quarta-feira, 30 de agosto de 2017

O papel das academias literárias no século XXI

Imagem reproduzida do site: academiamaconicadesergipe.com.br
Postada pelo blog SERGIPE..., para ilustrar o presente artigo.

Texto publicado originalmente no Portal Infonet, em 29/08/2017.

O papel das academias literárias no século XXI

Palestra na Academia Maçônica Sergipana de Artes

* Palestra proferida por Domingos Pascoal em comemoração aos 20 anos da Academia Maçônica Sergipana de Artes, Ciências e Letras

Estamos aqui para falar um pouco sobre uma instituição milenar que conhecemos como “Academia Literária”, mas que pode ser também universitária, artística, científica, esportiva, musical, filosófica... O nosso objetivo é pensar esta instituição no Século XXI. Porém necessário se faz jogar um pouco de luz na história e, mesmo que em rápidas palavras, dizer um pouquinho mais sobre esta tão antiga entidade.

Ela nasceu na era clássica do pensamento grego, no auge da filosofia, exatamente no tempo dos maiores pensadores da humanidade: Sócrates, Platão e Aristóteles. Mais precisamente, foi Platão quem fundou sua escola naquele lugar chamado “Jardim de Academus”, daí o nome “Academia”, um espaço de estudos, na verdade, uma confraria, uma congregação, de pessoas que buscavam o conhecimento. As principais matérias ali discutidas foram: aritmética, geometria, astronomia e a filosofia.

Naquele espaço sagrado ao saber, Platão forjou a ideia e o nome que até hoje se pratica. Mas os três mestres quase contemporâneos – Sócrates (470/399), Platão (428/347) e Aristóteles (384/322) a.C. – construíram muito mais, criaram história e escolas. Escolas do pensamento. Sócrates, o primeiro, com a Maiêutica ou “partos das ideias”. Ele andava pelos jardins, ruas e praças de Atenas levantando questões básicas de moralidade e política. As pessoas reuniam-se à sua volta e a cada resposta dada, ele fazia uma nova pergunta, pois, segundo ele mesmo, queria aprender também. Afirmava com muita sabedoria: "eu só sei que nada sei".

Diferente de Platão, Sócrates não fundou nenhuma escola num lugar determinado. As suas “salas de aula” como se viu eram as ruas e praças.
Aristóteles também criou uma escola, o Liceu, e também uma sistemática nova e diferenciada de educar. As suas aulas aconteciam ao ar livre, caminhando pelos jardins do Liceu, lendo e fazendo preleções. Esta forma de transmissão do conhecimento ficou conhecida como “aulas peripatéticas”.

Pelo que vimos, a Academia Literária nasceu escola, “ensinante” de um lado e “aprendente” do outro, entremeados com o conhecimento e saberes transitando através de proposições dialogais, numa dialética do ensinar e aprender.
Mas a nossa referência aqui no Brasil é a Academia Francesa, fundada por Richelieu, em 1635. A Academia de Richelieu tem uma conformação diferente, é mais estruturada com número determinado de membros: 40 cadeiras, 40 patronos, vitaliciedade acadêmica, a admissão de um novo membro só acontece por falecimento de um dos ocupantes e há eleição para o preenchimento da vaga. Este foi o modelo por nós brasileiros adotado.

Nos séculos que se seguiram, surgiu na Europa uma "onda" de academias, a partir da Itália, passando por França, Espanha e Portugal. Esta agitação cultural ficou conhecida por “movimento academicista”. Em Portugal, dentre as várias academias fundadas, uma teve particular importância para o surgimento da primeira academia aqui no Brasil ainda colônia.

Foi o caso da Academia Real da História Portuguesa (1720 – 1776), em Lisboa. Esta academia, segundo registrou Alberto Lamego, aceitava membros de todas as outras colônias – exceto do Brasil. Esta discriminação fez com que os brasileiros, sentidos com a arbitrariedade daquela Arcádia portuguesa, criassem aqui, em março de 1724, na cidade de Salvador, Bahia, a “Academia dos Esquecidos”. Mas esta academia teve vida efêmera e foi encerrada já em fevereiro de 1725.

Após 34 anos, em junho de 1759, o conselheiro do ultramar na Bahia, o grande intelectual José Mascarenhas Pacheco Pereira Coelho Melo, tentando resgatar a Academia dos Esquecidos, fundou a Academia dos Renascidos. Porém esta é que teve vida curta, inclusive com a prisão do seu fundador, em novembro do mesmo ano. Pombal mandou então "sepultá-lo vivo", encarcerando-o junto com toda sua criadagem e livros na Fortaleza de Santa Cruz de Anhatomirim, em Santa Catarina, e depois de 1774, na Fortaleza de São José da Ilha das Cobras, no Rio de Janeiro, permanecendo em cativeiro por dezessete anos. Contudo, sua traição nunca ficou provada, e após a morte de dom José I e a queda do Marquês de Pombal, foi indultado por dona Maria I, regressando, já muito velho, a Portugal.

A Academia mais antiga do Brasil, ainda em funcionamento, é a Academia Cearense de Letras, fundada no dia 15 de agosto de 1894, três anos antes da Academia Brasileira de Letras, criada no dia 20 de julho de 1897. A Academia Sergipana de Letras foi fundada no dia de 1º de junho de 1929. Com base territorial em todo o estado de Sergipe, tem um trabalho muito bom junto à sociedade intelectualizada há mais de oitenta anos. O MAC – Movimento de Apoio Cultural Antônio Garcia Filho – da Academia Sergipana de Letras também vem já há muitos anos prestando apoio à Academia Sergipana de Letras, fazendo um bom trabalho, inclusive preparando acadêmicos para a Academia Sergipana de Letras. É o meu caso... E lançará em breve a primeira Antologia dos Macadêmicos, com simbólico nome “Sob o Sol do Sodalício”.

Até 2010, com exceção da capital, não havia nas cidades sergipanas nenhuma academia literária. A partir de então vem sendo feito um trabalho apoiado pela Academia Sergipana de Letras, o que já resultou na criação de 17 Academias, a maioria funcionando muito bem. Inclusive fazendo um trabalho significativo junto aos estudantes de todas as escolas daquelas unidades. As academias que estão chegando acreditam na semeadura e descobriram que a verdadeira vocação de uma Arcádia Literária é exatamente aquela que foi mostrada há 2.400 anos pelos seus criadores.

As novas academias do interior, no dizer do prof. Jorge Henrique, ex-presidente da Academia Gloriense de Letras, são as “Mediadoras e promotoras do conhecimento” semeando ações.

Semear... esta é a palavra certa para o processo. Estamos certos de que:

“É até muito fácil você contar quantas sementes há dentro de uma laranja, mas será impossível você contar quantas laranjas poderá haver dentro de uma semente”.

Pense nisso! Você pode até saber quantas ideias você semeia, mas é impossível você prever o resultado.

A academia do século XXI está preocupada em semear boas ideias com a certeza de que a colheita, embora de difícil mensuração, será muito boa. Esta semeadura está acontecendo por todos os lados, inclusive pela Academia Sergipana de Letras e Academia Maçônica de Sergipe: publicação de livros, de antologias, encontros de escritores e leitores, acadêmicos indo às escolas, escolas indo às academias, palestras, oficinas, saraus, criação de grupos de estudo e apoio aos grupos já existentes de poetas, cronistas, contistas, cordelista... Só no eixo do sertão: Monte Alegre, Canindé, Glória (ALAS, várias cidades), Dores, Feira Nova, Poço Redondo, Aleixo e Aparecida. Já temos mais de 10 grupos estudando poesia, conto, crônica, somando com os grupos de Jovens Escritores de Itabaiana, Lagarto, Tobias Barreto, Neópolis, Riachuelo, Cristinápolis, Estância, Propriá...

