terça-feira, 7 de julho de 2020

Um Intelectual Gigante, por Antônia Amorosa


Publicado originalmente na Linha do Tempo do Perfil do Facebook de Amorosa Sergipana, em 7 de julho de 2020

Um Intelectual Gigante
Antônia Amorosa *

Acordei com a notícia que Amaral partiu na madrugada do sétimo dia, no sétimo mês do ano de pandemia. A amiga Yumah Ilma Fontes me envia um áudio trazendo uma mensagem que a gente para pôr um momento e pensa - como é doloroso não poder ir ao velório de um grande pensador!

A primeira vez que conheci Amaral Cavalcante ele estava exercendo a função de presidente da antiga Fundesc. Falei mais sobre poesia. Depois, viajamos ao Rio, eu, ele, Lu Spinelli, Chiko Queiroga, Joésia e outros bons sergipanos que não recordo todos os nomes (peço perdão por isso!), para participar do Pixingão na sala Funarte. Visitamos Joel Silveira que nos deu uma página inteira no Jornal Última Hora. Fui a sua posse na Academia Sergipana de Letras onde seu texto reverenciou o saudoso conterrâneo e seu amigo pessoal, Marcelo Déda. Nosso último encontro físico foi na exposição de Araripe onde ele ficou impressionado pelo conceito e modelo do sarau que segundo ele "Foi a mais bela que viu, nos últimos anos, em Sergipe!"

Amaral era nosso Guimarães Rosa. Seus textos nos leva a cenas de um filme Suassuna. Amaral não teve filhos mas foi pai de muitos, inclusive na construção de ideias e análises.

Embora cercado de bons amigos de longos anos, havia em Amaral, por ser poeta, uma tristeza no canto dos olhos, pela limitação física, as dores insistentes em incomodar seu gosto pela vida.

No terceiro mês do segundo milênio do vigésimo ano, o mundo mudado, chegou em terras de Aracaju e fomos "convidados" ficar em casa. Durante este tempo, por não ter sido amiga próxima de Amaral, não sei como estavam seus dias, embora eu esteja orando por todos os que permanecem ou irão partir porque a terra está passando por um tempo de colheita.

Quando a cidade dormia, um dos maiores intelectuais da história de Sergipe partia - O Atalaia da Cultura Sergipana. Oh, Sergipe...sabes tão pouco de ti! A morte deste homem merece bandeira a meia haste porque hoje Sergipe perde grande - como grande era Amaral Cavalcante. Espero esta honraria para Amaral por parte das nossas autoridades.

Sim! Quando Ilma Fontes, outra gigante, me informava por áudio que não haveria velório, a bandeira nas principais instituições deste Estado, por certo, será um gesto de reconhecimento para um homem da cultura que não fugiu à luta e cumpriu com dignidade sua missão como gestor, pensador, escritor e amigo de muitas gerações.

Certamente, na porta de entrada do lugar para onde ele foi, Déda, Araripe, Santo Sousa, Núbia Marques, Yara Vieira, Lu Spinelli e tantos outros seres encantados, abrirão os braços a dizer: 

"Amaral, aqui tá melhor do que lá! Vem pra um abraço, poeta!"

Que Deus considere sua boa jornada.

* Membro das Academias Itabaianense e Aracajuana de Letras, cantora.

Texto e imagem reproduzidos do Facebook/Amorosa Sergipana

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