quarta-feira, 28 de abril de 2021

Biografia jogará luzes sobre João Alves...

Legenda da Foto: No dia 27 de janeiro de 2019, na casa dos Alves, com Maria, João Alves, João Neto e a neta Malu, Déborah revela intenção do livro

Publicado originalmente no site JLPOLÍTICA, em 27 de Abr de 2021, 21h30

Biografia jogará luzes sobre João Alves. “É grande vulto na história dos últimos 100 anos de Sergipe”

Por Jozailto Lima (da Coluna APARTE) *

Colaboração de Tanuza Oliveira.

E isso caberá à médica psicanalista, intelectual e pesquisadora Déborah Pimentel em parceria com o jovem sociólogo Igor Salmeron.

Igor fora convidado por Déborah para fazer leituras e pesquisas que pudessem subsidiar a obra que ela estava a escrever. “Foi assim que Igor tornou-se coautor em uma parceria profícua”, admite a autora.

A futura biografia de João Alves Filho, falecido no dia 24 de novembro do ano passado, aos 79 anos, não tem nome ainda. Mas já tem um propósito bem sedimentado.

“Eu sempre fui uma grande admiradora do ex-governador João Alves Filho, o mais ilustre político que Sergipe em toda a sua história pôde oferecer ao povo brasileiro. Eu sempre achei que ele merecia um resgate da sua bela trajetória”, diz.

A futura obra de Déborah se propõe a fazer o resgate de uma vida a serviço de três mandatos de governador do Estado de Sergipe, de dois a servir à Prefeitura de Aracaju e uma passagem cheia por um Ministério do Brasil.

“A história, aquela com letras garrafais, certamente fará justiça e honrará o bom nome de João Alves Filho que, pelo conjunto de sua obra, é reconhecido e considerado o melhor e o maior realizador de obras de grande vulto na história dos últimos 100 anos de Sergipe, e que trouxe, indubitavelmente, mudanças e que favoreceu a qualidade de vida dos sergipanos”, diz a autora.

A propósito do livro, Déborah Pimentel bateu com a Coluna Aparte o papo que vai a seguir.

Aparte - De onde nasce o projeto de fazer uma biografia de João Alves Filho: da senhora mesma ou da família dele?

Deborah Pimentel - Eu sempre fui uma grande admiradora do ex-governador João Alves Filho, o mais ilustre político que Sergipe em toda a sua história pôde oferecer ao povo brasileiro. Digo, povo brasileiro, porque na condição de ministro, João Alves Filho foi muito proativo e em apenas um ano de trabalho nos deixou legados, a exemplo do Ibama, que ele criou. Eu sempre achei que ele merecia um resgate da sua bela trajetória, haja vista o desencadeamento dos fatos melancólicos na sua última gestão na Prefeitura de Aracaju, porquanto a sua doença.

Aparte - A melancólica segunda passagem pela Prefeitura da capital não macula a biografia dele?

Deborah Pimentel - Nenhum fato apaga o brilhantismo dele. Para escrever a biografia, fui muito estimulado por meus pais, Nazário e Elena Pimentel, que sempre nutriram admiração, respeito e amizade por ele. Eles acreditaram, como eu, que este registro da vida e obra de João Alves Filho era um necessário resgate do bom nome e da singularidade do mais importante político de Sergipe e cujos feitos e realizações na cidade de Aracaju, no Estado de Sergipe e no Nordeste deixaram uma marca indelével, que dificilmente outros políticos sergipanos conseguirão superar nos próximos anos.

Aparte - Como a senhora dispara a ideia? 

Deborah Pimentel - Procurei a senadora e lhe comuniquei o meu desejo. Fui até à sua casa de praia no dia 27 de janeiro de 2019 e tive o privilégio de ser recebida de forma acolhedora, pela senadora e por João Alves Filho, que sentou conosco à mesa, João Alves Neto e Malu - filha e neta do casal - e conversamos por um bom tempo. Foi um encontro agradabilíssimo. A empreitada começou ali, naquele dia. Convidei logo em seguida um brilhante e jovem sociólogo, Igor Salmeron, hoje recém-empossado no Movimento Cultural Antônio Garcia Filho da Academia Sergipana de Letras, para que fizesse leituras e pesquisas que pudessem subsidiar a obra que eu escrevia. Foi assim que Igor tornou-se coautor em uma parceria profícua.

Aparte - Em que pé está a empreitada e deve render um livro de quantas páginas?

Deborah Pimentel – São 19 capítulos na biografia de João Alves Filho. Estamos com 450 páginas, no momento. Afinal, são dois anos e três meses de muito trabalho. Será um livro robusto. Estamos iniciando a fase da seleção das fotografias para ilustrar a obra, o que pode aumentar bastante o número de páginas. Entrei em contato com João Neto, o filho do biografado, para ter acesso ao arquivo fotográfico do seu jornal, com Eugênio Nascimento, do Jornal da Cidade e o fotógrafo Diógenes Di, que acompanha a senadora em eventos e tem um arquivo de 5 mil fotos. Agendamos e vamos escolher os melhores registros. Enquanto isso, convidei José Anderson Nascimento, presidente da Academia Sergipana de Letras para prefaciar a obra. Ele já o fez, o que nos honra. Até agora ele foi o único que leu o texto - além dos meus pais, claro, que foram incríveis com a revisão e as sugestões e por quem expresso um oceano de gratidão. A verdade é que estou com muito ciúme da cria que ainda estou lapidando e lambendo diariamente e não gostaria que fosse divulgada nenhuma linha sequer antes do lançamento. A família de João Alves Filho, creio, ficará muito satisfeita com todos os registros.

João Alves faria 80 anos no próximo dia 3 de julho, mas faleceu no dia 24 de novembro do ano passado

Aparte - A senhora já tem definido o nome da biografia?

Deborah Pimentel - Quando enviei para os meus pais e para Anderson, nós tínhamos dois títulos provisórios. De repente surgiu um terceiro por sugestão de um jornalista, amigo querido, mas não definimos ainda.

Aparte - Para quando a senhora projeta lançá-la?

Deborah Pimentel - Desejo um lançamento presencial, em um evento à altura da memória e bom nome de João Alves Filho, convidando os seus familiares, amigos, jornalistas, os seus confrades da Academia de Letras e políticos de todas as esferas. Esperaremos um momento oportuno, haja vista a pandemia da Covid-19.

Aparte - Para além do tocador de obras, existe um outro traço preponderante de João Alves enquanto homem público?

Deborah Pimentel - O engenheiro, o Dr. João, como muitos chamavam João Alves Filho, sempre buscou um sentido para a sua vida. Era um trabalhador incansável, visionário, um gestor futurista, um líder motivado e otimista, empreendedor e muito determinado. Ou quem sabe, fosse um teimoso. Adjetivos chegam facilmente, por associação livre de ideias. Ele sonhava, planejava e realizava. E quando havia obstáculos, os enfrentava. João Alves Filho repetia uma máxima de que “a história só é feita pelos teimosos, ousados, corajosos e pelos que creem sempre”. Esse traço de personalidade talvez fosse sua maior marca registrada. Além disso, ele sabia escolher o homem certo, na hora certa, para o projeto certo. João realmente acreditava que o sucesso de qualquer gestão é a equipe, precedida por um bom planejamento. As escolhas e decisões que ele tomou durante a sua vida foram definitivas nos resultados que ora são presentes no nosso entorno. Para isso, João necessitou dar sempre o melhor de si mesmo em tudo o que se propôs a fazer e fez. Um homem brilhante!

Aparte - A viúva exibirá algum traço de ressentimento pelo modo como os amigos próximos de João o trataram no fim da vida dele?

Deborah Pimentel - A senadora Maria do Carmo é uma mulher muito discreta, serena e pragmática, e não manifestou nada neste sentido. Mas, suponho que deva ter as suas mágoas.

Aparte - A senhora não considera a vida pública sergipana um pouco avara, somítica, em provimentos biográficos de suas figuras de Estado?

Deborah Pimentel - Confesso que nunca fui atenta a isso, até então, mas provocada, afirmo que conheço bons historiadores em Sergipe, basta citar o icônico Ibarê Dantas e o saudoso e bom amigo Luiz Antônio Barreto, cujos legado são de extraordinária riqueza. O Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe fervilha em constantes produções e publicações na sua revista, com nomes de grande destaque, a exemplo de Terezinha Alves de Oliva, do meu confrade Antônio Samarone, Saumíneo da Silva Nascimento, Ana Maria Fonseca Medina, entre outros. Na Academia de Letras e a de Educação temos historiadores como José Anderson Nascimento, Jorge Carvalho do Nascimento, e a UFS por sua vez tem desenvolvido excelentes trabalhos no Departamento de História. Talvez estas produções careçam de mais divulgação e mais visibilidade para o público em geral. Hoje eu sei que fazer uma biografia é um trabalho que exige muito esforço, muita pesquisa, muitas leituras. É algo extenuante, e que requer disciplina e tempo. Às vezes comentava com minha família que escrever sobre João está dando mais trabalho do que a minha pesquisa do doutorado, cuja obra foi publicada pelo Conselho Federal de Medicina em Brasília e tinha um pouco mais de 300 páginas. Agora, na reta final, posso admitir que fui muito ousada e ambiciosa. A história, aquela com letras garrafais, certamente fará justiça e honrará o bom nome de João Alves Filho, pelo conjunto de sua obra e que, por unanimidade, entre seus pares, independentemente de ideologias político-partidárias, aliás, mesmo entre os seus adversários políticos, é reconhecido e considerado, até então, o melhor e o maior realizador de obras de grande vulto na história dos últimos 100 anos de Sergipe, e que trouxe, indubitavelmente, mudanças e que favoreceu a qualidade de vida dos sergipanos.

