Com a morte de Milena na semana passada voltou a discussão o Crime da Rua de Campos, como ficou conhecido o assassinato do Dr. Carlos Firpo. Quando ocorreu, em 1958, eu era um bebê, portanto tudo o que sei foi por leituras e por informações familiares. Mas a verdade inconteste do crime foi para o túmulo, com a morte da esposa do médico assassinado, Milena.
Desde a semana passada foi publicada uma série de artigos sobre
o tema. Há três versões para o fato: crime passional, crime político e uma
versão de crime familiar por questões patrimoniais. Essa última tardia, só
aventada algum tempo depois, e sem qualquer arrimo.
Por que não acredito na versão do crime político? Em
primeiro lugar Dr. Carlos Firpo era um médico pacato, sem aparentes inimigos.
Não era um chefe político, nem um dirigente partidário. Não ocupava cargos
públicos, e apenas aventou a possibilidade de ser candidato a vice-governador
nas eleições que ocorreriam logo em seguida. Ora, numa investigação busca-se
logo “o motivo” e “quem se beneficia com a morte”. É o básico. Até hoje, mais
de sessenta anos depois, ninguém apontou um motivo plausível que embasasse a
tese do crime político. Ninguém mata por uma pretensa disputa por um cargo de
vice-governador. Isso não existe. Como também até hoje ninguém respondeu quem
se beneficiaria de modo cabal com a morte do Dr. Carlos Firpo. Nem o jornalista
Luis Eduardo Costa que escreveu uma série de artigos sobre o fato, grande parte
baseada em anotações do seu pai, Paulo Costa, que teria atuado como promotor no
caso, conseguiu responder a tais indagações.
Já a versão do crime passional, envolvendo a própria esposa
do médico, e o Coronel Afonsinho, da Força Aérea, se não deixa uma certeza,
apresenta uma série de indícios de força extrema. Era fato público e notório
que o Coronel Afonsinho freqüentava a casa do médico, e era do falatório geral
que tinha um caso com a esposa deste. Há ainda uma coincidência muito grande dos
dois executores do assassinato serem da região próxima a Paulo Afonso, na
Bahia, de onde provinha a família do Coronel, e de ontem tinha propriedades. Há
outras coincidências mal explicadas, como o fato de Milena não estar dormindo
com o marido no momento do crime, e sim no quarto das filhas. São por tais
coisas que eu não acredito em crime político e, como muitos, tenho a tendência
firme em acreditar em crime passional.
Dr. Carlos Firpo era amigo do meu avô Orlando Dantas, que
sentiu muito a sua morte. Quando retiraram os restos mortais do médico do
Cemitério Santa Isabel, em Aracaju, deixaram por lá jogada uma placa de
mármore, uma homenagem dos colegas do Lions Clube ao morto. Meu avô viu a placa
abandonada, e mandou afixá-la na lateral da gaveta onde repousam os restos de
Ronaldo, seu filho (portanto meu tio), morto ainda criança. Quem entra no
cemitério, ao lado direito da Capela, há as gavetas onde eram enterradas as
crianças. Logo na lateral está lá a placa em homenagem a Dr. Carlos Firpo.
O fato de nos últimos dias voltarmos a discutir tal crime, é
sinal que a sociedade sergipana até hoje ficou abalada. No livro O Salão dos
Passos Perdidos, o advogado Evandro Lins e Silva, que atuou como advogado de
defesa de Milena em seu julgamento disse que “o crime foi maior do que a
cidade”. Sem dúvida.
Texto reproduzido do Facebook/Paulo Roberto Dantas Brandão