quarta-feira, 28 de julho de 2021

Monsenhor lagartense é homenageado com biografia ao completar 93 anos

REGISTRO de publicação no site Lagartense, em 03/12/2019

Texto publicado originalmente no site LAGARTENSE, de 3 de dezembro de 2019

Monsenhor lagartense é homenageado com biografia ao completar 93 anos

Fundador do Colégio Arquidiocesano, Monsenhor Carvalho é destaque na educação sergipana.

Por Thiago Farias

No último sábado, 30, o ilustre lagartense Monsenhor José Carvalho de Sousa comemorou 93 anos de vida. Na ocasião, ele foi homenageado pela escritora Karine Belchior de Souza com a publicação de um livro biográfico denominado: “Monsenhor José Carvalho de Sousa: Uma vida, uma obra”.

A solenidade contou com a presença de personalidades como o ex-secretário de Estado da Educação, Jorge Carvalho, professores da Universidade Federal de Sergipe (UFS) e o Senador da República por Sergipe Rogério Carvalho (PT), que é sobrinho do Monsenhor.

“O Monsenhor que também é um grande mestre da educação deixa este registro histórico para milhares de sergipanos com a brilhante contribuição de Karine Belchior de Souza. Neste livro, falo da nossa relação como família e sobre a admiração que cultivamos ao Monsenhor Carvalho”, disse o parlamentar.

A obra do lagartense

Nascido em 24 de novembro de 1926, em Lagarto, José Carvalho de Sousa descobriu a sua vocação sacerdotal aos 18 anos e, embora tenha sido desacreditado pela sua famílias, em 1956, já com 30 anos de idade, ele foi ordenado Padre, logo após ter seu segundo curso superior reconhecido. A partir daí, ele ganha destaque nos âmbitos religioso e educacional.

Tanto é que com um ano de ordenamento, ele foi nomeado reitor do Seminário Arquidiocesano e capelão da Igreja S. Coração de Jesus, em Aracaju. Até o seminário passou por dificuldades e ele mostrou a sua visão empreendedora ao fundar um educandário para conseguir recursos.

O projeto deu tão certo que, em 1959, ele é convidado para fundar um ginásio, no mesmo prédio onde funcionava o seminário. Ele aceita e em 1960, o Ginásio Diocesano “S.Coração de Jesus” inicia suas atividades na Praça Camerino, 181, em Aracaju, atendendo apenas a alunos do sexo masculino. Mas para evitar a saída dos alunos do Ginásio, ele o transforma no Colégio Arquidiocesano “S.Coração de Jesus”, oferecendo à comunidade todos os ciclos de ensino.

Religioso é fundador do Colégio Arquidiocesano de Aracaju

Mas o projeto precisava crescer e ele, recorre a Alemanha para angariar recursos. A ideia deu certo e a expansão veio com a transferência do Colégio Arquidiocesano para a rua Dom José Tomaz, 194, onde está até hoje.

De Padre a Monsenhor

Diante do tamanho da sua obra, em 1968, o padre é nomeado Conselheiro do Conselho Estadual de Educação pelo governador do Estado, Lourival Baptista. No ano seguinte, é eleito presidente da Associação Católica de Sergipe. Em meados de 1975 é nomeado Cônego Catedrático do Cabido Metropolitano da Arquidiocese de Aracaju, pelo arcebispo de Aracaju, Dom Luciano José Cabral Duarte.

Além disso, no ano seguinte, ele foi nomeado Diretor-Presidente da Rádio Cultura de Sergipe, o que lhe deu condições de ser eleito presidente da Associação de Rádios, Televisão e Jornais do Estado de Sergipe (ASSERT).  Em 1998, foi nomeado membro titular da Academia Brasileira de Arte, Cultura e História de São Paulo, até que em 2002 o Papa João Paulo II muda sua denominação e ele deixa de ser padre para ser Monsenhor.

Monsenhor também integra a Academia Lagartense de Letras

Já no dia 14 de novembro de 2006, o Monsenhor lançou seu primeiro livro, intitulado “Presença Participativa da Igreja Católica na História dos 150 anos de Aracaju”. E no próximo dia 05 de dezembro, ele, o historiador Claudefranklin Monteiro e o saudoso Luiz Antônio Barreto serão empossados na Academia Sergipana de Educação.

Texto e imagem reproduzidos do site: lagartense.com.br

quinta-feira, 22 de julho de 2021

Jornalista e artista plástico Luiz Adelmo deixa legado para cultura sergipana

Imagem com arte da Ascom/Funcaju

Publicação compartilhada do site da PMA, em 20 de julho de 2021

Jornalista e artista plástico Luiz Adelmo deixa legado para cultura sergipana

A irreverência, o sarcasmo e a contundência eram as marcas mais emblemáticas de Luiz Adelmo Soares de Souza, falecido nesta terça-feira, 20. O estanciano era dono de um conhecimento cultural e social incomparável, e distribuiu sabedoria, críticas e análises durante anos através das suas colunas sociais, quadros televisivos e radiofônicos na imprensa sergipana. Aos 79 anos, Luiz Adelmo se despede deixando o seu nome marcado na história cultural de Sergipe.

Jornalista, artista plástico, curador e cerimonialista, Luiz Adelmo, além de personagem importante da imprensa sergipana, também marcou o seu nome na gestão pública. Ele ocupou cargos de destaque pela competência e contribuição no desenvolvimento de políticas públicas, sobretudo, daquelas voltadas para o segmento cultural.

“A morte de Luiz Adelmo representa uma perda muito grande para a cultura e comunicação sergipana. Ele era um personagem da nossa contemporaneidade com muitos talentos e em todas as áreas que pôs o pé, fez sucesso. Na comunicação foi colunista social que revigorou essa linguagem do jornalismo sergipano, e desde os anos 60 foi um dos principais colunistas da cidade. Tinha uma verve literária muito forte, com público cativo, capaz de despertar ao mesmo tempo ódio e paixões”, lembra Luciano Correia, presidente da Funcaju.

Luiz Adelmo dirigia a Galeria de Artes Álvaro Santos, unidade da Fundação Cultural Cidade de Aracaju (Funcaju), um momento emblemático para a vida do artista e jornalista. “Meu irmão até criou a sua própria galeria, mas o sonho dele sempre foi dirigir a Galeria Álvaro Santos. Era o sonho dele que se tornou uma realidade com Edvaldo, que gostava demais do meu irmão e sabia da capacidade dele”, conta a irmã de Luiz Adelmo, Tânia Soares.

À frente da Galeria Álvaro Santos, Luiz Adelmo realizou inúmeras exposições, democratizando o espaço e permitindo que tanto artistas de nomes carimbados, quanto aqueles novos no segmento cultural, tivessem espaço dentro da unidade municipal. “Ele tinha muita sensibilidade para encontrar artistas novos, de descobrir esses talentos. E na Álvaro Santos, uma das coisas que ele mais amava era o Salão dos Novos”, comenta a irmã.

A trajetória profissional de Adelmo abriu caminhos também em outros nichos culturais do Brasil. O sergipano tinha portas abertas em diversas casas culturais, ao lado de grandes nomes da cultura brasileira, participando de eventos como a Bienal de São Paulo.

“Como artista plástico, ele foi importantíssimo porque sempre atuou no sentido de organizar o segmento das artes visuais em Sergipe. Foi dono de galerias e era um artista com linguagem refinada. Teve passagens pelo Sul do país, no teatro, na comunicação, na cultura. Trabalhou com gente de renome no cenário nacional, carregando influências das mais altas esferas que ele frequentou em Sergipe e fora daqui. Deixa um legado de uma trajetória muito rica e de muitas realizações”, destaca Luciano.

O corpo de Luiz Adelmo está sendo velado nesta terça-feira na OSAF, em Aracaju, e logo em seguida será cremado.

Texto e imagem reproduzidos do site: aracaju.se.gov.br

quarta-feira, 21 de julho de 2021

O Conservador Iconoclasta Chocou os Conservadores

Foto reproduzida Facebook/Nestor Amazonas e postada pelo blog

Texto compartilhado do blog Educação História e Política, em 21 de julho de 2021

O Conservador Iconoclasta Chocou os Conservadores 

LUIZ ADELMO

Por Jorge Carvalho do Nascimento*

Jornalistas que fazem coluna social normalmente são vistos como pessoas que vivem promovendo a vida glamourosa de ricos e poderosos e em alguns momentos entendidos como profissionais que se dedicam a bajular os grupos da elite econômico e os filhos das famílias ditas tradicionais.

