terça-feira, 15 de dezembro de 2020

O Crime da Rua de Campos, por Paulo Roberto Dantas Brandão

Dr. Carlos Firpo
Imagem publicada pelo blog para
 ilustrar o presente artigo.

Texto publicado originalmente na Linha do Tempo do Perfil no Facebook de Paulo Roberto Dantas Brandão, de 14 de dezembro de 2020


O Crime da Rua de Campos
Por Paulo Roberto Dantas Brandão

Com a morte de Milena na semana passada voltou a discussão o Crime da Rua de Campos, como ficou conhecido o assassinato do Dr. Carlos Firpo. Quando ocorreu, em 1958, eu era um bebê, portanto tudo o que sei foi por leituras e por informações familiares. Mas a verdade inconteste do crime foi para o túmulo, com a morte da esposa do médico assassinado, Milena.

Desde a semana passada foi publicada uma série de artigos sobre o tema. Há três versões para o fato: crime passional, crime político e uma versão de crime familiar por questões patrimoniais. Essa última tardia, só aventada algum tempo depois, e sem qualquer arrimo.

Por que não acredito na versão do crime político? Em primeiro lugar Dr. Carlos Firpo era um médico pacato, sem aparentes inimigos. Não era um chefe político, nem um dirigente partidário. Não ocupava cargos públicos, e apenas aventou a possibilidade de ser candidato a vice-governador nas eleições que ocorreriam logo em seguida. Ora, numa investigação busca-se logo “o motivo” e “quem se beneficia com a morte”. É o básico. Até hoje, mais de sessenta anos depois, ninguém apontou um motivo plausível que embasasse a tese do crime político. Ninguém mata por uma pretensa disputa por um cargo de vice-governador. Isso não existe. Como também até hoje ninguém respondeu quem se beneficiaria de modo cabal com a morte do Dr. Carlos Firpo. Nem o jornalista Luis Eduardo Costa que escreveu uma série de artigos sobre o fato, grande parte baseada em anotações do seu pai, Paulo Costa, que teria atuado como promotor no caso, conseguiu responder a tais indagações.

Já a versão do crime passional, envolvendo a própria esposa do médico, e o Coronel Afonsinho, da Força Aérea, se não deixa uma certeza, apresenta uma série de indícios de força extrema. Era fato público e notório que o Coronel Afonsinho freqüentava a casa do médico, e era do falatório geral que tinha um caso com a esposa deste. Há ainda uma coincidência muito grande dos dois executores do assassinato serem da região próxima a Paulo Afonso, na Bahia, de onde provinha a família do Coronel, e de ontem tinha propriedades. Há outras coincidências mal explicadas, como o fato de Milena não estar dormindo com o marido no momento do crime, e sim no quarto das filhas. São por tais coisas que eu não acredito em crime político e, como muitos, tenho a tendência firme em acreditar em crime passional.

Dr. Carlos Firpo era amigo do meu avô Orlando Dantas, que sentiu muito a sua morte. Quando retiraram os restos mortais do médico do Cemitério Santa Isabel, em Aracaju, deixaram por lá jogada uma placa de mármore, uma homenagem dos colegas do Lions Clube ao morto. Meu avô viu a placa abandonada, e mandou afixá-la na lateral da gaveta onde repousam os restos de Ronaldo, seu filho (portanto meu tio), morto ainda criança. Quem entra no cemitério, ao lado direito da Capela, há as gavetas onde eram enterradas as crianças. Logo na lateral está lá a placa em homenagem a Dr. Carlos Firpo.

O fato de nos últimos dias voltarmos a discutir tal crime, é sinal que a sociedade sergipana até hoje ficou abalada. No livro O Salão dos Passos Perdidos, o advogado Evandro Lins e Silva, que atuou como advogado de defesa de Milena em seu julgamento disse que “o crime foi maior do que a cidade”. Sem dúvida.

Texto reproduzido do Facebook/Paulo Roberto Dantas Brandão

terça-feira, 8 de dezembro de 2020

Revivendo sensações do passado, por Lúcio Prado



Legendas fotos > Foto1 - Milena Mandarino e Foto2 - Milena Mandarino é entrevistada pelo repórter Walter Melo, sob o olhar do Dr. José Nolasco, diretor da Penitenciária de Aracaju.

Publicado originalmente no site do Portal INFONET, em 8 de dezembro de 2020

Revivendo sensações do passado

Por Lúcio Prado (Blog Infonet)

   Prezado Lúcio,

   Grato pela sua atenção. Como lhe disse, não poderei estar amanhã no Sarau enfocando o Centenário do médico, escritor, compositor e músico, o nosso querido e lembrado com saudade, seu polifacetado sogro Antônio Garcia. Peço-lhe desculpas. Estarei numa reunião da família de minha mulher, à qual não poderei faltar, em Japaratinga, AL. Envio-lhe o texto sobre a música INJUSTIÇADA. Se achar que merece ser lida fica à sua escolha” (Luiz Eduardo Costa).

Com essa carta, o jornalista, escritor e imortal da Academia Sergipana de Letras, anunciou a sua impossibilidade de participar do Sarau “Antônio Garcia Filho, música e poesia”, promovido pela Sobrames Sergipe, para celebrar o Centenário de Nascimento do saudoso médico. Como idealizador e produtor desse inesquecível Sarau, levado a efeito no auditório do Museu da Gente Sergipana em 27 de maio de 2016, frente à impossibilidade de Luiz apresentar o texto introdutório para a música de Garcia, convidei o presidente da Academia Sergipana de Medicina, o Dr. Roberto César Pereira do Prado para fazer o leitura, o que fez com competência. O Sarau foi extraordinário, ao longo de duas horas, dez músicas de Antônio Garcia foram apresentadas ao público que lotou aquela dependência, com arranjos modernos do maestro Ricardo Vieira, cantores da terra, e para cada música um texto introdutório, apresentado por personalidades que conviveram com o homenageado, colegas, alunos e imortais da Academia de Letras. Em breve, o vídeo completo do Sarau estará disponível no Youtube, no canal da Sobrames Sergipe.

Com a morte de Milena Mandarino, ocorrida nesta semana em Salvador, lembranças foram evocadas, sentimentos aflorados e o perdão pela injustiça cometida, finalmente manifestado pela família Firpo, após sessenta e dois anos de incompreensões, dúvidas, silêncio e afastamento. Enfim, sensações do passado foram revividas.

O texto de Luiz Eduardo Costa, para a apresentação da música Injustiçada, de Antônio Garcia Filho, foi primoroso e reproduzo abaixo:

¨Em abril de 1958 ocorreu em Aracaju um crime que traumatizou a sociedade. Dormindo na sua casa o médico Carlos Firpo, cidadão conceituado e querido, foi assassinado com uma facada.

Em crimes dessa natureza, dizem os criminologistas franceses: ¨Cherchez la femme ¨. E não demorou, a mulher foi encontrada.  Era Dona Milena Mandarino Firpo, esposa do médico, que tramara o assassinato, acumpliciada com o amante, o tenente –coronel aviador Afonso Ferreira Lima, amigo da família e freqüentador da residência dos Mandarino – Firpo.  Surgiu um enredo novelesco, que ultrapassou os limites de Sergipe. O militar era personagem de destaque na Força Aérea e ocupava o cargo de Secretário do Conselho de Segurança Nacional. Sua esposa, a professora Edna Faria Lima, era neta  do Ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal, o  jurista  Bento de Faria, e o seu pai, um Procurador Federal no Rio de Janeiro.

  Milena era filha do italiano Nicola Mandarina, homem rico e influente em Sergipe. O trauma causado pelo crime dividiu a sociedade sergipana diante de duas versões antagônicas: uma, a passional, apontada pela Polícia e pelo Ministério Público, outra, a política. O radicalizado clima da época contaminou a discussão, envenenou de tal forma o debate, que logo explodiriam fortes antagonismos e tensas odiosidades.

Milena Mandarino

Milena, até então vista como virtuosa esposa e mãe, católica fervorosa, passou a ser tratada como cruel criminosa e desprezível adúltera.  Foi presa em sua casa numa madrugada chuvosa de junho, e levada à Secretaria de Segurança, depois, à Penitenciária, onde permaneceu dois anos aguardado o julgamento, até o pronunciamento do Supremo, absolvendo os acusados. Jogados à execração pública, Milena e o coronel Afonso, passaram a simbolizar a mais abjeta das traições.

