sábado, 11 de junho de 2022

A morte do Roninho

Foto reproduzida do Facebook/Ronald Cabral Simas e postada pelo blog SERGIPE...

Texto publicado originalmente no Perfil do Facebook/Jorge Lins, em 10 de junho de 2022

A morte do Roninho

Eu realmente não sei como encarar a morte e já com 65 anos, ainda não entendo como enfrentar a perda de amigos e contemporâneos. Sofro de uma forma que parece que meu coração sangra. Acho que penso que cada vez que perco alguém da minha geração, morro um pouquinho ou tomo consciência que a "viagem" está mais próxima.

Ronald Cabral Simas ou Roninho era um pouquinho mais velho que eu e muito mais maluco...

Uma vez encontrei com ele em Rio Branco do Acre. Eu, dirigindo um show pelo Projeto Pixinguinha e ele, vivendo uma experiência com a seita do Santo Daime e seu chá...

Hoje, quando eu soube da sua morte, senti mais uma vez aquele calafrio e tristeza de quem vê seus amigos partirem...

Saudade !!!!

Texto reproduzido do Perfil do Facebook/Jorge Lins

Roninho - "Um nome que marcou a cena aracajuana como poucos!"

Foto reproduzida do Facebook/Ronald Cabral Simas e postada pelo blog para ilustrar o presente post

Texto publicado originalmente no Perfil do Facebook/Luiz Eduardo Oliva, em 10 de junho de 2022

Simplesmente atônito, chocado! Foi-se Roninho e eu não sabia. Um nome que marcou a cena aracajuana como poucos! A vida não foi, ao meu ver, justa com a exuberância de Roninho! Brilhante,  ativo, diferente! Filho de Roque Simas, foi um dos criadores da Folha da Praia, um nome de uma geração brilhante! Era negro e como se destacava lhe deram um apelido estupidamente preconceituoso. Escrevia com estilo mas pouco publicou.  Li textos seus que me mostrou.  Cheguei  a ser advogado dele em um único momento e desfrutava da sua amizade. Se um dia a historiografia registrar a cena aracajuana, não necessariamente aquela que está nos destaques da mídia, caberá um lugar especial para Roninho, Ronald Cabral Simas! Com os olhos marejados recebi a notícia quando estava almoçando com amigos dos anos 80 e fizemos um brinde àquele que brilhava. Mas somente os que estiveram perto dele sabia da sua exuberância! Ave Roninho!

Texto reproduzido do Perfil do Facebook/Luiz Eduardo Oliva

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'Roninho, socialista moreno, nosso dândi tropical', por Luciano Correia

Foto reproduzida do site Pinterest e postada pelo blog para ilustrar o presente artigo.

Texto Publicado originalmente no Perfil do Facebook/Luciano Correia II, em 10 de junho de 2022

Roninho, socialista moreno, nosso dândi tropical

     Morreu Roninho, o intrépido Ronald Cabral Simas, morador da rua Socorro, moleque criado nas velhas indjagens de Aracaju, entre as boates da Atlética, Iate Clube e os bares da malucada dos anos 60. Porte atlético, moreno escuro, parecido com o tipo “cabo verde”, cheio de ginga, namorador, bom de papo e de murro. Já o conheci rapaz, dez anos mais velho do que eu, moleque recém chegado de Itabaiana e já de saída da UFS para cursar Jornalismo na Bahia. Durante quatro anos fui uma espécie de correspondente da Folha da Praia em Salvador e, quando vinha por Aracaju, sempre passava na redação da Folha para pegar uns trocados e, principalmente, me fascinar com a loucura que foi a primeira geração do semanário.

