terça-feira, 31 de maio de 2022

Morre Matias Paulino Silva (1932 - 2022)


Morre Matias Paulino Silva (1932 - 2022).

Matias era um grande torcedor da Associação Desportiva Confiança e um entusiasta e colaborador do Iate Clube de Aracaju. 

Sentimentos aos primos: Maria Lygia, Augusto, Gustavo e Liana.

Postagem original no Facebook/Armando Maynard > https://bit.ly/3MewuSh

sexta-feira, 27 de maio de 2022

Gente Sergipana – Dr. Walter Cardoso, por Antonio Samarone

Publicação compartilhada do Facebook/Antonio Samarone, de 25 de maio de 2022

Gente Sergipana – Dr. Walter Cardoso. 
Por Antonio Samarone*

Até meados do século XIX, a medicina praticada no Brasil era a coimbrense. Uma medicina medieval nascida nos mosteiros, mais atrasada do que as medicinas dos Jesuítas, Pais de Santos, Curandeiros e Pajés.

A medicina brasileira só passou para a influência francesa, na segunda metade do Dezenove, com a reforma Visconde de Saboia, no ensino das Faculdades de Medicina da Bahia e do Rio de Janeiro.

Em Sergipe, a tradição francesa durou até a segunda metade do século XX. O livro de anatomia adotado na Faculdade de Medicina de Sergipe, era um clássico de Jean Léo Testut, em sua versão francesa.

Fui aluno de doenças infecciosas e parasitárias, do Dr. Walter Cardoso, um sanitarista formado em Manguinhos. Em seu bureau na sala de aula, se destacava um busto de bronze de Pasteur. Rezava a tradição francesa, que ao final da aula, houvesse uma calorosa salva de palmas.

Dr. Walter Cardoso, um conservador, católico militante e médico humanista, foi Secretário da Saúde e Diretor da Faculdade de Medicina. Deixou livros publicados e editou uma revista de Saúde Pública em Sergipe.

Entre os livros publicados destacam-se: “A luta contra a fome”, “Perspectiva da Saúde Pública em Sergipe”, “História da Saúde Pública em Sergipe”, “Vida, tempo e memória” e Retrato de Garcia Rosa”.

Como Diretor da Saúde Pública, no governo Arnaldo Garcez, Walter Cardoso foi o inspirador da criação do Conjunto Agamenon Magalhães em Aracaju, para transferir as populações faveladas do Curral e da Ilha das Cobras, no Morro do Bonfim. O novo Conjunto foi planejado com os princípios da sustentabilidade sanitária.

Walter Cardoso foi o primeiro Secretário da Saúde, na criação da Secretaria da Saúde por Celso de Carvalho, em 1965. 

Walter Cardoso faleceu em 25 de maio de 2001, ao 89 anos. 

Na reta final, eu conseguir autorização da família para visitá-lo em sua casa. Ele já muito doente, mas com a memória perfeita. Em sua conversa comigo ele fez duas revelações: que era conservador, mas nunca foi anticomunista e que as suas tias não negaram água a Fausto Cardoso, quando ele saiu baleado do Palácio. 

A sua afirmação de nunca ter sido anticomunista, talvez tenha sido em consideração a minha fama de militante do credo vermelho, no movimento estudantil. Eu sempre admirei o professor catedrático e colega sanitarista Walter Cardoso, um batalhador pelas reformas na Saúde Pública. 

As tias de Walter Cardoso eram “olimpistas” e moravam numa bela casa na esquina da Rua Pacatuba com a Praça do Palácio. Existia a fofoca que elas negaram um copo de água a Fausta Cardoso baleado. Ele cuidava da memória das tias.

Eu sou do tempo em que tinha-se gratidão aos mestres e professores. Sempre considerei meus professores de Saúde Pública na UFS: Walter Cardoso, José Leite Primo, Alexandre Gomes de Menezes, Cleovansóstenes Pereira de Aguiar e João Cardoso do Nascimento.

Em Sergipe, o Dr. Walter Cardoso foi o último grande mestre inspirado na medicina francesa. A atual influência da medicina americana é contemporânea a medicina de mercado.

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* médico sanitarista

Texto e imagem reproduzidos do Perfil doFacebook/Antonio Samarone

segunda-feira, 23 de maio de 2022

O pesquisador Gilfrancisco é Doutor Honoris Causa da UFS

Publicação compartilhada do site DESTAQUE NOTÍCIAS, de 22 de maio de 2022

O pesquisador Gilfrancisco é Doutor Honoris Causa da UFS

 Com quase 40 livros publicados, Gilfrancisco nasceu em Salvador e está em Sergipe desde 1996

O jornalista, professor, pesquisador e escritor Gilfrancisco recebeu na última quarta-feira, 18, a maior de todas as honrarias concedidas pela Universidade Federal de Sergipe, o título de Doutor Honoris Causa. A homenagem, no Auditório da Reitoria, constou da programação dos 54 anos da UFS.

O título outorgado pelo Conselho Universitário em outubro de 2021, Resolução nº 31/2021/Consu, é um reconhecimento pela sua trajetória e produção intelectual, assim como de sua contínua contribuição à pesquisa historiográfica e documental.

Entre as considerações que embasam a concessão, destaca-se sua “grande contribuição como escritor, pesquisador e sua extensa produção jornalística e literária, com artigos em jornais, revistas e periódicos, livros publicados e banco de dados privado”.

