segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

Aracaju no meu viver, por Odilon Machado

Foto reproduzida do Google e postada pelo blog, para ilustrar o presente artigo

Texto publicado originalmente no site do Portal INFONET, em 17 de março de 2010

Aracaju no meu viver

Por Odilon Macahdo (Blog Infonet) 

Quando eu nasci, Aracaju estava vivendo a ressaca de uma noite de festas. Comemorava-se a ascensão da nova constituição estadual, nascida em 1947, em pleno regime de liberdades após o período autoritário de Getúlio Vargas.

Eu nasci no número 192 da Rua de Pacatuba. Neste tempo minha Rua era uma das mais destacadas artérias da cidade. Por ali passava tudo, de procissão a enterro, desfile de bloco de carnaval, marcha de soldado, passeata de estudante, sem falar que o leite vinha de carrocinha e o pão em cesto e quentinho.

A Rua de Pacatuba era e continua limitada pelas praças Fausto Cardoso e Camerino.

Na primeira, a Praça Fausto Cardoso, encontravam-se os poderes legislativo e executivo de Sergipe; o governo no Palácio Olímpio Campos e a Assembléia no Palácio Fausto Cardoso. Hoje estes palácios ali estão, conservando o nome e sem mudança de feitio, mas exibindo des-feitio humano, de rastro e degradação, dizendo somente o que foi, o que não é nada por sinal, como bem dizia o poeta que não amava a pegada marcada, por só pesada.

Mas a Praça dos Palácios também exibia dois grandes hotéis, o de Rubina e o Sul Americano, ocupando duas esquinas, e um casario rasteiro, espaço que continha uma sorveteria Aurora de lembrança fugaz, algumas repartições que não existem mais, restando por persistentes apenas somente os prédios do arquivo e/ou biblioteca pública, e a sede da Delegacia Fiscal Federal.

No mais tudo foi derrubado, surgindo os cinqüentenários Edifícios Walter Franco, São Carlos e do Cine Pálace, então o melhor cinema da cidade, e em tempos mais recentes a prediação do Poder Judiciário, o Fórum Tobias Barreto, e da nova Assembléia Legislativa no Palácio João Alves Filho, bem como grandes espaços vazios usados como abrigo e estacionamento de automóveis.

Se a Praça Fausto Cardoso era vibrante e importante, a Praça Camerino era tranqüila e silenciosa exibindo uma arbórea extensão residencial, e um calçadão excelente para os volteios de bicicleta, centrada com a estátua de Sílvio Romero, livro à mão e de costas ao rio, contemplando o lado mais aristocrático da Praça e seu casario.

A Praça Fausto Cardoso de meu tempo de menino era cortada de jardins num colorido de flores, verdadeiro convite para o deleite das tardes e noitinhas à brisa vinda do Rio Sergipe, acolhedora e amena.

Neste tempo as águas estuarinas do Sergipe por límpidas e convidativas, recebiam levas de banhistas à sua margem direita nas manhãs ensolaradas. Margem que era e continua nossa, enquanto do outro lado a paisagem exibia o longínquo o colar coqueiral da ilha de Santa Luzia. Uma distância maior, porque nesse tempo ainda não existia a canoa motorizada de Xeba, e a travessia se fazia lenta ao sabor da correnteza com velas ao vento, em pirogas preguiçosas e jangadas perigosas.

Vejo-me criança à margem do rio Sergipe na cacunda de meu pai. Seria um dia de domingo talvez, porque eram muitos os banhistas no seu leito. Havia inclusive um trampolim nas imediações do Colégio do Salvador, ou mais além, acessível somente aos bons nadadores que os havia bastante.

Alguns desses nadantes atravessavam o rio a nado, como Zé Peixe e seus irmãos, raça anfíbia que se perpetuou como história viva e que ainda permanece conosco, em braçadas mais ousadas, abraçando ainda o doce rio salgado, hoje menos belo, por maculado.