Nos últimos anos tenho me dedicado a estudar, pesquisar e escrever sobre o tema e quanto mais me aprofundo fico convencido de que não é bem assim. A coluna social, como qualquer outra prática humana comporta as distintas dimensões daquilo que somos nós humanos no modo como vemos os outros e como somos vistos pelas outras pessoas.

A morte nesta terça-feira, 20 de julho de 2021, do jornalista Luiz Adelmo Soares de Souza, outra vez me chama a atenção para o quanto todos nós somos complexos e contraditórios. Inteligente e sagaz, ele encarnou ao mesmo tempo, ao longo da sua produtiva vida, distintos personagens que o fizeram conservador e revolucionário.

A começar pelos distintos papéis que desempenhou. Além de jornalista e colunista social de muito prestígio, Luiz Adelmo, filho de Adelaido, um conhecido militante de esquerda que viveu a maior parte da sua existência na cidade sergipana de Estância, cercado por uma família católica que o fez o primeiro menino a ser admitido no colégio das freiras daquela localidade.

Aos 11 anos de idade Luiz Adelmo foi mandado para um seminário pelos seus familiares, esperançosos em vê-lo ordenar-se frade franciscano. Não era isto que o jovem desejava. Caiu na vida e se fez bancário, em Aracaju. Talvez por contestar a autoridade paterna, politicamente se fez conservador.

De outra perspectiva, talvez por admirar a figura paterna, cultivou ótimos relacionamentos com líderes da esquerda, principalmente alguns ligados ao Partido Comunista, como o seu ex-cunhado Edvaldo Nogueira e o expressivo líder comunista sergipano Wellington Mangueira.

No início da década de 60 do século XX, viveu entre o Rio de Janeiro e São Paulo, privando do relacionamento de figuras que chocavam os padrões conservadores da família brasileira, como a atriz Leila Diniz, com quem participou da produção do eterno espetáculo teatral TEM BANANA NA BANDA.

Antes de partir para o Rio de Janeiro chocou a acanhada sociedade aracajuana ao instalar na ainda inexplorada praia de Atalaia o bar Barracão, espaço no qual os descolados de Aracaju podiam se entregar aos prazeres do rock e da bossa nova, das drogas lícitas e algumas ilícitas, e encontrar pessoas dispostas aos prazeres do amor e do sexo fora do casamento, o que fazia tremer as estruturas das famílias de uma sociedade na qual o comportamento buscava os caminhos da tradição, família e propriedade.

O jornalista Pedrito Barreto registrou com muito entusiasmo, no ano de 1978, em sua coluna no jornal Gazeta de Sergipe, uma nova iniciativa de Luiz Adelmo como empresário da noite: a inauguração da boate 147, na praia de Atalaia, mais um espaço que encantou os descolados de Aracaju e que atraiu os nomes jovens que frequentavam a noite aracajuana.

A Aracaju que via TV recebendo o sinal da Televisão Jornal do Comércio, da cidade do Recife, distribuído na capital de Sergipe pela antena repetidora instalada no Morro do Urubu, viu, entre atônita e extasiada, um Luiz Adelmo circulando com desenvoltura no programa Almoço Com As Estrelas, apresentado pelo casal Airton e Lolita Rodrigues na TV Tupi de São Paulo, principal emissora da rede dos associados fundada por Assis Chateubriand.

Contribuindo ao seu modo, o jornalista Luiz Adelmo consolidou em Sergipe um estilo novo de fazer coluna social nas décadas de 60 e 70 do século XX. O estilo passou para outros jornais diários e revistas, através de colunistas como Ricardo Boechat e Carlos Leonam, com os quais ele aprendeu no Rio de Janeiro e em São Paulo.

O mesmo estilo posteriormente solidificado por jornalistas como Ancelmo Gois, Joyce Pascowitch e Mônica Bérgamo, no Rio e em São Paulo. Aquele jeito de escrever na coluna social, reificado em Sergipe por Luiz Adelmo, fez escola e ganhou adeptos que continuaram ocupando espaço até a primeira década deste século XXI, a exemplo do jornalista Osmário Santos.

Luiz Adelmo Soares assumiu a titularidade da coluna Gazeta Social na edição do dia 29 de dezembro de 1965 do jornal Gazeta de Sergipe. Chegou com um estilo que foi considerado novo, apresentado por R. C. de Souza, pseudônimo utilizado pela advogada Zelita Correia para assinar a sua coluna.

R. C. de Souza assinou a coluna durante 10 meses. No dia 25 de dezembro daquele mesmo ano, em uma nota elegante, ela anunciou o seu afastamento e a presença de um novo titular. “A partir da nossa edição de quarta-feira a coluna social da Gazeta de Sergipe será escrita pelo jovem bancário Luiz Adelmo Soares, pessoa que, melhor que a colunista atual, preencherá os requisitos de outra verdadeira crônica social em nossa imprensa. O Luiz Adelmo estudou teatro em S. Paulo, é um jovem culto e inteligente com quem todos vocês ficarão satisfeitos”.

Luiz Adelmo publicou uma nota informativa ao assinar a coluna pela primeira vez: “A partir de hoje deixa de escrever a colunista R. C. de Souza (nossa querida Zelita), a quem desejamos pleno sucesso na nova carreira que abraçou (a advocacia) e agradecemos os elogios dirigidos ao cronista. Da sociedade espero contar com o mesmo carinho dirigido à minha antecessora”.

Importante anotar que o cenário dos anos 70 e 80 do século XX na crônica social publicada pela imprensa de Sergipe foi dominado por nomes como os de Karmen Mesquita, Pedrito Barreto, Lânia Duarte, Clara Angélica Porto, Leilinha Leite (pseudônimo do jornalista Ivan Valença), Maria Luiza Cruz, Luduvice José, João de Barros, Paulo Nou e Luiz Adelmo Soares de Souza.

Luiz Adelmo Soares de Souza, do mesmo modo que Leilinha Leite, certamente teve o mérito de inovar a linguagem e o estilo da crônica social. Fez com que esse tipo de jornalismo fosse não apenas o registro de bailes, casamentos, jantares e recepções glamourosos, mas incorporasse também o noticiário de fatos da vida política e econômica, mesmo quando os personagens envolvidos eram pessoas de pouco glamour.

Nascido em 1942, permaneceu no seminário dos frades franciscanos durante cinco anos e aos 16 anos de idade desistiu de ingressar no clero, voltando a Estância, sua cidade natal, e logo depois indo viver em São Paulo por três anos, quando trabalhou em uma indústria e estudou artes plásticas e artes cênicas.

Na idade de ingresso no serviço militar estava em Brasília, como soldado do Exército, atuando na segurança do gabinete do ministro da Guerra, marechal Odílio Denys, durante os governos de Juscelino Kubitscheck e Jânio Quadros. Concluído o período obrigatório de serviço militar retornou a Sergipe e trabalhou como bancário e jornalista.

Iniciou-se no jornalismo trabalhando no Sergipe Jornal, de propriedade do então deputado federal José Carlos Teixeira. Na condição de repórter alargou o seu círculo de relações e fez contato com as lideranças da vida política e econômica de Sergipe e saiu do Sergipe Jornal para ser colunista na Gazeta de Sergipe.

Com Luiz Adelmo, a Gazeta Social ganhou um perfil diferenciado, aprofundando a experiência da coluna Background que Anderson Nascimento comandou entre 1963 e 1964. A diferença fundamental era de natureza ideológica. Enquanto Anderson vinha da militância política de esquerda, Luiz Adelmo, que recebera formação religiosa e militar, tinha um perfil político mais à direita, apesar de filho de Adelaido, nascido em Riachão do Dantas e conhecido militante comunista.

Muito avançado para os padrões sergipanos quanto aos costumes, por sua formação junto aos grupos de artistas quando vivera em São Paulo, as posições políticas conservadoras de Luiz Adelmo e a sua formação militar abriram generosos espaços para as lideranças militares que passaram a ocupar espaço com citações frequentes na Gazeta Social.

Ainda na primeira coluna assinada por Luiz Adelmo, tal pauta ficou visível. “Florival Santos que expôs em Salvador em julho deste ano (com absoluto sucesso), está pintando o retrato da Sra. Cel. Tércio Veras. O quadro do Florival deverá enriquecer o adress da residência do casal”.