* É jornalista há 38 anos, poeta e fundador do Portal JLPolítica.

Texto e imagem reproduzidos do site: jlpolitica.com.br

domingo, 25 de abril de 2021

"As Muitas Faces de Luiz Teixeira", por Jorge Carvalho do Nascimento

Publicado originalmente no blog EDUCAÇÃO HISTÓRIA E POLÍTICA, em 24 de abri de 2021

As Muitas Faces de Luiz Teixeira
Por Jorge Carvalho do Nascimento*                                          

O terceiro dos sete filhos de Oviedo Teixeira e Alda Mesquita Teixeira, o engenheiro civil Luiz Antônio Mesquita Teixeira, morreu neste sábado, 24 de abril de 2021, 79 anos após o seu nascimento no dia 20 de junho de 1941. Seu irmão mais velho, José Carlos Teixeira foi importante liderança política em Sergipe, tendo exercido cinco mandatos de deputado federal, um de vice-governador, além de ter sido prefeito de Aracaju.

Luiz Antônio Teixeira, o seu irmão Tarcísio e o seu pai, Oviedo, sempre ofereceram a José Carlos o necessário suporte econômico e de mobilização de lideranças locais e infraestrutura que possibilitaram a este o exercício da condição de chefe político da família e da oposição à ditadura militar entre os sergipanos.

O patriarca Oviedo chegou a exercer um mandato de deputado estadual. Luiz Antônio e Tarcísio sempre atuaram nos bastidores. À família Teixeira, o Estado de Sergipe e os brasileiros devem o mérito da organização do diretório estadual do Movimento Democrático Brasileiro – o MDB, sob a liderança de José Carlos, em 1966.

Foi trabalhando pelo MDB que José Carlos, Luiz Antônio, Tarcísio e Oviedo ofertaram a Sergipe o único espaço de atuação política daqueles que se insurgiram contra a ditadura militar que tomou o poder no Brasil em 1964. Num período em que a ditadura inviabilizava por todos os meios a atividade dos oposicionistas e quase a totalidade dos políticos de Sergipe era filiada a Aliança Renovadora Nacional – Arena (o partido que apoiava a ditadura), a família Teixeira manteve às suas expensas as atividades do MDB e estimulou a projeção de importantes lideranças de esquerda como Jonas Amaral, Jackson Barreto e Rosalvo Alexandre.

Luiz Antônio Teixeira cursou a escola primária no Educandário Menino Jesus, em Aracaju, que funcionava na rua Maruim, 600. Foi aluno das quatro irmãs que eram proprietárias da escola: Myriam, Iracema, Corália e Helena. No curso ginasial foi para o Colégio Tobias Barreto. No curso científico, Luiz Antônio Teixeira frequentou o primeiro ano do colégio Atheneu Sergipense. No segundo ano, transferido para a cidade de Salvador, no Estado da Bahia, fez matrícula no Colégio Marista. O terceiro ano foi cursado no Colégio Central.

Prestou concurso vestibular para Engenharia Civil em Campina Grande, no Estado da Paraíba, juntamente com o cunhado Luciano Franco Barreto que mais tarde casou com sua irmã Maria Celi. Frequentou aquele curso durante os anos de 1959 e 1960, mas em 1961 obteve transferência para a Universidade Federal do Paraná, onde colou grau em 1964.

Logo após a sua colação de grau foi convidado por Celso de Carvalho (o primeiro governador da ditadura em Sergipe) a comparecer a uma reunião privada, ao lado do seu pai. Celso ofereceu a Luiz um emprego de engenheiro do Departamento de Estradas de Rodagem – DER (à época um dos salários mais altos do serviço público sergipano), além de um cargo de diretor na mesma repartição. Isto faria Luiz Teixeira começar sua carreira com uma remuneração muito elevada.

O pai, Oviedo, agradeceu educadamente ao governador, disse da sua felicidade por ter o seu filho lembrado, mas afirmou que havia investido na formação do jovem para que este fizesse carreira como empreendedor. Não aceitou, ainda mais sendo Luiz Antônio irmão de José Carlos Teixeira, deputado federal sergipano que fazia oposição à ditadura tanto no plano federal quanto no cenário da política estadual.

O engenheiro Luiz Antônio Teixeira trabalhou durante três meses com o pai Oviedo na empresa Cimavel, revendedora de carros da marca Ford. Oviedo Teixeira ofereceu ao filho os recursos que ele necessitava e este investiu na aquisição da Sociedade Nordestina de Construções - Norcon, até então pertencente ao empresário Gerci Pinheiro Machado.

Gerci pretendia se desfazer do negócio para regressar a Recife, sua terra natal. A pequena Nordestina mantinha como sua única atividade um contrato de prestação de serviços com o Departamento Nacional de Obras e Saneamento – DNOS. Luiz assumiu o controle da empreiteira em sociedade com o irmão Tarcísio, economista, que somente foi trabalhar no negócio em 1968, cuidando da gestão administrativa da empresa. O também engenheiro e cunhado Luciano Franco Barreto participava da sociedade, mas, poucos anos depois se afastou e fundou a Construtora Celi.

Na década de 80 do século XX, Luiz Antônio e Tarcísio haviam transformado a Norcon na maior empresa de construção civil da região Nordeste do Brasil. Uma empreiteira que adotou como foco principal a construção de unidades residenciais em edifícios de apartamentos e também em condomínios horizontais.

Na história da cidade de Aracaju, a Norcon foi responsável pela maior revolução no modo de morar, principalmente das camadas medias e das famílias da elite local. Todavia, também foram inúmeros os empreendimentos habitacionais populares que a Norcon plantou nos bairros pobres da capital do Estado de Sergipe.

A Norcon verticalizou a cidade pela visão de desenvolvimento urbano de Luiz Teixeira. Ele comprou terrenos na década de 70 do século XX em áreas inabitadas e investiu fortemente na construção de condomínios verticais em direção a zona sul, levando as famílias de renda média e os ricos aracajuanos a viver na Praia 13 de Julho, ao longo da avenida Francisco Porto, nas avenidas Hermes Fontes e Adélia Franco.

Na primeira década do século XXI, criou um bairro inteiro – o Jardins. Fez vultosos investimentos que levaram milhares de famílias de aracajuanos a buscarem as terras da margem direita do rio Poxim como opção de moradia, expandindo a cidade em direção ao bairro Atalaia e a chamada zona de expansão até a margem esquerda do rio Vaza-Barris e o bairro Mosqueiro.

Sergipe perdeu hoje um importante mecenas que ajudou a e estimulou inúmeros artistas das várias linguagens, nas três últimas décadas do século XX e na primeira década do século XXI. Isto sem falar do boêmio e festeiro que sempre foi. Frequentou bares e conviveu com músicos de todos os matizes.

Figura controversa. Rico, empresário da construção civil, multiplicou sua fortuna, gerou emprego e renda, fez mecenato, estimulou as artes e foi um dos maiores financiadores dos grupos que lutaram e resistiram contra a ditadura militar em Sergipe. Fará muita falta.

*Jornalista, professor, doutor em Educação, membro da Academia Sergipana de Letras e presidente da Academia Sergipana de Educação.

Texto e imagem reproduzidos do blog: educacaohistoriaepolitica.blogspot.com

sábado, 24 de abril de 2021

Câncer mata o empresário Luiz Antônio Teixeira



Luiz Antônio Teixeira (esquerda) ao lado do irmão e sócio Tarcísio Teixeira

Texto publicado originalmente no site DESTAQUE NOTÍCIAS, em 24 de abril de 2021

Câncer mata o empresário Luiz Antônio Teixeira

O empresário Luiz Antonio Mesquita Teixeira, 80 anos de idade, morreu neste sábado (24), vítima de câncer. Proprietário da Construtora Norcon, ele lutava contra a doença, que se agravou nos últimos dias. O sepultamento acontecerá, às 10h deste domingo (25), no Cemitério Santa Isabel, em Aracaju. O empresário deixa viúva Ceiça Teixeira e quatro filhos.

O empresário Luciano Barreto, dono da Construtora Celi, conta que o amigo faleceu em casa. Ele e Luiz Teixeira se conheciam desde a época do ginásio escolar, quando estudavam no Colégio Estadual Atheneu Sergipense. Luciano e a família receberam a notícia com muito pesar. “Luiz Antônio Teixeira da sua construtora uma das maiores do Nordeste. Continuamos amigos durante todo tempo. Lamento profundamente o seu falecimento. Sergipe perde um grande empresário e excelente engenheiro”, disse Luciano.