 Nesse caldeirão de ódios que se misturavam com paixões políticas, era difícil encontrar um mínimo de racionalidade, ou mesmo uma concessão generosa à dúvida enquanto   aguardava-se o julgamento. Foi nesse contexto do qual escapava o bom senso, e a condenação já se antecipava no vozerio das ruas, que Antônio Garcia, médico, humanista, intelectual, que unia suas convicções cristãs ao anseio pela Justiça, entendeu que seria preciso remar contra a maré montante da histeria coletiva, para abrir um espaço à reflexão, à sensatez, ou, pelo menos, à piedade, que é parte inseparável da dignidade humana. Antonio Garcia compôs então letra e música de uma canção à qual deu o nome: INJUSTIÇADA.

  Não foi apenas uma música, foi um Hino à Razão, produzido num momento em que atitudes de comedimento eram interpretadas como ofensas traiçoeiras à memória do morto.  Fosse qual fosse o resultado do julgamento, Antonio Garcia, com a sua música, começou a amenizar o ódio da sentença antecipada, fazendo surgir uma racional e justa expectativa civilizada de Justiça.

  A busca pela Justiça em todas as áreas da vida social, foi a preocupação constante desse singular sergipano, Antônio Garcia Filho, referência exemplar no seu tempo, agora, marco virtuoso em nossa História.”

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O crime da Rua Campos, de repercussão nacional, nunca foi totalmente elucidado, os autores materiais foram presos, sendo que um deles, que poderia revelar o nome do mandante, foi torturado até a morte, na calada da noite, na busca de uma confissão ou o que poderia ter sido uma “queima de arquivo”. Milena e Afonsinho, acusados e detidos pela polícia, somente foram liberados dois anos depois, por falta de provas ou inconsistências delas, graças a uma decisão do STJ. Milena, com as duas filhas, foram residir em Salvador e nunca mais regressaram a sua terra.

Em vida, Milena foi de uma fortaleza exemplar para enfrentar as tempestades da vida, as incompreensões e as injustiças, mas viveu com grandeza, caráter e sensibilidade admiráveis. A sua morte, ocorrida na madrugada de 4 de dezembro, é mais um capítulo triste dessa história recente de Sergipe que, após 62 anos, ainda desperta indagações, suspeitas, debates e profundas sensações.

Texto e imagens reproduzidos do site: infonet.com.br

sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

'A morte do Dr João Alves Filho', por Ivan Valença

Foto de Arthur Leite e postada pelo blog para ilustrar o presente artigo

Trecho de artigo publicado originalmente no site do Portal INFONET, em 2/12/2020

A morte do Dr João Alves Filho
Por Ivan Valença (Blog Infonet)

Foi, com muito peso no coração, que o sergipano de Aracaju despediu-se do ex-Prefeito e ex-Governador João Alves Filho. Executor de obras públicas das mais importantes, tanto na Capital como no Estado de Sergipe, dr. João Alves impôs a sua marca. Foram três mandatos na Prefeitura de Aracaju e dois no governo do Estado, todos cheios de realizações que encantaram o povo da Capital e do interior do estado. O dr. João só não quis submeter-se o seu nome para ser deputado federal, deputado estadual, senador ou vereador embora tivesse prestígio suficiente para isso, obtendo vitórias superlativas. Ele disse ao escriba que não gostaria em absoluto de sair de Aracaju para exercer qualquer mandato,” Sabe, Vanzinho (era assim que ele me chamava) prefiro continuar sendo anônimo aqui do que famoso lá fora, em outras terras”. ‘Sempre disse não aos convites que o levariam para fora de Aracaju e de Sergipe. Disse-me também que sentiu algo diferente quando enfrentou as urnas pela primeira vez, isto depois de ter exercido um cargo público por indicação direta do governador. O Dr. João Alves era um incansável. Mal terminava uma obra pública, ele já tinha outras dez engatilhadas para tocar o mandato do seu governo. Pode-se mesmo dizer que o esporte predileto do dr. João era fazer um “tour” pela cidade para mostrar o que já fizera e, principalmente o que pretendia fazer nos tempos adiante. Por onde passava era reconhecido o povão chamava o seu nome, gritava por ele ou lhe rendia aplausos. Não é que tais manifestações o desagradassem mas ele preferia circular anonimamente por suas obras, mesmo as mais importantes ou as mais caras.

No local das obras, ele atendia quem o procurava e até dava detalhadas informações. Nunca o vi ficar entusiasmado diante de um artigo de jornal elogiando o seu trabalho no governo. Mas não era de ficar com raiva ou até decepcionado com as críticas. Li-as e pronto. Não voltava mais a elas. De quando em vez apenas me perguntava: “O Sr. Orlando está lá no jornal?” Era sinal de que gostaria de dar uma explicação sobre algum detalhe sobre obras as mais ousadas do Estado, e fatos importantes sobre o que foi comentado nos artigos jornalísticos. Também não era de dar resposta a artigos de fundo que criticavam suas intervenções pela cidade. Mas, o velho e querido jornalista Orlando Dantas era um admirador, várias vezes flagrei-o aconselhando-o a ir descansar dois ou três dias. O conselho mais das vezes era esquecido no expediente seguinte. Dr.João não era de largar o trabalho, mesmo nos fins de semana. Com a chegada do video-cassete os momentos de lazer “um bom filme de cowboy” era em casa, em frente ao seu aparelho de vídeo-cassete. Mais das vezes cansei de levar filmes para ele assistir nas noites de sexta ou sábado quando tinha mais tempo. Também frequentava poucas festas, porque por lá tem muito “cara de pau” chato que viviam a me pedir coisas que eu não podia fazer. Tanto em casa, quando no seu escritório da Habitacional, ali no segundo ou terceiro trecho da rua São Cristóvão, onde antes tinha sido o escritório da empresa de construção do próprio pai. No trabalho dr. João Alves era de uma seriedade quase que contagiante. Negócio acertado com ele e por ele, estava sacramentado igual ao pai, o Sr. João Alves...

Trecho de artigo reproduzido do site: infonet.com.br

terça-feira, 1 de dezembro de 2020

'O Filho de D. Lourdes', por Lilian Rocha


Publicado originalmente no Facebook/Lilian Rocha, em 30 de novembro de 2020

O FILHO DE D. LOURDES
Por Lilian Rocha

Meu pai tinha uma grande admiração por ele. Dizia que ele era um homem de grande visão empreendedora. E ele, por meu pai. Não apenas uma admiração pelo homem culto que foi meu pai, mas nutria também uma gratidão profunda, por causa de uma gentileza que meu pai lhe fizera, lá pelos idos de 1977.

Sabendo que ele e a esposa estavam de viagem marcada para Madrid, meu pai pediu à minha irmã Suzana, que morava lá, para servir de cicerone ao casal. Prontamente, minha irmã concordou e só no dia seguinte, foi que ela soube que o tal casal era o então prefeito de Aracaju, João Alves Filho, e sua esposa, Maria do Carmo.

Mas não foi com “o prefeito” que ela passou o dia todo, pra cima e pra baixo, de táxi e de metrô, visitando praças, monumentos, fontes luminosas e galerias. Foi com o amigo de meu pai, homem simples, gentil e educado, que jamais esqueceu a atenção e a prestimosidade que recebera dela.

Só anos mais tarde, como assessora do secretário de Planejamento, foi que minha irmã teve a oportunidade de trabalhar para “o governador” João Alves e conhecer mais de perto “aquele homem perspicaz, que adorava ler, escrevia muito bem e tinha uma inteligência acima da média”, como ela mesma costuma dizer, ao se referir a ele.

Além de Dr. João, meu pai também tinha outra grande admiradora naquela família: D. Lourdes, a mãe dele. Ela era uma ouvinte assídua do programa “Rádio Revista”, que meu pai fazia na Rádio Cultura, não perdia um. E normalmente ligava para ele ao final do programa, para cumprimentá-lo. Com isso, meu pai também passou a ser muito grato a Dr. João, pelo carinho genuíno que sua mãe lhe dedicava, sem ao menos conhecê-lo.

Essa mistura de ‘admiração e gratidão’ de ambos foi crescendo ao longo dos anos e se estendendo por toda a nossa família. Lá em casa, João Alves era unanimidade.

