Foto reproduzida do blog: joseanafonseca.blogspot.com.br
Postada por MTéSERGIPE, para ilustrar o presente artigo.
A Romancista Alina Paim.
Por Gilfrancisco*
Silenciosa, talentosa e paciente, essa romancista sergipana,
deficiente visual aos 87 anos, construiu seu mundo sem pressa, jamais se
desligou do interesse humano, do sentido político e social de suas histórias e
de seus personagens. Apesar das opiniões favoráveis a sua obra que mereceram da
crítica nacional e internacional, a colocando na altura das melhores
romancistas da sua geração, seu nome está injustamente excluído dos compêndios
literários brasileiros. Muitos desses intelectuais militantes, a exemplo de
Enoch Santiago Filho, Renato Mazze Lucas, Jacinta Passos e a própria Alina Paim
foram também silenciados pelo Partido, apesar de terem sido beneficiados da
rede de relações construída no seu itinerário.
***
Gênero literário em prosa, relativamente longo, o romance é
caracterizado pela narrativa de acontecimentos fictícios, mas geralmente
verossímeis, relacionados a uma ação centrada num enredo, na análise de
personagens ou no exame de uma situação. Entendido como sucedâneo do poema
épico, o romance moderno tem raízes nos romances de cavalaria, mas só se
configurou como hoje o conhecemos no século XVIII, tendo por precursores entre
outros, o abade Prévost (Manon Lescaut, 1731) e Henry Fielding (Tom Jones, 1749).
Ciente de sua vocação literária e disposta a seguir a
trilha, Alina Paim optou pelo romance, não se deixou tentar pela atração do
conto, nem da crônica, nem mesmo de artigo para jornal. Seu interesse maior e
único o romance. Mesmo tendo estreado aos 23 anos, o tempo lhe assegurou o
necessário capital de experiência e observação, indispensáveis para todo
romancista. O romance tem em Alina Paim a mão que o denuncia de todos os
segredos e violências, explorando-o em cada ângulo difícil sem restringi-lo à mera
análise superficial, exigindo assim do crítico que a estuda um esforço vital,
um reconhecimento de nuances, ampliando sua visão de autora consciente e
politizada.
Alina dá a medida exata, a atualização essencial da
narrativa romanesca, um sentido de concepção nova na caracterização dos
personagens, onde os conflitos interiores surgem à descoberta inteiramente
vigiada pelos seus equilíbrios de narradora onisciente. Alina é uma romancista
que escreve com naturalidade, conta a sua história com um gosto e emoção
crescente, conseguindo captar o que há de duradouro e de eteno na criatura
humana. Denunciando a história de várias criaturas, cujos pequenos dramas
ganham enormes proporções, porque exprimem toda espécie de mutilação de uma
sociedade rural, como no romance Simão Dias.
Alina Leite Paim nasceu na cidade de Estância, (68 km de
Aracaju) berço da imprensa sergipana, a 10 de outubro de 1919, filha de Manuel
Vieira Leite e de Maria Portela de Andrade Leite, ambos sergipanos. Com três
meses de idade mudou-se com os pais para Salvador. Ao perder a mãe, foi para
Simão Dias (SE), morar na casa dos avós paternos, onde sofreu muito com a
rigorosa educação dos parentes, principalmente pelas constantes e severas
repreensões das três tias solteironas. A severa educação que recebera nesses
primeiros anos, de certa forma contribuiria para sua aprovação em 1932, no
primeiro ano do curso fundamental com distinção nos exames de suficiência do
Colégio Nossa Senhora da Soledade, em Salvador.
Simão Dias foi um celeiro político-econômico de grandes e
influentes famílias que marcaram toda a história de Sergipe. Ali, Alina fez os
estudos preliminares na Escola Menino Jesus e dos sete aos dez anos, freqüentou
o Grupo Escolar Fausto Cardoso, da Praça da Matriz, onde recebe formação
religiosa e participa de diversas atividades relacionadas à expansão do
catolicismo. Parte de sua infância e adolescência serviu de cenário e título
para o seu segundo romance, escrito nos meses de agosto a dezembro de 1946.
Mudou-se outra vez para Salvador e continuou seus estudos no colégio Nossa
Senhora da Soledade. Aos doze anos passou a escrever para o jornalzinho do
educandário de freiras, onde se formou como professora e trabalhando depois
numa escola da Estrada da Liberdade, hoje um dos bairros mais populosos de
Salvador.