O fato é que Luiz Adelmo produziu um jornalismo diferente e teve condições de aprofundar o estilo que Anderson Nascimento iniciara. Não há explicação para o fato de a partir da edição do dia 18 de janeiro de 1966 a denominação da sua coluna haver sido modificada, assumindo o título de Em Sociedade. Todavia, foi mantido o nome do mesmo Luiz Adelmo como jornalista responsável.

Uma nova mudança ocorreu no dia 24 de maio daquele ano, quando a coluna assumiu o nome do colunista como sua denominação: Luiz Adelmo. A sua última coluna na Gazeta de Sergipe foi assinada no dia dois de fevereiro de 1967 e dedicada a posse de Lourival Baptista no cargo de governador do Estado de Sergipe.

“A posse do novo Governador Lourival Baptista foi de grande repercussão nacional e contou não só com o representante do Presidente da República, Brigadeiro Parreiras Hortas, como também com a presença do Governador Lomanto Junior, da Bahia; Lamenha Filho, de Alagoas e João Agripino, da Paraíba; o Comandante da 6ª Região, Gen. Augusto Tinoco; além de grande comitiva de deputados da Bahia e parentes do novo Governador”.

Nem o jornal e muito menos o jornalista deram qualquer satisfação acerca do encerramento das atividades da coluna e do seu afastamento do periódico. A presença de Luiz Adelmo na Gazeta de Sergipe outra vez fez com que se cumprisse a saga de alta rotatividade entre os jornalistas dedicados a coluna social. Ele permaneceu na Gazeta de Sergipe apenas durante 13 meses.

A colunista que o substituiu, Ilma Fontes, também praticou um estilo no gênero que se diferenciava do lugar comum das colunas. Trilhou um pouco das sendas de Anderson Nascimento e de Luiz Adelmo, desde a primeira nota que publicou. “Ciranda é uma peça-estudo organizada com músicas populares infantis e poemas de Amaral Cavalcante”.

Quando a Gazeta de Sergipe celebrou o seu décimo segundo aniversário (antes era Gazeta Socialista), a jornalista Clara Angélica Porto estreou como colunista social. Na edição do dia 14 de janeiro de 1968, ao assinar a coluna Vida Social pela primeira vez, Clara anunciou num texto de abertura aquilo que pretendia realizar.

“Depois de desaparecer por alguns dias, volta agora mais uma coluna social da Gazeta de Sergipe. Esperamos que a nossa maneira de ver a vida social agrade aos nossos leitores, pois procuramos dar o máximo de nós. Aos domingos faremos uma reportagem mais ampla, com entrevistas e notícias várias, a fim de não nos tornarmos monótonos. Vida Social deseja a todos os seus leitores um 68 cheio das coisas boas que o mundo ainda tem”.

A coluna manteve um padrão próximo àquele seguido por jornalistas como Anderson Nascimento, Luiz Adelmo e Ilma Fontes, porém em tom mais brando e menos revelador das paixões ideológicas da jornalista, o que não impediu Clara Angélica de ter problemas políticos com a ditadura militar que governava o Brasil.

Luiz Adelmo voltou a fazer coluna social em janeiro de 1979, quando aceitou o convite do Jornal da Cidade para assinar um espaço do caderno JC REVISTA. O caderno incorporou mais outros nomes originais que se somaram aos que já estavam trabalhando, como a então jovem jornalista Siomara Madureira, responsável por uma página dedicada a crianças.

Luiz Adelmo manteve o seu estilo irônico, ao agrado de uma parcela elevada de leitores. O jornalista Paulo Nou deu um bom exemplo do estilo jornalístico do estanciano, narrando um fato ocorrido em uma das colunas que Luiz Adelmo assinou. “Ele colocou uma foto de Clara Angélica em um dia. No dia seguinte colocou outra foto da Clara, porque ela era uma figura destacada da sociedade e eram duas situações diferentes. Eram duas fotos bonitas. E virou um ti-ti-ti em Aracaju, algumas pessoas comentaram. Como Luiz Adelmo era uma pessoa muito independente, no terceiro dia colocou outra foto da Clara”.

Como se toda a atividade já narrada fosse pouca coisa, Luiz Adelmo se fez empresário do ramo de móveis e decorações, em Aracaju e em Maceió, fazendo muito sucesso com suas lojas de bom gosto que davam um toque de refinamento às casas e apartamentos que ele decorava.

Artista plástico e artesão, difundiu a tapeçaria de decoração em macramê na cidade de Aracaju e instalou um movimentado ateliê que funcionava também como escola para a formação de artesãos na avenida Barão de Maruim. No mesmo endereço, o marchand Luiz Adelmo criou uma galeria de arte que reunia trabalhos dos mais importantes dentre os artistas plásticos de Sergipe.

Os últimos anos da sua vida Luiz Adelmo dedicou a gestão da Galeria de Arte Álvaro Santos, espaço público de difusão das artes plásticas. A Galeria construída e inaugurada pelo prefeito Godofredo Diniz, na década de 60 do século XX, ganhou uma programação ativa e movimentada sob Luiz Adelmo que buscou modernizar a instituição.

 A morte de Luiz Adelmo retira do cenário sergipano um agitador cultural que nos deixará órfãos. Do mesmo tipo de orfandade que padecemos com o desaparecimento de intelectuais como Clodoaldo de Alencar Filho, Osires Rocha, Luiz Antônio Barreto, Amaral Cavalcante, Fernando Sávio, Garcia Moreno, Antônio Garcia Filho e tantos outros que poderíamos enumerar.

Para os que ainda vivem, fica o registro de um intelectual que soube trafegar em meio a muitas ousadias protagonizadas por um conservador iconoclasta.

Jornalista, professor, doutor em Educação, membro da Academia Sergipana de Letras e presidente da Academia Sergipana de Educação.

Texto reproduzido do blog: educacaohistoriaepolitica.blogspot.com

'Luís Adelmo foi brilhar com a estrela Dalva', por Clara Angélica Porto

Legenda da foto: Imagem reproduzida do Facebook/Luiz Adelmo Soares de Souza e postada pelo blog

Texto publicado originalmente no Perfil do Facebook de Clara Angélica Porto, em 20 de julho de 2021

Luís Adelmo foi brilhar com a estrela Dalva
Por Clara Angélica Porto

Conheci-o ainda adolescente. Dançamos muitos carnavais, caminhamos muitas noites de conversas e gargalhadas pela Ivo do Prado, namorando o rio Sergipe. No Rio de Janeiro, dirigiu Leila Diniz no show por ele criado Tem Banana na Banda, com participação especial de Dalva de Oliveira. Fez questão que eu fosse. E fui! Estava de visita ao Brasil e ao Rio. Leila, com a bebê Janaína no camarim para amamentar, abusava, vestida de vedete com muitas plumas e paetês, de mostrar o corpo perfeito de dois meses de parida. Enchia o show de cacos, reescrevia tudo. Maravilhosa, solta, escolhia o mais sisudo cavalheiro da plateia para sentar no colo e mostrar o peito cheio de leite, perguntando se ele estava com sede. O público se deliciava. Leila podia fazer tudo, o que lhe desse na cabeça e todo mundo amava. Luís Adelmo estava no auge do sucesso que teve no Rio. Na plateia, eu, toda orgulhosa dele, Denner, Chico Buarque e Tarso de Castro. Nosso plano secreto era ele dar um jeito de eu dançar com Chico, mas Chico estava bêbado e dançou com Denner. E como resistir às pantufas de cetim bordado de Denner? Eu dancei com Tarso de Castro, no auge do Pasquim, por obra e graça de Luís. Bem, é verdade que Tasso ficou bem alegrinho em dançar com a moça de 22 anos. A pedido de Luís, Leila também chegou pra mim e disse que eu estava branquinha daquele jeito porque tinha chegado dos States. O show era lindo, todo solto, cada noite novas loucuras iam enriquecendo o texto. Quando Dalva entrou pra cantar, já bem idosa, ao soltar aquela voz imensa e tão bela, causou um verdadeiro delírio da plateia. Leila dizia depois que Dalva cantava porque o show precisava de alguém que sabia fazer alguma coisa, “porque eu não sei fazer nada, mas vocês gostam, não gostam?” Não tinha como não amar Leila Diniz e sair do show apaixonado. A intimidade das celebridades presentes com Luís Adelmo era a mesma que tinham entre si. E o humor cortante dele mais forte do que nunca, bem nutrido pelo sucesso do momento. Luís Adelmo viveu se reinventando. Aventurava-se, ousava, subia e descia sem nunca deixar de dançar a vida. Parecia daquelas pessoas que existem para sempre. E viveu assim, dessa maneira, até o fim. Fazia humor da própria doença que o consumia: “meu médico disse que já tenho câncer no corpo inteiro. Ainda bem que não tenho metástase”. Vou sentir a sua falta, Luís Adelmo. Tenho muitas lembranças boas de você.

