segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Feiras livres: Resistência popular e interesse turístico

 Fumo de rolo é resitência.

 Verduras na feira agro de Itabaiana.

 Gengibre, cascas de pau, temperos, folhas,...

Amendoim cozido - Patrimônio de Sergipe.
Imagens de Silvio Oliveira.

Publicado originalmente no Blog Sílvio Oliveira/Infonet, em 12/01/2017.

Feiras livres: Resistência popular e interesse turístico.

Um passeio pelas tradições populares das feiras de Sergipe

Barbeiro é um ponto de encontro na feira de Propriá (SE)
Quem disse que não há o que se ver em feiras livres do interior de Sergipe? Como nos mercados setoriais das grandes capitais, as feiras livres dos pequenos e médios municípios brasileiros são onde estão alguns pontos de resistência de cultura e locais de grande interesse turístico, quer seja gastronômico, humanístico, cultural, artístico e popular.

Basta escolher o roteiro – Baixo São Francisco, Alto Sertão, Agreste ou Centro-Sul - que mais lhe agrada e pé no chão, ou melhor, pé na rua para fazer um dos passeios mais incríveis pela cultura nordestina e secular de um povo.

As feiras dos municípios sergipanos acontecem a partir da quinta-feira. E aos sábados são lugares que convergem a população da região para elas, a exemplo de Itabaiana, Canindé do São Francisco, Tobias Barreto, Nossa Senhora da Glória e Propriá. São locais vivos de aspectos populares de uma geração através dos quais resistem um prato típico, um modo de enrolar o fumo, um estilo de debulhar o feijão de corda, o vendedor de sorvete de máquina, o pintinho colorido artificialmente, o vendedor de remédios caseiros e muita sabedoria popular.

O vendedor de LP já não toca mais a música do Luiz Gonzaga na feira livre de Propriá (SE), região ribeirinha localizada no Baixo São Francisco a poucos 99km de Aracaju, avisando que a “Rozinha ficou lá em Propriá”, mas o cheiro forte do fumo de rolo ainda pode ser encontrado, na mesma banca que se comercializa os cigarros falsificados. São as mudanças do tempo, mas que nas feiras ainda há pontos de resistências.

A feira livre do município acontece na avenida Tavares de Lira com cruzamento da avenida Martinho Guimarães e é um exemplo vivo de ricos aspectos populares mantidos nestas manifestações econômicas.

O tempero ainda é triturado ali mesmo, ao gosto do freguês. O coco seco já não é ralado “nas coxas”, como dizia antigamente, mas uma engenhoca faz o trabalho muito bem e a dona de casa leva raladinho para fazer as guloseimas, mas o “adicuri”, “coquinho”, “ouricuri”, ainda é vendido in natura, como gosta a criançada.

Passeando ainda mais por barracas, o turista irá perceber a generosidade dos tipos de peixes, dos pescados, do camarão de água doce presente no café da manhã dos ribeirinhos, além dos crustáceos e peixes de água salgada, demonstrando que ali hoje em dia são pescados no leito do rio de água doce. Trocadilho doce ou salgado, doces mesmo são as frutas.

Tamarindo, umbu, cajá, araçá são frutas de lugares mais áridos e lá na feira tudo tem. Mangaba e doces, sim, doces vendidos em feiras livres é uma tradição vinda das zonas rurais. Tem doces de frutas e de leite, além das delícias típicas da fazenda. Não deixe de observar as ervas e grãos estendidos ao chão.

Do cheiro do Velho Chico em Propriá, a subida é até a grande feira de Canindé do São Francisco onde os produtos ribeirinhos são convidados a dar passagens para os derivados do gosto do sertanejo, como a manteiga de garrafa, o queijo coalho e a raspa do requeijão, os derivados da tapioca, o mel, a goiaba e o quiabo bem presentes na região do Alto Sertão de Sergipe.

O clima quente não é empecilho para não se ter mesa farta nas feiras-livres do sertão. Em Canindé do São Francisco as mesas de madeiras nos restaurantes populares servem carneiro cozido, galinha de capoeira com macaxeira, cuscuz com ovo estrelado no caldo da carne frita,...

