Publicado originalmente no Facebook/Marcos Cardoso, em 29 de março de 2019
Luiz Americano, um sergipano na história da MPB
Por Marcos Cardoso
Há 59 anos, no dia 29 de março de 1960, morria no Rio de
Janeiro o músico Luiz Americano Rego. Nascido em Itabaiana, ele tinha 60 anos e
foi, além de compositor, um dos mais virtuosos clarinetistas e saxofonistas
brasileiros.
Ele fez sucesso como compositor, intérprete e foi um solista
de destaque e muito solicitado, gravando com os mais prestigiados cantores e
orquestras da época. Atuou no teatro musicado e participou como músico de
estúdio das orquestras da Rádio Mayrink Veiga, entre os anos 1930-1950, e da
Rádio Nacional, até a sua morte. Ainda na década de 20 foi músico da Rádio
Sociedade, a primeira do Brasil.
Segundo o “Dicionário Cravo Albin da Música Popular
Brasileira”, o pai de Luiz Americano era mestre de banda em Aracaju e foi com
ele que começou a estudar música aos 13 anos. Em 1918 foi servir ao Exército e
entrou para a banda do seu quartel na capital sergipana. Serviu também em
Maceió e, em 1921, foi transferido para o 3º Regimento de Infantaria, no Rio de
Janeiro.
Depois que saiu do Exército, permaneceu no Rio e passou a
atuar como instrumentista em diferentes orquestras e acompanhando algumas
gravações realizadas na Odeon, onde gravou seu primeiro disco em 1927,
interpretando ao saxofone a valsa “Leda” e o choro “Sentimento”, ambos de sua
autoria.
Em 1928, foi para a Argentina, atuando na orquestra do
baterista norte-americano Gordon Stretton. Trabalhou também com a orquestra do
argentino Adolfo Carabelli. E atuou com Pixinguinha, Donga e João da Bahiana no
Cabaré Assírio. Em 1929, gravou, ao clarinete, o choro "Dindinha" e,
ao saxofone, o choro "Lysses", de sua autoria.
Regressou ao Rio de Janeiro em 1930, quando formou um
conjunto de danças denominado American Jazz Orquestra, que durou dois anos. Em
1931, gravou na RCA Victor, de sua autoria, o choro "Numa serenata" e
a valsa "Lágrimas de virgem", que foi uma das músicas de destaque do
ano.
Em 1932, passou a integrar o Grupo da Velha Guarda atuando
ao lado de Pixinguinha, Donga, entre outros. Logo integrou o grupo Diabos do
Céu, formado por oito músicos também regidos por Pixinguinha. No mesmo ano,
gravou no saxofone o choro "Eu te quero bem" e no clarinete, a valsa
"Melodia de um olhar", ambos de sua autoria.
Nessa época, realizou gravações para a Odeon mostrando um
repertório próprio no qual se destacam o choro "É do que há" e a
outra vez a valsa "Lágrimas de virgem". Esta lhe rendeu em direitos
autorais o suficiente para comprar a casa em que residiu no bairro de Brás de
Pina.
Em 1933, Sérgio Brito colocou letra na valsa "Ao
luar", que foi gravada na Odeon pelo cantor Castro Barbosa. Em 1934,
gravou de sua autoria o choro "De passagem pela Arábia" e a valsa
"Léa". No mesmo ano, gravou do maestro Radamés Gnattali o choro
"Serenata no Joá" e a valsa "Vilma".
Em 1936, foi contratado como músico da Rádio Transmissora do
Rio de Janeiro. No mesmo ano acompanhou a cantora Carmen Miranda no filme “Alô,
Alô, Brasil”. Em 1938, a “Pequena Notável” o convidaria para ir com ela aos
Estados Unidos, mas ele que já era conhecido como o homem da “clarineta de ouro”
preferiu continuar no Rio.