Aqui na capital temos: Academia Sergipana de Letras, Academia de Letras Estudantil de Sergipe, Academia de Letras de Aracaju, Academia Sergipana de Medicina, Academia Literária de Vida,  Academia Sergipana de Ciências Contábeis, Academia de Ciências da Administração, Academia de Letras Jurídicas de Sergipe  e  a Academia Maçônica Sergipana de Artes, Ciências e Letras, também uma academia do século XXI, fundada no dia 6 de outubro de 1997, sob a liderança do nosso Irmão José Francisco da Rocha, Rochinha, juntamente com os valorosos irmãos: Antônio Fontes Freitas, José Geraldo Dantas Bezerra, José Augusto Machado, Menilson Menezes, Jason Ulisses de Melo, Juvenal Francisco da Rocha Neto, José Sérgio de Aguiar Rocha e outros... Todos Maçons regulares, oriundos das duas potências, também regulares, do nosso Estado: Grande Oriente do Brasil Sergipe, que tem como Grão Mestre Estadual o Eminente Irmão Lourival Mariano de Santana, aqui representado pelo Grão Mestre adjunto, Clairton de Santana; e da Grande Loja Maçônica do Estado de Sergipe, que tem como Sereníssimo Grão Mestre o nosso Irmão Jorge Henrique Pereira Prata.

Academia Maçônica também segue a regra da Academia Francesa de Richelieu, exceto em dois aspectos: no número de membros, pois por simbologia maçônica a AMSACL tem apenas 33 cadeiras, e não 40, como as demais academias. E, também, por ser a primeira Academia que se tem notícias que tem um patrono vivo, no caso o fundador, valoroso irmão José Francisco da Rocha.

Usamos as nossas roupas Acadêmicas, temos as seguintes condecorações: Medalhão Acadêmico, Medalha de Honra ao Mérito e Comenda José Francisco da Rocha – Rochinha, nosso patrono. No mais, segue o modelo francês. É uma instituição altruística, evolucionista, sem fins lucrativos, pugna pelos valores morais e éticos da vivência e convivência entre seus membros e, destes, para com a sociedade.

Tem como finalidade congregar os maçons que se dediquem às artes, ciências e letras; incrementar a difusão da doutrina e dos postulados da maçonaria universal e do ideal maçônico; manter cursos nos campos: educativo, cientifico e cultural; promover concursos, palestras, conferências e mesas redondas; prestar homenagens especiais a pessoas e entidades que se façam merecedoras.

Temos um site onde editamos as nossas notícias, os livros dos acadêmicos e de outros irmãos também, já publicamos um livro sobre a Liga Sergipense Contra o Analfabetismo, da professora Clotildes Farias, da Universidade Federal de Sergipe, e temos um projeto de, já a partir do próximo ano, publicar pelo menos um livro de valor histórico maçônico. E, ainda este ano, vamos publicar a nossa revista da Academia Maçônica de Sergipe.

Apresentei aos senhores o modelo que na concepção dos tempos realmente representa qualquer Academia do Século XXI. Elas, as academias, ou qualquer instituição que vise crescer e fazer algo pelo outro, criadas agora ou há mais tempo, ou se enquadram e se modernizam ou vão ficar tomando espaço e definhando até sucumbir, visto que não há mais interesse...

Como diz a parábola do apocalipse: seja quente ou seja frio, não seja morno, senão eu te vomito. Porque, na vida, ou você está verde e amadurecendo ou maduro e apodrecendo.

Obrigado.

Texto reproduzido do site: infonet.com.br/blogs/domingospascoal

Jorge Carvalho e suas mil palavras


Publicado originalmente no Facebook/Amaral Cavalcante, em 30/08/2017.

31 de agosto, no YAZIG!.

Lançamento de livro e exposição fotográfica de Jorge Carvalho do Nascimento:

Jorge Carvalho e suas mil palavras

“O escritor e o fotógrafo utilizam as mesmas ferramentas, mas enquanto um descreve uma imagem com mil palavras o outro descreve mil palavras com uma imagem.” (Jefferson Luiz Maleski).

A fotografia, ao longo da sua história, firmou-se como a arte da síntese e o fotógrafo que se faz arguto expectador da vida em constante transição, tornou-se uma espécie de mago do instante congelando o gesto que se perderá instantes depois, a natureza em sua infinita beleza, as coisas inanimadas que se interpõem entre nós e a estupefação da gente diante disso tudo.

O fotógrafo transita como um colecionador de essencialidades num cenário em mutação, mas só ele se move: sobe montanhas, deita-se na lama, entra no intempestivo rio do nosso dia -a- dia, e, bailarino em incríveis coreografias, pesca o instante clicando para a posteridade o que só vimos de relance. È um pescador de eternidades.

Jorge Carvalho - professor doutor de saberes reconhecidos - entregou-se à paixão pela fotografia e nela vem empregando a mestria do seu discernimento. Sua câmera, tecnicamente manipulada com correção e compromisso estético, revela-nos a necessária sensibilidade de um artista a cuidar, com inteiro respeito pela arte que abraçou, tanto da seleção da cena que lhe despertou a atenção quanto do perfeito enquadramento dela, da luz que a envolve com o um manto de realidade no momento clicado e, principalmente, no seu significado para todos nós.

Nesta sua primeira exposição pública, o fotógrafo Jorge Carvalho nos brinda com uma diversa seleção dos seus trabalhos, todos eles impregnados da sua arguta sensibilidade e apuro técnico, a prometer, na aguardada continuidade da sua preciosa contribuição à arte da fotografia, um considerável legado.

Afinal, Jorge nos revela aqui que não faz uma foto apenas com a câmera, ele sabe que o seu ato fotográfico guarda para a posteridade todos os livros que leu, os filmes que viu, a música que ouviu lhe embalando os primeiros amores, a visão de mundo que os seus pais lhe intuíram e o respeito que nós, os seus contemporâneos, temos, pela sua integridade intelectual.

Agora, é ver.

Amaral Cavalcante.

Texto e imagem reproduzidos do Facebook/Amaral Cavalcante.

sábado, 26 de agosto de 2017

Réquiem para Dr. José Augusto Barreto

Foto: César de Oliveira.
Publicada pelo blog SERGIPE..., para ilustrar o presente artigo.

Publicado originalmente no Portal Infonet, em 24/08/2017.

Réquiem para Dr. José Augusto Barreto.

Uma louvação à obra e a seu criador.

Por Odilon Cabral Machado.

Com o título “Tudo começou pelo coração”, o Hospital São Lucas fez publicar em 2009 um livro memorial dos seus quarenta anos de existência.

O livro, com pesquisa e texto do intelectual Luiz Antônio Barreto, por sua feitura, concepção, gravura e documentação, é uma contribuição destacada à historiografia sergipana.

Luiz Antônio especializara-se em divulgar e pesquisar as coisas e os homens de Sergipe, procurando semear nas nossas terras áridas o sentimento de sergipanidade que permeia o nosso viver.

Agora, revejo aquele feito notável com o falecimento do médico cardiologista José Augusto Barreto, uma das maiores expressões da medicina sergipana, cuja memória permanecerá como suave saudade, inerente à vida de nossa cidade.

Tudo realmente começou com o coração, como diz aquele livro de Luiz Antônio Barreto, mote de um artigo meu, exibido neste blog em 04/11/2009, de que me sirvo agora por ocasião da inumação deste grande médico.

