Publicado originalmente na fanpage Facebook/Lilian Rocha, em 23 de março de 2019
Genealogia Sergipana
Sempre fui muito ligada à família e, sobretudo, a histórias
de família. Adoro saber os costumes da época, como os casais se conheceram,
onde moravam, por que os filhos receberam aqueles nomes, enfim, esse sempre foi
um assunto que me fascinou. Infelizmente, poucas são as pessoas que sequer
sabem o nome completo dos seus avós e, muito menos, dos seus bisavós...
Mas eu conheci uma pessoa infinitamente mais curiosa que eu.
Que lia, pesquisava, perguntava e anotava tudo o que ia descobrindo. Esse homem
se chamava CARLOS CABRAL DE ANDRADE e era o irmão mais velho de minha mãe. Foi
com ele que aprendi o significado da palavra “genealogia”.
Tio Carlos era completamente fascinado por Genealogia. Ele
pesquisou tanto sobre a nossa família “Cabral de Andrade” que acabou
descobrindo muito mais do que imaginava sobre os nossos antepassados. Como ele
era de Capela, assim como seus pais, ele foi “andando para trás”, literalmente,
até conseguir chegar aos fundadores de Capela: o capitão Luiz de Andrade
Pacheco e sua esposa, Perpétua de Matos França. Esse simpático casal fez uma
doação de terras, no valor de 100 mil réis, para o patrimônio da “Capela da
Purificação de Nossa Senhora”. Depois que eles morreram, seu filho mais velho,
Diogo Pereira Soares, doou mais 500 braças de terras à mesma capela. Isso
explica, portanto, a origem do nome do município de “Capela”, já que a cidade
começou a surgir em torno da velha capelinha.
E pesquisando esses velhos arquivos do século XVII, tio
Carlos descobriu também que esse casal teve, pelo menos, 5 filhos. O primeiro
foi Diogo que também doou terras, o segundo foi um padre e a terceira se
chamava Lourença. É justamente esta Lourença que deu origem à nossa família...
Lourença se casou com o capitão Jorge Palatem, um
descendente de alemão, e com ele teve dois filhos: Maria Perpétua e Manuel.
Maria Perpétua quis imitar sua mãe e também se casou com um
capitão, chamado Francisco. Só que, ao contrário de sua mãe, Perpétua foi mais
longe e teve 11 filhos! Seu filho mais velho chamava-se Antônio de Melo Vieira
Cabral, mas era conhecido como “Capitão Melão” (cá com meus botões, eu imagino
que ele devia ser gordo e como seu sobrenome era “Melo”, virou “Melão”...). Ele
também foi longe, teve 10 filhos!
Mas é o segundo filho do capitão Melão o que mais nos
interessa! Ele recebeu o mesmo nome do seu bisavô: Jorge Palatem de Melo
Cabral. Esse Jorge teve 8 filhos, mas é o primeiro deles o que mais nos
interessa...
Chamava-se Francisco Vieira de Melo Cabral. Francisco se
casou com uma prima distante, chamada Honorina Telles, mas o casamento só durou
8 anos, pois ele morreu com apenas 35 anos, coitado, deixando duas filhas ainda
crianças: Maria Noêmia, com 6 anos, e Graziela, com 5.
Maria Noêmia Telles Cabral foi justamente a mãe de tio
Carlos, de minha mãe e de mais 7 tios. E minha avó.
Tio Carlos acabou descobrindo, portanto, os dois primeiros
sobrenomes que deram origem à nossa família, pelo lado materno: TELLES +
CABRAL. Restava, agora, descobrir os nossos antecedentes pelo lado paterno, ou
seja, de onde teria vindo o nosso sobrenome “Andrade”...
Para isso, vamos voltar lá pra história daquele simpático
casal que fundou Capela e teve 5 filhos...
Como já vimos, a terceira foi Lourença que deu origem à
família de minha mãe. Depois de Lourença, nasceu Tomaz de Aquino, o quarto
filho.
O primeiro filho de Tomaz chamava-se Luís de Andrade
Pacheco. Luís se casou com Maria Rosa e teve 8 filhos. Mas é o primeiro deles o
que mais nos interessa...
Chamava-se João de Andrade Vieira. João nasceu em Divina
Pastora, casou-se com Joana e teve 8 filhos (o povo de antigamente era danado
pra fazer filho...). Mas é o sexto filho o que mais nos interessa....
