Foto reproduzida do blog: conselhodeculturase.blogspot.com
e
postada pelo blog SERGIPE..., para ilustrar o presente artigo
Texto publicado originalmente no site do JORNAL DO DIA, em 21/03/2018
Fernando Soutelo e a memória cultural de Sergipe
Por Claudefranklin Monteiro Santos* e Raianne Pereira de
Oliveira**
Enquanto as pessoas se debatem e debatem sobre o Largo da
Gente Sergipana, a meu nosso ver uma
iniciativa bastante legítima, um personagem se destaca e merece a nossa
atenção, sobretudo quando o assunto é memória cultural.
Prestes a completar 70 anos de idade, em plena forma
intelectual, Luís Fernando Ribeiro Soutelo, filho de pais sergipanos, Antônio
Ribeiro Soutello (Santa Luzia do Itanhy) e Maria Luíza Ribeiro Soutello
(Estância), nasceu na cidade do Rio de Janeiro, no dia 15 de junho de 1949.
Sua avó paterna, Arabela Ribeiro Soutelo, ficou viúva com
pouco mais de dois anos de casada. Depois de doze anos resolveu se casar
novamente, com outro português, e foi morar no Rio de Janeiro, em 1935,
juntamente com o pai de Soutelo. Lá, fez o resto do ginásio, fez o curso que
naquela época era o atual segundo grau, e fez o vestibular para Engenharia no
Rio de Janeiro. Fez, também, em Juiz de Fora, e começou o primeiro período, se
transferindo para a Capital Federal. Desde os quinze anos namorava com a sua
mãe, casaram e foram morar por lá até 1952, quando resolveram mudar-se para
Sergipe, na Fazenda Castelo, em Santa Luzia Itanhy. Soutelo tinha três anos
incompletos. Ali viveu boa parte de sua infância, numa prole de seis irmãos,
entre eles: Luís, Paulo César, Arabela.
A família vivia na usina. Começou a estudar com a avó
materna, que o ensinou o ABC e depois passou a estudar na Escola Antônio
Vieira, que era uma instituição mantida pela usina para os filhos dos
funcionários. Depois foi morar em Estância, e estudou no Instituto Dom Quirino,
quando foi colega do médico Paulo Amado, recém-eleito imortal da Academia
Sergipana de Letras.
Eles foram colegas de turma e dividiram o mesmo banco. De
lá, foi pra Aracaju, fazer exame de qualificação, permanecendo até então.
Estudou no Ginásio de Aplicação, na Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe,
atual prédio do IPES, na Rua de Campos. Sua aptidão inicial era o Direito,
depois decidiu fazer economia.
Sua significativa trajetória cultural deu início no
jornalzinho do mural do Aplicação. Em 1964, a Professora Lindalva Cardoso
Dantas criou uma coisa que chamava "Clube de Ciências", onde também
desenvolvida atividades de redator.
No ano seguinte, foi
para o Atheneu, fazer o "Curso Clássico", num prédio da Praça Graccho
Cardoso. Ali, foi membro da Arcádia Estudantil do Colégio Estadual de Sergipe,
ocupando uma cadeira que tinha como patrono Joaquim Nabuco.
Ainda nos anos 60, antes da arcádia, em 13 de março de 1966,
esteve no grupo (João de Barros - "barrinhos", José Roriz Silva, José
Lacerda de Oliveira, Djaldino Mota Moreno, João Ferreira Lima, Garibaldi
Nascimento e Carlos Alberto Porto) que criou a Associação Sergipana de Cultura
- ASC. Era uma entidade que promovia atividades culturais, como, por exemplo, a
primeira exposição de Adalto Machado
Foi aluno da primeira turma de economia que entrou na UFS,
em 1968. O curso funcionava no prédio da Justiça Federal, na Praça Camerino. Na
ocasião, foi estagiário da "CONDESE" - uma divisão de estudos e
pesquisas. No ano seguinte, foi trabalhar na Prefeitura de Aracaju, como
oficial de gabinete do prefeito Aloísio Campos. Isso até 1970, quando foi para
o Palácio do Governo, na Casa Civil.
Em 1971, na posse do Governador Paulo Barreto de Menezes,
recebeu um desafio, que foi o de ser Secretário de Imprensa do Gabinete do
Governador, adentrando numa área que irá marcou sua carreira por longos anos: o
cerimonial
Por ocasião do
Sesquicentenário da Independência, acompanhou a chegada dos restos mortais de
Dom. Pedro I e participou ativamente daquela efeméride. Era a porta de entrada
para o ambiente cultural da Sergipanidade. Em 1972 e 1973, foi economista da
"Telergipe", depois Energipe.
Em 1974, esteve também envolvido em outra importante
efeméride da memória cultural de Sergipe: os 400 anos da presença jesuítica.
Naquela ocasião, Urbano de Oliveira Lima Neto lhe comunicou que ele o havia
indicado para o Conselho de Cultura, quando ficou até 1980. Em outras ocasiões,
retornou à instituição, ocupando diversas funções, entre elas a de Presidente
(1979-1986). Em 2015, encerrou sua longa trajetória por lá, para se dedicar à
última administração municipal de João Alves, em Aracaju.
No Governo de Djenal Queiroz em 1982, retomou a atividade de
cerimonial como chefe do gabinete do Secretário de Indústria e Comércio. Daí em
diante, esteve nos governos de João Alves, saindo com Valadares, quando foi
trabalhar com Luís Antônio Barreto, na Fundação Joaquim Nabuco, retornando a
Sergipe em 1988, para a Energipe.
Em 1991, voltou para o cerimonial com João Alves, ficando
ainda no período de Albano.
Atualmente, tem atuado mais de perto na Academia Sergipana
de Letras. Frequenta o Sodalício desde os anos 70, mas só se tornou seu membro
em 1985. Sua posse se deu no dia 05 de novembro daquele ano e foi recebido por
seu amigo, o saudoso Luiz Antônio Barreto. À época, era Presidente Luiz Antônio
Garcia.
Também é sócio do Instituto Histórico desde os anos 70.
Chegou à Casa de Sergipe, onde hoje faz parte da atual Diretoria, por
intermédio da Professora Maria Thétis Nunes, que havia sido sua professora de
Geografia Econômica no primeiro ano de Faculdade e por quem passou a nutrir uma
grande estima, logo uma amizade de longa data.
Em todos os lugares por onde passou, Fernando Soutelo
adquiriu o hábito de ler, anotar e consultar as principais fontes da História
de Sergipe, produzindo inúmeros textos, capítulos de livro e pareceres do
Conselho Estadual de Cultura, estes últimos, primorosas peças da mais alta
qualidade, um verdadeiro banquete para pesquisadores.
Frente ao exposto, qualquer investida no campo da memória
cultural sergipana terá que ter como mote um mergulho na lavra literária e
intelectual de Luiz Fernando Ribeiro Soutelo. Talvez assim, discussões em torno
do Largo da Gente Sergipana possam se tornar mais lúcidas e menos barulhentas,
movidas unicamente pela marca identitária que enverga e representa.
* Claudefranklin Monteiro Santos é professor doutor da UFS;
** Raianne Pereira de Oliveira é mestranda em História da
UFS.
Texto reproduzido do site: jornaldodiase.com.br
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