No início, dizia eu, era uma clínica apenas: “Clínica São Lucas”.

Uma homenagem a Lucas, o apóstolo de Jesus que era médico também, e que se destacaria, sobretudo por curar almas; os doentes do espírito.

Lucas é o evangelista de texto delicado e amoroso, sobretudo com Maria.

É ele que, em palavras terminais do crucificado, fala em perdão, porque nunca sabemos o que fazemos nas nossas imperfeições tão gritantes.

É Lucas, o médico que ouve e proclama uma fraternidade só possível por expressão livre de vontade.

Se é a partir de João que somos irmãos do Cristo, por filhos de Maria, em Lucas temos uma mensagem maior em ternura à mãe comum, inclusive no perdão aos pecadores.

Não estaria aí inserida a ternura do médico, ciente de que possuímos, sem exceção, as mesmas carências diante da dor e do sofrimento, e por isso estamos a necessitar, tanto da cura dos males imateriais quanto daqueles corpóreos, numa carência espiritual bem maior do que física?

Talvez, por ser assim, tudo tenha começado com o coração.

O médico, Dr. José Augusto Barreto se especializara no estudo desta bomba compassiva e compassada, que não pensa, mas que sem pensar, pensa tudo.

Porque o coração sem razão ou com ela, possui razão que a própria razão desconhece.

Pelo menos era assim que pensava Blaise Pascal (“Le coeur a ses raisons que la raison ne connaît point”), para explicar a empatia e os gostos dos homens.

Um brocardo hoje desgastado, que perdeu o seu vigor e grandeza, porque a modernidade revelou que o coração era apenas um músculo; um conjunto de fibras e ligamentos, uma bomba acionada por impulsos elétricos, ditados pelo cérebro, este sim!, o grande pensador cartesiano, o detentor da razão. E até da falta dela!; delimitador da irracionalidade da besta perante a superioridade do homem!

Revelação que até os gostos e os desgostos dos homens passaram a ser explicados por tudo, e até por reação de epiderme, o que é complicado!, ensejando pruridos de desconfortos, ou atrativos de sedução.

Algo tão inerente aos gostos e gozos do ser, que vale até na música e no verso, um corintiano perder por reverso um sofrido coração corintiano, recebendo, por implante ou desplante, um novo coração; corintiano.

Mas, se a compaixão não provém mais do coração, o que dizer da manifestada emoção que o acelera ou retarda, num ritmo sem razão ou sem-razão?

Porque a razão é uma expressão matemática, um quociente entre números inteiros, uma relação causa efeito de simplicidade inserida nos assim chamados números racionais, e estendida ao pensamento.

Ela, a razão, tão previsível e sem surpresas, pressuporia oscilações ou arritmias nas batidas do coração?

E assim em resistência, os homens justificam seus atos, desejos e vontades em função do bom ou mau coração, quando aí não se está falando de cardiopatias, arritmias ou mau funcionamento de válvulas e artérias.

Mas, independente do homem de bom ou mau viver, a missão da Clínica São Lucas imaginada por Dr. José Augusto era prevenir obstruções arteriais, pacificar o descompasso cardíaco, prevenir a dor letal, do bom e do mau coração.

Porque esta é uma tarefa sacerdócio do médico.

Porque a dor e o sofrimento constituem característica do viver.

E é missão do médico lutar contra a agonia e a aflição.

Afinal tudo começa com o coração, como fonte de compaixão e solidariedade. Uma tarefa sacerdócio, exclusiva dos discípulos de Hipócrates, por escolha e desejo.

Por entender assim, ousou Dr. José Augusto Barreto erigir sua clínica, com Lucas tomado como patrono, e seguindo Hipócrates por lema e rumo.

Se Hipócrates representa a assepsia médica, a proficiência, a necessária isenção para poder adentrar nas angústias e fraquezas do ser adoecido e vulnerável, eximindo-se de louros e vantagens, Lucas insere doçura e carinho no tratamento médico.

Assim, sem se desviar do norte hipocrático, nem se arrefecer na compaixão Lucana, eis Dr. José Augusto Barreto merecedor de todos os elogios como notável médico sergipano.

Um médico que ousou sonhar e tornar realidade um hospital moderno em terras tão inóspitas dos apicuns e alagados de Aracaju, justamente nos idos sombrios de 1969.

Um tempo em que a cidade praticamente acabava no fundo da Igreja São José e crescer significava conquistar terras insalubres e lodosas.

Se os historiadores só veem trevas nos idos de 1969, vivíamos então uma época de grandes mudanças.

Naqueles “terríveis tempos sombrios”, Sergipe estava a desfrutar de um notável surto de desenvolvimento.

A criação da Universidade Federal de Sergipe, a descoberta e prospecção do petróleo, a industrialização dos sais evaporitos, a construção do porto, as edificações do complexo amônia-ureia constituíam uma série de investimentos públicos e privados no assim chamado milagre brasileiro, em sua vertente sergipana.

Tempos execrados, por “terríveis”, no vesgo olhar dos que contorcionam a história segundo seu trêfego olhar.

Nunca se vira tanto investimento em terra Serigy, nem mais se veria por aqui.

Mas, a despeito de tantos investimentos realizados, havia uma carência significativa de leitos hospitalares, mesmo porque os antigos Hospitais Santa Isabel, Augusto Leite e São José não conseguiam suprir toda a necessidade de um atendimento moderno, sempre carente de verbas e subvenções públicas.

Havia a necessidade de um hospital particular, um nosocômio que conjugasse a eficiência empresarial com a prestação de serviço eficaz.

Homem progressista e realizador, Dr. José Augusto via que a necessidade justificava o investimento.

Tentou no início um condomínio, uma associação de médicos.

A tentativa não foi adiante. Restou a mera compra de um terreno; um chão miasmático e lodoso a necessitar de terraplenagem e aterros. Um desafio aos conservacionistas e àqueles que veem com suspeita os investimentos privados.

Por outro lado, por desterro e mor sofrimento, naquele tempo não existiam os atuais planos de saúde, democratizando e viabilizando o atendimento médico.

Naquele tempo, o doente quando não era segurado dos diversos institutos, era indigente, carente de tudo, ou tinha que bancar por um serviço melhor qualificado em outras plagas.

Com a chegada da Clínica São Lucas tudo ali começou a mudar; não há alagados, nem miasmas, nem terras insalubres.

Também não há mais a clínica da Rua Stanley Silveira de aparência tranquila e tosca, o germe cristalino inicial.

O Hospital São Lucas substituiu o consultório inicial com ampliação física e acréscimo de serviços. Ocupou todo o trecho fronteando a lateral da igreja São José que do outro lado continuou quase igual.

Se a igreja pouco mudou, ela passou a viver uma espécie de continuidade do hospital, recebendo as preces dos doentes e de seus familiares.

E o complexo hospitalar não para; assumiu outras áreas, ocupando agora o outro trecho.

Viria logo uma passarela para bem melhor servir o usuário da medicina, unido o que não devia estar separado.

Da clínica e do consultório surgiu o hospital. Agora há a Fundação São Lucas, o Centro de Hemodiálise, o Centro de Estudos Técnicos e Profissionalizantes, a Creche Dom Luís Mousinho.

São milhares de servidores e colaboradores! Fala a realidade atual, evidenciando que um maior número ali atuou nos seus quase cinquenta anos de portas sempre abertas.

Quantos médicos, enfermeiros, funcionários, humildes ou qualificados fizeram vibrar aquelas paredes silenciosas e convidativas para o repouso e a cura!?