Casou-se em 1943, com o médico baiano Isaías Paim e mudou-se
em seguida para o Rio de Janeiro, onde reside com uma de suas filhas. Como na
época não conseguisse trabalho, foi ensinar na Escola para filhos de
pescadores, na Ilha de Marambaia. Aí escreveu seu primeiro romance, Estrada da
Liberdade, publicado em fins de 1944, com enorme repercussão nos meios
literários e de público, esgotando-se em quatro meses a primeira edição.
Com seu diploma de professora somente era válido dentro dos
limites do Estado da Bahia, encontrou-se, de súbito, sem profissão definida. E,
a convite de Fernando Tude de Souza, diretor da Rádio do Ministério da Educação
e Cultura - MEC, começou a escrever para o programa infantil “No Reino da
Alegria”, dirigido por Geni Marcodes. Para esse programa, colaborou entre 1945
a 1956, escrevendo para crianças e adolescentes. Desde sua chega ao Rio de
Janeiro, Alina participou ativamente da vida literária do País, publicou quase
dez romance e quatro obras infantis, alguns de seus romances foram editados na
Rússia (1957), China (1959), Bulgária (1963) e Alemanha (1968).
Em 1944, a jovem Alina Paim se dirigiu a Barboza Mello,
ligado ao Partido Comunista, então diretor da Editora Leitura, levada pelo
jornalista Osvaldo Alves para entregar os originais do livro Estrada da
Liberdade, e durante esse primeiro contato, a jovem foi contando como e porque
o escreve. Segundo Barboza, Alina Paim era “uma menina de cabelos soltos,
cacheados, 1,50 de altura, 48 quilos de peso, rosto bonito de ingênua, fala
suave, e uma tímida inconcebível numa adolescente que queria ser escritora”.
Publicado pela Editora Leitura, do Rio em 1944, o romance
Estrada da Liberdade retrata a vida de uma professora cheia de idéias, em
contato com a amarga realidade de sua comunidade de bairro proletário, onde
tenta aplicar métodos modernos de aprendizagem. Alina baseou-se em sua infeliz
experiência para escrever. Conheceu a fome e a miséria da infância baiana
abandonada, de quem ela se apaixonou e que muito contribuiu para leva-la a
colocar a sua arte a serviço do povo. Pouco a pouco a professora vai tendo a
revelação de tudo. L~e livros diferentes dados por amigos novos e chega assim a
uma nova concepção da vida, do amor, das relações entre as pessoas humanas e
revolta-se contra tudo que é falso e lhe fora ensinado, uma educação dirigida
no interesse dos poderosos e ricos.
Esse é o clima em que se desenvolve a ação de Estrada da
Liberdade, cuja estrada entraram as primeiras “tropas libertadoras” nas lutas
da Independência da Bahia (1823), e, por esse motivo, recebeu a denominação
simbólica. Alina faz isso com muita felicidade: não cria as histórias, não
inventa, mostra-se apenas com o coração revoltada pelas injustiças sociais e
pela miséria econômica, como se contasse para uma pessoa amiga aquilo que viu e
ouviu.
Essa obra foi muito elogiada pela crítica, pois nela a
autora já mostra sua tendência para a ficção e para as causas humanitárias.
Estrada da Liberdade é uma romance simples, sem as costumeiras técnicas
apuradas, foge a temática da época (seca, cangaço, cacau, café). O painel do
livro, prende a atenção do leitor pela leveza do estilo e pela condição natural
dos seus personagens que se apresentam como qualquer humano, com defeitos e
qualidades. Em menos de 2 anos a edição de Estrada da Liberdade estava
esgotada, tendo contribuído para isso as freiras daquele Convento que eram as
maiores compradoras do livro, não para ler, mas para queimar... Elas não
gostaram do que Alina havia escrito, colaborando para a imortalidade do
Convento N. S. da Soledade.
A partir daí, seguem vários romances que denunciam o poder
dos fortes sobre os fracos. Mostra, também, o amor como forma de realização e
destruição do ser humano; a exploração do homem como força-trabalho, que
caracteriza a sociedade brasileira. Suas obras sempre refletem um tipo de
crítica humanitária. Alina Paim sempre foi tida como de esquerda e lutadora
pelas causas feministas o que lhe causou sérios problemas durante o regime
militar no Brasil nas décadas de 60 e 70.
