sábado, 30 de outubro de 2021

'A Casa Portuguesa, com certeza', por Marcio Rocha

Foto reproduzida do Portal Infonet e postada pelo blog para ilustrar o presente artigo.

Texto publicado originalmente no site F5 NEWS (BLOGS E COLUNAS), em 30 de outubro de 2021 

A Casa Portuguesa, com certeza 
Por Marcio Rocha  

Quando falamos sobre a história do Centro Comercial de Aracaju, em sua contemporaneidade, muitas pessoas lembram de pessoas e personagens importantes para seu desenvolvimento. A grande maioria da população chama as lojas dos Centro pelo seu dono. Essa história já foi contada aqui há cerca de dois anos, mas por mais que o tempo passe, esse hábito será difícil de ser mudado. Outrora, as pessoas iam às compras em Jaime (Barroso Modas), Pádua (Loja dos Doces), Leovegildo (Balas Lílian), Gonçalves (Loja de tecidos e roupas), Raimundo (Farmácias Galeno), Prudente (Supermercado), Antônio (Barbearia Continental), entre outros tantos. 

Nos dias atuais, vamos em Gessé (Nordic), Luiz Fernando (Lu Nandu’s), Fabinho (Aju Beauty), desssa garotada nova, mas ainda temos Hortência (Presentes e Decorações), Toinho (Kanoa Modas), Gilson (Óticas Santana), e outros ainda perdurantes na atividade comercial por várias décadas, e passamos por um personagem especial querido por todos. Lanchar? Abel, é claro! Toda a sociedade aracajuana conhece a Luzitânia Lanches, negócio de um dos grandes protagonistas do Centro Comercial de Aracaju há 47 anos. Passar na Luzitânia era para muitos e ainda é para outros tantos, programa garantido. Ir lá para comer um bacalhau, um doce, um bolinho... é no nosso jargão popular “de lei”. 

Lembro-me de quando criança, porque cresci indo lá, em companhia de meu pai, que era amigo de Abel há vários anos, para lanchar toda vez que fazíamos compras. A Luzitânia faz parte da minha vida, como faz parte da vida de muita gente. Sempre com aquele senhor simpático que ainda carregava levemente o sotaque da “Terrinha”, que tratava a todos com muito carinho, pronto para jogar conversa fora, com pessoas de todas as idades e classes sociais, sem distinção. Aliás, distinto era Abel. Sempre respeitoso com todos na lhaneza do seu trato. 

Nascido em 28 de março de 1927, em Fafe, Abel Gonçalves aportou em Aracaju nos anos 60, quando no espaço em que funcionava sua lanchonete, abriu uma loja de comércio varejista de calçados, a Luzitânia Calçados. Iniciando assim, uma trajetória de sucesso no empreendedorismo em Aracaju que foi coroada com a inversão do seu negócio para a famosa lanchonete que tanto tempo atende os aracajuanos, ao lado da igreja São Salvador. A idade vinha avançando e ele fazia questão de continuar cozinhando com sua esposa, Maria Clara, os pratos da culinária portuguesa que faziam seu negócio ganhar corpo e elevar o número de frequentadores. A Luzitânia faz parte da vida de quatro gerações de sergipanos. Dessa história, surgiu a Lei Complementar 5.003, que classificou a Luzitânia Lanches como patrimônio histórico e cultural de Aracaju. Abel Gonçalves é parte das nossas histórias pessoais, parte da história do comércio, parte da história de Aracaju. 

O legado de Abel, seu espírito empreendedor, seu amor por Portugal e paixão por Aracaju, foram reconhecidos pelo presidente da Fecomércio, Laércio Oliveira, ao sugerir para o conselho da entidade a entrega da Comenda José Ramos de Morais para Abel Gonçalves. Deveria ter acontecido antes de sua partida, mas a pandemia cruel com as pessoas, famílias e negócios, quis que o inexorável destino fosse outro e ele partisse aos 94 anos, ciente da homenagem feita pela casa dos empresários sergipanos. A pandemia que impediu o acontecimento da solenidade não tirou a comenda de Abel, pois a outorga já estava feita desde o momento em que ele foi informado da honraria. Contudo, a medalha logo estampará a parede da lanchonete mais querida de Aracaju. 