Quantos doentes frequentaram seus tálamos resgatando forças e sanidade!?

Quantos conseguiram ter minoradas suas dores e sofrimentos!?

Quantos ali morreram nos seus leitos confortados, porque por suprema missão do médico, cabe-lhe também mitigar o último conforto, contemplando a inexorabilidade da parca no encontro jamais ausente!?

Quem não tem algo a lembrar de passagem e permanência sobre os cuidados de Dr. José Augusto e seus liderados neste Hospital que tem sido uma casa de carinhos!?
  
Realmente, tudo começou pelo coração; um estetoscópio, um tensiômetro, um instrumental tosco, uma ideia vigorosa, uma vontade tenaz, uma luta persistente e continuada, um passo mantido numa longa caminhada.

Mas, se o Hospital São Lucas representa vida em nossa terra, dê-se ao seu fundador o maior mérito.

Era ele que em passeio diário por seus corredores dava uma aura de correção, limpeza e eficiência, mostrando na alvura da veste que exibia, a irrepreensibilidade dos que passam pela vida servindo à sua vizinhança, dando-lhe dignidade e esperança.

Por isso vale ressaltar tudo isso em sua despedida do nosso convívio.

Que seja homenageado e louvado o nome do Dr. José Augusto Barreto, o médico que nos deixa uma saudade imensa, merecedor das nossas preces de carinho e agradecimento pelo seu existir.

E nessa oração sejam contemplados todos os que fazem o Hospital São Lucas nas pessoas de seus familiares, Dona Conceição, filhos, netos e bisnetos e ao Dr. Dietich Todt, seu auxiliar e co-fundador.

Sejam louvadas as duas irmãs amigas, Dona Conceição e Dona Nicinha cujas vidas de tão inseridas na missão de cura dos esposos, estão presentes em cada local do hospital como se fora o próprio lar, a sua seara por missão.

Aos filhos que continuam o trabalho de criação nestes quase cinquenta anos passados. Enfim, vida que se prolonga além da vida em lembranças e saudades a merecer nosso carinho e aplauso.

Se tudo nasceu com o coração, e de Pascal se atribui ter o coração razão que a própria razão desconhece, usemos também de Pascal um aforismo por final:

"O prazer dos grandes homens consiste em tornar os outros mais felizes."

O médico José Augusto Barreto e o Hospital São Lucas contribuem com a felicidade sergipana.

Que Deus abençoe a grande alma do Dr. José Augusto Barreto.

Texto reproduzido do site: infonet.com.br/blogs/odilonmachado

Os sinos dobram por José Augusto Barreto

Dr. José Augusto Barreto  
Foto: Antonio Samarone, reproduzida do Facebook/Antonio Samarone.
Postada pelo blog SERGIPE..., para ilustrar o presente artigo.

Publicado originalmente no Portal Infonet, em 24/08/2017.

Os sinos dobram por José Augusto Barreto

Grande orgulho, perguntei-lhe. Respondeu-me: ter sido professor!

Por Lúcio Antônio Prado Dias.

Estávamos em 2009 e o Hospital São Lucas, fundado por ele, comemorava seu 40º aniversário de fundação. Fui encontrá-lo em sua modesta sala na Fundação, num dos andares do complexo que ocupa o quarteirão inteiro no Bairro São José e que cresceu puxando ao seu entorno clínicas e mais clínicas, transformando a região num próspero setor de saúde de Aracaju.

  Queria conversar, contar histórias, a trajetória de um homem de origem modesta, vindo do interior, filho de um agricultor simples de Carira, que arrendou terras em Boquim e depois em Socorro para cultivar cereais e tirar leite de vaca pra vender em Aracaju. Foi em Nossa Senhora do Socorro, em 1928, que nasceu o menino José Augusto. Ainda pequeno, em Salgado, fez o primário, mas logo depois, em Aracaju, ficou interno no Salesiano, até terminar o ginásio. Com quinze anos, transferiu-se para Salvador para cursar o antigo científico no Colégio Maristas, interno no primeiro ano e nos outros dois residindo numa “república”, como era chamada a pensão que abrigava estudantes de várias partes do país.

  Apesar de não ter nenhum na família, o sonho de ser médico veio de menino pequeno. Ingressou na Faculdade de Medicina da Bahia, primaz do Brasil, em 1947, formando-se em 1952. Na época, com raras exceções, sergipano que queria ser médico ia pra Bahia. Como dizia Garcia Moreno, o nosso estado era uma extensão cultural da Bahia. Ele próprio, natural de Laranjeiras, formou-se na Faculdade de Medica do Terreiro de Jesus em 1933, como tantos outros. Mas, antes de partir para o vestibular em Salvador, José Augusto já havia deixado uma paixão secreta que conhecera na cidade de Salgado.

   Cidade onde ocorriam muitos romances porque muitas famílias veraneavam por lá, uma cidade balneária, Salgado era famosa pela sua água e muita gente oriunda de Salvador, Itabuna, Ilhéus e cidades de Sergipe confiavam nas suas qualidades terapêuticas, muito indicada nas “doenças da vesícula”. Foi lá que José Augusto Barreto conheceu Ceça (Maria da Conceição), uma pernambucana cujo pai, fiscal do Banco do Brasil, viera residir em Aracaju com a família e que usava com regularidade as águas terapêuticas de Salgado.

    A decisão pela cardiologia foi tomada por influência direta do médico baiano Adriano Pondé, um dos maiores nomes da cardiologia brasileira na década de 40 e do qual se tornou monitor nos tempos da faculdade. Corria o ano de 1953. Com o anel de doutor no dedo e o diploma na mão, atende convite do Dr. Augusto Leite para substituir o Dr. Gérson Pinto e se instala no Hospital de Cirurgia como interno, morando num pequeno quarto, fazendo o pré e pós-operatório das cirurgias do Dr. Augusto e do Dr. Fernando Sampaio. Passa a ajudar também o colega Júlio Flávio Prado no serviço de eletrocardiografia. São poucos os cardiologistas, além deles existiam ainda os doutores Heráclito Diniz, Geraldo Magela e Marcos Melo...

  No Hospital de Cirurgia, nas décadas de 50 e 60, experimentou uma ascensão meteórica na clínica médica e na cardiologia, com olhos de águia e perspicácia clínica, senhor dos diagnósticos, destacando-se notadamente nos trabalhos do Centro de Estudos até se deslocar para os Estados Unidos da América, inicialmente em 1958, para o Hospital Universitário de Michigan. Nessas idas e vindas, conseguiu o fellowship em cardiologia pela American Heart Association.

    De volta a Aracaju participou de dois momentos marcantes da Medicina sergipana. A fundação da Faculdade de Medicina em 1961, da qual foi professor pioneiro e a luta por um hospital universitário, que o levou às ruas com piquete nas mãos, ao lado de outros colegas, todos de jalecos brancos, para sensibilizar as autoridades sobre a necessidade de uma solução para o ensino médico após o equivocado desligamento da faculdade pelo Hospital de Cirurgia.

  Em 1969, José Augusto Barreto inaugura a Clínica São Lucas, contando com a participação de Dietrich Todt, Fernandes Macedo, Henrique Batista, Gilton Rezende, Geraldo Melo, Raimundo Almeida, Evandro Sena e Silva, Wellington Ribeiro, entre outros. Foram montados os serviços de Raios-X por Aírton Teles, Edson Freire e José Conrado, o laboratório com Raimundo Araújo. Em setembro de 1978, surgiu o Hospital, um sonho distante que se tornou realidade por uma oportunidade de momento, dessas que surgem quando as coisas têm de acontecer.

