Publicado no site G1/SE, em 17/02/2013.
No dia 1º de fevereiro de 2013, a cultura sergipana perdeu
uma de suas mais importantes referências na literatura de cordel. Aos 73 anos,
faleceu, vítima da leucemia, o escritor João Firmino Cabral. O poeta dá nome à
primeira cordelteca do Brasil, instalada na Biblioteca Municipal Clodomir
Silva, uma das unidades da Secretaria Municipal de Cultura e Eventos (SMCE).
João Firmino deu início a sua carreira como cordelista ainda
na adolescência, quando trabalhava na lavoura em Itabaiana, cidade natal de
João. Com o auxilio do poeta Manoel D’Almeida Filho, seu mestre, produziu o
primeiro folheto, onde descrevia uma profecia de Padre Cícero em versos. Esse
trabalho o levou a receber, em 2002, a medalha de Mérito Cultural Serigy,
concedida pela PMA. Com a morte, o escritor deixa vaga também a cadeira de
número 36, da Academia Brasileira de Literatura de Cordel (ABLC), que ocupava
desde 2008.
A banca instalada no Mercado Municipal Antônio Franco, no
Centro de Aracaju, era onde João Firmino comercializava seus livretos de
cordel, sem deixar de incentivar e inclusive patrocinar a produção de outros
cordelistas locais. O acervo de títulos postos a venda pelo poeta só não era
superior, em número, ao conjunto de obras disponíveis para consulta na
cordelteca que ele é patrono na Bliblioteca Clodomir Silva, o qual contribuiu
também, escrevendo considerável parcela dos exemplares expostos.
Segundo a coordenadora de Extensão e Eventos da Clodomir
Silva, Maria José, o poeta mantinha um estreito relacionamento com a
Biblioteca. "Sua última visita foi em maio de 2012, participando como escritor
convidado para uma oficina literária que reuniu professores e estudantes da
rede pública de ensino. Foi uma perda muito grande para literatura de Sergipe,
pois galgou seu espaço, com seus folhetos de cordel em sua banquinha. Nós da
Biblioteca temos uma grande honra em ter a cordelteca com o nome dele, foi uma
escolha magnífica", comenta.
A diretora da Biblioteca Clodomir Silva, Fátima Góes, fala
sobre a homenagem do dia 28 deste mês. "Estamos reunindo amigos e
admiradores de João Firmino, que são cordelistas, para um sarau poético, onde
serão declamados versos do escritor. A família também foi convidada e de
imediato aceitou comparecer a homenagem", revelou, convidando toda
comunidade aracajuana para o evento.
Antônia Amorosa de Menezes, Coordenadora de Cultura da
Secretaria Municipal de Cultura e Eventos (SMCE), visualiza no legado deixado
pelo poeta um exemplo para as futuras gerações. "Com a perda de João
Firmino renasce a importância de repensarmos novos projetos em favor da
literatura de cordel, que façam surgir novos Joões Firminos", comenta
Amorosa, que estuda um projeto que integre as Bibliotecas da Secretaria à rede
municipal de ensino, a fim de incentivar a produção da literatura de cordel
entre os estudantes.
A Cordelteca João Firmino Cabral foi criada em 2003 e possui
mais de 500 títulos, escritos por cerca de 36 cordelistas sergipanos e de
outros locais, como Alda Cruz, Eduardo Fiscina, Chiquinho de Além Mar, Agulão e
Pedro Amaro. Todo acervo fica à disposição, para consulta, dos frequentadores
da Biblioteca Municipal Clodomir Silva, localizada na rua Santa Catarina, nº
314, bairro Siqueira Campos.
Perfil
João Firmino Cabral nasceu em 1 de janeiro de 1940, em
Itabaiana / Sergipe. Filho de Pedro Firmino Cabral (cantador de feira e
embolador) e Cecíclia da Conceição (roceira).
Agricultor desde menino, começou já na juventude a
demonstrar interesse pelas letras: comprava então folhetos da Literatura de
Cordel, que usava como cartilha, pois com eles aprendeu a ler.
