Publicado originalmente no site do Portal Infonet, em
08/10/2010.
O Centenário de Carlos Melo.
Por Lúcio A Prado Dias*
Homenagear a figura de Carlos Melo no seu centenário de
nascimento é reverenciar a Medicina de Sergipe e seus vultos, verdadeiros
discípulos de Hipócrates.
A Academia Sergipana de Medicina promove(u)..., no auditório
da Sociedade Médica de Sergipe, sessão solene para celebrar o centenário de
nascimento do médico Carlos Fernandes de Melo, patrono da cadeira 6 do
sodalício. Em nome da Academia, o médico e acadêmico Paulo Amado Oliveira,
secretário adjunto, (fez) o panegírico do saudoso ginecologista e obstetra que
teve atuação destacada na vida médica de Sergipe nas décadas de 50 a 70,
atuando principalmente nas maternidades Francino Melo e João Firpo, dos
hospitais Cirurgia e Santa Isabel respectivamente.
Auxiliar dedicado e fiel de Augusto Leite, teve ainda
atuação importante na Casa Maternal Amélia Leite, na Sociedade Médica de
Sergipe e no Conselho Regional de Medicina, do qual foi presidente por curto
período.
Carlos Melo nasceu em Aracaju em 14 de outubro de 1910,
sendo filho de João Carneiro de Mello e Antônia Fernandes de Mello. Colou grau
pela Faculdade de Medicina da Bahia em 1932, iniciando suas atividades
profissionais em Propriá, atendendo convite do médico Moacir Rabelo Leite. Foi
prefeito da cidade em 1938 e dirigiu o Hospital São Vicente de Paula até 1945,
quando se transferiu para Aracaju.
Tornou-se especialista em ginecologia e obstetrícia
realizando curso no Rio de Janeiro, vindo depois a assumir a direção da
Maternidade Francino Melo em substituição ao médico João Firpo, atendendo
convite de Augusto Leite. Atuou em seguida na maternidade do Hospital Santa
Isabel, que curiosamente veio a receber o nome de João Firpo, e nas clínicas
Santa Lúcia e Santa Helena.
Dirigiu o Departamento da Maternidade e Infância da Legião
Brasileira de Assistência, na gestão de quatro governadores: José Rollemberg
Leite, Arnaldo Rollemberg Garcez, João de Seixas Dória e Celso de Carvalho. Um
dado que revela a sua competência, dedicação e compromisso com a causa da saúde
pública. Foi chefe médico do IAPB e Governador do Rotary Internacional distrito
455 de 1964 a 1965. É patrono da cadeira seis da Academia Sergipana de
Medicina. Faleceu em 5 de dezembro de 1990, em Aracaju, com 80 anos, sendo
sepultado no Cemitério Santa Isabel.
Exerceu a profissão durante 55 anos de sua vida e costumava
dizer que o exercício da Medicina deve ser o maior prazer do médico. “Exerci a
medicina num tempo muito difícil, com dificuldades enormes de locomoção. Lembro
que andávamos sobre um cavalo para atender pacientes em vilarejos e povoados”
rememorou ele em entrevista a mim concedida em sua residência da rua Zaqueu
Brandão, em 4 de novembro de 1990. Não mais conseguia andar, mas o raciocínio e
a memória estavam afinados. Em 5 de dezembro, um mês após, ele falecia.
Essa entrevista, que me marcou bastante, foi publicada no
Jornal da Somese no mesmo mês de sua morte, tendo sido seguramente o último
registro vivo do ilustre esculápio. Lembro dele naquele momento como homem
feliz, no alto dos seus oitenta anos, sentado confortavelmente numa cadeira de
rodas, fluindo lucidamente uma conversa descontraída, ágil e segura, ao lado de
seu filho Carlos Fernandes.
Carlos Melo aprendeu a tratar de seus pacientes sem
discriminação, com carinho e como se cada um deles fosse um filho ou parente
seu, e muitas vezes sem cobrar um só centavo. Ele se sentia bem agindo assim, e
conforme me confidenciou, atendeu milhares de pessoas, de cangaceiros do bando
de Lampião a soldados da volante. No seu período de 13 anos na cidade
ribeirinha de Propriá, conseguiu como prefeito realizar obras de saneamento, o
que muito lhe confortava.
Foi casado com D. Maria Magalhães, carinhosamente conhecida
como Tatá e uma das pessoas que mais lhe incentivava e com ela teve sete
filhos: Carlos Magalhães, odontólogo e jornalista, Ana Melo, ginecologista,
Carlos Fernandes, engenheiro, João Carlos, Carlos Henrique Ana Elizabete,
anestesista que reside nos Estados Unidos e Ana Cristina, arquiteta.
Homenagear a figura de Carlos Melo no seu centenário de
nascimento é reverenciar a Medicina de Sergipe e seus vultos, verdadeiros
discípulos de Hipócrates.
* Lúcio Antônio Prado Dias é médico, membro da Academia
Sergipana de Medicina e do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe.
Artigo e imagem reproduzidos do site: infonet.com.br/blogs/lucioapradodias
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