  “Uma obra edificada pelo sopro da graça de Deus e pelo calor do coração dos amigos que, juntos, atiçaram a chama que acendeu as suas paredes e arquitetou os espaços de fé que cura todas as dores”, nas palavras da poetisa Carmelita Fontes, proclamadas na inauguração do hospital.

   Aracaju hoje é uma cidade grande, cujo rumor sufocou o planger dos sinos. Na pequena Itaporanga dos anos 50, onde morei durante a minha infância, quando os sinos da Igreja de Nossa Senhora d’Ajuda badalavam em triste cadência, geralmente no final da tarde, era o anúncio de que alguém morrera. O badalar dos sinos era o arauto solene da poesia dolorida da morte, como tão bem evocou o escritor Luiz Eduardo Costa, na morte de Garcia e que eu, para encerrar, traduzo para o atual momento.

  José Augusto Soares Barreto, morto nesta semana, não teve mais a sua passagem anunciada e chorada pelos sinos, mas ele, médico, professor, realizador, marido amoroso, pai extremoso, humanista sobretudo, fez em vida muito para merecer que os sinos dobrem pela sua morte. Ele se foi, mas o seu legado permanece triunfante, na glória e na memória de seus descendentes e da sociedade sergipana que o abraçou e que hoje chora, consternada, a sua partida!

Texto reproduzidos do site: infonet.com.br/blogs/lucioapradodias

quinta-feira, 24 de agosto de 2017

Cortejo de grupos folclóricos percorre centro de Aracaju


 Reisado mirim também esteve presente.

 Grupos de Pífano mostraram seu talento.




 Público registrava tudo a todo momento.

 Artesanato e comidas típicas também estavam presentes.

 Cordéis foram expostos no Centro Cultural Aracaju.

 Batalhão de Bacamarteiros encantou o público.

Fotos: Maira Andrade e Pritty Reis/Secult.

Publicado originalmente no site da SECULT, em 24 de agosto de 2017.

Cortejo de grupos folclóricos percorre centro de Aracaju

As atividades em alusão ao Mês do Folclore continuam a todo vapor. Nesta quarta-feira, 23, a Secretaria de Estado da Cultura (Secult) em conjunto com a Fundação Cultural Cidade de Aracaju (Funcaju) e o Fórum dos Secretários e Dirigentes Municipais de Cultura de Sergipe promoveram um cortejo reunindo 10 grupos folclóricos que percorreram ruas da capital sergipana.

Representando a Secult, o superintendente executivo Irineu Fontes falou sobre a importância de promover os grupos. “Esta ação, de reunir os grupos, é uma forma de valorizar a cultura, lembrando o passado através das pessoas que fizeram e continuam fazendo a nossa cultura popular. Precisamos dar o valor ao que é nosso e mostra, para os mais jovens saberem o que é cultura popular, o que é folclore e saber que nós somos o Estado mais rico deste país, em manifestações culturais”, disse.

O cortejo saiu do Palácio Olímpio Campos em direção ao Centro Cultural de Aracaju, ambos no Centro da Cidade.  Participaram os grupos “Pífano de São Francisco” e “Reisado Familiar” (Moita Bonita); “Pífano de São José” (Campo do Brito), “Pífano de Tonho Preto” (Boquim); Batalhão de Bacamarteiros Sr. do Bonfim (Santo Amaro); “Lariô das Tartarugas (Pirambú); “As Mangabeiras” (Barra dos Coqueiros); “Reisado Jovens” (Arauá); “Pífano Estrela” (Itabaianinha); e o repentista Marcondes.

“Para nós foi um privilegio poder nos apresentar aqui. Estou à frente do grupo há cinco anos, mas ele existe a mais de 50 anos, e sempre é um esforço grande vir para Aracaju mostrar nossa tradição. Então, para a gente é como estar dando e recebendo um presente ao mesmo tempo, pois podemos mostrar a nossa cultura para aqueles que ainda não conhecem”, afirmou a coordenadora do Batalhão de Bacamarteiros Sr. do Bonfim, Maria Itajaci Lima Moura da Cruz.

O Cortejo também compôs as atividades do primeiro Festival de Brincantes idealizado pela Funcaju. “Nós idealizamos uma forma de mostrar para os aracajuanos, sergipanos e para todos que por aqui passarem, a força e riqueza do nosso folclore e da nossa cultura popular. Para isso realizamos este Festival de Brincantes, que contou com o cortejo de hoje. Esperamos colocarmos esta data no calendário cultural do município, para que todos os anos aconteça este festival”, ressaltou o presidente da Funcaju, Silvio Santos.

Pessoas que passavam pela Praça General Valadão ficaram surpresas e encantadas com o cortejo. A estudante de design de interiores, Kelly Silva Santos, disse gostar muito dos grupos folclóricos. “Acho muito importante reunir os grupos da cultura popular aqui em Aracaju, para mostrar para a população um pouco do que temos aqui no Estado. Nossa cultura é muito rica e precisa cada vez mais ser valorizada”, defendeu.

Representante do Fórum de Secretários, a diretora de cultura de Boquim, Maria Caetana de Lima Mota, falou que os municípios tem se esforçado para desenvolver cada vez mais ações conjuntas. “Através da junção e colaboração dos municípios, temos mais força para buscar formas de valorização da cultura e para pensar ações, não só aqui na Capital, mas também nos interiores”, destacou.

A programação do Mês do Folclore segue até 01 de setembro, na Biblioteca Pública Epifânio Dória (BPED) que está promovendo a primeira edição do Projeto “Cultura Popular Sergipana na Sala de Aula: Um Caminho para o Resgate da Nossa Identidade”. O projeto inclui a realização de debates, minicursos, exposição, lançamento de livros, apresentações artísticas. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone (79) 3179 – 1907...

Texto e imagens reproduzidos do site: cultura.se.gov.br

quarta-feira, 23 de agosto de 2017

Marcas da guerra: 75 anos do ataque alemão em Sergipe


Publicado originalmente no site F5 News, em 16/08/2017.

Marcas da guerra: 75 anos do ataque alemão em Sergipe
Por Márcio Rocha

Há 75 anos, em 16 de agosto de 1942, as águas da praia do Robalo amanheceram com um tom carmesim, depois de uma tragédia sem precedentes que manchou a história sergipana e de seu povo. Três navios brasileiros foram destruídos na costa sergipana, após um ataque a torpedos feito por um submarino alemão que navegava pela costa brasileira. 

No total das 1.051 pessoas que morreram nos ataques navais no Brasil, país que havia declarado sua neutralidade até o incidente em Sergipe, 551 perderam a vida na costa sergipana. Os ataques do submarino alemão U-507 levaram o país a entrar em estado de beligerância, consequentemente à declaração de guerra contra o “Eixo”, composto por alemães sob o comando de Hitler, italianos comandados por Mussolini e japoneses que tinham seu poderio bélico coordenado por Hideki Tojo. O ataque dos U-boots, de acordo com o historiador Otávio Arruda, deixou centenas de mortos, dezenas de sobreviventes amedrontados e um clima latente de xenofobia contra imigrantes de origem dos países que tentavam dominar o mundo. 