Texto reproduzido do Facebook/Clara Angélica Porto

terça-feira, 20 de julho de 2021

"O Barracão de Luiz Adelmo", por Amaral Cavalcante

Foto reproduzida do Google

Foto reproduzida Facebook/Nestor Amazonas e postada pelo blog

Texto publicado originalmente no Perfil do Facebook/Amaral Cavalcante, em 9 de junho de 2017

O Barracão de Luiz Adelmo
Por Amaral Cavalcante

Viajávamos num submarino amarelo, movidos pelo gás psicodélico da contracultura. Nosso destino eram os oceanos de paz e amor que banhavam o mundo. Na colorida década de sessenta, éramos Hippie, sim senhor.

Aqui em Aracaju, como no resto do mundo ocidental, a juventude tinha dois modos de resistir aos fundamentos de uma civilização que caducava: o engajamento no ativismo político partidário ou o choque de costumes, a reinvenção de posturas existenciais pregadas pelo movimento Beat.

De qualquer modo, era a juventude lutando pelos ideais de plena liberdade e de respeito aos direitos individuais, acima de tudo.

Reconfigurava-se a cabeça dos bem nascidos e bem instalados no topo da pirâmide social, uma galera rica de nascença contida no sufoco de uma Aracaju provincial, querendo igualar-se em curtição e consumo ao glamour do mundo lá fora. Mas precisávamos de algum lugar, aqui, que desse guarida às nossas inquietações.

Foi então que voltou Luiz Adelmo regressando de experiências cariocas onde aprendera as demandas do consumo cultural e suas possibilidades comerciais. Trazia histórias empolgantes: Intimidade com as estrelas, notícias de um mundo fantástico que existia pra lá do Vaza Barris, no Sul Maravilha do Teatro Opinião, nos bares de Ipanema e nas luzes estreboscópicas do Hippopótamus.

Adelmo sempre foi um visionário e voltou para cá na hora certa.

Abriu o primeiro bar multicultural de Aracaju, o “Barracão”, em imóvel alugado na Atalaia. Virou point obrigatório. Foi o Bar que nos acostumou a rumar para a praia, fosse como fosse: de carona ou dissimulado no transporte da Bonfim para encontrar consonância e abrigo psicodélico num bar que reunia tudo. Todo mundo ia!

E como era chique o bar de Luiz Adelmo! Primeiro, ele pintou grandes margaridas sob fundo azul no muro da calçada e decorou o ambiente com profusas flores de papel crepon. Tudo na linha despojada, como convém a um bar na beira da praia, mas já era uma ousadia estética na mesmice provinciana.  Depois, inventou noites temáticas como a do “Amor e paz”, devidamente decorada com o símbolo do movimento Hippe. Tratou de armar matinês políticas onde a turma dos “engajados” pudesse tramar a derrocada do poder, encorajados pela valentia etílica de vários engradados de cerveja. Logo depois, teve de consentir bailes de máscara e outros rococós, para contentamento da freguesia gastante. Tudo bem! E se não fosse ali, onde haveríamos de estar? A pista que trazia Aracaju à Atalaia nunca estivera tão congestionada!

Mas a missão de Luiz Adelmo não era tão fácil! Toda vez que ele promovia uma festa ela acabava em briga de murro. Rapazes brigões se afirmavam assim, no esfrega-esfrega da luta corporal. Mesas de pernas pro ar, contas sem dono, prejuízo irrecuperável e intimações policiais resultavam sempre. Chegou o dia em que não deu mais pra segurar e Luiz Adelmo foi tratar de vida melhor em outros ramos.

Voltou a inovar com a Galeria de Artes “Horácio Hora”, onde, por muito tempo, fez da incipiente arte plástica sergipana um empreendimento lucrativo. Graças a Luiz Adelmo começamos a entender a função essencial do marchand e a instituir por aqui um mercado de artes plásticas.

O seu memorável bar, o Barracão, foi o precursor da Atalaia que temos hoje: um lugar onde curtimos os refrigérios da cidadania e demos vazão à nossa recém descoberta rebeldia.

Texto reproduzido do Facebook/Amaral Cavalcante

Câncer mata o jornalista Luiz Adelmo

Publicação compartilhada do site DESTAQUE NOTÍCIAS, em 20 de julho de 2021

O jornalista Luiz Adelmo dirigiu a Galeria Álvaro Santos por muitos anos

Câncer mata o jornalista Luiz Adelmo

Por Destaquenoticias

Vítima de câncer, morreu, nesta terça-feira (20), o diretor da Galeria Álvaro Santos, jornalista Luiz Adelmo Soares. Pelas redes sociais, o prefeito Edvaldo Nogueira (PDT) lamentou: “Muito triste com o falecimento de Luiz Adelmo Soares, jornalista, cerimonialista, atual diretor da galeria Álvaro Santos e grande impulsionador cultural. Tinha muito respeito e admiração pelo seu trabalho e pela sua pessoa. Toda minha solidariedade aos familiares e amigos”. O jornalista era irmão da ex-deputada federal Tânia Soares, ex-esposa do prefeito.

O também jornalista Luiz Eduardo Oliva registrou, com tristeza, a perda do amigo: “A morte do multifacetado Luiz Adelmo leva com ele o símbolo de uma época, o espírito irrequieto do seu tempo. Se digo multifacetado cabe-lhe também a alcunha de homem plural, porque ele era único e ao mesmo tempo tantos como no Samba da Benção de Vinicius de Moraes!

Marcou a cena cultural sergipana, saindo de Estância e filho do riachãense Seu Aderbal. Passou pelo seminário (pensou em ser frade) e depois foi ao Rio de Janeiro e logo se integrou à cena artística. Ainda lembro garoto e o orgulho dos sergipanos ao vê-lo no célebre programa da TV Tupi “Almoço com as Estrelas” apresentado por Lolita Rodrigues.

Atuação no Rio de Janeiro

No Rio desenvolveu o talento para as artes plásticas e também se voltou para a produção quando foi um dos produtores do espetáculo “Tem Banana na Banda” uma espécie de teatro de revista com a lendária Leila Diniz dos anos 70, produção que lembrava sempre co. orgulho.

No final dos anos 70 voltou para Sergipe e aqui introduziu a tapeçaria como arte, com a técnica macramê com muitos seguidores. Inovou a coluna social e pode-se dizer que inaugurou a noite aracajuana na Atalaia com o Barracão no final dos anos 60, e já nos anos 80 comandou a Boate 147 à época a mais badalada casa noturna de Aracaju.

Fundar a Galeria Horacio Hora na Avenida Barão de Maruim nos anos 70 foi um ato de coragem e ousadia que movimentou o comércio das artes plásticas. Lá conheci o grande Zé de Dome. Luiz Adelmo era o irmão mais velho da ex deputada Tânia Soares e também das educadoras Yarinha e Ana Soares, as duas também já falecidas. Foi também empresário em Sergipe e Alagoas no ramo de decoração. Ultimamente era Diretor da Galeria de Arte Álvaro Santos.

Tinha uma inteligência sagaz, um extraordinário senso de humor, às vezes sarcástico mas sempre humor!

Há pessoas que incorporam o espírito de um tempo. Luiz Adelmo foi dessas, aconteceu e fez acontecer. Cabe-lhe a poesia da partida. Todas as homenagens a esse gigante sergipano. Aqui na terrinha, que tanto amou, ficamos com a sua saudade. Minha benção meu amigo, que tanto rimos e também tanto brigamos! Mas sobretudo tínhamos a amizade e a recíproca admiração. Saravá, como diria Vinicius de Moraes”.

O jornalista Elton Coelho também lamentou a morte de Luiz Adelmo:

“Luto. Quadrilha Maracangaia

Essa postagem, pessoal, se deve em função de ter sido o jornalista Luiz Adelmo um grande entusiasta da Maracangaia. Sempre que encontrava a mim ou Gilberto, falava e defendia nosso trabalho. Estimulava. Dizia que a gente era referência da tradição e que nunca deixássemos a causa. Registro meus sentimentos por esta perda. Um grande intelectual.

Elton Coelho, ex-componente e ex-presidente da Maracangaia”.