Aos 17 anos, com o auxílio do seu mestre, o poeta Manoel
DAlmeida Filho, descobriu sua vocação poética e escreveu seu primeiro folheto,
uma Profecia do Padre Cícero.
Daí por diante, não lhe faltou mais inspiração e todas obras
de sua autoria são bem aceitas pelo povo.
João Firmino Cabral
Falar de cultura nordestina é também falar de Literatura de
Cordel. Intitulada pela forma como são vendidos os folhetos, ou seja,
dependurados em barbantes (cordões), esse tipo de literatura pode ser
encontrada nos mercados, feiras e bancas de jornais.
O cordel chegou à Península Ibérica no século XVI e aportou
no Brasil quando Salvador ainda era capital da nação. Por volta de 1750, os
folhetos começaram a surgir no Brasil, quando logo se espalhou pelo Nordeste.
Atualmente, Sergipe é referência em Literatura de Cordel, uma vez que mantém em
sua história nomes como João Firmino Cabral.
PORTAL INFONET - O que o fez optar pela Literatura de
Cordel?
JOÃO FIRMINO CABRAL - A minha história com a Literatura de
Cordel começou há 50 anos e teve como principal influência o estilo cantador de
feira e embolador do meu pai, Pedro Firmino Cabral. Ainda na juventude, comecei
a interessar-me pelos folhetos e acabei utilizando a literatura para aprender a
ler.
INFONET - Quais autores e produções serviram como referência
na escolha da Literatura de Cordel?
JFC - O autor que mais me serviu de referência foi o
paraibano Manoel d'Almeida Filho, autor de obras, como "Vida,
Vingança e Morte de Corisco" e "A Menina que Nasceu Pintada com as
Unhas de Ponta e a Sobrancelha Raspada". Manoel tornou-se membro da
Academia Brasileira de Literatura de Cordel (ABLC), no Rio de Janeiro, em 1995.
INFONET - Como se sente sendo um dos fundadores da ABLC?
JFC - Lisonjeado. Sergipe é tido como referência em
Literatura de Cordel pelo interesse de escritores em traduzir a cultura
nordestina para o resto do mundo. Prova disso é o desempenho do cordelista
Gilmar Ferreira, que no dia 17 de Abril, tomou posse na cadeira nº 2 da ABLC.
Banca no mercado Antônio Franco é atração para sergipanos e
turistas
INFONET - Sergipanos e turistas visitam constantemente a sua
banca no Mercado Antônio Franco. Com a exibição, seus folhetos estão sendo
divulgados em outras regiões do Brasil ou mesmo no exterior?
JFC - No Brasil já divulguei meu trabalho em estados nordestinos,
como o Maranhão, Piauí, Paraíba e Bahia, embora Sergipe seja meu ponto de venda
fixo. Como diversas instituições no exterior, a exemplo das faculdades, já
aderem ao cordel, tive livros publicados na França e em Portugal.
INFONET - Em que você se inspira no momento em que elabora
os cordéis?
JFC - A minha maior inspiração é a natureza. Além dela,
julgo serem as histórias do cangaço bastante interessantes, já que a cultura
nordestina está muito presente nos versos cordelianos. Interesso-me também por
temas polêmicos, como o racismo, o qual me rendeu duas produções.
INFONET - Das 60 obras publicadas, quais foram as mais
consagradas?
JFC - Gosto muito dos folhetos "A vingança de um
inocente", "História, Vida e Morte de Luiz Gonzaga" e "A
revolta de um escravo". As mais novas produções têm o enfoque na política
brasileira, cujos títulos são "Os Corruptos do Brasil" e "A
revolta de um escravo".
INFONET - Há um novo projeto em andamento?
JFC - Estou sempre buscando novas idéias para a construção
dos cordéis. Conforme a inspiração, os trabalhos se mantêm em andamento.
Por Nubia Santana.
Texto e imagem reproduzidos do site: onordeste.com
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