terça-feira, 30 de junho de 2020

Morre aos 73 anos o cantor Edgard do Acordeon vítima da Covid-19





Fotos reproduzidas do Facebook/Edgard do Acordeon

Texto publicado originalmente no site 93 NOTÍCIAS, 30 de junho de 2020

Morre aos 73 anos o cantor Edgard do Acordeon vítima da Covid-19

Ele estava internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Cirurgia

Da Redação

O cantor sergipano Edgard do Acordeon, 73 anos, faleceu nesta terça-feira (30) vítima da Covid-19, doença causada pelo Coronavírus. Ele estava internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Cirurgia desde o dia 17 deste mês com sintomas graves da doença.

O sanfoneiro Edgard do Acordeon era natural de Malhada dos Bois, músico, cantor e compositor. Com 53 anos de carreira, era um apaixonado pelo tradicional forró nordestino e fez parte de diversas festividades da região.

Texto reproduzido do site: 93noticias.com.br

domingo, 28 de junho de 2020

Jozailto Lima ENTREVISTA Juliano Cesar

“Em momentos de crise, não se pode sobrepor o senso comum à ciência”

Publicado originalmente no site JLPOLÍTICA, em junho de 2020

Jozailto Lima ENTREVISTA Juliano Cesar

Juliano Cesar: “Esta não é hora nem de falecer nem de falir”

Aos 57 anos, ele mistura tolerância, conciliação e prudência com pragmatismo, muito foco e objetividade, o que fez do seu negócio um dos mais alvissareiros, vistosos e promissores no território da atividade atacadista de alimentos e bebidas no Brasil a partir do pequeno Sergipe, que ele tem como sua terra e paixão.

Ele é Juliano Cesar Faria Souto, um administrador de Empresas por formação acadêmica e empreendedor por descendência genética e por imposição compulsória de um certo DNA paterno.

Tem no histórico Raymundo Juliano Faria Santos, o pai, um esteio. Uma âncora. Um “doutor em vida e em negócio”, para quem ele bate continência de afeto, respeito e naturalmente o replica em tudo que o velho é, foi, fez e faz. “Meu pai é a minha real bússola e meu melhor manual de instruções”, diz Juliano.

De 2013 para cá, Juliano Cesar Faria Souto conseguiu empinar o nariz da Fasouto, espargir lojas da marca pelos territórios de Aracaju, Nossa Senhora do Socorro - neste, um big Centro de Distribuição inaugurado este ano na flor da pandemia de coronavírus -, em Estância, Lagarto e Tobias Barreto, gerar cerca de 500 empregos diretos e se preparar pra um ação que permitirá ao seu Grupo faturar R$ 250 milhões neste ano pandêmico de 2020.

No centro de tudo isso, Juliano Cesar Faria Souto, que emprestou precocemente brancura aos cabelos, ainda encontra tempo e espaço para se converter num ser gregário, participar de entidades de classe do segmento em que atua, em conselhos de governo e, o mais consistente de tudo isso, ter uma cabeça erguida para bem além e acima de dependências e adulações a Governos de plantão.

Não o chamem para brigas desnecessárias e histriônicas que não o terão como um parceiro. “Negociar e fazer amigos é nosso mantra - dele e meu”, diz, numa referência ao pai. “Tento sempre seguir o exemplo de Raymundo Juliano Souto Santos que, mesmo sendo um homem de pensamento político diverso, lembra-me a famosa frase atribuída a Che Guevara, segundo a qual é preciso “ser duro, mas sem perder a ternura jamais””, reforça.

“De modo que, por maiores que sejam o problema, o desafio ou a divergência com os quais me deparo, o faço certo de que as posições e o radicalismo extremados em nada constroem e em nada ajudam na busca da solução. É evidente que devemos e podemos ter posições firmes, porém nunca criar desafetos para fazê-las valer”, diz, do alto desse “mantra”, Juliano Cesar Faria Souto se faz livre, espontâneo e realista - de uma espontaneidade capaz de exibir um conceito justo e muito coerente sobre o presidente Jair Bolsonaro nesta hora de pandemia em que muitos na posição e no status dele jamais o fariam, preferindo o agachamento tíbio e pálido por detrás da moita das conveniências.

“Entendo que é, no mínimo, lamentável. Diria desastrosa”, afirma ele, sobre a falta de responsabilidade presidencial em face do drama da Covid-19. “Em momentos de crise, não cabem voluntarismo e exacerbação de convicções políticas e pessoais. Não se pode sobrepor o senso comum à ciência”, adverte Juliano Cesar.

Ele ainda prefixa esta importante expectativa cidadã: “Espero que essa triste página da história que estamos vivendo, com vidas perdidas, famílias destroçadas e elevados prejuízos econômicos, sirva de ensinamento para que nós brasileiros, quando votarmos, usemos mais a razão do que o fígado”.

