Foto reproduzida do site: segrase.se.gov.br
Alina Paim*
Por Zózimo Lima.
Está ai uma escritora sergipana de muito talento, filha de
Simão Dias que eu, como muitos dos nossos conterrâneos, desconhecia até agora.
Chama-se ela Alina Paim, nasceu na terra de Ranulfo Prata,
passou a meninice em Estância, e, depois, seguiu para o Rio, onde, além de
professora, firmou a sua reputação como novelista de primeira água, que não,
ficou aquém de Raquel de Queirós, Dinah Silveira, Lúcia Miguel Pereira e Lúcia
Benedetti.
Alina Paim, que é ainda muito moça pelo que constato da
fotografia, já escreveu três romances, festejados pela imprensa: Estrada da
Liberdade; Simão Dias e A Sombra do Patriarca, agora mesmo editado pela Livraria
Globo, de Porto Alegre.
A Sombra do Patriarca, que obedece ao mesmo tema de Estrada
da Liberdade, é a dolorosa via-sacra da classe proletária, vítima da injustiça
social do capitalismo com o seu poder absorvente, os seus preconceitos baseados
na divisão de classe e na herança de títulos de nobreza que, pouco a pouco,
diante da acelerada marcha socialista, vão caindo esfrangalhados.
Há, ainda, por aí, tocaiado nos alpendres de “casa grande”
quem alimente ilusões de que estes restos de fidalguia, mantidos à força de
dinheiro conseguido a exploração de trabalhador se manterão ainda por dilatado
tempo.Engano manifesto. Não há de ter a avalanche que destruirá as barreiras
que separam a miséria da riqueza. Não será a barbárie stalinista com os seus
sangrentos expurgos que fará melhorar as condições de vida da humanidade.
É o próprio homem, cansado de sofrer, abroquecido na fé
religiosa dos seus antepassados, que se revoltará para a conquista da
felicidade não fluida por aqueles ambiciosos, individualistas que olvidaram as
advertências do apóstolo Thiago.
É impossível que no mundo continue por mais tempo a
desigualdade humana no que tange ao bem e mal estar. Uns comem, outros passam
fome. Uns vestem, com opulência, outros andam quase nus. Nos hospitais, outros
andam quase nus. Nos hospitais há quartos com instalações de luxo asiático que
são um insulto à enxerga no salão promiscuo onde geme o enfermo indigente que
tem também direito à vida mas não tem dinheiro.
É mister por fim ao egoísta opulento, de mentalidade
medieval, que adquire com o dinheiro arrancado aos pobres, ao trabalhador de
enxada, ao carregador do cais, ao caixeiro do armazém, ao supersticioso, vastas
terras para proveito próprio com prejuízo da pobreza que nelas habita muitas
anos e é expulsa sem a piedade pregada por Jesus.
A sombra do Patriarca, de Alina Paim, é o quadro vivo das
vidas em conflitos, em que a opulência acaba sendo derrotada pelas forças
coesas de uma classe que um dia entendeu de reivindicar ancestrais direitos
postergados.
(Aracaju, Correio de Aracaju, 24. nov. 1951).
*Texto enviado por Gilfrancisco, para o site arquivors.com
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