sábado, 4 de fevereiro de 2017

A História do Parque Teófilo Dantas, em Aracaju

Parque Teófilo Dantas (1931).
Foto arquivo Biblioteca Nacional (Brasil).
Reproduzida do site: brasilianafotografica.bn.br
Postado por MTéSERGIPE, para ilustrar os artigos.

Publicados originalmente no blog de José A. Nascimento, em 26/12/2014.

Parque Teófilo Dantas.
Por Jose Anderson Nascimento

O Parque Teófilo Dantas, ou simplesmente, o Parque, como o aracajuano denomina esse espaço público, construído dentro da Praça Olímpio Campos, numa área de 100 metros de largura, por 200 metros de comprimento, é um dos mais importantes logradouros de Aracaju, no centro do qual foi construída a Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição, atual Catedral Metropolitana com o mesmo orago. Sua denominação foi dada pela Resolução número 373, do Conselho Municipal de Aracaju, datada de 17 de julho de 1928, em homenagem ao Coronel Teófilo Correia Dantas, Intendente (Prefeito) Municipal, no período de 1927 até 1930.

O Parque foi projetado e executado pelo arquiteto e escultor Corinto Mendonça, que introduziu no seu projeto inicial alguns elementos decorativos da antiga Praça de Santa Maria de Belém, no Pará, uma das zonas naturais mais frequentadas pelos habitantes da cidade de Belém. Inaugurada no ano de 1904, se destaca por sua frondosa vegetação e rica decoração com lagoas, ilhotas e pontes, o que serviu de inspiração para a construção de muitas praças no Brasil.

No Parque Teófilo Dantas foram introduzidos vários elementos decorativos, tipo taba de índios, lago das ninfas, cascata, o rio onde navegavam barcos infantis, parque zoológico, aquário e parque de diversões, alamedas e uma iluminação bem atrativa. No decorrer do tempo, oitizeiros, tamarindeiros, jatobás, ipês e uma vasta vegetação de espécimes da Mata Atlântica, decoraram o logradouro, que, também abrigava pássaros exóticos, como faisões, pavões, garças, marrecos e animais da fauna brasileira, como preguiças, cotias, macacos pregos, entre outros, que encantavam a gurizada nos seus passeios dominicais, quando acompanhada dos seus pais, irmãos, tios, avós e amigos, visitavam os viveiros e reservas naturais cercadas, inclusiva a gruta da Cascatinha, localizada na extremidade noroeste do Parque, na confluência das ruas Capela e Propriá, cuja área era dominada por onças suçuaranas, capturadas nas matas regionais e trazidas para Aracaju.

O Parque era muito organizado, as calçadas do seu entorno eram simétricas, com largura de 2m20cm e revestidas de “trotoir” frisados nas cores de concreto e roxo terra, alternadamente. As áreas eram vigiadas por guardas municipais, que marcavam a presença da autoridade pública, coibindo os excessos sem violências, porém exercendo uma função pedagógica na orientação dos usuários do logradouro publico, para que não danificassem os seus equipamentos.

Outro espaço muito frequentado pelos visitantes do Parque era o Aquário, onde víamos peixes ornamentais de espécimes regionais e da fauna amazônica, todos com os cuidados de servidores municipais que se envaideciam com o trabalho executado, além de narrarem para os visitantes as origens e nomes científicos dos peixes e plantas expostos. O Aquário, foi desativado na administração do Prefeito José Conrado de Araújo e transformado, em 1966, na Galeria de Artes Álvaro Santos, na gestão do seu sucessor, o Prefeito Godofredo Diniz Gonçalves, que atendeu aos reclamos dos artistas pictóricos sergipanos, carentes de um espaço cultural, onde pudessem expor os seus trabalhos.

Na parte central do Parque, os admiradores do Monsenhor Olímpio de Souza Campos ergueram-lhe uma estátua em 16 de julho de 1916, homenageando-lhe como homem público e como prelado da Igreja Católica Apostólica Romana. Já na confluência com a Travessa Benjamim Constant e Rua Itabaianinha, foi construído o Bar e Restaurante Cacique Chá, espaço dos mais nobres da cidade na glamorosa década de 1950. Nesses Anos Dourados, realizavam-se banquetes e festas das mais variadas no Cacique Chá, especialmente na gerência do fotógrafo Artur Costa. Este, por motivos de saúde, que foi sucedido por Manoel Felizardo do Nascimento, mais conhecido como Pirricha. Esse empreendimento passou a pertencer, a partir de 1953, à firma Amaral & Freitas que ampliou o espaço, mantendo-se, porém, o mesmo padrão, cujo ambiente era bastante apreciado pela sociedade aracajuana e por intelectuais de todos os matizes culturais. Cantores famosos, nacionais e estrangeiros, apresentaram-se no pequeno palco da Boite Cacique Chá, com destaque ao Rei do Bolero, o cantor espanhol Gregório Barrios, interprete de canções de grande êxito como “Diez Minutos Mas”, “Besame Mucho”, “Quizas, Quizaz”, “Recuerdo de Ipacarai”, “Vereda Tropical”, entre outras. Além de Gregório Barrios, outra atração do Cacique Chá, foi Pedro Vargas, cantor e ator mexicano que alcançou grande sucesso internacional, sendo reconhecido como o Rouxinol das Américas. Entre os nacionais, Ângela Maria, Ivon Cury, Nelson Gonçalves, Maísa Matarazzo e os músicos aracajuanos Antonio Teles e Ximenes, foram os que mais receberam aplausos da elite sergipana frequentadora do Cacique Chá.