Para mim, será sempre “Tio Abel”. Assim o conheci, assim cresci chamando-lhe, assim permanecerá em minha memória. Esse grande homem nos deixou na última terça-feira. Deixará uma grande lacuna em nossos corações por tantas boas conversas, experiências gastronômicas e pelo grande exemplo de figura humana que era para todos os seus incontáveis amigos. Abel Gonçalves criou em Sergipe a nossa Casa Portuguesa, como diz a música eternizada na voz de Amália Rodrigues e que era cantada sempre que outro português de saudosa memória, Eusébio Pinto, radialista, entrava pedindo cinco bolinhos de bacalhau. 

A Casa Portuguesa continua lá, nós continuaremos indo em Abel. Agora, Abelzinho, seu filho, que tem uma dedicação altaneira pela existência da Luzitânia. E assim, nossa radiciação de denominar os negócios pelos nomes dos seus donos, continuará. Afinal, Abel é uma “casa portuguesa, com certeza”. 

Texto reproduzido do site: f5news.com.br 

quarta-feira, 27 de outubro de 2021

Fundador da tradicional lanchonete Luzitania, no Centro de Aracaju, falece


Legenda da foto 1 - Fachada da lanchonete. (Crédito da foto: reprodução/redes sociais) 

Crédito da foto 2 - César de Oliveira - Reprodução Fecomércio 


Publicado originalmente no site A8 SE, em 26 de outubro de 2021 


Fundador da tradicional lanchonete Luzitania, no Centro de Aracaju, falece 


Por Redação Portal A8SE 


Abel Gonçalves fundou em 1974 a lanchonete Luzitania, no calçadão da rua Laranjeiras, no Centro de Aracaju. O lugar se tornou Patrimônio Histórico e Cultural da capital. 


Nascido em Portugal, Seu Abel decidiu morar no Brasil. Começou a investir no setor de tecidos e calçados, mas depois optou na área de alimentação. Foi aí que marcou a história comercial de Sergipe. 


Nas redes sociais, o filho de Abel lamentou a perda do pai. "O maior exemplo que tive na minha vida, um grande professor, a reserva moral do comércio de Aracaju", disse. 


A Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Sergipe (Fecomércio) também prestou homenagem ao Seu Abel. "Aracaju perde um grande homem que acreditou em nossa cidade, empreendeu e venceu". 


A causa da morte não foi divulgada. 


Texto e imagens reproduzidas do site: a8se.com 

O português mais querido de SE: morre o empresário Abel Gonçalves, 94 anos

Foto de César de Oliveira/reprodução 

Legenda da foto: O presidente do Sistema Fecomércio Laércio Oliveira, lamentou a morte de Abel e lembrou de uma das muitas conversas que tivera com ele ao longo desses anos. 


Texto compartilhado do site F5 NEWS, em 26 de outubro de 2021 


O português mais querido de Sergipe: morre o empresário Abel Gonçalves aos 94 anos 


Ele fundou a Luzitânia, lanchonete com cardápio tipicamente português em Aracaju 

 

O empresário português radicado em Aracaju há mais de 50 anos, Abel Emídio Gonçalves Oliveira, morreu aos 94 anos, na tarde desta terça-feira (26), em Aracaju. Dono de uma bela história vivida no Centro Comercial de Aracaju, Abel ficou conhecido em Sergipe como “Abel da Luzitânia”, lanchonete com cardápio tipicamente português no Calçadão das Laranjeiras, em Aracaju. 


Nascido em 28 de março de 1927, em Fafe, Abel Gonçalves aportou em Aracaju nos anos 60, quando no espaço em que funcionava sua lanchonete, abriu uma loja de comércio varejista de calçados, a Luzitânia Calçados. Iniciando assim, uma trajetória de sucesso no empreendedorismo em Aracaju que foi coroada com a inversão do seu negócio para a famosa lanchonete que há 47 anos atende os aracajuanos, ao lado da igreja São Salvador.

 

Com um carinho que lhe era peculiar, Abel recebia o público na Luzitânia com muita alegria, fazendo amigos em várias gerações ao longo da existência do negócio. A idade vinha avançando e ele fazia questão de continuar cozinhando com sua esposa, Maria Clara, os pratos da culinária portuguesa que faziam seu negócio ganhar corpo e elevar o número de frequentadores. A Luzitânia faz parte da vida de quatro gerações de sergipanos, desde 1974. Dessa história, surgiu a Lei Complementar 5.003, de autoria do vereador Professor Bittencourt, que classificou a Luzitânia Lanches como patrimônio histórico e cultural de Aracaju. 