O começo da carreira

E Luciano Barreto relembra os tempos de colégio com Luiz Teixeira: “Nos descolamos para Bahia visando fazer o segundo grau e nos preparar para o vestibular de Engenharia. Escolhemos Campina Grande onde fomos aprovados. Por circunstâncias locais, me transferir para Politécnica/Bahia e ele para o Paraná. Após três anos, em Jequié, nos associamos na Norcon. Irrequieto, resolvi começar a Construtora Celi. Ele fez da sua construtora uma das maiores do Nordeste. Como seu cunhado, me solidarizo com a toda a família enlutada. Maria Celi, soma comigo de iguais sentimentos de pesar”.

Luiz Teixeira foi um grande empresário para o estado de Sergipe. A construtora Norcon, que ele liderou junto com o irmão Tarcísio Teixeira, existe desde 1958, quando foi fundada pelo patriarca da família, Oviêdo Teixeira. Em 1965 a gestão foi repassada para os filhos, que deram segmento a um trabalho sério e de responsabilidade social.

Assembleia lamenta

O presidente da Assembleia Legislativa de Sergipe, deputado estadual Luciano Bispo (MDB), externou votos de pesar pela morte de Luiz Antônio Mesquita Teixeira. O parlamentar se solidarizou com os familiares e amigos do empresário.

“MAIS UMA P E R D A

Por João Augusto Gama

Em 1966, perto das eleições, a primeira no regime militar, eu me encontrei com Luiz Teixeira (Luiz Antonio Mesquita Teixeira) na praça Fausto Cardoso, próxima à ponte do Imperador. Luiz com o otimismo típico dos Teixeira, acreditava na vitória do MDB contra a Arena, partido de suporte do regime militar. Eu tinha 19 anos e o entusiasmo de Luiz me contagiou. Seu irmão, Zé Carlos, se elegeu deputado federal. A Assembleia Legislativa tinha 32 deputados, o MDB elegeu apenas seis.

Em 1970, quando o regime militar radicalizou contra o MDB, o entusiasmo de Luiz não arrefeceu. O fracasso do MDB foi grande. Zé Carlos, o segundo deputado mais votado do estado, não se reelegeu. Luiz sentiu a pancada.

Em 1974 , Luiz e Tarcísio Teixeira descobrem e lançam como candidato ao senado Gilvan Rocha, médico brilhante. Gilvan ganha. Esta é uma vitória pessoal dos dois irmãos.

Em 1978, contra a orientação dos irmãos, Zé Carlos se lança candidato ao senado e perde a eleição.

Cito fatos antigos. Não falo da participação da Norcon, empresa de Luiz e Tarcísio, na mudança urbana de Aracaju.

Não tenho como comentar o falecimento de Luiz Antonio Mesquita Teixeira. Nos últimos anos perdemos o contato. A vida nos separou. No passado tivemos uma relação estreita, muito próxima.

Luiz deixa uma marca forte. Como amigo. Como empresário. Até mesmo como sonhador.

Velhice só trás isso: perda.

Luiz é uma grande perda”.

Por Soayan

“Um querido, super fã de Jazz. Ia sempre me ver no Teimonde e também fiz várias apresentações na casa deles, no Matapuã. Triste perda. Vá em paz, amigo, ouvir um jazz nas estrelas”.

Jornalista Clara Angélica

“Lindo, Gama. Muito bom mesmo. Embora não tivéssemos mais contato com Luiz, todos sabemos da grande pessoa que era, do grande amante da bossa nova, um homem com uma visão de futuro.

Gostaria de compartilhar suas palavras, posso?”.

Texto reproduzido do site: destaquenoticias.com.br

Covid -19 mata o jornalista e pedagogo Euclides Oliveira

Publicação compartilhada do site DESTAQUE NOTÍCIAS, de 23 de abril de 2021

Covid-19 mata o jornalista e pedagogo Euclides Oliveira

Em 2017, Euclides Oliveira lançou a sua última obra: ‘Garimpando Lembranças’

Menos de uma semana após ter sido internado na UTI de um hospital particular de Aracaju, o jornalista e pedagogo lagartense Euclides Oliveira do Santos, 74 anos, morreu vítima do novo coronavírus. Além da idade avançada, ele tinha diabetes do tipo DM2 – forma mais grave da comorbidade.

Conhecido desde cedo como filho da professora Huda de Oliveira, ao longo dos anos se notabilizaria na imprensa, escrevendo para os jornais do estado: Gazeta de Sergipe, Jornal da Cidade, O Dia e Jornal de Sergipe. Trabalhou ainda para o baiano A Tarde. Na política, o jornalista também foi destaque, tendo exercido o cargo de oficial de gabinete de ao menos sete governadores: Lourival Batista, João Andrade Garcez, Paulo Barreto, José Rollemberg, Augusto Franco, Djenal Queiroz e João Alves Filho.

O historiador e professor lagartense Claudefranklin Monteiro lamentou a morte de Euclides Oliveira: “Um grande amigo e incentivador do meu trabalho”. Ocupante da cadeira número 17, da Academia Lagartense de Letras, Euclides Oliveira lançou em 2017 sua última obra. ‘Garimpando Lembranças’, que reúne 48 crônicas, distribuídas em mais de 180 páginas, sobre personagens do cotidiano papa-jaca. “Nesta obra, financiada com recursos próprios, eu quero mostrar para os mais jovens o que foi Lagarto”, disse Euclides à época do lançamento.

Fonte e foto: Portal O Papa Jaca

Texto e imagem reproduzidos do site: destaquenoticias.com.br

terça-feira, 13 de abril de 2021

Domingos Pascoal ENTREVISTA Expedito de Souza

Legenda da foto: Imagem reproduzida do Facebook/Expedito de Souza e postada pelo blog para ilustrar a presente entrevista

Texto publicado originalmente no site do Portal INFONET, em 13 de abril de 2021

Domingos Pascoal entrevista Expedito de Souza

Por Domingos Pascoal (Blog Infonet)

A nossa conversa de hoje é com José Expedito de Souza, originário de Riachão dos Dantas, escritor memorialista da história urbana das ruas, esquinas, bodegas e quitandas do centro antigo da cidade de Aracaju. Expedito pertence ao Movimento de Apoio Cultural de Sergipe da Academia Sergipana de Letras e à Academia Lítero-cultural de Sergipe.

DP – Quem é José Expedito de Souza?

ES – Sou Economista e iniciei minha vida profissional no CONDESE (Conselho de Desenvolvimento Econômico do Estado de Sergipe); trabalhei no CEAG, hoje, SEBRAE onde fui Gerente de Estudos e Pesquisas e publiquei livros e (Diagnósticos) sobre os principais setores econômicos do Estado de técnicos (Estudo da Mão-de-Obra nos Municípios de PDRI – Tabuleiros Sul do Estado de Sergipe). Trabalhei também na CODISE, na EMSURB e em Secretárias da Prefeitura Municipal de Aracaju e do Governo do Estado de Sergipe. Fui professor no Centro Federal de Educação Tecnológica de Sergipe, na FASE e UNIT. Fui funcionário da Petrobras durante oito anos e empresário no ramo metalúrgico.

DP- Qual a sua origem e trajetória?

ES – Sou o mais velho dos nove filhos de Seu Zuza do Bilhar e Dona Eulina. Nasci em Riachão do Dantas em Sergipe, onde meu pai durante mais de quatro décadas teve um bar que era conhecido por: Bilhar de Seu Zuza… O romancista Francisco Dantas fala do bilhar de meu pai em seus livros. Óbvio que jogo sinuca e bilhar desde criança.Tive uma infância de menino do interior, com muito jogo de bola, banho em tanques, em riachos, pescarias, caçadas, jogo de marraio (gude) e outros. Comi mel-cabaú com farinha de mandioca no engenho Salgado de seu Manezinho, junto com um bando de meninos.

Com onze anos de idade, vim morar em Aracaju na casa de meus avós maternos e tias, que possuíam bodegas.

DP – Fale de sua formação.

ES – Em Riachão, estudei no Grupo Escolar e fiz banca na escola de Dona Mariana. Em Aracaju, estudei no Grupo Escolar Manoel Luiz, no colégio Graccho Cardoso, na Escola Industrial de Aracaju, no Atheneu Sergipense, na Escola Técnica Federal de Sergipe. Formei-me em Economia na Universidade Federal de Sergipe no ano de 1973. Durante o curso de Economia estagiei um mês no Congresso Nacional, em Brasília. Fiz curso de Consultoria Comercial e Pesquisas na USP – Universidade de São Paulo, em São Paulo. Mestrado em Mediação e Arbitragem. Foi tutor de Cursos online e presenciais sobre Mediação e Arbitragem. Assessor da Câmara de Mediação e Arbitragem da Associação Comercial e Empresarial de Sergipe. Fiz vários cursos na área gerencial e pesquisas em centros de treinamento nas cidades de Belo Horizonte, Brasília, Pirenópolis, Recife, São Paulo e outras.

DP – Durante seu aprendizado existiam vozes dissonantes? Você poderia citar algum exemplo e como você reagiu e superou.

ES – Os percalços que vivenciei em minha caminhada serviram de motivação e experiência para continuar produzindo.

DP – Como você se tornou um escritor.