“Recebo com orgulho e extremamente honrado o título que me concede esta universidade. Quando olho para trás, vejo que estive construindo conhecimento por prazer, e o reconhecimento chegou sem que eu escutasse seus passos, com os pés de algodão, para me surpreender neste momento da vida”, agradeceu o homenageado.

“A investigação documental é uma atividade contínua, que requer leitura, interpretação e critérios para que não se transforme num mero acúmulo de papéis indistintos. As suas descobertas dependem da perseverança, e do tempo, além de esforços e sorte; a troca de informações com outros pesquisadores também é imprescindível”, discursou.

O professor Fernando Sá, do Departamento de História, responsável pelo discurso de homenagem ao agraciado, descreveu Gilfrancisco como um “arquivo vivo”, em alusão ao seu grande conhecimento e ao fato de portar “documentos da maior importância para a história de Sergipe”.

E completou: “É mais do que justificada essa homenagem, porque ele é uma figura de destaque no cenário cultural de Sergipe e continua produzindo”.

O reitor da UFS, professor Valter Joviniano de Santana, enfatizou a generosidade com a qual Gilfrancisco “abre as portas de seus arquivos e biblioteca para que pesquisadores tenham acesso ao que o dinheiro não pode comprar: infinitas horas de leitura e pesquisa, além da coleção de obras raras.”

“Acreditamos que os nossos doutores venham para fortalecer a reflexão, a crítica e a síntese de novas possibilidades de viver e pensar a nossa identidade e cidadania. Essa premiação nos engrandece, pois estamos trazendo mais um doutor produtivo, ativo e crítico para os quadros da educação superior sergipana”, concluiu o reitor.

Baixa do Sapateiro

Nascido Gilberto Francisco dos Santos na Baixa do Sapateiro, em Salvador (BA), em 27 de maio de 1952, Gilfrancisco possui graduação em Letras Vernáculas pela Universidade Católica do Salvador (1991), é autor de 39 livros individuais, sete em participação com outros autores e tem mais de mil textos publicados em jornais, revistas e periódicos locais e nacionais.

É radicado em Aracaju desde 1996 e atualmente trabalha no Tribunal de Contas do Estado de Sergipe. O pai, Odilon Francisco dos Santos, era sergipano de Nossa Senhora das Dores e a mãe, Antônia Rufina França, do município baiano de Coração de Maria, região de Feira de Santana.

O primeiro emprego foi na Reitoria da UFBA, em 1969, período quando se iniciou no jornalismo ao lado do sergipano João Batista de Lima e Silva, chefe de Reportagem do extinto Jornal da Bahia.

Aprofundou a formação intelectual com o capelense Nelson Correia de Araújo, jornalista, editor, tradutor, dramaturgo e professor da Escola de Teatro da UFBA, autor de três dezenas de livros. “A convivência com Nélson foi longa e através de um projeto passamos a localizar alguns teatros baianos do século XIX. Essa foi uma grande colaboração para a história do Teatro Baiano”, recorda.

Dentre os últimos livros de Gilfrancisco estão: “Agremiações Culturais de Jovens Intelectuais na Imprensa Estudantil” (Edise, 2019), “Lampião no Diário Oficial” (Edições GFS, 2020), “Áreas de Conflitos e Mistérios” (Edições GFS, 2021) e “Anísio Dário – A Chacina da Rua João Pessoa” (Edições GFS, 2022).

Com informações e foto da Ascom/UFS

Texto e iagem reproduzidos do site: destaquenoticias.com.br

terça-feira, 17 de maio de 2022

Santo Amaro das Brotas em “Variações em fá sustendido”

Foto: Reprodução

Publicado originalmente no site EVIDENCIE-SE, em 17 de maio de 2022

Santo Amaro das Brotas em “Variações em fá sustendido”

Por Silvaney Silva Santos [*]

Escrevendo essas linhas tortas com um sentimento de saudades. Saudades do que não vivi em terras santoamarenses. O texto em tela tem como objetivo apresentar impressões de um frequentador e propagandista assíduo de SANTO AMARO DAS BROTAS, o capelense, jornalista, poeta e escritor das VARIAÇÕES EM FÁ SUSTENDIDO, Zózimo Lima. Devido à atuação do supracitado em nossas paragens, o mesmo tornou-se nome de praça, PRAÇA ZÓZIMO LIMA, no bairro Tabuleiro.

Em uma das suas “Variações em fá sustendido” Zózimo descreve o “gostoso passeio à Santo Amaro”. Observa a datação da fundação da nossa Matriz (1728), a qual “abrigou centenas de revolucionários acuados pelas tropas de Caldeira Boto e Barbosa Madureira”.

Conhecedor da história de Sergipe, cita o frontispício do templo do século XVIII e relembra que “lá está, encimado a porta principal da Igreja, a imagem do orago, Santo Amaro, que teve o braço partido por uma bala mandada pelo facínora João Soares Soledade, – o desgraçado João Bolacha, que o povo matou a tiros e a cacete, em represália, no mesmo local, a praça da Matriz”. Esta passagem citada pelo cronista, alude sobre a chamada Revolução de Santo Amaro das Brotas no Período Regencial brasileiro, quando se vivia um vazio de poder.

Zózimo Lima lê Santo Amaro como poucos dos seus filhos. Sobre o poderio econômico no século XIX do que chamo de lendária Santo Amaro, o jornalista apresenta a estrutura social da antiga vila composta por “dezenas de engenhos de propriedade de fidalgotes orgulhosos e semianalfabetos. As matronas eram gordas, respeitáveis e autoridade na fatura dos doces e saborosas feijoadas. Implacáveis, porém, na perseguição das mulatas escravas que aplacavam à força a sensualidade dos senhores brutamontes”.

