Parque Teófilo Dantas (1931).
Foto arquivo Biblioteca Nacional (Brasil).
Reproduzida do site: brasilianafotografica.bn.br
Postado por MTéSERGIPE, para ilustrar os artigos.
Publicados originalmente no blog de José A. Nascimento, em
26/12/2014.
Parque Teófilo Dantas.
Por Jose Anderson Nascimento
O Parque Teófilo Dantas, ou simplesmente, o Parque, como o
aracajuano denomina esse espaço público, construído dentro da Praça Olímpio
Campos, numa área de 100 metros de largura, por 200 metros de comprimento, é um
dos mais importantes logradouros de Aracaju, no centro do qual foi construída a
Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição, atual Catedral Metropolitana com o
mesmo orago. Sua denominação foi dada pela Resolução número 373, do Conselho
Municipal de Aracaju, datada de 17 de julho de 1928, em homenagem ao Coronel
Teófilo Correia Dantas, Intendente (Prefeito) Municipal, no período de 1927 até
1930.
O Parque foi projetado e executado pelo arquiteto e escultor
Corinto Mendonça, que introduziu no seu projeto inicial alguns elementos
decorativos da antiga Praça de Santa Maria de Belém, no Pará, uma das zonas
naturais mais frequentadas pelos habitantes da cidade de Belém. Inaugurada no
ano de 1904, se destaca por sua frondosa vegetação e rica decoração com lagoas,
ilhotas e pontes, o que serviu de inspiração para a construção de muitas praças
no Brasil.
No Parque Teófilo Dantas foram introduzidos vários elementos
decorativos, tipo taba de índios, lago das ninfas, cascata, o rio onde
navegavam barcos infantis, parque zoológico, aquário e parque de diversões,
alamedas e uma iluminação bem atrativa. No decorrer do tempo, oitizeiros,
tamarindeiros, jatobás, ipês e uma vasta vegetação de espécimes da Mata
Atlântica, decoraram o logradouro, que, também abrigava pássaros exóticos, como
faisões, pavões, garças, marrecos e animais da fauna brasileira, como
preguiças, cotias, macacos pregos, entre outros, que encantavam a gurizada nos
seus passeios dominicais, quando acompanhada dos seus pais, irmãos, tios, avós
e amigos, visitavam os viveiros e reservas naturais cercadas, inclusiva a gruta
da Cascatinha, localizada na extremidade noroeste do Parque, na confluência das
ruas Capela e Propriá, cuja área era dominada por onças suçuaranas, capturadas
nas matas regionais e trazidas para Aracaju.
O Parque era muito organizado, as calçadas do seu entorno
eram simétricas, com largura de 2m20cm e revestidas de “trotoir” frisados nas
cores de concreto e roxo terra, alternadamente. As áreas eram vigiadas por
guardas municipais, que marcavam a presença da autoridade pública, coibindo os
excessos sem violências, porém exercendo uma função pedagógica na orientação
dos usuários do logradouro publico, para que não danificassem os seus
equipamentos.
Outro espaço muito frequentado pelos visitantes do Parque
era o Aquário, onde víamos peixes ornamentais de espécimes regionais e da fauna
amazônica, todos com os cuidados de servidores municipais que se envaideciam
com o trabalho executado, além de narrarem para os visitantes as origens e
nomes científicos dos peixes e plantas expostos. O Aquário, foi desativado na
administração do Prefeito José Conrado de Araújo e transformado, em 1966, na
Galeria de Artes Álvaro Santos, na gestão do seu sucessor, o Prefeito Godofredo
Diniz Gonçalves, que atendeu aos reclamos dos artistas pictóricos sergipanos,
carentes de um espaço cultural, onde pudessem expor os seus trabalhos.
Na parte central do Parque, os admiradores do Monsenhor
Olímpio de Souza Campos ergueram-lhe uma estátua em 16 de julho de 1916,
homenageando-lhe como homem público e como prelado da Igreja Católica
Apostólica Romana. Já na confluência com a Travessa Benjamim Constant e Rua
Itabaianinha, foi construído o Bar e Restaurante Cacique Chá, espaço dos mais
nobres da cidade na glamorosa década de 1950. Nesses Anos Dourados,
realizavam-se banquetes e festas das mais variadas no Cacique Chá,
especialmente na gerência do fotógrafo Artur Costa. Este, por motivos de saúde,
que foi sucedido por Manoel Felizardo do Nascimento, mais conhecido como
Pirricha. Esse empreendimento passou a pertencer, a partir de 1953, à firma
Amaral & Freitas que ampliou o espaço, mantendo-se, porém, o mesmo padrão,
cujo ambiente era bastante apreciado pela sociedade aracajuana e por
intelectuais de todos os matizes culturais. Cantores famosos, nacionais e
estrangeiros, apresentaram-se no pequeno palco da Boite Cacique Chá, com
destaque ao Rei do Bolero, o cantor espanhol Gregório Barrios, interprete de
canções de grande êxito como “Diez Minutos Mas”, “Besame Mucho”, “Quizas,
Quizaz”, “Recuerdo de Ipacarai”, “Vereda Tropical”, entre outras. Além de
Gregório Barrios, outra atração do Cacique Chá, foi Pedro Vargas, cantor e ator
mexicano que alcançou grande sucesso internacional, sendo reconhecido como o
Rouxinol das Américas. Entre os nacionais, Ângela Maria, Ivon Cury, Nelson
Gonçalves, Maísa Matarazzo e os músicos aracajuanos Antonio Teles e Ximenes,
foram os que mais receberam aplausos da elite sergipana frequentadora do
Cacique Chá.