ES – Quando exerci a atividade de Economista escrevia por dever de ofício. Fotografo a cidade de Aracaju desde o ano de 1974 e formei um acervo de imagens que me possibilitaram realizar exposições e publicar álbuns e livros. No arrojo das fotos, escrevi romances e crônicas que também publiquei.

DP – Fale um pouco sobre sua produção literária.

ES – Publiquei os álbuns de fotografias: “Memórias de Aracaju”, em 2012 e “Memórias de Aracaju II”, em 2013 e 2017. Os livros: “Relógio do Tempo”, em 2014 e 2015; “Tempo de Almas e Anjos”, em 2016; No “Tempo de Cada Um”, em 2018 e “Memórias de Aracaju Bodegas”, em 2019. Os álbuns de fotografias contrapõem fotos de locais da cidade em anos remotos com os dias de hoje, demonstrando as mudanças arquitetônicas, geográficas e outras, ocorridas na cidade de Aracaju num lapso de quase 50 anos. Os livros são estórias sobre as estripulias de minha infância em Riachão do Dantas, da adolescência e as mudanças ocorridas com a minha vinda do interior para a capital.

DP – Você tem algum trabalho para publicar?

ES – Sim. “Memórias de Aracaju III” (álbum fotográfico), “Aracaju 50 anos de Fotografias” (catálogo e 39 quadros). E um novo livro de contos e crônicas (rememorações) ainda sem título.

DP – Mande uma mensagem aos jovens que querem escrever.

ES – Que leia muito. Registre todos os seus momentos de lazer, estudo e trabalho. Um dia você poderá transformá-los em livros.

DP – Fale sobre as suas realizações como participante de tantos movimentos envolvendo a produção cultural e literária.

ES – Participo dos movimentos literários: Bienal do Livro de Itabaiana; Encontro de Escritores; O Escritor vai à Escola e O escritor na livraria. E outros. Sou membro da Academia Literária de Sergipe – ACLS e do MAC – Movimento Cultural Antônio Garcia Filho da Academia Sergipana de Letras e da Academia Lítero-Cultural de Sergipe, como já foi dito.

DP – Avalie momento crítico que atravessamos.

ES – Apesar de estarmos num tempo difícil, a produção de livros e as atividades literárias têm crescido. Ultimamente surgiram novas academias em Aracaju e no interior do Estado e este é um movimento cultural de suma importância. Elas reúnem escritores, mesmo virtualmente, que publicam livros, fazem antologias, realizam concursos e descortinam um mundo novo e promissor para jovens estudantes em rincões onde o livro é um objeto raro. Graças ao semeador de academias, o incansável Domingos Pascoal, apoiado pela Academia Sergipana de Letras, esse momento crítico que atravessamos tem sido menos traumático.

Texto reproduzido do site: infonet.com.br

sexta-feira, 9 de abril de 2021

Orlando Dantas e D. Dulce

Publicação compartilhada do Perfil no Facebook de Paulo Roberto Dantas Brandão, em 9 de abril de 2021

Nesse 9 de abril, sexta-feira, são 39 anos da morte de Orlando Dantas, meu avô.

Aquele 9 de abril de 1982 também era uma sexta-feira, só que sexta-feira da Paixão.

Na foto, com minha avó Dulce.

Quis homenageá-los com uma foto que ainda não havia publicado.

Texto e imagem reproduzidos do Facebook/Paulo Roberto Dantas Brandão

quarta-feira, 7 de abril de 2021

'Ilma Fontes e sua resistência ao ordinário', por Francisco Diemerson

Legenda da foto: Imagem reproduzida do site Jornal o Boêmio e postada pelo blog para ilustrar o presente artigo.

Texto publicado originalmente no site JLPOLÍTICA, em 5 de abril de 2021

Opinião - Ilma Fontes e sua resistência ao ordinário

Por Francisco Diemerson (Coluna APARTE) *

O ano era 2001 e em um de fim de tarde banal estava eu com alguns amigos bebendo vinho barato dos estudantes na Praça do Atheneu quando parou um jeep antigo e uma mulher de cabelos brancos desceu e nos entregou uns jornais diferentes. Depois descobri que ali era a jornalista Ilma Fontes, entregando o precioso “O Capital - Jornal de Resistência ao Ordinário”.

Naqueles traçados do destino, fui trabalhar no Conselho Estadual de Cultura e eis que na primeira reunião do plenário, onde eu iria ser apresentado como novo estagiário, eis que reconheço a cabeleira branca por baixo do boné: era um reencontro com Ilma Fontes.

Desde aquele ano até agora Ilma foi parte de minha vida. Foi uma mentora, no entender dos movimentos culturais sergipanas. Me apresentou Mário Jorge, Newman Sucupira, Wagner Ribeiro, Araripe Coutinho. Me mostrou uma riqueza de histórias vividas, de livros lidos e imaginados, de uma série de projetos que ela sonhava e colocava em pé.

Nos encontramos várias vezes quando ela dirigia o Teatro Lourival Baptista, onde me falava do teatro sergipano e de seus desafetos carinhosos. Mensalmente, na primeira quinta, ela coordenava um encontro marcante no Espaço Cultural da Assembleia Legislativa, integrando artistas plásticos, escultores, músicos, escritores, atores e uma imensidão de gente que ia aproveitar o coquetel e rever os amigos numa animada noite.

Juntos, criamos a Casa do Poeta de Aracaju, promovendo encontros com estudantes de ensino médio no auditório da Escola do Legislativo, onde ela falava de suas paixões pelas artes, pela literatura, pela cultura.

Era um show de alma profunda, que nos deixava provocados a produzir e a produzir mais. Vários sábados, após minhas aulas no cursinho pré-vestibular, passava em sua casa na Beira Mar sempre levando biscoitos amanteigados para seus pais, numa festa de abraços e histórias ricas de detalhes curiosos.

Todos os meses a gente se encontrava para receber as novas edições do “O Capital - Jornal de Resistência ao Ordinário”, um verdadeiro painel das mais variadas ideias sobre arte, música, política, literatura, com os ácidos e certeiros editorias da própria Ilma e que fazia um panorama carinhoso e duro com os andamentos culturais de Sergipe.

Lembro da vez que ela me parou o trânsito no meio da Barão para me entregar um envelope de jornais dizendo “leve para seus alunos”.

Quando fundamos a Academia de Letras de Aracaju, ela me ligou perguntando dez mil coisas e reclamando que ela não era careta para ser acadêmica. E desligou o telefone. No dia seguinte, me ligou de novo e disse: “olhe, Diemerson, eu vou mas se inventarem chatice eu caio fora”.

E ela foi e fundou a cadeira com Mário Jorge como patrono e foi uma grande provocadora dos debates, das ideias, sempre presente nas atividades da Academia e muito firme nas cobranças, e sempre carinhosa, atenciosa.

Criei coragem e pedi que ela fizesse o prefácio do meu primeiro livro. Entreguei os originais e fiquei dias nervoso, aguardando sua ligação, sabendo que se ela não gostasse do material não iria escrever nada.

Ela me liga e manda ir em sua casa. Chegando lá, totalmente nervoso, ela me diz: “rapaz, você é corajoso. Adorei esses textos, mas acho que esse título é péssimo. Eu sugiro que mude para esse aqui”. E assim, direta e carinhosa, ela mudou o nome do livro, a ordem dos textos e me mandou um texto maravilhoso.

Os cuidados médicos afastaram ela de nosso cotidiano e essa pandemia piorou tudo. Às vezes quando ela estava na porta de casa eu parava o carro e mandava beijos e ela sorria respondendo. Na última vez que nos falamos, ela estava preocupada com alguns projetos e mandando conselhos para a Academia.

Ilma Fontes foi uma firme ativista da cultura sergipana, mas sua marca que fica mais evidente para mim é a da sua capacidade de apoiar o novo, de juntar jovens e provocar neles inspiração e resiliência, incentivando autores, poetas, artistas e jornalistas.

A cultura sergipana fica mais pobre sem Ilma. Depois de uma luta dolorosa, ela agora descansa e nos deixa a missão de preservar e valorizar seu legado. E assim faremos. Obrigado, grande Ilma Fontes!

[*] É professor e presidente da Academia de Letras de Aracaju e do Conselho Estadual de Cultura de Sergipe.

Texto reproduzido do site: jlpolitica.com.br

terça-feira, 6 de abril de 2021

"O beijo de Ilma Fontes", por Marcos Cardoso

Legenda da foto: Imagem reproduzida do site Jornal do Boêmio e postada pelo blog para ilustrar o presente artigo.

Texto publicado originalmente no site DESTAQUE NOTÍCIAS, em 6 de abril de 2021

O beijo de Ilma Fontes
Por Marcos Cardoso *

O mundo intelectual e artístico aracajuano parou numa noite de 1980 para assistir à exibição de um curta-metragem que causaria excitação e espanto. O filme de 7 minutos, em super-8, era “O Beijo”, de Ilma Fontes e Yoya Wursch, roteirizado, dirigido e protagonizado por elas, com fotografia, som e montagem de César Macieira. O resumo do argumento é sobre duas mulheres que, envolvidas nas tramas existenciais, procuram respostas para a melhor maneira de viver. Mas o que todos queriam ver era o longo e caliente beijo trocado pelas duas. Um escândalo!