A morte de Abel Gonçalves provocou consternação na sociedade Sergipana, com manifestações de pesar de centenas de amigos que estiveram presentes em seu velório. O presidente do Sistema Fecomércio/Sesc/Senac, Laércio Oliveira, lamentou a morte de Abel e lembrou de uma das muitas conversas que tivera com ele ao longo desses anos. 


“Perdi um amigo querido, com quem conversava bastante e aprendia cada vez que ia visitá-lo na lanchonete para comer um bolinho de bacalhau e jogar conversa fora. Sua história de vida é muito bonita e seu exemplo de espírito empreendedor fez o Conselho da Federação do Comércio aprovar outorga da comenda José Ramos de Moraes para ele. Infelizmente, a pandemia impediu que realizássemos a solenidade de entrega, por razões óbvias. Entretanto, a homenagem ao português mais querido de Sergipe será feita para a família, em nome de seu filho Abel Santana. Hoje é um dia muito triste para o comércio de Sergipe, que perde um dos seus maiores protagonistas”, lamentou Laércio. 


O jornalista Marcio Rocha, amigo da família, comentou sobre a pessoa de Abel Gonçalves, rememorando momentos. 


“Abel veio de Portugal para empreender em Aracaju, encontrando um nicho de mercado importante, criando a cultura da culinária portuguesa em nossa cidade. Portuga, Abel, Gajo, tantas maneiras de chamá-lo, mas para mim foi e sempre será "Tio Abel". Cresci dentro da Luzitânia, acompanhando meu pai em tantos cafés, almoços, lanches. Meu pai gostava muito do bolinho de bacalhau e eu herdei esse hábito. De Abel ganhei um grande amigo para a vida toda, tal qual nossos pais foram um para o outro, Abelzinho. Só posso agradecer por cada sorriso, cada afago no garoto falastrão que hoje é jornalista, pelo incentivo, amizade e carinho com meu velho e por tantas boas memórias que deixou não somente comigo, mas com toda nossa cidade”, disse Rocha. 


O corpo de Abel Gonçalves foi enterrado no final desta tarde, no cemitério Colina da Saudade. 


Texto e imagens reproduzidos do site: f5news.com.br 

E um pedacinho de Portugal em Aracaju nos deixou hoje. Seu Abel

Publicação compartilhada do FACEBOOK/ROZENDO ARAGÃO, em 26 de outubro de 2021  


E um pedacinho de Portugal em Aracaju nos deixou hoje. Seu Abel. 


Luzitânia Lanches, no Calçadão das Laranjeiras, ao lado da Capelania do Divino Salvador, é o ponto de encontro para os admiradores do bom atendimento e da culinária portuguesa... Impossível não gostar do cachorro quente e do bolinho de bacalhau original. Além disso tem adega de vinhos e azeite original da sua pátria querida. 


Enfim, é um estabelecimento que tem quase 50 anos e que surgiu graças ao emprenho deste português que veio a Aracaju fazer morada.

 

Descanse em paz Seu Abel da @luzitanialanches ... Força ao Abel Filho nesse momento

 

Texto e imagem reproduzidos do Perfil/Facebook/Rozendo Aragão 

segunda-feira, 25 de outubro de 2021

Raymundo Juliano, uma história de vida que tinha que dar em livro. E deu!

Legenda da foto: “Raymundo Juliano: 80 anos negociando e fazendo amigos”: obra de fôlego sobre uma vida longa 

Legenda da foto: Juliana Souto Santos: garimpo forte para reconstituir em palavras a vida de Raymundo Juliano 


Texto compartilhado da coluna APARTE no site JLPOLÍTICA, em 21 de outubro de 2021 


Raymundo Juliano, uma história de vida que tinha que dar em livro. E deu! 


Por Jozailto Lima (Colaboração Tanuza Oliveira)* 


Deu, e vem com o sugestivo título de “Raymundo Juliano: 80 anos negociando e fazendo amigos”, com 430 páginas de muito por contar do muito que que ele fez, do muito que dissera em vida e do muito que dele disseram os amigos e os parentes. 