Em 1937, integrou o Trio Carioca, com Radamés Gnattali ao
piano e Luciano Perrone na bateria, numa inusitada experiência musical para a
época. A idéia do grupo surgiu de Mister Evans, diretor da gravadora RCA
Victor, inspirado no sucesso mundial do trio do clarinetista Benny Goodman. O
Trio Carioca gravou apenas um disco com os choros "Cabuloso" e
"Recordando", de Radamés Gnattali.
No mesmo ano gravou de Luperce Miranda o choro "Alma do
norte" e participou como instrumentista da gravação da marcha "Mamãe
eu quero", de Jararaca e Vicente Paiva. Gravou também com o Trio de
Saxofones, criado por ele, a valsa "Irmã branca", de Lauro Paiva, e o
choro "Eu te quero bem", de sua autoria.
Em 1938, gravou, também de sua autoria, a rumba "Meu
Brasil" e o choro "O pandeiro do João da Bahiana", uma homenagem
ao pandeirista pioneiro do samba carioca e, de Vicente Paiva, a valsa
"Como é bom viver" e o choro "Um chorinho na Urca".
Em 1940, fez parte do grupo de músicos escolhidos por
Pixinguinha, a pedido do maestro Heitor Villa-Lobos, para realizar
apresentações e gravações com o maestro britânico Leopold Stokowski, que
visitava o Brasil. No mesmo ano gravou ao saxofone a valsa
"Vertigem", de Donga.
Participou de programas na Rádio Record, em São Paulo, e
gravou com a Bandinha do Guedes na gravadora Colúmbia. Também foi da Rádio
Globo.
Luiz Americano foi o solista na introdução do fox
"Renúncia", sucesso que projetou o cantor Nélson Gonçalves, em 1942.
Também acompanhou Silvio Caldas, Francisco Alves e Cartola. E, além de
Pixinguinha, sempre esteve muito próximo de Jacob do Bandolim.
Em 1944, ele acompanhou com seu conjunto a cantora Aracy de
Almeida na gravação dos sambas "O galo onde canta janta", de Roberto
Cunha e Isidoro de Freitas, e "Na parede da igrejinha", de Ary
Barroso. No ano seguinte, também com seu conjunto, acompanhou Aracy de Almeida
na gravação dos sambas "Ele disse adeus", de Marino Pinto e
Claudionor Cruz, e "João Cegonha", de Rubens Soares e David Nasser.
Em 1948, gravou na Continental, de sua autoria, o choro
fandango "A clarineta do Garapa" e o choro polca "Um baile na
Covanca". No ano seguinte gravou com Raul de Barros e Sua Orquestra, de
sua autoria, os choros "Estes são outros quinhentos" e "Não está
com tudo".
Ele não parava de ser solicitado e, no mesmo ano, fez parte
do elenco e como músico do filme “E o mundo se diverte”, ao lado de Grande
Otelo e Oscarito.
Em 1953, foi contratado pela gravadora Todamérica, onde
estreou com os choros "Saxofone, por que choras?", de Ratinho, e
"É do que há", de sua autoria, e as valsas "Aurora", de
Zequinha de Abreu, e "Lágrimas de virgem", de sua autoria. Lançou
pela RCA Victor os LPs "Chora, saxofone" e "Luiz Americano e seu
conjunto".
Luiz Americano morreu provavelmente de cirrose, segundo
noticiou o jornal “O Globo” na época, no Hospital do Radialista, onde ficara
internado por mais de dois meses. Deixou viúva Erika Rego e três filhos, Leda,
Lysses e Iolanda, frutos do primeiro casamento com Dulcineia. Foi sepultado no
Cemitério de São Francisco Xavier (Cemitério do Caju), zona norte do Rio.
Ainda no começo dos anos 1960, a RCA lhe prestou homenagem
editando elepê com seus maiores sucessos. Em 2001, foi homenageado pelo selo
Intercdrecords com o CD "Luiz Americano - Saxofone, por que choras?”, com
14 das suas principais interpretações.
Ary Barroso, em entrevista para a "Revista da Música
Popular", em 1954, citou Luiz Americano como um dos mais importantes
músicos da música popular brasileira.
Texto e imagem reproduzidos do Facebook/Marcos Cardoso
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