Isso era Ilma Fontes, intensa, verdadeira e provocadora.

O filme foi vencedor do VIII Festival de Cinema da Universidade Federal de Sergipe e, tempos depois, a fita original foi doada ao Museu de Arte Moderna de São Paulo. Para comemorar os quarenta anos de sua estreia, Ilma gravou o áudio para um poema-filme dirigido por Eduardo Waak. Em meio a imagens de mulheres que ela admirava, “fortes, lindas ou não, gays ou não, mulheres, de todas as classes e mulheres sem classe também”, Ilma declama: “Me pega como se eu fosse um ramalhete e me joga pro alto, para as solteiras”.

Em Sergipe, ela abriu caminho na marra, enfrentando o preconceito contra os artistas e a arte local. “Se Spielberg nascesse em Aracaju seria carteiro ou professor de matemática”, declarou para Antonio Abujamra (1932-2015), na TV Cultura, quando dividiu o programa “Provocações” com o psicanalista Roberto Freire (1927-2008). Ela era médica psiquiatra e legista.

“Sergipe é muito conservador e quem cria fica logo marcado, figurinha carimbada”, atestou. Segundo Ilma, os homens de Sergipe “me viam como aquela gostosinha que dava quando queria, pra quem queria, mas não chegava pra eles”. E não havia esperança de que Sergipe mudasse? “Eu não tenho esse tipo de esperança verdejante, eu vou à luta, eu sou muito insistente. Já que eu não posso ser a Rita Lee, eu sou a irrita aqui: eu incomodo, eu falo, eu provoco”.

Ilma partiu para o cinema quando constatou que o público local rejeitava o teatro, num inexplicável desrespeito ao ator, ao diretor, ao autor da casa, segundo ela mesma disse numa outra entrevista, ao blog Sociedade dos Artistas do Brasil, de Reginaldo Paz, em dezembro de 2015.

“Não adianta fazer tanto esforço, o povo não quer isso, o povo de Sergipe gosta de ator da Globo, então eu disse ‘vou fazer um filme com ator da Globo’ e fiz ‘Minha Vida em Suas Mãos’, de 2001, com direção de Maria Zilda Bethlem e 18 atores da Globo. Mas é de Ilma Fontes”.

O argumento lhe foi passado numa consulta de uma paciente que a autorizou a fazer o roteiro com a história dela. “Mas eu fui traída pela minha parceira de roteiro (Yoya Wursch), porque o final do filme não é aquele besteirol que Maria Zilda como produtora se arvorou no direito de mudar muitas coisas. Esvaziaram o conteúdo social do filme e sexualizaram”.

Ela também escreveu, produziu e dirigiu junto com Yoya Wursch o filme “Arcanos (O Jogo)” (1980), que é estrelado pelo velho e querido amigo Amaral Cavalcante (1946-2020), com quem também teve muitas rusgas, principalmente nos tempos de Folha da Praia, onde assinou coluna e foi editora assistente. São dela o curta “A Taieira” (1986) e o seriado de TV “A Última Semana de Lampião” (1986).

Por quase 30 anos fez de “O Capital – Jornal de resistência ao ordinário” sua trincheira de luta, um periódico de tendência socialista, aberto à poesia e que circulava por todo o Brasil.

Seu sonho de cinema era transformar em filme o romance “Os Corumbas”, do “parente” Amando Fontes. Uma frustração foi não ter filmado “A Fúria da Raça”, um roteiro que escreveu para os 400 anos de Sergipe e depois publicado em livro. O último livro foi o catálogo de arte “Álvaro Santos – Memórias”, publicado em 2017 pela Associação Sergipana de Imprensa, com apoio da Academia Sergipana de Letras.

Ilma teve um longo relacionamento com Yoya e assumia pelo menos oito casamentos. Mas a paixão da vida toda foi o poeta Mário Jorge, a quem considerava um primo, pela amizade que vinha da infância e por causa do sobrenome do procurador de justiça Osman Fontes (1916-1992), que o criou como filho.

“Mário Jorge descobriu minha sexualidade, coisa de primo, tínhamos afeto um para o outro e, como nós éramos libertários, nós não tínhamos a caretice do ciúme. Ele tinha as namoradas dele, inclusive ele namorou com duas primas minhas, de famílias diferentes, do lado do pai, outra do lado da mãe. A gente não tinha posse, nem ciúmes, todo mundo podia fazer o que quisesse. Mas nas madrugadas, a gente sempre estava juntos”.

Parente mesmo, primo de 2º grau tanto do lado do pai como do lado de mãe foi o poeta Hermes Fontes. “Nós temos muito orgulho do Hermes”, admitiu, sem deixar de fazer um atalho: “Os Fontes são poetas, suicidas e alcoólatras, em geral é uma combinação que a gente não pode fugir muito ao DNA, então veja Hermes Fontes: no dia 25 de dezembro de 1930 deu um tiro no peito, se matou.”

“Amando Fontes se matou cedo, foi para São Paulo, se meteu com o movimento sindicalista anarquista, então se matou. Meu avô deu tiro na cabeça. A gente que é Fontes convive com a ideia do suicídio com uma naturalidade muito grande, isso é uma opção, é uma questão de honra. Os Fontes não se matam por dívida nem financeira nem moral, se matam por questões existenciais, morais, por dificuldades pessoais, é uma coisa muito louca. Então, eu durmo com meu 38 do lado, esperando a minha hora.”

A brava aracajuana Ilma Mendes Fontes, filha do funcionário público Aderbal Fontes de Araújo Góis e da costureira Jenny Mendes Fontes morreu de câncer no último sábado, dia 3. Faria 74 anos no dia 10 deste mês de abril.

*Marcos Cardoso é jornalista e escritor. Foi diretor de Redação do Jornal da Cidade, secretário de Comunicação da Prefeitura de Aracaju, diretor de Comunicação do Tribunal de Contas de Sergipe e é servidor de carreira da UFS. É autor dos livros “Sempre aos Domingos – Antologia de textos jornalísticos” e do romance “O Anofelino Solerte”.

Texto reproduzido do site: destaquenoticias.com.br

'Adeus a Ilma Fontes', por Ivan Valença

Legenda da foto: Imagem reproduzida do site Jornal o Boêmio e postada pelo blog para ilustrar o presente artigo.

Texto publicado originalmente no site do Portal INFONET, em 5 de abril de 2021

Adeus a Ilma Fontes
Por Ivan Valença (blog Infonet)

Permitam-me os leitores recorrer a um lugar comum, ao abrir esta coluna, e dizer que Sergipe ficou um pouco mais pobre com o falecimento neste final de semana da professora Ilma Fontes. Nem procurei saber com quantos anos ela morreu, só que deixou um enorme legado aos coestaduanos para os quais trabalhou em incontidas obras de arte. Ilma Fontes parecia gozar da amizade de todos os sergipanos. Ela parecia também ser a mãe de todos nós tal a empatia que emanava dela nos diversos setores por onde passou. O meu primeiro contato com ela deu-se no início dos anos 60 quando a engajei como colunista social do jornal “Gazeta de Sergipe, então sob a liderança de Pascoal Maynard. Ela chegou arrasando introduzindo palavras novas para descrever a sociedade que acabava de nascer. Era uma descobridora de talentos que ela ia projetando para a vida. A sua página na velha e querida “Gazeta de Sergipe” foi se transformando na grande novidade da imprensa sergipana naquele início dos anos 60. Mas, Ilma era demasiada inquieta para ficar num lugar só. Uma belo dia ela me disse cansada daquela gente de sociedade que era obrigada a falar. Seus pertences cabiam numa só sacolinha de plásticos que ela carregava para todos os lados. Sabia escrever como poucas em Aracaju e isso a levou mais longe ainda ao rabiscar notas para jornais de fora da cidade. A morte dos pais não a afastou da casa onde sempre morou, na rua da Frente, e onde veio a falecer no final da semana . O aspecto físico dela nem de longe lembrava a moça bonita e elegante que estreou na crônica social.

Texto reproduzido do site: infonet.com.br

segunda-feira, 5 de abril de 2021

Aos 75 anos, Ilma Fontes pula pro outro lado


Texto compartilhado do site JLPOLÍTICA, de 3 de abril de 2021

Aos 75 anos, Ilma Fontes pula pro outro lado. É autora do verso “Aracaju é apenas um cu / mas como dói”

Ilma Fontes: lutou muito, mas a morte a venceu

Aos 75 anos, morreu no começo da noite deste sábado, 3 de abril, a médica psiquiatra sergipana e poeta Ilma Fontes. Não foi de Covid-19.

Desde o ano passado, Ilma Fontes descobriu-se portadora de um tipo raro de câncer de pele. Esteve internada num hospital de Aracaju por alguns dias, mas preferiu enfrentar a doença em home care, onde sucumbiu.

Ela estava muito abatida. “Ilma enfrentou sofrimento demais e hoje descansou. Estava muito debilitada e muito sofrida. Não teve nada a ver com Covid-19. Foi o câncer mesmo. O quadro dela era gravíssimo. As morfinas não faziam mais efeito”, disse o amigo Guga Viana, muito sentido.

Ilma Fontes não foi só poeta. Foi cineasta, agitadora cultural, médica legista. Jornalista mantenedora do jornal “O Capital”, que ela dizia que era de resistência ao ordinário.

