enorme acervo de placas, medalhas, prêmios e reconhecimento do excelente trabalho que vem exercendo para o Arqui e famílias que depositam sua confiança na educação que o Monsenhor Carvalho se propõe dar todos os dias.

Texto e imagem reproduzidos do site: empautaufs wordpress com

Nação Arqui presta homenagem ao Monsenhor José Carvalhode Souza

Artigo compartilhado do site COLÉGIO ARQUI, de 8 de novembro de 2022  

Nação Arqui presta homenagem ao Monsenhor José Carvalhode Souza

No último dia 11 de outubro de 2022, terça-feira, nosso colégio prestou uma homenagem ao Fundador e Diretor do Arqui por mais de 50 anos, o Monsenhor José Carvalho de Sousa. Para marcar essa importante data, reunimos os novos Diretores do Colégio, a equipe de Gestão, ex-funcionários, ex-alunos e toda a nossa comunidade escolar. Os estudantes e equipe do 3º ano do Fundamental Anos Iniciais até o Ensino Médio, fizeram um lindo corredor humano, esperando ansiosos e emotivos a chegada do Ilustre homenageado, na entrada do colégio.

A cerimônia aconteceu no Pátio das Mangueiras e foi transmitida ao vivo pelo nosso canal do Instagram com a presença da Banda da Polícia Militar de Sergipe. A Gerente de Marketing do Colégio Master, Thiara Meneses, iniciou a cerimônia convidando a Equipe Diretiva para recebê-lo na entrada do Colégio. Em seguida, o toque do antigo colégio foi tocado e numa emoção muito grande, todos bateram palmas e acenaram para o Monsenhor que passava por todos no corredor até a chegada deles no Busto, colocado no Pátio em homenagem também a ele.

Em seguida, o Diretor Geral, Jorge Mitidieri, proferiu a palavra: “ Existem certos fatos na nossa vida que, por tão inusitados que são, acabam por se apresentar como  prova viva dos desígnios do Criador. Eu, assim, como muitos que aqui estão presentes, ex-aluno do Colégio Arquidiocesano, do 6º Ano à 3ª Série do Médio, ex-professor de Matemática da escola por 25 anos, jamais poderia imaginar que um dia seria procurado por corretores para sondar o interesse do Grupo Master em adquirir o Arquidiocesano, com 62 anos de existência. Isso se deu, de forma surpreendente, em meados do ano de 2021.

 Após as tratativas com a Arquidiocese de Aracaju, oportunidade na qual expressei o duplo interesse de adquirir esta unidade da Farolândia e, mesmo sendo uma nova escola que se iniciava, manter o nome ARQUI, para dar continuidade a sua belíssima história, deu-se a confirmação do negócio, inédito na educação sergipana: a aquisição de uma escola por um outro grupo educacional local, grupo este que tem entre seus integrantes ex-alunos do Arquidiocesano.

Tenho falado muito, neste último ano, a alunos, pais, ex-alunos, da minha história no Colégio Arquidiocesano e também um pouco da grandiosidade desse exemplar estabelecimento de ensino, que foi fundado em 1960. ”

Seguiu falando de sua trajetória e ligação com o Colégio e com o Monsenhor: “ Por fim, a última mensagem que desejo transmitir, de coração, ao senhor é a da gratidão. Obrigado por tudo que o senhor fez para a educação sergipana. Obrigado por tudo que o senhor fez por mim e por minha família. Obrigado por tudo de bom que o senhor proporcionou a tanta gente, algumas delas aqui presentes. E jamais poderíamos prestar esta singela homenagem, com essas placas que acabamos de descerrar, sem a presença das crianças e jovens que foram sempre a razão de ser da sua existência. A propósito, há uma frase do Padre Carvalho, e com ela quero encerrar minhas palavras, que é de uma sabedoria imensa: “as crianças são a manifestação visível da face invisível de Deus”.

Muito obrigado, Padre Carvalho, Este momento não é nada em face da grandeza de sua vida dedicada à educação e ao Colégio Arquidiocesano!