“Busquemos lideranças firmes que reflitam nosso modo de pensar a sociedade, mas sem cair em falsas esperanças daqueles que prometem que a solução estará sempre no confronto, pois ao se deparar com situações onde a união é mais importante que ter a razão o líder fica amarrado às suas posições radicais e nos impõe sacrifícios e desgoverno como este que estamos presenciando. Que possamos aprender a fazer escolhas mais assertivas em 2022”, completa.

Portanto, como livre e crítico, Juliano Cesar Faria Souto cunhou na paisagem da economia e da responsabilidade social uma frase que ele capturara Brasil adentro, segundo a qual, o momento da pandemia de coronavírus que se aproximava do pais feito uma nuvem de gafanhoto não seria motivo para falecer pessoas e nem falir empresas.

“E continuo, 100 dias depois, hasteando a mesma ideia de que esta não é hora nem de falecer nem de falir. Acompanhei e atuo na tentativa de que medidas para minimizar os efeitos dessa tão grave crise possam ser adotadas”, diz

Para Juliano Cesar, foi exatamente com essa visão que os setores de primeira-necessidade do país atuaram e atuam na crise, sustentando fornecimento, suprindo a nação e preservando seus colaboradores da fúria do vírus.

“Essa crise precisa de ações efetivas em saúde: testagem, isolamento, assistência aos primeiros sintomas. Não é somente com abertura ou com fechamento de atividades que será interditada a disseminação do vírus”, recomenda.

Nesta Entrevista, o empresário Juliano Cesar Faria Souto faz um exato raio x do setor de atacadista no país - são mais de um milhão de empregos -, diz qual o planejamento dele e das três filhas para o futuro da Fasouto, expõe visões sobre associativismo, relacionamento com governos e fala do futuro socioeconômico de Sergipe e, sobretudo, derrama um olhar terno, grato e reconhecedor sobre o pai, o empresário Raymundo Juliano Souto Santos, 88 anos, fundador e mantenedor da Disberj por muitos anos - a matriz de tudo.

“Meu pai é meu herói, meu líder, minha real bússola e meu melhor manual de instruções. Ter essa convivência e seus exemplos são minha maior riqueza frente aos desafios de cada dia. Em minha vida tenho somente uma meta: honrar os ensinamentos que recebi e recebo dessa figura maravilhosa”, diz.

Juliano Cesar Faria Souto nasceu em 27 fevereiro 1964 na cidade de Estância. É filho de Raymundo Juliano Souto Santos e de Suele Fontes Faria Souto e casado com economista e comerciante Riane Mendonça Silveira Souto, com quem é pai de três filhas - Fernanda Maria Silveira Souto, de 30 anos, Maria Luísa Silveira Souto, de 28, e Maria Júlia Silveira Souto, de 26.

Ele é bacharel em Administração de Empresas, dono do CRA/SE de número 2684-01, com conclusão do curso em 2007 pela Faculdade de Administração Brasília e tem MBA em Gestão Empresarial pela Fundação Getúlio Vargas.

Hoje Juliano se divide entre o comando do Grupo Fasouto e a Vice-Presidência da Associação Brasileira de Atacadistas e Distribuidores de Produtos Industrializados e é diretor de Comércio Atacadista da Fecomércio de Sergipe e conselheiro no Sincadise - Sindicato Comércio Atacadista Sergipe.

Ternura filial e paterna entre os dois Souto: "Meu pai é meu herói, meu líder, 
minha real bússola e meu melhor manual de instruções"

Juliano Cesar conhece o batente do trabalho desde os 14 anos - começa no famoso chão de fábrica, como auxiliar de escritório na Disberj - Distribuidora Raymundo Juliano.

“Ter a oportunidade de unir pai e professor numa só pessoa e momento, foi e tem sido uma dádiva para mim e para os meus que estão em vias de me suceder. Até 2024 espero ter concluído a personalização da Fasouto e possa deixar a função de sócio administrador, continuando como sócio e conselheiro”, diz ele

Aí, certamente, vai começar uma nova história, envolvendo três meninas, três Marias - Fernanda Maria, Maria Luísa e Maria Júlia.

A Entrevista com Juliano Cesar Faria Souto vale muitíssimo o empenho da leitura.

Juliano Cesar e sua Riane Mendonça Silveira Souto, 
que ele considera seu porto seguro e que lhe deu três belas moças

Texto e imagens reproduzidos do site: jlpolitica.com.br

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SOMESE 83 anos

Médicos sergipanos no final da década de 30. Augusto Leite 
é o quarto, sentado, a partir da esquerda.