Porque o Rio Sergipe sempre osculou salgadamente a Rua da Frente da cidade, quer por cota rala e fundura rasa frente ao mar, quer porque o subsolo sergipano é montado em farta camada salina; os sais evaporitos que seriam a grande esperança do Estado.

E o estuário era tão salgado que alguns, por desvio ou pouco avio, o chamavam em desapego de “a maré” , quando se lhe pescavam muitos siris de isca e jereré. Mas que hoje restou pior, virando caudal esgoto da cidade que lhe amou em pequenez.

Um vício da cidade e do bicho homem que em devolvendo o beijo amoroso, no rio resolveu espalhar e emporcalhar com a própria escumalha, em dejeção e excremento.

Isso desde o meu tempo de menino, só para historiar a evolução fecal de coliforme partindo de eras antanhas das “fábricas de cocô”, como assim eram apelidadas as deficientes e mal afamadas estações elevatórias de efluentes, e que eram em número de três; a primeira localizada no oitão da alfândega, ao lado do palácio Serigy e das suas esféricas bolas de cimento armado, a segunda na travessa que prenunciava a larga Avenida do Barão do Maroim, e a terceira no conjunto mais além da fundição, junto ao Cotinguiba Clube ou ao Sergipe seu irmão, nas regatas e no futebol.

Hoje o rio é quase cloaca, um impeditivo para as disputas de regatas e os demais esportes náuticos. E os governos se sucedem em multivariada ideologia, todos bostando no rio. Uns defecando escondidos, outros obrando abertamente, em pouca vergonha ou envergonhados, mas todos cagando no rio.

Uma cagação bem ampliada, porque a cidade no meu tempo de menino era pequena e limitada, que chegava a ser contida por linhas de bondes decadentes, como traços limitantes dos contornos citadinos. Tempo em que a fossa estuarina não se fazia visível como agora, e era agradável os passeios de bonde que me pareciam cômodos e eficientes.

Relembro estes passeios acompanhados de minha Nanan, a nossa cozinheira, segunda mãe que tivera, em carinhos e atenção, com o bonde seguindo uma linha do centro ao sul pela Rua de Itabaiana , salvo engano, depois virando na Avenida Augusto Maynard, estendendo-se em demanda da Rua da Frente, a pouco lembrada Ivo do Prado, depois atingindo a o Bairro Industrial e chegando até o sopé da ladeira do Santo Antônio.

Mas se o rio transmudou em cloaca os bondes foram logo aposentados, sendo-lhes retirados os trilhos em desuso exílio de sucata e ferro velho, igual ao relógio de quatro faces, que nunca exibira exatidão uníssona, bem posto e bem centrado na pavimentação a paralelepípedos entre o jardim da retreta dominical e o entre – vão dos palácios executivos e legislativos, local onde se implantou uma herma do Almirante Barroso junto ao primeiro e último mictório público.

Mijadouro que não mais existe, mas que por uso perfunctório separava a grande tragédia política da cidade; Fausto não mirava Olímpio, e este mesmo que o quisesse tinha na frente um panteão miccional a lhe cobrir o empenho de uma possível mirada fatal.

Voltando agora a esta sequencia de praças chegávamos à sede matriz da igreja catedral, cercada por um belíssimo parque zoológico com direito a aquário, sinuoso leito de canal, repleto de peixes e alevinos, despertando nos meninos o ludo e a inspiração, com direito a araras esganiçadas em farto viveiro de pássaro, capivaras, cotias, caititus e outros roedores, sem falar numa onça que ficava por detrás da igreja, e outros animais como macacos e papagaios, com direito a sabão de macaco, uma frutinha espumosa de fedor empesteante que caia das árvores junto a muitos oitis amarelinhos, todos fustigados pelo lento e pegajoso andar do bicho preguiça,

Assim era Aracaju, com o Parque Teófilo Dantas engalanado para as feirinhas de fim de ano, onde o carrossel do negro Tobias reinava ao centro em apitos de corridas.
  