Em sua crônica histórica Zózimo observa: “Houve até imprensa em Santo Amaro. Lá se publicavam “A VOZ DA RAZÃO” e o “CONCILIADOR”. Ambos os jornais de propriedade do Comendador Antônio José da Silva Travassos. Estas folhas oposicionistas tiveram vidas efêmeras pela censura e truculência da época”.

Desconsiderando anacronismos, distanciando-se dos fatos históricos e voltando à realidade daquele “gostoso passeio”, Zózimo cita alguns nomes que podem tocar a memória afetiva de alguns familiares, Zeca Maia, “baronete do Porto das Redes”, de quem recebeu um presente, o Dicionário Português, de Moraes, de 1858, editado em Lisboa; a Madre Maria Luiza, a qual dirigiu a nossa COLÔNIA DE FÉRIAS, local que presenciou várias reuniões republicanas e progressistas; a exemplo da presença do educador Paulo Freire, quando produziu a Carta de Santo Amaro, documento que defendia a criação da Universidade Federal de Sergipe. João Costa, prefeito naquele ano de 1968, o mesmo ofereceu em sua residência um lauto almoço e possivelmente teria falado sobre a importância de se implantar, em Santo Amaro, o Ginásio, empreendimento que já existia em Maruim, nossos vizinhos autônomos.

De regresso do passeio o adjetivo “gostoso” se justificou pelos “4 cachos de bananas, um litro de camarões graúdos e uma corda de gaiamum”. Por fim, a saudação a Santo Amaro e a sua gente.

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[*] É Mestre em História, pesquisador/ professor dos sistemas de ensino estadual e municipal de Santo Amaro das Brotas.

Texto e imagem reproduzidos do site: evidencie-se.com

segunda-feira, 16 de maio de 2022

Antônio, Augusto e Moreno - Parte 1 e 2, por Lúcio Prado

Legenda da foto: Dr. Antônio Garcia Filho

Publicações compartilhadas do site do Portal INFONET, de 29 de abril de 2022

Antônio, Augusto e Moreno - Parte 1

Por Lúcio Prado (do blog Infonet)

ANTÔNIO, AUGUSTO e MORENO: vidas que se entrelaçam, personalidades ímpares que permeiam com luz própria e fulgurante a História da nossa Medicina, no Século XX. Heróis na arte de curar, heróis na arte de confortar, heróis na arte de servir ao próximo, com predestinação, humanismo, …vitórias e derrotas, erros e acertos. Suas trajetórias na Medicina e no universo cultural se confundem na ação e no saber,  na inteligência e no altruísmo, do “ser” superando o “ter”, três vidas vividas para o bem, para os mais necessitados, doando conquistas para a sociedade.

Parte 1 – ANTÔNIO

Em vida, Antônio Garcia Filho foi intrépido, corajoso, determinado. Foi assim na criação do primeiro museu público do estado, hoje Museu Histórico de Sergipe, em 1960, com a colaboração decisiva de Jenner Augusto e de seu irmão, o jornalista Junot  Silveira Foi assim na fundação da primeira escola médica de Sergipe – a Faculdade de Medicina –  em 1961, concretizando a ideia de Moreno. Foi assim na criação do Centro de Reabilitação Ninota Garcia, em 1962, um dos primeiros do país, inspirado nas ações sociais de Augusto.

O clímax da atuação de Antônio Garcia pode ser fixado, a meu ver, nas décadas de 50 e 60. O ano de 1961, começou com um fato que provocou um grande rebuliço nos meios intelectuais do estado. Na primeira semana de janeiro, em eleição disputadíssima, ele se elege para a Academia Sergipana de Letras, na vaga surgida com a morte do poeta Garcia Rosa, que ocupava a cadeira do patrono Tobias Barreto de Menezes. Antonio Garcia supera em votos o poeta Santos Souza, que também pleiteava a vaga, por onze votos a nove. Desmentindo parte da intelectualidade que apoiava o seu opositor, de indiscutível mérito cultural, Garcia teve uma trajetória expressiva e meteórica no sodalício, chegando a exercer a presidência da Casa de Tobias por muitos anos, conseguindo, inclusive, uma sede definitiva para a agremiação. Já Santos Souza, autor de “A Ode e o Medo” e “Deus ensanguentado”, entre outras obras que o marcaria como um dos maiores poetas órficos da língua portuguesa, chegou ao sodalício anos depois, em 1970, para a cadeira de número três, patrono Fausto Cardoso, na sucessão de Cleômenes Campos.

Ainda em 1961, Sergipe ganha a sua primeira escola médica, tendo no Instituto Parreiras Horta a sua sede inicial. Fundada por um grupo de médicos liderados por Antônio Garcia, a escola contou com a participação do Dr. Silvano Isquerdo Laguna, médico de grande prestígio na cidade de Salamanca, na Espanha, possuidora da segunda faculdade de Medicina mais antiga da história. Por essa época, o eminente esculápio se encontrava sob forte perseguição da ditadura franquista, vivendo praticamente na clandestinidade. Foi então que o professor Juan José Rivas Páscua, oriundo da mesma cidade e há pouco tempo residindo em Itabaiana, sugeriu o seu nome para o Dr. Antônio Garcia e para o Bispo Diocesano D. José Vicente Távora, que de pronto oficializaram o convite para ele vir a Sergipe. O professor Silvano chegou e se instalou num apartamento do Edifício Atalaia, na Rua da Frente, às expensas do Governo e sua presença entre nós foi de fundamental importância para a estruturação inicial da nossa faculdade, tendo sido inclusive o primeiro professor de Anatomia Humana e ministrado a aula inaugural da Faculdade de Medicina, em sessão magna realizada no Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe.