 Placas foram descerradas no saguão do Prédio A, o qual recebeu seu nome e uma linda homenagem com a seguinte frase: “A Nação Arqui existe, perpassando gerações inteiras desde 1960, porque teve à frente um visionário, um idealista: o Monsenhor José Carvalho de Sousa. E a expressão da sociedade sergipana para esse verdadeiro educador, dos maiores da nossa terra, é a Gratidão: Muito Obrigado por tudo!”

 Em seguida, o Monsenhor falou muito emocionado e felicíssimo, segundo ele por estar participando da homenagem em vida e vendo que a promessa se cumpriu por parte dos novos diretores. Ao som da Banda, o Monsenhor foi conhecer os ambientes, salas, viu o corredor principal do prédio com sua foto e toda a sua trajetória no Colégio.

 Por fim, os estudantes da Educação Infantil ao 2º ano, participaram da segunda parte da homenagem com a apresentação do Coral, entrega de flores e muitos registros com o Monsenhor. Foi uma manhã muito especial para todos que fizeram e fazem parte do Colégio Arqui!

Texto e imagem reproduzidos do site: colegioarqui cloudvp6 com br

Monsenhor Carvalho e o Colégio Arquidiocesano


Publicação comparrtilhada do site ARQUIDIOCESANO, de 31 de janeiro de 2020  
               
Monsenhor Carvalho e o Colégio Arquidiocesano

Não é uma vida qualquer. Não é um sacerdote qualquer. Monsenhor José Carvalho de Souza, lagartense, é uma das figuras mais notórias do clero sergipano. Um empreendedor. Um homem que se devotou à educação como complemento de sua atividade sacerdotal. O ministério presbiteral para o qual ele foi chamado, ainda em Lagarto, poderia ter sido bem sucedido por si mesmo, sem a necessidade de um complemento. Bastaria isso para torná-lo exemplar. Todavia, o sacerdote tinha inclinação para o magistério, outro sacerdócio, e para o empreendedorismo. Daí ter fundado o Colégio Arquidiocesano Sagrado Coração de Jesus, em 1960, como educandário, depois ginásio e colégio, que liderou a educação de crianças, adolescentes e jovens da nossa capital por décadas a fio, até a sua saída da diretoria do Colégio, em 2012, quando muitas outras escolas já haviam surgido em franca concorrência com o ARQUI, como era natural.

Gerações de sergipanos passaram por suas mãos, como professor e como diretor. O carinho que muita gente lhe dedica, é compreensível. Alunos, professores, funcionários, pais de alunos. Uma legião enorme o aclama. Justamente. Quaisquer tributos que lhe possam ser prestados, ainda são poucos diante do muito que ele realizou.

Há homens que fazem a diferença em suas atividades laborais. O Monsenhor é um desses homens, cuja vida se diferencia de muitos outros homens, de muitos outros sacerdotes.

No dia 24 de novembro último, Monsenhor Carvalho completou 93 anos de vida. Mas, a comemoração se deu no sábado, 29, com a celebração de Missa em Ação de Graças, na Capela do Colégio Arquidiocesano, a casa do Monsenhor, seguindo-se o lançamento do livro de Karine Belchior de Souza, cujo título é “Mons. José Carvalho de Souza – Uma Vida, Uma Obra”. Na oportunidade, também foram comemorados os 63 anos de sua ordenação sacerdotal.

O Colégio Arquidiocesano, pós 2012, passou por situações de declínio e de busca da devida estabilidade. Esta última situação começou a desenhar-se a partir de quando o padre Valtewan ocupou a sua direção administrativa. Tem sido uma luta!

No fim do ano passado, dois alunos do Colégio Arquidiocesano foram aprovados no vestibular da Universidade Tiradentes – UNIT (2020.1), no primeiro e no segundo lugares gerais, desbancando todos os alunos de todos os outros colégios, até aqueles que se dizem “top de linha”. Ora, não seja por isso: o ARQUI é, também, “top de linha”. Aí estão os resultados. Aprovações em Medicina, Direito, Engenharias e tantos outros cursos. No total de alunos do Arquidiocesano que prestaram o vestibular da UNIT, 96% (noventa e seis por cento) foram aprovados. Inclusive, alunos do 2º e até do 1º ano do ensino médio lograram aprovação, mostrando a força do ensino que é ministrado no ARQUI e a competência dos alunos.