Texto e imagem reproduzidos do site: destaquenoticias.com.br

"A morte do multifacetado Luiz Adelmo..." (Luiz Eduardo Oliva)

Texto original do Facebook/Luiz Eduardo Oliva, em 20 de julho de 2021

A morte do multifacetado Luiz Adelmo leva com ele o símbolo de uma época.  Se digo multifacetado cabe-lhe também a alcunha de homem plural, porque ele era único e ao mesmo tempo tantos como no Samba da Benção de Vinicius de Moraes!

Marcou a cena cultural sergipana, saindo de Estância e filho do riachãense Seu Aderbal. Passou pelo seminário (pensou em ser frade) e depois foi ao Rio de Janeiro e logo se integrou à cena artística. Ainda lembro garoto e o orgulho dos sergipanos ao vê-lo no célebre programa da TV Tupi "Almoço com as Estrelas" apresentado por Lolita Rodrigues.

No Rio desenvolveu o talento para as artes plásticas e também se voltou para a produção quando foi um dos produtores do espetáculo "Tem Banana na Banda" uma espécie de teatro de revista com a lendária Leila Diniz dos anos 70, produção que lembrava sempre com orgulho.

No final dos anos 70 voltou para Sergipe e aqui introduziu a tapeçaria como, com a técnica macramê com muitos seguidores. Inovou a coluna social e pode-se dizer que inaugurou a noite aracajuana na Atalaia com o Barracão no final dos anos 60, e já nos anos 80 comandou a Boate 147 à época a mais badalada casa noturna de Aracaju.

Fundar a Galeria Horácio Hora nos anos 70 foi um ato de coragem e ousadia que movimentou o comércio das artes plásticas. Lá conheci o grande Zé de Dome. Luiz Adelmo era o irmão mais velho da ex deputada Tânia Soares e também das educadoras Yarinha e Ana Soares, as duas também já falecidas.   Foi também empresário em Sergipe e Alagoas no ramo de decoração.  Ultimamente era Diretor da Galeria de Arte Álvaro Santos.

Tinha uma inteligência sagaz, um extraordinário senso de humor, às vezes sarcástico mas sempre humor!

Há pessoas que incorporam o espírito de um tempo. Luiz Adelmo foi dessas, aconteceu e fez acontecer.  Triste com a perda do grande amigo. Todas as homenagens a esse gigante sergipano.

Texto e imagem reproduzidos do Facebook/Luiz Eduardo Oliva

'O elegante e sábio Luiz Adelmo partiu no dia do amigo..." (Antônia Amorosa)

Postagem original do Facebook/Antônia Amorosa Sergipana, em 20 de julho de 2021

Nosso último encontro aconteceu na Exposição em homenagem ao poeta das sínteses, Araripe. Você ficou encantado com tudo que viu e maravilhado com um cantinho especial, criado por @marimalb - "Este espaço está perfeito!" Exigente como você sempre foi, um elogio seu representava nota 10 em uma prova. A precisão do seu olhar, a sagacidade da sua opinião, o bom gosto transbordando em tudo que fazia, a ousadia de não levar para casa nenhum desaforo, o seu silêncio gritante quando percebia que era ignorado por quem você escolhia amar, marcava seu estilo de ser. Mas, quem ganhava seu coração tinha acesso a um mundo de inteligência e saberes. Sergipe fica mais pobre sem você! Acredito, inclusive, que Sergipe teve um gênio que não foi verdadeiramente reconhecido.

O elegante e sábio Luiz Adelmo partiu no dia do Amigo, deixando na terra os amigos que ele, seletivamente, escolheu. Quem o conheceu e venceu os níveis da sua exigência, teve ao seu lado, um precioso amigo.

Vá com Deus, Luiz! Foi uma honra para mim, ter lhe conhecido.

Texto e imagem reproduzidos do Facebook/Antônia Amorosa Sergipana

Jornalista Luiz Adelmo morre em Aracaju

Publicação compartilhada do site do jornal CORREIO DE SERGIPE, em 20 de julho de 2021

Jornalista Luiz Adelmo morre em Aracaju

Da redação, AJN1

O jornalista e curador da galeria Álvaro Santos, Luiz Adelmo Soares de Souza, 79, morreu na madrugada desta terça-feira (20). A informação é que ele já vinha enfrentando problemas de saúde. Luiz Adelmo já atuou em vários jornais, emissoras de Rádio e TVs de Sergipe, e foi cerimonialista no governo de Augusto Franco. O corpo está sendo velado no Osaf, da rua Itaporanga.

O prefeito de Aracaju, Edvaldo Nogueira (PDT), usou as redes sociais para lamentar a morte do jornalista. “Muito triste com o falecimento de Luiz Adelmo Soares de Souza, jornalista, cerimonialista, atual diretor da galeria Álvaro Santos e grande impulsionador cultural de Sergipe. Tinha muito respeito e admiração pelo seu trabalho e pela sua pessoa. Que vá em paz, meu amigo! Toda minha solidariedade aos familiares e amigos de Luiz”.

O ex-governador Jackson Barreto prestou solidariedade aos amigos e a família. “Meus sentimentos e toda solidariedade aos familiares de Luís Adelmo. Um amigo que contribuiu muito com à cultura em nosso estado. Vá em paz amigo”.

A cantora Antonio Amorosa também usou as redes sociais para homenagear o jornalista. “O elegante e sábio Luiz Adelmo partiu no dia do Amigo, deixando na terra os amigos que ele, seletivamente, escolheu. Quem o conheceu e venceu os níveis da sua exigência, teve ao seu lado, um precioso amigo. Vá com Deus, Luiz! Foi uma honra para mim, ter lhe conhecido”, diz um trecho da postagem da artista.

Texto e imagem reproduzidos do site: ajn1.com.br

segunda-feira, 19 de julho de 2021

Tecnologia não alcança saudade


Publicação compartilhada do site INFONET, de 19 de julho de 2021

Tecnologia não alcança saudade
Por Raquel Almeida (do blog infonet)

No último sábado completamos uma década sem Cleomar Brandi. Como passou rápido!

Para quem não conhece, Cleomar (Cléo para os íntimos) foi um dos mais queridos e competentes jornalistas sergipanos. Baiano com coração dividido por Sergipe, Brandi veio a Aracaju para compor a equipe que colocaria no ar a única emissora de televisão pública do Estado, a TV Aperipê.

Mas ele passou também por diversos outros veículos de comunicação, como a TV Sergipe, TV Jornal, Delmar FM, Jornal de Sergipe, TV Caju e, por muito tempo, foi pauteiro do Jornal da Cidade. Além de ter sido correspondente da revista Veja e atuado na diretoria de Comunicação do Tribunal de Justiça de Sergipe (TJSE).

Sem desmerecer toda a importância do seu trabalho jornalístico, hoje quero escrever sobre a saudade que sinto dele. Do amigo carinhoso que gostava da minha companhia no bar, mesmo sem eu beber uma gosta de álcool. E como eram deliciosas as tardes com ele! Naquelas mesas de bar saiam novas pautas, crônicas e letras de músicas. Todos que se sentavam ou passavam acabavam participando, seja como fonte, personagem ou como um simples insight.

Sinto falta das suas ligações nos meus plantões de trabalho falando “Larga tudo aí e vem para o Pastelão! Já mandei fazer um peixe para nós. Hoje não vai ocorrer mais nada tão grave que mereça uma capa (de jornal)! Desce que Paulinho tá vindo com o violão pra cá também!”.

Sinto falta das conversas sobre política ou dos últimos acontecimentos da cidade; dos seus conselhos profissionais; das amizades que fazia com as mesas vizinhas; das poesias que me escrevia ali mesmo em guardanapos e declamava com alegria.

Cléo não era uma pessoa comum. Basta saber que ele deixou paga a última saideira no bar do Camilo, que fica na Coroa do Meio, para que seus amigos brindassem como ele viveu e não chorasse a sua morte. E “A última Saideira” é também o título de uma de suas crônicas que o leitor pode ler na parede deste mesmo bar.

Cléo era um boêmio inveterado, um amante da vida, da escrita, das artes, de um bom conhaque, e, sem esquecer das mulheres, apelidadas carinhosamente por ele como ‘lobas’. Um cronista maravilhoso! Suas linhas faziam do cotidiano uma peça de reflexão e diversão para seus leitores.

Ele brindava diariamente, mesmo após todas as adversidades que a vida lhe impôs. E sempre me dizia para eu levar a vida com menos seriedade. “Só viva, nem se preocupe, ela vai lhe sorrir”, me dizia.

Tem pessoas que passam por sua vida e deixam marcas, com certeza ele deixou as melhores em mim.

Saudade, amigo.

Aqui o texto que escrevi há dez anos.

Texto e imagens reproduzidos do site: infonet.com.br

terça-feira, 13 de julho de 2021

A Casa Lilás - Memórias de um crime

Legenda da foto: Imagem reproduzida do site da SEGRASE e postada pelo blog para ilustrar o presente artigo.

Texto compartilhado de postagem no Perfil do Facebook de Paulo Roberto Dantas Brandão, de 12 de julho de 2021.

A Casa Lilás.

Acabo de ler “A Casa Lilás” do jornalista Luis Eduardo Costa.  O livro relata o chamado “Crime da Rua de Campos”, onde foi vítima o médico Dr. Carlos Firpo, em 1958.  Luis Eduardo tem um dos melhores textos da imprensa sergipana.  Sua descrição sobre a sociedade aracajuana do final da década de 1950 é impagável.  Muito bom.

Luis pesquisou o processo judicial, e chegou a conclusão que o crime teria sido político.  Bom, eu discordo das conclusões de Luís.  Mas não poderia ser diferente posto que, mais de 60 anos após o ocorrido ainda se discute na sociedade sergipana se o crime foi passional, perpetrado pela própria esposa, Milena, e seu amante o Coronel Afonsinho; ou um crime político como chega a conclusão Luis Eduardo.  O fato é que o assassinato do Dr. Carlos Firpo ainda provoca discussões, esquentadas recentemente com o falecimento de Milena, em Salvador, e continua dividindo nossa sociedade.

Luis Eduardo, porém, não entrega a motivação do crime político, nem explicita o mandante.  Deixa a entender, sem isso afirmar, ora que seria Heribaldo Vieira, que como Secretário de Justiça conduziu o inquérito, ora que o governador Leandro Maciel teria pelo menos concordado com o crime.  Mas não desfaz categoricamente o mistério, como seria de se esperar.

Não acredito em crime político.  Como o próprio Luis Eduardo relata, Dr. Carlos Firpo não era político.  Havia ocupado interinamente e por poucos meses o cargo de Prefeito de Aracaju, mas nunca havia disputado uma eleição.  Apesar de filiado à UDN Carlos Firpo não era, nem nunca foi um dirigente partidário.  Não detinha qualquer poder dentro do partido.  Não participava das decisões, não tinha força para barrar ou impor nomes.  Não era empecilho para quem quer que fosse candidato a qualquer cargo.  Quem decidia de fato era Leandro Maciel.

Dr. Carlos Firpo era completamente dedicado ao Hospital Santa Isabel, que atendia os pobres, e isso Luis também relata.  E vivia à busca de verbas para aquela casa de saúde, sempre carente.  Dr. Carlos Firpo estava aventando a possibilidade de ser candidato a Vice-Governador.  Acredito que buscava com isso, e essa é uma interpretação pessoal, uma posição para facilitar sua busca constante de dinheiro para sustentar o Hospital.  Mas não era ele quem definia candidaturas.  Qualquer objeção, bastava um não da cúpula da UDN, ou pessoalmente de Leandro Maciel, que podia chamá-lo e dizer que sua candidatura não dava, e pronto.  Dr. Carlos Firpo não teria força política, e não acredito que teria vontade, para reverter uma negativa.  Ou seja, Dr. Carlos não era um obstáculo nas composições políticas da UDN ou de sua cúpula.  Apesar do crime político naquela época ser algo normal em Sergipe, sempre estava ligada às desavenças, e não me parece que Dr. Carlos Firpo as cultivasse.  E para corroborar com essa visão, é inverossímil pensar que alguém mata uma pessoa por um cargo de vice-governador.

A tese do crime político carece de um motivo plausível.  Carece de um beneficiário com a morte.  Quem ganharia?  O que ganharia?   Heribaldo Vieira que nas entrelinhas aparece como vilão no livro, não tinha rixas aparentes com a vítima, nem seria beneficiado, como não foi.

Luis Eduardo relata as falhas, omissões, e desvios do inquérito.  Chama torturas de “Métodos Empíricos”, conduzidos por Heribaldo Vieira.  Sem querer justificar, mas com uma polícia recheada de jagunços como Alemão e Zé Rozendo, era a polícia que se tinha, então.  Sem embargo que o inquérito hoje seria eivado de nulidades e aberrações.  Mas nem isso autoriza a se concluir pelo crime político, e sim pelo barbarismo da polícia na época.

Heribaldo tinha pretensões de ser governador, mas Leandro Maciel que é quem decidia dentro da UDN optou por Luis Garcia, muito mais maleável e suscetível a se submeter à sua liderança.  Heribaldo reclamou, rebelou-se por algum tempo, mas por fim compôs como candidato ao Senado.  Não era um santo, ao contrário, mas era inteligente demais para fazer besteiras.

Eu era um bebê quando o crime ocorreu, não havia completado três anos.  Mas lá em casa, como em todo sociedade aracajuana, discutiu-se por muito tempo o crime da rua de Campos.  E a tese do crime passional sempre foi tida como certa, ou a mais plausível. 

Texto reproduzido do Facebook/Paulo Roberto Dantas Brandão

segunda-feira, 5 de julho de 2021

Covid-19 mata o professor Pedro Amado

Legenda da foto: O professor Pedro Amado dirigiu o Colégio Estadual Atheneu Sergipense na década de 80.

Publicação compartilhada do site DESTAQUE NOTÍCIAS, em 5 de julho de 2021

Covid-19 mata o professor Pedro Amado

 Vítima da covid-19, morreu em Aracaju o professor de matemática Pedro Amado, ex-diretor do Colégio Estadual Atheneu Sergipense. Ele também foi educador do Centro Universitário Estácio de Sergipe. O sepultamento será às 11h desta segunda-feira (5), no Cemitério Colina da Saudade, nesta capital.

O professor Pedro Amado contraiu o coronavírus há cerca de dois meses, período em que permaneceu hospitalizando. Chegou a melhorar, tendo deixado por três vezes a Unidade de Tratamento Intensivo, contudo o seu quadro clínico se agravou nos últimos dias, evoluindo para o óbito na madrugada desta segunda-feira.

Texto e imagem reproduzidos do site: destaquenoticias.com.br

domingo, 4 de julho de 2021

'João Alves Filho: 80 anos de lutas e glórias', por Igor Salmeron

Artigo compartilhado do site JLPOLÍTICA, em 3 de julho de 2021

João Alves Filho: 80 anos de lutas e glórias
Por Igor Salmeron*

Neste 3 de julho, João Alves Filho, se vivo estivesse, faria 80 anos. Uma data como esta, não pode passar em branco. Um Estado prospera por grandes edificações à sua comunidade e João nos construiu um legado mais que material, espoliou virtudes que atravessam gerações.

O João Chapéu de Couro, João da Água, João do Povo nasceu na capital de Sergipe, no bairro Santo Antônio no dia 03 de julho, ano 1941. Filho do empresário e construtor João Alves que lhe fez herdar a sabedoria perante as encruzilhadas da vida, e de D. Maria de Lourdes Gomes que legou a sensibilidade que soube levar consigo, bastando observar o seu cuidadoso olhar com relação aos problemas da população nordestina. Do casamento com Maria do Carmo Nascimento Alves, resultaram seus três filhos: Maria Cristina Alves, Ana Maria Alves e João Alves Neto.

Formado em Engenharia Civil na década de 1960, curso que realizou na Universidade Federal da Bahia - UFBA -, já dava os primeiros passos na atividade política, inserindo-se em alguns movimentos estudantis. Em 1965 retorna à Sergipe para exercer atividade de engenheiro-empresário sob a companhia paterna, na Construtora Alves.

Em 1975, assumiu a Prefeitura de Aracaju por indicação administrativa, no período em que o gestor era José Rollemberg Leite. Após exercer cargo de prefeito biônico de 1975 a 1979, conseguiu a proeza de se eleger governador em 1982, obtendo uma nomeação para atuar como ministro de Estado do Interior pelo presidente, na época, José Sarney em 1987. Já em 1990, se lançou como candidato ao governo de Sergipe, tendo uma estupenda vitória somando-se uma cifra de 364.819 dos votos válidos.