Para esses acontecimentos sociais eram vendidos convites
estilizados com estampas de pontos turísticos de Aracaju, que davam acesso à
Boate, para as mesas com quatro lugares, que, em geral, eram ocupadas por
casais elegantemente trajados, oportunidades em que as mulheres exibiam os seus
esvoaçantes vestidos de cetin ou organza, ou ainda tailleur Chanel, enquanto
que os homens trajavam-se com ternos azuis-marinhos e cinzas, ou com paletós
esportes, os atuais blazers, nas cores escuras para contrastar com as calças,
geralmente alvas. A pista de dança, localizada no meio do salão, era palco dos casais
enamorados exibirem os seus dotes de dançarinos, às vezes aplaudidos pelos que
ficam nas mesas saboreando salgadinhos, croquetes e outros tira gostos,
acompanhados de cervejas Faixa Azul do casco verde, da Antarctica ou Brahma, do
casco escuro, as mais famosas. Outros preferiam beber doses do Whisky White
Horse, o tradicional e famoso Cavalo Branco, um dos mais antigos “blendeds”, a
serem consumidos em Aracaju, ao lado do Old Parr, para paladares mais
exigentes. Bebia-se, também, Cuba Libre, uma mistura do antigo Ron Merino, com
Coca-Cola, limão e gelo. O vinho era pouco consumido, nessa época. As mulheres
pouco bebiam e aquelas que se aventuravam a um “drink” mais forte, apreciavam o
Daiquiri, preparado à base de Ron branco, açúcar e limão, ingredientes batidos
em coqueteleira e servidos em taças de champagne, com uma cereja na borda. Todo
esse glamour do Cacique Chá sobreviveu ainda nos sessenta do século XX, mas,
aos poucos, foi perdendo as suas características culturais, apesar de ainda
sobreviverem algumas representações desse passado glorioso nas aquarelas
pintadas em 1949 por Jenner Augusto, artista plástico sergipano, que era
bastante influenciado pela obra de Portinari.
Parque Teófilo Dantas (II).
Por José Anderson Nascimento.
O Parque era uma área ecológica e urbanisticamente
preservada, pois, normas municipais proibiam até as pessoas espocarem foguetes
nos dias festivos, para que não fossem danificados os globos de vidro da
iluminação pública e outros equipamentos, segundo a previsão do Edital Nº 5,
publicado no Diário Oficial do Estado, edição do dia 20 de agosto de 1928.
Outra providencia com vistas à manutenção das árvores em
crescimento e ao aformoseamento dos jardins que decoravam as suas alamedas, foi
a transferência da Feirinha de Natal para a Praça Pinheiro Machado, atual Praça
Tobias Barreto, na Zona Sul da Cidade, o que aconteceu em decorrência do Edital
Nº 49, publicado na edição de 18 de dezembro de 1929, no Diário Oficial do
Estado, que também, publicava os atos municipais.
Então, na Praça Pinheiro Machado, logradouro aracajuano que
homenageava José Gomes Pinheiro Machado (1851-1915), o político gaúcho mais
influente da República Velha (1889-1930), –passaram a ser realizadas, por uns
vinte anos, as festas de Natal, Ano Bom e Reis, que ficaram imortalizadas nas
páginas do livro Roteiro de Aracaju, de autoria do poeta, cronista, romancista,
jurista, professor e acadêmico Mário de Araújo Cabral, um dos fundadores da
Academia Sergipana de Letras.
Mas, nos anos de 1950, a Feirinha de Natal voltou a
pontificar no Parque Teófilo Dantas, concentrando nesse espaço público da
cidade, total congraçamento religioso e profano da cidade. Nessa época, o ciclo
natalino, iniciava-se, invariavelmente, no dia 8 de dezembro, logo após a
procissão de Nossa Senhora da Conceição, encerrando-se no dia 6 de janeiro,
data dedicada aos Reis Magos, na tradição cristã.