A redemocratização do país em 1945, com a queda de Getúlio
Vargas e a convocação de uma Assembléia Nacional Constituinte, coincidiria com
a imposição de novos reformismos, a partir do Ato Adicional nº 9 de fevereiro,
o Brasil se surpreende com a extensão e a importância do movimento comunista,
que está ligado ou dirigindo uma série de atividades políticas fundamentais.
Com a saída de Carlos Prestes da prisão, um novo panorama se apresenta: o PCB
se tornará legal e uma nova fase se abre para as esquerdas, em geral. A
sociedade brasileira, então, irá passar por um novo momento de sua história,
havendo a participação democrática de todas as suas classes sociais e uma mais
ampla conquista de direito sociais e isso inclui a literatura.
A morte de Mário de Andrade nesse ano como que assinala o
fim de um ciclo questionador da cultura, das instituições e das idéias. Sua
obra crítica deixa entrevar não apenas força aglutinadora, mas sobretudo
sensibilidade e abertura intelectual e todas as vocações capazes de revelar
aspectos inventivos de algum modo interligados com a trajetória renovadora da
arte no Brasil.
Em 1949 a Livraria Editora Casa do Estudante do Brasil edita
o romance Simão Dias, com apresentação de Graciliano Ramos, amigo e grande
incentivador da tímida escritora sergipana: “A estréia, recebida com louvores,
jogou a moça na literatura. Alina fez vários livros. Este, o terceiro, deixa
longe a Estrada da Liberdade, manifesta um valor que o trabalho da juventude
apenas indicava. A autora observa, estuda com paciência, tem a honestidade
rigorosa de não tratar de um assunto sem domina-lo inteiramente. As suas
personagens são criaturas que a fizeram padecer na infância ou lhe deram alguns
momentos de alegria, em cidadezinhas do interior. Nenhum excesso de
imaginação.”
Neste livro, Alina retrata parte de sua infância e
adolescência, compartilha com o leitor suas memórias sobre o cotidiano desta
cidade do estado de Sergipe. Orientada pelo amigo Graciliano Ramos, Alina
mantém o teor autobiográfico do romance, não substituindo os verdadeiros nomes
dos personagens, no intuito de aproximar ao leitor o cotidiano da cidade e de
seus habitantes nomeados no relato. Quando o romance foi publicado causou
espanto em alguns membros de sua família, pois tiveram as suas vidas expostas
publicamente. Alina escreveu um livro útil e o fez com amor, com generosa
ternura, captando o ambiente, o meio, a atmosfera que cercou a formação,
intelectual e humanista, erigindo o edifício do seu romance argamassando-o de
reminiscências pessoais ou coletando depoimentos.
A Sombra do Patriarca de 1950, publicado pela Livraria Globo
retrata a vida no campo romanceando a maléfica e prepotente atuação do Senhor
de Engenho. É neste ambiente do meio rural do Nordeste, numa antiga fazenda na
qual um mundo de personagens vive em redor do velho fazendeiro, tio Ramiro, e
em função dele. As pessoas e as coisas obedecem ao patriarca, sua vontade
prevalece sobre tudo e todos. Existências se mutilam sob o poder dessa energia
despótica e rígida, sob caprichos decorrentes de uma concepção absurda da vida.
O velho latifúndio muda a seu talante o destino de todo ser humano a seu
alcance.
Ninguém se surpreende com tal estado de coisas até que um
dia Raquel, uma sobrinha do velho, vem passar poucos dias na fazenda. Mas como
adoece de impaludismo, é forçada a permanecer mais tempo, observa o poder
infinito e anacrônico do patriarca, descobre uma por uma as causas – locais,
sociológicas, históricas, psíquicas – em que ele se baseia, e com o
descobrimento começa a revoltar-se contra ele. Assim é a história de Raquel na
velha fazenda, contada por ela na primeira pessoa, mas é também uma imagem do
latifúndio que confere ilimitado poder a seu detentor e paralisa todas as vidas
que dele dependem. A Sombra do Patriarca, de Alina Paim, é o quadro vivo das
vidas em conflitos, em que a opulência acaba sendo derrotada pelas forças
coesas de uma classe que um dia entendeu de reivindicar ancestrais direitos
postergados.
