sábado, 28 de novembro de 2020

“J. A. sem sombra de dúvidas, foi o maior realizador de todos os tempos”


Texto publicado originalmente no site do Jornal CORREIO DE SERGIPE, em 27/11/2020

“João Alves, sem sombra de dúvidas, foi o maior realizador de todos os tempos”

João Fontes, ex-deputado federal e empresário, gosta de declarar o que pensa, sem firulas. Com isso, amealha admiradores e adversários no campo da política. Mas uma coisa nem uns e nem outros ousam: duvidar do conhecimento histórico que João Fontes possui sobre a política sergipana. Por isso, e para garantir a máxima isenção opinativa, convidamos João para falar de João. No caso, João Fontes falando o saudoso João Alves. E, a seguir, temos afirmações viscerais. “A nomeação de João para prefeito muda a história política de Sergipe, pois nascia ali uma liderança que não veio de oligarquia, que veio do povo, filho de um mestre de obras, de uma família pobre e, como ele mesmo gostava de dizer, um homem negro, o “Negão”, chega ao poder e muda a história”. Mas João, o Fontes, também revela curiosidades sobre João, o Alves. “Eu ouvi um bêbado, quando João perdeu a eleição de 2010, ali ao lado da igreja São Pedro e São Paulo, e eu estava com João naquele momento, que veio até ele, chorando, e disse: “Dr. João, o senhor perdeu a eleição, mas o senhor vai ficar marcado pelas suas obras em todo o Estado”. Ou ainda: “Marcelo Déda era um grande orador, mas não se pode comparar a gestão e a visão futurista, a realização das obras, com Déda, que tem um outro perfil na história política de Sergipe. O que eu posso dizer é que ambos foram brilhantes”. Para o Fontes, o Alves é incomparável. “Olhe, eu sou afilhado de Leandro Maciel, que foi um grande governador. E quando eu coloco isso aqui, coloco sob o ponto de vista da história: sem sombra de dúvidas, João Alves foi o “the best’ na política de Sergipe”. Saiba mais nessa entrevista exclusiva.

Correio de Sergipe – João Fontes, você acompanhou a trajetória política de seu xará João Alves desde o princípio. Assim, vamos fazer um exercício de imaginação: se José Rollemberg Leite, em 1975, tivesse escolhido outro nome que não o de João Alves para a prefeitura de Aracaju e, consequentemente, o colocado na administração pública, qual seria o Sergipe de hoje?

João Fontes – É um fato interessante da história. Pois a escolha de Zé Leite pelo nome de João Alves para prefeito de Aracaju veio, depois, a mudar a história política de Sergipe. Mudou a história do homem que se tornou tocador de obras; da cidade, pois temos Aracaju antes e depois de João Alves; mas ali nasce também a história que mudaria o ciclo político de Sergipe. Zé Leite escolheu João Alves por uma questão de ordem técnica. Ele era amigo do pai de João, o construtor, que ali estava começando a Construtora Alves. Mas Zé Leite assistiu a uma palestra, na Escola Superior de Guerra, em outubro de 1972, proferida por João Alves. E ali ele se apaixona, fica encantado com João Alves. E quando ele foi escolhido governador do Estado por Giesel, em 1975, como estavam suspensas as eleições para prefeito de capitais, a escolha cabia ao governador nomeado. Ao ser escolhido, João Alves passa a fazer uma grande revolução, pois Aracaju passa a ser conhecida como antes e depois de João Alves. As grandes avenidas, a Coroa do Meio. E ele tomava muita porrada, pois quando ele foi fazer a Coroa do meio, a turma ligada ao meio ambiente, à esquerda, que era contra os militares, também era contra João Alves. Agora, imagine hoje o que seria de Aracaju sem a Coroa do Meio? E ao fazer um conjunto de obras em Aracaju, como dizia Brizola, “o gongo bate na capital, mas ressoa no interior”, a imagem de João como grande tocador de obras, como um homem visionário, que fez uma outra Aracaju, isso se transporta para o Estado. Por isso que a nomeação de João para prefeito muda a história política de Sergipe, pois nascia ali uma liderança que não veio de oligarquia, que veio do povo, filho de um mestre de obras, de uma família pobre e, como ele mesmo gostava de dizer, um homem negro, o “Negão”, chega ao poder e muda a história.

C.S. – Dentre as obras estruturantes realizadas por João Alves, qual é a mais importante de todas, na sua opinião?

J.F. – São tantas as obras que fica difícil dizer a mais importante. Na capital marcou muito a ponte Aracaju/Barra, pois dela vieram a expansão da Barra, diversas obras nesse sentido, a ligação com o litoral norte. Mas ainda temos a Orla de Atalaia, que é fundamental, uma vez que João projetou Sergipe para o turismo. Mas ainda temos a Rodovia José Sarney (hoje Ignácio Barbosa), a ponte Joel Silveira, que foi João que começou, mas que teve muitos problemas, pois, para prejudicar o governo de João Alves, começaram a segurar os recursos em Brasília. Mas, quando ainda se atravessava de balsa, ele já tinha feito o asfalto até a praia do Saco, em direção ao litoral sul todo. Mas ele ainda fez obras estruturantes interessantíssimas, como na captação de água e das adutoras, as represas que ele fez em todo o Estado. São muitas as obras. Em Aracaju ele deixou grandes marcos, como as pontes, as avenidas, mas em qualquer cidade do interior tem obras deles. Friso que sobretudo na questão da água e, vale lembrar, na defesa do rio São Francisco, que é outra obra muito importante, pois revelou a sua preocupação com o meio ambiente. E tem uma história interessante: eu ouvi de um bêbado, quando João perdeu a eleição de 2010, ali ao lado da igreja São Pedro e São Paulo, eu estava com João naquele momento, que veio até ele, chorando, e disse: “Dr. João, o senhor perdeu a eleição, mas o senhor vai ficar marcado pelas suas obras em todo o Estado”.

C.S. – Além de um gestor de mão cheia, construtor inveterado de grandes obras, João Alves também fazia muita engenharia política. Ao longo dos anos, qual teria sido o arco de alianças mais impactante que João costurou?