Nas mais diversas Olimpíadas do conhecimento, científicas e escolares, os resultados em favor do Colégio Arquidiocesano foram inestimáveis. Muitas conquistas, muitas medalhas de ouro, prata e bronze, além de menções honrosas para os alunos do ARQUI na OBI- Olimpíada Brasileira de Informática; OBR – Olimpíada Brasileira de Robótica; ONC- Olimpíada Nacional de Ciências; OBQ- Olimpíada Brasileira de Química; OBQJr- Olimpíada Brasileira de Química Júnior; OBMEP- Olimpíada Brasileira de Matemática; OBA- Olimpíada Brasileira de Astronomia.

E nos esportes? O Colégio Arquidiocesano vinha, por anos a fio, com colocações longínquas dos primeiros lugares, nas competições disputadas. Em 2018, melhorou bastante. Porém, em 2019, o avanço foi formidável. Dentre os principais feitos, em disputas de caráter estadual ou nacional, destaca-se a conquista de 28 primeiros lugares, 13 segundos lugares e 10 terceiros lugares, em diversas modalidades esportivas (basquete, vôlei, vôlei de praia, GR, GA, judô, karatê, xadrez, tênis de mesa, natação e futsal), somando 178 medalhas de ouro, 116 de prata e 112 de bronze. Além disso, um professor e um aluno integram a seleção brasileira de karatê.

Em Sergipe, o ARQUI é a única instituição licenciada pela NBA Basketball School. O contrato com a NBA deu um salto enorme de qualidade aos atletas. E a escolinha da NBA está aberta a tantos quantos de qualquer estabelecimento de ensino queiram se aprimorar. Monsenhor Carvalho pode exultar, pois o Colégio Arquidiocesano, a sua casa, está retomando o lugar que sempre foi seu. Daqui pra frente, são esperadas melhorias cada vez mais acentuadas. Há, ainda, muitos desafios a vencer. Todavia, nenhum caminho é aplainado sem que sejam retiradas as pedras que causam obstáculos.

Quem ler o livro que trata da biografia do Monsenhor Carvalho, vai compreender que alguns obstáculos enfrentados nos dias atuais pelo ARQUI, já o eram no tempo do seu fundador, e, mais, de perto, nos anos finais da sua direção, como a inadimplência, a evasão de alunos para novas escolas que foram surgindo etc. São situações que muitas escolas enfrentam pelo país afora. Mas, o ARQUI continua a sua marcha como expoente da educação básica particular em Sergipe. Que dure muito mais do que os 60 anos, a serem completados em março próximo.

E que Monsenhor Carvalho seja sempre reconhecido e agraciado pelo que ele construiu, pelo que ele representa para a Igreja Católica e pelo que ele é.

 (Publicado no Jornal da Cidade, Aracaju, 18 a 20 de janeiro de 2020, coluna Brasil/Opinião A-7)

Texto reproduzido do site: arquidiocesano cloudvp3 com br

Corpo do monsenhor Carvalho será sepultado em Aracaju

Foto de Rozendo Aragão

Publicação compartilhada do site DESTAQUE NOTÍCIAS, de 27 de maio de 2025

Corpo do monsenhor Carvalho será sepultado em Aracaju

O corpo do monsenhor José Carvalho de Souza, 98 anos, será sepultado, às 14h30 desta terça-feira (27), no Cemitério Santa Izabel, em Aracaju. O religioso morreu, ontem (26), em um hospital particular onde estava internado há dois meses para tratar uma infecção respiratória. O velório acontece no Centro de Evangelização Cultura, localizado na rua Propriá, nº 222, no Centro de Aracaju. O local funciona anexo à Rádio Cultura/FM, que durante muitos anos foi dirigida pelo monsenhor.