No ano seguinte, o curso médico foi transferido para o Hospital de Cirurgia, graças a um convênio firmado entre o Governo Luiz Garcia e a Casa de Augusto. Houve uma conjugação de esforços e um encontro de interesses. O hospital precisava de recursos e do saber e a Faculdade precisava de um hospital para aglutinar as diversas clínicas. Reconhecendo que a vida de Augusto Leite se confundia com a história do hospital e com a própria história da Medicina de Sergipe, Antônio Garcia Filho, diretor da Faculdade e membro atuante do corpo clínico e do Centro de Estudos do hospital, propôs em assembleia geral do Conselho Administrativo, a mudança do nome de Hospital de Cirurgia para Hospital de Clínicas Dr. Augusto Cezar Leite, sendo aprovado por aclamação. A vida de Augusto e de Antonio mais uma vez se entrelaçavam num momento crucial para o futuro da Faculdade. Anos antes, Augusto operara Antonio num quadro grave de abdome agudo por perfuração intestinal. O velho cirurgião salvando o clínico dos diagnósticos difíceis, quase impossíveis, na visão de Luiz Antônio Barreto.

A importância de Antonio Garcia no contexto da vida sergipana é extraordinária e qualquer relato, por mais apurado que seja, pode não representar com fidelidade a sua história. Antonio Garcia se destacou na medicina e na política cultural, em suas múltiplas vertentes: na literatura, na música, na poesia, nos discursos memoráveis: “Acorda Laranjeiras”, manifestação poética antológica na visão do ministro Carlos Ayres de Brito. Antonio Garcia foi um homem que viveu permanente e intensamente o seu tempo, muitas vezes até se antecipando a ele, realizando coisas absolutamente fantásticas, típicas dos visionários.

Evoco os romanos de priscas eras, para lhes dizer que a emoção que invade o peito rivaliza com a dos gladiadores, em plena arena, com o coração palpitante e captando vibrações de um “coliseu” incansavelmente ávido por desafios intelectuais. Os três, Augusto, Moreno e Antônio foram gladiadores contemporâneos.

Legenda da foto: Dr. Augusto Leite

Publicação compartilhada do site do Portal INFONET, de 15 de maio de 2022

Antônio, Augusto e Moreno - Parte 2 

Por Lúcio Predo (do blog Infonet) 

ANTÔNIO, AUGUSTO e MORENO: vidas que se entrelaçam, personalidades ímpares que permeiam com luz própria e fulgurante a História da nossa Medicina, no Século XX. Heróis na arte de curar, heróis na arte de confortar, heróis na arte de servir ao próximo, com predestinação, humanismo …vitórias e derrotas, erros e acertos. Suas trajetórias na Medicina e no universo cultural se confundem na ação e no saber,  na inteligência e no altruísmo, do “ser” superando o “ter”, três vidas vividas para o bem, para os mais necessitados, doando conquistas para a sociedade. Anteriormente apresentamos um ensaio sobre Antônio Garcia. Na sequência, falo de Augusto Leite.

AUGUSTO

Em 1986, Sergipe se preparava  para as comemorações do Centenário de Nascimento do eminente cirurgião. A Sociedade Médica de

Augusto Leite

Sergipe lança, naquela oportunidade, uma edição especial de seu jornal em comemoração à data. Na condição de responsável pelo boletim, entrevistei pessoas e busquei fontes. Produzi então uma acalentada  edição especial de doze páginas, com depoimentos de médicos, alguns inéditos, entre eles o de Gileno Lima, fundador e presidente de honra da Academia Sergipana de Medicina, revelando um acontecimento memorável do qual foi protagonista, envolvendo o Dr. Augusto Leite,  no ano de 1962, com o título “A volta do velho cirurgião” . A emoção foi traduzida no editorial que escrevi: “Que fascínio poderia este homem exercer sobre toda uma geração? Que fascínio poderia exercer este médico sobre seus pacientes? Onde conseguia arregimentar forças para desempenhar as suas pioneiras atividades? Mergulhei no passado para tentar responder a essas indagações que muito me intrigavam! E dele saí com a certeza de poder resumir tudo numa única frase: “Ação e amor ao trabalho”.

Dos três, Augusto foi o primeiro a receber o grau de doutor em Medicina, no início de 1909, no Rio de Janeiro, (ano que Moreno nascia, na cidade de Laranjeiras), após defender a tese “Da contraindicação renal ao emprego do salicilato de sódio”, um século depois da fundação, por Dom João VI, do Colégio Médico-Cirúrgico da Bahia, instituição que  iniciou o ensino médico no Brasil. Graças ao extraordinário acervo do nosso confrade Petrônio Gomes, a tese do Dr. Augusto Leite está sendo adicionada hoje ao acervo da nossa Biblioteca Pública.

Em 1913, Augusto Leite é nomeado pelo então presidente da Associação Aracajuana de Beneficência, mantenedora do Hospital, o desembargador Simeão Sobral, para compor o seu corpo clínico. Até então, Augusto Leite operava em residências e fazia partos, às vezes à luz de querosene.