J.F. – Quando ele saiu da prefeitura, tomou gosto pela política. João estava fundando o PP em Sergipe, já era muito próximo de Tancredo Neves – aliás, ele era um apaixonado por dois mineiros, Juscelino Kubitscheck e Tancredo. Na primeira eleição dele, em 1982, que era a primeira eleição direta para governador em muito tempo, ele tinha uma força popular muito grande. E isso fez com que Albano, filho mais próximo de Augusto Franco em termos de política, com receio de João ganhar sem a anuência dos Franco, convencesse Augusto de apoiar João Alves. Assim, Augusto o convidou para ingressar no PDS, que dava sustentação aos candidatos aliados do governo federal, dos militares. E João conquistou uma expressiva vitória, ali numa chapa casada. Augusto Franco teve 33% dos votos para deputado federal, ainda é o deputado federal mais votado em todos os tempos no Brasil. Valter Franco, para deputado estadual, foi muito bem votado. Albano se elege senador. E João vence Gilvan Rocha para governador com uma votação estupenda: ele teve 275 mil votos contra 77 mil de Gilvan. Logo depois, eles rompem, os Franco e João. Depois vem o período das eleições diretas, do colégio eleitoral, João ajudou a eleger Jackson Barreto prefeito de Aracaju em 1985. Mas o maior marco como político, como engenharia política de João Alves, foi na eleição de 1986, pois João ficou no governo e fez Valadares governador, que foi uma vitória de João, pois ele foi o único governador do país eleito pelo PFL, pois naquela época, o PMDB, embalado pelo Plano Cruzado, por Sarney, por Funaro, elegeu todos os governadores, menos o de Sergipe, que foi Valadares e quem elegeu foi João Alves. Esse resultado foi tão forte que, em 1987, quando Joaquim Francisco deixou o Ministério do Interior, no governo Sarney, de quem João ainda não era tão próximo naquela época, o Nordeste começou a brigar pela indicação do novo ministro. E, nesse caso, se ressalte a importância de Valadares, de Lourival Batista, para aproximar João Alves de Sarney, quando ele virou ministro e foi um grande ministro. Ali João deixava de ser apenas de Sergipe, de ser apenas do Nordeste, e passava a ser o João Alves do Brasil. O País começou a conhecer mais João Alves como escritor, pelas suas obras. E o que João Alves falava naquela época, todo mundo ouvia.

C.S. – Dos últimos governadores sergipanos, dois se foram em um breve espaço de tempo: Marcelo Déda, em 2013, e João Alves, agora em 2020. Você vê semelhanças entre os dois? E quais seriam as principais diferenças entre eles?

J.F. – São coisas diferentes, Marcelo Deda e João Alves. Déda foi o melhor orador que Sergipe já teve. Ele e Fausto Cardoso. Mas João Alves era gestor. Tem um fato interessante, em 2007, quando Nilson Lima, que era secretário da Fazenda de Déda, vai a Assembleia e, sob juramento, diz que o Estado tinha R$ 1,2 bilhão em caixa. Ou seja: João saiu em 2006 mas deixou o governo saneado. Então, João foi o grande tocador de obras, o grande Executivo. Tanto que ele nunca se candidatou para nenhuma eleição no Legislativo. E Marcelo Déda era um grande orador, mas não se pode comparar a gestão e a visão futurista, a realização das obras, com Déda, que tem um outro perfil na história política de Sergipe. O que eu posso dizer é que ambos foram brilhantes.

C.S. – Em 2012, João Alves venceu a prefeitura de Aracaju e, na verdade, essa teria sido a última vitória expressiva da oposição, que tem amargado sucessivas derrotas. Teria sido João, seu carisma e sua capacidade de aglutinação, o responsável por essa vitória oposicionista?

J.F. – Participei de muito perto da eleição de 2012, porque quando ele perdeu a eleição de 2010, ele ficou sem mandato e eu até brincava com ele. Eu dizia, “olhe, João, eu gosto de você fora do poder, porque, fora, você é o Negão. No poder, você é o Galegão”. E ele passou a me procurar muito nesse período, eu ajudei a colocar na cabeça dele que ele devia se candidatar a prefeito de Aracaju e esquecer um quarto mandato de governador, que era com o que ele sonhava de manhã, de tarde e de noite, ser candidato em 2014. E eu mostrei a ele, inclusive num encontro como José Calos Machado, Batalha e ele em minha casa, que ele devia ser candidato a prefeito de Aracaju e encerrar a carreira ali. Ele começou como prefeito e terminaria, em 2016, como prefeito da capital. E eu ajudei muito nesse período, pois tinha os rachas e eu acompanhei isso de muito perto. E ele terminou cedendo e acabou se candidatando. Mas, lamentavelmente, ele começou a ficar doente. Mas ele marcou sua gestão com o Calçadão da Praia Formosa, na 13 de Julho, e outras coisas. Mas a verdade é que ele terminou o mandato já muito doente. Mas a eleição de 2012 teve, sim, a força dele para garantir a sua vitória, sem dúvida.

C.S. – Pra fecharmos: é possível colocar João Alves como o maior governador da história sergipana? E, nos anos vindouros, será que teremos a oportunidade de ver surgir alguém com o mesmo potencial e o mesmo sucesso que João teve em sua trajetória?

J.F. – É difícil encontrar uma outra figura com o perfil de João Alves. As coisas não se repetem na política. Eu diria que nós tivemos, em Sergipe, dois engenheiros visionários, Leandro Maciel, em um outro período da história, e, nos últimos 45 anos, João Alves que, sem sombra de dúvidas, foi o maior realizador de todos os tempos. É muito raro nascer um João Alves na política. E isso também como ser humano, pois ele era muito inteligente, uma pessoa de convicções religiosas profundas, um bom pai, um bom amigo, discreto. Ele era incapaz de, ao a gente contar alguma coisa para ele, e isso sair dali para diante como fofoca. Era uma figuraça. Conviver com João Alves foi um grande presente que Deus me deu em minha vida. E eu ainda tive o privilégio de conviver com João Alves os últimos momentos de lucidez. Uma figuraça! Bem humorado, uma figura de bem com a vida, um sujeito porreta, como a gente diz em Sergipe. Olhe, eu sou afilhado de Leandro Maciel, que foi um grande governador. E quando eu coloco isso aqui, coloco sob o ponto de vista da história: sem sombra de dúvida, João Alves foi o “the best’ na política de Sergipe. Como político, três mandatos de governador, ministro do Interior, duas vezes prefeito da capital. E, como já citei o bêbado lá atrás sobre as obras dele, “pelos frutos conhecereis a árvore”. Então tá aí: João Alves deixou bons frutos, foi uma boa árvore que deixou bons frutos na política de Sergipe.

FRASE

Maior marco como político, como engenharia política de João Alves, foi na eleição de 1986, pois João ficou no governo e fez Valadares governador. Foi uma vitória de João.

Texto reproduzido do site: ajn1.com.br

“Você me ensinou a importância do conhecimento..."