Nascido em 24 de novembro de 1926 em Lagarto, monsenhor Carvalho perdeu a mãe ainda na infância e foi criado pelo avô, o coronel Zacarias. Decidiu-se pelo sacerdócio nos anos 1940, contrariando as expectativas locais que apontavam o caminho da vida rural como o mais promissor para jovens da cidade.

Fundou um colégio

Ingressou no Seminário Arquidiocesano de Aracaju e prosseguiu os estudos em centros de excelência, como o Seminário de São Leopoldo, no Rio Grande do Sul, e a Universidade Católica de Pernambuco. Também formou-se em Administração Escolar em Minas Gerais, área que o prepararia para uma de suas missões mais emblemáticas: a fundação do Colégio Arquidiocesano.

O Educandário Sagrado Coração de Jesus nasceu em 1959 em uma das salas do seminário, na Praça Camerino. Em 1960, mudou-se para a Rua Dom José Thomaz, consolidando-se como Ginásio Diocesano. Sob sua liderança, a escola tornou-se uma das mais respeitadas do Estado, referência de excelência acadêmica e formação cristã. Afastou-se da direção em 2012, após mais de meio século à frente da instituição.

Além da atuação no ensino, monsenhor Carvalho ocupou cargos relevantes na vida eclesiástica e pública. Foi vice-reitor e reitor do Seminário Sagrado Coração de Jesus, membro do Conselho Estadual de Cultura, diretor-presidente da Rádio Cultura de Sergipe e cônego catedrático do Cabido Metropolitano da Arquidiocese de Aracaju.

Em 2002, o religioso recebeu o título de Monsenhor, concedido pelo Papa João Paulo II, a pedido de Dom José Palmeira Lessa. No mesmo espírito de reconhecimento, foi homenageado pelo Governo de Sergipe com a Medalha da Ordem do Mérito Parlamentar (2007), a Comenda Daltro (2011) e o título de Honra ao Mérito Educacional (2015).

Texto reproduzido do site: destaquenoticias com br

Velório e sepultamento do Monsenhor José Carvalho

Publicação compartilhada da ARQUIDIOCESE DE ARACAJU, de 26 de maio de 2025

Velório e sepultamento do Monsenhor José Carvalho serão nesta terça em Aracaju

Velório do monsenhor José Carvalho será realizado a partir das 7h desta terça-feira, 27, no Centro de Evangelização Cultura, localizado na Rua Propriá, nº 222, no Centro de Aracaju. O local funciona anexo à Rádio Cultura FM.

No mesmo horário, será celebrada a missa de corpo presente. A missa de sepultamento está marcada para as 14h30 e será presidida pelo arcebispo metropolitano de Aracaju, Dom Josafá Menezes da Silva.

O sepultamento ocorrerá às 16h, no Cemitério Santa Isabel.

Texto e imagem reproduidos do site: arquidiocesedearacaju org

Faleceu Monsenhor José Carvalho de Souza

 

Legenda da foto: Assim que tomou posse na Arquidiocese de Aracaju, Dom Josafá fez uma visita ao Monsenhor em agosto de 2024 - (Crédito da foto: Arquivo Arquidiocese de Aracaju).

Publicação compartilhada da ARQUIDIOCESE DE ARACAJU, de 26 de maio de 2025

Faleceu Monsenhor José Carvalho de Souza, uma das maiores referências do catolicismo em Sergipe.

O povo sergipano se despede de uma de suas maiores referências. Diretor do Colégio Arquidiocesano e voz marcante da fé no Estado, por meio da Rádio Cultura, o sacerdote deixa legado de mais de seis décadas de serviço religioso, educacional e cultural.

Faleceu nesta segunda-feira, dia 26, aos 98 anos, o Monsenhor José Carvalho de Souza. O religioso estava internado em um hospital particular de Aracaju, há cerca de dois meses, para tratar uma infecção respiratória.