Mas João Alves entrou na minha vida indiretamente, através de sua irmã Marlene. Nós nos conhecemos na Escola Normal, quando éramos professoras da mesma disciplina, e a partir dali, nos tornamos amigas e parceiras de trabalho. Graças à Marlene, me tornei professora de português e também radialista, como meu pai. Passei a ter por ela não só uma grande admiração, mas também uma profunda gratidão, que foi se estendendo ao longo dos anos. 

Marlene também era uma fã incondicional de meu pai e assim que se tornou superintendente da Fundação Aperipê, convidou-o para fazer um programa de rádio lá.

Certo dia, quando João Alves estava governando o estado pela segunda vez e nós estávamos trabalhando juntas na Aperipê, Marlene me levou para conhecer sua mãe, D. Lourdes.

Conhecer a mãe de alguém é o mesmo que entrar na intimidade daquela pessoa. É conhecer suas origens, entender o que está por trás de tudo, ver de perto a árvore que gerou aquele fruto.

D. Lourdes era uma senhorinha gentil e simpática que vivia sorrindo. Sempre muito discreta, era feliz na sua simplicidade e avessa a qualquer tipo de exibição e holofotes. Nem parecia ‘a mãe do governador’. Porque no coração dela, João era apenas João, seu filho. Ele não precisava ser prefeito nem governador para ela sentir orgulho. Ser seu filho já lhe bastava.

Foi essa simplicidade dela que me cativou logo de cara e me fez entender por que meu pai também lhe queria tanto bem.

Poucos meses depois que a conheci, ela se foi. E eu passei toda aquela madrugada triste ao lado de Marlene. Foi uma dor que também doeu em mim e, no dia seguinte, ainda emocionada, acabei escrevendo um texto sobre D. Lourdes que posteriormente li no meu programa de rádio.

Na missa de sétimo dia, Marlene pediu emprestado esse texto e o leu na igreja. Ao final da missa, aquela fila interminável para os cumprimentos. E como era uma missa pela mãe do governador, a fila tinha três vezes mais gente do que comumente teria...

Quando estava quase chegando a minha vez de cumprimentar a família, comecei a ficar nervosa. Eu iria falar pessoalmente com ninguém mais, ninguém menos, que João Alves, o governador do Estado! Seria a primeira vez que eu estaria tão próxima de um chefe de estado!

Mas não foi a mão do governador que eu apertei naquele dia. Nem do prefeito, nem do político nem do engenheiro. Foi de um filho sofrido que havia perdido a mãe.

E de súbito, ele olhou pra mim e com os olhos cheios d´água, me disse: “Foi muito bonito o que você escreveu pra minha mãe. Muito obrigado!”

Eu nunca conheci pessoalmente o João Alves de quem todos falavam. O João Alves da Coroa do Meio, o João Alves da Orla, o João Alves da ponte. Mas por alguns segundos, estive frente a frente com o filho de D. Lourdes, doce e gentil como ela, que não conseguia esconder a emoção por ter que dar adeus a ela.

Poucos são aqueles que conseguem passar pela vida deixando uma marca. Mas por onde quer que olhemos hoje, vamos ver as inúmeras marcas deixadas por João Alves em Aracaju.

Despeço-me, portanto, do amigo de meu pai e de minha irmã, do filho querido de D. Lourdes, do irmão e companheiro de Marlene e daquele homem simples, que me apertou a mão e me agradeceu.

Foi muito bonito ver o estado todo lhe prestando homenagens, sinal de que ele realmente foi um grande estadista.

Mas foi muito mais bonito sentir que aquele grande político, capaz de tão grandes feitos e o filho de D. Lourdes, doce e gentil como ela, eram a mesma pessoa...

Texto e imagem reproduzidos do Facebook/Lilian Rocha

Despedida e homenagem ao ex-governador João Alves Filho










Fotos: Mário Sousa

Publicado originalmente no site GOVERNO DE SERGIPE, em 30/11/2020

Belivaldo Chagas participa das solenidades de despedida e homenagem ao ex-governador João Alves Filho

Cinzas do ex-governador chegaram à Sergipe na manhã desta segunda-feira (30). Além do cortejo pelas ruas da cidade, houve solenidade de despedida no Palácio Museu Olímpio Campos e missa de sétimo dia, na Igreja Nossa Senhora Rainha do Mundo, com a presença de familiares, políticos e autoridades do estado

O governador Belivaldo Chagas participou, nesta segunda-feira (30), das homenagens ao ex-governador de Sergipe, João Alves Filho, em Aracaju, ao lado da família do ex-governador e de autoridades como a vice-governadora Eliane Aquino; o ex-governador Jackson Barreto, o presidente da Alese, deputado estadual Luciano Bispo; os prefeitos de Aracaju e Salvador, Edvaldo Nogueira e ACM Neto, dentre outros.

Durante a manhã, Belivaldo acompanhou a chegada da urna com as cinzas do ex-governador no Aeroporto Internacional de Aracaju, trazidas pela senadora Maria do Carmo, viúva de João, e por sua filha, Ana Alves.

João Alves Filho faleceu na última terça-feira (24), em Brasília. Após a cerimônia de cremação na quinta-feira (26), a urna com as cinzas chegou a Sergipe nesta segunda e foi recepcionada com Guarda de Honra da Polícia Militar de Sergipe, por meio do Batalhão de Choque.

Últimas homenagens

A urna seguiu em cortejo pelas ruas da capital em carro aberto do Corpo de Bombeiros de Sergipe, passando por diferentes obras realizadas durante a administrações de João Alves, como a Orla da Atalaia, e contando com todo apoio da PM/SE, por meio do Getam e da Setransp para organização do trânsito.

Em seguida, no Palácio Museu Olímpio Campos, foi realizada a visitação para despedida de familiares, autoridades, amigos e admiradores do político sergipano, tudo seguindo os protocolos sanitários recomendados pelos órgãos de Saúde.

Já por volta das 17h, a Guarda de Honra conduziu à urna com as cinzas em cortejo pelas ruas de Aracaju até a Igreja Nossa Senhora Rainha do Mundo, no Conjunto Médici, onde foi celebrada missa em homenagem a João

Importância para Sergipe

“Essa é a última homenagem que a gente faz a um dos maiores líderes políticos que Sergipe já produziu. Não poderíamos deixar de fazer presença e prestar nossa solidariedade à família, estarmos juntos aos amigos prestando essa homenagem que a gente entende que é de extrema importância, afinal de contas, ele foi governador do estado de Sergipe, foi prefeito da capital, um defensor árduo dos interesses não apenas de Sergipe, do Nordeste, mas também do Brasil”, afirmou o governador.

Belivaldo também destacou a importância de João Alves Filho para o desenvolvimento de Sergipe, sobretudo quando exerceu a função de governador, e ressaltou a homenagem feita pelo Governo do Estado ao ex-governador.

“Ele foi um verdadeiro governador, ele soube compreender Sergipe do presente e do futuro naquela época, e no governo em que ele se fez presente como governador, ele não deixou de produzir certo. Obras que levaram ao desenvolvimento e atuou em todas as áreas, educação, saúde, segurança. Um dos grandes exemplos da área da saúde é o Huse, que é o nosso hospital de referência, de urgência, e que agora oficialmente recebe o nome de Hospital de Urgências Governador João Alves Filho”, complementou Belivaldo.

Autoridades

A vice-governadora, Eliane Aquino, esteve presente às solenidades de despedida e prestou solidariedade aos familiares de João e ressaltou a importância dele para a história do estado. “Desde que cheguei a Sergipe, escutei muitas histórias sobre o João Chapéu de Couro, João da Água, João do Povo. Ex-prefeito, ex-ministro e ex-governador, João Alves Filho é lembrado pelos sergipanos por muitos nomes. Sua trajetória política, marcada por obras visionárias, mudaram a vida de muita gente. São muitos os capítulos que compõem o seu legado político”, relembrou.

Na missa de sétimo dia em homenagem ao pai, Ana Alves relembra as principais qualidades do ex-governador. "João Alves foi um homem maravilhoso, um marido exemplar, um pai que a gente só tem a agradecer, um homem que nos ensinou tantas coisas, ensinamentos. O gosto da leitura, do trabalho, da seriedade, de sempre tentar ser o melhor no que a gente se propõe a fazer. Então, João Alves foi inquestionavelmente maravilhoso. É muita honra ser filha dele", ressaltou.