Publicado originalmente no site do Portal INFONET, em 26 de junho de 2020 

SOMESE 83
Por Lúcio Prado (Blog Infonet) 

A mais antiga instituição representativa dos médicos de Sergipe, em funcionamento de forma ininterrupta, está comemorando, neste sábado, 27 de junho de 2020, oitenta e três anos de existência. É a Sociedade Médica de Sergipe – SOMESE – que tive a honra de presidir por dois mandatos, de 1993 a 1997.

Na verdade, ela não é a primeira entidade representativa da classe médica de Sergipe. Em 1911 surge a primeira tentativa com a criação da Sociedade de Medicina de Sergipe, sob o comando dos médicos Daniel Campos e Helvécio de Andrade. Não dura muito, apenas um ano, mas nesse curtíssimo tempo consegue publicar a primeira revista médica do estado.

Dr. Helvécio Andrade fez uma primeira tentativa

Dr. Daniel Campos

Nova tentativa de organização associativa vai acontecer oito anos depois, com a criação da Sociedade de Medicina e Cirurgia de Sergipe, em julho de 1919, agora sob o comando do médico clínico Francisco Quintiliano da Fonseca, com a participação ainda de jovens médicos que começavam a se destacar no cenário da nossa medicina,  entre eles os cirurgiões Eronides Carvalho, Juliano Simões e, especialmente, Augusto Leite.

Dr. Augusto Leite Fundador da Sociedade Médica de Sergipe

Na década de 20, até a data da inauguração do Hospital de Cirurgia, ocorrida em 1926, a entidade exerce papel preponderante na elaboração das políticas de saúde do governo Graccho Cardoso. Nesse período de efervescência científica, Graccho traz a Aracaju o sanitarista Paulo de Figueiredo Parreiras Horta, auxiliar de Osvaldo Cruz, que implementa importantes ações de saneamento e controle de endemias e que culmina com a criação do instituto que mais tarde, em justa homenagem, receberia o seu nome.

Com o funcionamento do novo hospital, Graccho oferece a Sergipe finalmente um verdadeiro “ambiente cirúrgico”, nas palavras agradecidas de Augusto Leite. Curiosamente, a partir daí, a entidade vai entrando em declínio e ninguém mais ouve falar dela. Somente em 27 de junho de 1937, graças ao interesse do Dr. Augusto Leite na liderança do processo, surge a atual Sociedade Médica de Sergipe – a atual SOMESE – com sua diretoria sendo empossada na sede da Biblioteca Pública.

No período da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) não há registros de ações importantes da entidade médica, somente em 1945 ocorre o que pode ter sido o primeiro movimento organizado da categoria. Uma reunião plenária, com a participação de vários médicos, sob o comando de Eraldo Lemos e Antônio Garcia, define as principais ações de luta da categoria: a criação do conselho de classe, (que na oportunidade a maioria dos presentes se manifestou contrária e não o aprovou), a implantação de um piso salarial e a fixação de médicos nas cidades do interior do Estado.

Augusto Leite mantém-se por doze anos no comando da Somese, sendo substituído em 1949 pelo pediatra José Machado de Souza. Seu sucessor, o alienista João Batista Perez Garcia Moreno, assume a presidência em 1952. Em 1953, ele lidera um movimento para a criação de uma escola médica em Sergipe e chega a criar uma associação mantenedora, mas as condições políticas da época não favoreceram a efetivação do sonho da faculdade.

A partir da segunda metade da década de 50, a SOMESE experimenta uma de suas fases mais áureas, de grande prestígio político. Seu presidente, o Dr. José Machado de Souza, exerce o cargo de vice-governador do Estado, no governo do udenista Leandro Maciel. Machado, com o apoio decisivo de Carlos Firpo, médico e diretor do Hospital

Dr. Eraldo Lemos

Santa Isabel e ex-prefeito de Aracaju, passa o comando da SOMESE para o cirurgião Canuto Garcia Moreno. A partir dessa administração, forma-se um bloco forte e consistente que vai comandar a medicina de Sergipe por uma década, com realizações de grande importância para o seu desenvolvimento, destacando-se a fundação da Faculdade de Medicina em 1961, instalada por Antônio Garcia Filho, após superar indiferenças e obstáculos de todas as naturezas. À época, ele também presidia a Sociedade Médica de Sergipe.

Dr. Antonio Garcia Filho

Ainda na década de 50, nacionalmente, a classe médica se organiza com a fundação da Associação Médica Brasileira – AMB, em São Paulo e um sergipano participa ativamente desse momento histórico, fazendo parte inclusive de sua primeira diretoria: Eraldo Machado de Lemos. Justiça se faça, desde a década de 40, seu nome sempre é citado em todos os movimentos médicos do Estado.

A SOMESE ainda não possuía sede própria, suas reuniões aconteciam na Biblioteca Pública e no Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe e somente em 1968, na administração de Hugo Gurgel, com a ajuda do Governador Lourival Baptista, isso vem a acontecer.  À frente da SOMESE até 1969, Hugo conta com o apoio de valorosos companheiros, como Alexandre Menezes, Gileno Lima, José Leite Primo, Dalmo Melo.

