Fumo de rolo é resitência.
Verduras na feira agro de Itabaiana.
Gengibre, cascas de pau, temperos, folhas,...
Amendoim cozido - Patrimônio de Sergipe.
Imagens de Silvio Oliveira.
Publicado originalmente no Blog Sílvio Oliveira/Infonet, em
12/01/2017.
Feiras livres: Resistência popular e interesse turístico.
Um passeio pelas tradições populares das feiras de Sergipe
Barbeiro é um ponto de encontro na feira de Propriá (SE)
Quem disse que não há o que se ver em feiras livres do
interior de Sergipe? Como nos mercados setoriais das grandes capitais, as
feiras livres dos pequenos e médios municípios brasileiros são onde estão
alguns pontos de resistência de cultura e locais de grande interesse turístico,
quer seja gastronômico, humanístico, cultural, artístico e popular.
Basta escolher o roteiro – Baixo São Francisco, Alto Sertão,
Agreste ou Centro-Sul - que mais lhe agrada e pé no chão, ou melhor, pé na rua
para fazer um dos passeios mais incríveis pela cultura nordestina e secular de
um povo.
As feiras dos municípios sergipanos acontecem a partir da
quinta-feira. E aos sábados são lugares que convergem a população da região
para elas, a exemplo de Itabaiana, Canindé do São Francisco, Tobias Barreto,
Nossa Senhora da Glória e Propriá. São locais vivos de aspectos populares de
uma geração através dos quais resistem um prato típico, um modo de enrolar o
fumo, um estilo de debulhar o feijão de corda, o vendedor de sorvete de
máquina, o pintinho colorido artificialmente, o vendedor de remédios caseiros e
muita sabedoria popular.
O vendedor de LP já não toca mais a música do Luiz Gonzaga
na feira livre de Propriá (SE), região ribeirinha localizada no Baixo São
Francisco a poucos 99km de Aracaju, avisando que a “Rozinha ficou lá em
Propriá”, mas o cheiro forte do fumo de rolo ainda pode ser encontrado, na
mesma banca que se comercializa os cigarros falsificados. São as mudanças do
tempo, mas que nas feiras ainda há pontos de resistências.
A feira livre do município acontece na avenida Tavares de
Lira com cruzamento da avenida Martinho Guimarães e é um exemplo vivo de ricos
aspectos populares mantidos nestas manifestações econômicas.
O tempero ainda é triturado ali mesmo, ao gosto do freguês.
O coco seco já não é ralado “nas coxas”, como dizia antigamente, mas uma
engenhoca faz o trabalho muito bem e a dona de casa leva raladinho para fazer
as guloseimas, mas o “adicuri”, “coquinho”, “ouricuri”, ainda é vendido in
natura, como gosta a criançada.
Passeando ainda mais por barracas, o turista irá perceber a
generosidade dos tipos de peixes, dos pescados, do camarão de água doce
presente no café da manhã dos ribeirinhos, além dos crustáceos e peixes de água
salgada, demonstrando que ali hoje em dia são pescados no leito do rio de água
doce. Trocadilho doce ou salgado, doces mesmo são as frutas.
Tamarindo, umbu, cajá, araçá são frutas de lugares mais
áridos e lá na feira tudo tem. Mangaba e doces, sim, doces vendidos em feiras
livres é uma tradição vinda das zonas rurais. Tem doces de frutas e de leite,
além das delícias típicas da fazenda. Não deixe de observar as ervas e grãos
estendidos ao chão.
Do cheiro do Velho Chico em Propriá, a subida é até a grande
feira de Canindé do São Francisco onde os produtos ribeirinhos são convidados a
dar passagens para os derivados do gosto do sertanejo, como a manteiga de
garrafa, o queijo coalho e a raspa do requeijão, os derivados da tapioca, o
mel, a goiaba e o quiabo bem presentes na região do Alto Sertão de Sergipe.
O clima quente não é empecilho para não se ter mesa farta
nas feiras-livres do sertão. Em Canindé do São Francisco as mesas de madeiras
nos restaurantes populares servem carneiro cozido, galinha de capoeira com
macaxeira, cuscuz com ovo estrelado no caldo da carne frita,...