Para esses acontecimentos sociais eram vendidos convites estilizados com estampas de pontos turísticos de Aracaju, que davam acesso à Boate, para as mesas com quatro lugares, que, em geral, eram ocupadas por casais elegantemente trajados, oportunidades em que as mulheres exibiam os seus esvoaçantes vestidos de cetin ou organza, ou ainda tailleur Chanel, enquanto que os homens trajavam-se com ternos azuis-marinhos e cinzas, ou com paletós esportes, os atuais blazers, nas cores escuras para contrastar com as calças, geralmente alvas. A pista de dança, localizada no meio do salão, era palco dos casais enamorados exibirem os seus dotes de dançarinos, às vezes aplaudidos pelos que ficam nas mesas saboreando salgadinhos, croquetes e outros tira gostos, acompanhados de cervejas Faixa Azul do casco verde, da Antarctica ou Brahma, do casco escuro, as mais famosas. Outros preferiam beber doses do Whisky White Horse, o tradicional e famoso Cavalo Branco, um dos mais antigos “blendeds”, a serem consumidos em Aracaju, ao lado do Old Parr, para paladares mais exigentes. Bebia-se, também, Cuba Libre, uma mistura do antigo Ron Merino, com Coca-Cola, limão e gelo. O vinho era pouco consumido, nessa época. As mulheres pouco bebiam e aquelas que se aventuravam a um “drink” mais forte, apreciavam o Daiquiri, preparado à base de Ron branco, açúcar e limão, ingredientes batidos em coqueteleira e servidos em taças de champagne, com uma cereja na borda. Todo esse glamour do Cacique Chá sobreviveu ainda nos sessenta do século XX, mas, aos poucos, foi perdendo as suas características culturais, apesar de ainda sobreviverem algumas representações desse passado glorioso nas aquarelas pintadas em 1949 por Jenner Augusto, artista plástico sergipano, que era bastante influenciado pela obra de Portinari.

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Parque Teófilo Dantas (II).
Por José Anderson Nascimento.

O Parque era uma área ecológica e urbanisticamente preservada, pois, normas municipais proibiam até as pessoas espocarem foguetes nos dias festivos, para que não fossem danificados os globos de vidro da iluminação pública e outros equipamentos, segundo a previsão do Edital Nº 5, publicado no Diário Oficial do Estado, edição do dia 20 de agosto de 1928.

Outra providencia com vistas à manutenção das árvores em crescimento e ao aformoseamento dos jardins que decoravam as suas alamedas, foi a transferência da Feirinha de Natal para a Praça Pinheiro Machado, atual Praça Tobias Barreto, na Zona Sul da Cidade, o que aconteceu em decorrência do Edital Nº 49, publicado na edição de 18 de dezembro de 1929, no Diário Oficial do Estado, que também, publicava os atos municipais.

Então, na Praça Pinheiro Machado, logradouro aracajuano que homenageava José Gomes Pinheiro Machado (1851-1915), o político gaúcho mais influente da República Velha (1889-1930), –passaram a ser realizadas, por uns vinte anos, as festas de Natal, Ano Bom e Reis, que ficaram imortalizadas nas páginas do livro Roteiro de Aracaju, de autoria do poeta, cronista, romancista, jurista, professor e acadêmico Mário de Araújo Cabral, um dos fundadores da Academia Sergipana de Letras.

Mas, nos anos de 1950, a Feirinha de Natal voltou a pontificar no Parque Teófilo Dantas, concentrando nesse espaço público da cidade, total congraçamento religioso e profano da cidade. Nessa época, o ciclo natalino, iniciava-se, invariavelmente, no dia 8 de dezembro, logo após a procissão de Nossa Senhora da Conceição, encerrando-se no dia 6 de janeiro, data dedicada aos Reis Magos, na tradição cristã.