     A redação era aberta o dia inteiro, começando pelo gerente Moura, o único que não era cachaceiro, portanto, podia chegar cedo e abrir o jornal. Os demais iam e vinham o dia todo. Amaral, editor e dono, Fernando Sávio, Carlos Magno, Bittencourt, Gigi, o carlista Cesinha, Zenóbio Melo, Ilma Fontes, Marcos Cardoso, criador da genial tirinha de Max, O Dogmático, Mabrafa, Henrique Barbudo’s, depois Antônio Passos, o cartunista Guga de Oliveira, Elton Coelho, o fotógrafo César, Roberto Lessa e mulheres, muitas e lindas mulheres. Muita conversa inteligente, alguma bebida e maconha de hora em hora, no terraço do edifício Cultura Artística, a lendária SCAS, onde funcionava a redação da Folha, no segundo andar, e outros escritórios ocupados por uma fauna não muito diferente daquela turma esquisita do jornal. Roninho era o diretor comercial, bom vendedor, sempre às voltas com algum mirabolante projeto que dividiria o mundo em antes e depois de sua ideia. Eu, embora vivesse uma vida efervescente como estudante de Jornalismo na UFBa, entre as festas e revoluções do movimento estudantil – muito mais festa que revolução, é bom dizer – ficava impressionado com a gente torta e interessante que encontrava ali. 

     Pouco tempo depois Roninho saiu da Folha, sem brigar, mas reclamando de Amaral, sobre comissões, participação de lucros e coisas que tais. Uma briga de dois sabidos, embora eu achasse, no fim, que Roninho tivesse mais razão. Nunca deixamos de ser amigos, sempre me divertindo quando o encontrava, na rua ou nos bares. Sempre metido com novos projetos, amores recentes. Irônico, cáustico, disparava uma metralhadora de impropérios em cima do desafeto da hora. Uma vez, eu trabalhando na Prefeitura, fui avisado pela secretária que “um rapaz todo quebrado, com o rosto inchado e cheio de curativos” me procurava na antessala. Dei com um Roninho exasperado contra a Prefeitura de Aracaju, a quem iria processar, culpada do buraco na rua de Arauá que provocou sua cinematográfica e violenta queda da bicicleta. Foi um dos primeiros jovens de uma classe média viciada em carros a trocar o motor pelas rodas da bike. Não sei no que deu, mas ficou décadas falando mal do prefeito de então, repetindo sempre uma mesma piada que ele julgava engraçada e ferina. Até hoje não entendi a tal piada.

     Ainda no período da Folha da Praia, voltou de uma longa viagem ao Acre trazendo para Sergipe as maravilhas do Santo Daime, que ele transformou em um misto de ritual, festa e meio de fornicar com as minas. Em outro momento, quando eu trabalhava na sucursal em Sergipe da Tribuna da Bahia, irrompeu na redação do jornal, na rua Itabaiana, com um sujeito que ele chamava de “Madeirinha, o homem que come bosta”, que ele descobrira, o tal fenômeno, na simpática cidade de Frei Paulo. Fiquei mais irritado com a interrupção do meu trabalho do que achei graça na história. Eu tinha horário pra enviar minhas matérias para Salvador e já redigia meu texto no próprio telex, onde, ao concluir, já despachava através de uma fita onde gravávamos nossa produção do dia. Mas, em atenção a uma velha amizade, parei para ouvir a história do incrível homem que comia merda. Felizmente eu consegui adiar para outro dia a demonstração prática e cabal das habilidades do nosso herói freipaulistano. De modo que jamais foi cumprida a promessa, ou ameaça. A partir daí, sempre que o encontrava, não deixava por menos: “E o Madeirinha, tem notícia?”. 

     Bonito, gostava de um terno de linho branco que às vezes usava na noite, cheirando a patchouli e acompanhado de alguma morena. Transbordava em eloquência, seja para anunciar a mais nova ideia, ou para encantar a moça. Assim viveu, nesse sonho que, vendo de cá, não sei se deu certo. Porque, apesar da verve e da inteligência, sempre me pareceu infeliz, de alguma frustração que atravessou seus caminhos sempre. Fui perdendo os companheiros da Folha da Praia aos poucos: Sérgio Picolé, Zenóbio Melo, Altamiro, Iran, Caga Voando e os três que eram a alma do periódico: Fernando Sávio, Ilma Fontes e o próprio Amaral. Depois de alguns anos sem vê-lo, sempre que passava em sua casa, na rua Socorro, me perguntava por anda andaria essa versão de Don Quixote do bairro São José. Até que, no ano passado, num evento da Lei Aldir Blanc no Centro Cultural de Aracaju, reencontro Roninho, um jovem setentão, falante, ainda atlético, com as ironias de sempre e uma menina muito linda e décadas e décadas mais jovem. Deixei os dois na casa dela, na rua Dom José Thomaz. Nunca mais os vi. Soube que a guria era uma paixão platônica. Não tive como tirar essa história a limpo com meu querido amigo Roninho. Foi embora esta semana, carregando essa tristeza que eu suspeitava latente no seu coração de menino.