Presidente do Democratas (DEM) e prefeito de Salvador (BA), ACM Neto esteve em Aracaju para participar das homenagens ao ex-governador e falou sobre sua relação com a família Alves. “Eu me organizei para estar aqui hoje, claro, reforçando os laços entre a Bahia e Sergipe, mas trazendo também uma palavra de conforto e homenagens. João e Maria sempre foram pessoas muito queridas, muito respeitadas. Então, hoje, a minha presença é uma homenagem à figura do que foi João Alves.  Um homem muito especial, nordestino valente, pessoa que dedicou a sua vida a Sergipe, mas também ao nordeste”, salientou.

O prefeito de Aracaju, Edvaldo Nogueira, acompanhou as homenagens à João Alves Filho e também relembrou a trajetória do político no estado. “João Alves deixa um grande legado, um legado de ações, um legado de realizações que foram muito importantes no desenvolvimento social-econômico para nossa cidade e para o estado de Sergipe. Essas homenagens são merecidas, são homenagens importantes para que o legado que ele deixou não fique esquecido”, complementou.

Amigo da família e presidente estadual do DEM, o ex-deputado federal e ex-vice-prefeito, José Carlos Machado, reforçou a importância do legado deixado por João. "Era, sem dúvida, um homem extraordinário, apaixonado pelo seu povo. E o nome de João estará imortalizado no panteão dos heróis sergipanos e nos corações e nas mentes de todos os sergipanos", completou,

O ex-governador Albano Franco, na missa em homenagem à João Alves, reiterou a importância do ex-governador para a história política sergipana. "João Alves deixa para Sergipe a marca de um homem trabalhador, honrado e competente. Muitas das obras de Sergipe só existem devido a ele, pois ele tinha visão e preocupação com o social e o desenvolvimento econômico. Estamos todos tristes com a morte de João Alves Filho. Sergipe perde o governador que mais realizou obras marcantes para o Estado de Sergipe", disse.

Texto e imagens do site: se.gov.br

sábado, 28 de novembro de 2020

“J. A. sem sombra de dúvidas, foi o maior realizador de todos os tempos”


Texto publicado originalmente no site do Jornal CORREIO DE SERGIPE, em 27/11/2020

“João Alves, sem sombra de dúvidas, foi o maior realizador de todos os tempos”

João Fontes, ex-deputado federal e empresário, gosta de declarar o que pensa, sem firulas. Com isso, amealha admiradores e adversários no campo da política. Mas uma coisa nem uns e nem outros ousam: duvidar do conhecimento histórico que João Fontes possui sobre a política sergipana. Por isso, e para garantir a máxima isenção opinativa, convidamos João para falar de João. No caso, João Fontes falando o saudoso João Alves. E, a seguir, temos afirmações viscerais. “A nomeação de João para prefeito muda a história política de Sergipe, pois nascia ali uma liderança que não veio de oligarquia, que veio do povo, filho de um mestre de obras, de uma família pobre e, como ele mesmo gostava de dizer, um homem negro, o “Negão”, chega ao poder e muda a história”. Mas João, o Fontes, também revela curiosidades sobre João, o Alves. “Eu ouvi um bêbado, quando João perdeu a eleição de 2010, ali ao lado da igreja São Pedro e São Paulo, e eu estava com João naquele momento, que veio até ele, chorando, e disse: “Dr. João, o senhor perdeu a eleição, mas o senhor vai ficar marcado pelas suas obras em todo o Estado”. Ou ainda: “Marcelo Déda era um grande orador, mas não se pode comparar a gestão e a visão futurista, a realização das obras, com Déda, que tem um outro perfil na história política de Sergipe. O que eu posso dizer é que ambos foram brilhantes”. Para o Fontes, o Alves é incomparável. “Olhe, eu sou afilhado de Leandro Maciel, que foi um grande governador. E quando eu coloco isso aqui, coloco sob o ponto de vista da história: sem sombra de dúvidas, João Alves foi o “the best’ na política de Sergipe”. Saiba mais nessa entrevista exclusiva.

Correio de Sergipe – João Fontes, você acompanhou a trajetória política de seu xará João Alves desde o princípio. Assim, vamos fazer um exercício de imaginação: se José Rollemberg Leite, em 1975, tivesse escolhido outro nome que não o de João Alves para a prefeitura de Aracaju e, consequentemente, o colocado na administração pública, qual seria o Sergipe de hoje?

João Fontes – É um fato interessante da história. Pois a escolha de Zé Leite pelo nome de João Alves para prefeito de Aracaju veio, depois, a mudar a história política de Sergipe. Mudou a história do homem que se tornou tocador de obras; da cidade, pois temos Aracaju antes e depois de João Alves; mas ali nasce também a história que mudaria o ciclo político de Sergipe. Zé Leite escolheu João Alves por uma questão de ordem técnica. Ele era amigo do pai de João, o construtor, que ali estava começando a Construtora Alves. Mas Zé Leite assistiu a uma palestra, na Escola Superior de Guerra, em outubro de 1972, proferida por João Alves. E ali ele se apaixona, fica encantado com João Alves. E quando ele foi escolhido governador do Estado por Giesel, em 1975, como estavam suspensas as eleições para prefeito de capitais, a escolha cabia ao governador nomeado. Ao ser escolhido, João Alves passa a fazer uma grande revolução, pois Aracaju passa a ser conhecida como antes e depois de João Alves. As grandes avenidas, a Coroa do Meio. E ele tomava muita porrada, pois quando ele foi fazer a Coroa do meio, a turma ligada ao meio ambiente, à esquerda, que era contra os militares, também era contra João Alves. Agora, imagine hoje o que seria de Aracaju sem a Coroa do Meio? E ao fazer um conjunto de obras em Aracaju, como dizia Brizola, “o gongo bate na capital, mas ressoa no interior”, a imagem de João como grande tocador de obras, como um homem visionário, que fez uma outra Aracaju, isso se transporta para o Estado. Por isso que a nomeação de João para prefeito muda a história política de Sergipe, pois nascia ali uma liderança que não veio de oligarquia, que veio do povo, filho de um mestre de obras, de uma família pobre e, como ele mesmo gostava de dizer, um homem negro, o “Negão”, chega ao poder e muda a história.

C.S. – Dentre as obras estruturantes realizadas por João Alves, qual é a mais importante de todas, na sua opinião?

J.F. – São tantas as obras que fica difícil dizer a mais importante. Na capital marcou muito a ponte Aracaju/Barra, pois dela vieram a expansão da Barra, diversas obras nesse sentido, a ligação com o litoral norte. Mas ainda temos a Orla de Atalaia, que é fundamental, uma vez que João projetou Sergipe para o turismo. Mas ainda temos a Rodovia José Sarney (hoje Ignácio Barbosa), a ponte Joel Silveira, que foi João que começou, mas que teve muitos problemas, pois, para prejudicar o governo de João Alves, começaram a segurar os recursos em Brasília. Mas, quando ainda se atravessava de balsa, ele já tinha feito o asfalto até a praia do Saco, em direção ao litoral sul todo. Mas ele ainda fez obras estruturantes interessantíssimas, como na captação de água e das adutoras, as represas que ele fez em todo o Estado. São muitas as obras. Em Aracaju ele deixou grandes marcos, como as pontes, as avenidas, mas em qualquer cidade do interior tem obras deles. Friso que sobretudo na questão da água e, vale lembrar, na defesa do rio São Francisco, que é outra obra muito importante, pois revelou a sua preocupação com o meio ambiente. E tem uma história interessante: eu ouvi de um bêbado, quando João perdeu a eleição de 2010, ali ao lado da igreja São Pedro e São Paulo, eu estava com João naquele momento, que veio até ele, chorando, e disse: “Dr. João, o senhor perdeu a eleição, mas o senhor vai ficar marcado pelas suas obras em todo o Estado”.

C.S. – Além de um gestor de mão cheia, construtor inveterado de grandes obras, João Alves também fazia muita engenharia política. Ao longo dos anos, qual teria sido o arco de alianças mais impactante que João costurou?