Publicado originalmente no site JLPOLÍTICA, em 27 de novembro de 2020

“Você me ensinou a importância do conhecimento, o que é amor e a me apaixonar pela leitura”

Por Maria de Lourdes Monteiro Alves (Coluna Aparte) *

Com apenas 15 anos, a terceira dos quatro netos do ex-governador João Alves Neto comove o Estado com um texto de muita ternura e de profundo agradecimento pelos afetos e cuidados do avô que se foi. A menina tem DNA turbinado: é também neta de dois dos maiores educadores de Sergipe, Marcos Pinheiro e Vanda Pinheiro. Vale a leitura.

“Desde pequena, acho que uma das coisas que mais escutei na vida foi “minha netinha”. Eu lembro de você̂ me chamando pra mostrar a alguém, com orgulho, algum talento que eu tinha e você̂ tanto valorizava.

Tanto que dizia até que eu era superdotada. Todo domingo me trazia um livro ou filme de presente. Sem falta. E nunca deixava faltar no almoço meu sorvete de coco com amendoim.

Você, em sua intelectualidade, me ensinou a importância do conhecimento, quando me incentivou tanto a assistir filmes que nenhuma criança pensaria em assistir (e eu adorava) e, tão jovem, a me apaixonar pela leitura.

Ensinou-me o que é amor cada vez que se ajoelhou pra me abraçar. Ensinou-me a pensar grande, em toda sua megalomania, quando me deu, nos braços de meu pai, a oportunidade de cortar a fita (de inauguração) de uma ponte que ninguém achou que seria materializada. Até́ que você̂ fez.

Quando construiu a Orla de Atalaia, à qual eu ia todo domingo com papai pro Mundo da Criança, aquilo era minha Disney. Ensinou-me a ter empatia, quando, já́ doente e debilitado, asfaltou o Santa Maria, e todas as vezes que colocou o povo acima da sua vida pessoal e até́ da sua saúde.

Eu gosto de pensar que me pareço com você̂. Na vontade de fazer grande, no empreendedor, no estudioso, no homem cheio de amor e de conhecimento pra dar.

No homem que fundou o Ibama quando ministro de Sarney. Que seus feitos nunca sejam esquecidos, que ideologias políticas nunca tirem sua grandeza. E que você̂ esteja em paz, hoje, ao meu lado.

Tenho medo de te perder, mas você̂ vive na memória do povo. Nos livros que escreveu (com toda sua prolixidade, a quem eu puxei também) e fiz questão de ler cada um.

Eu te amo mais do que cabe em mim. Meu amor por você̂ se estende a todo livro que leio, a todo projeto que lidero, a toda pessoa que ajudo, a todo filme clássico que assisto e a todo sonho que eu sei que você̂ me deixaria sonhar.

Mas, além disso, faria de tudo pra que se concretizasse, por mais louco que parecesse - porque foi justamente a sua megalomania que lhe fez histórico. E isso carrego no peito, com orgulho de ter seu sangue e de ser sua neta. Eu te amo, vô. Pra sempre”.

[*] Ela é filha do empresário João Alves Neto e da educadora Roberta Monteiro, escreveu este texto em suas mídias sociais e foi republicado posteriormente na Agência Jornal de Notícias - AJN1 -, do grupo da família dela, de onde o JLPolítica transcreve - @malumonalves.

Texto e imagem reproduzidos do site: jlpolitica.com.br

'O tempo e os fatos fizeram justiça a João Alves', por Luciano Correia

Publicado originalmente no site JLPOLÍTICA, em 26 de novembro de 2020

Opinião - O tempo e os fatos fizeram justiça a João Alves
Por Luciano Correia * (Coluna Aparte)

Os últimos anos do “doutor João”, como o povo o consagrou, foram um bom exemplo de como o processo histórico vai sedimentando a versão final da biografia dos homens públicos que marcaram seu tempo e lugar.

O João Alves Filho, que já foi tão ideológico, liberal convicto, crítico ferrenho da esquerda, foi cada vez mais se firmando como o gestor, o político que trouxe uma nova visão, o sonho dos grandes projetos, uma novidade no Sergipe historicamente governado por políticos com foco estritamente na política.

O tempo se encarregou de tirá-lo de qualquer classificação política, da velha fórmula direita-esquerda, para instalá-lo no patamar raro dos que exerceram governos desenvolvimentistas, quiçá sob inspiração do exemplo maior do país, o de Juscelino Kubitschek.

Num ambiente envenenado por disputas e perseguições, João Alves sempre demonstrou um desapego às iniquidades da política paroquial. Seus governos sempre foram diversos, feitos de gente de todos os matizes, sem que jamais se ocupasse em apurar procedências ou filiações partidárias.

Trabalhei no seu segundo governo, entre 1993 e 1994, mesmo tendo sido militante notório da esquerda, primeiro do PT, do qual fui fundador e membro da primeira Executiva Estadual de Sergipe, e depois do PCB, o velho Partidão. Éramos os comunistas de Theotônio Neto, o plural e competente secretário de Comunicação que tinha cacife para bancar sua equipe sem precisar justificar nada a ninguém.

Certamente, na cabeça do Negão João Alves, o que importava era também competência e fôlego para aguentar seu repuxo. Quantas e quantas vezes não me vi à meia noite em eventos em Porto da Folha, Monte Alegre ou Cristinápolis, cansado, com fome, sem saber que horas chegaria em casa, e o Negão alucinado em cima de um palanque, falando em coisas como fruticultura irrigada - que realizou no Platô de Neópolis -, irrigação no São Francisco - que implantou nos projetos Califórnia e Jacaré-Curituba, em Canindé.

O Negão encantado com um boom turístico que nunca veio, mas que deixou plantadas, ao menos, as sementes de uma política de turismo para o Estado. O Negão das estradas, como a Rodovia Sarney, uma nova fronteira no litoral sul de Aracaju, embrião da futura Linha Verde sergipana, do Centro de Criatividade, do Teatro Tobias Barreto e de uma visão moderna da cultura, ele próprio um consumidor voraz de livros e de discos, apreciador de Nat King Cole.

Certa vez fui fazer uma matéria com ele, que estava despachando no seu apartamento, e o encontrei numa mesa de trabalho com vários livros de economia e desenvolvimento, rascunhando um artigo para um jornal do sul, ao som baixinho de Unforgettable. O João Negão que, recém-formado engenheiro pela Politécnica da UFBA, foi conhecer projetos de engenharia implantados na Califórnia, quando então se encantou com gente como John Steinbeck de As Vinhas da Ira e com ideias como as do New Deal, o plano econômico de Franklin Delano Roosevelt que tirou os Estados Unidos da depressão dos anos 30. Quantas vezes não ouvi esse nome: New Deal!?