Texto reproduzido do Perfil do Facebook/Luciano Correia II

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Morre Ronald Cabral Simas - RONINHO (1952 - 2022)

Publicado originalmente no Perfil do Facebook/Alcides Mello, em 10 de junho de 2022

Foi-se RONINHO, um amigão do peito!

Com pesar, soube agora através do amigo Heitor Fiqueiredo, do falecimento do amigão Roninho, na última segunda-feira, por insuficiência respiratória. Somos amigos de infância, criados juntos no circuito Bairro São José, Praia 13 de Julho, Associação Atlética,

Iate Clube  e Praia de Atalaia. Pintamos e bordamos na noite e madrugadas de nosso Sergipe Del Rei, nas décadas de 60 e 70.

Fica no meu coração a lembrança de um bom amigo, companheiro de todas as horas, um pisciano de marca maior. Deus o tenha...

Texto e imagem reproduzidos do Facebook/Alcides Mello

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segunda-feira, 6 de junho de 2022

Antônio, Augusto e Moreno – Parte 3, por Lúcio Prado

Legenda da foto: Garcia Moreno, na década de 60

Publicação compartilhada do site INFONET, de 29 de maio de 2022

Antônio, Augusto e Moreno – Parte 3
Por Lúcio Prado (do blog Infonet) 

ANTÔNIO, AUGUSTO e MORENO: vidas que se entrelaçam, personalidades ímpares que permeiam com luz própria e fulgurante a História da nossa Medicina, no Século XX. Heróis na arte de curar, heróis na arte de confortar, heróis na arte de servir ao próximo, com predestinação, humanismo …vitórias e derrotas, erros e acertos. Suas trajetórias na Medicina e no universo cultural se confundem na ação e no saber,  na inteligência e no altruísmo, do “ser” superando o “ter”, três vidas vividas para o bem, para os mais necessitados, doando conquistas para a sociedade. Na última parte da trilogia, falaremos sobre Garcia Moreno.

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Falar sobre  Moreno é falar sobre um ser de luz. João Batista Perez Garcia Moreno Filho nasceu em Laranjeiras,

a  “Atenas sergipana”. Naquele início de século XX, a cidade gozava de grande prestígio cultural, econômico e político. Graduado em Medicina pela centenária e histórica Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia, em 1933, foi, porém, na Cidade Maravilhosa que Moreno apaixonou-se pelos segredos da mente humana e abraçou a psiquiatria como especialidade. Nessa área ele foi inteiro. Clínico, docente e pesquisador, além de se envolver com as questões políticas e socias, na visão do médico José Augusto Barreto e do seu filho Guto, que ocupa atualmente a Cadeira 17 da Academia Sergipana de Medicina, cujo patrono é justamente o inolvidável alienista.

Em virtude de sua competente crítica à prática desumana pela qual os “loucos de rua”, “os insanos” e “os furiosos” eram tratados em Sergipe, logo no seu retorno para sua terra, Garcia Moreno, em 1937, foi nomeado  pelo então interventor federal, também médico, Eronides Ferreira de Carvalho, como Chefe do Serviço de Assistência aos Psicopatas. Na ocasião, ele visitou vários serviços modelares de Assistência Psiquiátrica já implantados no Brasil e ficou responsável pela elaboração das políticas públicas referentes à assistência psiquiátrica em Sergipe.