J.F. – Quando ele saiu da prefeitura, tomou gosto pela política. João estava fundando o PP em Sergipe, já era muito próximo de Tancredo Neves – aliás, ele era um apaixonado por dois mineiros, Juscelino Kubitscheck e Tancredo. Na primeira eleição dele, em 1982, que era a primeira eleição direta para governador em muito tempo, ele tinha uma força popular muito grande. E isso fez com que Albano, filho mais próximo de Augusto Franco em termos de política, com receio de João ganhar sem a anuência dos Franco, convencesse Augusto de apoiar João Alves. Assim, Augusto o convidou para ingressar no PDS, que dava sustentação aos candidatos aliados do governo federal, dos militares. E João conquistou uma expressiva vitória, ali numa chapa casada. Augusto Franco teve 33% dos votos para deputado federal, ainda é o deputado federal mais votado em todos os tempos no Brasil. Valter Franco, para deputado estadual, foi muito bem votado. Albano se elege senador. E João vence Gilvan Rocha para governador com uma votação estupenda: ele teve 275 mil votos contra 77 mil de Gilvan. Logo depois, eles rompem, os Franco e João. Depois vem o período das eleições diretas, do colégio eleitoral, João ajudou a eleger Jackson Barreto prefeito de Aracaju em 1985. Mas o maior marco como político, como engenharia política de João Alves, foi na eleição de 1986, pois João ficou no governo e fez Valadares governador, que foi uma vitória de João, pois ele foi o único governador do país eleito pelo PFL, pois naquela época, o PMDB, embalado pelo Plano Cruzado, por Sarney, por Funaro, elegeu todos os governadores, menos o de Sergipe, que foi Valadares e quem elegeu foi João Alves. Esse resultado foi tão forte que, em 1987, quando Joaquim Francisco deixou o Ministério do Interior, no governo Sarney, de quem João ainda não era tão próximo naquela época, o Nordeste começou a brigar pela indicação do novo ministro. E, nesse caso, se ressalte a importância de Valadares, de Lourival Batista, para aproximar João Alves de Sarney, quando ele virou ministro e foi um grande ministro. Ali João deixava de ser apenas de Sergipe, de ser apenas do Nordeste, e passava a ser o João Alves do Brasil. O País começou a conhecer mais João Alves como escritor, pelas suas obras. E o que João Alves falava naquela época, todo mundo ouvia.

C.S. – Dos últimos governadores sergipanos, dois se foram em um breve espaço de tempo: Marcelo Déda, em 2013, e João Alves, agora em 2020. Você vê semelhanças entre os dois? E quais seriam as principais diferenças entre eles?

J.F. – São coisas diferentes, Marcelo Deda e João Alves. Déda foi o melhor orador que Sergipe já teve. Ele e Fausto Cardoso. Mas João Alves era gestor. Tem um fato interessante, em 2007, quando Nilson Lima, que era secretário da Fazenda de Déda, vai a Assembleia e, sob juramento, diz que o Estado tinha R$ 1,2 bilhão em caixa. Ou seja: João saiu em 2006 mas deixou o governo saneado. Então, João foi o grande tocador de obras, o grande Executivo. Tanto que ele nunca se candidatou para nenhuma eleição no Legislativo. E Marcelo Déda era um grande orador, mas não se pode comparar a gestão e a visão futurista, a realização das obras, com Déda, que tem um outro perfil na história política de Sergipe. O que eu posso dizer é que ambos foram brilhantes.

C.S. – Em 2012, João Alves venceu a prefeitura de Aracaju e, na verdade, essa teria sido a última vitória expressiva da oposição, que tem amargado sucessivas derrotas. Teria sido João, seu carisma e sua capacidade de aglutinação, o responsável por essa vitória oposicionista?

J.F. – Participei de muito perto da eleição de 2012, porque quando ele perdeu a eleição de 2010, ele ficou sem mandato e eu até brincava com ele. Eu dizia, “olhe, João, eu gosto de você fora do poder, porque, fora, você é o Negão. No poder, você é o Galegão”. E ele passou a me procurar muito nesse período, eu ajudei a colocar na cabeça dele que ele devia se candidatar a prefeito de Aracaju e esquecer um quarto mandato de governador, que era com o que ele sonhava de manhã, de tarde e de noite, ser candidato em 2014. E eu mostrei a ele, inclusive num encontro como José Calos Machado, Batalha e ele em minha casa, que ele devia ser candidato a prefeito de Aracaju e encerrar a carreira ali. Ele começou como prefeito e terminaria, em 2016, como prefeito da capital. E eu ajudei muito nesse período, pois tinha os rachas e eu acompanhei isso de muito perto. E ele terminou cedendo e acabou se candidatando. Mas, lamentavelmente, ele começou a ficar doente. Mas ele marcou sua gestão com o Calçadão da Praia Formosa, na 13 de Julho, e outras coisas. Mas a verdade é que ele terminou o mandato já muito doente. Mas a eleição de 2012 teve, sim, a força dele para garantir a sua vitória, sem dúvida.

C.S. – Pra fecharmos: é possível colocar João Alves como o maior governador da história sergipana? E, nos anos vindouros, será que teremos a oportunidade de ver surgir alguém com o mesmo potencial e o mesmo sucesso que João teve em sua trajetória?

J.F. – É difícil encontrar uma outra figura com o perfil de João Alves. As coisas não se repetem na política. Eu diria que nós tivemos, em Sergipe, dois engenheiros visionários, Leandro Maciel, em um outro período da história, e, nos últimos 45 anos, João Alves que, sem sombra de dúvidas, foi o maior realizador de todos os tempos. É muito raro nascer um João Alves na política. E isso também como ser humano, pois ele era muito inteligente, uma pessoa de convicções religiosas profundas, um bom pai, um bom amigo, discreto. Ele era incapaz de, ao a gente contar alguma coisa para ele, e isso sair dali para diante como fofoca. Era uma figuraça. Conviver com João Alves foi um grande presente que Deus me deu em minha vida. E eu ainda tive o privilégio de conviver com João Alves os últimos momentos de lucidez. Uma figuraça! Bem humorado, uma figura de bem com a vida, um sujeito porreta, como a gente diz em Sergipe. Olhe, eu sou afilhado de Leandro Maciel, que foi um grande governador. E quando eu coloco isso aqui, coloco sob o ponto de vista da história: sem sombra de dúvida, João Alves foi o “the best’ na política de Sergipe. Como político, três mandatos de governador, ministro do Interior, duas vezes prefeito da capital. E, como já citei o bêbado lá atrás sobre as obras dele, “pelos frutos conhecereis a árvore”. Então tá aí: João Alves deixou bons frutos, foi uma boa árvore que deixou bons frutos na política de Sergipe.

FRASE

Maior marco como político, como engenharia política de João Alves, foi na eleição de 1986, pois João ficou no governo e fez Valadares governador. Foi uma vitória de João.

Texto reproduzido do site: ajn1.com.br

“Você me ensinou a importância do conhecimento..."


Publicado originalmente no site JLPOLÍTICA, em 27 de novembro de 2020

“Você me ensinou a importância do conhecimento, o que é amor e a me apaixonar pela leitura”

Por Maria de Lourdes Monteiro Alves (Coluna Aparte) *

Com apenas 15 anos, a terceira dos quatro netos do ex-governador João Alves Neto comove o Estado com um texto de muita ternura e de profundo agradecimento pelos afetos e cuidados do avô que se foi. A menina tem DNA turbinado: é também neta de dois dos maiores educadores de Sergipe, Marcos Pinheiro e Vanda Pinheiro. Vale a leitura.

“Desde pequena, acho que uma das coisas que mais escutei na vida foi “minha netinha”. Eu lembro de você̂ me chamando pra mostrar a alguém, com orgulho, algum talento que eu tinha e você̂ tanto valorizava.

Tanto que dizia até que eu era superdotada. Todo domingo me trazia um livro ou filme de presente. Sem falta. E nunca deixava faltar no almoço meu sorvete de coco com amendoim.

Você, em sua intelectualidade, me ensinou a importância do conhecimento, quando me incentivou tanto a assistir filmes que nenhuma criança pensaria em assistir (e eu adorava) e, tão jovem, a me apaixonar pela leitura.

Ensinou-me o que é amor cada vez que se ajoelhou pra me abraçar. Ensinou-me a pensar grande, em toda sua megalomania, quando me deu, nos braços de meu pai, a oportunidade de cortar a fita (de inauguração) de uma ponte que ninguém achou que seria materializada. Até́ que você̂ fez.

Quando construiu a Orla de Atalaia, à qual eu ia todo domingo com papai pro Mundo da Criança, aquilo era minha Disney. Ensinou-me a ter empatia, quando, já́ doente e debilitado, asfaltou o Santa Maria, e todas as vezes que colocou o povo acima da sua vida pessoal e até́ da sua saúde.