A SOMESE participa ainda dos primeiros passos para a fundação do Sindicato dos Médicos, criado na década de 60 e apoia a instalação da Unimed Aracaju, fundada em 1984. Nos primeiros anos, essas duas instituições funcionaram gratuitamente na sede da Somese. A tradicional entidade ainda tem participação decisiva e fundamental para a fundação da Academia Sergipana de Medicina, ocorrida no final do século XX – 9 de dezembro de 1994 -, graças à determinação e ao esforço do médico Gileno da Silveira Lima. Ainda hoje a Academia funciona na sede da SOMESE, com seu total e irrestrito apoio.

Inauguração da primeira sede da Somese em 1968. Três ícones da Medicina de Sergipe: 
Machado de Souza, Augusto Leite e Lauro Porto.

As diretorias da SOMESE que se sucedem de Hugo Gurgel até então, cada uma com suas características e realizações, menos ou mais empreendedoras, mantém acesa a chama do associativismo médico, com inestimáveis serviços prestados à comunidade. No momento em que se comemora essa efeméride, não custa cobrar dos colegas médicos o compromisso em prestigiá-la, participando com entusiasmo da vida de sua entidade maior.

Traçando um paralelo histórico, não foi por acaso que as duas maiores conquistas da medicina sergipana do século passado, a meu ver, o Hospital de Cirurgia e a Faculdade de Medicina, tiveram como fundadores respectivamente os presidentes das entidades médicas de então, em pleno exercício de suas funções: os doutores Augusto Leite, comandando a Sociedade de Medicina e Cirurgia e Antônio Garcia Filho, liderando a Sociedade Médica de Sergipe. Difícil imaginar o grande desenvolvimento da Medicina sergipana nos nossos tempos sem a presença marcante, atuante, agregadora e decisiva da SOMESE.

Texto e imagens reproduzidos do site: infonet.com.br

domingo, 21 de junho de 2020

Há 78 anos, um inimigo invisível fez 551 mortes em Sergipe

Cemitério dos Náufragos, triste memória dos torpedeamentos

Publicado originalmente no site DESTAQUE NOTÍCIAS, em 21 de junho de 2020

Há 78 anos, um inimigo invisível fez 551 mortes em Sergipe

Há quase oito décadas, os aracajuanos também tiveram que se isolar em suas casas, principalmente à noite, quanto todas as luzes da capital eram apagadas para enganar o inimigo. Diferente do que ocorre hoje com a Covid-19, a ameaça daquela época era de carne e osso, falava alemão e matava principalmente quem se aventurava no mar. Estamos falando da tripulação do submarino alemão U-507, responsável pelos torpedeamentos na costa sergipana dos navios mercantes Baependi, Araraquara e Annibal Benevolo, causando as mortes de 551 pessoas. Essa triste história foi estudada pelo professor Dilton Candido Santos Maynard, da Universidade Federal de Sergipe, e resumida na reportagem que segue abaixo:

Era o ano de 1942. Todas as noites, Aracaju ficava às escuras e com suas ruas completamente desertas por conta de blecautes programados e toques de recolher. Havia o receio de que a cidade, com as luzes acesas, se tornasse alvo fácil e fosse bombardeada.

Situações como essa se tornaram corriqueiras após três navios mercantes próximos à costa de Sergipe serem torpedeados, causando a morte de 551 pessoas. Os ataques foram atribuídos ao submarino alemão U-507 e as embarcações atingidas foram o Baependi (270 mortos), Araraquara (131) e Annibal Benevolo (150). No dia seguinte, 17 de agosto, outros dois navios foram atacados: Itagiba e Arará, na costa da Bahia, vitimando mais 56 pessoas.

Dilton Candido Santos Maynard começou a pesquisa ainda quando bolsista

Durante esse mesmo período, o mundo acompanhava atônito aos desdobramentos de um dos maiores massacres de que se têm registros na história da humanidade: a Segunda Guerra Mundial. O Brasil assistia ao embate entre nações sem tomar uma declarada posição, até que os torpedeamentos nas costas sergipana e baiana forçaram o então presidente, Getúlio Vargas, a declarar guerra contra os países do Eixo – grupo formado por Alemanha, Itália e Japão.

O submarino U-507 viria a ser afundado em 1943 no litoral norte brasileiro, pela Força Aérea dos Estados Unidos, mas seus ataques já haviam deixado, além das centenas de mortos, marcas no cotidiano dos sergipanos.

Longa pesquisa

Ainda quando era estudante, Dilton Candido Santos Maynard começou a pesquisar sobre o cotidiano de Aracaju na Segunda Guerra, como bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic), mas acabou interrompendo temporariamente as pesquisas. Agora, como professor do Departamento de História e orientador, resgata o assunto.