A biografia “Raymundo Juliano: 80 anos negociando e fazendo amigos” foi escrita com suor e dedicação pela geógrafa e sobrinha dele, Juliana Souto Santos, com o auxílio luxuoso da geógrafa das geógrafas sergipanas, a professora aposentada da Universidade Federal de Sergipe Vera França, que assina a orelha do livro. 


Raymundo Juliano Souto dos Santos faleceu no dia 21 de agosto do ano passado em um hospital na cidade de São Paulo. Ele havia nascido no dia 8 de julho - o dia da emancipação de Sergipe – de 1932, na histórica Estância, da qual se ausentou fisicamente muito cedo, passando a morar em Aracaju, mas de onde nunca afetivamente saiu. 


Raymundo Juliano gabava-se ter trabalhado 80 dos 88 anos que viveu. Ou seja, conheceu as pelejas funcionais desde os oito anos de idade. A biografia vai apontar um fato incontestável na esfera desse personagem da vida sergipana. 


“Raymundo Juliano é sinônimo de brio, grandeza, orgulho, distinção, altivez, sabedoria, protagonismo, empreendedorismo e liderança”, define a biografa ele. 


“Junto com outros grandes mestres, integra o patrimônio e a memória da economia local com outros renomados homens que contribuíram para eficiência e desenvolvimento de Sergipe, como Júlio Prado Vasconcelos, Gentil Barbosa, Mamede Paes Mendonça, José Augusto Vieira, entre tantos outros”, reforça Juliana Souto, que tem 54 anos e é mestra e doutora em Geografia. 


“Raymundo Juliano: 80 anos negociando e fazendo amigos” será lançado na próxima segunda-feira, 25 de outubro, às 17 horas, durante um evento de inauguração da Unidade do Sesc Comércio, na Avenida Otoniel Dória, 464, onde o biografado será referendado com um Memorial Raymundo Juliano, em que o histórico da sua vida vai estar em exposto e preservado. 


Nesta quinta-feira, 21, a geógrafa e biógrafa Juliana Souto manteve uma ampla conversa com a Coluna Aparte sobre a biografia e o biografado, e é o que vai a seguir. 


Aparte - Juliana, o que é que o leitor vai encontrar nas páginas do livro “Raymundo Juliano: 80 anos negociando e fazendo amigos”? 
Juliana Souto - O leitor vai encontrar uma narrativa contundente sobre a vida de Raymundo Juliano Souto dos Santos na íntegra, abstraída de 25 entrevistas realizadas com esse personagem emblemático da economia sergipana do século XX e das duas décadas do século XXI. 

Aparte – Quando ele começa a lidar com o trabalho? 
JS – Ah, desde a infância em sua terra natal, Estância/SE, quando sua inquietação o levou a tornar-se engraxate e vendedor de jornais, com apenas 8 anos de idade, até tornar-se balconista, pracista, caixeiro viajante e, assim, adquirir seu primeiro negócio, o Bar Central, na principal avenida da cidade sergipana. 

Aparte – Depois é ele muda-se para Aracaju? 
JS – Sim. Inserido no ambiente comercial, entrou para o ramo das bebidas Antárctica, sendo, por 30 anos, o único distribuidor em Sergipe da marca, até desvincular-se dela e diversificar seu patrimônio, constituindo o Grupo Raymundo Juliano, configurado por uma série de empresas que atuam no mercado local, com rede de supermercado - atacado e varejo, que é o caso da Fasouto -, construção civil, comércio de automóveis, postos de gasolina, hotelaria, agronegócio, imóveis, água mineral entre outros.
  
Aparte - Pelo que a senhora pesquisou, “negociar e fazer amigos” eram atitudes que andavam mesmo juntas na ação desse empresário ou era apenas um bordão? 
JS - O jargão “negociar e fazer amigos” é a própria representação simbólica daquilo que o empresário Raymundo Juliano compreendia sobre as relevantes estratégias de marketing, fidelização de clientes, condições de vendas e negociações junto ao mercado local, regional e nacional para se constituir, se manter firme com capital de giro e possibilidade de acumulação que o permitiram manter-se no topo da cadeia econômica durante 80 anos de atuação e contribuição para a economia sergipana. Isto porque Raymundo Juliano possuía a sagacidade, a sensibilidade e o entendimento a respeito das táticas necessárias para multiplicar seu patrimônio, oportunizando, somente no auge das Distribuidoras de Bebidas Antárctica, trabalho para cerca de 400 colaboradores em todo o Estado de Sergipe. 
  