Eu gosto de pensar que me pareço com você̂. Na vontade de fazer grande, no empreendedor, no estudioso, no homem cheio de amor e de conhecimento pra dar.

No homem que fundou o Ibama quando ministro de Sarney. Que seus feitos nunca sejam esquecidos, que ideologias políticas nunca tirem sua grandeza. E que você̂ esteja em paz, hoje, ao meu lado.

Tenho medo de te perder, mas você̂ vive na memória do povo. Nos livros que escreveu (com toda sua prolixidade, a quem eu puxei também) e fiz questão de ler cada um.

Eu te amo mais do que cabe em mim. Meu amor por você̂ se estende a todo livro que leio, a todo projeto que lidero, a toda pessoa que ajudo, a todo filme clássico que assisto e a todo sonho que eu sei que você̂ me deixaria sonhar.

Mas, além disso, faria de tudo pra que se concretizasse, por mais louco que parecesse - porque foi justamente a sua megalomania que lhe fez histórico. E isso carrego no peito, com orgulho de ter seu sangue e de ser sua neta. Eu te amo, vô. Pra sempre”.

[*] Ela é filha do empresário João Alves Neto e da educadora Roberta Monteiro, escreveu este texto em suas mídias sociais e foi republicado posteriormente na Agência Jornal de Notícias - AJN1 -, do grupo da família dela, de onde o JLPolítica transcreve - @malumonalves.

Texto e imagem reproduzidos do site: jlpolitica.com.br

'O tempo e os fatos fizeram justiça a João Alves', por Luciano Correia

Publicado originalmente no site JLPOLÍTICA, em 26 de novembro de 2020

Opinião - O tempo e os fatos fizeram justiça a João Alves
Por Luciano Correia * (Coluna Aparte)

Os últimos anos do “doutor João”, como o povo o consagrou, foram um bom exemplo de como o processo histórico vai sedimentando a versão final da biografia dos homens públicos que marcaram seu tempo e lugar.

O João Alves Filho, que já foi tão ideológico, liberal convicto, crítico ferrenho da esquerda, foi cada vez mais se firmando como o gestor, o político que trouxe uma nova visão, o sonho dos grandes projetos, uma novidade no Sergipe historicamente governado por políticos com foco estritamente na política.

O tempo se encarregou de tirá-lo de qualquer classificação política, da velha fórmula direita-esquerda, para instalá-lo no patamar raro dos que exerceram governos desenvolvimentistas, quiçá sob inspiração do exemplo maior do país, o de Juscelino Kubitschek.

Num ambiente envenenado por disputas e perseguições, João Alves sempre demonstrou um desapego às iniquidades da política paroquial. Seus governos sempre foram diversos, feitos de gente de todos os matizes, sem que jamais se ocupasse em apurar procedências ou filiações partidárias.

Trabalhei no seu segundo governo, entre 1993 e 1994, mesmo tendo sido militante notório da esquerda, primeiro do PT, do qual fui fundador e membro da primeira Executiva Estadual de Sergipe, e depois do PCB, o velho Partidão. Éramos os comunistas de Theotônio Neto, o plural e competente secretário de Comunicação que tinha cacife para bancar sua equipe sem precisar justificar nada a ninguém.

Certamente, na cabeça do Negão João Alves, o que importava era também competência e fôlego para aguentar seu repuxo. Quantas e quantas vezes não me vi à meia noite em eventos em Porto da Folha, Monte Alegre ou Cristinápolis, cansado, com fome, sem saber que horas chegaria em casa, e o Negão alucinado em cima de um palanque, falando em coisas como fruticultura irrigada - que realizou no Platô de Neópolis -, irrigação no São Francisco - que implantou nos projetos Califórnia e Jacaré-Curituba, em Canindé.

O Negão encantado com um boom turístico que nunca veio, mas que deixou plantadas, ao menos, as sementes de uma política de turismo para o Estado. O Negão das estradas, como a Rodovia Sarney, uma nova fronteira no litoral sul de Aracaju, embrião da futura Linha Verde sergipana, do Centro de Criatividade, do Teatro Tobias Barreto e de uma visão moderna da cultura, ele próprio um consumidor voraz de livros e de discos, apreciador de Nat King Cole.

Certa vez fui fazer uma matéria com ele, que estava despachando no seu apartamento, e o encontrei numa mesa de trabalho com vários livros de economia e desenvolvimento, rascunhando um artigo para um jornal do sul, ao som baixinho de Unforgettable. O João Negão que, recém-formado engenheiro pela Politécnica da UFBA, foi conhecer projetos de engenharia implantados na Califórnia, quando então se encantou com gente como John Steinbeck de As Vinhas da Ira e com ideias como as do New Deal, o plano econômico de Franklin Delano Roosevelt que tirou os Estados Unidos da depressão dos anos 30. Quantas vezes não ouvi esse nome: New Deal!?

Esse político, essencialmente político, que tinha mais tesão por gestão do que pela própria política, com os erros e acertos que carregava, foi aumentando de tamanho na história do pequenino Sergipe. Mesmo que fizesse um governo desastroso na Prefeitura de Aracaju de 2013 a 2016 – sabe-se agora que já estava bastante doente, a única explicação para um gestor competente fracassar numa missão tão simples para um administrador com sua capacidade e experiência.

O hiato dessa última passagem pela PMA não diminuiu o tamanho de sua biografia e, ademais, só foi crescendo com o tempo, também motivado pela qualidade dos que vieram depois dele no Governo do Estado, um a um, quase todos, maus políticos e piores gestores, até a situação de crise e desmonte a que chegamos, em que o atual governador Belivaldo Chagas luta bravamente para superar, tentando salvar um estado naufragado por gestões negligentes com nosso povo e nosso futuro. O Negão João Alves era um vendedor de sonhos e, para surpresa dos incrédulos, os realizava.

[*] Luciano Correia é jornalista e presidente da Fundação Cultural Cidade de Aracaju – Funcaju.

Texto e imagem reproduzidos do site: jlpolitica.com.br

sexta-feira, 27 de novembro de 2020

'João Alves, uma página da história de Sergipe', por Luiz Eduardo Costa


Publicado originalmente no site F5 NEWS, em 26 de novembro de 2020

Blogs e Colunas - Luiz Eduardo Costa - 26/11/2020
TEXTOS ANTIVIRAIS (38)
JOÃO ALVES E O MAPA DE SERGIPE
(João Alves, uma página da história de Sergipe)

O fato aconteceu na campanha de João Alves, quando ele tornou-se prefeito eleito de Aracaju. Antes, quando surgiu o engenheiro realizador, ele fora nomeado pelo governador José Rolemberg Leite. Naquela campanha, João mal acabara de concluir o seu terceiro mandato de governador, tendo, num interregno, sido Ministro do Interior por quatro anos, do presidente José Sarney.

Seus marqueteiros buscavam demonstrar a capacidade realizadora de João, e mostraram, na televisão , um mapa da cidade de Aracaju. Como num jogo de armar figurinhas, foram retirando pedaços da cidade. No mapa, restaram grande manchas brancas.

E eles então foram explicando o que era cada peça retirada do espaço contendo a cidade, e revelando o que significavam aquelas peças.

Sem dúvidas, a cidade ficou mutilada de forma impressionante. Sumiram a Orla da Atalaia, a Coroa do Meio, o Parque do Morro do Urubu, a Orla José Sarney, as pontes, Aracaju-Barra; do rio do Sal, do rio Poxim; diversas avenidas, praças, postos de saúde, conjuntos habitacionais, ginásios; o Teatro Tobias Barreto, o Centro de Criatividade, o Hospital de Urgência; este, agora, por decreto do governador Belivaldo, voltando a ser chamado Hospital João Alves. O nome foi retirado por determinação do MP em obediência à lei que proíbe a denominação de pessoas vivas aos locais públicos.

João Alves agora está morto, assim, é tempo para que se relembre o significado completo dele num mapa mais extenso, o de Sergipe.

O que ele conseguiu fazer salta à vista, é, de fato, impressionante.

Quando João assumiu o seu primeiro mandato eletivo em 1983, chegou, com ele, uma ousada ideia de desenvolvimento. No pequeno Sergipe, desprovido de recursos, de influência política, pensar em grandes empreendimentos tocados pelo próprio estado, seria juízo de menos, ou demagogia demais.