Parque de muitos brinquedos. Dos barcos puxados a corda, aos carrosséis aviões; dos chuveiros e rodas gigantes, das rifas e dos tiros ao alvo em espingardas de ar comprimido, pescarias de prenda e laçadas em jogo de argola, sem falar da série de roletas nos jogos par ou impar, vermelho ou negro, com fichas e placas coloridas faiscando de luzes em sons atraentes de promessas.

E porque não falar dos picolés da Yara e do São José, e do sorvete da Cinelândia, preenchidos na casquinha às colheradas? Ah, que saudade do big-bom e do picolé vitaminado da Yara, enrolados cuidadosamente em papeis sedosos! Que dizer também do cachorro quente de Seu João, inigualável? Um pão Jacó apenas, preenchido com carne frita com batatas?

Que dizer das ruas calmas de pouca insegurança, tempo em que os automóveis vinham e voltavam pela mesma via sem contramão, universo de veículos contado a dedos, com as placas enumeradas segundo um status de importância tola, mas social?

Que dizer de outro tempo, onde já maior eu percorria a cidade nos pedais de uma bicicleta, sem vencer as suaves ladeiras do Santo Antônio e as da Rua de Laranjeiras, terríveis, sobretudo a de sentido oeste leste. Tempo em que a cidade se extinguia nos areais suíços do oratório Dom Bosco e de Bebé, nos apecuns alagados junto ao fundo da Igreja e do Colégio São José, justo na Praça Pinheiro Machado onde Tobias Barreto imperava solitário e esquecido, e do Aribé bem longínquo, cedendo o próprio nome a um Siqueira Campos de descabida homenagem, sem falar da Tebaida, do Carro Quebrado e da terrível estrada Timoteana que desapareceram e foram perdidos…

Falar do Aracaju de Santo Doutor, de Escarrate e do Moleque Namorador, que saiam xingando e ameaçando surrar de cacete os meninos que os provocavam. Aracaju de Maria Inocentinha, Sá Maria dos Cachorros e de tantos loucos e pedintes. E de tantas que se vendiam nos prostíbulos do Vaticano, o nosso mercado em cópia espúria de Bramante.

Aracaju de ancoradouro estreito onde os parcos navios vencendo a estreita barra aportavam à ponte do Lima, o principal trapiche portuário. Sergipe que dizia querer um porto para firmar o Estado em soberania. E que depois o porto chegou e muito pouco vingou.

Aracaju de praias distantes como Atalaia Velha, que era uma viagem para lá chegar, vencendo uma ponte que desabou, e Atalaia Nova, esta bem mais distante ainda, lá do outro lado do Rio Sergipe, difícil de atravessar, onde o sonho de uma ponte era impossível. E sem falar do Mosqueiro de impossível acesso.

Aracaju da praia formosa; de uma balneabilidade lodosa e duvidosa, recebendo águas palustres pelos canais das quatro bocas, onde o banho era vertido por bueiros traiçoeiros.

Aracaju heróica e rebelde exibindo coragem e altivez brandindo armas nos movimentos tenentistas do audaz 13 de Julho, hoje mais esquecido que exaltado.

Aracaju cidade projetada em tabuleiro de xadrez, segundo a concepção do Engenheiro Pirro e conforme a ousadia de Inácio Barbosa e de João Gomes de Mello, o Barão de Maroim. Mas que depois perdendo o traço e seu compasso, rejeitou a regra e a simetria, preferindo o caos como engenharia. Um pecado recorrente com a prediação teimando em avançar no passeio do público e no espaço urbano das ruas

Aracaju, Cajueiro de Papagaios, no dizer de muitos e de Garcia Moreno, em seu livro de crônicas assim nomeado.

Aracaju de tantas saudades e encantos. Aracaju cantada em muitos versos e em muitos hinos, como os de Antônio Feijó, Freire Ribeiro e Alfeu Meneses (Hino do Centenário de Aracaju), que poucos cantam por não mais conhecerem o seu refrão, e outros como José Gentil Leite (Hino de Sesquicentenário de Aracaju), Leozírio Guimarães (Aracaju), Antônio Garcia (Aracaju, uma estrela), Cláudio Miguel (Cheiro da Terra), Antônio Vilela (Atalaia), Hugo Costa (Paisagem de Aracaju), e tantos outros bem ou menos recitados...

E outros cantos a Aracaju de autoria desconhecida, como a cantata infantil que apresento por final, sem som e sem visual, só por lembrança da minha Tereza menina, neste dia sorridente do 155º aniversário da cidade Capital do meu viver:

Aqui em baixo deste céu azul
Vive coberta pela mão divina
Neste torrão tu és de norte a sul
A linda e bela cidade menina.

O Cotinguiba a beijar-te a fronte,
Tão docemente com carinhos mil.
Ali também o coqueiral defronte
Ama e protege a caçulinha do Brasil

Aracaju, tão pequenina!
Tua beleza encanta a toda a gente
Quem a olhar-te fica enamorado,
E o coração apaixonado sente

Lindo cenário de beleza,
Beleza rara deste céu primaveril.
Aracaju presente que Papai do Céu
Ofereceu para o orgulho do Brasil.

Texto reproduzido do site: infonet.com.br/blogs

quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

Chorando ainda por Nina

Nina como está no meu livro “Despercebido… 
mas não indiferente.”

Publicado originalmente no site do Portal INFONET, em 5 dezembro de 2019

Chorando ainda por Nina
Por Odilon Machado

Encontrei com Luiz numa loja de sapato.

La vinha ele, a esposa na frente, ele com um boné na cabeça, olhos escuros na face, meio perdido no lusco-fusco da loja, escurecido pelo óculos que permite olhar, sem desvendar, poder até fingir, não reconhecer, nem identificar, o que não se quer, por melhor escolher.

– Luiz! – gritei eu para seu espanto.

Luiz era o mesmo Luiz Santana, que eu identificara nos meus escaninhos de lembrança, após tantos anos passados.

Luiz olhou para mim, estendeu a mão com uma desconfiada gentileza, logo despertada por um coração que vibrou alegre, radiantemente rejuvenescido.

– Odilon! Odilon Cabral Machado, nós fomos Professores Eméritos juntos!

– Pois é! – adiantei rápido – E eu fui o orador da solenidade, nos quarenta anos da nossa Universidade Federal de Sergipe!

– Odilon! – disse-me ele – Nina, sua irmã, será homenageada no dia 8 de dezembro próximo, por ocasião das “Bodas de Ouro” de nossa formatura como Bacharéis de Direito!

A memória me trouxe Nina de volta, seus sonhos, seus desejos, tudo aquilo que fora perdido, vivido e jamais esquecido, cinquenta anos passados, o que me leva a tomar como tema, chorando ainda por ela, em meio à alegria de seus colegas, como Luiz, que a vida permitiu comemorar o justo jubileu de ouro.

Peço licença a meus leitores para externar um pouco do que me assoma a alma e a lembrança, momentos que me são mais íntimos, mas que merece o destaque, o compartilhamento, puro e simples, mesmo que possa parecer bobo e até desnecessário.

Mas, o que é desnecessário? – Pergunto eu, um velho tolo, que teima em rejeitar a gaveta dos usados e obsoletos, os mortos arquivos de desusados destinos a reter poeira e traça nos armários.

Desta irmã, a título de recordação e não obituário, direi que seu nome era Nina Maria Cabral Machado, nascida em 11 de março de 1946, na Rua de Pacatuba em Aracaju, filha de Maria de Lourdes e Manoel Cabral Machado, nossos pais.

O nome, como era comum na minha família, era uma homenagem a nossa avó paterna, Professora Maria Evangelina Cabral Machado, educadora conhecida como Dona Nina, idealizadora do Asilo São José, na cidade sergipana de Capela.