Esse fato foi um passo para que ele assumisse a responsabilidade pela construção e instalação do Hospital-Colônia, como parte da reestruturação do atendimento psiquiátrico estadual, inaugurado em 1940, quando da realização do II Congresso de Neurologia, Psiquiatria e Higiene Mental do Nordeste, em Aracaju.

A partir da fundação da Sociedade Médica de Sergipe em 1937, Moreno esteve ao lado de Augusto durante as três primeiras diretorias, como Orador oficial da entidade. Em 1952 chegou à presidência da casa, liderando a quinta diretoria e, nos anos de 1968-1972, assumiu o cargo de diretor da Faculdade de Medicina de Sergipe, substituindo a Antonio Garcia, diretor desde 1961. Moreno comandou a solenidade de colação de grau da primeira turma de médicos sob a égide da UFS, em 1968. Presidiu o Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe. De temperamento afirmativo, apoiou com todas as suas forças o poeta Santo Souza, na disputa com Antonio Garcia. Para ele, a vaga de poeta deveria ser ocupada por outro poeta. Derrotado na eleição, contrariado, apresentou a sua renúncia. Felizmente, nunca foi aceita. Simplesmente o presidente da Academia de Letras, poeta Severino Uchoa, deixou o pedido dormindo numa gaveta. Creio ter pensado: um imortal não pode abdicar da imortalidade. Tempos depois, os dois garcias, o Moreno e o Antonio, tornaram-se grandes amigos. Eduardo Garcia, filho de Antonio, tornou-se médico de Moreno nas suas dificuldades circulatórias e o acompanhou até o último suspiro, em 1976, com 65 anos.

No campo científico, esse laranjeirense da gema também deu expressiva contribuição. Produziu trabalhos científicos relevantes, entre eles o de maior destaque:  Aspectos do Maconhismo em Sergipe. Mesmo sem a convicção real da magnitude de que o problema iria alcançar, ele, de forma pioneira, antevendo décadas por vir, antecipou a discussão de um dos problemas de saúde pública mais graves da atualidade e dedicou-se a investigar o problema da toxicomania entre os adolescentes abandonados e moradores de rua de Aracaju. Este relevante estudo foi inserido no livro Maconha, edição do Serviço Nacional de Educação Sanitária (1958).

No campo intelectual, foi também profícuo. Das suas obras literárias, destacamos: Cajueiro dos Papagaios e Doce Província (livros): nestas obras ele canta as belezas de sua terra, descreve o estilo sergipano, faz crítica ao materialismo, posiciona-se contra a pena de morte e contra a eutanásia. Na crônica O Homem que lavou o cérebro, alerta sobre os efeitos colaterais dos modernos métodos científicos em macular, desfigurar, massacrar, denegrir e desfigurar o homem. Uma preocupação ainda hoje atual a demonstrar seu caráter visionário.

Em suma, o Dr. Garcia Moreno foi um homem muito especial. Visionário, intelectual, bairrista, cidadão, mestre, proativo, comprometido e líder.  Dedicou-se a variados campos do conhecimento e nunca deixou de transferi-lo à comunidade aonde fora plantado. Apesar de sabedor do seu potencial para voos mais longínquos, mas seguindo a máxima de Tolstoi, “Se queres ser universal, começa por pintar a tua aldeia”, Dr. Garcia Moreno optou por permanecer em Sergipe e as razões para tal decisão podem ser as mesmas do sociólogo Gilberto Freyre, como destacou Francisco Rollemberg no seu discurso de posse na Academia Sergipana de Letras, sucedendo o alienista.

“Preferi, porém, contra o conselho do bom mestre e bom amigo, patinar em areia áspera e nativa, minha, profundamente minha; e não me arrependo da decisão. Pertenço ao número dos sentimentais para quem terra alguma é igual àquela em que o indivíduo nasceu e criou-se.”