Tantos outros governadores antes tiveram ousadias imensas, mas João, em três mandatos, acumulou uma soma de realizações portentosas.

João chegou ao governo com uma ideia fixa, que ele já havia maturado em estudos alongados, e em viagens pelo mundo, onde fazia suas observações e recolhia experiências.

Na cabeça de João Alves vivia a crepitar constantemente uma espécie de fogo inquietador de ideias que se amontoavam, e era preciso formatá-las, dando-lhe a forma de projetos viáveis, e, sobretudo, escorados numa viabilidade financeira que teria de ser conseguida.

Ou seja, tudo era mesmo uma ilimitada ousadia.

Havia uma dose do quase desatino, naquela esperança que as vezes atropelava a precaução e o bom senso.

João Alves agia em duas frentes. Na execução dos projetos, e na articulação política, para assegurar os incertos cruzeiros que a inflação ia corroendo, entre a noite e o dia. Isso gerava uma operação que se chamava “over night”, as aplicações a curtíssimo prazo resultando em ganhos absurdos, o que desnudava a fragilidade de uma base financeira em frangalhos, desencorajando investimentos, e afastando do cenário econômico qualquer vestígio de previsibilidade.

Foi nesse clima que João ousou alavancar em Sergipe, grandes investimentos públicos.

Tinha, ao seu lado, os dois encarregados da engenharia de ferro e cimento; e da outra, igualmente complexa: a engenharia com as fontes de recursos. Eram eles, o engenheiro Jose Carlos Machado, e o economista Antônio Carlos Borges.

Assim, nesse clima de total insegurança atravessou seu primeiro mandato, (1983 – 1987) e o segundo, já em parte afetado pelo Plano Real, ( 1991 – 1995).

Foi num clima conturbado como esse, que João Alves conseguiu construir em Sergipe quatro grandes perímetros irrigados de grande porte. Sua obra portentosa não se resume nisso, mas será possível sintetizar nelas, a criatividade e o arrojo.

O Califórnia, uma obra desafiadora no semiárido, nas lonjuras ainda despovoadas de Canindé do São Francisco. Houve a captação da água no São Francisco, a adução a uma altura de 170 metros, o sistema de bombas potentes, a adutora, o labirinto de canais.

O Califórnia abriu passagem para que João recebesse o apelido de “João da Agua,” e penetrasse pela aridez sertaneja, concretizando a esperança da água, e viabilizando a produção.

Depois, veio o Jabeberí, armazenando água numa calha enorme entre serranias, e possibilitando a irrigação; fazendo a vocação comercial de Tobias Barreto se revelar também na pecuária leiteira, na agricultura.

O Platô de Neópolis, é o maior de todos, desfazendo a ideia passadista de que em terra ruim não se consegue produzir. Mais uma vez, retirando a água do São Francisco, bem mais perto da foz, onde agora já existe a ameaça de salinização. Esse avanço do mar sobre o Rio Doce, está a exigir a montagem de um sistema de proteção do baixo São Francisco, talvez, uma gigante barragem de foz. Mas isso já é uma outra história, e que nem pode ser sonhada agora, quando, gerada no governo central, se espalha pelo país uma outra pandemia de incertezas.

Finalmente, os lagos imensos e as barragens enormes, fazendo agregar ao dinamismo econômico de Lagarto, e Itabaiana, mais dois instrumentos de desenvolvimento. O perímetro irrigado Dionísio Machado, e o Jacarecica -1

Esses cinco perímetros, resultam de uma ação impressionante de rápida coleta de dados e informações, em locais de difícil acesso, como então era Canindé do São Francisco, e com um precário conhecimento da estrutura e composição dos nossos solos. Como se definiram os locais, como se estudaram tão rapidamente os solos, como se processaram as obras em condições tão adversas? Isso é algo que só faz aflorar a visão de João Alves, e a sua incomum ousadia criativa.

Toda essa história ainda está para ser devassada e contada.

Nela, será instigante buscar aferir a dimensão de Maria do Carmo Alves, naquele tempo em que João andava a fazer essas coisas assim, quase impossíveis.

Jose Carlos Machado poderia fazer um cálculo. Sairia juntando a superfície dos perímetros, de todas as obras de João, para depois revelar no nosso mapa, qual a proporção delas. É possível que, juntas, ultrapassem os mil quilômetros quadrados.

É bom lembrar que Sergipe só tem vinte e dois mil quilômetros quadrados de superfície.

Texto e imagem reproduzidos do site: f5news.com.br

quarta-feira, 25 de novembro de 2020

"João, o garoto que viu o futuro", por Márcio Rocha

Texto publicado originalmente no site F5 NEWS

João, o garoto que viu o futuro

 Blogs e Colunas - Marcio Rocha - 25/11/2020

Um garoto nascido no bairro Santo Antônio, em 3 de julho de 1941, chamado João, filho de um senhor chamado João, acompanhava seu pai na construção de casas para as pessoas de uma cidade que estava em crescimento, Aracaju, nos anos 1950, quando ainda não existia uma política de financiamento imobiliário para as famílias da capital dos sergipanos que avançava em desenvolvimento, junto com a elevação de sua população e urbanismo. Ele, assim como seu pai, queria construir. Cresceu, formou-se em Engenharia e começou a trabalhar na Construtora Alves, junto com seu pai, ajudando famílias a erguerem sonhos e felizes realidades. Na construção, ele via o futuro.

Ele queria mais, queria trabalhar por uma cidade, por seu povo, por seu semelhante. Engajado politicamente, conseguiu obter destaque e assumiu a Prefeitura de Aracaju em 1975, substituindo um homem comprometido com a saúde da população, Cleovansóstenes Pereira de Aguiar. João viu uma cidade que precisava ser preparada para ser o colosso de Sergipe, aumentando muito o seu tamanho. Planejou a ação de crescimento ordenado da cidade criando vias de acesso, corredores de escoamento de trânsito quando nem se falava no excesso de carros e de pessoas de nossa cidade. Ao final de seu mandato, 14 avenidas estavam prontas, muitas delas passando por lugares que eram grandes descampados e que ainda não tinham sinais de presença da civilização. Aracaju tinha além do centro e do norte, uma zona sul, área essa que anos depois seria a mais disputada para moradias e que cresceria de modo avassalador, para abrigar a maior parte da população de uma cidade que ao final do seu mandato tinha pouco mais de um terço do que teria 40 anos depois, durante seu segundo mandado como prefeito da cidade que tanto amou. João Alves governou para 240 mil aracajuanos, o que mais de 700 mil vivem hoje em seu cotidiano. Na cidade, ele pensou o futuro.

"Quando um projeto estratégico de desenvolvimento urbano resolve os problemas do presente, faz uma projeção para o futuro”, dizia o construtor.

Com isso, em 1982 ele vence a eleição para o governo do estado, no primeiro turno. Desse governo surgiram programas importantes e ainda hoje lembrados pela população que vive uma nova realidade pensada por ele, quando pensou no futuro. Ele queria levar água para os sergipanos. Desenvolveu um sistema de abastecimento que trazia água do São Francisco, para as casas dos sergipanos, com o mecanismo das adutoras. O programa “Chapéu de Couro” ainda é lembrado por grande parte da população sertaneja como um processo transformador de realidade do povo do interior sergipano. Açudes, barragens, aquedutos, cisternas, poços artesianos, para levar água às pessoas que mais tinham necessidade, além da abertura de estradas para o escoamento da produção agrícola. Combatendo a seca e a miséria no campo, ele entendia que no pequeno agricultor, estava o futuro.

Seu trabalho foi reconhecido, a ponto de um já experiente político ser convidado para ser titular do Ministério do Interior. Sua preocupação com obras estruturantes e valorização da natureza marcaram o período em que comandou a pasta no governo Sarney, defendendo incansavelmente o ecossistema amazônico, impedindo o processo de intervencionismo. O que resultou no “Código Florestal”, mecanismo que ainda hoje é atual e serve para proteger as florestas e biomas individuais das regiões brasileiras. João viu que da natureza dependia o futuro. Natureza que ele defendeu ao não aceitar intervenções no rio São Francisco, maior bacia hidrográfica do Nordeste e principal alimentador do abastecimento de água de Sergipe, porque nele, almejou o futuro.