Aparte - Para além dessas atitudes, o que mais caracterizou Raymundo Juliano como empreendedor em Sergipe? 
JS – A maior marca e contribuição de Raymundo Juliano para a economia sergipana se concretizaram quando o empresário se mudou de Estância para Aracaju e fundou a Distribuidora de Bebidas Antárctica Raymundo Juliano - Disberj. Empresa essa que ele gerenciou por aproximadamente 30 anos, tendo sede na capital e com uma distribuidora em cada cidade polo de Sergipe - Estância, Lagarto, Itabaiana, Nossa Senhora das Dores, Nossa Senhora da Glória, Nossa Senhora do Socorro, Propriá e Aracaju. Isto porque, quando se tornou distribuidor das bebidas Antárctica em Sergipe, o gosto das pessoas para cervejas, sobremodo, estava voltado para a Brahma. Depois de planejar e trabalhar, diuturnamente, Raymundo Juliano conseguiu contornar e driblar a situação, impingindo o gosto da Antártica no paladar dos sergipanos, através de uma série de ideias que ele implementava como, por exemplo, os memoráveis festivais de cervejas, que promoveu em diversos municípios sergipanos.  

Aparte - Raymundo Juliano, dispunha, então de uma boa visão de marketing... 
JS - Sim, e com atitudes como essa, Raymundo Juliano se qualificou cada vez mais, atingindo a marca de vendas de 400 mil caixas de cervejas ao mês em 1990, o que o fez galgar o reconhecimento, o mérito e a honraria nacional, sendo eleito o distribuidor das bebidas Antárticas no Brasil, título esse disputado por 300 outros representantes. Contudo, quando a Antárctica e a Brahma foram fundidas, tornando-se Companhia de Bebidas das Américas - Ambeve -, ele vendeu a representação e diversificou seu patrimônio, criando o Grupo Raymundo Juliano, que adentrou em diversas áreas do mercado sergipano. Por tudo isso, Raymundo Juliano é sinônimo de brio, grandeza, orgulho, distinção, altivez, sabedoria, protagonismo, empreendedorismo e liderança. Junto com outros grandes mestres, integra o patrimônio e a memória da economia local juntamente com outros renomados homens que contribuíram para eficiência e desenvolvimento de Sergipe, como Júlio Prado Vasconcelos, Gentil Barbosa, Mamede Paes Mendonça, José Augusto Vieira, entre tantos outros. 

Aparte - Quanto tempo a senhora investiu na pesquisa sobre a vida dele? 
JS – Foram dois anos de pesquisa, distribuída entre projeto, coleta de dados teóricos, leitura de documentos de fontes, nos arquivos e no seu próprio acervo documental, em sites da imprensa local, realização de entrevistas, elaboração e produção textual, edição, capa, fotografias entre outros aspectos que uma obra dessa natureza demanda. 
 
Aparte - Causou-lhe conforto desenvolver esse trabalho? 
JS - Sim, essa foi uma obra prazerosa de escrever, porque se distribuiu entre as muitas recordações, vivências e conhecimento factível em função da proximidade e do próprio amor em construir e apresentar ao público toda essa trajetória sistematizada e organizada, com grande honra e satisfação. 

Aparte - Com quantas páginas ficou “Raymundo Juliano: 80 anos negociando e fazendo amigos”? 
JS - A biografia de Raymundo Juliano está organizada em cinco capítulos, contendo todas as etapas de vida dele. Sendo assim distribuídos os capítulos: I. RJ: Infância, Adolescência e Iniciação Profissional; II. Linhagem: Casamentos, Filhos, Netos e Bisneta; III. Saga do Caixeiro Viajante; IV. RJ: Um Empreendedor Impetuoso no Mercado Sergipano e V. Contribuições Socioculturais e Honrarias Recebidas. Contudo, no anexo da obra, foi inserida uma série de reportagens e entrevistas publicadas na imprensa sergipana sobre sua atuação no mercado local. Além disso, Raymundo Juliano, como um sujeito histórico, visionário e conhecedor da sua potencialidade, classificou e construiu um verdadeiro arquivo pessoal constituído de fotos, honrarias, títulos, registros dos estabelecimentos comerciais e dos imóveis, documentos pessoais e dos familiares, entre outros, que contribuiu com a construção do livro, assim como permitiu a instalação do Memorial Raymundo Juliano dentro do SESC do Centro da capital sergipana, que receberá seu nome, desenvolvido pelo arquiteto e curador Ézio Déda, com sua equipe de conceituados profissionais, que desvela a trajetória de vida desse empresário, forjada nas mais diversificadas fases da sua caminhada como genuíno empresário e empreendedor. De modo que o livro tem 430 páginas, bem organizado, sendo a edição da editora Criativa, sob o olhar profissional de Adilma Menezes e impresso na Gráfica J. Andrade.
 