Dentre tantas façanhas políticas, destaca-se também a conquista que obteve quando disputou o pleito pelo governo estatal em 2002, derrotando o então senador José Eduardo Dutra. João Alves Filho nos anos compreendidos entre 1982 e 2016 nunca ficou sem participar de uma disputa eleitoral em Sergipe; seja se lançando como candidato ou exercendo indispensável apoio.

É fundamental caracterizar os seus áureos tempos como governador, pois nos mostram as lições que refletem a sua importância como homem público, mas sobremaneira, como ser humano. Suas briosas ações se debruçam sobre o homem do campo; por meio do programa Chapéu de Couro, construiu açudes que amenizavam a problemática da seca no sertão.

Dentre outras obras, podemos elencar a criação da Orla de Atalaia, realização que revolucionou e deixou todos atônitos com relação ao setor turístico sergipano. Um diferencial de João Alves Filho, é que ele não se limitava à habilidade política, mas também expande a sua inteligência no campo cultural. Sua contribuição intelectual, como um dedicado estudioso das questões referentes à problemática da população nordestina, se manifesta na autoria de livros marcantes na busca por soluções para atender os mais pobres.

João Alves Filho foi, e continua sendo um ser humano referencial por seus desbravadores projetos de amparo, com medidas voltadas ao combate à pobreza e, sobretudo, à seca que ainda hoje assola os mais desfavorecidos. Ele foi responsável por construir hospital, escolas, adutoras, rodovias, bem como as principais vias aracajuanas; seu nome é gênese do próprio desenvolvimento do estado de Sergipe.

Conclui-se que independente da ideologia partidária, devemos reconhecer o patrimônio de obras concretizado por João Alves Filho. Até mesmo os opositores mais ferrenhos consentem que João é um estadista que jamais se pode permitir ser esquecido na memória afetiva de todos os sergipanos.

* É sociólogo, pesquisador e doutorando em Sociologia pela Universidade Federal de Sergipe.

Texto e imagem reproduzidos do site: jlpolitica.com.br

'Dois anos sem João Oliva, meu pai', por Luiz Eduardo Oliva


Artigo compartilhado do site JLPOLÍTICA, em 3 de julho de 2021

Dois anos sem João Oliva, meu pai
Por Luiz Eduardo Oliva*

Escrever é um ato complexo, sobretudo se quem escreve busca a isenção da parcialidade. Por mais que se tente, todavia, fazer juízo de valor isento de paixão é extremamente difícil quando você escreve com o afeto de quem vai falar sobre o próprio pai. É natural que filhos exaltem a figura paterna, Mas se vou dizer do meu pai, posso buscar até a isenção de dizer de um homem extraordinário, fora de curva, que deixou um legado para além da própria família, cujo reconhecimento é visível na manifestação de muitos desde que ele partiu, há exatos dois anos (03/07/2019): João Oliva, o jornalista, o escritor, o incansável defensor da democracia, o homem de fé.

De uma escola que teve em Orlando Dantas o principal mestre, o velho Oliva fez parte de uma época romântica dos grandes jornalistas, forjados nas redações dos jornais, onde o aprender a manejar com as facetas da arte do jornalismo se fazia no auto-didatismo ou na troca de informações e idéias com os companheiros de redação. Cresci ouvindo o ritmado som das teclas de uma velha e portátil máquina Olivetti, varando madrugadas para dar conta de editoriais e artigos que ele escrevia para jornais e rádios de Aracaju. Nas redações, meu pai encontrava-se com sua própria alma – alma de escrevinhador diário das coisas da terra, do seu país e do mundo. E, naturalmente reforçava o já combalido orçamento doméstico naqueles anos difíceis de modesto funcionário público, que tinha a carga de educar e manter  (ao lado de minha mãe Maria)  onze  filhos.

É fato que sempre tive a dimensão da sua grandeza. Mas o amor de filho tende a camuflar muito e hoje, depois que ele partiu, vejo que dimensionei até para menos. Há um reconhecimento quase unânime com relação ao valor e legado de João Oliva, nas infindáveis manifestações de intelectuais, escritores, admiradores do grande jornalista e escritor que ele foi. Ancelmo Góis acostumado a viver no meio dos maiores intelectuais brasileiros, ele que é uma das principais referências do jornalismo brasileiro sendo um dos principais colunistas do jornal “O Globo”, ao saber do seu falecimento disse à Folha de São Paulo: “João Oliva foi um dos mais importantes intelectuais que conheci; na época, havia [em Aracaju] um jornalismo voltado às questões locais, quase paroquial. Ele se diferenciava ao olhar para fora. Reunia generosidade e brilhantismo.”.

Luiz Eduardo Costa, referência do maior do jornalismo sergipano escreveu: “esse cidadão, jornalista, advogado escritor, poeta, um frade sem envergar o hábito, viveu profundamente a fé, mourejou no seu dia a dia a prática virtuosa da solidariedade que deve ser o âmago da consciência cristã. João Oliva foi o cidadão de uma época e um exemplo para todas as épocas”. O romancista Francisco C. Dantas, autor de “Os Desvalidos” (Companhia das Letras) e seu conterrâneo do Riachão do Dantas disse: “os textos de Oliva valorizavam o progresso ao mesmo tempo em que buscavam repor as bases da tradição sergipana”.

Vivemos tempos terríveis, obscuros, à busca de luzes. Não que seja algo novo viver tempos assim. As vezes quero crer que o “eterno retorno” de que falava o filósofo Nietzsche é de fato uma categoria que persiste na história da humanidade. Mas é preciso também acreditar que em tempos sombrios, homens e mulheres se sobressaem para combater o ordinário, o banal, o estúpido, ou como dizia São Paulo: combater o bom combate. Meu pai foi uma dessas personalidades, daí o dizer de Luiz Eduardo Costa que ele foi o cidadão de uma época e um exemplo para todas.

Hoje, lendo os textos que saíam daquela velha máquina de escrever, observo o esforço que o velho fazia para camuflar dos censores e dos “linha-dura” do regime militar o que pretendia dizer, na luta incessante para reafirmar suas convicções democráticas, na esperança pela humanização da vida. Não era fácil ser editorialista numa ditadura e defender com fé inabalável a democracia. Há textos até que parece concessão aos opressores e eu um dia lhe perguntei: “porque meu pai?” Ele me respondeu: “Driblar a censura não era fácil. É como alguns jogos. Às vezes você recua duas casas para depois avançar dez, sem sair do jogo”

Que dizer então, como filho, sobre a pessoa que o encaminhou para o pensamento democrático, para não aceitar as injustiças, para trilhar a vida com ética e dignidade? Tento, de forma trôpega, seguir os passos do velho pai, quando escrevo textos para serem publicados, ultimamente mantendo uma rotina quinzenal no Jornal da Cidade.  Às vezes sinto faltar a fé, sobretudo na humanidade, num mundo de mentiras e desilusões. Mas quando leio meu pai e lembro o seu exemplo, e vejo como sua fé era inabalável e tinha um olhar para além do seu tempo, percebo o quanto é difícil e ao mesmo tempo um privilégio ser filho de João Oliva. Então ponho o ceticismo de lado e de imediato renovo a esperança na humanidade, e passo a acreditar que o otimismo é uma energia mais que necessária em tempos tão incertos como os atuais, e que nunca é demais acreditar.  João Oliva para além de ser meu pai é voz permanente a sussurrar em meu ouvido: não desista, a vida não é fácil, lutar é mais que necessário, lutar é viver!

*É advogado, ex-secretário de Estado dos Direitos Humanos de Sergipe, poeta e membro da Academia Sergipana de Letras Jurídicas.

Texto reproduzidos do site: jlpolitica.com.br

quinta-feira, 1 de julho de 2021

Edson Alves Macêdo Filho

Publicado originalmente no Perfil do Facebook de Andrezza Macedo, em 30 de junho de 2021

Andrezza Macedo está em Hospital São Lucas, em Aracaju

E juntos terminamos nossa caminhada, eu, Sis e vc pai…Há 90 dias começamos uma longa jornada sofrida, dolorida cheia de dúvidas e de incertezas, nossa única certeza era q Deus e Nossa Senhora estavam do nosso lado nos sustentado e dando sabedoria para lidar diariamente com milhares de coisas q acontecem dentro de hospital em época de pandemia, sabíamos tb q jamais a gente iria te deixar sozinho e assim foi, nunca em nenhum instante vc ficou sozinho, estivemos sempre ao seu lado, esses últimos dias aí meu Deus quanta provação…q luta! Diante de algo q fugia de nosso controle, chegou o dia q  a gente tanto teme, mas algo tão natural q irá acontecer com todos nós e já já a gente se encontra novamente, diante da Pessoa mais importante das nossas vidas, q sonhou por nós…Hoje vc está voltando para casa, siga, que Deus e Nossa Senhora te recebam e te dê a paz…Obrigada por tudo q fez por nós, amamos vc pai.