Como poeta, Ilma Fontes era de uma fina concepção lírica moderna e de uma extremada ironia. Ligada ao movimento da poesia concreta ou marginal dos anos 70, no qual se inseriam de Cacaso a Paulo Leminski, passando pelo seu conterrâneo Mário Jorge Menezes, Ilma foi negligente com publicações de sua produção.

Só na década passada ela reuniu parte de sua obra num livro onde consta o iconoclasta poema “Confidência de Aracajuana”, no qual faz uma dura crítica à sergipanidade a partir do poema quase homônimo ao de Carlos Drummond de Andrade, “Confidência do Itabirano”.

“Aracaju é apenas um cu / mas como dói”, dizem os dois últimos versos do poema dela, em interlocução-paródia com os dois últimos versos do poema de Drummond - “Itabira é apenas uma fotografia na parede/ Mas como dói”. Veja o poema inteiro de Ilma.

Confidência de Aracajuana

Da série Pornografando Drummond

Há anos morri em Aracaju,

principalmente no dia em que nasci.

Por isso sou gay, orgástica: de nuvem.

Dois por cento de cajuína na alma

dois por cento de fel nas calçadas

e esse alegramento do que na vida é

pluralidade e solidão.

A vontade de amar, que me impulsiona

o trabalho, vem de Aracaju, de suas noites

azuis onde sobram mulheres e horizontes.

O hábito de mexericar, que tanto dilacera,

é amarga herança aracajuína.

De Aracaju levei poucas prendas

que posso oferecer: um búzio sujo

de petróleo, que trago no peito

um pensar desembestado como um defeito

essa falta de jeito, nenhum sofá

nem sala de estar, nada em volta.

Tive mesas, tive cadeiras, tive divãs!

Hoje, não sou funcionária pública. Nem

médica psiquiatra. Jornalista por ofício

com vício de cineasta, viro

o videócio na videocidade. Saudade.

Aracaju é apenas um cu

– mas como dói!

Texto reproduzido do site: jlpolitica.com.br

'Mário Jorge – O Poeta Que Nos Habita', por Ilma Fontes

Publicação compartilhada do blog MOVIMENTO ATIVISTA, em 7 de janeiro de 2017

Mário Jorge – O Poeta Que Nos Habita

Por Ilma Fontes *

 “Viver como passarinho e morrer a duras penas” é uma frase lapidar de Mário Jorge para definir a condição do poeta no século XX — onde a intensidade do viver é o que vale contra a longevidade da existência. Se contarmos o tempo dos primeiros aos últimos poemas mariojorgeanos vamos ter quinze anos cronológicos: dos 11 aos 26. Mas, diríamos, que anos! Incluindo as transformações gerais causadas pela ditadura militar enquanto o primeiro mundo se orientava por uma Nova Ordem Mundial. Portanto, Mário Jorge viveu na Terra em um momento muito importante para a humanidade na dicotomia social dos pobres e dos ricos. A consciência planetária disso o imbuía do dever moral de lutar por um mundo melhor. É nesse contexto que Mário Jorge entra em contato com a política do CPC — Centro Popular de Cultura, em São Paulo e se engaja na discussão sobre o caráter da poesia experimental e do concretismo nos projetos estético-construtivistas. A poesia como ferramenta de trabalho de conscientização. A partir daí, os poemas de Mário Jorge perdem a doce cana di lirismo real-socialista e mostra a paisagem urbana do concretismo: “Verdecanavi alto do avião / lativerdefundio canascida / latinegra vida fomedrada /verde cana vi alto do avião./ A palavra fotograficamente consumida anuncia avenida / verdecanavi…” poema musicado por Alcides Melo e gravado por Joésia Ramos.

Daquela primeira fase — que sua orgulhosa mãe tanto gostava, restou a vontade do Bem, que sempre moveu a ação do poeta. Os sonetos foram restritos a três versos, quando não apenas três palavras: “Demus grass a Deus”. Não mais a estética do poema, mas a estética da vida — que sempre tem que ser bela, como a flor que nasce no lodo. E era tamanha a intensidade da vida poética que não sobrava tempo para as aulas, na Faculdade de Direito, em Aracaju e Sociologia, em São Paulo — onde conheceu a nata da inteligência de sua geração atuando no movimento estudantil. Egresso do ME sergipano, convivendo com os contemporâneos do Sul, propiciou a vinda do Grupo de Teatro de Arena da Ilha (do Governador), em 1967, momento em que o regime militar endurecia as práticas contra os direitos dos cidadãos. Aqui foram presos Benvindo Cerqueira e Reinaldo Gonzaga (hoje atores da Globo), o músico Gonzaguinha (filho do Gonzagão), Luiz Fernando Arvalho (diretor da peça censurada “Joana-Flor”, de Reinaldo Jardim) e a única atriz do grupo, Lia Maria Lagoa Braga — prisões que repercutiram na coluna de Sérgio Porto — FBAPA — Festival de Besteira que assola o País — assinada por Stanislau Ponte Preta com a célebre frase do comandante de plantão: “Em Sergipe quem entende de teatro é a Polícia”. Em 1968, quando a linha dura ceifou a vida ou a vontade de lutar de muitos membros daquela geração, Mário Jorge também endureceu as palavras, transformando-as a ponto de dizerem o máximo no mínimo de letras.

Passada a décade de 1960 com todas as revoluções acontecendo no mundo do comportamento, da música, da linguagem teatral, cinematográfica, gráfica, visual, iconográfica e da forte presença das artes na política ativista mundial, podemos dizer que Mário Jorge foi uma antena dessa raça inovadora, em Sergipe. Lançou em 1968 sua única publicação em vida — RevoLição — um saco/envelope de poemas com capa ilustrada — um acidente (premonitório?) de carro em choque violento. O conteúdo desses poemas é duramente social, dureza que vai-se diluindo na terceira fase, que Thiago Prado chama de “Mítica-regressiva”. É como se Mário Jorge tivesse andado tão rápida e intensamente no tempo que aos vinte e poucos anos já tinha dado a volta sobre si mesmo. Regressivo? Acho que não, místico? Não tanto. Mítico? Sim, pois se tratava de um supercérebro conectado a um megacoração e uma grande-alma. Tanto que imortalizou-se levando junto a dedicada mãe. Dona Ivone de Menezes Vieira, titular da Biblioteca Municipal da Farolândia, que agora abraça esta homenagem ao imortal (sem academia) Mário Jorge.

 * Ilma Mendes Fontes é escritora, jornalista e cineasta. Formada em Medicina, optou pela literatura. É uma das mais brilhantes mentes emancipadas deste nosso país. Residente em Aracaju (SE), edita “O Capital” — jornal de resistência ao ordinário — desde 1991.

UM POEMA DE MÁRIO JORGE

LAVE MARIA CHEIA DE GRAXA O SUOR É CONVOSCO

Fragmentos de “Cuidado: Silêncios Soltos”

De sombras consumidas entre abismo

Fiz-me marginauta pescador de estrelas

Da imarginalização

Cavalguei nuvens de Vênus e calvário

Nos braços da menininha

Agora nem mais nem menos

Nem começo ou fim de linha

Fogo de mercúrio temperado em

Chuvas de verão é um bom remédio

Para loucuras brancas além de outras

Atenção

Estamos vivendo os últimos momentos

Da civilização ocidental podre e doente

Salve Marte e Vênus casados

Na força da bomba, na ira da hora, no soldo

No mais: blood blá, blá, blá

Prumode blá, blá, blá.

Mergulho lúcido no caos do ser

Quem vê que veja

Quem ser que seja

Sei lá

Quem vê que venha

Quem vem que tenha

Um sol

Estrelas do deus-menino

Desligadas do Natal.

Na boca do homem novo (em construção)

uma nova linguagem (em elaboração).

Renovar e renovar-se em constante redefinição perante a realidade,

o contemporâneo, o vir a ser: poesia e poeta.

O verso morreu afogado no marremoto da nova informação tecnológica.

Um mundo radicalmente novo eclode dos escombros da hora que vivemos.

Dinamitar os grilhões do passado que impedem a radical e profunda revisão

do hoje e sua negação.

Arte é forma de conhecimento. É reconhecimento.

Mário Jorge Vieira

(1946-1973)

 Postagem enviada por EDUARDO WAACK

brasil.revistadelosjaivas.com

Texto e imagem reproduzidos do blog: movimentoativista.blogspot.com

Adeus de Sergival Silva para Ilma Fontes

Texto publicado originalmente no Perfil do Facebook de Sergival Silva, em 4 de abril de 2021

Adeus minha querida Ilma Fontes...Foi uma honra para mim te conduzir pela alça até a sua última morada no Santa Izabel...Sei que você sabe que o que eu mais queria era que você ficasse entre a gente por muito mais tempo...Mas o Bom Deus resolveu aliviar seu sofrimento dessa metástase que te corroia a matéria e te levar antes de seu aniversário que seria próximo dia 10 de abril...Mas o que é o tempo diante desses poucos dias que faltavam, diante de tudo que você construiu durante sua existência entre nós no fazer cultural com a resistência do O Capital, que tinha até troféu para celebrar a arte de nossos pares, suas obras literárias e que também lançou a literatura de tanta gente?...Difícil enumerar tudo que você fez pela produção cultural, cinematográfica, de nossos artistas plásticos, musicais e todos os segmentos que povoaram sua vida...Sei que esses tempos de pandemia privou a presença, honras e homenagens públicas devidamente merecidas por sua trajetória, mas me despeço com a certeza que a celebração maior de todos é o legado que você nos deixa...Vai na paz...Descança seu espírito e olha por nós aí de cima ao lado dos poetas Mário Jorge, Santo Souza, Amaral Cavalcante, e tantos outros que partiram desta vida na glória da arte!!!