Aparte - Havia um bom legado de falas e depoimentos dele na mídia de Sergipe, à qual a senhora recorreu, ou teve dificuldade? 
JS - A principal delas é exatamente a que nós utilizamos para intitular a biografia, “negociar e fazer amigos”. Mas, com seu espírito auspicioso, inovador, visionário, empreendedor, impetuoso, determinado, contente e sorridente, dentre outros, Raymundo Juliano colecionava bordões, como “torne-se um líder recomeçando todos os dias”; “nunca se esqueça de perseverar para realizar seus sonhos”; “o bom líder oportuniza e conquista seus colaboradores”; “é preciso reconhecer o valor das pessoas para elas darem o seu melhor”, entre outros tantos que os motivou em sua persistente caminhada. 
  
Aparte - Por onde é, em Sergipe, que Raymundo Juliano começa a empreender, e em que área? 
JS – Raymundo Juliano começou sua jornada empreendedora em Estância. Após viajar uma década como caixeiro viajante pelo sul sergipano e norte baiano, representando a Loja de Secos e Molhos Pinheiro Alvélos, conseguiu reunir economias e com o suporte do empresário local Pedro Barreto Siquera, adquiriu seu primeiro negócio, aquele Bar Central, na Avenida Capitão Salomão. Sua astúcia o fez vislumbrar naquele local um mundo de oportunidades, que o levaram a fazer dali um bar, uma lanchonete, uma pequena rodoviária e, simultaneamente, um ponto efervescente de encontros e despedidas. Em um município próximo, fundou a torrefação Raymundo Juliano, para não precisar comprar o café que vendia. Assim, ele evidenciou sua capacidade criadora, seu tino e astúcia para se estabelecer no mercado, multiplicar seus empreendimentos e diversificar seus negócios.
 
Aparte - O livro cobre que período da vida dele - ou toda ela? 
JS - Tratando-se de uma biografia, o livro cobre todas as fases da sua longa e bem vivida existência. Raymundo Juliano nasceu em 8 de julho de 1932, na Antiga Travessa do Mercado, em Estância. Ao  abrir a porta da residência, o menino deparava-se com um cenário inusitado, a feira da cidade, no qual iniciou seu trato com o dinheiro, engraxando sapatos, vendendo jornais, ajudando no balcão da loja dos pais. Mas foi na Loja Esperança, do senhor Adelaido Souza, seu padrinho e pai da ex-deputada Tânia Soares de Souza, que ele obteve seu primeiro emprego como balconista, o que o levou para a saga do caixeiro viajante com o Grupo Pinheiro  Alvélos, portugueses estabelecidos no comércio estanciano. Filho de Agripino Roque dos Santos e Mariaht Amado Souto dos Santos, ele é o segundo de uma linhagem de sete filhos. Daí em diante, Raymundo Juliano se propôs a desvelar o universo econômico e do mercado sergipano.
 