Em 9 de novembro de 1914, numa data que entrou para a história da medicina sergipana, o Dr. Augusto expôs à luz do dia a cavidade abdominal de uma paciente, para dela retirar um fibromioma uterino. Até então, nunca, ninguém, em Sergipe, abrira um ventre em operação cirúrgica. Estava, finalmente, inaugurado o ciclo da chamada “grande cirurgia” no Estado.

No entanto, em 1918, um fato abalou a vida de Augusto Leite. Em 12 de abril, o falecimento do jovem Ewerton Coelho, agitou o pequeno estado. Nas palavras de Acrísio Torres, uma “inominável conjuração que suscita rumoroso caso clínico”, envolvendo um dos mais renomados médicos sergipanos daquela época: Helvécio de Andrade. Detalhes desse rumoroso caso fogem do escopo da minha manifestação. A professora Cristina Valença, em “Medicina, Educação e História – a trajetória de Helvécio de Andrade” descreve o episódio detalhadamente e ao final conclui que “na realidade, os fatos estão envolvidos por considerações subjetivas e descerram perspectivas da intelecção do real. Por vezes, podem levar a conclusões errôneas de um episódio ou fato histórico. Assim, o objetivo não seria determinar o culpado, mas evidenciar que o campo médico sergipano não estava alheio a conflitos e lutas pelo poder”.

Apesar de contar com o apoio da quase totalidade dos seus pares médicos da época, que lhe manifestaram total solidariedade, Augusto sentiu o peso do episódio. Segue depois para a América do Norte, atendendo convite do professor americano Albee e na renomada Clínica Mayo,  para aprimorar seus conhecimentos nas novas técnicas cirúrgicas que a ciência médica empreendia, após a descoberta da anestesia. Ficou dois anos por lá. Em seguida, Paris, onde termina a sua especialização.

No início de 1923, já em terras sergipanas, Augusto reivindica ao presidente do estado, Maurício Graccho Cardoso, a construção de um novo hospital na cidade, onde pudesse exercer com segurança a moderna cirurgia, com um meio cirúrgico adequado ao desenvolvimento e prática de novas intervenções. Em novembro, era batida a pedra fundamental do futuro Hospital de Cirurgia.

Finalmente, em 1926, no areal da Thebaidinha, é inaugurado o hospital, dando nome ao bairro onde nasceu, hoje densamente povoado. Se no Brasil as leis fossem cumpridas, o bairro que abriga o hospital deveria ser chamado de Bairro Dr. Augusto Cezar Leite, conforme Lei Municipal 581, de 8 de maio de 1978, assinada pelo engenheiro João Alves Filho, então prefeito de Aracaju.

A administração do hospital foi entregue pelo governo, sob as bênçãos do bispo diocesano Dom José Thomaz Gomes da Silva, às Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição, entre elas as irmãs Úrsula, Bernardina, Berarda, Theodata e Clara, todas alemãs.

Cinco meses após a inauguração do Cirurgia, que funcionava a pleno vapor nas suas três salas cirúrgicas, Augusto Leite retira-se do hospital Santa Isabel, após realizar em treze anos quase 500 grandes cirurgias. As motivações que determinaram a saída do cirurgião nunca foram devidamente explicadas. O Conselho de Administração da Associação Aracajuana de Beneficência, mantenedora do  hospital, presidido pelo Almirante Aminthas Jorge, havia decidido suprimir os serviços de alta cirurgia e essa decisão foi um golpe nas pretensões de Augusto Leite em continuar operando no nosocômio. A dor sentida por esse fato foi tão grande, que ele só voltou ao Santa Isabel no dia em que esse hospital completou o seu primeiro centenário de existência, em 1962, numa ação bem articulada do Dr. Gileno Lima, então diretor. Haviam passados 36 anos. Estava sendo cicatrizada o antigo e grave ferimento.

No Hospital de Cirurgia, Augusto Leite continuou sua vida sempre vitoriosa, com novas conquistas a cada ano, apesar de ter passado sempre por enormes dificuldades e crises. Uma delas, pouco conhecida, houve, naquela época, quem o quisesse tomar para o governo federal, com o novo nome de  Centro Hospitalar Getúlio Vargas. Isso não vingou, todavia. O hospital cresceu e prosperou, tornou-se um hospital geral, também de clínica médica não só cirúrgica, onde as várias especialidades foram sendo exercitadas. Surgiram o Hospital  Infantil e um grande pavilhão com três pisos para o Centro de Puericultura e a Escola de Auxiliares de Enfermagem.

Em 1943, a construção de um novo pavilhão abrigou a Maternidade Francino Melo. Nessa mesma década, planejou Dr. Augusto a construção da Casa Maternal, que depois de pronta recebeu o nome de Amélia Leite. Nela seriam abrigadas as mães adolescentes e mães solteiras, mães sem posse e mães envergonhadas, filhos desemparados e filhos sem pais, funcionando em regime de internato e externato. Veio a Escola Raio de Sol, para pequenos de dois e três anos. O que Dr. Augusto Leite fez pela criança sergipana só se compara à sua saga de cirurgião. Enquanto vivo esteve, a Casa Maternal foi a menina dos olhos de Dr. Augusto, nas palavras de Juliano Simões que, na entronização  da herma em homenagem ao cirurgião, colocada no pátio do Hospital de Cirurgia, disse: “A rijeza do bronze expressa para sempre a firmeza com que Augusto Leite, pelo seu saber, tem podido ser útil à humanidade sofredora” .