Durante esse período eram instalados os equipamentos de
lazer para a alegria do povo. Um dos que mais atraíam a criançada era o
Carrossel de Seu Tobias, capitaneado por um boneco negro, que tocava um realejo
e com efeitos mecânicos, movimentava a sua cabeça. O realejo foi substituído
por um estridente apito, que era ouvido a alguns quarteirões, pois à época não
havia poluição sonora. Este Carrossel era um produto norte americano, fabricado
em North Tonawanda, cidade do estado de Nova York e classificado como
equipamento de entretenimento, já conhecido dos sergipanos desde 1904, porém,
só depois de 1958, quando passou a pertencer ao Vereador Milton Santos,
consolidou-se como garantia das festas do Natal de Aracaju. Era instalado no
lado direito da Catedral Nossa Senhora da Conceição e composto com parelhas de
cavalos de madeira, pintados com tinta a óleo, à semelhança das cores dos
eqüinos (tordilho, ruço, preto, alasão, castanho), encilhados e, também,
movimentados mecanicamente, como se estivessem a galope. Era a sensação de
crianças e adultos, que ainda se aboletavam nas confortáveis poltronas, a
rodopiar numa plataforma sobre trilhos e alaridos festivos, que só cessavam
quando eram iniciados os ofícios religiosos. No mesmo lado, havia outros
brinquedos, tipo Avião, Sombrinha, Barcos que eram verdadeiros balanços,
puxados com cordas, além da Onda de madeira. Em frente a esses equipamentos
havia um balcão de madeira revestido com folha de flandre, onde estava a banca
de Seu João do Cachorro Quente, o sanduíche mais famoso do Parque, cozinhado
numa panela de alumínio reluzente, cujo aroma da iguaria invadia o ambiente,
atraindo os seus consumidores. Entre um Cachorro Quente e outro, os mais
gulosos ainda degustavam pipocas.
Em frente à Igreja, descortinava-se um corredor, a que o
povo chamava de Quem me quer, pelo fato de que as adolescentes ficavam prá lá e
prá cá, exibindo-se para a rapaziada, que se concentrava, praticamente, no
entorno da estátua do Monsenhor Olímpio Campos. A cada lado desse corredor, algumas
famílias burguesas colocavam bancos de madeira com os seus respectivos nomes, e
até poltronas, para acompanharem as suas filhas, tempo em que, as mulheres
tinham uma oportunidade de ficarem tricotando a vida alheia. Nas imediações
desse espaço eram instalados bares com mesas e cadeiras, tanto em frente à
Escola Normal, hoje Centro de Turismo, como na parte superior do antigo
Aquário, atual Galeria de Artes Álvaro Santos e na parte fronteiriça da
Prefeitura e do Palácio Episcopal, destacando-se, pela fidalguia no trato com
os seus clientes, o Bar do Cotinguiba Sport Clube, gerenciado por Roger Torres
de Oliveira.
No outro lado da Igreja, ou seja, no lado esquerdo desse
monumento histórico, encontrávamos a Roda Gigante, os tabuleiros de arroz doce,
de confeitos de castanha e de amendoins acondicionados nos barquinhos de papel
de seda, de roletes de cana, de maçã do amor, de cavaco chinês, além do
vendedor de balões (bexigas) com o seu cilindro de gás hélio, que deslumbrava
meninos e meninas. Misturados a tudo isso, havia também as barracas para as
pescarias, de tiro ao alvo, de argolas e as bancas de jogo, tipo barrufo, pio
(dados), jogo do bicho e, mais ao fundo, roletas. O jogo de azar era livre,
apesar da sua proibição por força do Decreto-Lei 9.215, de 30 de abril de 1946,
assinado pelo Presidente Eurico Gaspar Dutra. Nessa mesma área havia um
palanque para a apresentação de folguedos folclóricos, entre os quais se
destacavam a Zabumba de Quemdera, o Reisado de Piliu, a Chegança de Zé do Pão e
o Guerreiro de Mestre Euclides. Ali também estavam instaladas as toscas
barracas de pano, que formava um conjunto de bares e de pequenos restaurantes,
popularmente chamado de Egito.
Nos bares do Egito eram servidos apetitosos pratos típicos,
entre os quais caruru, sarapatel, sopa de mão de vaca, pirão de mocotó, carne
de porco frita, com fígado e rins de boi, feijoada, galinha cozida (kitchen) e
galinha ao molho pardo, tudo regado a cerveja e cachaça, em especial a Guiamum,
Paraty, Fogosa, John Bull, entre outras marcas. Esses estabelecimentos
pertenciam a pequenos empresários, geralmente da periferia, da Caixa d’Água, da
Suissa e de outros lugares afastados, cujas famílias de baixa renda se mudavam
para o Parque nesses dias festivos. Naquelas barracas, alimentos, gente
dormindo, barricão com cerveja gelando com pedaços de barra de gelo enrolados
em jornais velhos acondicionados com pó de serra e sal grosso, já que não havia
geladeira, nem freezer, compunham o ambiente e a sua higienização. Os pratos
eram de ágata, alguns dos quais já com as beiras sem esmalte; os copos de
vidro, tipo americano, eram lavados nas bacias de alumínio, tudo para atender à
clientela composta de notívagos e de jogadores das roletas, que, entre uma
aposta e outra, degustavam esses deliciosos acepipes, até alta madrugada.
