sábado, 8 de janeiro de 2022

Fernando Soutelo – Uma distinta definição de imortalidade

Legenda/crédito da foto: Imagem de César de Oliveira
 reproduzida do site a8se.com e postada pelo blog

Texto publicado originalmente no site AJN 1, em 7 de janeiro de 2022   

Fernando Soutelo – Uma distinta definição de imortalidade 

Por Claudefranklin Monteiro Santos 


A última vez que nos comunicamos foi no dia 12 de novembro de 2021. Na ocasião, partilhava com ele a alegria da aprovação da publicação de um artigo em parceria com ele para a Revista Atalaia, da Academia de Letras de Aracaju, cujo primeiro número desse ser lançado ainda este ano. Trata-se de uma discussão que fizemos sobre a passagem de Jarbas Passarinho por Laranjeiras, em 1972. Na época, o então Ministro da Educação consagrou a expressão atribuída até hoje à cidade: “Museu a céu aberto”. Foi uma grata experiência. 


Além desse projeto, ele havia me apresentado outro que vimos ensaiando há algum, que está bem adiantado, mas ainda inconcluso. Uma biografia sobre o imortal lagartense, Dr. Aníbal Freire da Fonseca (1884-1970), um dos sergipanos que ocuparam até presente data a Academia Brasileira de Letras. Espero, com a mercê de Deus, apresentar esse trabalho ao público, em sua homenagem, nos próximos dois anos. 


A primeira vez que me dei conta de quem era Luiz Fernando Ribeiro Soutelo foi por ocasião de uma querela envolvendo a História de Lagarto. Se acreditava até pouco tempo que o município havia se emancipado no dia 20 de abril de 1880. Até mesmo eu já havia escrito algo a respeito, usando essa tese da Emancipação. Foi quando ele chamou minha atenção para a falha de ordem histórica. 


Tudo isso como desdobramento de um ofício que lhe enviei no dia 9 de maio de 1997, por intermédio do então secretário de Educação de Lagarto, professor João Gustavo Neto. Fernando Soutelo era o presidente do Conselho Estadual de Cultura. A resposta, muito bem fundamentada e escrita, como de costume, veio em documento contendo 11 páginas, riquíssimas em informações que sacramentaram que Lagarto havia sido elevado à condição de cidade naquela data e jamais se emancipado. Levei a causa adiante, contrariando alguns, mas convencendo a maioria e a questão virou Lei Municipal. 


Doravante, eu e Soutelo estreitamos nossas relações, mas não havíamos estado juntos, pessoalmente. E a oportunidade levou algum tempo. Para ser mais exato, dez anos depois, por ocasião das comemorações do Centenário de Abelardo Romero (1907-1979), em 2007. Eu havia sido convidado para falar sobre o poeta lagartense, numa sessão conjunta do Conselho Estadual de Cultura e da Academia Sergipana de Letras, no auditório da Biblioteca Epifânio Dórea. 


A minha primeira impressão física e pessoal de Fernando Soutelo ficou para todo o sempre. Sujeito distinto, cabelo bem penteado, olhos claros, acho que castanhos, sorriso franco e polido, o cigarro inseparável entre os dedos, voz pontual e precisa. Deu-me toda a atenção e consideração possível, como se me fosse um amigo de velha data. Disse que admirava o meu trabalho e acompanhava atentamente minhas publicações, algumas delas já contando com suas valiosas observações. 


Não tardou para que nos tornássemos de fato amigos. Certa feita, surpreendeu a mim e a minha esposa, comparecendo em Lagarto, a um dos aniversários de meu filho, Pedro Franklin, hoje com quinze anos. Todos os anos, me enviava dois cartões lindos: um, para me cumprimentar por minha passagem natalícia; outro, para desejar Boas Festas. Guardo todos com muito apreço. 


Nem mesmo algumas intrigas e fofocas de amigos comuns abalaram a nossa amizade. Até porque, com a minha franqueza habitual e nenhuma falsidade, conquistei sua confiança plena e sua atenção. Foi assim em todos os momentos de nossa relação de amizade e de trabalho. Primeiro no Instituto Histórico de Sergipe, onde estivemos juntos compondo a diretoria. E depois, na Academia Sergipana de Letras, sobretudo quando passamos a ser confrades por aquela instituição. Ele, Luiz Antônio. Murilo Mellins e Ana Medina estavam entre aqueles que torciam há muito tempo por minha chegada. Aliás, na minha posse, no dia 21 de fevereiro de 2019, fez questão ajudar na vestimenta das vestes talares, visivelmente com os olhos marejados. 


Uma outra lembrança que vou levar para sempre em minhas memórias, foi a nossa convivência em Brasília-DF, em 2010, por ocasião da II Conferência Nacional de Cultura, onde estivemos na condição de delegados por Sergipe. Aprendi muito naquela ocasião. 


Ao saber de sua convalescência, pelo confrade Dr. Antônio Carlos Sobral Sousa, fiquei muito triste e preocupado. Fernando Soutelo me ligava com frequência para saber como eu estava, perguntava por minha esposa e por meus filhos. Sempre atencioso! Ele me dizia que estava esperançoso porque o tratamento contra o câncer de pulmão vinha surtindo efeitos positivos. Mas, o seu sumiço me era estranho. Já não mais me atendia o telefone e nem respondia as minhas mensagens. Foi então, que se confirmou a gravidade da situação não somente por Dr. Sousa, mas também pela professora Aglaé Fontes. 


Assim, na manhã do dia 3 do corrente mês, tomei conhecimento de seu falecimento. Meu amigo, na verdade, descansou. Não merecia estar sofrendo tanto, aliás sem fazer alardes ou se vitimizar. Até porque, discrição era uma das suas principais qualidades. E generosidade também. Infelizmente, não pude ir ao seu velório em razão das reações que tive da terceira dose da vacina contra a COVID-19. Mas, acompanhei atentamente todas as homenagens, muito justas para seu tamanho, importância e dimensão. 


Texto reproduzido do site: ajn1.com.br 

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