O Velório está marcado para acontecer no Centro de Evangelização Cultura, Rua Propriá – 222, a partir das 7h da manhã. Neste mesmo horário será celebrada a Missa de corpo presente. Ainda não há informações sobre o sepultamento.

A Arquidiocese de Aracaju e a Rede Cultura de Comunicação lamentam com pesar o falecimento do Monsenhor José Carvalho de Souza

Seu Legado

Nascido em 24 de novembro de 1926, perdeu a mãe ainda na infância e foi criado pelo avô, o coronel Zacarias. Decidiu-se pelo sacerdócio nos anos 1940, contrariando as expectativas locais que apontavam o caminho da vida rural como o mais promissor para jovens da cidade.

Ingressou no Seminário Arquidiocesano de Aracaju e prosseguiu os estudos em centros de excelência, como o Seminário de São Leopoldo, no Rio Grande do Sul, e a Universidade Católica de Pernambuco. Também formou-se em Administração Escolar em Minas Gerais, área que o prepararia para uma de suas missões mais emblemáticas: a fundação do Colégio Arquidiocesano.

O Educandário Sagrado Coração de Jesus nasceu em 1959 em uma das salas do seminário, na Praça Camerino. Em 1960, mudou-se para a Rua Dom José Thomaz, consolidando-se como Ginásio Diocesano. Sob sua liderança, a escola tornou-se uma das mais respeitadas do Estado, referência de excelência acadêmica e formação cristã.

Afastou-se da direção em 2012, após mais de meio século à frente da instituição. Deixou, porém, marcas profundas e insuperáveis na memória de gerações de alunos e educadores.

Além da atuação no ensino, Monsenhor Carvalho ocupou cargos relevantes na vida eclesiástica e pública. Foi vice-reitor e reitor do Seminário Sagrado Coração de Jesus, membro do Conselho Estadual de Cultura, diretor-presidente da Rádio Cultura de Sergipe e cônego catedrático do Cabido Metropolitano da Arquidiocese de Aracaju.

Em 2002, recebeu o título de Monsenhor, concedido pelo Papa João Paulo II, a pedido de Dom José Palmeira Lessa. No mesmo espírito de reconhecimento, foi homenageado pelo Governo de Sergipe com a Medalha da Ordem do Mérito Parlamentar (2007), a Comenda Daltro (2011) e o título de Honra ao Mérito Educacional (2015).

Publicou o livro Presença Participativa da Igreja Católica na História dos 150 anos de Aracaju, em 2006. Tornou-se imortal da Academia Lagartense de Letras em 2013, ocupando a cadeira número 10.

Figura marcante nas novenas de Nossa Senhora da Piedade, padroeira de Lagarto, teve o privilégio de encerrar as festividades por muitos anos. Era reconhecido pela retórica firme, pela voz grave e pelo domínio das Escrituras, traços herdados de seu mestre espiritual, padre Frederico Loufer. Sua vida também foi objeto de estudo acadêmico.

Em quase sete décadas de vida sacerdotal, Monsenhor Carvalho foi símbolo de fé, dedicação e serviço. Seu nome permanece vivo na memória dos que convivem com os frutos de sua obra — nos altares, nas salas de aula e nas páginas da cultura sergipana.

Texto e imagem reproduidos do site: arquidiocesedearacaju org

Nota de Pesar pelo falecimento do Monsenhor José Carvalho de Souza

Nota compartilhada da ARQUIDIOCESE DE ARACAJU, de 26 de maio de 2025

Nota de Pesar pelo falecimento do Monsenhor José Carvalho de Souza

Nota de Pesar

Com profundo pesar e esperança cristã na Ressurreição, a Arquidiocese de Aracaju comunica o falecimento do estimado Monsenhor José Carvalho de Souza, ocorrido nesta segunda-feira, 26 de maio. Aos 98 anos, Monsenhor Carvalho encerra sua peregrinação terrena, deixando um legado extraordinário de quase sete décadas dedicadas ao serviço religioso, educacional e cultural ao povo sergipano.