Esse político, essencialmente político, que tinha mais tesão por gestão do que pela própria política, com os erros e acertos que carregava, foi aumentando de tamanho na história do pequenino Sergipe. Mesmo que fizesse um governo desastroso na Prefeitura de Aracaju de 2013 a 2016 – sabe-se agora que já estava bastante doente, a única explicação para um gestor competente fracassar numa missão tão simples para um administrador com sua capacidade e experiência.

O hiato dessa última passagem pela PMA não diminuiu o tamanho de sua biografia e, ademais, só foi crescendo com o tempo, também motivado pela qualidade dos que vieram depois dele no Governo do Estado, um a um, quase todos, maus políticos e piores gestores, até a situação de crise e desmonte a que chegamos, em que o atual governador Belivaldo Chagas luta bravamente para superar, tentando salvar um estado naufragado por gestões negligentes com nosso povo e nosso futuro. O Negão João Alves era um vendedor de sonhos e, para surpresa dos incrédulos, os realizava.

[*] Luciano Correia é jornalista e presidente da Fundação Cultural Cidade de Aracaju – Funcaju.

Texto e imagem reproduzidos do site: jlpolitica.com.br

sexta-feira, 27 de novembro de 2020

'João Alves, uma página da história de Sergipe', por Luiz Eduardo Costa


Publicado originalmente no site F5 NEWS, em 26 de novembro de 2020

Blogs e Colunas - Luiz Eduardo Costa - 26/11/2020
TEXTOS ANTIVIRAIS (38)
JOÃO ALVES E O MAPA DE SERGIPE
(João Alves, uma página da história de Sergipe)

O fato aconteceu na campanha de João Alves, quando ele tornou-se prefeito eleito de Aracaju. Antes, quando surgiu o engenheiro realizador, ele fora nomeado pelo governador José Rolemberg Leite. Naquela campanha, João mal acabara de concluir o seu terceiro mandato de governador, tendo, num interregno, sido Ministro do Interior por quatro anos, do presidente José Sarney.

Seus marqueteiros buscavam demonstrar a capacidade realizadora de João, e mostraram, na televisão , um mapa da cidade de Aracaju. Como num jogo de armar figurinhas, foram retirando pedaços da cidade. No mapa, restaram grande manchas brancas.

E eles então foram explicando o que era cada peça retirada do espaço contendo a cidade, e revelando o que significavam aquelas peças.

Sem dúvidas, a cidade ficou mutilada de forma impressionante. Sumiram a Orla da Atalaia, a Coroa do Meio, o Parque do Morro do Urubu, a Orla José Sarney, as pontes, Aracaju-Barra; do rio do Sal, do rio Poxim; diversas avenidas, praças, postos de saúde, conjuntos habitacionais, ginásios; o Teatro Tobias Barreto, o Centro de Criatividade, o Hospital de Urgência; este, agora, por decreto do governador Belivaldo, voltando a ser chamado Hospital João Alves. O nome foi retirado por determinação do MP em obediência à lei que proíbe a denominação de pessoas vivas aos locais públicos.

João Alves agora está morto, assim, é tempo para que se relembre o significado completo dele num mapa mais extenso, o de Sergipe.

O que ele conseguiu fazer salta à vista, é, de fato, impressionante.

Quando João assumiu o seu primeiro mandato eletivo em 1983, chegou, com ele, uma ousada ideia de desenvolvimento. No pequeno Sergipe, desprovido de recursos, de influência política, pensar em grandes empreendimentos tocados pelo próprio estado, seria juízo de menos, ou demagogia demais.

Tantos outros governadores antes tiveram ousadias imensas, mas João, em três mandatos, acumulou uma soma de realizações portentosas.

João chegou ao governo com uma ideia fixa, que ele já havia maturado em estudos alongados, e em viagens pelo mundo, onde fazia suas observações e recolhia experiências.

Na cabeça de João Alves vivia a crepitar constantemente uma espécie de fogo inquietador de ideias que se amontoavam, e era preciso formatá-las, dando-lhe a forma de projetos viáveis, e, sobretudo, escorados numa viabilidade financeira que teria de ser conseguida.

Ou seja, tudo era mesmo uma ilimitada ousadia.

Havia uma dose do quase desatino, naquela esperança que as vezes atropelava a precaução e o bom senso.

João Alves agia em duas frentes. Na execução dos projetos, e na articulação política, para assegurar os incertos cruzeiros que a inflação ia corroendo, entre a noite e o dia. Isso gerava uma operação que se chamava “over night”, as aplicações a curtíssimo prazo resultando em ganhos absurdos, o que desnudava a fragilidade de uma base financeira em frangalhos, desencorajando investimentos, e afastando do cenário econômico qualquer vestígio de previsibilidade.

Foi nesse clima que João ousou alavancar em Sergipe, grandes investimentos públicos.

Tinha, ao seu lado, os dois encarregados da engenharia de ferro e cimento; e da outra, igualmente complexa: a engenharia com as fontes de recursos. Eram eles, o engenheiro Jose Carlos Machado, e o economista Antônio Carlos Borges.

Assim, nesse clima de total insegurança atravessou seu primeiro mandato, (1983 – 1987) e o segundo, já em parte afetado pelo Plano Real, ( 1991 – 1995).

Foi num clima conturbado como esse, que João Alves conseguiu construir em Sergipe quatro grandes perímetros irrigados de grande porte. Sua obra portentosa não se resume nisso, mas será possível sintetizar nelas, a criatividade e o arrojo.

O Califórnia, uma obra desafiadora no semiárido, nas lonjuras ainda despovoadas de Canindé do São Francisco. Houve a captação da água no São Francisco, a adução a uma altura de 170 metros, o sistema de bombas potentes, a adutora, o labirinto de canais.

O Califórnia abriu passagem para que João recebesse o apelido de “João da Agua,” e penetrasse pela aridez sertaneja, concretizando a esperança da água, e viabilizando a produção.

Depois, veio o Jabeberí, armazenando água numa calha enorme entre serranias, e possibilitando a irrigação; fazendo a vocação comercial de Tobias Barreto se revelar também na pecuária leiteira, na agricultura.

O Platô de Neópolis, é o maior de todos, desfazendo a ideia passadista de que em terra ruim não se consegue produzir. Mais uma vez, retirando a água do São Francisco, bem mais perto da foz, onde agora já existe a ameaça de salinização. Esse avanço do mar sobre o Rio Doce, está a exigir a montagem de um sistema de proteção do baixo São Francisco, talvez, uma gigante barragem de foz. Mas isso já é uma outra história, e que nem pode ser sonhada agora, quando, gerada no governo central, se espalha pelo país uma outra pandemia de incertezas.