Como as lágrimas abafam a inspiração e tentando aplacar os meus índices glicêmicos, num desafio que nunca venci, mesmo agora tomando enormes quantidades de pílulas em prévias de insulina, ouso republicar um texto meu, datado dias após a morte de Nina, acontecida no já longínquo 28 de maio de 1978, que restou em mim enquanto tristeza inesquecível.

Segue o texto:

Nina

Você foi embora muito cedo, com 32 anos apenas.

Jamais pensei que você seria tão efêmera, tão frágil e tão fugaz.

Você era forte, disposta, corajosa e eu não ficava atrás.

Em casa, e só em casa, chamavam-nos ‘a Leoa’ e ‘o Tigre’. Um equívoco, uma coisa da qual nunca gostáramos, por depreciativa e chata, e porque a finalidade era ‘desleonizar’ a leoa e ‘destigrar’ o tigre.

Uma coisa equivocada, sobretudo, vendo o que foi sua passagem pela vida…

Mas, deixa pra lá! Ficou a lembrança e a missão de fazer diferente com a prole felina que chegasse.

Você chegou sempre na minha frente, e assim foi na vida e na morte.

Você viu a luz primeiro, quer quando abriu os olhos em 11 de março de 1946, e eu ainda não existia, quer quando os fechei (e fui eu que os fechei!) em 28 de maio de 1978, dia em que você partiu em busca do criador, nossa causa e objetivo.

Nossa diferença de idade, pouco mais que catorze meses, nos tornou alunos da mesma aula com Tia Anita (Professora Helena Barreto), no Educandário Brasília, pesquisadores da mesma experiência de vida e, sobretudo, forjadas foram as nossas personalidades no mesmo fogo e no mesmo cadinho.

Tínhamos as nossas diferenças, tão naturais à concepção psicossomática.

Era até compreensível que existissem entre nós as divergências infantis e até adolescentes, afinal malhados na mesma bigorna, nunca abdicaríamos das nossas identidades, que se eriçavam mais das vezes, afinal todo jovem é sedento de afirmação. E é um equívoco tolhê-la, afinal alguém já disse para os jovens, aquilo que bem pode ser aplicado a todo filho; “aos jovens só podemos dar raízes e asas!”

Passada esta fase juvenil em que andamos paralelamente os mesmos passos, veio-nos o amadurecimento e com ele a responsabilidade de viver. E assim passamos a trilhar caminhos diferentes, porque você constituiu família logo, e eu pouco depois, em busca da realização integral, só possível com a preservação da espécie.

E Deus lhe deu o marido amado e três filhos amoráveis. Mas, o destino não lhe reservou uma alegria plena, afinal o seu primogênito seria um quase vegetal sorridente.

E aí você virou realmente uma leoa.

Não uma leoa raivosa e ameaçadora, mas a leoa que lutou até quando lhe faltaram as forças.

E assim estou a vê-la incansável, viajando com o esposo na busca da solução científica que curasse a sua criança. Vejo a revolta dos dois com os diagnósticos pessimistas e irreversíveis, se repetindo sucessivamente.

Estou a vê-la se exaurir em repetidos exercícios inúteis, tudo fazendo pela cura da criança, que era linda, sem manchas, tinha olhos de um puríssimo azul, mas que na vida só aprenderia a sorrir. Um sorriso de ternura que encantava a todos que o viam. Um santinho, por que não?

Mas, se as mães existem também para santificar os filhos, as mães padecem o seu calvário quando sua criança não enseja a plena esperança de vida.

E assim carregando a sua cruz, sem entrega-la a um Simão Cireneu qualquer, as forças de sua vida começaram a faltar. Era o seu coração que enfraquecia, que não resistia.

Estou a lembrar um seu diálogo (o último e derradeiro) me dizendo que Deus a curaria, pois não deixaria que seu pequeno Manoel Francisco ficasse para ser cuidado sem mãe. Seria uma provação muito grande, e Deus não o permitiria que fosse missão de outrem.