“Duas coisas me fizerem retomar o tema: a ausência de trabalhos que tratassem com maior cuidado o período, e ao mesmo tempo, o aspecto político e simbólico que esses torpedeamentos tiveram para o Brasil e para Sergipe naquele momento”, conta o professor.

Além de abordar aspectos históricos e sociais, como as mudanças ocorridas no cotidiano do povo de Aracaju após os ataques, a pesquisa tem por objetivo analisar como os jornais da época tratavam o tema e como a visão dos populares a respeito do conflito foi alterada.

O professor exemplifica como alguns problemas enfrentados ainda hoje pela população aracajuana já afetavam a vida de seus antepassados ainda na primeira metade do século XX, como o transporte público. “As poucas marinetes que a sociedade tinha enfrentavam dificuldades no que diz respeito a peças, ao tratamento dos motoristas, dos condutores. Esses problemas acabaram se aprofundando porque com o passar do tempo e com o avanço da guerra ficou mais difícil chegarem peças aqui”.

Notícias dos jornais

Dilton Maynard revela que além de informações sobre os transportes, os jornais traziam notícias sobre a má qualidade do serviço de fornecimento de energia elétrica e dificuldade com os preços que dispararam na época, embora houvesse uma tentativa de controle por parte do governo.

“Não somente as notícias da guerra aparecem – como, por exemplo, a invasão à França, os avanços de Hitler, a preparação da Inglaterra – mas o próprio linguajar dos jornais é tomado por um certo belicismo. Fala-se em promoções do tipo Blitzkrieg (termo alemão para ‘guerra relâmpago’) contra as tristezas da vida. Quando se fala de um jogo, tratam como um combate entre os dois times. Vários termos ligados ao conflito acabam entrando no linguajar dos jornais”.

Para facilitar a compreensão do que foi aquele momento para os habitantes de Aracaju, o professor compara a um fato mais recente: o incêndio da boate Kiss na cidade de Santa Maria (RS), em 2013, tragédia que vitimou mais de 240 jovens.

O submarino U-507 sendo afundado no litoral brasileiro pela Força Aérea dos Estados Unidos

Rotina modificada

“Se em pleno século XXI não conseguimos conceber a perda de tanta gente, tantos jovens morrendo quando deveriam estar apenas se divertindo, pense o que são mais de 500 pessoas morrendo e parte desses corpos chegando a uma cidadezinha de 50 mil habitantes, onde a coisa mais diferente que havia na rotina do local era o ano novo, ou o carnaval”.

Outro aspecto importante da pesquisa para Dilton Maynard é o fato de Aracaju ser uma das únicas cidades do continente americano a sofrer diretamente as consequências da Segunda Guerra. O outro caso lembrado foi a Batalha do Rio da Prata, ocorrida em Montevidéu, Uruguai, ocasião em que um navio alemão com pesada artilharia foi cercado por três embarcações britânicas e se viu obrigado a bater em retirada.

O pesquisador lamenta haver desconhecimento sobre esse evento histórico ocorrido em Sergipe até por seus próprios habitantes. Entretanto, lembra que existem alguns indicativos que têm como objetivo não permitir que esse fato caia no esquecimento, como a rodovia, o cemitério e a praia dos Náufragos – neste trecho do litoral aracajuano chegou grande parte dos corpos, trazidos pelo mar, vitimados pelos naufrágios. Na capital, há também um monumento dedicado aos pracinhas – soldados da Força Expedicionária Brasileira (FEB) enviados à Itália para integrarem as forças aliadas, comandadas pelos Estados Unidos, Reino Unido e União Soviética, na luta contra os regimes nazista e fascista, representados pelo Eixo – no bairro Siqueira Campos.

Memórias desarticuladas

Contudo, Maynard destaca o problema de não existir um trabalho que articule essas memórias em torno dos navios torpedeados na costa sergipana. “Existem a praia, o cemitério e a rodovia dos Náufragos. Mas existem náufragos desde o tempo em que o homem começou a navegar. Isso não vai colar a memória sergipana a esse acontecimento. A grande exceção, claro, são as pessoas mais velhas que sabem que isso está ligado a esse momento triste de nossa história, mas os mais novos, não”.

O professor conclui que o estudo sobre o cotidiano de Aracaju mostra que, mesmo enfrentando dificuldades para obter alimentos e outros utensílios, os cidadãos acabaram se adaptando ao clima de guerra e seguiram sua rotina. “As procissões continuaram ocorrendo, os cinemas continuaram existindo, a ida às praças, ao futebol. Num determinado momento há o choque como é normal, mas você percebe que aos poucos as pessoas voltam a circular por esses ambientes”.