Finalmente, os lagos imensos e as barragens enormes, fazendo agregar ao dinamismo econômico de Lagarto, e Itabaiana, mais dois instrumentos de desenvolvimento. O perímetro irrigado Dionísio Machado, e o Jacarecica -1

Esses cinco perímetros, resultam de uma ação impressionante de rápida coleta de dados e informações, em locais de difícil acesso, como então era Canindé do São Francisco, e com um precário conhecimento da estrutura e composição dos nossos solos. Como se definiram os locais, como se estudaram tão rapidamente os solos, como se processaram as obras em condições tão adversas? Isso é algo que só faz aflorar a visão de João Alves, e a sua incomum ousadia criativa.

Toda essa história ainda está para ser devassada e contada.

Nela, será instigante buscar aferir a dimensão de Maria do Carmo Alves, naquele tempo em que João andava a fazer essas coisas assim, quase impossíveis.

Jose Carlos Machado poderia fazer um cálculo. Sairia juntando a superfície dos perímetros, de todas as obras de João, para depois revelar no nosso mapa, qual a proporção delas. É possível que, juntas, ultrapassem os mil quilômetros quadrados.

É bom lembrar que Sergipe só tem vinte e dois mil quilômetros quadrados de superfície.

Texto e imagem reproduzidos do site: f5news.com.br

quarta-feira, 25 de novembro de 2020

"João, o garoto que viu o futuro", por Márcio Rocha

Texto publicado originalmente no site F5 NEWS

João, o garoto que viu o futuro

 Blogs e Colunas - Marcio Rocha - 25/11/2020

Um garoto nascido no bairro Santo Antônio, em 3 de julho de 1941, chamado João, filho de um senhor chamado João, acompanhava seu pai na construção de casas para as pessoas de uma cidade que estava em crescimento, Aracaju, nos anos 1950, quando ainda não existia uma política de financiamento imobiliário para as famílias da capital dos sergipanos que avançava em desenvolvimento, junto com a elevação de sua população e urbanismo. Ele, assim como seu pai, queria construir. Cresceu, formou-se em Engenharia e começou a trabalhar na Construtora Alves, junto com seu pai, ajudando famílias a erguerem sonhos e felizes realidades. Na construção, ele via o futuro.

Ele queria mais, queria trabalhar por uma cidade, por seu povo, por seu semelhante. Engajado politicamente, conseguiu obter destaque e assumiu a Prefeitura de Aracaju em 1975, substituindo um homem comprometido com a saúde da população, Cleovansóstenes Pereira de Aguiar. João viu uma cidade que precisava ser preparada para ser o colosso de Sergipe, aumentando muito o seu tamanho. Planejou a ação de crescimento ordenado da cidade criando vias de acesso, corredores de escoamento de trânsito quando nem se falava no excesso de carros e de pessoas de nossa cidade. Ao final de seu mandato, 14 avenidas estavam prontas, muitas delas passando por lugares que eram grandes descampados e que ainda não tinham sinais de presença da civilização. Aracaju tinha além do centro e do norte, uma zona sul, área essa que anos depois seria a mais disputada para moradias e que cresceria de modo avassalador, para abrigar a maior parte da população de uma cidade que ao final do seu mandato tinha pouco mais de um terço do que teria 40 anos depois, durante seu segundo mandado como prefeito da cidade que tanto amou. João Alves governou para 240 mil aracajuanos, o que mais de 700 mil vivem hoje em seu cotidiano. Na cidade, ele pensou o futuro.

"Quando um projeto estratégico de desenvolvimento urbano resolve os problemas do presente, faz uma projeção para o futuro”, dizia o construtor.

Com isso, em 1982 ele vence a eleição para o governo do estado, no primeiro turno. Desse governo surgiram programas importantes e ainda hoje lembrados pela população que vive uma nova realidade pensada por ele, quando pensou no futuro. Ele queria levar água para os sergipanos. Desenvolveu um sistema de abastecimento que trazia água do São Francisco, para as casas dos sergipanos, com o mecanismo das adutoras. O programa “Chapéu de Couro” ainda é lembrado por grande parte da população sertaneja como um processo transformador de realidade do povo do interior sergipano. Açudes, barragens, aquedutos, cisternas, poços artesianos, para levar água às pessoas que mais tinham necessidade, além da abertura de estradas para o escoamento da produção agrícola. Combatendo a seca e a miséria no campo, ele entendia que no pequeno agricultor, estava o futuro.

Seu trabalho foi reconhecido, a ponto de um já experiente político ser convidado para ser titular do Ministério do Interior. Sua preocupação com obras estruturantes e valorização da natureza marcaram o período em que comandou a pasta no governo Sarney, defendendo incansavelmente o ecossistema amazônico, impedindo o processo de intervencionismo. O que resultou no “Código Florestal”, mecanismo que ainda hoje é atual e serve para proteger as florestas e biomas individuais das regiões brasileiras. João viu que da natureza dependia o futuro. Natureza que ele defendeu ao não aceitar intervenções no rio São Francisco, maior bacia hidrográfica do Nordeste e principal alimentador do abastecimento de água de Sergipe, porque nele, almejou o futuro.

Em seu segundo governo, depois de vencer a eleição de 1990, o desenvolvimento econômico era seu foco, ele via que o futuro dependia da expansão das atividades comerciais e industriais, e como se daria isso? Por meio da expansão agrícola. João Alves mais uma vez pensou à frente do seu tempo e desenvolveu o projeto “Platô de Neópolis”, projeto mais avançado de fruticultura irrigada do Brasil, até então. Na época, foram mais de 7 mil hectares, que geravam 20 mil empregos diretos na produção agrícola, alimentando toda a cadeia de abastecimento, indústria alimentícia e comércio dos centros urbanos de Sergipe. Junto com isso, veio a ampliação rede de abastecimento aquífero do estado, com 1.760 km de adutoras levando água para capital, interior e principalmente para o povo sertanejo. Na água, ele entendeu o futuro.

 Ainda em seu segundo governo, surgiu a obra de maior monta da história de Sergipe, o que colocou o estado dentro do roteiro turístico nacional, a Orla da Atalaia. Em sua primeira configuração, com bares modernizados, ambiente com alto grau de higiene e ambientes plurais para o lazer de crianças, jovens e adultos. Os famosos arcos ainda são o principal cartão postal do nosso estado. Cartão postal revitalizado e reconstruído em seu terceiro mandato, em 2003, com a configuração que existe atualmente. Mas há 30 anos, ele pensou no futuro.