Mas Deus o quis diferente. E o remédio que lhe seria de sua cura foi-lhe fulminante e letal. E você sumiu da minha frente, brusca e terrivelmente, numa convulsão tão violenta, que parecia tudo estar se avessando no seu corpo por inteiro.

E assim você passou.

Partiu sem conseguir o milagre da recuperação, que pedia para aquele risonho e indefeso ser, que por certo está a sentir a sua partida.

Agora, finda sua passagem entre nós, contemplando a sua vida, vejo-a a como um exemplo de provação.

Se a vida é mais tristeza que alegria e felicidade, seus 32 anos de vida foram incontestes exemplos desta assertiva.

Porém, como aqueles que Deus mais ama são os que mais cedo chama para o seu convívio, poupando-os da tarefa terrena de continuar ou destruir a criação, creio que você está agora no convívio de nossos antepassados e amigos, intercedendo junto ao Pai por todos nós aqui na terra.

Assim, você agora é nossa Santa!

É desse modo que a vejo nesses dias de tristeza, quando ainda é tão recente o seu afastamento.

Interceda, ó minha irmã, por todos aqueles que ainda respiram  e possuem a alegria de ser e ter, para que esse mundo seja melhor do que foi o seu. Por seus filhos pequeninos, sua razão de rir e sonhar. E em particular peço por nós, sua família, nós que sentimos a falta da sua voz, de seus verdes olhos, de seu sorriso e de sua presença, mas que esperamos, após cumprir a tarefa que nos foi destinada, encontrá-la para sempre no convívio eterno.

Deixando agora o texto escrito após o passamento de minha irmã, a Bacharela Nina Maria Cabral Machado, em 28 de maio de 1978, aos 32 anos de idade, volto ao encontro mantido com o seu colega de Faculdade Direito, Luiz Santana, para dizer algo mais sobre minha irmã e sua colega.

Nina, como as meninas da minha família, após o Curso Primário no Educandário Brasília das Professoras Helena Barreto e Alaíde Oliveira, cursou o Ginásio e o Científico no Colégio Nossa Senhora de Lourdes das Irmãs Sacramentinas.

Prestou Concurso Vestibular da Faculdade de Direito de Sergipe, graduando-se em 8 de Dezembro de 1969, no Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe.

Nina gostava de idiomas. Naquele tempo a gente estudava Latim, Francês e Inglês. Ela também estudou piano com a Professora Maria Guimarães Gesteira, chegando a se apresentar em público nos Concertos infantis da época.

Enquanto estudante de Direito, Nina exerceu a função de Promotora Substituta de Justiça na comarca de Capela, tendo atuado muito jovem no tribunal do júri daquela cidade, fazendo-o com desenvoltura e competência sem alardes.

Logo após a formatura, Nina se casou com o Engenheiro Agrônomo Jorge do Prado Sobral com quem teve três filhos, Manoel Francisco, o filhinho excepcional que lhe sobreviveu por sete anos e morreu aos 14 anos, o Médico Jorge Junior que lhe daria dois netos, Francisco Manoel e Nina, e o Engenheiro Agrônomo Paulo Henrique, pai de dois garotos, Paulo e Jorge.

Nina redigia muito bem, tinha boa oratória, e com certeza teria bom futuro na carreira jurídica, não fosse uma opção assumida, viver para o lar, que a afastou da profissão, sobretudo após o nascimento do filho primogênito doentio a lhe reivindicar toda atenção.

Dos colegas de Faculdade, estou a lembrar de alguns: Luiz Santana, Elvira Dina, Isabel Amaral, Ana Lúcia Campos, Anderson Nascimento, Cândida, Carlos Alberto Sobral, Mario Jorge Vieira, Wellington Mangueira, Artêmio Barreto, e outros cuja lembrança escapa.