Por Marcilio Costa e Guilherme Almeida (bolsista)
comunica@ufs.br

Texto e imagens reproduzidos do site: destaquenoticias.com.br

Os 95 anos do grande Jorge Leite e a crônica afetiva de um filho

Dr Jorge Leite, como é carinhosamente chamado, e a sua Angelina: rumo ao centenário!

Publicado originalmente no site JLPOLÍTICA, em 19 de junho de 2020

Opinião - Os 95 anos do grande Jorge Leite e a crônica afetiva de um filho

Por Ivan Leite * (Coluna APARTE)

No dia 19 de junho de 1926 nasceu em casa, na Avenida Ivo do Prado em Aracaju, meu pai, Jorge Prado Leite, primogênito de Júlio César Leite e de Carmem Prado Leite, e também primeiro neto do coronel Gonçalo Rollemberg. Aos 11 anos de idade foi estudar, sozinho, em Fortaleza, Ceará, na Escola Militar.

Aos 12 anos, mudou-se para Minas Gerais. Foi estudar internamente no Colégio Cataguases Leopoldinense, e de lá ele mantém até hoje memórias deliciosas, não apenas pelos tradicionais doces mineiros, mas pelo carinho e amizade de famílias e amigos que o acolhiam aos finais de semana e as paqueras de adolescente.

Mudou-se para São Paulo alguns anos depois, para o internato do Colégio Mackenzie, do qual também guarda sempre boas memórias. Serviu ao CPOR - Centro Preparatório de Oficiais da Reserva - Exército, o que lhe era fácil, pelo temperamento disciplinado, mas difícil pelas ações físicas, pois mesmo não tendo limitações que o impedissem de executá-las, a elas não era muito afeito.

Mas conseguiu superá-las através de atribuições que buscou na biblioteca. Aos 19 anos, papai ingressa na já cobiçada nacionalmente e já consagrada formadora de excelentes engenheiros, a Escola Politécnica da Universidade de São Paulo -, feito este que muito o orgulha.

Na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo estudaram contemporaneamente jovens que vieram a ser dois governadores de São Paulo, Mario Covas e Paulo Maluf. Com este, papai concorreu em eleição para o Grêmio da Poli, e o venceu - fato que atesta a sua grande capacidade de aglutinação e liderança.

Como presidente do Grêmio da Poli, e vindo de outro Estado morar em São Paulo, era conhecedor das dificuldades que enfrentavam os alunos originários do interior e de outros Estados de todo o Brasil.

Por isso, idealizou e empenhou-se na viabilização e construção da Casa do Politécnico. E teve sucesso nesta empreitada, construindo um prédio de 11 andares que, ao término da sua gestão, já estava no sexto pavimento e com recursos assegurados para a sua conclusão.

Em 1950, já formado em Engenharia Civil, papai retorna a Sergipe a convite de seu pai, que dele precisava para dirigir a Fábrica Santa Cruz uma vez que, como senador, iria morar no Rio de Janeiro. Este é o mesmo ano em que conheceu e apaixonou-se pela ainda adolescente Angelina, a minha mãe.

Em 1956, três importantes fatos ocorrem na vida de papai: o time de futebol da fábrica, o Santa Cruz, o Azulão do Piauitinga, sagra-se campeão estadual no primeiro campeonato desta abrangência, e ainda fora campeão seguidamente 1957/58/59/60, sendo o primeiro pentacampeão; é fundada a Companhia Sul Sergipana de Eletricidade, a Sulgipe, e lhe nasce o seu primogênito, euzinho aqui.

Em 5 de maio de 1964, ocorrem os dois maiores reveses de sua vida: a perda prematura de sua genitora, Vovó Carmem e, no mesmo dia, a destruição da Fábrica Santa Cruz por uma gigantesca enchente dos rios Piauí e Piauitinga.

Demonstrando sua garra e seu empreendedorismo, em 1º de maio de 1967 papai inaugura a primeira estação de rádio do interior de Sergipe, a Rádio Esperança, numa data que demonstra explicitamente seu apreço e reconhecimento aos trabalhadores - ele próprio um eterno trabalhador -, a ponto de receber o codinome de um homem chamado trabalho!

Aos filhos, que criou e educou com exemplos - Ivan, Marcelo, Adriana -, e aos netos Jorge, Yvette, Júlia e Luiza, e ao bisneto Pedro Jorge, ele segue dando demonstração de perseverança. Chega hoje aos 95 anos e, como lhe é peculiar sempre ter metas, a de agora é de ir rumo aos 100. Então vamos!

[*] É engenheiro, foi deputado estadual, prefeito de Estância e secretário de Estado da Indústria e Comércio de Sergipe, mas para o que ele mais levanta crachá mesmo é para a condição de um filho de Jorge.