Texto e imagem reproduzidos do site: infonet.com.br/blogs

Marilza Maynard: Uma liderança do bem na Justiça sergipana

Artigo compartilhado do Perfil do Facebook de Igor Salmeron, em 6 de junho de 2022

Marilza Maynard: Uma liderança do bem na Justiça sergipana¹   
Por Igor Salmeron 

“Já que é preciso aceitar a vida, que seja então corajosamente” (Lygia Fagundes Telles)

Poucas são as mulheres que possuem esse tino de líder nata como é o ilustre caso de Dra. Marilza Maynard Salgado de Carvalho. Nascida em Laranjeiras num dia 10 de março do ano 1945, é a filha de Seu Ulysses Maynard e de Dona Raquel Dantas Maynard, ambos se notabilizaram por realçar o espírito educacional dentro do harmonioso lar. 

Desfrutou de lúdica infância, repleta de aprendizados e ensinamentos pautados pela ética e senso de dever comunitário. Na adolescência já despontava seu lado estudiosa, e não à toa, graduou-se em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito de Sergipe, numa época em que se destacaram inúmeros vultos da nossa ambiência jurídica sergipana. 

Exerceu com maestria a advocacia em universo telúrico e atuou, sobretudo, como notável Procuradora do extinto Instituto do Açúcar e do Álcool. Destacou-se no campo do ensino, donde lecionava diversas disciplinas, a exemplos: Processo Civil e Prática Jurídica, chegando a coordenar o Estágio de Prática Forense e Organização Judiciária, no Departamento de Direito da Universidade Federal de Sergipe. 

Foi Juíza de Direito das Comarcas de Neópolis donde iniciou no dia 1° de dezembro do ano 1971, passando por Simão Dias em 1975, Itabaiana no ano de 1977 e da 4ª Vara Criminal de Aracaju em 1979 bem como da 9ª Vara Cível da Comarca de Aracaju em 1980. 

Durante todo esse efervescente tempo, acumulou bagagem de inegável humanismo e sensibilidade às causas político-sociais. Marilza Maynard não se deixou imergir no continente glacial das leis, ao contrário, fazia o resgate contínuo de enxergar o fenômeno jurídico em sua totalidade. 

Anos após, tomou posse no cargo de Desembargadora do Tribunal de Justiça do Estado de Sergipe em 1997. Atuou como Diretora da Escola Superior da Magistratura (ESMESE) entre os anos de 1999 a 2001, ocasião esta em que devemos ressaltar: foi criado o Curso de Preparação para Ingresso à Magistratura, o que gerou bastante procura por parte dos Profissionais do Direito que desejavam ingressar na carreira de juiz. 

Ao fazer alguns levantamentos, notamos que já como Desembargadora, Marilza Maynard compôs diversas bancas examinadoras para concurso público, como as de Professor da Universidade Federal de Sergipe e de Juiz Substituto do Tribunal de Justiça do Estado de Sergipe. 

Dona de beleza e inteligência estonteantes, possui Pós-Graduação na área do Direito Processual Civil e é sócia honorária do Instituto Brasileiro de Direito da Família. Atuou como juíza eleitoral por mais de duas décadas, sendo ainda membro da Turma Julgadora do antigo 1º Juizado de Pequenas Causas. 

Marilza Maynard foi juíza corregedora eleitoral, membro da Comissão Nacional de Racionalização. Assumiu a Corregedoria-Geral de Justiça durante o biênio compreendido entre os anos de 2001 a 2003, donde realçou-se pelos 29 projetos que desenvolveu, o que significou a inovação tecnológica e a desburocratização do serviço público. 

Dentre tantas ações, podemos descortinar: Correição Eletrônica, o que fez dobrar o número de correições exigido por lei, outro exemplo foi o “Todo Município com Justiça”, que aproximou 300 mil sergipanos do serviço jurisdicional com a implantação, inclusive, dos Fóruns Distritais espalhados por 32 municípios. 

Este projeto merece todo nosso reconhecimento, pois ocorreu em frutífera parceria com as prefeituras, cuja inauguração dos Fóruns foi marcada pelas realizações de casamentos comunitários. Podemos elencar outras medidas, como: Controle Geral de Documentos e Controle da Central de Mandados, os quais foram reconhecidos em duas Mostras Nacionais de Trabalhos de Qualidade no Poder Judiciário. 