Durante esse período eram instalados os equipamentos de lazer para a alegria do povo. Um dos que mais atraíam a criançada era o Carrossel de Seu Tobias, capitaneado por um boneco negro, que tocava um realejo e com efeitos mecânicos, movimentava a sua cabeça. O realejo foi substituído por um estridente apito, que era ouvido a alguns quarteirões, pois à época não havia poluição sonora. Este Carrossel era um produto norte americano, fabricado em North Tonawanda, cidade do estado de Nova York e classificado como equipamento de entretenimento, já conhecido dos sergipanos desde 1904, porém, só depois de 1958, quando passou a pertencer ao Vereador Milton Santos, consolidou-se como garantia das festas do Natal de Aracaju. Era instalado no lado direito da Catedral Nossa Senhora da Conceição e composto com parelhas de cavalos de madeira, pintados com tinta a óleo, à semelhança das cores dos eqüinos (tordilho, ruço, preto, alasão, castanho), encilhados e, também, movimentados mecanicamente, como se estivessem a galope. Era a sensação de crianças e adultos, que ainda se aboletavam nas confortáveis poltronas, a rodopiar numa plataforma sobre trilhos e alaridos festivos, que só cessavam quando eram iniciados os ofícios religiosos. No mesmo lado, havia outros brinquedos, tipo Avião, Sombrinha, Barcos que eram verdadeiros balanços, puxados com cordas, além da Onda de madeira. Em frente a esses equipamentos havia um balcão de madeira revestido com folha de flandre, onde estava a banca de Seu João do Cachorro Quente, o sanduíche mais famoso do Parque, cozinhado numa panela de alumínio reluzente, cujo aroma da iguaria invadia o ambiente, atraindo os seus consumidores. Entre um Cachorro Quente e outro, os mais gulosos ainda degustavam pipocas.

Em frente à Igreja, descortinava-se um corredor, a que o povo chamava de Quem me quer, pelo fato de que as adolescentes ficavam prá lá e prá cá, exibindo-se para a rapaziada, que se concentrava, praticamente, no entorno da estátua do Monsenhor Olímpio Campos. A cada lado desse corredor, algumas famílias burguesas colocavam bancos de madeira com os seus respectivos nomes, e até poltronas, para acompanharem as suas filhas, tempo em que, as mulheres tinham uma oportunidade de ficarem tricotando a vida alheia. Nas imediações desse espaço eram instalados bares com mesas e cadeiras, tanto em frente à Escola Normal, hoje Centro de Turismo, como na parte superior do antigo Aquário, atual Galeria de Artes Álvaro Santos e na parte fronteiriça da Prefeitura e do Palácio Episcopal, destacando-se, pela fidalguia no trato com os seus clientes, o Bar do Cotinguiba Sport Clube, gerenciado por Roger Torres de Oliveira.

No outro lado da Igreja, ou seja, no lado esquerdo desse monumento histórico, encontrávamos a Roda Gigante, os tabuleiros de arroz doce, de confeitos de castanha e de amendoins acondicionados nos barquinhos de papel de seda, de roletes de cana, de maçã do amor, de cavaco chinês, além do vendedor de balões (bexigas) com o seu cilindro de gás hélio, que deslumbrava meninos e meninas. Misturados a tudo isso, havia também as barracas para as pescarias, de tiro ao alvo, de argolas e as bancas de jogo, tipo barrufo, pio (dados), jogo do bicho e, mais ao fundo, roletas. O jogo de azar era livre, apesar da sua proibição por força do Decreto-Lei 9.215, de 30 de abril de 1946, assinado pelo Presidente Eurico Gaspar Dutra. Nessa mesma área havia um palanque para a apresentação de folguedos folclóricos, entre os quais se destacavam a Zabumba de Quemdera, o Reisado de Piliu, a Chegança de Zé do Pão e o Guerreiro de Mestre Euclides. Ali também estavam instaladas as toscas barracas de pano, que formava um conjunto de bares e de pequenos restaurantes, popularmente chamado de Egito.

Nos bares do Egito eram servidos apetitosos pratos típicos, entre os quais caruru, sarapatel, sopa de mão de vaca, pirão de mocotó, carne de porco frita, com fígado e rins de boi, feijoada, galinha cozida (kitchen) e galinha ao molho pardo, tudo regado a cerveja e cachaça, em especial a Guiamum, Paraty, Fogosa, John Bull, entre outras marcas. Esses estabelecimentos pertenciam a pequenos empresários, geralmente da periferia, da Caixa d’Água, da Suissa e de outros lugares afastados, cujas famílias de baixa renda se mudavam para o Parque nesses dias festivos. Naquelas barracas, alimentos, gente dormindo, barricão com cerveja gelando com pedaços de barra de gelo enrolados em jornais velhos acondicionados com pó de serra e sal grosso, já que não havia geladeira, nem freezer, compunham o ambiente e a sua higienização. Os pratos eram de ágata, alguns dos quais já com as beiras sem esmalte; os copos de vidro, tipo americano, eram lavados nas bacias de alumínio, tudo para atender à clientela composta de notívagos e de jogadores das roletas, que, entre uma aposta e outra, degustavam esses deliciosos acepipes, até alta madrugada.