Dos navios Bapendi (*), Aníbal Benévolo e Araraquara, não restaram mais que destroços e corpos que eram trazidos à praia pela força da maré, juntamente com poucos sobreviventes. Os navios eram de origem mercante e não tinham nada a ver com a guerra, pondo os alemães comandados por Harro Scacht fim a 551 vidas de seres inocentes. Parte desses homens se encontram em solo sergipano, no pouco lembrado Cemitério dos Náufragos (foto), na rodovia Inácio Barbosa, local onde a maioria dos corpos dos marinheiros foi encontrada. 

O clima em Aracaju era de medo, pois o Brasil não estava em guerra, mas enfrentava um temor presente, porém oculto. Os pouco menos de 100 mil habitantes, segundo informações da época, viviam numa situação de inquietude. De acordo com o historiador Dilton Maynard, Aracaju foi uma das poucas cidades do continente americano que sofreram a consequência direta da guerra, com o ataque aos navios.

Comoção 

Um navio, em especial, o Aníbal Benévolo, deixou marcas ainda maiores na memória dos aracajuanos. A embarcação iria aportar na capital sergipana, tendo sua tripulação composta por muitos moradores da cidade. Todos os marinheiros sergipanos morreram no ataque do U-507, o que causou uma grande comoção na cidade, mantendo um clima de tristeza, luto, mas com muita apreensão.

Medidas foram tomadas para evitar que os alemães desembarcassem em Aracaju. Segundo Armando Andrade, que tinha 13 anos na época, foi instituído toque de recolher, o corte de energia elétrica, em caso de invasão à noite, patrulhas por parte de civis e a proibição da navegação nos rios sergipanos, além da não devastação dos manguezais, que serviam de barreira natural para impedir o contato visual da Kriegsmarine com a cidade.

Destruição

Em mais dois dias, o U-507 ainda afundaria mais três navios no mar brasileiro - desaparecendo por meses, até ser destruído no estado do Piauí, em 13 de janeiro de 1943, por um avião da USAF, Força Aérea dos Estados Unidos, de acordo com o historiador Arthur Saldanha.

O ataque aos navios na costa sergipana motivou o então presidente Getúlio Vargas a atender ao clamor popular e declarar guerra contra o Eixo. Entretanto, houve a demora, pois já haviam sido afundados 21 navios da Marinha Mercante Brasileira, antes da declaração de guerra, que somente aconteceu após o ataque em águas sergipanas.

(*) Também registrado com os nomes de Baependi e Baipendy em jornais da época.

Texto e imagem reproduzidos do site: f5news.com.br

Homem mais velho do mundo é um sergipano de Riachão do Dantas


Publicado originalmente no site F5 News, em 22/08/2017.

Homem mais velho do mundo é um sergipano de Riachão do Dantas

A reportagem F5 News tomou conhecimento na última semana de um fato inusitado e que traz muito orgulho para a população sergipana e brasileira. Na cidade de Riachão do Dantas, comemorou aniversário no último dia 15 o senhor Zózimo Salvador de Melo, mais conhecido por “Seu Jormi”, morador do povoado Tanque Novo, município de Riachão do Dantas. 

Até aí tudo é corriqueiro, como os aniversários das pessoas. Contudo, Seu Jormi, completou 115 anos de vida. O trabalhador rural, nascido em 15 de agosto de 1902, atualmente é o homem mais velho do mundo, considerado um Decano da Humanidade. O supercentenário comemorou seu aniversário com amigos e familiares, com uma temática que o alegra muito, uma festa infantil. 

A bisneta de Seu Jormi, Joeneide Costa, comemorou a descoberta e disse o quanto isso é importante para a família. 

“É muito gratificante. Não só para mim, mas para toda a família ele ter sido descoberto e receber esse reconhecimento. Pela pessoa que sempre foi, e é. Nossa família é muito numerosa e unida, e isso devemos a ele. Pois apesar de não ter sido alfabetizado em escola, nos proporcionou e continua nos ensinando sempre, através de sua vivência e de sua sabedoria. Ele é o nosso exemplo de vida. Tenho muito orgulho do meu bisavô. Agradeço muito ao jornalista que ajudou nessa descoberta”, conta Joeneide.

Ao saber da notícia, a prefeita da cidade, Gerana Costa, comemorou a longevidade de Seu Jormi e lembrou o quanto esse fato é importante para as vidas dos seus familiares e para a cidade de Riachão do Dantas. A descoberta do fato se deu com a participação do jornalista Marcio Rocha, do Portal F5 News, e do geógrafo Eraldo Andrade, morador da cidade. 

“Essa é uma notícia maravilhosa! Descobrir que Seu Jormi é o homem mais velho do mundo é sensacional. E sendo um cidadão de Riachão do Dantas nos deixa mais felizes ainda. Agora, vamos trabalhar para ajudar a família a conseguir o reconhecimento dele como o homem mais velho do mundo. Seu Jormi é um homem muito querido pela família, uma pessoa que contribuiu muito com a cidade e nossa cidade se orgulha de ter entre seus habitantes, o decano da humanidade é um conterrâneo que nos enche de orgulho”, afirmou Eraldo.

O Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) confirmou a longevidade de Seu Jormi, atestando que ele nasceu, de fato, no ano de 1902. A família está trabalhando para levar a informação ao Guiness Book, para garantir o reconhecimento do senhor Zózimo Salvador de Melo, oficialmente, como o homem mais velho do mundo. Atualmente, o homem mais velho do mundo é reconhecido como sendo o japonês Masazou Nokana, nascido em 25 de julho de 1905, com 112 anos.

Com a descoberta do supercentenário da cidade de Riachão do Dantas, Seu Jormi supera o japonês em 2 anos, 11 meses e 21 dias. Entrando na lista do Guiness Book, Seu Jormi deverá ser reconhecido como a sexta pessoa mais idosa de todo o planeta. Na lista de todos os supercentenários da humanidade, as pessoas mais idosas que já viveram, o agricultor aposentado entrará na lista na honrosa 40º posição, sendo o segundo homem. Apenas o japonês Jiroemon Kimura, falecido em 2013, o superou. Kimura morreu com 116 anos e 54 dias. Zózimo Salvador de Melo já é a pessoa mais velha de toda a história do Brasil, superando Maria Gomes Valentim, que viveu 114 anos e 47 dias.

*A reportagem F5 News já encaminhou as informações sobre o homem mais longevo da face da terra para o Guiness Book, o Livro dos Recordes.

Texto e imagem reproduzidos do site: f5news.com.br

terça-feira, 22 de agosto de 2017

Antiga foto da Igreja de São Judas Tadeu, (Igreja dos Capuchinhos)

Igreja dos Capuchinhos, no Bairro América, em Aracaju.
Imagem de Arquivo: Prefeitura Municipal de Aracaju/guiaturismo.net
Reproduzida do blog: aracajusaudade.blogspot.com.br
De: Eudo Robson

Grupo Imbuaça celebrará 40 anos de atividades


Publicado originalmente no site SECULT, em 22 de agosto de 2017

Grupo Imbuaça celebrará 40  anos de atividades

No próximo dia 28 de agosto o Grupo Imbuaça irá celebrar 40 anos de atividades artísticas. Esse fato é raro na história do teatro brasileiro: um grupo permanecer atuante ao longo de tantos anos é muito difícil, devido as adversidades enfrentadas para manutenção das suas ações, principalmente quando se trata de um trabalho de teatro de rua, cuja pesquisa de linguagem é fundamentada nas manifestações populares.

O nome é uma homenagem ao embolador Mané Imbuaça, que residia na Rua Santa Luzia, com a Rua Campos. Ele frequentava a sede do Diretório Central dos Estudantes da UFS, localizada próxima a sua residência, onde também acontecia os ensaios do grupo. Com o seu falecimento, em fevereiro de 1978, os integrantes que já vinham pesquisando a cultura popular, resolveram homenagear um artista que conheceram durante os ensaios no DCE, cujo perfil estava relacionado as perspectivas de trabalho dos atores.