O futuro dos sergipanos era sua preocupação, seu grande ímpeto continuava sendo construir. Em seu terceiro mandato, revolucionaria a vida dos aracajuanos, barra-coqueirenses, além das pessoas de municípios que hoje contam com a ponte “Construtor João Alves” como além de um cartão postal, uma ligação de uma região considerada altamente pobre com o desenvolvimento e crescimento econômico. Pelas vias da ponte chegaram benefícios implantados por seus sucessores, mas que se não houvesse a visão de futuro do seu predecessor, poderiam não ter sido realidade. A Barra dos Coqueiros deixou de ser uma cidade pequena, para se tornar um centro urbano residencial de alto valor, além da chegada da Celse e da ampliação da cadeia produtiva do gás natural, hoje uma transformação constante. Não sei se ele pensou nisso, quando fez o exercício da clarividência, mas lá, ainda em 1994, ergueu o Porto de Sergipe e agora sairá do papel, por meio da cadeia produtiva do gás, uma versão do seu sonhado Polo Petroquímico. Com essa obra, acelerou o futuro.

O menino do bairro Santo Antônio viu uma cidade que poucos imaginavam, cresceu e viu um estado que poucos acreditavam, trabalhou e fez disso uma bela realidade. Que seu exemplo inspire e novos garotos vejam o futuro...

Texto reproduzido do site: f5news.com.br

'João, você foi o maior de todos' , por Clara Angélica Porto

Texto publicado originalmente no Facebook/Clara Angelica Porto

João, você foi o maior de todos
Por Clara Angélica Porto

Brasilia, a 70 km. Em um carro em velocidade (estávamos atrasados), seguimos para a emissora de televisão onde o Ministro estava sendo aguardado para gravar uma entrevista. Com o gravador ligado, eu e João Alves Filho começamos a nossa entrevista para o jornal O Que. Eu sempre ficava impressionada com a rapidez e clareza de raciocínio daquele homem.

Chegamos à televisão e desliguei o gravador. Continuaríamos depois. Ao chegarmos ao estúdio da TV, percebi que dr. João estava suado. Precisava preparar-se para ir ao ar. Falei com alguém e me disseram que havia uma sala de maquiagem, mas o maquiador não estava. Convidei dr. João a ir comigo. Refresquei-lhe a pele com uma loção, passei um pouco de base sem brilho e ele ficou ótimo, pronto para a entrevista. Brilhou! Aliás, não era nenhuma novidade. João Alves não era somente um grande empreendedor, o maior político de Sergipe, o maior governador do estado, ele era um dos homens mais brilhantes que já conheci.

“O mundo é feito pelos que sonham”, disse-me em entrevista. “Sou um mestre de obras que sonha grande”, disse-me também.

Foram muitas as entrevistas, foram muitos os momentos de conversa descontraída, que sempre me deixavam admirada pela inteligência cognitiva e emocional daquele homem.

Ele nunca perdia o fio da meada. Certa vez,  quando me recebia em sua residência, começamos a conversar de gravador ligado. Minutos depois, alguém entrou e lembrou-lhe que tinha que ir a um enterro. Olhou para mim e me pediu que ficasse e esperasse por ele. Colocou um vídeo de um balé russo e disse: “É lindo, vejo sempre. Antes que acabe estarei de volta”. E, virando-se para o emissário: “Mande trazer doce de araçá”. Era o doce preferido de João Alves. Fiquei ali, encantada com o vídeo, confortavelmente instalada no sofá, comendo doce. Uma hora depois ele voltava, e quando eu ia ligar o gravador para ele ouvir as últimas frases, ele sorriu aquele sorriso enorme e disse: “Não precisa. Sei exatamente onde fiquei”. E continuou o pensamento como se não houvesse sido interrompido.

Mente ágil, coração brando e sensível, olho de águia, ele percebia todas as coisas de imediato e sabia como poucos lidar com as circunstâncias. Para ele, crises eram oportunidades e citava o significado de crise em chinês.

Um dia, minha ajudante foi atender o telefone e voltou com os olhos arregalados: “D. Clara, acho que é trote. Tem um homem dizendo que é o governador João Alves Filho”. E era. Estava mandando um carro para eu ir tomar o café da manhã com ele. “Venha comer cuscus com ovos comigo, preciso falar com você”.

Sempre tínhamos conversas intermináveis que eu acabava transformando em artigos ou análises. A inteligência de dr. João me fascinava. Tínhamos uma admiração mútua e daqueles olhos sempre sorridentes, recebi muita aprovação.

João Alves acreditava em mim. Fomos mais que a jornalista e a autoridade, fomos amigos. Eu o adorava e não fazia segredo disso. Era grande a minha admiração por aquele homem que sonhava grande e realizava. O maior empreendedor público de Sergipe. Sergipe é um antes e depois de João Alves. Aracaju também.  Por onde ele passava, virava canteiros de obras enormes que iriam mudar a economia, gerar empregos, mudar a aparência. Fotos de Aracaju antes de João e depois de João, mostram o impacto das mudanças.

João Alves era um homem bom. Disse-me que mesmo em meio a campanhas, quando chegava em casa de madrugada, rezava o terço ajoelhado antes de dormir.  Podia estar cansado como fosse, mas desse momento não abria mão. E acordava muito cedo. O homem era incansável. O homem tinha visões impossíveis, mas como não acreditava no impossível, corria para realizar.

Sergipe muito deve a João Alves Filho, o filho do construtor João Alves, de quem tinha muito orgulho e dizia que foi dele, do pai, que veio o empreendorismo, “foi de meu pai que nasceu o mestre de obras”. Sim, um verdadeiro mestre, não só de obras, mas da arte de governar e viver. Que líder que perdemos.

Quando soube que dr. João tinha Alzheimer, fiquei imensamente triste. Como podia aquele cérebro tão privilegiado, ficar doente? João Alves perdeu o que tinha de mais forte, a mente. A partir daí, a vida já não lhe era mais tão significativa, pensei. Confesso que fiquei revoltada com a peça que o destino pregara a dr. João; e inconformada.

Hoje, a notícia da morte de dr. João, não me pegou de surpresa. Todos já sabíamos, já esperávamos por isso. Pensei: “descansou, dr. João, o senhor precisava mesmo descansar”.  Minha tristeza é imensa e profunda. Perdi um amigo, que conversava olhando nos meus olhos, que me apoiava e prestigiava. Mas a tristeza de hoje, a tristeza do fim, é menor que a tristeza que senti quando soube que ele já não reconhecia as pessoas, que o cérebro já estava completamente comprometido pelas névoas da doença.  Foi difícil saber que aquele homem excepcional tinha sido abatido naquilo que tinha de mais forte, de mais brilhante: a mente. Chorei muito e comuniquei-me com Aninha Alves, por quem sempre nutri muita ternura, o contato com ela de uma certa maneira me ofereceu consolo. Dr. João era muito apegado a Aninha e se preocupava muito com ela.

