sábado, 22 de julho de 2023

Morre proprietário de panificação que deu nome ao 'pão jacó' em Sergipe

Legenda da foto: Antônio Alves Santos — (Crédito da foto: TV Sergipe/reprodução)



Publicação compartilhada do site G1 GLOBO SE, de 21 de julho de 2023 

Proprietário de panificação que deu nome ao 'pão jacó' em Sergipe morre aos 90 anos

De acordo com a família, o idoso faleceu em casa, vítima de insuficiência respiratória.

Por g1 SE

Morreu na madrugada desta sexta-feira (21), aos 90 anos, Antônio Alves Santos, em Aracaju, o proprietário de uma das panificações mais antigas do estado e que deu origem ao "jacó", forma como é chamado o tradicional pão de sal em Sergipe.

De acordo com a família, o idoso faleceu em casa, vítima de insuficiência respiratória. O corpo foi velado e sepultado no Cemitério Colina da Saudade. Ele deixa esposa, quatro filhos e seis netos.

Fundada em 1927, pelo pai de Antônio, José Alves, a Panificação Garça fica situada no Centro da capital. Segundo os atuais proprietários, "Jacó" era o nome de um padeiro que trabalhava no local e fazia pães muito procurados pelos clientes, o que acabou fazendo com que o pão de sal fosse chamado pelo nome dele.

Texto e imagens reproduzidos do site: g1 globo com/se

terça-feira, 18 de julho de 2023

Nota de Falecimento de Joventina Aragão Almeida


Foto reproduzida do Faceook/Dalva Aragão Almeida e postada pelo blog.

Nota compartilhada do Facebook/Waguinho Aragão, de 17 de julho de 2023

ATHENEU - NOTA DE FALECIMENTO 

"Com imensa tristeza comunico o falecimento da ex-aluna e prima Joventina Aragão Almeida (Jo Almeida) ocorrido na manhã de hoje.

O seu velório acontece no Cemitério Colina da Saudade, e o seu sepultamento acontecerá amanhã (18/07/23) às 10:00 horas.

A família Atheneu se solidariza enviando sentimentos aos familiares, parentes e amigos da querida Jó.

Que ela descanse em paz na companhia dos seus entes queridos, de Deus e dos anjos". (W. A.)

Texto reproduzido do Facebook/Waguinho Aragão.

segunda-feira, 17 de julho de 2023

Leônia Gama de Oliveira - (Dona Leônia do Cartório)

Imagem postada pelo blog 'SERGIPE...' de foto com arte reproduzida do Facebook/Sacuntala Guimarães.

Texto compartilhado de postagem do Facebook/Hugo Sídney Brandão, de 15 de julho de 2023

Reminiscências, lembranças e histórias de vida. Na manhã deste sábado, 15, ao receber a lamentável notícia do falecimento de Leônia Gama de Oliveira, titular do Cartório do 6º Ofício da Comarca de Aracaju, lembranças marcantes me vieram à mente. O antigo cartório, situado no trecho posterior ao atual, na mesma rua Itabaiana, era lugar marcante na minha infância. Ao menos uma vez por mês, eu estava por lá com meu pai ou minha mãe. Os imóveis administrados por eles eram geridos por contratos devidamente registrados no cartório "de Dona Leônia", onde também eu e meus irmãos fomos registrados. 

Eu admirava aquela senhora elegante, cheirosa, impecavelmente maquiada, delicada nos gestos e uma fera na arte da datilografia! Aquilo me fascinava! Eu, aos seis anos de idade, ficava paralisado vendo ela conversar, interagir com as pessoas e datilografar numa velocidade e precisão absurdas! Certo dia ela detectou isso: "Você gosta, né? Venha, meu filho, sente aqui". E me pôs diante daquele engenho que iria transformar minha vida! E ela só saberia disso décadas depois, quando revelei que ela fora minha fonte inspiradora! Aos 12 anos, eu já era "datilógrafo formado", com diploma e tudo! E isso foi determinante na minha jornada profissional. Foi o diferencial para minha contratação no extinto Banco de Crédito Nacional (BCN), aos 13 anos. Foi um diferencial na atividade policial, em delegacia, quando cheguei atuar como escrivão "ad hoc" e, mais ainda, na atividade da Comunicação! Devo isso a Leônia!  A Certidão de Nascimento do meu filho foi assinada pessoalmente por ela. Ela fez questão em tempos de "certificação digital". Era uma grande amiga da minha mãe e sentiu muito a "partida" dela! Certamente, minha Querida Leônia, ela estará a ser mais uma dos milhares de "irmãos de luz" a te acolher! Sua jornada foi honrosamente cumprida, distribuindo compreensão, acolhimento e a doçura do seu sorriso marcante! Que o Criador a conduza no Caminho da Luz e Evolução! Minha Gratidão é ETERNA!

Texto reproduzido do Perfil do Facebook/Hugo Sídney Brandão

domingo, 16 de julho de 2023

Morre José Francisco Ribeiro (Facebook/Ribeiro Rvd)


Morre D. Leônia do Cartório, ícone sergipano de simpatia, competência...

Imagem postada pelo blog SERGIPE, resultado de reprodução do Facebook/Cartório do Sexto Oficio

Texto publicado originalmente no site FAN F1, em 15 de julho de 2023

Morre Dona Leônia do Cartório, ícone sergipano de simpatia, competência e elegância

Da redação

Faleceu nesta sexta-feira (14 de julho de 2023), em Aracaju, a empreendedora Leônia Gama de Oliveira, proprietária do Cartório Leônia Gama, do 6º Ofício, situado na Rua Itabaiana, no Centro de Aracaju.

Através do Instagram de familiares foi possível confirmar a informação. Uma neta da empresária postou um texto em homenagem, em um story do Instagram. Em um perfil de notícias da rede social, uma sobrinha de “Dona Leo”, como muitos amigos e clientes a chamavam, também comentou e lamentou o falecimento.

O portal Fan F1 tentou fazer contato com alguns familiares, para saber as circunstâncias do falecimento, mas sem sucesso.

O Cartório Leônia Gama foi fundado em 1976, mas ela só ingressou nele no ano de 1984. Personalidade notória da sociedade sergipana, Leônia sempre se destacou por ser uma pessoa de sorriso gentil e acolhedor, sempre atenciosa e extremamente competente em seu ofício. A todos cativava com sua simpatia e, apesar de ser uma mulher extremamente educada e elegante, era uma pessoa dotada de profunda simplicidade e humildade.

Sua morte provocou grande comoção nas redes sociais e levou muitas pessoas a prestarem suas últimas homenagens através de comentários, a exaltando e confortando a família. Na página oficial da Associação dos Notários e Registradores do Brasil em Sergipe, (Anoreg-SE), foi publicada uma homenagem, ressaltando os relevantes serviços prestados na área Notarial e Registral.

O velório foi realizado no Cemitério Colina da Saudade, onde o corpo foi sepultado hoje, às 10h.

Texto reproduzido do site: fanf1 com br

domingo, 9 de julho de 2023

Três anos sem Amaral Cavalcante: a vida lhe quis bem. E nós também!

Legenda da foto: Amaral Cavalcante: poeta, jornalista e cronista de um tempo

Publicação compartilhada do site JLPOLÍTICA, de 6 de Julho de 2023

Três anos sem Amaral Cavalcante: a vida lhe quis bem. E nós também!
Por Roseneide Santana*

Nesta sexta, 7 de julho, serão três anos sem o poeta, jornalista e cronista Amaral Cavalcante. No próximo dia 11 de julho, ele faria 77 anos. Foram apenas 8 meses entre a publicação do primeiro livro A Vida me Quer Bem e a sua partida.

Numa entrevista concedida à Segrase, ele comentou: “Estou feliz porque as pessoas da minha geração estão com meus escritos em casa para lembrar de mim e do nosso tempo”.

Recuperando aqui o delicioso texto desta semana do jornalista Antonio Passos, colega articulista também aqui do Portal JLPolítica & Negócio, eu pergunto: como esquecer um Titã?

Ainda mais um que compôs o quarteto fantástico da agitação cultural e do mundo das artes neste Estado, junto com a Ilma Fontes, Lu Spinelli e Joubert Moraes.

A única queixa que fiz em relação ao precioso livro do Amaral foi o fato de as orelhas terem saído com as letras muito miúdas e brancas, o que poderia dificultar o interesse pela leitura. Ei-las, então.

“Há pelo menos 30 anos que acompanho a produção escrita deste Estado e, obviamente, os textos de Amaral Cavalcante estiveram presentes nessa minha jornada de leitora: jornais, revistas, coquetéis literários, antologias e, mais recentemente, as postagens. Recebi dele um pen drive com quase 400 textos salvos de muitos emails, que trocou com leitores amigos, ou da rede social em que costumou postar nos últimos anos.

- Selecione aí umas 80 crônicas pro meu livro, ele disse. Olhei para o senhor de cabeça branca, mas vi o garoto da Folha da Praia, de rabo de cavalo, espírito realizador e inquieto, tentando me mostrar que sabia exatamente o que queria, mas duvidava de que alguém pudesse dar conta do seu intento. Muitas crônicas reescritas e ele não tinha vontade nem paciência de reler tudo. Quando tentou, gostou de algumas versões e não sabia qual escolher. Eu me lembrei do Gabriel García Márquez contando sua experiência de escrever um livro de contos, que durou 18 anos. Começou com 64 temas e, cada vez que lia, jogava fora alguns, até restarem 18, dos quais ele publicou 12: Doze contos peregrinos. Saber qual a melhor versão? diz Gabo: É um segredo do ofício que não obedece às leis da inteligência, mas à magia dos instintos, como a cozinheira que sabe quando a sopa está no ponto.

Entendi que precisava dar uma resposta rápida de sistematização e de compreensão do trabalho especial que me fora encomendado. Comecei, então, minha intromissão. A crônica “A Cascatinha”, por exemplo, tinha três versões. Em uma havia um episódio com o saudoso colunista Barrinhos; em outra, uma peripécia do Joubert Moraes. Já em “A morte da agenda velha”, reescrita quatro vezes, havia belas metáforas, detalhes que estavam em versões diferentes, mas não modificariam a essência da crônica se fossem reunidos em um só lugar. Primeira solução para o livro: fusão das versões.

Depois, a leitura foi apontando quatro partes mais ou menos definidas: memórias do menino, homenagens a figuras do seu convívio, causos e bares da cidade. Extraí das próprias crônicas títulos ou expressões para nomear essas partes: 1. No mundo doce de açúcares imemoriais; 2. A vida me quer bem; 3. Guardiã de inúteis segredos; e 4. De bar em bar.

À medida que  lia, avisei ao escritor: impossível somente 80 ou 100. Ele liberou até 150. Foi uma experiência sem igual. Parafraseando o Jorge Luis Borges, sinto orgulho do que li. Ao mesmo tempo sei, como leitora contumaz e ávida interessada na vida de escritores, que estive diante de um escritor. Amaral Cavalcante escolheu a crônica e escreveu sobre suas próprias experiências. Pode parecer arrogante se dizer um escritor por contar histórias da própria vida: o dilema para qualquer cronista.

Foi salpicando suas histórias aqui e acolá, mas relutou em ter sua capa/contracapa/orelha/prefácio. Graças ao bom Deus, mudou de ideia. Volto ao Gabo, após os 18 anos de labuta até publicar seus contos: “Aqui estão, prontos para ser levados à mesa depois de tanto andar de déu em déu lutando para sobreviver às perversidades da incerteza”.

De modo que, quando o Pirão de capão deixar de ser comida para ser poesia; quando “restar no quebra-queixo [de Joana Doceira] o gosto primordial da maravilha: o sabor das goiabas amassadas, um gosto de chão arrematado das frutas do quintal, maduras de preguiça e alumbramento”; quando o “herói da tarde” com sua “espada de pau” for acionado para destruir uma perigosa casa de marimbondos... sorria: você está sendo dominado pelas deliciosas crônicas de Amaral Cavalcante”.

P.S. No dia de hoje, em que uma tragédia tirou a vida do grandioso Zé Celso, trarei também o fragmento da crônica Augusto Franco, que infelizmente não entrou no livro, na qual Amaral deixou registrada a passagem estrondosa do renomado dramaturgo por Sergipe, em 1979.

“Ocorreu que o amaldiçoado Zé Celso Martinez, ícone da resistência cultural naqueles anos de chumbo, criador do Teatro Opinião e abertamente defensor da liberdade plena às expressões artísticas, estava excursionando pelo Brasil com um recital dito “orgástico e antropofágico”, bem ao seu estilo. Luiz Eduardo Costa, atento aos benefícios que essa pregação libertária traria aos artistas locais, consentiu em patrocinar, pela Subsecretaria, duas apresentações no Teatro Atheneu. O teatro encheu. No palco, tudo o que feria os brios dos milicos de plantão e que a censura vigente proibia, sob pena de cadeia, foi apresentado. Achincalharam os símbolos nacionais, jogaram uma melancia espatifada na cara dos expectadores provocando a imediata indignação da tradicional família sergipana, sem contar com os nus artísticos, tão surpreendentes quanto escandalosos. No outro dia, a caretice da cidade acordou em polvorosa! Fora! Fomos ultrajados! Não os queremos mais! Como é que uma repartição do governo patrocina este tipo de coisa? Nós, os funcionários da SUCA, começamos a arrumar as gavetas, aguardando a iminente demissão. Foi então que o governador Augusto Franco, convocando Luiz Eduardo Costa ao seu gabinete, deu-lhe as ordens: − Os meninos do teatro ficam e o Atheneu é deles, até quando eles quiserem. Sergipe é governado pela democracia. Vocês avaliem a grandiosidade do gesto!”.

Antônio Amaral Cavalcante - 11.07.1946 - 07.07.2020 - José Celso Martinez Corrêa - 30.03.1937 – 06.07.2023.

* É mestra em Letras e técnica em Educação da UFS. 

Texto e imagem reproduzidos do site: jlpolitica com br/articulista

sexta-feira, 7 de julho de 2023

'Presença judaica em Sergipe', por Marcos Cardoso

Legenda da foto: Na foto, no Cine Guarani, esquina da Rua Estância e Avenida Pedro Calazans, Paulo e Joanita Milstein Silva (com Olga nos braços), ela considerada judia autêntica.

 Artigo compartilhado do Facebook/Marcos Cardoso, de 22 de junho de 2022

Presença judaica em Sergipe
Por Marcos Cardoso

Sergipe é um dos poucos Estados brasileiros onde não há uma sinagoga. Este é o sinal mais evidente de como é diminuta a colônia judaica no Estado. O templo israelita é um sinal definitivo da presença dos filhos de Israel. Embora muitos judeus estrangeiros tenham imigrado para cá no Século 20, poucos ficaram. Três, pelo menos, fincaram raízes, constituíram família e tornaram perenes seus sobrenomes: Chapermann, Schuster e Milstein. Foram homens que chegaram pobres, trabalharam de sol a sol e conseguiram erguer patrimônios respeitados, principalmente no ramo do comércio. Se não chegaram a ter influência direta na formação política do Estado, conseguiram contribuir substancialmente na sua constituição econômica.

Povo nômade, pois não tinham pátria, os judeus intensificaram o êxodo após a 1ª Guerra Mundial (1914-1918) e a Revolução Russa (1917). Sofrido o holocausto nazista durante a 2ª Guerra, tiveram onde se fixar depois da fundação do Estado de Israel, em 1948, quando passaram a emigrar para lá. Em 1914, chegaram os primeiros judeus contemporâneos a Sergipe: José Chapermann Natal e Salomão Kipermann (conhecido entre seus pares como “Zé Olhinho”). José veio e, em 1918, mandou buscar a mulher, Clara, e os dois filhos, Abrahão e Isaac Chapermann. Abrahão viria a ser o dono da Mobiliária Chic, que marcou época em Aracaju. Eles enfrentaram dificuldades na saída da Ucrânia, então anexada à União Soviética. Na década de 20, fugiram muitos judeus para o continente americano, destacando-se como países receptores na América do Sul o Brasil e, principalmente, a Argentina. A maioria era asquenaze, judeus da região compreendida entre a Alemanha e a Rússia, que falavam a língua iídiche.

No dia 26 de novembro de 1926, chegaram ao Brasil Isaac Schuster e mais 11 colegas. Ele chegou com 16 anos, oriundo da Romênia, no período de efervescência em que vivia a Europa entre as duas guerras. O pai de Isaac Schuster havia sido fuzilado pelos alemães na 1ª Guerra. A maioria dos 11 companheiros ficou no Rio de Janeiro, onde desembarcaram. Eles vieram dentro de sacos de carvão, no porão de um navio. “O dinheiro que meu pai possuía quando desembarcou no Brasil dava apenas para comprar um ovo cozido e uma xícara de café. Além disso, ele não falava nada em português”, recorda o empresário Lion Schuster, filho de Isaac, o sergipano mais preocupado em resgatar a memória do povo judeu no Estado. Ele planejava escrever um livro a respeito da saga dessas famílias.

Isaac Gringo

Pouco depois, Isaac Schuster também veio para Sergipe, junto com José Zuckmann, Brabeck, Elias Reutman e Isaac Schinitmann. Começou vendendo confecções em Lagarto para Zé Olhinho, que já estava instalado por aqui. Depois, por conta própria, passou a vender santos, sombrinhas e tecidos. Ele saía pela rua com os produtos dentro de um baú. Logo passou a ser conhecido como Isaac “Gringo”. Vendia os produtos a prestação, recebendo por semana.

Em Lagarto, conheceu a futura esposa, Maria Rodrigues do Nascimento, que depois incorporou o sobrenome Schuster. Casaram-se em 1929. Os filhos mais velhos dos 11 que tiveram, Abraão e Elza, são lagartenses. Naquela cidade do interior, Isaac teria vivenciado um episódio inusitado, lembrado por Lion: “Foi o único judeu russo que se escondeu de Lampião”. Um dos muitos filhos foi a desembargadora Geni Silveira Schuster. Na 2ª Guerra, durante o governo de Getúlio Vargas, Isaac dava discursos políticos no Ponto Chic, na esquina das ruas João Pessoa e Laranjeiras, contra os integralistas. Foi preso junto com Brabeck. Saíram da penitenciária após exigirem tratamento de presos políticos, mas tinham medo de que Getúlio Vargas os mandassem de volta, entregando-os aos alemães, como havia feito com Olga Benário, mulher do comunista Luiz Carlos Prestes. O regime usava seus livros russos como prova. Dos 11 que vieram, um retornou com saudade e acabou sendo fuzilado.

Ele finalmente pôde comprar a primeira loja em 1953, na rua Laranjeiras. Era uma das filiais das Casas Isaac Schuster. No início, vendia apenas móveis de vime. No outro lado da rua, em frente à sua loja, havia a fábrica de colchões de capim de um outro judeu, Manoel Milstein, pai de Joanita Milstein Silva, mulher de Paulo Silva, os fundadores do Café Sul-Americano. Lion começou a trabalhar com o pai ainda criança, quando saíam pelas ruas vendendo e recebendo pagamentos. “O dia certo do pagamento das prestações era o domingo. Por isso eu raramente podia ir à praia, que era a coisa que eu mais gostava”, recorda, com uma ponta de frustração, mas orgulhoso em demonstrar o quanto o pai era trabalhador. Ele recebia de comerciantes do Mercado Municipal e dos bairros Industrial, Santo Antônio, 18 do Forte e Siqueira Campos. “Na época que eu saía junto com meu pai, nós improvisávamos o almoço na rua São João, onde comíamos pão acompanhado de sardinha com tomate e cebola, além de jenipapada”.

Isaac Schuster morreu sem realizar o sonho de rever os familiares que havia deixado na Romênia. “Muita gente humilde chorou com a morte de Isaac Gringo”, recorda Lion, o quarto dos irmãos, que assumiu os negócios quando o pai morreu. “Meu pai nos ensinou a viver dignamente e a ganhar dinheiro”. Ele estava se preparando para viajar até a Romênia, para ver a mãe que estava doente. Mas só viajaria se conseguisse a cidadania brasileira, para garantir que poderia voltar ao país onde havia constituído a sua família. Antes que a burocracia o liberasse, contudo, recebeu uma carta, com quatro meses de atraso comunicando-o que a mãe havia morrido. Isaac Schuster faleceu poucos anos depois, em 1964, aos 57 anos, vítima de trombose cerebral.

Perseguidos pelos cristãos

Após a destruição de Jerusalém, no ano 70 da era cristã, a história dos judeus é a de um povo disperso, que conservou sua religião. Instalados a princípio em Jabreh, depois na Babilônia, ali fizeram florescer grandes escolas, a Torá foi atentamente estudada e deu-se prosseguimento à elaboração do Talmude (doutrina e jurisprudência da lei mosaica). Por outro lado, no Império Romano, e mais tarde no Império Bizantino, onde predominava o cristianismo, a sorte não lhes foi tão propícia. Na Espanha muçulmana, do século VII ao século XIII, o gênio judaico pôde florescer nas artes, na literatura e na filosofia. Foi por esta época que se desenvolveu a Cabala (tratado filosófico-religioso hebraico, que pretende resumir uma religião secreta que se supõe haver coexistido com religião popular dos hebreus).

Após a Reconquista cristã da península Ibérica, verificou-se terrível perseguição aos judeus, cujo instrumento maior foi a Inquisição. Esta obrigou os judeus a se converterem, ao menos na aparência (os “marranos”), ou a fugir da península: estes “espanhóis”, ou sefarditas, se instalaram nos países da bacia do Mediterrâneo, nos Países Baixos ou na Inglaterra. No restante do Ocidente cristão, a perseguição aos judeus foi sistemática, gerando o que mais tarde se chamaria de antissemitismo. Periodicamente, os judeus sofreram expulsões, discriminações e massacres: a caricatura preconceituosa do judeu deicida e usurário fixou-se por muitos séculos. Somente na Itália, havia certa tolerância.

Nos países não-cristãos, especialmente o Império Otomano, nos Países Baixos protestantes, sobretudo nos séculos XVI e XVII, e posteriormente na França, graças à proteção real, as comunidades judaicas foram toleradas. Na Polônia, a população judaica a princípio cresceu com a chegada de perseguidos da Alemanha e, a partir do século XVIII, com os judeus que fugiam dos “pogroms” russos. Mas no Século das Luzes, enraizou-se a ideia de uma emancipação dos judeus, cujos partidários triunfaram na Revolução Francesa. Napoleão I estabeleceu na França uma legislação consistorial, que ainda está em vigor. Por toda a Europa ocidental e nos Estados Unidos – onde, em 1914, já existiam 3,5 milhões de judeus vindos da Europa Central e Oriental – os judeus emancipados se europeizaram, integrando-se ao desenvolvimento intelectual, econômico e social de suas nações.

Na Europa oriental, os judeus permaneciam como suspeitos. Essa emancipação rápida provocou, após 1880, a ressurreição do antissemitismo, que intelectuais reacionários erigiram como doutrina. O caso Dreyfus, na França, atiçou um desprezo e até um ódio racial que se encontravam por toda parte, mas sobretudo na Alemanha, entre as duas guerras. O sionismo, originado com Theodor Herzl (“O Estado Judeu”, 1896), alimentou as esperanças dos judeus europeus perseguidos, mas foi também um elemento que fomentou o antissemitismo. Misturado com teorias racistas falsamente científicas, o preconceito atingiu seu paroxismo com o nazismo, que levou Adolf Hitler e seus correligionários a preconizarem a “solução final”, ou seja, o massacre do povo judeu: ao fim do conflito, 6 milhões de judeus haviam sido assassinados nos campos de extermínio nazistas. Depois da guerra, as comunidades israelitas se reconstituíram. Enquanto a ideia sionista se concretizava com a criação do Estado de Israel, o antissemitismo, às vezes sob a forma de antissionismo, reapareceria em vários países.

Três sobrenomes mestiçados

Das três principais famílias que se fixaram em Sergipe (Schuster, Chapermann e Milstein), Schuster é a mais numerosa, hoje com cerca de 80 remanescentes. Mas os seis filhos de Joanita Milstein são os únicos legítimos judeus vivos. Além de ser filha de Manoel Milstein e Sônia Koifman, Joanita era considerada de “raça pura” porque a mãe era judia. O mesmo acontece com seus filhos. “O valor da raça judaica está em ser filho de mulher judia”, explica Luciano Milstein Silva, quarto filho de Joanita, e um apaixonado por Israel, onde morou. “Considero tanto minha pátria quanto o Brasil”, diz, orgulhoso.

Manoel e Sônia Koifman Milstein, ucranianos de Kamnipadovskaia (antiga Bessarábia) que coincidentemente encontraram-se no Brasil, após passarem pela Argentina, casaram-se em Natal (RN) e depois se mudaram para Aracaju. Tiveram três filhos, sendo que Anita e Samuel mudaram-se, junto com a mãe, para Israel logo após a fundação do Estado judeu, onde constituíram família. Anita casou-se com Fritz Guggenheinn, judeu de uma abastada família alemã que fugiu do holocausto nazista com 10 anos, deixando para trás os pais, que acabaram sendo assassinados. Fritz viveu na Argentina e em Goiás, no Brasil, mas conheceu Anita em Israel. Sônia Koifman morreu em 1984.

Joanita e Paulo Silva casaram-se, na década de 50, contra a vontade dos pais dela, que rejeitavam a união com um não-judeu. Eles foram os pais de Olga, Paulo Filho, Manoel, Luciano, Marcos e Ana Paula. “Meu pai foi um lutador, que construiu um grande patrimônio. Mas sem minha mãe, ele não chegaria aonde chegou. Dona Joanita era uma leoa para trabalhar”, reconhece Luciano. Ele próprio viveu na pele a pressão da importância que o povo judeu dá à questão da perpetuação da raça: “Algumas vezes, prepararam mulheres judias com quem eu deveria me casar”, admite Luciano, que acabou se casando com uma sergipana. “É a maior miscigenação de raças do mundo e isso aumenta a preocupação com a perpetuação”, observa, lembrando que o êxodo espalhou judeus pelos quatro cantos do planeta. Há judeus orientais e ocidentais, assim como há judeus árabes, argentinos, russos e americanos. “Há judeus oriundos da Somália, negros, que foram aceitos em Israel”, observa.

Primeiros judeus chegaram no século XVII

A história registra a presença de judeus em Sergipe desde o século XVII, quando aqui desembarcavam como cristãos-novos. Segundo conta a historiadora Maria Thétis Nunes, no livro “Sergipe Colonial I”, a recém-criada “Capitania de Sergipe Del Rei, em pleno desenvolvimento, atraía, na dispersão da população rarefeita que ocupava seu território, a entrada de cristãos-novos, que aí poderiam passar despercebidos”. Mas, “mesmo rarefeita, a sociedade sergipana da segunda década do século XVII seria atingida pelo olho da Inquisição, alcançando, em primeiro plano, os cristãos-novos nela estabelecidos”. A perseguição aos judeus, representantes da burguesia comercial em ascensão e que aqui chegaram até ser fidalgos e senhores de engenho, prosseguiu por cerca de dois séculos.

Os cristãos-novos, judeus que se converteram à fé cristã, ou que descendiam de pais ou avós convertidos, quase sempre foram forçados à conversão, por fanatismo religioso e oportunismo cristão: ao mesmo tempo em que, na península ibérica, notadamente em Portugal, se lhes impunha a conversão, impedia-se ou dificultava-se sua saída do país e criavam-se pretextos para espoliações. No Brasil, muitos cristãos-novos foram perseguidos pela Inquisição sob a acusação de praticar sua fé às escondidas. Não raramente tinham seus bens confiscados e, muitas vezes, eram enviados a Portugal para serem julgados pelo Tribunal do Santo Ofício.

(Texto publicado originalmente no Jornal da Cidade e na Infonet em 11 de setembro de 2011)

Texto e imagem reproduzidos do Facebook/Marcos Cardoso.

quarta-feira, 5 de julho de 2023

Marlene Alves Calumby, uma intelectual de peso em Sergipe

Artigo compartilhado do site RADAR SERGIPE, de 4 de julho de 2023 

Marlene Alves Calumby, uma intelectual de peso em Sergipe
Por Igor Salmeron*

Para quem acompanha os meus trabalhos de pesquisa notam que focalizo bastante em mulheres que fizeram e fazem história em Sergipe. Uma dessas notáveis reside na pessoa de Marlene Alves Calumby. Nascida em Aracaju num dia 21 de outubro do ano 1950, é a filha do saudoso construtor João Alves e de Dona Maria de Lourdes Gomes. Pais que instilaram nela o espírito solidário, de tenacidade e apreço ao trabalho.

Dotada por inteligência singular, Marlene sempre foi determinada e tinha foco nos estudos. Realizou os cursos Primário e Ginasial no Colégio Jackson de Figueiredo, completando com o Curso Pedagógico que arrematou junto ao Colégio Patrocínio do São José. Se formou em Pedagogia com habilidade em Orientação Educacional pela Faculdade de Educação, da Universidade Federal de Sergipe.

Graduou-se depois em Direito pelas Faculdades Integradas Tiradentes. Prestou curso de Radialista com registro verificado no Ministério do Trabalho. Sua sede de saber é imperecível, e como observamos, realizou também Pós-Graduação em Metodologia da Informação Ocupacional pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) bem como em Educação-Concentração: Planejamento Educacional pela Faculdade São Judas Tadeu, de São Paulo.

Na parte de Gestão de Recursos Humanos também é aplicada quando foi Mestranda na Universidade de Extremadura da Espanha. Sua vastíssima cultura é algo a se ressaltar, pois são poucas em Sergipe que possuem tão destacada erudição. Fez estágio no curso de Análise e Avaliação de Testes, da Escola Técnica Federal de Sergipe e no Centro de Estudos Supletivos, em Natal, no Rio Grande do Norte.

De forma sucedânea, foi aprovada com brilhantismo no concurso público para Monitor da disciplina Didática Geral, realizado pelo Departamento de Didática da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Sergipe, logrando a 2ª colocação. Exerceu ao longo de toda sua vida inúmeros cargos públicos seja no Estado, seja na Prefeitura de Aracaju, com participação em diversos seminários, encontros, congressos, projetos e cursos de especialização em Aracaju, Brasília e outras unidades da federação, ora como coordenadora, ora na promoção de fecundos debates, tanto na seara do Direito quanto na da educação e comunicação social.

Atuou como Membro do Conselho Estadual de Educação, no qual exerceu a Presidência, a Vice-Presidência das Câmaras de Ensino Supletivo da Secretaria de Estado da Educação. Foi Orientadora Educacional da Escola Técnica Federal de Sergipe, Superintendente Geral da Fundação Aperipê de Sergipe.

No magistério sergipano Marlene se tornou referencial. Lecionou no Colégio Patrocínio do São José, no Instituto de Educação Rui Barbosa, tendo sido reconhecida como uma das melhores professoras que passaram pelo Colégio Estadual Atheneu Sergipense, donde também foi diretora proficiente.

No campo do Direito, exerceu a docência como Professora Substituta junto ao Departamento de Direito do Centro de Ciências Sociais Aplicadas da UFS, e também no Departamento de Direito do Centro de Ciências Sociais Aplicadas da UNIT. Mestra da Faculdade PIO X, além de ter ensinado na Rede Municipal de Educação, onde exerceu cornucópia de cargos na parte de assessoria, coordenação e direção.

Recebeu diversos prêmios dos quais: distinções, diplomas, medalhas e reconhecimento de “honra ao mérito” pelas suas ígneas contribuições, não apenas na seara educacional, como no rádio e televisão. Destaca-se a Medalha da Ordem do Mérito Parlamentar, maior honraria concedida pelo Poder Legislativo em Sergipe. Benemérita e Benfeitora de várias instituições culturais e sociais, foi do Movimento Cultural Antônio Garcia Filho da Academia Sergipana de Letras.

Em 2004 se tornou Imortal da ASL ocupando a Cadeira de nº 30 que era pertencente ao Dr. João Gilvan Rocha. Ressalte-se que Marlene foi a sexta mulher a ocupar uma cadeira no vetusto sodalício dentre às quais: Maria Thétis Nunes, Ofenísia Freire, Carmelita Pinto Fontes, Gizelda Morais e Maria Ligia M. Pina.

Em 1999 foi Presidente da Comissão Especial de Estudos Jurídicos da Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional Sergipe. Escritora prolífica, escreveu inúmeras crônicas para imprensa e rádio sergipanos, além de ser abrilhantada poetisa com sensibilidade lancinante. Destaco entre seus escritos: “A importância dos Conselhos Municipais de Educação”, “Direito Educacional” e memórias biográficas sob título “Tudo valeu a pena”.

Na afável esfera doméstica foi casada com o conceituado médico José Calumby Filho cuja amorável união matrimonial resultou em duas filhas. Em seu âmbito profissional aposentou-se dos cargos públicos que exercera com a maestria que lhe é intrínseca.

Conclui-se que a sua labuta incessante na cátedra, seu amor incondicional ao magistério e inspirador trajeto de vida são exemplares merecendo reconhecimento contínuo. Sua luzidia simplicidade, jeito sem soberba e acolhida humana fazem de Marlene Alves Calumby uma das maiores intelectuais vivas no que se refere à moderna cultura sergipana.

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* Igor Salmeron - Sociólogo, doutor em Sociologia pelo Programa de Pós-Graduação em Sociologia da UFS, servidor do Tribunal de Contas do Estado de Sergipe, faz parte do Laboratório de Estudos do Poder e da Política (LEPP-UFS). Membro vinculado Academia Literocultural de Sergipe (ALCS) e ao Movimento Cultural Antônio Garcia Filho da Academia Sergipana de Letras (MAC/ASL). E-mail para contato: igorsalmeron_1993@hotmail.com

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