A literatura popular refletiu as lutas desse período. Em
particular a coleção, “Romances do Povo”, dirigida por Jorge Amado, publicada
pela Editora Vitória que reuniu 25 títulos de autores de vários países. Um
desses livros, A Hora Próxima, é de Alina Paim, escritora sergipana militante
do Partido Comunista do Brasil e colaborou na elaboração de uma narrativa
literária que espalham as lutas do povo, revelando o futuro de inevitáveis
conquistas para o proletariado. A Hora Próxima, título que compõe a coleção
(Vol. XI), vendeu 10 mil exemplares somente na primeira tiragem, em 1955. O
livro foi traduzido para o russo e chinês, segue as pegadas de Jorge Amado,
introdutor e praticante-mor do realismo socialista no Brasil.
Segundo Jacob Gorender, em 1950, ouve uma reunião no Rio de
Janeiro, num apartamento em Copacabana dirigida por Diógenes Arruda, então
braço direito de Carlos Prestes, contando com a presença de aproximadamente 30
intelectuais militantes, entre eles Alina Paim, James Amado, Carrera Guerra,
Astrojildo Pereira, Werneck de Castro, Oswaldino Marques e outros. O objetivo
do encontro era “implantar a teoria do realismo socialista entre os
intelectuais comunista”. Arruda, tentou orientar a produção cultural dos
militantes, mas encontrou resistência, porém, entre os próprios intelectuais
alinhados, caso de Graciliano Ramos.
O Realismo Socialista, padrão estético imposto pelo regime
comunista na antiga União Soviética, com a missão de controlar a produção
intelectual, subordinando-a aos cânones dogmáticos do comunismo de então. De
acordo com tais princípios, a literatura e a arte deviam exercer papel
exclusivamente pedagógico, difundindo os esforços comunistas para a construção
do “homem novo” e do “mundo novo” nos países socialistas. Para tanto, os textos
deveriam ser pautados pela objetividade social e participante. Em lugar da
cultura burguesa, considerada pelos comunistas “decadente e degenerada”, os
escritores e artistas tinham por obrigação se empenhar em edificar a “cultura
proletária”, que julgavam a única capaz de desmistificar os valores morais da
classe dominante e sustentar o caráter revolucionário da obra de arte.
Graciliano, apesar de se ter filiado ao Partido Comunista, jamais tolerou tal
ingerência partidária no campo da literatura.
A ação central do livro é uma greve dos ferroviários em
1950, em vários entroncamentos da Rede Mineira. A estrada da Rede, em Cruzeiro,
é tomada por um piquete de mulheres com a tarefa de deter a locomotiva 437, que
se prepara para engatar uma composição e seguir viagem. O maquinista titubeia
e, ante a firmeza e ousadia do grupo de mulheres, pára a 437, que imediatamente
tem na caldeira esfriada e posta fora de combate. A locomotiva se tornará a
bandeira do movimento grevista. Escrito há cinqüenta e seis anos, A Hora
Próxima, se refere ao grande momento em que as massas, protagonistas de uma
ação política organizada e revolucionária, dirigirão a humanidade ao rompimento
da aurora. A narrativa de Alina Paim se prende à ação das massas, sem contudo
tornar-se aprisionada de factualismos e justificativas.
O romancista baiano prefaciou o romance “Sol do Meio-Dia”,
vencedor entre mais de uma centena de concorrentes, prêmio Manoel Antonio de
Almeida, concedido pela Associação Brasileira do Livro, em 1962, o livro foi
publicado no ano anterior pelas edições ABL, comenta a trajetória da
romancista, desde da estréia de Estrada da Liberdade. A história de Ester, a
jovem que veio de Paripiranga para o Rio de Janeiro, cidade maravilhosa e vive
nas pensões coletivas, onde se concentra a população problematizada pelas
dificuldades nas grandes cidades: “Volta hoje, Alina Paim a seu público com Sol
do meio-dia, romance já consagrado com um alto prêmio, o da Associação
Brasileira do Livro, julgado já por figuras como as de Valdemar Cavalcanti,
João Felício dos Santos e Plínio Bastos. Eis uma notícia excelente para os
leitores, sobretudo para os muito que têm acompanhado com constância e admiração
a carreira vitoriosa da romancista. Ela atinge agora sua maturidade criadora. A
menina da Estrada da Liberdade, que irrompeu pelo romance brasileiro em 1945 e
nele impôs sua presença, soube construir seu caminho e crescer de livro para
livro, para chegar à madureza deste Sol do meio-dia, que será sem dúvida um dos
acontecimentos literários importantes do ano. Estou certo do sucesso deste
romance não só junto aos intelectuais mas também entre o grande público pois
ele é construído com a experiência vivida e o amor ao ser humano”.