Estou muito triste hoje. Perdi um amigo. Perdi uma fonte de inspiração. Meu coração está de luto. Sergipe está de luto. Perdeu seu maior mestre de obras.

Texto reproduzido do Facebook/Clara Angelica Porto

Homenagem a João Alves Filho (1941 - 2020)




 



Morre João Alves, o tocador de obras

 

Texto publicado originalmente no site DESTAQUE NOTÍCIAS, em 25 de novembro de 2020

Morre João Alves, o tocador de obras

O ex-governador João Alves Filho (DEM) morreu, na madrugada desta quarta-feira (25), no Hospital Sírio Libanês, em Brasília, onde estava internado, após ter sofrido uma parada cardíaca em seu apartamento e contraído coronavírus. Desde julho do ano passado, o ex-governador recebia cuidados intensivos em uma unidade Home Care para controlar um estado avançado de Alzheimer. Segundo a família, o corpo de João Alves Filho será cremado em Brasília e as cinzas trazidas para serem sepultadas em Aracaju. O ex-governador tinha 79 anos, era casado com a senadora Maria do Carmo Alves (DEM), com quem teve duas filhas e um filho.

Resumo biográfico de João do Povo

João Alves Filho nasceu em Aracaju no dia 3 de julho de 1941, filho do empresário da construção civil João Alves e de Maria de Lourdes Gomes. Em 1960 assumiu o cargo de diretor técnico da construtora de propriedade de sua família. Um ano depois, ingressou na Escola Politécnica da Universidade da Bahia, pela qual se graduou em engenharia civil em 1965. No mesmo ano fundou e assumiu a presidência da “Habitacional Construções S.A.”, que viria a ser uma das maiores empresas de construção civil do Nordeste. Do seu casamento com Maria do Carmo Alves, teve três filhos.

Iniciou-se na política em 1975, por intermédio do então governador de Sergipe, José Rolemberg Leite, que o nomeou prefeito de Aracaju. Filiado à Arena, tornou-se muito popular durante sua gestão, adquirindo a fama de tocador de obras e administrador competente. Ao longo de sua gestão, encerrada em 1979, não teve nenhum de seus projetos derrubados pela Câmara Municipal, embora a maioria dos vereadores fosse filiada ao MDB, partido de oposição.

Após o fim do bipartidarismo em novembro de 1979, entrou para o PP. Pouco tempo depois, afastou-se da vida partidária e voltou às atividades empresariais, sob o argumento de que o PP se tornara inviável no estado. Em fevereiro de 1982, o partido acabou sendo incorporado ao PMDB, como forma de enfrentar a situação política decorrente da aprovação pelo Congresso, em dezembro de 1981, do pacote de reformas da legislação eleitoral proposto pelo presidente João Figueiredo.

Primeiro governo

A realização de eleições diretas para governador em novembro de 1982, mobilizou os partidos recém-formados na busca de candidatos. Nesse novo contexto, a convite do então governador Augusto Franco, João Alves Filho se filiou ao PDS, partido sucessor da Arena. Em seguida, foi indicado candidato ao governo estadual, tendo seu nome referendado por Albano Franco, e apoiado pelos prefeitos e pelas bases pedessistas.

Detentor de um grande prestígio político em Sergipe, e tendo como companheiro de chapa o candidato a vice Antônio Carlos Valadares, João Alves foi muito bem-sucedido em sua disputa com os candidatos Gilvan Rocha (PMDB), Marcelino Bonfim (PT) e Manuel Ferreira dos Santos (PDT). Eleito com 76% dos votos válidos, uma das mais expressivas votações no estado, João conseguiu, pela primeira vez em 30 anos, que o partido do governo vencesse na capital. Assumiu o cargo no dia 15 de março de 1983.

Coerente com suas principais promessas de campanha, de estímulo à agricultura e combate à seca e à miséria, o governador João Alves Filho buscou implementar projetos que, no seu entender, possibilitassem um desenvolvimento rural integrado das áreas atingidas pela seca. Com o financiamento do Banco Mundial, pôs em andamento o projeto Chapéu de Couro, que procurava beneficiar a região do agreste semiárido com a perfuração de poços artesianos e a construção de cisternas, estradas vicinais, redes de energia elétrica, escolas e postos de saúde.

Rompe com os Franco

Em março de 1985, João Alves rompeu politicamente com a família Franco e ingressou no PFL, partido originado da Frente Liberal, dissidência do PDS que se havia unido ao PMDB para apoiar a eleição presidencial de Tancredo Neves e José Sarney pelo Colégio Eleitoral. Ainda em 1985, envolveu-se na disputa eleitoral pela Prefeitura de Aracaju. Procurando consolidar no nível municipal a Aliança Democrática, aliou-se ao PMDB de Aracaju em apoio a Jackson Barreto, que foi eleito com grande votação.

Em 1986, o PFL sergipano tentou manter a aliança para a sucessão de João Alves no governo estadual, mas suas esperanças foram frustradas pela união entre a ala moderada do PMDB e o PDS dos Franco, que lançou o peemedebista José Carlos Teixeira. Inviabilizada tal articulação, Alves decidiu apoiar seu vice para o governo. Beneficiado pela popularidade de Alves e pela composição de partidos que incluía o PCB, o PCdoB e os “progressistas históricos” do PMDB, Antônio Carlos Valadares venceu a disputa, tornando-se o único governador do PFL eleito naquele pleito.

Ministério do Interior

Após passar o governo de Sergipe a Antônio Carlos Valadares, João Alves voltou às atividades empresariais e ajudou a reorganizar o PFL sergipano. Em agosto, foi empossado no Ministério do Interior. Aceito por grande parte dos governadores peemedebistas do Nordeste, o ex-governador de Sergipe defendeu a permanência do pacto entre o PFL e o PMDB, afinal rompido em fins de setembro.

Criticando tal atitude, o ministro do Interior afirmou que o partido deveria permanecer unido em torno do presidente da República, apoiando, inclusive, o mandato de cinco anos para Sarney, proposta que acabou sendo aprovada na Assembleia Nacional Constituinte (1987-1988). Em 15 de março de 1990, João Alves deixou o ministério.

Na política sergipana

Apesar de ter rechaçado inicialmente qualquer possibilidade de aliança com o PMDB, controlado pela família Franco em Sergipe, a chapa da qual fez parte como candidato a governador acabou sendo composta por Albano Franco, que pleiteava uma vaga no Senado. Por intervenção direta de Collor, o PFL e o PMDB formalizaram uma aliança no estado para impedir uma disputa entre Albano e João Alves. Obtendo 73,7% dos votos válidos, venceu as eleições do dia 3 de outubro. Seus únicos adversários, José Eduardo Dutra (PT), e Gilberto Selles dos Anjos (PRT), obtiveram, respectivamente, 25,1% e 1,2% dos votos válidos.