Texto e imagem reproduzidos do site: jlpolitica.com.br

sábado, 20 de junho de 2020

Homenagem a Barreto Colchões (1937 - 2020)

Barreto Colchões

Publicado originalmente no site ESPAÇO LIVRE NOTÍCIAS, em 19 de junho de 2020

Morre Barreto Colchões 

O deputado estadual, Garibalde Mendonça (MDB), manifesta pesar pelo falecimento na noite desta quinta-feira, 18 de junho, de Ederaldo Pereira Bonfim, pai de seu assessor parlamentar, o radialista Ferreira Filho.

Barreto Colchões, como era conhecido, estava internado em um hospital de Aracaju há mais de 30 dias, em Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Ele vinha enfrentando alguns problemas de saúde e o quadro se agravou após contrair a Covid-19.

Filho de Eduardo Bonfim e Ermínia Ferreira Bonfim, Ederaldo Bomfim, nasceu no povoado Roque Mendes, município de Riachuelo. Ele deixa esposa, filhos e netos.

Sepultamento – O sepultamento será realizado nesta sexta-feira, 19, às 10hs, no Cemitério Santa Izabel, em Aracaju.

Por conta das medidas de distanciamento social, o velório e sepultamento serão reservados aos familiares e pessoas bastante próximas, cumprindo-se o devido protocolo.

Texto e foto reproduzido do site: espacolivrenoticias.com.br

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Fotos reproduzidas do Perfil do Facebook/Barreto Colchões

Barreto colchões: “Naquela mesa vai ficar faltando ele”, diz Ferreira Filho


Publicado originalmente no site MIRA GERAL, em 19 de junho de 2020

Barreto colchões: “Naquela mesa vai ficar faltando ele”, diz Ferreira Filho

Depois escreverei mais sobre você, mas, no momento é o que me intui.

Por Ferreira Filho

Nesse momento de dor me inspiro na música, fazendo algumas alterações diante do instante, dizendo que “Naquela mesa vai ficar faltando ele, e a alegria dele, vai ficar doendo em mim”.

Que legado meu pai!

Até na hora de partir para o lado do Pai Celestial lutou bravamente pela vida, quando, enfim, a hora da sua ida para eternidade foi inevitável.

Esta imagem que Deus me deu oportunidade de registrar nos últimos dias de sua vida, é um gesto que representa para mim, e toda família, tudo o quanto fomos servidos por sua luta na sua passagem por aqui para nos proporcionar o que era possível e de melhor.

Obrigado meu pai!

Depois escreverei mais sobre você, mas, no momento é o que me intui.

Me dê sua benção, meu pai!

Você partiu, e ficará aqui presente na nossa saudade eterna!

Texto e imagem reproduzidos do site: mirageral.com.br

quarta-feira, 17 de junho de 2020

Réquiem por Reginaldo Silva, por Odilon Machado

Imagem reproduzida da Ascom/UFS e  postada
 com arte pelo blog SERGIPE...

Texto publicado originalmente no site do Portal INFONET, em 17 de junho de 2020

Réquiem por Reginaldo Silva
Por Odilon Machado (Blog Infonet) 

O médico Reginaldo Oliveira Silva, falecido nesta semana, vítima do Covid19, era um homem de muito valor para a sociedade sergipana.

Filho de raízes itabaianenses, Reginaldo em criança viveu ao lado da Panificadora Aimoré, na Rua de Itabaiana, esquina com Maroim, em Aracaju, de propriedade de seus pais, Jovino e Caçula Silva.

Neste tempo eu morava na Rua de Pacatuba, nunca chegando a travar conhecimento, afinal os nossos caminho pouco se cruzavam, embora nossas residências fossem bem próximas.

Também nunca fomos colegas nem contemporâneos de estudos, embora nossas idades justificassem uma maior proximidade.

Eu estudara nos Colégios Brasília, no Jackson de Figueiredo e no antigo Atheneu, o Colégio Estadual de Sergipe; ele talvez tivesse estudado no Colégio Menino Jesus e no Tobias Barreto, salvo engano.

O meu conhecimento com Reginaldo aconteceu a partir dos nossos casamentos; eu com Tereza Cristina, filha de Aldjebran e Julia Garcia Moreno, há quase cinco décadas, e ele com Marilda, em tempo igual, filha de Edinaldo e Janice Bravo de Oliveira da sociedade propriaense.

Tereza e Marilda são parentas e amigas, minha sogra sendo o elo desta amizade, afinal Julia e Janice sempre se trataram como tia e sobrinha, em tradição de longa data.

Marilda deu a Reginaldo três filhas; Karina, Karolina e Katarina, e um varão; Reginaldo Filho, criados sempre próximos de meus filhos, chegando inclusive a serem colegas nos estudos.

Minha proximidade com Reginaldo se fez maior a partir da política universitária, quando fomos convidados pelo Magnífico Reitor Gilson Cajueiro de Holanda a exercer a função de Diretor de Centro Universitário.