Em 1953, com Moreno à frente, ideólogo da ação, instala a Sociedade Civil Faculdade de Medicina,

entidade mantenedora da futura escola médica, com Augusto no seu comando. Ainda não era o momento certo. Futuro prédio e quadro de professores chegaram a ser definidos. Mas faltava a ação e a determinação, que só vieram anos depois, em 1959, quando o médico Benjamin Carvalho assumiu a Sociedade Mantenedora e aliou-se à firme decisão do governador Luiz Garcia em fundar a faculdade. O governador, para não ter dúvidas, nomeou o seu irmão Antonio, para comandar a superpoderosa secretaria recém criada de Educação, Saúde e Cultura. E Garcia não perdeu a oportunidade.

Quando o Dr. Augusto Leite completou 50 anos de sua formatura, em 18 de janeiro de 1959, Sergipe inteiro engalanou-se para homenageá-lo. Realizou-se uma sessão solene no Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, com diversos oradores se revezando nas homenagens. Augusto extrapolou suas atividades médicas. Foi  diretor da Escola de Aprendizes, de 1910 a 1916, quando passou a lecionar  História Natural e de Higiene, do antigo Atheneu Sergipense. A partir de 1918 passou a ensinar História Natural no Seminário Diocesano. Foram seus alunos, por aquele tempo, Dom Mário de Miranda Vilas Boas, Monsenhor Carlos Costa, Monsenhor Dr. Alberto Bragança de Azevedo, Monsenhor Domingos Fonseca, desembargador Humberto Sobral e o professor e Dr. José Olino, estes dois últimos quando seminaristas. Participou ainda da assembleia de fundação da Faculdade de Direito em 1950, sendo escolhido o primeiro professor da disciplina de Medicina Legal, depois substituído por Garcia Moreno.

Em certa fase de sua vida, tomou parte em atividades políticas, tendo chegado a Senador da República por Sergipe, de 1934 a 1937, renunciando ao mandato com a decretação do Estado Novo por Getúlio Vargas.

Na Assembleia Constituinte Nacional, defendeu teses, àquela época, que hoje estão perfeitamente atualizadas e sendo acolhidas e executadas.

Outro 50 anos,  o do  Jubileu de Ouro da primeira laparotomia feita em terras de Sergipe, foi celebrado de uma forma incomum, inusitada.  Foi no Hospital Santa Isabel que aquela operação fora executada em 9 de novembro de 1914. O nosocômio se engalana para comemorar o quinquagésimo aniversário de sua realização, em 1964. Augusto repete, então com 78 anos de idade, a mesmo tipo de operação que fizera há 50 anos. Depois, entregou ao Dr. Gileno Lima, diretor do Hospital fazendo um especial presente de valor, assim histórico quanto estimativo, para lá ser guardado, como recordação sua, o bisturi de ouro que os colegas lhe ofereceram no dia do seu jubileu áureo profissional. Coube ao Dr. Juliano Simões ser o intérprete das homenagens prestadas pelo corpo clínico e administrativo do hospital naquela oportunidade. O diretor do hospital Gileno Lima, certa vez me confidenciou: “Confesso-lhe, honesta e humildemente, que de todas as realizações de nossa gestão à frente do hospital nenhuma, mas nenhuma mesmo sobrepujou, pelo seu significado afetivo e alto teor de justiça, a volta do velho cirurgião, do filho pródigo ao centenário Hospital”.

Moreno certa vez, disse: “Augusto é um tema rico, fértil e fácil”.  Falar sobre a sua vida é assunto quase inesgotável, tão cheia de serviços prestados à humanidade, tão plena de benefícios ao próximo, tão rica de benesses distribuídas com a fartura de sua prodigalidade, engrandecidas pela bondade de seu coração e grandeza de sua alma como pessoa humana, como profissional consciente, como médico humanitário, como cidadão presente, como chefe de família exemplar.

Certa vez, disse Jacinto de Figueiredo, apropriadamente, em um soneto em homenagem a Augusto: “Não louvo o homem, louvo o altruísta, – bondade, vocação, desprendimento”. Cuja mais bela arma de conquista em prol do bem comum – é o sentimento”.

João Gilvan Rocha, que ocupou assento neste sodalício na mesma cadeira primeiramente ocupada por Augusto, disse certo dia sobre o seu antecessor: “Ele não foi somente a maior figura da medicina sergipana de todos os tempos. Era basicamente um intelectual. Um intelectual que da província mirava  e acompanhava o mundo. Um intelectual que, com perícia incomum, manejava seu instrumental de cirurgião”.

Segundo um dos seus biógrafos, o saudoso Luiz Antônio Barreto, Augusto Leite teve dois momentos importantes na sua biografia. O primeiro, quando participou da fundação da Academia Sergipana de Letras, em 1929 e o segundo, quando criou em 1933, o partido político União Republicana de Sergipe, que o levou à Constituinte nacional, como Senador. Porém, com o Estado Novo, desgostoso com os rumos do país, Augusto encerrou definitivamente a sua carreira política e retornou à medicina, como já disse anteriormente.

Por suas mãos, muitas vidas foram salvas e muitas obras foram edificadas. Mãos que lutaram com a morte em nome da vida. Mãos que o senhor abençoou todos os dias, semeadoras da paz, no Vale das Agonias…Mãos que foram um presente do céu para todos nós! Mãos…que fizeram menor a dor de seus semelhantes…Mãos de Augusto Leite: mãos de paz, mãos de luz, mãos de amor!” (Freire Ribeiro).

