Foto de abertura: Chinatom/Cortesia
Publicado originalmente no site JLPOLÍTICA, em 13 de julho de 2019
Jozailto Lima entrevista Raymundo Juliano
Raymundo Juliano Souto: “Tenho 80 anos de comércio e 80 anos
de amizade”
“Eu nunca fui triste. É da minha índole, da minha
personalidade”
Em “Elogio da sombra”, uma das suas tantas publicações, o
grande Jorge Luis Borges, escritor argentino, (1899-1986), faz uma fantástica
apologia às virtudes da velhice no poema que empresta título ao livro.
Como exaustivo leitor de Borges, carrego na memória os
quatros versos de abertura desse poema, por constituírem um belíssimo acalanto
ao homem velho e apascentado, de bem consigo mesmo.
“A velhice (tal é o nome que os outros lhe dão) / pode ser o
tempo de nossa ventura. /
O animal morreu ou quase morreu. / Restam o homem e sua
alma”, diz a abertura do poema. Sim, a idade mata no homem vivido o bicho que
teima em pulular no centro do homem novo. Mas preserva, ou resgata, a essência
dele.
Esse poema e seus versos inaugurais não me saíram da memória
diante da figura, da imagem, das falas, das visões e da persona do homem de
negócios Raymundo Juliano Souto dos Santos, entrevistado de hoje aqui do
JLPolítica.
Sim, a visão de um grande escritor pode e deve servir à vida
e à obra de um grande empresário, ao extrato da vida longa dele. Aos 87 anos, é
como se o animal morresse ou quase morresse nas entranhas de Raymundo Juliano
Souto dos Santos, e ali restassem “o homem e sua alma”.
Ouso dizer que restam em Raymundo Juliano Souto dos Santos
um homem e uma alma leves, solenes. Sem remorso, sem queixas, plena de
agradecimento, convencido de que passou bem por uma vida de 80 anos de trabalho
sacada de um viver de 87 anos.
Sim, que não se estranhe essa conta, porque isso se faz a
partir do momento em que, pilotando uma caixa de engraxar sapatos em sua
Estância de origem, aos sete anos ele já empinava o nariz e procurava ser dono
de si e do seu destino. Não por carências - o pai era um comerciante -, mas por
obstinada missão de se fazer a si mesmo.
Veja como filosoficamente ele enquadra e define esse início.
“O engraxate foi um menino que sempre teve vontade de ganhar dinheiro para ter
uma vida independente. Porque a estrada normal das pessoas é a de não depender
de ninguém, e sim a de trabalhar e vencer os obstáculos que existirem”, diz
Raymundo.
Pronto: isso foi o que Raymundo Juliano Souto dos Santos fez
com extrema maestria. Com demasiado rigor. Portanto, não foi sem causa que
quando, há uns 15 anos, ele decidiu separar em cada cesta os ovos do patrimônio
entre seus três filhos havia um respeitável pé de meia: uma rede de lojas
atacadistas bem conceituadas, duas concessionárias de automóveis, um posto de
gasolina, um hotel, três fazendas que somam 12 mil tarefas de terra e que,
juntos, geram hoje cerca de mil empregos diretos.
“Fiz isso porque notei que existe uma facilidade em cada um
dos filhos para administrar um tipo de negócio. Para que um não venha a
prejudicar o outro ou achar que trabalha mais do que outro. Cada um tem a sua
empresa e cada um vai procurar crescer com ela, para torná-la independente”,
justifica. As empresas, aliás, estão parindo futuros: dos seus herdeiros virão
em breve uma grande loja de distribuição e uma engarrafadora de água mineral.
No mais, Raymundo Juliano Souto dos Santos é só contemplação
e filosofia do bem-existir. “Isso aqui é uma viagem, com uma chegada e uma
partida. E eu acredito que estou fazendo uma boa viagem na vida. Eu casei, minha
primeira esposa, Suele Fontes Faria Souto, foi uma pessoa de quem eu gostava
muito, realmente importante para minha vida, que me ajudou, não criou
obstáculos para que eu viesse para Aracaju. Compreendeu o meu trabalho, que é o
de ser administrador e promotor de vendas também, porque pela manhã eu
trabalhava na administração e à tarde e à noite eu ia promover a cerveja para
atingir a grande meta, que foi quando eu cheguei a dominar os 90% do mercado.
Ela faleceu, eu fiquei viúvo e voltei a casar. Ana Maria Nascimento e eu já
estamos há 25 anos juntos”, diz ele.
Vítima de uma cirurgia que não teria se processado bem,
Raymundo Juliano vê hoje o mundo de cima de uma cadeira de rodas. Mas que não
se busque desânimo ou lamúrias nele. Jamais faz concessão à tristeza. “De jeito
nenhum. A vida continua e não é uma cadeira de rodas que me impede de ser ou
estar alegre. Eu nunca fui triste. É da minha índole, da minha personalidade”,
diz ele.
Com o filho Juliano César
Dessa índole e dessa personalidade vem uma impressionante
crença nas coisas, no país e no desenvolvimento. “Eu diria que não existe
crise. Existe apenas uma maneira de criar novos horizontes para se sair dos
momentos que alguns chamam de crise. Então, eu sugiro que não pensem em crise.
Pensem em superar os obstáculos”, recomenda.
Raymundo Juliano Souto dos Santos nasceu no dia da
emancipação política de Sergipe, 8 de julho de 1932, em Estância. É filho de
Agripino Roque Santos e de Mariaht Amado Souto dos Santos, uma parente de Jorge
Amado. Tem três filhos - Ana Suely Faria Souto, Juliano Cesar Faria Souto e
Cynthia Faria Souto, tem oito netos e está vindo aí a primeira bisneta.
Por todo o histórico empreendedor de Raymundo Juliano Souto,
no dia 18, quinta-feira da próxima semana, ele vai ser distinguido com a
Comenda Júlio Prado Vasconcelos conferida pelo Sindicado do Comércio Atacadista
e Distribuidor de Produtos Industrializados do Estado de Sergipe - Sincadise. A
entrega deveria ter sido feita no dia 5 de julho, mas foi suspensa em virtude
da trágica morte do empresário Sadi Gitz no dia anterior.
Raymundo Juliano é muito mais de ouvir do que falar. Mas, em
seu modo lacônico, disse grandes coisas nesta Entrevista. Que ela lhe agrade.
Nasceu no dia da emancipação política de Sergipe,
8 de julho
de 1932
Texto e imagens reproduzidos do site: jlpolitica.com.br
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