Publicado originalmente no site Agência Sergipe.
Inácio Barbosa (1821 - 1855).
Inácio Joaquim Barbosa (Rio de Janeiro, 10 de outubro de
1821 — Estância, 6 de outubro de 1855) foi um político brasileiro. Dos 55
presidentes que governaram Sergipe de 1824 a 1889, Inácio Barbosa está entre os
mais importantes. Culto, poliglota, com boa formação humanística, jovem
governante de pouco mais de 30 anos, procurou fazer Sergipe viver o momento de
progresso e inovações que então dominavam o Brasil. Realizou a mudança da
capital de Sergipe de São Cristovão para o povoado Santo Antônio do Aracaju.
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Fundador de Aracaju, não acreditaria no progresso
urbanístico desta cidade, transferida a capital da então província de Sergipe
Del Rey, da velha São Cristóvão, a qual, apesar de seus 250 anos de existência,
não passava de um grande povoado, visivelmente em decadência. Os motivos,
porém, dessa mudança, mais aceitáveis, foram a necessidade de um porto mais
próximo ao mar, onde as embarcações do Império e estrangeiras realizassem com
segurança, no estuário do rio Sergipe, o embarque e desembarque de passageiros
e de mercadorias, principalmente do nosso açúcar, então o maior produto de
nossa balança comercial, antes transportado para Bahia e exportado,
principalmente, para os portos europeus, com grandes lucros para a Alfândega
baiana.
Hoje, Aracaju dos papagaios, dos cajueiros frondosos, das
mangabas e dos coqueirais, dos muricis e araçás, dos crustáceos em abundância,
que ainda enriquecem e são gostosamente degustados pelos sergipanos e turistas
de todas as partes - caranguejo-sal , aratus, siris, ostra, massuníns, tantos
frutos-do-mar apetitosos e peixes incríveis como robalo, a vermelha a carapeba,
o sirigado, a arraia, o cação, a tainha, sem falar dos camarões que dão um tom
especial a diante de nossa gente, - esta cidade maravilhosa, de um povo
ordeiro, trabalhador, diligente e hospitaleiro, tem uma história cheia de
lances dramáticos, ás vezes até pitorescos, com a teimosia de João Bebe- Água,
o cidadão bairrista sancristovense, que morreu e nunca pisou os pés em Aracaju,
guardando em seu quarto, na ex-capital sergipana, centenas de foguetes de rojão
para soltá-los quando a sede do governo retornasse á Velhacap.
Alguns historiadores afirmam que foi o Barão de Maruim quem
arquitetou a mudança da capital para Aracaju, em 1855, com as suas praias
desertas, com várias lagoas com águas estagnadas, origem das febres
intermitentes que levaram para o túmulo milhares de pessoas, inclusive o
próprio presidente Inácio Barbosa. A verdade é que os dois, personalidades importantes
na época, traçaram cuidadosamente o plano da mudança, e a 1o de março daquele
ano, os deputados provinciais reuniram-se no engenho Unha de Gato, em Maruim de
propriedades do Barão, João Gomes de Melo, Discutiram, então, os aspectos da
mudança, somente três dos deputados presentes, votaram contra: o comendador
Travassos, o Dr. Martinho de Freitas Garcez e o padre José Gonçalves Barroso.A
reunião preparatória da Assembléia Provincial foi realizada a 27 de janeiro no
povoado de Aracaju. Enquanto uns historiadores declararam que a sessão dos
deputados foi de baixo de um cajueiro, outros afirmam que deu-se num casebre no
alto do Santo Antônio.
A realidade é que , depois de muitas discussões, a redação
final do projeto da mudança foi aprovada em 16 de março e no dia seguinte, dia
17, o presidente Inácio Barbosa assinou a Resolução 413, como seguinte texto:
Art. 1o - Fica elevado a categoria de cidade o Povoado Santo
Antônio do Aracaju, na barra da Contiguiba, com a denominação de cidade do
Aracaju.
Art. 2o - O município da cidade do Aracaju será o da Vila do
Socorro, tendo sua sede na referida cidade.
Art. 3o - As reuniões da Assembléia Legislativa Provincial
celebrar-se-ão desde já e d'ora em diante na mesma cidade do Aracaju.
Art. 4o - Fica transferida desde já da cidade São Cristóvão
para a do Aracaju a Capital desta Província. Art. 5o - Revogam-se as
disposições em contrário.
Os habitantes de São Cristóvão não se conformaram e através
de sua Câmara Municipal representaram junto ao Imperador contra a mudança. De
nada adiantou o protesto dos sancristovênses. O povo da velha capital,
esbulhada da sede do governo, desfila o seu rosário de lamentos ,apelidando o
presidente Inácio de Catinga, o capitão dos Portos, José Moreira Guerra de
GUERRA DOS DIABOS, e Sebastião José Brasílio Pirro, o engenheiro a serviço da
Província, de O desavergonhado. E as quadrinhas populares anatemizavam todos os
que contribuíram para tirar São Cristóvão da primazia de ser a capital da
Província:
" O Barão tá no inferno
O Batista na profunda
E o Catinga vai atrás
Com o cofre na cacunda."
Vingavam-se, assim, de Barão de Maruim, do João Batista
Sales, este um dos deputados que votou a favor da transferência da capital para
Aracaju e do Catinga, - o presidente Inácio Barbosa.
Demonstrando o seu despeito pela nova capital sergipana, o
povo de São Cristóvão esperneava:
"Aracaju não é cidade
Nem também povoação
Tem casinhas de palha
Forradinhas de melão."