Aparte - A família foi colaborativa no fornecimento de dados biográficos dele? 
JS – Sim. A família permitiu que a biografia fosse elaborada com sucesso, sobremodo em se tratando da pesquisa empírica e coleta dos dados. O fato de Raymundo Juliano estar vivo durante a construção da obra, foi muito importante, porque ele pode desvelar as questões que eu tinha dúvidas. O fato da saúde do biografado estar em estado de debilidade, em função dos problemas que o mantinha na condição de cadeirante, mas a lucidez de Raymundo Juliano foi de suma relevância, haja vista que foram muitas conversas presenciais e a distância, ao celular, que nós íamos desvendando, confirmando, elucidando os diversos aspectos e momentos e conjunturas com as quais ele conviveu e compartilhou desses diversos momentos comigo. Além, com certeza, das aproximadamente 65 entrevistas realizadas com diversos colegas, amigos, familiares, colaboradores, companheiros de entidades, de jornadas, conhecidos, conterrâneos, sócios, entre outros, que, cada um ao seu modo, nos apresentou aspectos diversificados da relação desenvolvida com esse grande empresário local. Sobremodo, seu filho Juliano César Faria Souto, a quem eu agradeço muito, pois acompanhou esse passo-a-passo metodológico tendo nos orientado a respeito dos nomes desses vários personagens que protagonizaram, com Raymundo Juliano, toda essa construção que integra o mosaico de representações socioeconômicas e socioculturais que só beneficiaram a história econômica contemporânea de Sergipe. 
  
Aparte - Como é que a senhora classifica a maneira como Juliano Cesar Faria Souto preserva a memória do pai? 
JS - Juliano César e as irmãs Ana Suely Faria Souto Teles e Cynthia Faria Souto experienciaram uma série de vivências no interior das empresas do Grupo Raymundo Juliano, absorvendo toda uma expertise que assegurou a formação de um arcabouço básico que qualquer empresário necessita, mas também porque simultaneamente, Raymundo Juliano foi efetivando a sucessão do patrimônio do Grupo RJ. Todos eles são tarimbados e mesmo podemos afirmar que são veteranos em suas realizações, porque foram iniciados muito jovens e fizeram opções de estar com o pai, atuar com ele, preservar o patrimônio, assim como a memória histórica que nos remetem quando pensamos nos benefícios que o Grupo gera para Sergipe. Assim, a concepção e a determinação de Juliano César na preservação da memória do pai incide sobre o enorme desafio e responsabilidade que adquiriu na sucessão dos empreendimentos e está evidenciado pela suas competências, que perpetuam, igualmente, sua habilidade e autenticidade para a preservação da memória paterna. 

Aparte - A senhora contou com a assessoria de alguém na formatação final do livro? 
JS – Contei sim com a consultoria da professora e doutora Vera Lúcia Alves França, que além de ter sido minha orientadora no doutorado em Geografia, no Programa de Pós-Graduação em Geografia da UFS, é uma grande amiga, mentora e conselheira, que me auxiliou em todo o processo de criação e elaboração da obra. Eu agradeço muito à professora Vera França que se fez presente, inclusive, me acompanhando, diversas vezes, aos momentos de realização das entrevistas com meu tio, a pedido dele. Em 2018, quando contactei com ele e contei que ela estava me orientando na produção do material sobre ele, meu tio pediu que eu a convidasse para ir até sua residência para começarmos os trabalhos. Então, tudo ocorreu da melhor maneira. Sou muito grata a todos. 

Aparte - Por que o livro não fora lançado com Raymundo Juliano ainda em vida? 
JS - Nós fomos acometidos pela pandemia do coronavírus e não houve tempo hábil para o lançamento do livro com ele em vida. Entretanto, um exemplar dessa tiragem de mil exemplares que Juliano César mandou imprimir na J. Andrade chegou às mãos de meu tio em março de 2020. Ele mandou um Whatsaap e um exemplar também, dizendo ligue para RJ, fale com ele. Nós corremos muito, porque ele já estava muito fragilizado mesmo, foram muitas hospitalizações e trabalhamos sem parar, até que o saiu da gráfica. Foi uma glória que ele recebeu e gostou muito. Quando a Covid paralisou o planeta, cada um de nós sentiu o peso aterrorizante da sua face. O meu e nosso alento foi que ele viu sua obra concluída, editada e impressa. “Só faltou a festa”, foi o que Cynthia me disse quando nos falamos naquela manhã sombria e desoladora de 21 de agosto de 2021, quando ele não mais resistiu e partiu para outra dimensão para reiniciar uma nova jornada de contribuições configurada de todas as experiências que desenvolveu nessa passagem. De modo que salve a Raymundo Juliano, toda honra e toda a glória. Ele merece! 

* É jornalista há 38 anos, poeta e fundador do Portal JLPolítica. 


Texto e imagens reproduzidos do site: jlpolitica.com.br