Texto e imagem reproduzidos do Facebook/Andrezza Macedo

'A Casa Lilás: crime e reconciliação', por Lúcio Prado


Legenda das fotos: F/1 - Dr. Carlos Firpo; F/2 - Casamento de Milena e Carlos Firpo. (Créditos das fotos 1 e 2: Acervo de Aroldo Firpo.

Publicação compartilhada do site do Portal INFONET, de 28 de junho de 2021

A Casa Lilás: crime e reconciliação
Por Lúcio Prado (do blog Infonet)

No dia 29 de abril de 1958, nas primeiras horas da madrugada, foi ferido em sua residência, enquanto dormia, o Dr. Carlos Firpo, diretor do Hospital Santa Isabel e da Maternidade João Firpo, vindo a falecer logo após dar entrada na urgência do Hospital Cirurgia.  O fato, também conhecido como o Crime da Rua de Campos, teve repercussão nacional e até hoje tem sido motivo de debates e discussões. Foi com muita honra que, atendendo convite do presidente da Academia Sergipana de Letras José Anderson Nascimento, coordenei os debates de lançamento do há muito esperado livro “A Casa Lilás”, do jornalista Luiz  Eduardo Costa, no âmbito da Casa de Tobias Barreto, ocorrido em 14 de junho último.

Publicado pela Editora do Diário Oficial do Estado de Sergipe, o livro tem capa e diagramação de Clara Macedo, revisão de Yuri Gagarin, pré-impressão de Dalmo Macedo e contém em torno de 300 páginas. A apresentação é do saudoso governador Marcelo Déda, o prefácio é do jornalista Ancelmo Gois e, ao final, traz um curto mas conciso depoimento de Dílson Bento de Faria Ferreira Lima, escritor e doutor em teologia, filho de Afonsinho – o Coronel Afonso Ferreira Lima, personagem importante nessa obra-prima da literatura policial, envolvendo temas que despertam grande interesse na sociedade e na imprensa: sexo, dinheiro e política.

Numa terça-feira de junho, mais pontualmente no dia 10 de junho de 2008, abrindo as páginas centrais do Jornal do Dia, deparei-me estupefato com um título: Um copo de cristal, um grito na madrugada, que iniciava a série de artigos do jornalista Luiz Eduardo Costa, em capítulos, sobre o assassinato do médico Carlos Alberto de Menezes Firpo. A cada semana, aguardava com ansiedade mais um capítulo da incrível trama policial, que culminou no capitulo 36 com a pergunta: O sangue na faca já secou? Colecionei toda a série em recortes e montei um dossiê pessoal, ao qual incorporei reportagens, depoimentos, fotos e arquivos diversos da biblioteca do colega e amigo Petrônio Gomes. O acervo ficou na minha biblioteca como uma preciosidade que ninguém mais possuía, salvo o autor, claro! Hoje, passados treze anos, a trama   definitivamente está ao alcance de todos. A Casa Lilás, finalmente, chegou para traz mais luz sobre a tragédia.

A Casa Lilás reforça definitivamente a minha convicção pessoal sobre a questão, a de que a morte de Firpo não foi um crime passional. O ponto de partida para o meu interesse pelo tema foi a música feita pelo médico Antônio Garcia Filho, amigo do casal Milena e Carlos, despertando a minha curiosidade inicial. Depois ouvi relatos informais da minha mãe Natália e da minha tia Iara, colegas de Milena no “Colégio das Freiras”, reiterando o caráter e a sólida formação moral dela. Depois tive acesso à série de reportagens do Jornal Última Hora, do Rio de Janeiro e, finalmente, e mais recentemente a reação do clã dos Firpos, ao ser informado por mim da morte de Milena Mandarino Firpo, em dezembro de 2020, na cidade de Salvador.

Um dos atuais líderes da família, Aroldo (neto de João Firpo, médico sergipano irmão de Carlos), que reside atualmente na Flórida, emitiu pelas redes sociais um documento dirigido à família, assim redigido: É com pesar que informo o falecimento de Milena Mandarino Firpo, com mais de 90 anos, ontem, 4 de dezembro 2020, em Salvador, BA. Gostaria que Maria das Graças, Juju e netos recebessem os mais sinceros sentimentos de pesar, meu e deste grupo Firpo. Milena, católica, mãe dedicada ao marido e filhos até os últimos dias. Sempre manteve a cabeça erguida lutando pela união da família e professando o amor a Carlos Firpo. Sofreu amargamente com as consequências da política num período onde as disputas se faziam pela eliminação do adversário com morte em vez de ideias e no voto. É comum, na vida, pessoas inocentes serem acusadas, caluniadas e julgaras pela opinião pública. A distorção dos fatos apresentados em jornais e rádio da época teve grande influência das pessoas com o poder, os quais tinham interesse na desinformação. A família muito sofreu, divisões foram criadas e animosidades para com Milena por parte de outros Firpo foram claras e evidentes. É chegado o momento que os descendentes Firpo se reconciliem com a verdade, apoiem as duas filhas e netos, além de pedirem perdão por tamanha injustiça por tal longo tempo. Eu peço perdão pela injustiça que meus pais tiveram para com Milena e família. Hoje, sei da verdade, pois tive acesso a fatos nunca revelados anteriormente. A partir desse depoimento, toda a família se manifestou favorável ao depoimento de Aroldo, que findou por chegar ao conhecimento de uma das filhas de Milena, Maria das Graças, que assim se manifestou:

Aroldo,

Foi com emoção que li sua mensagem. Ela levou-me até a noite de 29 de abril de 1958, quando a criança de oito anos que eu era viu seu mundo começar a desmoronar com a violenta morte de seu pai e foi apresentada de forma súbita e irrevogável (não era sonho) à maldade humana. Realmente minha mãe passou por profundas injustiças que seu caráter e sólida formação religiosa impediram que sucumbisse às calúnias da época. Colocou como meta de vida compensar as filhas da grande perda sofrida e fazer com que nós, minha irmã e eu, crescêssemos sem alimentar sentimentos negativos e tivéssemos a solidariedade e a justiça como base de nossa estrutura de valores. Pensava que dessa forma nos instrumentaria para olhar e usufruir o que de belo a vida tem para apresentar. E assim foi. Acolho com carinho sua mensagem. Sensível, justa, verdadeira e corajosa – é preciso coragem para pedir perdão – e em nome de Juju e no meu agradeço a você e aos demais que se manifestaram nesse nosso momento de dor.

Passados sessenta e três anos do hediondo crime, onde vidas foram destruídas, relacionamentos afetados, calúnias assacadas sem perdão e piedade, tramas urdidas na calada da noite, a canção de Garcia – Injustiçada – reacendeu mais vívida e luminosa: “Não, não te lamentes não…, que a dura verdade, virá depor. Deus, não esquece o coração, que sempre foi fiel, no amor. Tu, tão meiga e delicada…, de prendas e virtudes, e tão injustiçada… Não, não te lamentes tanto agora, que sobre a noite da calúnia, ressurgirá a aurora.”

PS – Em fevereiro de 2008 publiquei aqui, no meu blog do Portal Infonet “O Assassinato de Carlos Firpo”, onde relaciono ao final todas as fontes consultadas para a elaboração do artigo. Duas foram as principais motivações: conhecer a vida e a obra de um dos mais importantes médicos sergipanos do século XX e seu fim trágico, e a canção Injustiçada, de Antônio Garcia Filho, oferecida a Milena Mandarino na cadeia. Um grande cantor nacional à época, Alcides Gerardi, interpretou e gravou a composição pela gravadora Colúmbia e o cantor sergipano Antônio Teles incluiu no seu repertório nos shows e nos programas radiofônicos. Em junho de 2008, o jornalista Luiz Eduardo Costa começou a publicar uma série de artigos semanais no Jornal do Dia intitulada “O Crime da Rua de Campos”. O livro deveria sair em seguida, mas uma ação judicial impediu a sua publicação. Resolvida a pendenga na Justiça, o autor finalmente lançou o tão esperado livro, alterando o seu título para A Casa Lilás.

Texto e imagens reproduzidos do site: infonet.com.br