Com a mudança, São Cristóvão ficou despovoada. Funcionários
públicos, comerciantes e familiares ligados ao governo e às demais repartições
provinciais foram obrigados a residir na capital recem-instalada, Deus sabe
como! A maioria das casa existentes eram de palha, morro de areia por todos os
lados, as águas existentes nas lagoas, pântanos e cacimbas eram de péssimas
qualidade. Pequenos riachos cortavam a urbs iniciante e os mosquitos infernavam
a vida dos novos habitantes.
Poucas residências de taipa e telha, os aterros e esgotos
eram feitos lentamente sem nenhuma técnica e ordenamento e a cidade foi aos
poucos crescendo apenas na orla marítima. Haviam, apenas, três saídas da
cidade: o caminho da Boa Viagem, que subia em direção ao Santo Antônio, com
destino á Vila do Socorro; o caminho para São Cristóvão, pelos areais da rua do
mesmo nome, que ia terminar no Capucho(atual bairro América), seguindo pela
Jabotiana para o Caipe, até a Velhacap, e a rota, por mar, através do rio Vassa
Barris.
Nos primeiros tempos, Aracaju era dominada pelos coqueiros
verdejantes e pelos cajueiros nas várzeas e nos morros de areia alvacentas e
brilhante, que depois ficaram conhecidos com os nomes de Morro do Bonfim, Morro
do São Cristóvão, Morro do Cirurgia ou Morro do Bebé. Para água de beber, os
aracajuanos iam buscar o precioso líquido através de barrís carregado por
jegues e burros.
Os sancristovenses tinham razão de criticar a mudança, pois
tinham fontes de água potável de sabor agradável, como a do Prata, do Una, do
Caborje, de São Gonçalo, do Olaria, da Aroeira, para o abastecimento da Velhacap.
Daí a quadrinha.
As águas de São Cristóvão
Só parecem de cristal
As águas de Aracaju
Só parecem rosargal
Mas o sonho do Dr. Inácio Joaquim Barbosa tornou-se em
realidade. Aracaju é uma cidade bonita acolhedora., de clima agradável, terra
simples de viver, povo simpático, capaz de realizar as transformações que os
seus antecessores levaram a efeito: de um povoado pantanoso, quase deserto,
pois antes da mudança só existia uma alfândega, em prédio modesto, algumas
casas-de-palha de pescadores, a morada do Talaeiro( o homem que, do Atalaia,
avistava as embarcações que entravam e saíam do porto pelo canal que separa a
cidade da ilhas dos Coqueiros(Santa Luzia), nesta urbs moderna, que a
tecnologia fez construir prédios altos e enormes, dantes conhecidos por
arranha-céus, e hoje espigões; com a água tratada vinda do rio São Francisco e
colhida de regatos e riachos da periferia, como o do Morro do Macacos, da
Jabotiana e da Ibura, este em N. S. do Socorro, em energia de Paulo Afonso e de
Xingo, movimentando as nossa indústrias e de outras regiões do Estado;com um
aeroporto da primeira linha; com transportes rodoviários ligados a capital a
todo o país; com uma rede hoteleira excelente; com praias lindíssima, recantos
adoráveis; enfim, a cidade que o presidente da Província, em 1855, teve a
ousadia de fundar, com o apoio do Barão de Maruim, João Gomes de Melo, um
sergipano ilustre que juntava ao título nobiliárquico, "Honras de
Grandeza", com os deputados provinciais que aprovaram a transferência da
capital de São Cristóvão para o território antes dominado pelos índios
Tupinambás, os quais souberam, com heroísmo, morrer bravamente lutando pela sua
gleba contra a usurpador português que nos colonizou.
O gesto de Inácio Barbosa foi altamente político. Contudo, ele
previu o futuro, antecipou os benefícios econômicos para a região açucareira,
divisor uma cidade sem os velhos sobrados de São Cristóvão com suas rotas, seus
becos sem saída, montada nos fundos do rio Paranopama, cujo porto dependia das
marés, enfim, uma cidade quase em decadência, em local impróprio para ser a
capital da Província.Que ganhou, pois, geograficamente, foi Aracaju, segundo
assertiva do mestre e historiado José Calazans, na sua obra. Contribuição á
História da Capital de Sergipe, 1942, teste para concurso á cadeira de História
do Brasil e de Sergipe da Escola Normal Rui Barbosa.
O doutor Inácio Joaquim Barbosa, Bacharel em Ciência
Jurídica e sociais pela faculdade de São Paulo, morreu na cidade de Estância a
6 de outubro de 1855, vitima da epidemia coléra-morbus, que matou milhares de
pessoas em Sergipe. Os seus restos mortais foram enterrados numa cripta nos
fundos da Catedral de Aracaju, depois numa praça que existiu junto ao Mercado
Thales Ferraz e agora os seus desposos descansaram na praça que tem o seu nome,
na confluência da Av. Rio Branco com a travessa Getúlio Vargas e o início da
Av. Augusto Maynard em Obelisco alusivo à sua personalidade, conservado pela
Petrobrás.
Por certo, o espírito brilhante desse saudoso homem público
que governou Sergipe numa fase conturbada de sua história, deve orgulha-se,
agora, de sua gente, do povo de sua Aracaju, que ele fundou e que vê a cada
dia, crescer e prosperar.
Publicado no jornal Gazeta de Sergipe, em 17 de março de
1999.
Texto e imagem reproduzidos do site: agenciasergipe.net.br
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