No “setor de cama e mesa” o cortinado é vendido sem nenhuma
objeção aos repelentes. E se há venda, é porque ainda é procurado pelas bandas
de cá do Nordeste, para emoldurar a cama e fugir dos mosquitos em tempo de
Zika.
Tobias Barreto, já na divisa com a Bahia, na região
Centro-Oeste do Estado, ficou famosa na década de 70 pela confecção de
bordados, principalmente, pela realização da Feira da Coruja, assim chamada por
ser realizada durante a madrugada da segunda-feira.
Os comerciantes que participam da feira trabalham 24 horas
sem parar: das 17h do domingo, quando começa a montagem das barracas, até as 17
da segunda-feira, quando terminam de desmontar a estrutura da feira. São
comercializados artigos de cama, mesa, banho, vestuário adulto e infantil além
do artesanato, um forte segmento da cidade, motivando inclusive a criação de
associações que reúnem grande número de artesãos.
Nossa Senhora da Glória tem feira denominada de Oásis do
Sertão e vale a pena um bate-perna por lá.
Em Itabaiana, “onde se planta, tudo dar”, a feira toma
proporções da região agro do Estado de Sergipe e ganha hortifrutigranjeiros de
tudo que é tipo. Mas a resistência naquele pedacinho de shopping center popular
está bem no meio, aos gritos, com o holofote em riste para saudar os que chegam
ali e vender os seus produtos: o vendedor de medicamentos naturais. Tem remédio
para curar calafrios, reumatismo, dor de cabeça, espinhela caída, dor nas
juntas, dor de mulher parida, no pé do joelho, ferida, frieira e assim vai...
Em Itabaiana e em outros lugares do interior de Sergipe, a
feira livre é sinônimo de um Nordeste que cresce, mas continua sendo lugar de
resistência popular, que se concentra um vasto saber de um povo e, por
consequência, ponto de interesse turístico e paisagístico. Vale a pena uma
conferida.
Dicas de viagem
Todos os municípios sergipanos realizam feira-livre, a
depender do dia, e geralmente iniciam logo no raiar do dia e finaliza ao cair
da tarde.
Propriá fica distante 99km da capital, à beira do rio São
Francisco e possui hospedarias com boa estrutura. O hotel do Velho Chico foi a
estrela da hotelaria do interior do estado nos anos 80 e precisa de reforma,
mas continua funcionando com uma bela vista panorâmica da ponte e da cidade.
Veja também a praia da Adutora, seguindo pela rodovia SE
202, sentido Amparo do São Francisco, já no município vizinho de Telha.
Agências de turismo da capital disponibilizam passeios de um
dia para Propriá. Pode-se fazer um bate e volta partindo da capital Aracaju.
Consulte-as.
Em Aracaju há passeios bate e volta para Canindé do São
Francisco, distante mais de 199km da capital. O passeio até lá é convencional
ao Cânion do São Francisco, que dura o dia todo. Procure as agências de viagem
e defina o que quer conhecer, onde almoçar e o que está incluído com
antecedência para não ter dor de cabeça.
Partindo de Aracaju (SE) para Canindé há diversos percursos,
mas todos eles originam na BR 101. Pode-se ir pela BR 235, sentido Itabaiana/
Nossa Senhora da Glória/ Canindé (Rota do Sertão). Depois de Itabaiana,
segue-se pela SE 414, SE 212, e por último SE 208. A estrada está totalmente
recuperada.
Tobias Barreto fica a 127km de Aracaju e poderá ir pela BR
101, sentindo Bahia. Já Itabaiana, segue pela BR 101, depois BR 235 e poucos
35km chega a cidade, que realiza sua feira a partir da sexta-feira.
Gastroterapia.
Os pratos derivados dos produtos rurais, a exemplo do milho,
do côco, da tapioca ralada, do queijo fazem a festa na gastronomia das feiras
de Sergipe.
Feira que não tem arroz doce ou mungunzá não é feira. Serve
como uma entradinha para o prato principal recheado de carne de sol, macaxeira,
manteiga de gado e um café preto coado na hora. Tradições, aromas, cheiros e
gostos mantidos.
Texto e imagens reproduzidos do site: infonet.com.br/blogs/silviooliveira
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