No contexto de memória, conta-se que perguntado ao Abade Sieyès (1748-1836), único revolucionário a atingir a velhice, mesmo após ter escrito o sedicioso texto “O que é o Terceiro Estado?”, por ocasião dos “Estados Gerais”, passando depois pelo “Julgamento do Jogo da Pela”, posar de “Regicida” cortando a cabeça de Luís XVI, o Capeto, conseguindo escapar do “Terror” e de sua revanche em “Termidor”, virar Cônsul com Napoleão e Roger Ducos, vingar ministro do Império até cair em desgraça em 1815 com Waterllo e a restauração da monarquia, conservando o cocar e a cabeça, sendo único revolucionário a morrer de velho, o Ex-Abade respondeu sucinto: – “O que eu fiz?;  Vivi!”

Em tempos menos tormentosos, a mesma pergunta bem poderia ser feita agora aos colegas de Nina que jubilosos festejam a vida e os cinquenta anos de profissão vitoriosa.

Que Deus os cubra de bênçãos até para lhes dizer que Nina não viveu para poder abraçá-los como bem gostaria.

Deus quis que nós, vocês e eu, vivêssemos. Ela não viveu!

Texto e imagem reproduzidos do site:  infonet.com.br

terça-feira, 3 de dezembro de 2019

Por onde anda você: Arivaldo Carvalho

Foto: César Cabral

Publicado originalmente no site RADAR SERGIPE, em 28/09/2019 

Por onde anda você: Arivaldo Carvalho

Arivaldo Carvalho nasceu em Aracaju, no dia 6 de setembro de 1923. Filho de João Alves de Carvalho e D. Altina Moura Carvalho, se destacou como grande empresário ligado ao comércio de madeiras e, também, como notável desportista, praticante de esportes radicais.

O seu pai fundou a Serraria Carvalho, localizada na Avenida Coelho e Campos, no ano de 1935, quando ainda existia a linha férrea por onde o trem chegava até a estação do Mercado, no centro comercial de Aracaju.

No escritório, algumas condecorações na parede.

Arivaldo casou-se com a senhora Iara Sobral Carvalho (falecida), tem três filhos (Ronaldo, Renato e Arivaldinho) e oito netos e cinco bisnetos.

Desde cedo, começou a praticar atividades esportivas bem diferentes daquelas desenvolvidas pelos jovens da sua época. Aos 17 anos já frequentava o Aeroclube de Aracaju e logo se aventurou em voos panorâmicos sobre a capital sergipana. Fez curso de pilotagem para comandar pequenas aeronaves.

Enquanto esteve servindo o Exército, por ser membro do Aeroclube, integrou o grupo de salvamento das vítimas dos naufrágios ocorridos na costa de Sergipe, durante a II Guerra Mundial.

Após o fim da guerra, deixa o Exército e começa a trabalhar com o seu pai, dono da Serraria Carvalho. Comprou um caminhão para trazer madeira que compraria no Pará para abastecer a empresa, em Aracaju. Foram quase dois anos até assumir o comando da serraria, sequenciando o vitorioso empreendimento, de pai para filho.

Sempre com espírito jovem, Arivaldo Carvalho dividia o seu tempo entre a Serraria Carvalho e a prática dos seus esportes preferidos. Inovador, gostava de esportes que elevassem o nível da adrenalina.

Amante do automobilismo, participou de diversas provas nas mais diferentes categorias. Representou Sergipe na II Prova dos 500km da Bahia, em 1967, evento realizado pelo Governo Luiz Viana Filho. Em Sergipe, foi um dos organizadores e vencedor da Corrida Cristinápolis/Aracaju, pela BR-101, pilotando um Simca Chambord. Para fechar a BR e possibilitar a corrida, foi necessária a intervenção do governador Lourival Baptista.

Em julho 1971, participou do Rally da Integração Nacional, cujo percurso foi do Oiapoque ao Chuí, passando pelas principais capitais como Fortaleza, Recife, Salvador, São Paulo e Curitiba. Fez a prova pilotando um Corcel GT, incrementado.