Marilza Maynard tomou posse como Desembargadora do Tribunal de Justiça pelo critério de antiguidade no dia 26 de novembro do ano 1997. Anos sucedâneos depois, no dia 02 de fevereiro do ano 2005, assume então a Presidência do Tribunal de Justiça do Estado de Sergipe, cuja gestão foi marcada por um conjunto de exemplares realizações. 

Dentre tantas: criação do modelo e implantação de seis Juizados Virtuais, cuja tramitação de processos era feita inteiramente sem papel. Durante esse período, no dia 27 de março do ano 2006, Marilza Maynard chegou a assumir o Governo do Estado de Sergipe, por um período equivalente a 8 dias, por motivo da viagem feita pelo Governador na época verificada João Alves Filho a países europeus, haja vista que a vice-governadora Marília Mandarino encontrava-se de licença e o Presidente da Assembleia Legislativa, Antônio Passos, estava acompanhando o Governador durante a profissional excursão. 

A transmissão do cargo vale dizer que foi bastante prestigiada, fazendo reunir diversos magistrados, procuradores, secretários estaduais, advogados e servidores públicos. João Alves Filho sempre fez questão de destacar o trabalho primoroso desenvolvido por ela junto ao Tribunal de Justiça do Estado de Sergipe, ressaltando que: “o Tribunal de Justiça está em boas mãos com Marilza Maynard, uma mulher que sabe enfrentar desafios”. Quando encerrou sua excelente gestão a frente do Tribunal, ela veio a se tornar a primeira mulher eleita para ser membro da Comissão Executiva do Colégio Permanente de Presidentes de Tribunais de Justiça do Brasil. 

Marilza Maynard nutriu durante toda sua trajetória um interesse ímpar por tudo que estivesse relacionado ao exercício retilíneo da Justiça, cuja vontade de fazer e aprender sempre foi algo notório, flagrante. Notamos que sua audaciosa personalidade se caracteriza pela saudável ousadia com iniciativas que são consideradas pioneiras até hoje. 

Quando esteve a frente do Tribunal de Justiça do Estado de Sergipe entre os anos de 2005 a 2007, o eminente órgão judiciário foi conduzido a um grau de respeitabilidade nunca dantes visto. Foram implantados os Juizados Virtuais, a Central da Conciliação, o Diário da Justiça Eletrônico e postas em prática diversos Mutirões de Conciliação.  

A Desembargadora se preocupou sobremodo com o gasto do erário público, o que na época a fez elaborar uma cartilha virtual de boas práticas, com medidas que implicavam em economia de despesas com telefone, impressão, consumo de água, energia elétrica, xerox, serviços terceirizados etc. 

Eram definidos os números de computadores, impressoras, ramais por vara, dentre outras medidas que visavam dirimir o gasto inútil do dinheiro público, e aumentar assim o tempo de serviço eficiente desempenhando pelos servidores. Instalou-se o Programa Justiça Cidadã, havendo oferta de serviços essenciais à cidadania, e além desse, teve o projeto Todo Cidadão com Registro, cujo objetivo foi a instalação dos Cartórios de Registro Civil nas maternidades públicas de Aracaju. 

Na área da informática, como vimos, os avanços foram tão emblemáticos que o Conselho Nacional de Justiça indicou o TJSE para presidir o Comitê Gerencial de Informática dos Tribunais de Justiça da Região Nordeste. Marilza Maynard preocupada com a população mais carente, buscou padronizar o atendimento aos usuários nas 97 comarcas do Estado, levando ambiente climatizado, espaços adequados e mobiliário confortável. 

Estimulou as licitações na modalidade de pregões eletrônicos, sob o sistema de registro de preços. Eles chegaram a ser feitos em 90% das licitações do TJ, resultando em uma economia de 30% em cada aquisição feita pelo tribunal.

Marilza Maynard não ficava trancafiada em gabinete, atuava junto, envolvia-se, estava presente, mostrando interesse contínuo com relação à comunidade. Segundo alguns relatos, ela chegou a ir pela madrugada visitar uma Rodoviária aqui em Aracaju para averiguar as reais condições de atendimento às crianças que se encontravam em situação de risco no posto avançado do Juizado da Infância e da Juventude. Depois da sua inesperada visita, o resultado foi melhorias efetivas na estrutura do local, de modo que veio a oferecer mais conforto e condições tanto aos pais quanto as crianças em trânsito. 