O nome dele também era João de Andrade Vieira, ou seja, o
mesmo nome do seu pai. João se casou com Maria Rosa e teve duas filhas apenas:
Fausta e Francisca.
Vocês podem até se espantar: duas filhas só? Pois é, eu
também achei estranho e, por isso, fui logo olhar a data de falecimento dele e
descobri que ele morreu com 29 anos apenas. Ou seja, só teve mesmo tempo de fazer
duas filhas...
Bom, quando João morreu, suas filhas eram bem novinhas
ainda. Fausta tinha 4 anos e Francisca, 2. Aos 21 anos, Fausta se casou com
José Vieira de Andrade e teve 10 filhos. Já Francisca se casou com Pedro, que
já tinha sido casado duas vezes, e teve 13 filhos! Mas é Fausta quem mais nos
interessa...
Como já disse, Fausta teve 10 filhos: Emília, Maria Rosa,
Francisco, Jovino, Júlio (pai de Aminthas Garcez, do cartório, e de todos esses
“Garcezes” tão conhecidos: Sylvio, Décio, Carmelita, Armando, João, Paulo,
Fernando, Isaura, Luís...) Amélia, Adelina (mãe do jornalista Orlando Dantas),
Afonso, Eduardo e Cristina.
Mas é Francisco Vieira de Andrade, o terceiro filho dela,
que vai dar no pai de minha mãe...
Francisco, que era Vieira de Andrade, se casou duas vezes. A
primeira vez, com uma prima sua, chamada Maria Hercília Barreto Dantas, e teve
9 filhos: Antão, Esther (mãe de Maria Esther, de Pedro Barreto - pai de Pedrito
Barreto – e de Cenyra), Bráulio, Raul, Heribaldo, Cleodice, Aloysio, Jandyra e
Cordélia, todos "Dantas Vieira".
Quando sua mulher morreu, aos 60 anos, Francisco se casou de
novo, quatro meses depois, com outra prima sua, chamada Elvira Cabral Leite. E
com ela, teve mais dois filhos: Fernando e Ary Cabral Vieira.
Foi justamente Antão Correa de Andrade, o primeiro filho de
Francisco, que se casou com minha avó Maria Noêmia. Ela “veio” lá da parte de
Lourença e ele “veio” de Tomaz de Aquino, a terceira e o quarto filho dos
fundadores de Capela, respectivamente.
Tio Carlos, então, descobriu os novos sobrenomes que deram
origem à nossa família pelo lado paterno: DANTAS + VIEIRA. E de quebra, os
Barreto e os Andrade.
E ele gostou tanto do que descobriu, que não parou mais de
descobrir. Foi um incansável estudioso do assunto, por mais de 30 anos e deixou
seus registros escritos à mão em mais de 20 cadernos. Sonhava em publicar, pelo
menos, um deles, justamente o que continha a história de nossa família. Mas
morreu em 1998, antes de realizar esse sonho.
Com o seu falecimento, parte de sua biblioteca gigantesca e
todo o seu acervo de genealogia passou às mãos e aos cuidados de Petrônio, meu
irmão, um outro apaixonado por livros. Mas criou-se um impasse: ninguém
entendia de genealogia. E agora? Foi aí que Ricardo, meu irmão mais velho,
decidiu dar continuidade àquele trabalho de três décadas.
A essa altura, já existia computador e um programa próprio
pra isso que consegue cruzar as informações e vai aumentando o número de dados.
Mas, para isso, era preciso digitalizar todos aqueles velhos cadernos de tio
Carlos escritos à mão. E Ricardo mergulhou fundo nessa árdua tarefa. Passou
para o programa de computador todos esses dados, escaneou todas as fotos e
aumentou, significativamente, o número de informações E como tio Carlos, também
sonhou em publicar esse trabalho. Mas morreu em 2006, antes de ver realizado
esse sonho.
Com o seu falecimento, Petrônio se rendeu. Sabia que agora
caberia a ele a responsabilidade de publicar e, mais do que depressa, arregaçou
as mangas e tratou de aprender a mexer naquele estranho programa. Com a ajuda
valiosa de um primo nosso, chamado Ricardo Teles, outro apaixonado por
genealogia e que já tinha publicado o primeiro volume de Genealogia Sergipana,
os dois conseguiram aprontar o segundo volume e me deram para fazer a
revisão...