Textos reproduzidos do blog: joseandersonacademiadeletras.blogspot.com.br

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Parque Teófilo Dantas - Feirinha de Natal
Roda Gigante e o Carrossel do Tobias.
Fonte: Revista Alvorada nr. 63 - DEZ/1972.
Foto e Legenda reproduzidos da página do Facebook/Aracajuantiga.
Postada por MTéSERGIPE, para ilustrar o presente artigo.

Publicado originalmente no blog de José A. Nascimento, em 06/02/2014.

Parque Teófilo Dantas (III).
José Anderson Nascimento.

A Feirinha de Natal realizada no Parque até os anos de 1980 era o maior acontecimento social da cidade no ciclo natalino, em especial para a criançada. Nessa época, criança ainda era criança, com as suas fantasias infantis e os seus brinquedos lúdicos, que eram vendidos por ambulantes, tipo carrinhos de madeira, kits de música, ratinhos de papel que corriam sobre carretéis de cerâmica, bonecas, fantoches, petecas, entre outros, que estimulavam a educação infantil. As comidas e guloseimas eram artesanais, típicas e caseiras, poucos eram os alimentos industrializados, ali vendidos. Os refrigerantes produzidos em Aracaju, Jade, Gasosa, Amorosa, Tubaína, foram, aos poucos, substituídos por marcas internacionais e nacionais, tipo Coca-Cola, na garrafinha e de 185 mililitros, Guaraná Caçula, da Antarctica, surgida em 1950, também, na garrafinha de 185 mililitros, Crush, no sabor laranja, Grapette, Fratelli Vita, nos sabores guaraná, limão e laranja, e Guaraná da Brahma, que passaram a dominar o mercado consumidor aracajuano.

Nessa época, a pavimentação do Parque ainda era primária, empiçarrada, o que ocasionava poeira no verão e, lama quando chovia, causando transtornos para as donas de casa, na lavagem das roupas de seus filhos, geralmente de linho branco e das meninas, que vestiam roupinhas em tecidos leves, azuis e outros tons alvos. O jeans ainda não havia invadido o vestuário, e o traje das pessoas eram tradicionais. Os homens fossem ricos, remediados ou pobres, trajavam-se com paletós e gravatas e as mulheres sempre elegantes, algumas se vestiam, exageradamente, a que o povo, na sua ironia, dizia que elas estavam enfeitadas, parodiando Balzac, em uma das suas célebres frases, ao dizer que as elegantes vestiam-se e as ricas enfeitavam-se.

Todo esse burburinho de fim de tarde até oito a nove horas da noite, durante os dias das semanas natalinas, ou, até mais tarde no final de semana, só era interrompido por ocasião dos ofícios religiosos, realizados na Catedral Nossa Senhora da Conceição, quando tudo parava de funcionar, principalmente durante a celebração da Missa do Galo, celebrada na Véspera de Natal, que começava, invariavelmente, à meia noite de 24 para 25 de Dezembro, em atenção aos pedidos do Monsenhor Olívio Teixeira, durante o período de 1949 a 1957, quando esteve à frente da Paróquia.

Esses anos glamorosos da Feirinha de Natal, no Parque Teófilo Dantas, foram decaindo na proporção em que foram decaindo, também, festejos populares em torno do Natal, no centro da cidade, bem assim ao surgimento de outros espaços públicos e à própria transformação da festa natalina, que passou a exigir um maior congraçamento das famílias em suas residências, em torno da Ceia do Natal. Outro fator dessa mudança dos festejos natalinos está ligado ao consumo, devido à influência do mercado de produtos natalinos desencadeada pelos norte americanos no Brasil, principalmente a partir da década de 1960, quando a propaganda em torno do Papai Noel, começou a ser mais evidente. Associado a isso, outros fatores como a falta de segurança, a desmotivação do povo, o surgimento de parques de diversões com novos equipamentos de lazer e o aparecimento dos shoppings, fizeram com que a tradicional Feirinha de Natal deixasse de acontecer no Parque Teófilo Dantas.

Texto reproduzido do blog: joseandersonacademiadeletras.blogspot.com.br

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