Ao longo desse tempo o Imbuaça montou trinta espetáculos, participou de quase todos os festivais de teatro do país, circulou por todas as regiões brasileiras e representou o Brasil em festivais nos países, Portugal, Equador, Cuba e México. É um dos grupos mais antigos em atividade continua no teatro de rua do país e tornou-se conhecido pelo seu trabalho inspirado nas danças dramáticas de Sergipe e na Literatura de Cordel, que é a base para construção da dramaturgia em grande parte de seus espetáculos.

O primeiro espetáculo “Teatro chamado Cordel”, cuja estreia ocorreu na Praça Nossa Senhora de Lourdes, no bairro Siqueira Campos, em 1978, foi composto pelos textos “O marido que passou o cadeado na boca da mulher”, folheto de Cuica de Santo Amaro, adaptado por João Augusto; e “O matuto com o balaio de maxixi”, folheto de José Pacheco, adaptado por Antônio do Amaral. A direção foi de José Amaral e os figurinos de Francisco Carlos. O elenco composto dos atores: Antonio do Amaral, Cicero Alberto, Francisco Carlos, José Amaral, Lindolfo Amaral, Maria da Dores, Maurelina, Pierre Feitosa e Virgínia Lúcia.

Desde o início que o Imbuaça se preocupa em ocupar espaços públicos abertos, propiciando o acesso do público de forma democrática e direta, numa relação horizontal.

Para celebrar essa data tão importante o Imbuaça elaborou uma vasta programação. Dias 24 e 25 de agosto, às 16 horas na Praça Fausto Cardoso, o grupo vai apresentar os espetáculos, “A farsa dos opostos”e “A peleja de Leandro na trilha do Cordel”, respectivamente. No dia 28 de agosto, às 20 horas, no Teatro Tobias Barreto haverá à apresentação do espetáculo “Jeová”. Todos os espetáculos serão abertos ao público gratuitamente.

O grupo nunca teve patrocinador para manter as suas atividades cotidianas. Até 2015 vinha conquistando editais públicos para montagem e circulação de espetáculos. Com a mudança na esfera federal, as políticas públicas para a área da cultura foram drasticamente afetadas, e os editais deixaram de existir.

É lamentável que o poder público não reconheça a importância de um grupo cujo trabalho só tem contribuído com engrandecimento e com a imagem de Sergipe. Por outro lado o Imbuaça passou a ser um centro de formação de atores, realizando cursos e oficinas anualmente, em sua sede localizada na Rua Muribeca, 4 – bairro Santo Antonio. Centenas de jovens estudantes, professores e pesquisadores já estiveram por lá, desfrutando das atividades gratuitamente. Num entanto, não conta com nenhum apoio para essas ações que são importantes para a comunidade, pois quanto mais arte, menos violência na sociedade.

O grupo é formado pelos atores Carlos Wilker, Iradilson Bispo, Jonathan Rodrigues, Lidhiane Lima, Lindolfo Amaral, Manoel Cerqueira, Priscila Caprice, Rosi Moura, Sandy Soares e Talita Carlixto. Na cenotécnica Rogers Nascimento e na operação do som Cristiano Andrade (Negão).

Texto e imagem reproduzidos do site: cultura.se.gov.br

Grupo sergipano de teatro de bonecos "Mamulengo de Cheiroso"

Foto: Janaína Vasconcelos
Reproduzida do site: infonet.com.br

O Folclore Sergipano é rico e diversificado


Folclore Sergipano

O Folclore Sergipano é rico e diversificado, reunindo elementos da cultura indígena, africana e europeia.

Sergipe guarda em sua história e tradição muito das culturas portuguesa e negra e um dos mais ricos folclores do Brasil. São inúmeras as manifestações culturais que nos remetem ao passado e garantem, no presente, uma permanente interação entre as mais diversas comunidades responsáveis pela continuidade folclore sergipano. A seguir, você fará uma viagem pelo que há de mais belo na cultura popular sergipana.

Dentre as muitas manifestações do folclore sergipano destacam-se o Reisado, Parafusos, Guerreiros, Lambe-Sujos e Caboclinhos, Cacumbi, Taieira, Samba de Parelha, São Gonçalo.

Folclore Sergipano

Anualmente é realizado o Encontro Cultural de Laranjeiras, um evento que reúne musicais, apresentações de grupos folclóricos, grupos de discussão e exposições sobre o folclore no estado.

Cacumbi

Não se sabe ao certo a origem do Cacumbi, acredita-se que é uma variação de outros autos e bailados como Congada, Guerreiro, Reisado e Cucumbi. O grupo apresenta-se na Procissão de Bom Jesus dos Navegantes e no Dia de Reis, quando a dança é realizada em homenagem a São Benedito e Nossa Senhora do Rosário. Pela manhã, os integrantes do grupo assistem à missa na igreja, onde cantam e dançam em homenagem aos santos padroeiros. Depois das louvações, o grupo sai às ruas cantando músicas profanas e, à tarde, acompanham a procissão pelas ruas da cidade. Seus personagens são o Mestre, o Contra-Mestre e os dançadores e cantadores; o grupo é composto exclusivamente por homens. Os componentes vestem calça branca, camisa amarela e chapéus enfeitados com fitas, espelhos e laços. Só o Mestre e o Contra-Mestre usam camisas azuis. O ritmo é forte, o som marcante e o apito coordena a mudança dos passos. Os instrumentos que acompanham o grupo são: cuíca, pandeiro, reco-reco, caixa e ganzá. Em Sergipe, o Cacumbi é encontrado nos municípios de Lagarto, Japaratuba, Riachuelo e Laranjeiras.

Cangaceiros

Em 1960, Azulão, um dos homens de Lampião, formou um grupo composto de 17 homens e 2 mulheres (representando Maria Bonita e Dadá), vestidos de cangaceiros e, com eles saiu cantando e dançando em ritmo de forró pelas ruas de Lagarto; costume vivo até hoje, revivendo as estórias e histórias de Lampião cantadas e decantadas em prosa e verso. O grupo tem como indumentária chapéus de couro enfeitados, camisas de mangas longas com divisas nos ombros, jabiracas coloridas ou lenço no pescoço, cartucheiras, espingardas e sandálias de couro grosso. Em Sergipe, a manifestação permanece viva nos municípios de Lagarto e Propriá.

Chegança

Dança que representa em sua evolução a luta dos cristãos pelo batismo dos Mouros. A apresentação sempre acontece na porta de igrejas, onde uma embarcação de madeira é montada para o desenvolvimento das jornadas. A predominância é do azul e do branco. O padre, o rei e os Mouros (personagens da Chegança), utilizam outras tonalidades. O pandeiro é o principal instrumento de acompanhamento, eles utilizam também apitos e espadas. Bastante teatral, a apresentação completa da Chegança demora, geralmente, 60 minutos.

Guerreiro

Auto natalino, que carrega marcas do Reisado. Sobre as origens conta a lenda popular que uma rainha, em um passeio acompanhada de sua criada de nome Lira e dos guardas (Vassalos), conhece a apaixona-se por um índio chamado Peri. Para não ser denunciada, manda matar Lira. Mesmo assim, o rei toma conhecimento do fato e, na luta contra o índio Peri, morre. A dança é composta de jornadas – uma seqüência de cantos e danças -, que são apresentadas de acordo com os personagens de cada grupo, sendo um dos pontos culminantes a luta de espadas, travada entre o Mestre e o índio Peri. Os principais personagens do Guerreiro, além do Mestre – que comanda as apresentações -, e do índio Peri, são: o Embaixador, a Rainha, Lira, o Palhaço e os Vassalos.  Os instrumentos que acompanham o grupo são sanfona, pandeiro, triângulo e tambor. Destacam-se os trajes coloridos e ricamente enfeitados.

