Publicado originalmente no blog Antônio Saracura sobre livros lidos, em 19/02/2016
MURAL DE IMPRESSÕES, João Oliva Alves
MURAL DE IMPRESSÕES, João Oliva Alves, Criação editora, 254
pag., Isbn: 978-8562-576249
Por Antônio Saracura
João Oliva é uma pessoa de quem gosto desde a adolescência
quando foi meu chefe por um tempo na redação do jornal “A Cruzada”. Nos idos de
1965. Foi quem me ensinou um pouco da arte da escrita útil, sem perfumaria
desnecessária. Pelo menos tentou me ensinar.
Uma vida inteira, mais de noventa anos de observação
científica da nossa vida social, política, religiosa e o que seja mais, faz de
João um autor respeitável. Cada crônica (ou ensaio) desse seu livro, carrega
dentro uma sabedoria imensa. Eu li compulsivo, precisando reter o mais que
pudesse desta crônica, correndo em busca da próxima, com medo que fugisse de
mim ou que eu me acabasse antes.
O poeta precisa
apenas de um bom o poema para se consagrar, para que o chamemos de Grande. E
João tem mais de um. Mas bastava este Amor de Outono, que começa assim:
“Um amor outonal, cuja beleza calma
Tem o doce langor de um final de tarde,
De folhas a cair, de brisa que acalma,
De sol que ao declinar já não queima nem arde.”
O livro é dividido em três partes. A primeira fala de
personalidades sergipanas. A segunda, de literatura e jornalismo (como lamentei
não ter publicado meus livros antes para ganhar também uma resenha; ganharia?).
A terceira compõe-se de ensaios e memorialística. E o foco das três partes é Sergipe.
E a que o autor faz abordagem é muito pessoal, pois João testemunha o que viu,
não fala por ter ouvido falar.
Reencontrei-me com meu amigo do tempo de jornal, nos idos de
1965, Acrísio Torres Araujo, quebrando caranguejo nos bares de Atalaia ou
visitando um lote perdido no meio dos cajueiros onde hoje é o bairro Jardins. E
José Amado Nascimento, que sempre o vi de longe, mesmo quando foi meu professor
na faculdade de economia nos idos de antigamente... Sabia do seu valor mas não
tinha uma ideia certa da dimensão, que agora consegui.
Em um ensaio, este de abordagem generalista, João fala sobre
o desprestígio do pecado. Essa perda de sentido do pecado, que tem a ver com a
moral e os costumes, vai nos levar outra vez ao barbarismo. Não se obedece ás
leis de Deus, que são as leis naturais, e, na sequência, questiona-se e
transgride-se as leis dos homens. Valei-me Senhor São Bento!
E sobre o centenário de Clodoaldo de Alencar. O Ceará é o
grande exportador de talentos, inclusive para Sergipe. Clodoaldo, de cepa
ilustre, descende de José de Alencar (O Guarani, Iracema) foi trazido por
Gracho Cardoso em 1922 e produziu uma plêiade de intelectuais genuinamente
nossos.
O Riachão não poderia ficar de fora. Que terra é essa que
produziu tantos filhos ilustres? Inclusive João. Os tipos folclóricos desfilam
como se fossem os mesmos de Itabaiana na minha infância. O cronista João Oliva
os ressuscita o contador de histórias (Pai Jocundo), o poeta popular (Gino
Costa), o vendedor de quebra-queixo (Martinho Caga-pilar) o Ceguinho Marcelino.
E o caso acontecido sobre José Araujo Nascimento... Uma
decisão insólita e corajosa de ir à casa do desafeto com as mãos estendidas
pedindo a paz, sentar-se à mesa, e rezar um padre nosso. É loucura ou é
absoluta sanidade?
João Oliva apresentou-me pessoas decentes, que eu precisava
conhecer para que minha vida melhorasse muito, como Ursino Ramos e muitos
outros. Leia o livro e comemore. Não é sempre que podemos desfrutar um livro
tão bom.
Mural de Impressões, João Oliva Alves,Criação editora, 254
pag. João Oliva é uma figura simpática para mim desde a adolescência, quando
foi meu chefe, por um tempo, em 1965, na redação do jornal “A Cruzada”. Foi
quem me ensinou um pouco da arte da escrita útil, sem perfumaria desnecessária.
Pelo menos tentou. Uma vida inteira, mais de noventa anos de observação
científica à nossa vida social, política, religiosa e o que seja mais, faz de
João um autor respeitável. Cada crônica (ou ensaio) desse seu livro carrega
dentro uma sabedoria imensa. Eu li compulsivo, precisando reter o mais que
pudesse desta, correndo em busca da próxima, com medo que me fugisse ou que eu
me acabasse antes. A começar com o poema de abertura em homenagem à sua esposa,
simples e belo, uma lição aos jovens poetas. (Corra ao livro!). (Perfil ano 17
numero 2)
Texto e imagem reproduzidos do blog: antoniosaracurasobrelivroslidos.blogspot.com
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