Diretor do Colégio Arquidiocesano e voz marcante da fé, por meio da Rádio Cultura, Monsenhor Carvalho foi um incansável anunciador do Evangelho, cuja vida e obra marcaram profundamente nossa Arquidiocese. Logo após assumir o pastoreio desta Igreja Particular, em agosto de 2024, tive a alegria e a honra de visitá-lo pessoalmente, testemunhando de perto seu testemunho de fé e compromisso sacerdotal exemplar.

Sua memória permanecerá viva em nossos corações e nos frutos de sua ação pastoral, educacional e cultural. Consola-nos saber que sua vida foi sinal de entrega e fidelidade. Acolhido agora nos braços do Bom Pastor, permanece entre nós o testemunho de um sacerdote que amou com intensidade a Igreja e o povo que lhe foi confiado.

Que Nossa Senhora da Conceição, padroeira desta Arquidiocese, interceda pelo descanso eterno de Monsenhor José Carvalho e conforte os corações de todos os que sentem sua partida.

Em Cristo Ressuscitado,

Dom Josafá Menezes da Silva

Arcebispo Metropolitano de Aracaju

Texto e imagem reproduidos do site: arquidiocesedearacaju org

segunda-feira, 19 de maio de 2025

A saga dos Paes Mendonça: de supermercados aos shoppings

João Carlos Paes Mendonça é presidente do grupo, do 
conselho de administração e estrategista do JCPM

Mamede foi o primeiro Paes Mendonça a empreender na Bahia 
Crédito: Correio da Bahia

A Rede Paes Mendonça chegou a ter 87 lojas em Salvador 
Crédito: Correio da Bahia

O primeiro supermercado Paes Mendonça de Aracaju foi construído 
na praça da Estação Rodoviária Luiz Garcia

O Shopping RioMar, primeiro de Aracaju, pertencente ao Grupo JCPM

 Artigo compartilhado do site DESTAQUE NOTÍCIAS, de 19 de maio de 2025

A saga dos Paes Mendonça: de supermercados aos shoppings.
Por Donaldson Gomes

Pedro teve a ideia de oferecer uma caneca com água para os viajantes que passavam pela sua mercearia em Ribeirópolis, um povoado na Serra do Machado, em Sergipe. Aquele local provavelmente não seria o escolhido para um negócio de varejo com base nas ferramentas modernas de marketing que hoje guiam as grandes redes na escolha da melhor localização. Foi a inovação do pioneiro da família Paes Mendonça, de saciar a sede como um algo mais no negócio, que fez daquele local o berço do Grupo JCPM – hoje um dos maiores conglomerados empresariais do Nordeste, que tem na sua sigla as iniciais do filho de Pedro: João Carlos Paes Mendonça.

Na última segunda-feira (dia 12), a mercearia de Pedro Paes Mendonça ganhou vida novamente, para o espanto generalizado de quem estava na festa de celebração dos 90 anos do grupo. Além do balcão, com as lamparinas para iluminar as noites em 1935, estava ali a projeção holográfica do próprio Pedro, com a voz recriada por inteligência artificial, dando conselhos aos filhos e netos em relação ao futuro. “Uma caneca de água nos trouxe até aqui”, destacou a projeção com um realismo impressionante. Era apenas o início de uma ode ao empreendedorismo sertanejo que marca a história dos Paes Mendonça, que partiram da Serra do Machado para conquistar os principais mercados nordestinos.

Na Bahia, o mais conhecido representante da família foi Mamede Paes Mendonça, irmão de Pedro e tio de João Carlos. Muitos anos antes do “ali, pertinho do Bompreço”, já existia o “se precisar de alguma coisa, vai no Paes Mendonça”, rede que chegou a ter 86 lojas somente na capital baiana. Em Feira de Santana, as unidades que ficavam perto da rodoviária e a do bairro do Sobradinho eram garantia de encontrar com facilidade produtos normalmente vistos nas grandes capitais.