Em seu segundo governo, depois de vencer a eleição de 1990, o desenvolvimento econômico era seu foco, ele via que o futuro dependia da expansão das atividades comerciais e industriais, e como se daria isso? Por meio da expansão agrícola. João Alves mais uma vez pensou à frente do seu tempo e desenvolveu o projeto “Platô de Neópolis”, projeto mais avançado de fruticultura irrigada do Brasil, até então. Na época, foram mais de 7 mil hectares, que geravam 20 mil empregos diretos na produção agrícola, alimentando toda a cadeia de abastecimento, indústria alimentícia e comércio dos centros urbanos de Sergipe. Junto com isso, veio a ampliação rede de abastecimento aquífero do estado, com 1.760 km de adutoras levando água para capital, interior e principalmente para o povo sertanejo. Na água, ele entendeu o futuro.

 Ainda em seu segundo governo, surgiu a obra de maior monta da história de Sergipe, o que colocou o estado dentro do roteiro turístico nacional, a Orla da Atalaia. Em sua primeira configuração, com bares modernizados, ambiente com alto grau de higiene e ambientes plurais para o lazer de crianças, jovens e adultos. Os famosos arcos ainda são o principal cartão postal do nosso estado. Cartão postal revitalizado e reconstruído em seu terceiro mandato, em 2003, com a configuração que existe atualmente. Mas há 30 anos, ele pensou no futuro.

O futuro dos sergipanos era sua preocupação, seu grande ímpeto continuava sendo construir. Em seu terceiro mandato, revolucionaria a vida dos aracajuanos, barra-coqueirenses, além das pessoas de municípios que hoje contam com a ponte “Construtor João Alves” como além de um cartão postal, uma ligação de uma região considerada altamente pobre com o desenvolvimento e crescimento econômico. Pelas vias da ponte chegaram benefícios implantados por seus sucessores, mas que se não houvesse a visão de futuro do seu predecessor, poderiam não ter sido realidade. A Barra dos Coqueiros deixou de ser uma cidade pequena, para se tornar um centro urbano residencial de alto valor, além da chegada da Celse e da ampliação da cadeia produtiva do gás natural, hoje uma transformação constante. Não sei se ele pensou nisso, quando fez o exercício da clarividência, mas lá, ainda em 1994, ergueu o Porto de Sergipe e agora sairá do papel, por meio da cadeia produtiva do gás, uma versão do seu sonhado Polo Petroquímico. Com essa obra, acelerou o futuro.

O menino do bairro Santo Antônio viu uma cidade que poucos imaginavam, cresceu e viu um estado que poucos acreditavam, trabalhou e fez disso uma bela realidade. Que seu exemplo inspire e novos garotos vejam o futuro...

Texto reproduzido do site: f5news.com.br

'João, você foi o maior de todos' , por Clara Angélica Porto

Texto publicado originalmente no Facebook/Clara Angelica Porto

João, você foi o maior de todos
Por Clara Angélica Porto

Brasilia, a 70 km. Em um carro em velocidade (estávamos atrasados), seguimos para a emissora de televisão onde o Ministro estava sendo aguardado para gravar uma entrevista. Com o gravador ligado, eu e João Alves Filho começamos a nossa entrevista para o jornal O Que. Eu sempre ficava impressionada com a rapidez e clareza de raciocínio daquele homem.

Chegamos à televisão e desliguei o gravador. Continuaríamos depois. Ao chegarmos ao estúdio da TV, percebi que dr. João estava suado. Precisava preparar-se para ir ao ar. Falei com alguém e me disseram que havia uma sala de maquiagem, mas o maquiador não estava. Convidei dr. João a ir comigo. Refresquei-lhe a pele com uma loção, passei um pouco de base sem brilho e ele ficou ótimo, pronto para a entrevista. Brilhou! Aliás, não era nenhuma novidade. João Alves não era somente um grande empreendedor, o maior político de Sergipe, o maior governador do estado, ele era um dos homens mais brilhantes que já conheci.

“O mundo é feito pelos que sonham”, disse-me em entrevista. “Sou um mestre de obras que sonha grande”, disse-me também.

Foram muitas as entrevistas, foram muitos os momentos de conversa descontraída, que sempre me deixavam admirada pela inteligência cognitiva e emocional daquele homem.

Ele nunca perdia o fio da meada. Certa vez,  quando me recebia em sua residência, começamos a conversar de gravador ligado. Minutos depois, alguém entrou e lembrou-lhe que tinha que ir a um enterro. Olhou para mim e me pediu que ficasse e esperasse por ele. Colocou um vídeo de um balé russo e disse: “É lindo, vejo sempre. Antes que acabe estarei de volta”. E, virando-se para o emissário: “Mande trazer doce de araçá”. Era o doce preferido de João Alves. Fiquei ali, encantada com o vídeo, confortavelmente instalada no sofá, comendo doce. Uma hora depois ele voltava, e quando eu ia ligar o gravador para ele ouvir as últimas frases, ele sorriu aquele sorriso enorme e disse: “Não precisa. Sei exatamente onde fiquei”. E continuou o pensamento como se não houvesse sido interrompido.

Mente ágil, coração brando e sensível, olho de águia, ele percebia todas as coisas de imediato e sabia como poucos lidar com as circunstâncias. Para ele, crises eram oportunidades e citava o significado de crise em chinês.

Um dia, minha ajudante foi atender o telefone e voltou com os olhos arregalados: “D. Clara, acho que é trote. Tem um homem dizendo que é o governador João Alves Filho”. E era. Estava mandando um carro para eu ir tomar o café da manhã com ele. “Venha comer cuscus com ovos comigo, preciso falar com você”.

Sempre tínhamos conversas intermináveis que eu acabava transformando em artigos ou análises. A inteligência de dr. João me fascinava. Tínhamos uma admiração mútua e daqueles olhos sempre sorridentes, recebi muita aprovação.

João Alves acreditava em mim. Fomos mais que a jornalista e a autoridade, fomos amigos. Eu o adorava e não fazia segredo disso. Era grande a minha admiração por aquele homem que sonhava grande e realizava. O maior empreendedor público de Sergipe. Sergipe é um antes e depois de João Alves. Aracaju também.  Por onde ele passava, virava canteiros de obras enormes que iriam mudar a economia, gerar empregos, mudar a aparência. Fotos de Aracaju antes de João e depois de João, mostram o impacto das mudanças.

João Alves era um homem bom. Disse-me que mesmo em meio a campanhas, quando chegava em casa de madrugada, rezava o terço ajoelhado antes de dormir.  Podia estar cansado como fosse, mas desse momento não abria mão. E acordava muito cedo. O homem era incansável. O homem tinha visões impossíveis, mas como não acreditava no impossível, corria para realizar.

Sergipe muito deve a João Alves Filho, o filho do construtor João Alves, de quem tinha muito orgulho e dizia que foi dele, do pai, que veio o empreendorismo, “foi de meu pai que nasceu o mestre de obras”. Sim, um verdadeiro mestre, não só de obras, mas da arte de governar e viver. Que líder que perdemos.

Quando soube que dr. João tinha Alzheimer, fiquei imensamente triste. Como podia aquele cérebro tão privilegiado, ficar doente? João Alves perdeu o que tinha de mais forte, a mente. A partir daí, a vida já não lhe era mais tão significativa, pensei. Confesso que fiquei revoltada com a peça que o destino pregara a dr. João; e inconformada.

Hoje, a notícia da morte de dr. João, não me pegou de surpresa. Todos já sabíamos, já esperávamos por isso. Pensei: “descansou, dr. João, o senhor precisava mesmo descansar”.  Minha tristeza é imensa e profunda. Perdi um amigo, que conversava olhando nos meus olhos, que me apoiava e prestigiava. Mas a tristeza de hoje, a tristeza do fim, é menor que a tristeza que senti quando soube que ele já não reconhecia as pessoas, que o cérebro já estava completamente comprometido pelas névoas da doença.  Foi difícil saber que aquele homem excepcional tinha sido abatido naquilo que tinha de mais forte, de mais brilhante: a mente. Chorei muito e comuniquei-me com Aninha Alves, por quem sempre nutri muita ternura, o contato com ela de uma certa maneira me ofereceu consolo. Dr. João era muito apegado a Aninha e se preocupava muito com ela.

Estou muito triste hoje. Perdi um amigo. Perdi uma fonte de inspiração. Meu coração está de luto. Sergipe está de luto. Perdeu seu maior mestre de obras.

Texto reproduzido do Facebook/Clara Angelica Porto

Homenagem a João Alves Filho (1941 - 2020)