Texto reproduzido do Facebook/Sergival Silva.

domingo, 4 de abril de 2021

Artigo de César de Oliveira homenageando Ilma Fontes

Artigo publicado originalmente no Perfil do Facebook de César de Oliveira, em 4 de abril de 2021

Em 1984, quando fui convidado para integrar a equipe da Folha da Praia, pois estavam sem fotógrafo, começava ali uma nova era em minha vida. Vindo de costumes tradicionais e conservadores, ficava horrorizado com tanta gente “diferente” convivendo no mesmo local, principalmente aos domingos quando nos reuníamos no antigo Jornal de Sergipe. Dentre todos que tive o prazer de conhecer, e conviver, tivemos eu e Ilma Fontes uma simpatia mútua, sempre me incentivando a além do que conhecia sobre fotografia. Pois, logo logo, em 1985 Ilma chegou com o convite para que eu fizesse as fotos de cena da minissérie A Última Semana de Lampião, que ela iria dirigir pela Tv Aperipê. Tremi de medo, mas mesmo assim, aceitei o convite e nos dois meses que passamos em Laranjeiras, com um monte de loucos, aprendi a ter um olhar diferente sobre fotografia artística. Por muitas vezes tive a parceria da querida Loura Ribeiro com algumas dicas valiosas. Após cumprir esta missão, lá vem Ilma de novo com um novo desafio, que mudou minha vida completamente e me ajudou a chegar até aqui, me apresentou à Lânia Duarte, secretária de cultura da PMA, depois se tornou minha comadre, com as melhores recomendações e fui contratado. Fizemos muitas parcerias durante estes 37 anos de convivência e sempre fiz questão de dizer que a ela sempre seria grato por tudo que fez por mim e se estou num nível profissional, e pessoal, melhor, ela faz parte de tudo isso. Ontem, uma semana antes de completar mais um ano de vida, minha querida “estrela guia” foi iluminar o nosso universo, se junta a Amaral, Araripe, Fernando Sávio, Ismar Barreto, Irmão, Rogério, e tantas outras estrelas (que doideira que tá o céu) que iluminam nosso universo. Tenho o prazer de dizer que fui seu amigo, e protegido, e onde estiver que olhe um pouco por nós pois estará pra sempre em nossos corações. Siga em paz minha amiga, a última lembrança é um áudio com sua voz embargada pelo momento ruim que estava passando e que agora está livre de tudo isso nos deixando uma lembrança boa do anjo de luz que foi. VIVA ILMA FONTES!!!

Texto e imagem reproduzidos do Facebook/César de Oliveira

Perdemos Ilma Fontes, inteligência multifacetada...

Publicado originalmente no Perfil do Facebook de Luiz Eduardo Oliva, 4 de abril de 2021

Perdemos Ilma Fontes, inteligência multifacetada que resistiu ao ordinário 

Por Luiz Eduardo Oliva *

Ela era Moquinha. Se me perguntarem de onde vem esse carinhoso apelido eu não sei. Mas era assim que eu e uns poucos chamávamos essa mulher  extraordinária, referência da sua geração. Moquinha era Ilma Fontes.

Pode parecer lugar comum o uso de superlativos quando morre uma pessoa. Mas em Ilma talvez superlativos ainda seja pouco. De uma geração brilhante, das mais criativas, Ilma pontuou entre os anos 60/70 até os dias atuais.

Multifacetada, estudou medicina e formada foi para o campo da psiquiatria  onde certamente seria tão brilhante como em tudo que fez. Mas a compreensão dos desvãos da mente que desafiava a psiquiatra falou a ela menos que a inquietação daqueles tempos, onde a arte era aquilo que Ilma passou a chamar de resistência ao banal. E assim a arte e o jornalismo falaram mais alto. A medicina perdeu a médica e a cultura sergipana ganhou uma  grande ativista que vencendo todas as dificuldades manteve-se fiel aos seus propósitos até  que as forças da saúde retiraram a guerreira da sua santa e brilhante luta.

No final dos anos 1960 as manifestações artísticas em Sergipe, como de resto no país, viviam sob a espada nefasta da censura. A ditadura militar fazia calar vozes.

Mas as vozes da resistência não esmoreciam. Ainda que nem toda arte tivesse uma ação  manifestadamente de combate à ditadura, era uma forma de resistência, sobretudo no aspecto dos costumes enfrentando principalmente a censura para que o livre pensar não fosse somente a liberdade de pensar, mas também a forma de livremente se expressar.

"Vôos Mitos Coloridos", por exemplo, foi uma criação sergipana daquele final dos anos 1960. Na cacofonia dizia dos "vômitos coloridos" de uma geração que resistia aos padrões moralistas e precisava vomitar, por assim dizer, aquilo que representava a hipocrisia de uma sociedade limitada e conservadora. “Vôos, Mitos Coloridos” foi uma peça antenada com o tom psicodélico que vibrava no mundo, com a contracultura do Woodstock, as revoltas das  barricadas de Paris, os cânones da revolução sexual e também a afirmação libertadora da voz feminina.

Em Sergipe, uma tribo de jovens fazia aqui como alhures, ressoar a arte que resistia. Ilma Fontes foi certamente, a mais completa tradução da mulher para além do seu tempo. Daquela trupe, o poeta Mario Jorge era a principal liderança, uma liderança natural pela sua irreverência, genialidade e criatividade. Também tinha Joubert Moraes, Amaral Cavalcante, Alcides Mello, Lânia Duarte, Marcos Chulé, Mara Lopes , Caio Rubens, Nêga ( Uilma Rodrigues ), Vinicius Dantas, Djaldino Moreno, Cabo Tripa,  Clovis Barbosa , Barrinhos... Uns mais novos como  Vinicius e Caio, outros menos irreverentes como Djaldino, mas havia um propósito de dizer não às convenções e fazer em Sergipe o processo criativo que mexeu com as caducas estruturas sociais daqueles anos. Claro que tinha mais gente, mas esses nomes já formam um  núcleo representativo.

Ilma se destacava pela inteligência viva, sempre brilhante nos argumentos, detentora de uma sólida e multifacetada cultura, era poetisa, jornalista, cineasta. Fez também  televisão e teatro. Eu mesmo, de uma geração que seqüenciou a geração de Ilma, ensaiei sob o seu comando o "Já Vou" uma coletânea de textos iconoclastas de Amaral Cavalcante que Ilma adaptou para o teatro. Ensaiamos eu, Zezé, Jorge Lins , Cezar Macieira... Mas nem lembro porque não foi adiante.

No cinema Ilma realizou ““Arcanos – O Jogo”” um curta na bitola 16 mm tendo Amaral Cavalcante como ator principal, rodado no “Tales Ferraz” e pegava toda a magia do Mercado com o jogo do tarô e a carta que representa o que está oculto, o que é desconhecido. O filme ganhou projeção ao participar do circuito nacional no final dos anos 70  (passava nos principais cinemas do país antes dos filmes em cartaz) teve a direção de Ilma  juntamente com a carioca Yoya Wurch uma cineasta que se apaixonou por Aracaju e por Ilma.

Elas também realizaram "O Beijo" no início dos anos 80 onde as duas faziam amor diante da  Câmara de 8 mm sob o comando do fotógrafo Jairo Andrade. O filme foi uma porrada na  hipocrisia e protagonizou um o primeiro beijo lésbico do cinema sergipano, dizendo como na música Paula e Bebeto de Milton Nascimento e Caetano que qualquer maneira de amor vale a pena. Pode parecer bobagem nos tempos atuais mas naquela época foi emblemático. E Moquinha dizia: eu sou quem eu sou. E seus admiradores como eu, aplaudia com as mãos e  com a alma.

É também do início dos anos 80 que Ilma junto com Amaral Cavalcante, Roninho, Fernando Sávio e outros criam a Folha da Praia o marco do jornalismo alternativo de Sergipe, no embalo inclusive da Praia dos Artistas que era o ponto de encontro da juventude criativa daqueles anos. E eu também estava lá.

Ilma, todavia, rompeu com a Folha, embora continuando amiga de Amaral e fundou "O Capital", o jornal alternativo com um propósito mais cultural que a “Folha” e que tinha como pórtico o slogan "uma resistência ao ordinário". Há uns três anos Ilma me chamou para compor o júri do Concurso de Poesia do "O Capital" e me disse, em sua casa na Rua da Frente, que estava cansada. Ela, a combatente ao banal, mantinha à duras penas e com recursos próprios aquele jornal em formato tablóide distribuído em ciclos culturais em todo o Brasil. Um câncer de pele também tirava suas forças.