Textos reproduzidos do blog:
joseandersonacademiadeletras.blogspot.com.br
-----------------------------------------------------------------------------------------------------
Parque Teófilo Dantas - Feirinha de Natal
Roda Gigante e o Carrossel do Tobias.
Fonte: Revista Alvorada nr. 63 - DEZ/1972.
Foto e Legenda reproduzidos da página do Facebook/Aracajuantiga.
Postada por MTéSERGIPE, para ilustrar o presente artigo.
Publicado originalmente no blog de José A. Nascimento, em
06/02/2014.
Parque Teófilo Dantas (III).
José Anderson Nascimento.
A Feirinha de Natal realizada no Parque até os anos de 1980
era o maior acontecimento social da cidade no ciclo natalino, em especial para
a criançada. Nessa época, criança ainda era criança, com as suas fantasias
infantis e os seus brinquedos lúdicos, que eram vendidos por ambulantes, tipo
carrinhos de madeira, kits de música, ratinhos de papel que corriam sobre
carretéis de cerâmica, bonecas, fantoches, petecas, entre outros, que
estimulavam a educação infantil. As comidas e guloseimas eram artesanais,
típicas e caseiras, poucos eram os alimentos industrializados, ali vendidos. Os
refrigerantes produzidos em Aracaju, Jade, Gasosa, Amorosa, Tubaína, foram, aos
poucos, substituídos por marcas internacionais e nacionais, tipo Coca-Cola, na
garrafinha e de 185 mililitros, Guaraná Caçula, da Antarctica, surgida em 1950,
também, na garrafinha de 185 mililitros, Crush, no sabor laranja, Grapette,
Fratelli Vita, nos sabores guaraná, limão e laranja, e Guaraná da Brahma, que
passaram a dominar o mercado consumidor aracajuano.
Nessa época, a pavimentação do Parque ainda era primária,
empiçarrada, o que ocasionava poeira no verão e, lama quando chovia, causando
transtornos para as donas de casa, na lavagem das roupas de seus filhos,
geralmente de linho branco e das meninas, que vestiam roupinhas em tecidos
leves, azuis e outros tons alvos. O jeans ainda não havia invadido o vestuário,
e o traje das pessoas eram tradicionais. Os homens fossem ricos, remediados ou
pobres, trajavam-se com paletós e gravatas e as mulheres sempre elegantes,
algumas se vestiam, exageradamente, a que o povo, na sua ironia, dizia que elas
estavam enfeitadas, parodiando Balzac, em uma das suas célebres frases, ao
dizer que as elegantes vestiam-se e as ricas enfeitavam-se.
Todo esse burburinho de fim de tarde até oito a nove horas
da noite, durante os dias das semanas natalinas, ou, até mais tarde no final de
semana, só era interrompido por ocasião dos ofícios religiosos, realizados na
Catedral Nossa Senhora da Conceição, quando tudo parava de funcionar, principalmente
durante a celebração da Missa do Galo, celebrada na Véspera de Natal, que
começava, invariavelmente, à meia noite de 24 para 25 de Dezembro, em atenção
aos pedidos do Monsenhor Olívio Teixeira, durante o período de 1949 a 1957,
quando esteve à frente da Paróquia.
Esses anos glamorosos da Feirinha de Natal, no Parque
Teófilo Dantas, foram decaindo na proporção em que foram decaindo, também,
festejos populares em torno do Natal, no centro da cidade, bem assim ao
surgimento de outros espaços públicos e à própria transformação da festa
natalina, que passou a exigir um maior congraçamento das famílias em suas
residências, em torno da Ceia do Natal. Outro fator dessa mudança dos festejos
natalinos está ligado ao consumo, devido à influência do mercado de produtos
natalinos desencadeada pelos norte americanos no Brasil, principalmente a
partir da década de 1960, quando a propaganda em torno do Papai Noel, começou a
ser mais evidente. Associado a isso, outros fatores como a falta de segurança,
a desmotivação do povo, o surgimento de parques de diversões com novos
equipamentos de lazer e o aparecimento dos shoppings, fizeram com que a
tradicional Feirinha de Natal deixasse de acontecer no Parque Teófilo Dantas.
Texto reproduzido do blog: joseandersonacademiadeletras.blogspot.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário