sábado, 25 de março de 2023

ARACAJU ERA ASSIM... 'The Top's', por Lilian Rocha

Crédito da foto: Arquivo pessoal de Pascoal Maynard

Post compartilhado do Facebook/Lilian Rocha, de 13 de novembro de 2022

ARACAJU ERA ASSIM... 

The Top's

Por Lilian Rocha

No tempo em que as bandas musicais se chamavam “Conjuntos”, havia dois bem famosos em Aracaju: “The Tops” e “Os Águias”.

Ora, festinha de 15 anos “com conjunto” tocando ao vivo, era coisa de rico mesmo. O normal era festinha na garagem de casa e a música ficava por conta dos discos de vinil, tocados numa radiola portátil, que quase toda garota daquele tempo tinha. 

Mas havia um dia na semana que a gente tinha o privilégio de ouvir “um conjunto” tocando ao vivo. Eram os domingos no Iate Clube, popularmente conhecidos como “Jantar Dançante”. 

O “Jantar Dançante” acontecia no salão principal do Iate, pois o outro salão maior ainda não havia sido construído. E como esse evento era destinado ao público adolescente, começava cedo e terminava cedo. Não tinha essa história de voltar pra casa de madrugada não. Aracaju era assim... 

O salão era enorme para os meus olhos de 13 anos. Muitas mesas espalhadas e um espaço destinado para a dança, em frente ao palco. Nas mesas, só ficavam as meninas. Os meninos ficavam em pé, em volta das mesas, talvez pra escolherem melhor a menina que eles iam “tirar para dançar”. Se por acaso uma menina recusasse a dança, 

isso se chamava “dar taboca”. Isso era quase uma ofensa para eles!

De repente, as luzes se apagavam e o salão todo era invadido pelos primeiros acordes de “Travessia”, de Milton Nascimento... 

 “Quando você foi embora, fez-se noite em meu viver...” 

Era assim, invariavelmente, que o Conjunto The Top´s começava a noite... Era mágico!

 “...Solto a voz nas estradas, já não quero parar...” 

E enquanto eles soltavam a voz lá no palco, meu coração dava um pulo, quando a pessoa que eu mais queria chegava de mansinho e me tirava pra dançar...

Foi assim que “fui apresentada” a Milton Nascimento. Em 1972, num Jantar Dançante do Iate, por meio do meu Conjunto preferido, The Top´s. 

Hoje, 50 anos depois, resolvi ‘soltar minha voz’ para agradecer a eles, por terem me oferecido música da melhor qualidade e por continuarem despertando em mim tantas lembranças doces... 

Texto e imagem reproduzidos do Facebook/Lilian Rocha

sexta-feira, 24 de março de 2023

Os conjuntos musicais da década de 60/70...

Legenda da foto: Dia de baile em Estância pelo Miss Sergipe com os Unidos em Ritmo: Rogério (de gravatinha) e Brasinha (curvado sobre o microfone), ao lado de Barrinhos, Neu Fontes e Gladston e outros

Publicação copartilhada do site JLPOLÍTICA, de 23 de março de 2023

Os conjuntos musicais da década de 60/70 e a importância para a cultura sergipana

Por Mário Sérgio Félix*

Dia de baile em Estância pelo Miss Sergipe com os Unidos em Ritmo: Rogério (de gravatinha) e Brasinha (curvado sobre o microfone), ao lado de Barrinhos, Neu Fontes e Gladston e outros

Estância tornou-se berço da cultura sergipana não por acaso. Pioneira na imprensa sergipana, na primeira rádio do interior sergipano, o Complexo Cultural do Bairro Santa Cruz, onde abrigava um clube de futebol pentacampeão do Estado, um cine teatro que apresentou grandes nomes da música brasileira, a exemplo de Orlando Silva e um salão de festas para comemorar eventos do bairro e da cidade.

Corria ali a década de 1950. Os eventos festivos da cidade sempre se sobressaíam como movimento cultural. As bandinhas formadas para tocar nas festas, nos bailes, embelezavam o município de forma tal que Estância crescia e crescia, e se fez a cidade berço da cultura sergipana.

A década de 1960 surgia como um grande marco para a realização  de eventos maiores. Aparecia a Jovem Guarda. Roberto Carlos fazia enorme sucesso com o filme Roberto Carlos em Ritmo de Aventuras. O ano era 1967. O ano em que Estância ganha sua primeira rádio. A Rádio Esperança de Estância.

Os conjuntos musicais do munícipio tomam forma para dar mais brilhos aos eventos da cidade. Os anos 1960/1970 serão de grande importância para esse segmento, uma vez que dois conjuntos musicais são formados com bastante sucesso na cidade e em todo o Estado de Sergipe: Os Cometas e Orquestra Unidos em Ritmos.

Antes, também com bastante sucesso, porém de vida breve, aparece o conjunto Os Anjos, absorvido por aqueles dois conjuntos. Estância vive a partir dos anos 1970 um marco muito importante na cultura: além dos conjuntos musicais, a rádio e os cinemas da cidade intensificam apresentações de grupos musicais, tanto da cidade quanto os conjuntos de fora.

A Rádio Esperança tem papel preponderante nesse segmento, tendo em vista os discos de sucesso nacional e internacional que começam a tocar e fazer sucesso também na cidade. O que toca no Sul e Sudeste do Brasil, e na capital sergipana, também se torna sucesso na cidade.

A rádio se tornaria uma das principais vias de abastecimento dos conjuntos. Se era sucesso nacional, a rádio tocava. Se tocava, era porque tinha nela os LPs. Se tinha na rádio, o gravador portátil era o melhor instrumento de gravação da música que iria abastecer os conjuntos musicais.

Vale ressaltar e agradecer aos apresentadores dos programas musicais e a direção da rádio a gentileza de sempre em proporcionar esses sucessos aos conjuntos. De um lado, Os cometas tinha um repertório mais popular. E fazia um sucesso tremendo. E não se apresentava somente na cidade de Estância. O sucesso se daria também na capital Aracaju, em todo o interior do Estado, além de cidades dos Estados vizinhos Bahia e Alagoas.

Nomes como Pedro Antônio, in memorian, Jorge Boca de Cantor, Roque, Tibúrcio, Edgar, Roberto Carioca, além do seu grande mentor e saxofonista da banda Gumercindo também já falecido. Eles fizeram enorme sucesso com o grupo e contribuíram e muito para o engrandecimento da cultura estanciana.

Nesse momento, desponta para Sergipe os músicos Oswaldo Gomes - atual Cataluzes -, Rogério - aquele do País do Forró - e Antônio Ritto.

Do outro lado, Pimentel, in memorian, também comandava com bastante sucesso a Orquestra Unidos em Ritmos, que tinha uma espécie de maestro que dava o toque musical da banda, que aliava o popular ao mais requintado gosto musical: Oswaldo Gomes.

O conjunto de sopros da Orquestra era um diferencial a mais. Assim como Os Cometas, a Orquestra também tinha um roteiro de apresentações que ultrapassava os limites do Estado sergipano.

Nomes como Oswaldo Gomes, João José - in memorian - Pinguim, Batera, Luiz Carlos e outros fizeram parte e foram importantes para a história cultural da cidade e do Estado. Aqui despontaram João José e Edmundo Moraes, carinhosamente chamado de Brasinha. Hoje mora em São Paulo.

Assim como destaquei no artigo anterior, Rogério merece um capítulo especial, tanto na música brasileira quanto no forró. Até porque nessa época, tivemos um convívio muito próximo.

As apresentações dos conjuntos se dava na maioria das vezes em clubes existentes na cidade: Associação Atlética Banco do Brasil, associações atléticas, grupos escolares e escolas que pudessem comportar os bailes em questão.

Estância tinha AABB, Cruzeiro Esporte Clube e a Escola Técnica de Comércio. Esses três locais abrigaram por muito tempo as apresentações desses conjuntos. E sempre lotados!

Como registro, as cidades de menores portes que não tinham clubes recreativos, muitos deles eram abrigados em grupos escolares e também nos mercados municipais. E eram também lotados.

E quando os conjuntos eram contratados para tocar fora do município? Nem assim cidade parava. Nesse momento, os conjuntos musicais sergipanos de fora da cidade nos davam o prazer de prover música para que dançássemos ao som deles.

A Orquestra Los Guaranis sempre se destacou no Estado. Estância também sempre foi roteiro de suas apresentações. Outra orquestra que fazia Estância como roteiro era o conjunto Orquestra Cassino Royale, de Tobias Barreto, também de grande sucesso no Estado e além fronteiras.

Como não bater palmas para o “Conjunto R-Som 7”, do querido amigo Roberto Alves? Aliás, a primeira vez que ouvi a música “Artigo 26”, do cantor e compositor Ednardo, foi com o Conjunto R-Som 7. Para mim, nascia ali o colecionador de LP, o vinil, vício que cultivo até os dias de hoje. O disco desta canção do Ednardo? Berro. O ano? 1976. Maravilhoso!

O interior sergipano sempre se destacou nas festas populares. Japaratuba e a Festa das Cabacinhas, e uma que acontecia em quase todas as cidades - “Festival do Chopp”. Outra em especial era a Festa da Laranja, em Boquim.

A Festa da Laranja tinha um toque especial. O conjunto da cidade reinava. De muito sucesso, dançávamos ao som de Os Nômades, de Boquim.

Os Nômades começou na cidade de Itabaiana se movendo para Boquim, depois que o seu baterista assumiu emprego no Banco do Nordeste.

Lá, Oswaldo Gomes tocou contra baixo, tendo formado com o americano John Manoush e o cantor Diógenes, em uma de suas formações.

Em Nossa Senhora das Dores, o Festival do Chopp tinha uma identidade muito especial com o conjunto da cidade: Embalo D de Dores, que comandava a festa. Saía gente de todo o interior para participar dessa grande festa na cidade.

Voltando para os festejos e bailes da Estância, a cidade mergulhava num total frenesi quando se comemorava o aniversário do conjunto musical.

O clube era prontamente arrumado para o festejo e um outro conjunto musical era convidado para tocar ao lado do dono da festa. Grupos como Los Tropicanos, Los Guaranis, Os Vickings, Cassino Royale, Brasa 10.

O Brasa 10 vale um registro especial. Seus cronners eram diferenciados. Não que os outros também não o fossem. Porém, Edidelson Andrade e Lisboa eram um show à parte nas apresentações.

Não à toa, Edidelson alçou vôos mais altos. Tornou-se o principal nome do Trio Irakitan. Hoje, Edidelson canta para os anjos. Já Lisboa, sempre cantou para os Anjos e de quebra para os Arcanjos. Voz de rara beleza. Afinação ímpar. Quem viu, viu. No atual momento da música brasileira, e na atual conjuntura, Edidelson e Lisboa fazem uma falta enorme.

Com relação a Roberto Alves, este ainda nos encanta com a sua voz suave e afinada. Nesse espaço ainda vamos contar o que realmente aconteceu naquele fatídico dia 20 de setembro de 1976. Em detalhes. Antes e depois do acidente.

E olhe que nem falei dos casais que nesses bailes começaram uma relação de amor e que perdura até hoje. Se você é um deles, vai lá nos comentários e deixe seu ok e espera por mais na semana que vem. Ok?

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Articulista Mário Sérgio Félix - É radialista, jornalista e pesquisador da MPB. 

Texto e imagem reproduzidos do site: jlpolitica.com.br

quarta-feira, 22 de março de 2023

'Saudades de um tempo que não volta mais', por Déborah Pimentel

Legenda da foto: Antigo cartão postal de Aracaju - (Crédito da foto: Reprodução - Brasil de Fato).

Artigo compartilhado do site JLPOLÍTICA, de 20 de março de 2023

Saudades de um tempo que não volta mais

Por Déborah Pimentel *

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Céu todo azul

Chegar no Brasil por um atalho

Aracaju,

Terra cajueiro papagaio

Araçazu,

Moqueca de cação no João do Alho

Aracaju,

voltar ao Brasil por um atalho

Ser feliz

O melhor lugar é ser feliz

O melhor é ser feliz

Mas, onde estou

Não importa tanto aonde vou

O melhor é ter amor

Aracaju,

Cajueiro arara cor de sangue

Caetano Veloso

Quando cheguei em Aracaju eu tinha 12 anos incompletos. Aracaju, cujo significado é cajueiro dos papagaios, sempre foi uma linda cidade litorânea, desde sempre tinha o seu charme e era um sonho sedutor.

Eu vinha do alto da Serra da Borborema, na Paraíba, e de repente dei de cara com o mar. “Aracaju, o melhor é ser feliz”, já dizia a canção de Caetano Veloso. Que felicidade!

Cresci aqui e é aqui que pretendo envelhecer. No meu imaginário, ainda tenho muito tempo. O sentimento é de que continuo uma menina.

Desde sempre afirmo que esta cidade é absolutamente encantadora, tem um cheirinho provinciano, com um povo hospitaleiro e alegre, e esbanja todo o charme de uma capital, inclusive pela sua ousadia urbanística, pois fundada em 1855, foi a segunda capital totalmente planejada e suas ruas centrais e primeiras possuem a forma de um grande tabuleiro de xadrez.

Quando lá atrás, crianças e adolescentes no final da tarde ainda brincavam nas ruas, jogando bola, brincando de pega, de queimado ou de roda. Ainda brincava de bonecas e conhecia todas as cantigas infantis: “Escravos de Jó, jogavam caxangá, tira, bota, deixa o Zambelê ficar. Guerreiros com guerreiros fazem zigue-zigue zá”.

Os jovens namoravam na porta, mas só quando o rapaz tinha sido ousado o suficiente para pedir autorização aos pais da mocinha. Os vizinhos ainda se sentavam nas calçadas todas as noites para trocar uma prosa, controlar as crianças para que não se afastassem de uma linha imaginária de segurança e punham o rabo de olho nos namorados que, vigiados, não podiam se exceder em afagos.

Tudo sem neuras. Sem medos. Todos se sentiam seguros em uma cidade abençoada e protegida pelo divino. Não havia nenhum sentimento de ameaça e não se falava em violência.

Eu estudava no Colégio Estadual Atheneu Sergipense, que tinha as suas vagas muito disputadas através do exame de admissão. Naquela época, as escolas públicas tinham credibilidade. Tínhamos orgulho de dizer do nosso vínculo escolar. A escola gozava de prestígio.

Aos sábados, no início da tarde, o programa era encontrar os amigos na Praça do Mine Golf. Naquela esquina havia o casarão dos Rollemberg, um antigo palacete do início do século XX de família tradicional sergipana.

Era uma imponente construção que eu tanto admirava e que hoje, tombado pelo Patrimônio Histórico e Artístico, é a sede da OAB de Sergipe. O seu ar aristocrata era simbólico e uma mensagem cifrada de que apesar de progressista, a cidade tinha histórias e muita tradição familiar.

E mais: que era imperioso reconhecer a lei do pai da qual não podíamos nos furtar. Os pais estavam ausentes daquele programa na Praça do Mine Golf, porém o casarão nos vigiava. Nada de badernas. Tínhamos que saber nos portar publicamente.

Outras tardes nossos pais permitiam que fôssemos ao Cine Palace, no centro da cidade. Lembro da era das pornochanchadas, cujo humor, para os padrões atuais, era absolutamente inocente.

Não lembro de na minha adolescência ter visto um fiscal ou ter sido sequer barrada na porta do cinema, cuja censura destas películas era para menores de 18 anos, porém com cenas mais inocentes do que as da novela Malhação, que hoje é exibida na telinha às 18h.

Claro que nos deslocávamos pela cidade caminhando, inclusive em direção ao cinema. As distâncias permanecem as mesmas, mas hoje só saímos para percorrermos estes mesmos trajetos se estivermos motorizados.

Aliás, não lembro de ônibus. Lembro das kombis como transporte público, e elas paravam em qualquer parte do trajeto padrão, desde que acenássemos. Os adultos acenavam. Nós, os jovens, caminhávamos.

Saindo do cinema, ficávamos na Praça Fausto Cardoso. Atrás de nós, um encantador coreto e mais atrás ainda, a linda Ponte do Imperador. Uma ponte esquisita, que liga nada ao nada, mas que pelo seu valor histórico, aquela espécie de atracadouro, construída para receber Dom Pedro II e a Família Real, sempre foi ponto obrigatório para os que visitam a cidade.

Os boys, filhinhos de papai, estacionavam os seus carros em frente ao Palácio do Governo, de fachada neoclássica e com suas belíssimas sacadas. Como não admirar aquele prédio, hoje Palácio Museu Olímpio Campos, restaurado e bem conservado e que era a residência dos governadores até o final da década de 80?

Aqueles jovens que se postavam diante da sede do governo estadual não faziam manifestações sociopolíticas, mas tratava-se de um movimento curioso, senão “revolucionário”, intitulado “quem me quer”’.

Era um verdadeiro desfile. Todos os rapazes com “calças boca de sino” encostavam-se aos carros e ficavam acompanhando, com o olhar, as meninas que saíam do cinema. As meninas fingiam não perceber os olhares, assovios e gracejos.

Nos dias politicamente corretos e chatos em que vivemos hoje, os meninos temeriam fazer qualquer manifestação, receosos que estariam de ser acusados de assédio. Já nós, na nossa maravilhosa e santa ingenuidade, adorávamos ser cortejadas daquele modo. E ficávamos encantadas. Sonhávamos com aqueles cabeludos, sofríamos com amores platônicos e rolavam as paqueras.

Acho que o verbo paquerar sequer existe atualmente e foi substituído pelo verbo ficar. Naquela época “ficar” já era namorar sério. Para acontecer o primeiro beijo, o clima era de muito romantismo e cheio de emoções elevadas ao limite máximo no corpo, que era bombardeado por pura adrenalina: o coração disparava, as mãos geladas e as pernas ficavam bambas.

Hoje o beijo se banalizou. Beijam-se muitas bocas numa mesma noite, abraçam-se, relacionam-se sexualmente e depois de muito ficar pode-se namorar, “ou não”, como diria Caetano Veloso. Aliás, o não, é muito mais frequente.

As relações atualmente são fluidas e fugazes. Os jovens são volúveis e raramente apaixonam-se. E quando acreditam estar amando, na menor e primeira frustração, pedem “um tempo”. Outra expressão que acho estranha, pois sempre quero crer que “um tempo” implica em um prazo definido, mas a expressão significa uma despedida e um adeus. Na grande maioria das vezes, sem volta. Acho que éramos adolescentes mais felizes do que os jovens da atualidade. Bons tempos!

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* É médica, pesquisadora da saúde mental e psicanalista. 

Texto e imagem reproduzidos do site: jlpolitica.com.br

quarta-feira, 15 de março de 2023

Sobre: Histórias do meu Pai & Estórias por meu Pai

 Família Barreto - noite de lançamento do livro 


Legenda da foto: Dona Joselita Barreto comemorando seus 102 anos

Texto publicado originalmente no blog da ACADEMIA LITERÁRIA DE VIDA, em 25 de julho de 2022 

Sobre: HISTÓRIAS DO MEU PAI & ESTÓRIAS POR MEU PAI

Por Shirley Rocha

Li de um lance as cento e vinte e três páginas do livro de Lena Barreto, HISTÓRIAS DO MEU PAI & ESTÓRIAS POR MEU PAI, uma coletânea organizada de escritos do seu pai, o senhor Paulo Barreto Mesquita, irmão e um dos herdeiros do senhor Juca Barreto, o fundador do Cine Teatro Rio Branco.

O Cine Rio Branco foi uma casa de espetáculos que funcionou desde a década de 1920, no segundo trecho da Rua João Pessoa 182 (hoje José do Prado Franco), centro da cidade de Aracaju. Gerações assistiram inúmeros espetáculos ali. O palco era ornado por uma cortina de veludo vermelho escuro e após outra de tecido voal sedoso e branco, ao fundo a tela apropriada para o cinemaScope (técnica que aumentava consideravelmente a projeção na tela) e com uma acústica primorosa; serviu para apresentações de grandes estrelas do teatro, música, nacional e internacional. Findo a era do cinema, o prédio foi se desfigurando e hoje, no local, funcionam várias lojas de roupa.

Paulo Barreto Mesquita era um senhor admirador das artes e da literatura. Lena Barreto (Maria Magdalena Barreto) número sete na prole é conhecida por seu talento ao contar estórias. Com aquela curiosidade de criança, observando o dia a dia da família, a atitude do pai, foi com uma lupa escolhendo, buscando na memória, palavras e fatos, desde o chefe de família ao literato, com dons para escrever peças de teatro, crônicas e mensagens aos parentes e amigos nas ocasiões festivas.

O estilo de Lena é simples, direto, claro. Captou das gavetas do seu pai alguns escritos, alinhavou depoimentos dos outros irmãos e contou uma estória cativante talvez pelo temperamento do senhor Paulo e a forma como ele encarava a vida. A esposa do senhor Paulo, senhora Joselita (Josefa Batista Barreto) e as estórias da vida do casal, refletem a verdadeira riqueza de uma família unida pela educação e amor comprovados pelos mais de 50 anos de vida conjugal.

Seu Paulo Barreto faleceu aos 79 anos, em 1990. Mas Lena Barreto após uma força tarefa deixou para o mundo, principalmente aos sergipanos, um pouco do que foi aquele homem sempre bem arrumado, cabelo impecavelmente penteado e atencioso com todos que chegassem perto. Não conhecia sobre o lado intelectual dele, a delicadeza nos versos, o sentimento terno em suas crônicas, e que escreveu peças de teatro... Não sabia da irreverência dele! Ele e dona Joselita formavam um par espetacular. Valeu Lena, dei boas risadas!

Os guardados de Lena, Cândida, Cleandro, Cássio, Carlinhos, Cleia, Ricardo, Roberto e Maria Viana trouxeram à luz um sergipano que promoveu as artes do teatro, música e do cinema na sua terra. As crônicas e poesias estão no livro que também registram fotos. Vale à pena ler.

Como é tempo de São João vou transcrever uma poesia, que entre outras, consta do livro:

TIÃO

Por Paulo Barreto Mesquita

Quando ela disse a Tião

Qui entre os dois nada inxistia

Naquela noite tão fria

Da vespa de São João

Tião ficou diferente,

Num quis mais falá cum a gente

8

Não pulou mais na fugueira,

Pru mode se batisá,

Cumo tinha prometido

À muié de Zé Cumprido

 8

Não insperou pelo mio

Qui já cheirava nas brasa.

Tião só quis ir pra casa.

8

Pra que sambá

Pra que nada

Pra que fazer mais besteira

Se seu coração ferido

Tava pio qui a fugueira

Qui estalava na madeira

Cumo instalo de pipoca

Que se torra in caco novo

Pra mode vendê na fera

8

Mais qui bicho sem vergonha

É o coração de muié

Pega um home de arrespeito

Que veve do seu trabaio

Pra fazer dele o que quer

8

E adispois qui a gente pensa

Qui a peste gosta da gente

Ela na cara desmente.

Home, só mesmo sendo muié

Pruque se ela fosse home

Eu juro pru S. João,

Não cumia mais feijão.

8

Já vinha raiando o dia

Mas ao longe ainda se ouvia

O samba de Zé Cumprido

Onde a mardita sambava

Sem se alembrá que distante

Um coração de caboclo

De sodade se acabava.

Gostaria de concluir com algumas palavras escritas pelo filho Cleandro Barreto na contra capa do livro, referindo-se ao seu pai:

“Fim do 3º Ato

Fecham-se as cortinas e apagam-se as luzes da ribalta, no palco da vida, no teatro do tempo, que teve sua última função no principal papel, um Amigo das Estrelas. Poeta talentoso, escritor, jornalista, membro da ASI, teatrólogo amante e incentivador da cultura, pai bondoso, extremoso marido, atuante defensor dos menos favorecidos. Sua passagem pela vida foi de amor, sonho e bondade...”

Este ano a senhora Joselita completou 102 anos (....). Ganhou uma festa dos filhos e parentes. Seu Paulo deve estar dizendo aos anjos: Ela me passou a perna...

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Shirley Rocha

Aju/06/22

Jornalista e Presidente da Academia Literária de Vida.

Texto e imagens reproduzidos do blog: academialiterariadevida.blogspot.com

sábado, 4 de março de 2023

Sergipe perde dois grandes mestres: CHICO ANDRADE e MARIETA OLIVEIRA


Publicação compartilhada do Perfil do Facebook/César Cabral, de 4 de março de 2023

Sergipe perde em um só dia (04/02) dois grandes mestres. Os professores CHICO ANDRADE e a professora MARIETA OLIVEIRA partiram para a eternidade. Conheci Chico no início dos anos 70, nos corredores do Instituto de Tecnologia, onde ele trabalhava como Químico e eu como técnico agrícola da SUDAP, que tinha uma Divisão funcionando no mesmo prédio. Um cara simples, educado e sempre solícito. Construimos uma boa amizade. Por sua vez, a professora Marieta teve uma vida marcante na educação em Sergipe. A sua contribuição ficará eternizada por onde vc atuou, seja como professora ou gestora. Que Deus acolha as suas almas e conforte familiares, amigos e ex-alunos.

Texto e imagens reproduzidos do Facebook/César Cabral