Texto e imagens reproduzidos do site: infonet.com.br/blogs

segunda-feira, 9 de maio de 2022

Doutor Gilberto Francisco, o popular GILFRANCISCO

Legenda da foto: O jornalista e escritor, GILFRANCISCO 

Artigo publicado originalmente no site EVIDENCIE-SE, em 5 de dezembro de 2021

Doutor Gilberto Francisco, o popular GILFRANCISCO

Por Cid Seixas*

A vida cultural dos estados da Bahia e de Sergipe, ainda hoje, está umbilicalmente ligada, como se formássemos uma só unidade da federação, que poderia ser chamada de BASE. Muitas personalidades culturais da Bahia são, na verdade, sergipanos natos, a exemplo do José Calazans, autoridade nacionalmente referenciada pelos estudos sobre a Guerra de Canudos, e Nelson Araújo, outro importante estudioso que veio de Sergipe para enriquecer a seara dos estudos da história do teatro, das manifestações populares e também do mundo clássico greco-romano.

Coincidentemente, estes dois mestres sergipanos – que se tornaram referências capitais no contexto acadêmico e intelectual da Bahia – foram responsáveis pela iniciação de um jovem estudante de Salvador que fez um percurso de retorno às terras de Sergipe Del Rey. Vejamos então a trajetória desta figura multifacetada que traz na sua bagagem a herança de dois admirados intelectuais sergipanos.

O jornalista, pesquisador e professor Gilfrancisco, ilustre cidadão sergipano nascido na Bahia, está prestes a completar 70 anos de idade. No que pesem as muitas libras e arrobas temporais de anos vividos, ele continua arguto e produtivo. José Calasans e Nelson Araújo, infelizmente, não viveram mais tempo para testemunhar como os seus trabalhos de pioneiros retornaram à sua sempre lembrada terra natal, através do discípulo baiano – que a exemplo dos dois mestres também se vê sergipano.

Neste ano de 2021, a Universidade Federal de Sergipe, importante instituição cultural sediada no Estado, conferiu a Gilfrancisco a sua mais expressiva e elevada distinção acadêmica, o título de Doutor Honoris Causa.

Como me referi a ele como Cidadão Sergipano, devo fazer uma ressalva, antes de prosseguir com o texto de apresentação deste livro significativamente denominado A outra voz, a voz do outro.

No que pese a sua contribuição à nova terra escolhida como sua pátria intelectual, o Doutor Gilfrancisco é, por escolha afetiva e intelectual, um Cidadão Sergipano, mas não de fato e de direito, porque o devido título não lhe foi outorgado pela Assembleia Legislativa do Estado de Sergipe. Outro título de natureza acadêmica que ainda não foi atribuído ao quase cidadão é o de “imortal sergipano”, conferido àqueles eleitos pelos confrades da competente Academia de Letras destas novas terras afetivamente conquistadas por Gilfrancisco.

O livro comemorativo dos 70 anos de Gilfrancisco é uma espécie de visão panorâmica do seu trabalho de jornalismo cultural. A julgar pelo título escolhido – A outra voz, a voz do outro –, já percorremos parte do melhor caminho; ou seja, estamos diante de um bom livro. O autor soube escolher magistralmente como denominar este conjunto de 18 entrevistas feitas para jornais e revistas, mas muitas delas ultrapassam a utilidade circunstancial da imprensa e se impõem como documentos da memória cultural.

Aliás, convém se repetir: este é o mérito dos escritos e subscritos do nosso autor. O lugar de destaque merecidamente conquistado por ele se deve à natureza da investigação cultivada ao longo dos anos, desde que na Bahia teve como mestres de metodologia e de trabalho dois sergipanos ilustres, os já referidos José Calasans e Nelson Araújo.

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Abro parênteses aqui para dizer que acabo de ler alguns artigos do professor José Calasans Brandão da Silva – este é o nome completo do jovem sergipano que se tornou um respeitado patrimônio da vida cultural baiana e brasileira – reunidos no livro Cartografia de Canudos, uma das obras consideradas essenciais pelos estudiosos do tema. No momento estou empenhado em organizar um e-book com textos de Calasans sobre um dos muitos episódios da Guerra de Canudos.

Convém não confundir o educador José Calasans com o militar e deputado José Calazans, constitucionalmente eleito em 1892 primeiro Presidente da Província de Sergipe. Apesar de militar, este político sofreu forte oposição por parte dos apoiadores do primeiro golpe militar ocorrido no Brasil, apelidado de República.

Nascido no dia 14 de julho de 1915, o professor José Calasans fez sua formação básica no Liceu Sergipense, tendo em Salvador conquistado o título de bacharel em Direito, em 1937. Já formado, como bom filho volta à casa materna, passando a lecionar no Colégio Estadual de Sergipe e na Escola Normal Rui Barbosa. Nesta última tornou-se Catedrático de História do Brasil e de Sergipe, aprovado com distinção.

Devido à sua projeção intelectual, o mestre Calasans assumiu a presidência do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, no biênio compreendido entre 1945 a 1947.

Ainda em Sergipe, atuou em São Cristóvão, colaborando com Rodrigo de Melo Franco, como diretor do Iphan, promovendo a classificação de bens e imóveis da cidade.

Em 1947, José Calasans Brandão da Silva regressa a Salvador com a esposa e o filho José para lecionar na Faculdade Católica de Filosofia e na então Faculdade de Filosofia Ciência e Letras, núcleo formativo da futura Universidade Federal da Bahia.