A velocidade sempre foi a sua fiel companheira. Dessa forma, em 1968, juntamente com Fernando Melo e Eduardo Pina vai a São Paulo e compram três Karts, os primeiros de Sergipe. Fundam, então, a Associação Sergipana de Kart. As primeiras provas foram realizadas na praia de Atalaia e na Praça Fausto Cardoso, entre o Palácio Olímpio Campos e o Tribunal de Justiça de Sergipe. Com o esporte em ascensão, Arivaldo consegue com o governador Paulo Barreto de Menezes a cessão de uma área, desmembrada do Aeroclube, para que fosse construído kartódromo de Aracaju, na avenida Maranhão. Durante os anos 70 diversos campeonatos, nas mais diferentes categorias, foram realizados.

Amante de esportes náuticos, Arivaldo Carvalho foi fundador do Iate Clube de Aracaju e do CPAM (Clube de Pescadores Amadores de Molinete), tendo participado de duas equipes de pesca (Gelo e Sercar).

Membro do Aeroclube de Sergipe, foi dele o primeiro aparelho Ultraleve de Aracaju.

Arivaldo Carvalho sempre esteve ligado à aventura, à velocidade e à emoção. Praticou e difundiu o esporte, como poucos. Um desportista nato, ao pé da letra.

Como empresário foi uma referência no ramo de madeiras. Dirigiu a Serraria Carvalho por cerca de 50 anos, gerando emprego e renda, contribuindo, de maneira singular, para a construção de Sergipe.

Prestes a completar 100 anos, tem problemas com a visão e com a fala. A saúde ficou debilitada após o falecimento, recente, da sua esposa. Mora na Chácara Iara, no Mosqueiro, sob os cuidados dos filhos e cuidadores.

Texto e imagens reproduzidos do site: radarsergipe.com.br

domingo, 1 de dezembro de 2019

Homenagem a Dona Helena Barreto (1916 - 2019)

 

"Helena Barreto, D. Helena, uma das Diretoras do Educandário Brasília, professora do terceiro ano. Aos 97 anos em plena lucidez. Muito querida por todos, principalmente para quem teve a honra de ser seu aluno". (Roberto Garcez).

Foto/Legenda reproduzidas do Facebook/Roberto Garcez.


 Aniversário de Dona Helena Barreto, a grande mestra do Educandário Brasília, completando 98 anos de idade e de bem com a vida. Quê beleza!

Foto e informação de legenda: Facebook/Roberto Garcez.


Homenagem a Dona Helena Barreto, aos 99 anos, em plena lucidez e disposição.

Uma das fundadoras do antigo "Educandário Brasília".

Foto e informação de legenda: Facebook/Roberto Garcez.

100 anos de Dona Helena Barreto, minha professora do Colégio Brasília.
Foto e legenda reproduzidas do Facebook/Tito Garcez (28/07/2016)


“Nos deixou hoje (28/11/2019) nossa querida professora do terceiro ano, D. Helena do  Educandário Brasilia, que Deus a tenha em um bom lugar” (Tasso Garcez).

Texto e imagem reproduzidos do Facebook/Tasso Garcez

Monsenhor José Carvalho de Souza





Publicado originalmente no Facebook/Jorge Carvalho Do Nascimento, em 30/11/2019

Parabenizo o amigo Monsenhor José Carvalho de Souza pela celebração dos 93 anos de vida e lançamento do livro biográfico MONSENHOR JOSÉ CARVALHO DE SOUSA: UMA VIDA, UMA OBRA, de autoria da escritora Karine Belchior de Souza. 

Noite muito agradável, em companhia de vários amigos, como o colega de carreira docente na Universidade Federal de Sergipe, Prof. Dr. Carlos Roberto Rodrigues Santos e também da Profa. Dra. Patrícia Verônica Sobral de Souza.

Texto e imagens reproduzidos do Facebook/Jorge Carvalho Do Nascimento