Na década de 90, a rede vendeu as 59 lojas que ainda lhe restavam para um grupo de investidores, que criou a Unimar, encerrando a trajetória da marca no estado. O sobrenome Paes Mendonça, entretanto, seguiu vivo no varejo supermercadista por mais tempo, com a marca Bompreço, de Pedro e João Carlos. Hoje, o Grupo JCPM mantém dois dos principais shoppings centers da capital baiana, o Salvador e o Salvador Norte.

A emoção de ver a imagem do pai projetada fez o seu João Carlos quebrar rapidamente o protocolo. Tinha um discurso escrito, mas olhou para o Teatro RioMar, dentro do shopping de mesmo nome construído por ele, respirou e disse, sem muito sucesso ao tentar conter a emoção: “é duro minha gente, receber a indicação do meu pai do que fazer. Ele voltou para nos dizer o que fazer”.

“Esta é uma noite para celebrar os encontros de uma família forte e guerreira”, destacou João Carlos, já lendo o discurso. Segundo ele, o pai , que por toda a sua vida tinha se dedicado ao campo, não imaginava que estava plantando a semente de um gigantesco grupo empresarial. Mais cedo, numa conversa informal com jornalistas, o empresário atribuiu à capacidade de inovação o sucesso empresarial da família. Neste sentido, se o pai teve a ideia de oferecer água aos passantes, João Carlos, com o Bompreço, foi o responsável por colocar no mercado o cartão de crédito Hipercard e o Bomclube, um dos primeiros cartões fidelidade no ramo supermercadista do Brasil.

Nem é preciso que seu João Carlos argumente muito para provar a capacidade de inovação do Grupo JCPM. Num país em que apenas 0,01% das empresas chegam ao primeiro século de atividade, sobreviver por 90 anos, driblando planos econômicos e a insegurança jurídica, que são marcas do Brasil, demonstram que há algo diferente na empresa. E foi justamente esta certeza que fez o empresário de 86 anos encerrar as suas palavras em Recife convidando os presentes para a celebração do centenário do JCPM.

Gratidão é uma palavra muito presente no discurso e nas ações do empresário. O tio Mamede foi lembrado na história do grupo por ter ajudado, junto com outros empresários locais, Pedro e João Carlos a reconstruírem um armazém que foi incendiado em 1949. A solidariedade se sobrepôs à lógica concorrencial e gerou uma gratidão que ultrapassou décadas.

O incêndio é contado no primeiro capítulo do livro ‘JCPM – O grupo e a trajetória de João Carlos Paes Mendonça, o empresário que gosta de gente, de trabalho e de mudar a vida das pessoas’. Seu Pedro precisou conter o filho, na época com 20 anos, para evitar que ele tentasse enfrentar as labaredas. “Se entrar, você morre”. A biografia, escrita pelo jornalista Saulo Moreira, faz questão de registrar os nomes de quem estendeu a mão no momento crítico. Mamede e Euclides, irmãos de Pedro, o concorrente Gentil Barbosa, além de amigos da família, como Antônio e Manoel Andrade, estão entre os que se fizeram presentes. Antônio avisou à sua tesouraria que todos os recursos pedidos por João deveriam ser providenciados.

Há dois capítulos que merecem ser lidos com muita atenção. O número 6 conta a história do Bompreço, do seu nascimento nos anos 70, passando pela conquista do Nordeste, até o final da saga nos anos 2000. No 10º, o recomeço do grupo traz o retorno de seu João Carlos a Salvador. Destaques para a história da compra do terreno em que seria construído o Hiper Bompreço na Avenida ACM e, anos mais tarde, do Salvador Shopping, na Avenida Tancredo Neves, com um investimento de R$ 300 milhões na época – quase R$ 1 bilhão em valores atualizados. Alguns anos depois, foi a vez do Salvador Norte, com investimento de R$ 200 milhões (cerca de R$ 516 milhões em números atuais).

