Imagem extraída de vídeo do YouTube e postada pelo blog
Opinião - João Oliva, um Riachão de cultura para
preservar
Por Patrícia Dantas*
Na última quarta, 3 de julho, durante a despedida do senhor
João Oliva, cantaram Trem das Onze, de Adoniram Barbosa. Simplesmente não
aguentei. Fui surpreendida por aquele som tão familiar, e ao mesmo tempo já tão
distante.
Se fechasse os olhos, por segundos, abraçaria o meu pai, que
se foi há muito tempo, e vivia cantarolando a canção. A sensação de reencontro
foi muito forte, mas veio levemente e caudalosa feito um riachinho.
Foi ali que entendi porque eu e Mércia Oliva, filha do
jornalista João Oliva, perdemos horas conversando, nas raríssimas vezes em que
nos encontramos, e sempre parece que foi ontem.
Entendi porque com ela não tenho vergonha de ser quem sou.
Acho que pertencemos à mesma linhagem. Somos pontes que ligam o ontem ao hoje,
as guardiãs de um museu de boas “velharias”.
E naquela quarta, 3 de julho, para a minha alegria, percebi
que não estamos sozinhas. O João de Maria, do Riachão, dos 11 filhos, dos netos
artistas, fez família numerosa, plantou e colheu abundantemente. Temos uma boa
quantidade de museus recém-inaugurados, cheirando a novo, levando adiante o
conteúdo cultural dos Oliva.
Sergipe perde o jornalista, intelectual, poeta, escritor,
homem de incrível saber que, com certeza, fará muita falta aos que com ele
conviveram. Mércia perde o paizinho carinhoso, o amigo confidente, uma
verdadeira joia rara do outro século e, por isso tudo, perde muito mais.
Com seu João, vai um tanto de gentileza, honradez, cultura
vasta e ética, valores tão raros hoje. O próprio escritor descreve
magistralmente, no seu livro “Mural de Impressões”, o que vem a ser um homem
gentil, referindo-se ao médico João Garcez, cuja leitura, tão leve quanto ele,
recomendo com urgência, para que possamos lembrar, uns aos outros, os valores
humanos esquecidos ou pouco valorizados atualmente.
Museus servem para isso. Para nos recordar de nós mesmos,
saber quem somos e para onde queremos ir. Por sorte, tivemos seu João por 96
anos a repassar seus saberes e vamos torcer para que as novas gerações visitem
os museus da gente e bebam das águas dos nossos riachinhos e riachões. Garanto
que elas são cristalinas, cristalinas, cristalinas.
[*] É jornalista, servidora do Ministério Público do
Trabalho e bailarina nas horas vagas.
Texto reproduzido do site: jlpolitica.com.br
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