Lambe Sujo e Caboclinho

São dois grupos folclóricos unidos num folguedo que se baseia no episódio da destruição dos quilombos. O grupo dos Lambe-Sujos é formado por meninos e homens totalmente pintados de preto, usando uma mistura de tinta preta e melaço de cana-de-açúcar para ficar com a pele brilhosa. Eles usam short e um gorro de flanela vermelha. Nas mãos, uma foice, símbolo de luta pela liberdade. Fazem parte do grupo o Rei”, a Rainha e a “Mãe Suzana”, representando uma escrava negra. Após uma alvorada festiva, os Lambe-Sujos saem às ruas, acompanhados por pandeiros, cuícas, reco-recos e tamborins, roubando diversos objetos de pessoas da comunidade que são guardados no “mocambo”, armado em praça pública. A devolução dos objetos é feita mediante contribuição em dinheiro pelo proprietário do objeto roubado. Junto com os Lambe-Sujos se apresentam os Caboclinhos, que pintam o corpo de roxo-terra e usam indumentária indígena: enfeites de penas, cocar e flecha nas mãos. A brincadeira consiste na captura a rainha dos Caboclinhos pelos Lambe-Sujos, que fica aprisionada. À tarde, há a tradicional “batalha” pela libertação da rainha, da qual os Caboclinhos saem vitoriosos. O grupo musical que acompanha o folguedo é composto por ganzás, pandeiros, cuícas, tambores e reco-recos. Hoje, a “Festa de Lambe-Sujo”, como é conhecida, tornou-se uma das mais importantes da cidade de Laranjeiras, acontecendo sempre no segundo domingo de outubro.

Maracatu

O Maracatu originou-se da coroação dos Reis do Congo. Não sendo propriamente um auto, não tem um enredo ordenado para sua exibição. Integram ao cortejo real, lembrança da célebre rainha africana Ginga de Matamba, o Rei, a Rainha, o Príncipe e a Princesa, Ministros, Conselheiros, Vassalos, Lanceiros, a Porta-bandeira, Soldados, Baianas e tocadores. E as “Calungas”, bonecos representando Oxum e Xangô. Em geral o cortejo é formado por integrantes negros. Vestidos de cores extravagantes, os participantes do cortejo seguem pelas ruas da cidade cantando e saracoteando, entre umbigadas, cumprimentos e marchas. Não existe uma coreografia especial. Algumas das cantigas são proferidas numa presumível língua africana, tambor, chocalho e gonguê são os instrumentos musicais que acompanham o cortejo. Tendo o Maracatu perdido a tradição sagrada, hoje, é considerado um grupo carnavalesco, de brincadeira s de rua, que, em Sergipe, é encontrado nos municípios de Brejo Grande e Japaratuba.

Parafusos

Conta-se que no tempo da escravidão, os escravos negros fugitivos saíram à noite para roubar as anáguas das sinhazinhas deixadas no quaradouro. Cobrindo todo corpo até o pescoço, sobrepondo peça por peça, nas noites de lua cheia saíram pelas ruas dando pulos e rodopiando em busca da liberdade. A superstição da época contribuiu para que os senhores ficavam apavorados com tal assombração – acreditando em almas sem cabeça e outras visagens – e não ousavam sair de casa. Após a libertação, os negros saíram pelas ruas vestidos do jeito como faziam para fugir dos seus donos. Nasceram assim os parafusos. Trajando uma seqüência de anáguas, cantarolando, pulando em movimentos torcidos e retorcidos, um grupo exclusivamente de homens – representando os escravos negros – formam o grupo folclórico “Parafuso” da cidade de Lagarto. Os instrumentos que acompanham o grupo são triângulo, acordeom e bombo.

Reisado

O Reisado, de origem ibérica, se instalou em Sergipe no período colonial. É uma dança do período natalino em comemoração do nascimento do menino Jesus e em homenagem dos Reis Magos. Antigamente era dançado às vésperas do Dia de Reis, estendendo-se até fevereiro para o ritual do “enterro do boi”. Atualmente, o Reisado é dançado, também, em outros eventos e em qualquer época do ano. A cantoria começa com o deslocamento do grupo para um local previamente determinado, onde é cantado “O Benedito”, em louvor a Deus, para que a brincadeira seja abençoada e autorizada. A partir daí, começam as “jornadas”. O enredo é formado pelos mais diversos motivos: amor, guerra, religião, história local, etc., apresentado em tom satírico e humorístico, originando um clima de brincadeira. O Reisado é formado por dois cordões que disputam a simpatia da platéia e são liderados pelas personagens centrais: o “Caboclo” ou “Mateus” e a “Dona Deusa” ou “Dona do Baile”. Também se destaca a figura do “Boi”, cuja aparição representa o ponto alto da dança. Os instrumentos que acompanham o grupo são violão, sanfona, pandeiro, zabumba, triângulo e ganzá. O Reisado tem como característica o uso de trajes de cores fortes e chapéus ricamente enfeitados com fitas coloridas e espelhinhos.

São Gonçalo

Dança em homenagem a São Gonçalo do Amarante, que segundo a lenda, teria sido um marinheiro que tirou muitas mulheres da prostituição, através da música alegre que fazia com a viola. A dança é acompanhada por violões, pulés (instrumentos feitos de bambu), e caixa. A caixa é tocada pelo “patrão” – homem vestido de marinheiro, como alusão a São Gonçalo do Amarante. O grupo dança em festas religiosas e pagamento de promessas. É composto em suas maioria por trabalhadores rurais, que se vestem de mulher, representando as prostitutas. Um dos grupos mais apreciados pela singeleza da dança e da música.

Taieira

Grupo de forte característica religiosa tendo por objetivo a louvação a São Benedito e a Nossa Sra. do Rosário, ambos padroeiros dos negros no Brasil. É da imagem dessa santa que se retira a coroa para colocar na cabeça da “Rainhas das Taieiras” ou “Rainha do Congo”. Durante a missa na Igreja de São Benedito, em Laranjeiras, as Taieiras, grupo de influência afro, participa efetivamente do ritual cristão numa demonstração clara do sincretismo religiosos entre a Igreja Católica e os rituais afro-brasileiros. O momento da coroação é o ápice da festa que se realiza sempre no dia 06 de janeiro, nessa igreja. Tocando quexerés (instrumentos de percussão) e tambores, as Taieiras, trajando blusa vermelha cortada por fitas e saia branca, seguem pelas ruas cantando cantigas religiosas ou não. Este evento é definido como uma das mais claras demonstrações de sincretismo, com santos e rainhas, procissões e danças misturados num mesmo momento de celebração.

Zabumba

Zabumba é o nome popular do “bombo”, um instrumento de percussão. O termo, também, é usado para denominar o conjunto musical composta por quatro integrantes, todos do sexo masculino, conhecido como “Banda de Pífanos”. Em Sergipe, as apresentações da Zabumba acontecem em rituais de pagamento de promessas, datas comemorativas, festas religiosas e festivais de cultura popular.

Fontes (Folclore Sergipano): emsetur.se.gov.br

Texto e imagem reproduzidos do site: sergipeturismo.com