Imagem reproduzida da TV Sergipe e postada pelo blog para ilustrar o presente artigo
Opinião - Oi, Zé Fernandes: memórias de sextas de
confraria
Por Maria Nely Santos Ribeiro * (Coluna APARTE)
Por que sentimos o coração esmagado quando perdemos uma
pessoa querida? Assim que soube da partida de José Fernandes, sinto-me dessa
maneira, viu “grandalhão”. Meu artista plástico dono de um “vozeirão”
inconfundível. É, amigo Zé, se o coração sangra, a razão restabelece os bons
momentos que a vida nos proporcionou. A tristeza de agora substituo pela
incomensurável alegria vivenciada na “Confraria do Cajueiro”, agregada ao
restaurante do Cajueiro, no Conjunto Inácio Barbosa.
Toda sexta-feira, tão logo o relógio marcava 11h, você
ligava indagando: e aí Nely, você está vindo? Desde 2001, chegava antes dos
demais confrades para, sem muito barulho, desfrutar de sua companhia para boas
conversas. Bebericando a cerveja geladíssima servida por Paulinho, colocávamos
as novidades da semana na ordem do dia. Devagarinho os confrades iam chegando
de modo que, lá pelas 13 h, as mesas dispostas horizontalmente, já estavam
ocupadas.
A algazarra controlando o burburinho só era amenizada quando
sanfoneiros e violonistas estavam lá. O habitual era ouvir o seu vozeirão
sobressaindo. De acordo com você, àquela época Presidente da Confraria, “tudo começou de modo informal, com ele e o
falecido jornalista e advogado Carlos Mota, quando se reuniam no bar do
Cajueiro para discutir política, mas todo assunto terminava direcionado para
artes e cultura”.
O tempo atravessou o tempo. Estimulados por você
(presidente) e Antônio Torres (vice), todas as sextas-feiras, nós, os
confrades, preservamos o gesto prazeroso do encontro, da convivência em grupo,
o compartilhamento e discussão de ideias. Para integrar a Confraria, o
proponente passava por um ritual qual seja, tomar de uma golada só um copinho
de gengibirra (cachaça). Meu paraninfo foi o professor do Departamento de
Letras/UFS, José Costa. Sob a sombra do frondoso cajueiro espreitando
silencioso as águas do rio Poxim, vivenciei reuniões agradáveis e bem
frequentadas pelos o advogado Elito Vasconcelos, o publicitário Antônio Leite,
os professores José Costa, Mauricio Neves, José Roberto, Ludwig Oliveira, Luiz
Alberto, os jornalistas Carlos Marcelo, Garcez Junior, Osmário Santos, Luduvice
José, o fotógrafo Márcio Garcez, Romildo Rodrigues, Lúcia Falcón, Rosaly Nunes,
Riso França o poeta Marcelo Ribeiro, Alberto Jorge Figueiredo (jornalista)
Erivaldo de Carira, Zé Américo e inúmeras outras pessoas.
O bom e impagável sempre era a sua presença marcante e
instigante, sua luta para valorizar a cultura sergipana em todos os segmentos e
matizes. Em setembro de 2007, lecionando na Universidade Tiradentes a
disciplina História do Pensamento e da Cultura Sergipana, criei o Projeto
Cajumã. Uma das atividades “Dois dedos de Prosa”, realizada pelos alunos,
consistia de entrevista e bate-papo com escritores, poetas, cordelistas,
músicos, atores e atrizes, artistas plásticos. Você foi nosso convidado.
Entusiasmados eu e os alunos, encontramo-nos com você numa
tarde de terça-feira, ao ar livre, na área livre do bar da Mangueira (Bairro
Inácio Barbosa). De maneira simples, sem rapapés, falou para os alunos sobre
sua arte enquanto concomitantemente pintava seu quadro. Que tarde
enriquecedora, maravilhosa! A prova material da aula, do seu desprendimento e
carinho por mim foi o quadro que me presenteou. Zé: ele está aqui na parede da
sala. Obrigada, pelo carinho com que nutriu nossa amizade. Adoto as palavras de
sua amada esposa Cintia, “você resolveu pintar o céu para deixa-lo mais
colorido”.
* É historiadora.
Texto reproduzido do site: jlpolitica.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário