Publicado originalmente no Facebook/Marlene Alves Calumby
Calumby, em 01 de julho de 2019.
O Menino do bairro Santo Antônio
A História do Realizador Perseverante
A capacidade para aceitar responsabilidades indica a medida
de um homem (Roy L. Smith).
“Aos doze anos ele sonhou de olhos abertos, o que se
tornaria seu sonho preferido. ”
Com o braço confortador do pai sobre os ombros sentaram na
amurada que circunda a pequena praça no alto da Colina do Santo Antônio, à
tardinha, ao fim daquele dia morno que só existe em Aracaju. Tranquilos,
refrescados pela aragem que vinha do bairro Industrial, refestelavam-se olhando
enternecidos, a cidade que se espreitava desde o pé da colina até se perder de
vista. Estavam voltando de um canteiro de obras que seu pai administrava como
Construtor: era preparação de uma área de terras onde seriam levantadas várias
novas casas. O garoto gostava demais de acompanhar os trabalhos, ao lado do
pai, ouvindo suas orientações de competente mestre de obras, que repassava para
dezenas de trabalhadores ordens precisas.
Mais do que admiração natural de pai para filho, ele, na
verdade, tinha especial devoção pelo genitor, homem decidido, que trabalhava de
sol a sol e que costumava dizer “quando descanso, carrego pedras. ” Transcrito
do capítulo 1 do livro – Até onde sei (Aracaju- SE, 2011).
O jovenzinho perguntava a seu pai por que a vida, às vezes,
tinha que ser tão difícil.
O pai disse isto: “a vida é uma viagem, você não pediu para
nascer, mas está aqui. Dentro de você há tanto caminho para enfrentar a vida,
bem como o medo que faz com que você fuja dela. A vida pode lhe dar força.
Permaneça forte em direção ao topo da montanha, por mais exausto que você possa
estar.”
Diálogo vivido entre o Construtor João Alves e seu filho
João Alves Filho; que sempre teve o pai como ícone de sua determinação e amor
pela construção civil.
Quando criança de calças curtas, saia do calor humano do lar
humilde na rua do Carmo construída no estilo platibanda, porta na frente, ao
lado de duas janelas, corredor estreito.
A escola ficava pertinho da rua do Carmo, bairro: Sto
Antônio onde aprendeu as primeiras letras, a iniciação do mundo encantado da
educação... Numa fase mais adiantada, alcançada mediante “Exame de Admissão”
ingressa no Ginásio Jackson de Figueiredo cujo lema era “Instruir e Educar” dos
Professores Judite e Benedito Oliveira. Acompanhou de perto também os irmãos
mais novos, Roberto e Marlene.
Agora, podia melhor avaliar o sacrifício financeiro dos
pais, Lourdes e João, para manter três filhos em colégio particular, mas dar
aos filhos o melhor em educação era um princípio de honra familiar. E ele
retribuía anualmente com medalhas de honra ao mérito em comportamento e
aplicação.
João Alves Filho cursou os dois primeiros anos cientifico no
Colégio Atheneu Sergipense, e o terceiro ano no Colégio Central, em Salvador,
encantando-se sobremodo pela Bahia. Debruçado em livros noite adentro, logra
aprovação no Exame vestibular para o curso de Engenharia da famosa Escola
Politécnica da Bahia. Incontida alegria, que nem a sobriedade do seu pai pudera
conter, as lágrimas de felicidade de sua mãe, ao ter sido aprovado. Irmãos,
amigos e parentes vibraram de orgulho. Senhor do Bomfim atendeu suas preces!
Em seu segundo ano de Curso, além de ser bom aluno nas
matérias curriculares tinha sido um líder com experiência na política
estudantil e até redator do jornal universitário “O Construtor”. Foi
selecionado dentre líderes estudantis de São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia e
Pernambuco para participar de um Curso nos Estados Unidos, sobre a política
social e econômica daquele país.
Além da bolsa obtida para o período de quarenta dias nos
Estados Unidos, conseguiu em Washington, na Associação Universitária
Interamericana (AU), mais dez dias de permanência na Universidade de Harvard.
Sempre teve a sua fixação sobre qualquer assunto que se
referisse à água e a sustentabilidade da existência de água no Nordeste, tivera
uma razão atávica: sua avó, Luiza chegara a Sergipe num grupo de retirantes
perseguidos pela seca.
João Alves Filho, é um Engenheiro Civil e Político. Foi
Prefeito de Aracaju por dois mandatos; Ministro do Interior do Brasil;
Governador de Sergipe por três mandatos. Membro da Academia Sergipana de
Letras, autor de onze livros, homem extremamente honrado com inúmeras
homenagens.
Segundo Wallace D. Wattles, “O homem que certamente avançará
é aquele que é grande demais para o seu lugar...”
Relembro as palavras sábias do nosso pai, Construtor João
Alves: “a vida pode lhe dar forças...”
A vida dá e a vida toma. A vida toma o nosso tempo, e a cada
dia que passa estamos mais próximos do final da nossa viagem nesta terra. Ela
toma nossos esforços, nosso suor, nossas melhores ideias, sonhos e
sacrifícios... E ainda pede mais, em seguida lança obstáculos em nosso caminho,
surpresas, decepções, indiferenças, confusão, dúvidas e desgostos.
Entretanto, a vida nos dá mais do que o óbvio.
O texto que ora escrevo é dedicado para esse homem que tanto
amo e admiro, meu irmão João Alves Filho, na passagem dos seus setenta e oito
anos (03 de julho de 1941/2019).
Aquilo que se faz por amor nunca ficará perdido, antes há de
permanecer e de se multiplicar para sempre.
Marlene Alves Calumby.
Membro da Academia Sergipana de Letras.
Aracaju – SE, 01 de julho de 2019.
Texto e imagem reproduzidos do Facebook/Marlene Alves
Calumby Calumby
Link post original no Facebook > encurtador.com.br/jCFRS
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