Por volta das 19 horas deste sábado num abril descolorido pelas mortes em profusão recebi uma ligação da amiga comum, aos prantos, Aida Campos  Campos me dizendo:  "Moquinha Morreu!" Triste liguei imediatamente para o compositor Alcides Melo que mora Uberlândia/MG um dos últimos remanescentes daquela geração brilhante. Alcides logo lembrou duas músicas que fez inspirado nela: “Bolero Parabelo” e “Informativo Cinzano” cujos versos falam de Valdomiro, paciente psiquiátrico do Adauto Botelho, que em fase de recuperação morava na casa de Ilma Fontes no início dos anos 70 na Treze de Julho: "Eu  disse assim Vardomiro/Lembrai a imagem de Deus/A saudade de Ilma Fontes/E os versos que Deus lhe deu". Sergio Ferrari lembrou que quando chegou em Aracaju em 1978, Ilma foi das primeiras pessoas que conheceu e se encantou, pela inteligência e o seu lado transgressora.

Ilma Fontes, a nossa Moquinha, não só morreu. Com ela fecha-se um ciclo da cultura artística sergipana. Não que Ilma seja a única remanescente da sua geração. Mas ela representava a síntese de uma geração iconoclasta, irreverente, criativa. Que resistiu ao banal e pela arte apontou para um novo porvir. Uma geração que pavimentou terreno para a minha e as gerações seguintes. Ilma Fontes foi o ícone feminino de uma época em que Aracaju era uma explosão de variados saberes e impactantes fazeres.

 (*) Luiz Eduardo Oliva é advogado, professor, poeta e membro da Academia Sergipana de Letras Jurídicas. Foi Secretário de Estado dos Direitos Humanos e da Cidadania.

Texto e imagem reproduzidos do Facebook/Luiz Eduardo Oliva

Tempo bom, tempo ruim: autobiografia de Ilma Fontes





Publicado originalmente do blog do JORNAL O BOÊMIO, em 21 de maio de 2019

Tempo bom, tempo ruim: autobiografia de Ilma Fontes

Por Eduardo Waack

Ela está presente nos mais diversos eventos políticos e culturais que impactaram o país nas últimas cinco décadas. Figura emblemática da nordestinidade, sua vida é um espelho para todos nós, que nos encontramos em suas variadas facetas. Da menina rebelde que desafiava as convenções sociais da Aracaju de sua infância à mulher madura que com serenidade deixou seu nome inscrito na história brasileira. Cada passo de Ilma Fontes é o início de uma longa caminhada e a concretização de um sonho. Ela não se furtou de conhecer e experimentar o que lhe chegava inusitado. Tomou posições e assumiu bandeiras. Lutou com galhardia e soube amar as pessoas simples de sua terra. Rompeu barreiras e traduziu os anseios de sua geração, sem medo de mostrar a cara. É sobre essa guerreira iluminada — singular, plural, fractal e infinita — que escrevemos apaixonados.

Ilma publicou em abril seu aguardado livro de memórias, intitulado “Tempo Bom, Tempo Ruim”. Para isso vendeu seu automóvel. Para que outros viajassem em sua cabeça que se escancarou como um banquete servido aos famintos comensais. Pois nós temos fome de suas histórias, ela que é um baú de lembranças e — literalmente — um livro aberto cujas páginas o tempo e o vento folheiam ao léu. Temos sede de suas impressões e experiências, e por sua boca sentimos o beijo e o hálito dos amantes realizados, que o sopro da lua espalha suave, e a areia da praia — da sua Rua da Praia — sorrateira envolve.

Que poderemos escrever sobre Ilma que não entregue nossa admiração incondicional? Musa idolatrada, poeta inspirada, jornalista aguerrida, cidadã exemplar, cineasta que desbravou as fronteiras de Rio de Janeiro e São Paulo e ousou atuar compartilhando conhecimentos e possibilidades. O muito para ela é pouco, e o pouco é tudo. Firme, decidida, certeira: feminina & masculina. Simples, côncava, convexa: complexa & estonteante. Nasce um manancial de ideias de seu cérebro magnético, e o regato cristalino de sua verve é um monumento à irmandade, abastece o pensamento dos homens e dá poder às mulheres.

Somos crianças a brincar em seu jardim encantado, divertimo-nos com suas sacadas geniais embora nos assustemos com a proporção que suas atitudes adquirem no mundo real. Ilma Fontes é cabra da peste que nos cura e sublima os males do espírito. É índigo, é blue e cristal. É a vilã da história contada ao contrário, onde o mocinho é insípido personagem, vaidoso e fugaz. É a bruxa malvada que nos liberta da ilusão cotidiana e da escravidão vigente, apresentando opções para seguir adiante, sem retroceder jamais — a não ser quando isso seja necessário. Nessas idas e vindas Ilma firmou o passo e consolidou seu nome. Conhecê-la melhor é render tributo aos grandes desta nação. Irmã, madrinha, mãe e madrasta. Senhora, moleca, doutora e amiga. “Tempo Bom, Tempo Ruim”, a esperada autobiografia de Ilma Fontes, é leitura obrigatória para o ano de 2019. Pois queremos mais gotas de sua sublime sabedoria nos anos que virão.

Cinco Vezes Ilma

“Ilmamenina! Que prazer e alegria poder desfrutar um pouco do seu tempo. Pouco, muito pouco, se comparado aos mais de 70 anos. No entanto, lá se vão décadas de contato através da literatura. Ilma Fontes, essa menina levada, transpira arte e poesia, curte boas amizades e cultiva muito o amor. Enfim, uma mulher, um ser humano de coração saltitante!” — Dinovaldo Gilioli, escritor e eletricitário / Florianópolis (SC)

“Conheci Ima Mendes Fontes através de O Capital, do qual ela era redatora e articulista, em cujos escritos apresentava magníficos palmos de prosa e poesia, ricos e acesos, buscando sempre o âmago encantatório das palavras, com leveza e lirismo. Apreciadora do cinema e da fotografia, da arte em geral, estudiosa da estética, da comunicação e da linguagem, crítica da modernidade, considera que a totalidade se revela na singularidade e os estilhaços se compõem de imagens, sem negar, entretanto, que os conhecimentos e as atitudes humanas mudaram, fundindo o ‘era uma vez’, com um tempo pleno de ‘agoras’, onde passado, presente e futuro se cruzam. Ilma resgata o passado na memória, na escuta de vozes que foram emudecidas, possibilitando encontros entre gerações, impedindo o esquecimento que se consolidará caso a barbárie continue a ganhar, porque a ameaça que pesa sobre a humanidade é a perda da memória dos oprimidos, que faz com que os vencidos de hoje não mais se lembrem da história de ontem. Para Ilma, a felicidade não está no tesouro encontrado, mas no arar da terra, em pôr a mão na massa. Evoé!” — Cosme Custódio, fanzineiro e escritor / Salvador (BA)

“Falar de Ilma é muito fácil, porque me hospedei em casa dela durante cinco dias. As conversas são longas e as memórias são intermináveis. De repente, ela põe-se a cantar em francês, quase sempre Je Ne Regrette Rien… Eis uma mulher que não se arrepende de nada.” — Jorge Domingos, poeta /Petrópolis (RJ)

“Ainda não me acostumei com a ideia de que O Capital deixou de circular. Como um dos poucos veículos culturais de que dispúnhamos, ele faz muita falta. O veterano jornal de Ilma Fontes prestou inestimável serviço à cultura e às letras e sua importância precisa ser reconhecida e proclamada. Conforta-me saber que ela continua em atividade publicando suas memórias em livro de grande interesse, revelando incontáveis eventos envolvendo a admirável ativista cultural que ela é. Estou certo de que o livro terá o sucesso que merece refletindo o justo reconhecimento devido a Ilma Fontes pelo que vem realizando no campo da cultura.” — Enéas Athanázio, escritor e jurista / Balneário Camboriú (SC)

“Ilma Fontes é um baluarte da literatura do Brasil, no momento. Pés cravados na bela Aracaju e cabeça entre os astros, nasceu para cativar e encantar todos aqueles que vivem em seu entorno, com sua graça de mulher privilegiada, voo ameno de garça, em lagos de ternura e alcance de albatroz. Por anos, desfrutei da harmoniosa e abrangente leitura d’O Capital, que a mantinha no caminho das letras, mas agora, com a paralisação daquele alternativo, solicita um momento para reflexão. Foram anos e anos de bom convívio, sem mesmo nos conhecermos pessoalmente. Mas Ilma é por demais irrequieta, não se deixa abater facilmente, por isso sei que continuará, em sua emergente cidade, ao inteiro dispor dos velhos amigos com a mesma firmeza, e batalhando em suas lides com vigor idêntico, participando de todas as manifestações nas letras e nas artes, que se apresentarem em Aracaju. E aqui do meu cantinho, na Ilha do Mel, Vitória do Espírito Santo, continuarei a exaltar seu magnífico trabalho e sua figura ímpar de estilista das letras, porque ela nasceu predestinada e ninguém jamais poderá roubar de seu perfil esse laurel de ouro.” — Humberto Del Maestro, escritor / Vitória (ES)

Texto e imagens reproduzidos do blog: jornaloboemio.wordpress.com