No ano de 1951 presta concurso de Livre Docência de Historia do Brasil, defendendo a tese O Ciclo do Bom Jesus Conselheiro. Na mesma Faculdade, em 1959, conquista a Cátedra de História Moderna e Contemporânea, com o estudo intitulado Os Vintistas e a Regeneração de Portugal. Durante alguns anos foi Chefe do Departamento de História da UFBA e diretor da Faculdade, tendo sido eleito Vice-Reitor em 1980.

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Depois de falar de um dos responsáveis pela formação BASE (Bahia-Sergipe) de Gilfrancisco voltemos ao livro A outra voz, a voz do outro, ora apresentado ao público leitor. O espesso volume comemorativo dos 70 anos do autor é dividido em três partes – (1) “História, Política e Jornalismo”, com seis entrevistas; (2) “Artes Plásticas, Cinema e Música”, formada por três conversas, uma sobre cada área artística; e finalmente a parte (3) “Literatura”, a mais longa de todas as unidades temáticas do livro, com nove entrevistas.

Observe-se que, na condição de testemunha ocular e participe ativo da vida cultural das duas unidades da federação brasileira, os estados da Bahia e de Sergipe, Gilgrancisco procura destacar o papel de personalidades de ambos os espaços territoriais e suas particularidades. Cabe agora ao privilegiado leitor deste conjunto de diálogos escolhidos mergulhar de cabeça, tronco e membros nas águas correntes deste rio de palavras repesadas. O Rio de Seu Francisco Setentão.

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* É jornalista, escritor, Doutor pela USP e Professor Titular aposentado da Universidade Federal da Bahia. Editor do site Linguagens, hospedado no endereço abaixo: linguagens.ufba.br

Texto reproduzido do site: evidencie-se.com

domingo, 1 de maio de 2022

'Bonequinha, o precursor do colunismo social em SE', por Adiberto de Souza

Legenda da foto: Da esquerda para a direita: Darcilo Costa, Carlos Henrique (Bonequinha), Adroaldo Campos, Carmelita, Heribaldo Vieira, João Aguiar, Paulo Moura, Laurindo Campos, Epaminondas e Aloisio Abreu - (Crédito da foto:  Arquivo pessoal da advogada Aida Campos)

Publicado originalmente no site DESTAQUE NOTÍCIAS, em 1 de maio de 2022

Bonequinha, o precursor do colunismo social em Sergipe
Por Adiberto de Souza*

Tido como pioneiro da crônica social em Sergipe, o promotor público Carlos Henrique de Carvalho era mais conhecido por “Bonequinha”, apelido certamente atribuído ao fato de sua baixa estatura e da elegância no vestir. Sobrinho do ex-interventor do estado, Eronides Carvalho, o colunista pontificou a partir dos anos 50, sendo requisitadíssimo pela chamada high society de Aracaju. Hoje, porém, é raro encontrar citações sobre ele na internet. Para lembrar deste precursor do colunismo entre nós, recorremos aos escritos do professor Jorge Carvalho e do desembargador Artur Oscar de Oliveira Déda, este último contemporâneo de “Bonequinha” na Faculdade de Direito.

Em seu Blog Educação e História, Jorge Carvalho revela que a partir de 1954, “Bonequinha” começou a publicar a lista dos 10 homens e das 10 mulheres mais elegantes do ano. Para o colunista, a um homem não bastava ser rico. Era necessário parecer um homem de bem, do bem e de bens. Vestir roupas exclusivas; praticar esportes; frequentar festas; viajar para lugares tidos como glamourosos. Veja como o colunista adjetivava seus homenageados: “Roberto Tunes – capitalista, rapaz moço que goza de um conceito muito catu na nossa sociedade. Sua elegância predomina através de tropicais ingleses bem talhados. Ultimamente circulou em Paris, Cidade Luz”.

Segundo o professor Jorge Carvalho, o colunista possuía a exata consciência da importância que tem a divulgação dos acontecimentos sociais: “Para que uma festa badalada seja completa mesmo, é preciso a repercussão do evento nas colunas sociais”, ensinava. “Bonequinha” valorizava como poucos o fato de ser citado, ser visto. Contam que sempre que ia ao Rio de Janeiro, ao desembarcar no Aeroporto Santos Dumont, ele procurava o serviço de som e solicitava: “Por favor, chame ao balcão da Varig o doutor Carlos Henrique de Carvalho”. Sentava-se em um dos cantos e aguardava o chamado que ele mesmo atendia, passando acintosamente entre os passageiros e festejando intimamente por estar sendo visto por todos.

Num artigo publicado no Jornal da Cidade, o saudoso desembargador Artur Oscar de Oliveira Déda lembra que seu colega de faculdade fez amigos e inimigos, “estes últimos representados geralmente por pais protetores ou Romeus ciumentos”. O magistrado escreve com graça que, certa vez, numa sessão solene de posse realizada no Tribunal de Justiça, com a presença de representantes do Exército, – foi precisamente na tarde do dia 31 de março de 1964, véspera do golpe militar – “Bonequinha” discursou louvando as qualidades do novo desembargador Serapião de Aguiar Torres, chamando-o de “desembargador do povo”. Conta-se que, dias depois, o colunista fora intimado pelos militares para explicar a razão do título conferido ao magistrado. E ele calmamente esclareceu: “Sim, eu disse… desembargador do povo… quer dizer… do povo rico”. Este era “Bonequinha”.

* Adiberto de Souza - É editor do Portal Destaquenotícias 

Texto e imagem reproduzidos do site: destaquenoticias.com.br