A escritora estanciana fez incursões na literatura infantil,
atendendo solicitação da Editora Conquista, publicou: O Lenço encantado; A casa
da coruja verde e Luzbela vestida de cigana. Em 1965, no mais disputado certame
novelística da época no país, em meio a três centenas de livros, coube a sua
Trilogia de Catarina o Prêmio Especial Walmap, IV Centenário do Rio de Janeiro
criado exclusivamente para distinguir essa obra. A comissão julgadora foi
integrada pelos acadêmicos Raimundo Magalhães Júnior, Adonias Filho e pelo
novelista Otto Lara Resende. A Trilogia de Catarina, lançada pela Editora
Lidador na coleção Imago, compreende os seguintes títulos: O Sino e a Rosa, A
Chave do Mundo e o Círculo, em que a romancista traça a trajetória de uma
mulher entre o sonho, o aprendizado da vida na busca de um sentido existencial,
num protesto contra os códigos, sempre dentro de um padrão da realidade e
dignidade feminina.
Indagada sobre o sentido de sua personagem, informa Alina
Paim: “Catarina tem uma constante: a busca do sentido da vida, a compreensão de
si mesma e do que lhe acontece para melhor se integrar na vida e no convívio de
seus semelhantes. Os três romances de Catarina deslizam no espaço de uma noite
e de vigília. É um trabalha com muitos planos de tempo. Ao amanhecer, após
longa análise, a Catarina que encara o sol é bem mais amadurecida que a
Catarina que se encolheu no topo da escada, no princípio da noite. Foram
violados, com certa audácia, os seus compartimentos selados”.
Um ano depois publica Flores de Algodão e Treze anos depois
rompe o silêncio com “A Correnteza”, publicada pela Record em 1979. Sobre este
romance, um dos maiores críticos literários da época, Valdemar Cavalcanti diz
que o romance “constitui um painel da vida de subúrbio do Rio. Mas não é
positivamente a moldura o que mais importa neste romance, embora montada com
indiscutível mestria. Importante mesmo é o quadro psicológico que Alina Paim
apresenta, de extraordinária nitidez. E o leitor inteligente observe no fino do
traço das figuras femininas, em particular, e veja como ela as desenha, com
mãos leves e firmes, mãos como de uma Marie Laurencin que se desse ao romance”.
A Correnteza ocupa lugar privilegiado neste espaço ficcional brasileiro, livro
para ser lido muitíssimas vezes. Exemplo de sua enorme capacidade de testemunho
dum roteiro lírico, dum movimento rítmico de ação continua, duma originalidade
incessantemente cultivada num alargamento espacial onde seus tipos criados têm
oportunidade de expandir-se em implicações sutis, num aparato episódio solene e
drástico, contudo movido por um realismo, cru, paralisante.
Em 1994, o Governo do Estado de Sergipe, por iniciativa da
escritora Núbia N. Marques, na época Diretora Presidente da Fundação Estadual
de Cultura – Fundesc, publicou na coleção Ofenísia Freire, capa de Ronaldson,
uma edição cuidadosa o romance, A Sétima Vez. Neste livro Alina Paim retorna à
análise de vida problematizada do velho Teodoro, aposentado, e já sonhando com
a tranqüilidade de um cata-vento, vê-se empurrado para a atividade laborativas,
pois necessitava criar o neto, colhido pela orfandade. Os esquemas competitivos
que na mocidade poderia muito bem enfrentar, o leva a esforço de sobrevivência.
A velhice encontra na pena dessa vigorosa romancista o dardo crítico e a
reflexão sábia de uma fase de vida humana que, a despeito da labuta já
enfrentada, empobrecida por uma aposentadoria irrisória, volta com toda força
para buscar o pão cotidiano, dentro das adversidades e dificuldades que cercam
um velho.
Como integrante do Partido Comunista, Alina Paim exerceu
atividades políticas diversas, tendo convivido durante meses com mulheres dos
trabalhadores ferroviários que participaram ativamente da grave da Rede
Mineira, de grande repercussão nacional. Por isso sofrendo perseguições e
pressões de toda ordem inclusive processo judicial. Traduziu trabalhos
importantes de Jorge Dimitrof e Vladimir Lenin, além de colaborar em vários
periódicos O Momento (BA), Época (SE), Leitura (RJ), dentre outros, sendo que
essas colaborações eram em sua maioria, capítulos dos seus livros.
* Jornalista, pesquisador e professor universitário.
Texto reproduzido do site: arquivors.com/gilfrancisco
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