O advogado João Paulo Cavalcante Filho, responsável pelo prefácio do livro, diz que a obra conta “a história improvável de um menino que trocou sua infância pela aventura (quase insana) de conquistar o mundo”. E não há nada de exagero nestas palavras. João Carlos gosta de repetir que começou a trabalhar aos 9 anos e fez questão de comprovar isso durante a comemoração pelos 90 anos do grupo. Ao entregar uma placa comemorativa para Isaias de Assis Oliveira, 89 anos, fez questão de registrar: “este daqui é a única prova viva de que eu comecei a trabalhar com 9 anos, porque ele começou com 11 na mesma época que eu. Todas as outras testemunhas já estão em um outro plano”.

Idade para se aposentar ele já tem, mas parar não está nos planos do presidente do grupo, do conselho de administração e o principal estrategista do JCPM. “Espero viver até os 100 anos para continuar discutindo estratégia e expandir o trabalho de compromisso com as pessoas e as novas gerações”, projeta.

Apesar do protagonismo empresarial, seu João diz não gostar muito de aparecer. Diante de quase 20 jornalistas, ele, que é dono do Sistema Jornal do Commercio de Comunicação, avisa o diretor Laurindo Ferreira que na edição da última terça-feira (dia 13) estavam liberadas fotos dele e da esposa, Auxiliadora. “Eu acho o trabalho dos cronistas sociais uma coisa formidável, mas não gosto de aparecer lá”, riu. “Estou a 35 anos perdendo dinheiro com jornal”, diz.

Num momento de autocrítica, seu João afirma que um dos seus principais erros na atividade empresarial foi entrar em mercados em que não tinha conexão. Talvez por isso tenha concentrado suas atividades em Pernambuco, Ceará, Sergipe, sua terra natal, e Bahia. Em todos estes mercados, o empresário destaca, sem precisar de pesca, os investimentos já realizados e os planos para o futuro.

Em Salvador, ele enfatizou o trabalho social desenvolvido pelo Instituto JCPM nos bairros de Pernambués e São Cristóvão. Em Salvador, os institutos formam todos os anos entre 3,5 mil e 4 mil jovens em cursos de formação profissional ou de preparação para o Enem.

Na área empresarial, anunciou uma expansão de 10 mil metros quadrados no Salvador Norte. Além de ampliar o espaço para estacionamentos, o aumento servirá para abrigar a primeira unidade do Mix Mateus na capital baiana e de mais duas mega lojas, cujas bandeiras não foram anunciadas por ele. “Um aumento de 10 mil metros não é pouca coisa. Aquela área (o bairro de São Cristóvão), é simples, economicamente não é tão forte, mas um dia será”, acredita.

Apesar do olhar para o futuro e da enorme capacidade de inovação, o empresário guarda pelo menos uma semelhança com empresários mais tradicionais: não gosta de trabalhar com níveis elevados de alavancagem em seus negócios. Em resumo, não gosta de pagar juros elevados. “Me perguntam muito sobre as condições da economia. Eu tenho um amigo reclamando muito dos juros. Quem reclama de juros altos é quem está tomando crédito. Para mim está baixo, porque eu estou investindo”, diz.

O cuidado em relação à busca de crédito, explica, se dá pelo perfil do negócio de shopping, que João Carlos acredita ser de risco. “Somos alugadores de espaços. Estamos entre as quatro maiores empresas deste tipo no Brasil e entendemos que quem fatura neste negócio são os lojistas e não nós. As nossas receitas crescem o IGP-M (índice de referência para reajustes de aluguéis no país)”, afirma.

Para o empresário, a indústria de shoppings precisa acompanhar as mudanças nos hábitos dos consumidores, mas ele não vê o negócio como ameaçado pelo avanço do e-commerce ou das ferramentas digitais. “Não se pode negar que o avanço do e-commerce é uma bronca para os negócios, com produtos chineses entrando em todos os mercados. Mas tem uma coisa que o shopping é capaz de oferecer: o calor. O consumidor quer tocar, sentir o cheiro, e o e-commerce é frio”, compara.

“Nós pensamos os nossos shoppings como espaços para as pessoas conviverem. Estamos crescendo em serviços, lazer e restaurantes”, explica.

Fonte: Site Correio da Bahia

Texto e imagens reproduzidos do site: destaquenoticia com br