Bom, pra vocês terem uma ideia, isso aconteceu há mais de 3
anos atrás. O que era pra ser só uma revisão, acabou virando um trabalho
enorme. Como revisar um trabalho cheio de referências, de notas de rodapé e com
tantos nomes e datas que obedeciam a uma numeração estranha, feita em
algarismos romanos? Confesso que foi duro! Acho que “desmanchei” esse livro
umas vinte vezes, pois é um trabalho tão minucioso, que cada vez que eu
retornava, depois de uma pausa de algumas semanas, por exemplo, eu já tinha
esquecido qual a linha de raciocínio que eu tinha usado...
Mas devo confessar que foi um trabalho apaixonante, sem
dúvida nenhuma. À primeira vista, parece um livro muito sem graça, que “não tem
o que ler”. Mas é ali mesmo, no meio daquelas centenas de nomes e datas, que a
gente vai conhecendo a história de muitas pessoas, de muitas famílias.
Tive pena, por exemplo, de uma certa senhora que teve vários
filhos e todos morreram ainda crianças. Fiquei imaginando de que doença elas
teriam morrido...
Descobri também que era muito comum um viúvo se casar com a
cunhada...
Descobri que era costume batizar o próximo filho com o mesmo
nome do filho que havia morrido antes. Na genealogia, isso é indicado com a
observação “o segundo no nome”...
Descobri, também, que muitos dos sobrenomes “de Jesus”, “dos
Anjos”, “de São José”, “da Natividade”, “da Anunciação”, por exemplo, na
verdade não eram sobrenomes e sim, apenas denominações católicas que os pais
davam, normalmente, às filhas, por algum motivo.
Mas descobri, principalmente, que tio Carlos tinha razão
quando nos dizia que quase todos nós éramos “primos”. E a prova disso foram os
vários sobrenomes que foram se juntando aos da minha família: Sobral, Mota,
Guimarães, Ribeiro, Vasconcelos, Almeida, Figueiredo, Leite, Accioly, Monte,
Garcez, Carvalho, Oliveira, Machado, Duarte, Góes, Muniz, Campos, Maynard,
Sousa e tantos outros...
Muito mais que um livro, portanto, este é um trabalho de 60
anos que não podia ficar guardado na gaveta. Um sonho acalentado por tio Carlos
Cabral e meu irmão, Ricardo. E que, graças à determinação de Petrônio e à
colaboração de Ricardo Telles vai, enfim, ser realizado.
Porque, como dizia Raul Seixas, “um sonho que se sonha só é
só um sonho que se sonha só; mas um sonho que se sonha junto é realidade...”
(Lilian Rocha – 23.03.19)
É com muito prazer que convidamos vocês para a realização
deste sonho!
Dia: 10 de abril de 2019 (aniversário de Carlos Cabral)
Local: ACADEMIA SERGIPANA DE LETRAS
Horário: 18:30
Texto e imagem reproduzidos da fanpage Facebook/Lilian Rocha
São Bernardo do Campo,22 de Julho de 2019.
ResponderExcluirQuero parabenizar a todos pela dedicação que esse trabalho foi construído.
História linda, sou Sergipano também, e com muito orgulho.
Eu nunca fiz uma pesquisa dessa natureza, achei muito interessante.
Parabéns!!!
Parabéns por esse trabalho maravilhoso, amo genealogia e história da família. Gostaria de saber se o livro está disponível para comprar online?
ResponderExcluirPor favor, onde posso encontrar este livro?
ResponderExcluirFascinante esse trabalho sobre genealogia!
ResponderExcluirEu e meus ascendentes temos sobrenomes citados no texto acima.
Fascinante esse trabalho sobre a genealo sergipana!
ResponderExcluirRÔMULO ANDRADE
Onde compro os livros?
ResponderExcluirTrabalho maravilhoso, pouco valorizado por alguns! Minha família tbm é de Sergipe e gostaria de conhecer mais sobre o livro,nesse pq trecho vi alguns sobrenomes que soaram-me familiar .
ResponderExcluirOnde encontro o livro ( moro no RJ).
Meus parabéns aos autores pela persistência de continuar esse legado!
Meu avô sergipano era Mota. Queria muito comprar este livro pra ver se consigo avançar na minha pesquisa genealógica.
ResponderExcluirTrabalho lindo,tenho muita vontade de saber sobre a família de minha vó, tenho pouca informação,sei que ela era natural de Lagarto em Sergipe.
ResponderExcluirTinha o sobrenome Andrade que passou para a minha mãe e para mim.
Saber sobre a genealogia é importante para a história das famílias.