Publicado na Coluna Eugênio Nascimento, do Blog blog
Primeira Mão, em 18/12/2016.
Há 80 anos sergipano fabricava a primeira marinete.
Em 2017, ano que começa dentro de 14 dias, o nome de Artur
Rodrigues da Silva deverá ser lembrado no segmento empresarial do transporte
coletivo de Sergipe. O que motivará a lembrança? Há 80 anos, ele, um
marceneiro-carpinteiro nascido em Itabi em 03 de outubro de 1904, colocou em
funcionamento a primeira 'marinete' (nome dado aos primeiros ônibus que
operaram por aqui) fabricada no Estado. A marinete, com carroceira feita em
madeira, passou a fazer a linha Rosário do Catete/Aracaju/Rosário do Catete e
virou um marco na história do transporte coletivo do Estado.
Ainda adolescente ele deixou Itabi e foi morar no Cedro de
São João e lá, aos 14 anos, estudou e passou a ser uma espécie de ajudante
profissional do pai, Felinto Rodrigues da Silva, que atuava como carpinteiro,
marceneiro, pescador, pedreiro e comboieiro de burros , transportando mel de
engenho produzido por usinas de Sergipe para a Bahia.
Com a morte dos pais, resolveu ir morar em Rosário do
Catete. Lá, ele comprou uma casa em frente a estação ferroviária e passou a
usar o imóvel como moradia, ao lado de sua mulher, Celisa Ribeiro, e também
espaço de trabalho como carpinteiro.
Dentro os inúmeros amigos do Artur, houve um de nome Pedro
Pantaleão, que um certo dia lhe mostrou algumas fotografias tiradas de ônibus
que circulavam em São Paulo e perguntou... Artur você tem a coragem de fazer
uma marinete? E obteve a seguinte resposta: "Se você tem a coragem de
perder a madeira? Eu tenho de perder meu trabalho".
Pantaleão calou-se e em determinado dia o procurou novamente
e disse: "Artur, vamos à Aracaju, apanhar o chassi e a madeira para você
fazer a marinete". Foi uma surpresa para o mesmo que junto com o Sr. Pedro
Pantaleão vieram à Aracaju e dirigiram-se a agência Ford, situada na Praça
General Valadão, onde é hoje a agência central do Banco do Brasil para apanhar
o chassi e a madeira na serraria São Francisco na Av. Coelho e Campos, de
propriedade do compadre e amigo João Costa, que também era fotógrafo
profissional em Rosário do Catête.
Em 1937, circulava finalmente em linha regular
Rosário/Aracaju e vice-versa, o primeiro ônibus fabricado em Sergipe.
Foi grande o sucesso, ao ponto de outros ônibus terem sido
encomendados, deixando assim o Artur de fabricar móveis e dedicar-se a
construção de carrocerias de ônibus.
Aproximadamente em 1942, ele foi convidado por João Costa a
vir para Aracaju, pondo a sua disposição sem nenhum ônus um barracão modesto,
mas onde ele poderia desenvolver suas habilidades profissionais, bem como
financiaria toda a madeira necessária, aceito o convite inicialmente a família
ficaria a residindo em Rosário e posteriormente transferindo-se para Aracaju,
primeiramente morando em casa alugada e em 1945, mandou construir uma casa na
Av. Simeão Sobral, onde fixou-se definitivamente.
Artur, começou a crescer não somente profissionalmente, bem
como sua maneira íntegra e honesta de agir. Mudou-se para a Av. Coelho e
Campos, denominando sua pequena fábrica de 'Carpintaria Rodrigues' e ficou
conhecido como Artur das Marinetes. Os primeiros ônibus construídos em Aracaju,
foram para empresa São José Mendonça, irmão de Mamede e Euclides Paes Mendonça,
fazendo linha Paripiranga/Ba à Aracaju/Se. Logo surgiram outros empresários, a
exemplo de Oviêdo Teixeira, trafegando de Itabaiana para Aracaju, Firmino
Mendonça, Marinho Tavares, da Empresa Sr. do Bomfim, a qual posteriormente foi
adquirida por José Lauro Menezes, Josias Passos, Aldon Figueirero, Luiz Prado e
Josino Almeida da empresa N. Srª de Fátima, todos estes com linha regular para
o interior do Estado de Sergipe e da Bahia, inclusive a capital Salvador.
O transporte coletivo na cidade de Aracaju, na época era
feito por bondes os quais estavam se tornando lentos e obsoletos, daí então
alguns empresários sergipanos fizeram encomendas de ônibus mais modernos para
fazerem o transporte coletivo na cidade, dentre eles, Oliveira Martins, cuja
frota fora quase construída em Aracaju, Hugo Cruz, Odilon Porto, e vários
outros.
Em 1950, transferiu-se da Av. Coelho e Campos para rua
Basílio Rocha, em prédio próprio, onde por alguns anos continuou a exercer suas
atividades na fábrica, até 1956, quando resolveu parar com a fabricação de
ônibus, vendendo a fábrica para José Lauro Menezes da empresa Sr. do Bomfim,
que passou a utilizar as instalações para manutenção dos ônibus da empresa.
O Sr. Artur passou então a dedicar-se as atividades
agropecuárias, atividade esta, exercida por pouco tempo, e em 1958, desfez-se
da propriedade e passou a viver do resultado financeiro que lhes rendia seu
capital aplicado.
Em casa e sentindo-se como um animal enjaulado e vendo suas
finanças se debilitarem, resolveu então voltar a luta e passou a trabalhar em
casa para a empresa Sr. do Bomfim na recuperação e construção dos estofados dos
ônibus e assim foi até atingir os 81 anos de idade, quando sentindo-se cansado
e atingido por insidiosa moléstia, sugestionado por seus familiares, resolveu
então parar definitivamente.
Em 17 de fevereiro de 1988, após 45 dias de luta pela
sobrevivência em um leito de hospital, sua inseparável companheira veio a
falecer, e com este vazio em sua vida após 61 anos de vida conjugal, ele foi
definhando e a arteriosclerose da qual era acometido, passou a degenerar
rapidamente seu cérebro, finalmente aos 15 dias do mês de fevereiro de 1990,
Sergipe perderia aquele que com sua simplicidades, muito contribuiu para seu
desenvolvimento, Artur Rodrigues da Silva (Artur da Marinete).
Texto e imagens reproduzidos do blog: primeiramao.blog.br
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