Para Maynard, nunca teve essa coisa de feriado, o trabalho se constituía em atender os basilares anseios da sociedade sergipana. Reconhecia os esforços dos magistrados e servidores, e por isso mesmo até hoje ela é exemplo a ser seguido no sentido de que engrandece a Justiça de Sergipe, considerada uma das mais céleres e respeitadas do Brasil. A construção de sonhos pioneiros possui fagulha em altivas personalidades, dentre as quais nesse caso específico: Marilza Maynard que se faz liderança do bem no que se refere à eficiência da jurisprudência bem administrada. 

Marilza Maynard integrou a Sexta Turma e Terceira Seção do Superior Tribunal de Justiça (STJ) com a certeza do dever cumprido. Além de ter sido uma época em que se considerava a profissional mais feliz e realizada. Atuou na Terceira Seção especializada em Direito Penal e contribuiu efetivamente para a celeridade da prestação jurisdicional. Foram mais de 13.800 decisões monocráticas, colegiadas, liminares e despachos com a habilidade e parcimônia que lhes são aspectos intrínsecos. 

Na melíflua esfera doméstica, foi casada com o saudoso João Salgado de Carvalho Filho, nascido em Estância, era formado em Economia. O mesmo iniciou sua carreira no Exército, onde foi Tenente do Centro de Preparação de Oficiais da Reserva até o ano de 1973. Depois atuou na Telergipe quando desempenhou função de Gerente do Departamento de Recursos Materiais. 

Em 1999 foi empossado como Secretário-Adjunto da Secretaria de Estado da Administração, em um ano, respondia também pela Presidência do Instituto de Previdência do Estado de Sergipe – IPES. Em 2001 acabou sendo nomeado para ser Secretário de Estado da Administração. 

No dia 1° de janeiro de 2003 havia assumido a pasta de Secretário Especial do Meio Ambiente, cargo depois convertido em Secretário de Estado do Meio Ambiente. Atuou também como Presidente da Administração Estadual do Meio Ambiente, a ADEMA entre os meses de agosto a novembro do ano 2004. 

Em seu último cargo como Secretário do Meio Ambiente, se destacou com a implementação de políticas voltadas para a gestão de resíduos sólidos, educação ambiental e criação do Código Ambiental. Faleceu no dia 06 de julho do ano 2005. Do belo casamento com Marilza Maynard, resultaram seus dois amáveis filhos: Mayra Maynard Salgado de Carvalho e Ulysses Maynard Salgado.  

Conclui-se que Marilza Maynard possui legado de trabalho, competência, ética e honradez frente ao Poder Judiciário sergipano e além-fronteiras na ocasião em que trabalhou com afinco junto ao STJ. Se existe um caso notório de agilidade e democratização do acesso à justiça, este, indubitavelmente, reside em nossa retratada: Marilza Maynard Salgado de Carvalho, mulher de destaque na vida jurídica de Sergipe e do Brasil, sendo uma das primeiras a galgar posições de juíza e desembargadora aqui no Estado, como vimos, foi a segunda a ter assumido a presidência do Tribunal de Justiça donde saiu para entrar para a história em letras garrafais e mais que merecidas. 

¹ Texto escrito por Igor Salmeron, Sociólogo - Doutorando em Sociologia pelo Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Sergipe (PPGS-UFS), com pesquisas financiadas pela FAPITEC/CAPES e faz parte do Laboratório de Estudos do Poder e da Política (LEPP-UFS). Membro vinculado à Academia Literocultural de Sergipe (ALCS) e ao Movimento Cultural Antônio Garcia Filho da Academia Sergipana de Letras (MAC/ASL). E-mail para contato: igorsalmeron_1993@hotmail.com

Texto e imagem reproduzidos do Perfil Facebook/Igor Salmeron