No “setor de cama e mesa” o cortinado é vendido sem nenhuma objeção aos repelentes. E se há venda, é porque ainda é procurado pelas bandas de cá do Nordeste, para emoldurar a cama e fugir dos mosquitos em tempo de Zika.

Tobias Barreto, já na divisa com a Bahia, na região Centro-Oeste do Estado, ficou famosa na década de 70 pela confecção de bordados, principalmente, pela realização da Feira da Coruja, assim chamada por ser realizada durante a madrugada da segunda-feira.

Os comerciantes que participam da feira trabalham 24 horas sem parar: das 17h do domingo, quando começa a montagem das barracas, até as 17 da segunda-feira, quando terminam de desmontar a estrutura da feira. São comercializados artigos de cama, mesa, banho, vestuário adulto e infantil além do artesanato, um forte segmento da cidade, motivando inclusive a criação de associações que reúnem grande número de artesãos.

Nossa Senhora da Glória tem feira denominada de Oásis do Sertão e vale a pena um bate-perna por lá.

Em Itabaiana, “onde se planta, tudo dar”, a feira toma proporções da região agro do Estado de Sergipe e ganha hortifrutigranjeiros de tudo que é tipo. Mas a resistência naquele pedacinho de shopping center popular está bem no meio, aos gritos, com o holofote em riste para saudar os que chegam ali e vender os seus produtos: o vendedor de medicamentos naturais. Tem remédio para curar calafrios, reumatismo, dor de cabeça, espinhela caída, dor nas juntas, dor de mulher parida, no pé do joelho, ferida, frieira e assim vai...

Em Itabaiana e em outros lugares do interior de Sergipe, a feira livre é sinônimo de um Nordeste que cresce, mas continua sendo lugar de resistência popular, que se concentra um vasto saber de um povo e, por consequência, ponto de interesse turístico e paisagístico. Vale a pena uma conferida.

Dicas de viagem

Todos os municípios sergipanos realizam feira-livre, a depender do dia, e geralmente iniciam logo no raiar do dia e finaliza ao cair da tarde.

Propriá fica distante 99km da capital, à beira do rio São Francisco e possui hospedarias com boa estrutura. O hotel do Velho Chico foi a estrela da hotelaria do interior do estado nos anos 80 e precisa de reforma, mas continua funcionando com uma bela vista panorâmica da ponte e da cidade.

Veja também a praia da Adutora, seguindo pela rodovia SE 202, sentido Amparo do São Francisco, já no município vizinho de Telha.

Agências de turismo da capital disponibilizam passeios de um dia para Propriá. Pode-se fazer um bate e volta partindo da capital Aracaju. Consulte-as.

Em Aracaju há passeios bate e volta para Canindé do São Francisco, distante mais de 199km da capital. O passeio até lá é convencional ao Cânion do São Francisco, que dura o dia todo. Procure as agências de viagem e defina o que quer conhecer, onde almoçar e o que está incluído com antecedência para não ter dor de cabeça.

Partindo de Aracaju (SE) para Canindé há diversos percursos, mas todos eles originam na BR 101. Pode-se ir pela BR 235, sentido Itabaiana/ Nossa Senhora da Glória/ Canindé (Rota do Sertão). Depois de Itabaiana, segue-se pela SE 414, SE 212, e por último SE 208. A estrada está totalmente recuperada.

Tobias Barreto fica a 127km de Aracaju e poderá ir pela BR 101, sentindo Bahia. Já Itabaiana, segue pela BR 101, depois BR 235 e poucos 35km chega a cidade, que realiza sua feira a partir da sexta-feira.

Gastroterapia.

Os pratos derivados dos produtos rurais, a exemplo do milho, do côco, da tapioca ralada, do queijo fazem a festa na gastronomia das feiras de Sergipe.

Feira que não tem arroz doce ou mungunzá não é feira. Serve como uma entradinha para o prato principal recheado de carne de sol, macaxeira, manteiga de gado e um café preto coado na hora. Tradições, aromas, cheiros e gostos mantidos.

Texto e imagens reproduzidos do site: infonet.com.br/blogs/silviooliveira

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