Em relação ao novo governo, João Alves Filho manteve uma postura de aceitação, buscando a conciliação entre as forças governistas nos momentos mais críticos. Em setembro de 1993, discordou da atitude de Luís Antônio Fleury, governador de São Paulo, que rompeu com o governo federal, e afirmou que os partidos que tinham apoiado a saída de Fernando Collor deveriam dar sustentação política ao presidente Itamar Franco para que fosse garantida a governabilidade do país.

Eleição de Albano

João Alves optou em não deixar o governo visando preparar sua sucessão, que ocorreria no final de 1994. Articuladas as alianças, o candidato apoiado pelo governo do estado seria o senador Albano Franco, do (PSDB. Realizada a eleição, Albano e Jackson Barreto (PDT) alcançaram votações semelhantes, o que levou a disputa para o segundo turno, tendo o candidato pedetista foi derrotado no pleito realizado em 15 de novembro.

Em 1996, João Alves Filho envolveu-se novamente em uma disputa eleitoral na tentativa de garantir a eleição de sua mulher, Maria do Carmo Alves (PFL), para a prefeitura de Aracaju. O pleito, contudo, foi ganho por João Augusto Gama da Silva, do PMDB. Dois anos depois,

Em 3 de outubro de 1998, enquanto sua mulher Maria do Carmo Alves (PFL) era eleita senadora, João Alves foi derrotado na disputa pelo governo de Sergipe pelo antigo aliado, o então governador Albano Franco (PSDB), que se reelegeu. Em 2002, João Alves saiu novamente candidato ao governo do estado com o apoio da coligação “João na cabeça e Sergipe no coração”, liderada por seu partido, o PFL, tendo conquistado seu terceiro mandato.

Derrotado por Déda

Durante sua terceira gestão, iniciada em 2003, criou a Secretaria de Combate à Pobreza, seguindo o programa federal de combate à fome, chamado de Fome Zero, criado pelo recém-empossado presidente da República Luís Inácio Lula da Silva. Sua mulher, Maria do Carmo Alves, licenciou-se do Senado para assumir a nova secretaria, que também procurou desenvolver programas nas áreas de saúde e habitação.

Em 2006, foi candidato pela quarta vez ao governo do estado numa campanha marcada por discussões entre PFL e PSDB em torno das alianças eleitorais. Na convenção, o PSDB rompeu com o PFL, passando a apoiar o candidato do PT, Marcelo Deda. Depois de acirrada disputa, o petista derrotou João Alves, que deixou o governo em 31 de dezembro.

Prefeito 30 anos depois

Em 2012, o ex-governador se candidatou a prefeito de Aracaju. Com uma coligação formada por 13 partidos, disputou com o candidato do PSB, Valadares Filho. Com 52,72% dos votos válidos, João Alves Filho foi eleito e empossado novamente na Prefeitura após mais de 30 anos, em Janeiro de 2013.

Desde 1993, João Alves Filho é membro da Academia Sergipana de Letras e autor de diversos livros, entre os quais “No outro lado do mundo” (1988), “Irmãos de raça” (s/d), “O Caminhoneiro do Brasil” (1994), “Nordeste – estratégias para o sucesso” (1997), “Matriz energética brasileira” (2003) e o mais recente “Toda a verdade sobre a transposição do rio São Francisco” (2008).

Com informações da biografia de João Alves Filho produzida por Márcio Magalhães/ Letícia Nunes de Moraes, da Fundação Getúlio Vargas.

Texto e imagem reproduzidos do site: destaquenoticias.com.br

quarta-feira, 11 de novembro de 2020

Morre, aos 91 anos, o cantor Josa, o ‘Vaqueiro do Sertão’

Segundo uma de suas filhas, o artista faleceu dormindo
Foto: arquivo/Portal Infonet

Publicado originalmente no site do Portal INFONET, em 10 de novembro de 2020

Morre, aos 91 anos, o cantor Josa, o ‘Vaqueiro do Sertão’

Morreu na manhã desta terça-feira, 10, aos 91 anos, o cantor e sanfoneiro José Gregório Ribeiro, conhecido carinhosamente como ‘Josa, o Vaqueiro do Sertão’. Segundo uma de suas filhas, o artista faleceu dormindo. Detalhes sobre o velório e sepultamento ainda serão divulgados.

“Meu pai partiu igual a minha mãe: dormindo como um anjo”, diz emocionada a filha Joseane de Josa. Ela explica que há mais de 10 anos o pai lutava contra o Alzheimer. “Infelizmente além dessa doença o meu pai também enfrentava dificuldades após um AVC que ele teve em 2004. Hoje ele descansou”, lamenta.

Carreira

De origem humilde e do interior de Sergipe, o filho de lavradores do Povoado Jacaré, em Simão Dias, município distante 100 km de Aracaju, se tornaria em pouco tempo, uma das grandes referências da música popular nordestina. Autor de mais de 300 composições no forró, Josa fez questão de retratar toda a realidade vivenciada em suas composições.

O primeiro disco do sergipano foi um compacto simples, “Fazendo Zabumba”, que contou com a participação de Luiz Gonzaga. O forrozeiro gravou ainda um disco duplo; dois LP’s com 12 músicas cada, além de realizar várias participações em coletâneas no Estado de Sergipe.

No auge de sua carreira musical, ele fez várias turnês e chegou a se apresentar no programa de Abelardo Barbosa, o “Chacrinha”, no Rio de Janeiro/RJ. Josa também teve suas composições regravadas por cantores respeitados no forró, a exemplo de Clemilda, Alcimar Monterio, Mestre Zinho do Acordeon, Erivaldo de Carira, Zé Américo, Jailson do Acordeon, dentre outros.

Documentário

Em maio do ano passado, o roteirista Dida Araújo desenvolveu um documentário intitulado ‘O Vaqueiro do Sertão ‘, a fim de contar a trajetória desse grande artista sergipano. À época, Dida explicou ao Portal que a obra foi uma das formas de homenageá-lo pelos 90 anos que estava prestes a completar.

 "É uma forma de agradecê-lo pela contribuição que ele deu para a cultura sergipana. Foi um homem que amou o sertão”, disse o roteirista. “O mais lindo é que grandes nomes da nossa cultura se inspiram nele. Ele demonstrou que o orgulho de ser nordestino, sergipano, tem que está dentro da gente”, acrescentou.

por João Paulo Schneider

Texto e imagem reproduzidos do site: infonet.com.br