O ano era 1980, tempo em que a Universidade fervilhava rebeldemente contra os poderes constituídos em demanda entrópica sempre norteada de maior liberdade, quando os barbudinhos do PT se ensaiavam como, verbosos e fabulosos, maus construtores da pátria.

O Magnífico Reitor e nós seus assessores éramos açoitados como “biônicos”, acusados de não possuir a legitimidade das urnas, antes nunca usada, mas que agora era requerida, quiçá exigida, pelo febril assembleísmo nascente.

Os quatro Diretores de Centro Universitário fustigados por liderança estudantil enraivecida contra o Regime Militar minguante, eram todos Professores de Mérito inatacáveis, nunca ligados a mecanismos repressores, e menos ainda ao seu endosso : José Bonifácio Fortes Neto, do Centro de Ciências Sociais Aplicadas, José Alexandre Felizola Diniz, do Centro de Educação e Ciências Humanas, Reginaldo Oliveira Silva, do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde e eu, Odilon Cabral Machado, do Centro de Ciências Exatas e Tecnologia.

Animava-nos o fiel cumprimento da missão por necessário, afinal ninguém escolhe o momento ideal para bem servir a nação, a comunidade ou a sua Faculdade, nem pode achar que um eventual marulho ou um barulho insensato mereça o estouvado mergulho na intolerância que tudo envilece e desconstrói.

Infelizmente, por desconstrução farsesca de releitura da História, o Herói de ontem pode ser o vilão de amanhã, estátuas como a de Winston Churchill sendo depredadas e rasuradas, a ponto de requerer alambrados de proteção, porque a humanidade que ergue, que constrói, e que resiste, é a mesma que rói e corrói, se escafede, foge e desiste, o vandalismo sempre surgindo e refluindo, urrando e zurrando, sem razão ao desembesto.

Compromissado ao bom serviço, depois da missão de Direção de Centro Universitário, e como resultado da administração de Gilson Cajueiro de Holanda, a UFS conseguiu a cessão do antigo Hospital de Aracaju (Hospital Sanatório) pelo Ministério da Saúde, visando a implantação do Hospital Universitário.

A UFS de então tinha o sonho de construir um Hospital Universitário, tendo sido previsto a sua construção no Campus Universitário.

Na planta e na maquete tudo é fácil. Difícil é tornar o sonho realidade.

Sobretudo naquele tempo em que o país ingressara nos comuns dias de déficit econômico, e as Universidades públicas então criticadas por massificar o ensino superior, em acréscimo de vagas e construções de Campi por todo o país, e aqui também, vivia momentos diastólicos de contenção de despesas, os chamados “contingenciamentos”, denunciados mais das vezes como tentativas demoníacas de privatização do ensino público.

Se em Sergipe tal ampliação de cursos utilizara convênios laboratoriais da Escola Técnica Federal, e de órgãos estaduais como o Departamento de Estradas e Rodagens (DER-SE) e o Instituto de Tecnologia e Pesquisa (ITPS), a custo zero, ou quase, na área das Ciências Exatas, os cursos da área médica utilizavam o acervo do Hospital das Clínicas Augusto Leite, mediante um convênio cujo custo exorbitava o próprio orçamento da Universidade Federal.

Foi então que o Reitor Gilson Cajueiro conseguiu mediante negociações entre os Ministério da Educação e o da Saúde, a cessão para a nossa Universidade Federal do antigo Hospital Sanatório de Aracaju, nosocômio que se achava perdido e esquecido nas colinas do Santo Antônio, sendo Reginaldo Silva um dos heróis fundadores desta nova fase da História da Medicina em Sergipe, sendo inclusive o seu primeiro Diretor.

Hoje tudo isso é lembrança e, como dizia o poeta, lembrar é não ver.

Todavia, os homens prosseguem nos mesmos caminhos, a terra gastando a pele, a ensejar seguidores, que olvidam e apagam quem lhes foram desbravadores.

De Reginaldo Silva restou sua lembrança enquanto cirurgião e obstetra, auxiliando o vir a luz de muitos, como a Odilon, o meu terceiro filho, minorando a dor de centenas de mulheres, curando-as muitas, quiçá milhares, sem nunca perder a paciência, nem atender com displicência, virtude mais que requerida aos obstetras em suas horas difíceis e urgentes.

Como Médico, também se fez empresário, criando a Clínica e Hospital Renascença.

Depois, por capricho da vida, atingiu-o uma moléstia progressiva e limitante, em pleno labor e proficiência, saindo pouco, ficando restrito à sua casa, onde, leio-o na internet, atingiu-o esta doença cruel que a todos ceifa e amedronta.

– “Fiquem em casa!” – Gritam loucos e destrambelhados os nossos Governantes cercados de Especialistas do nada, a prescreverem tudo, sobretudo causando miséria e fome a serem cobrados mais adiante.

E o Vírus louco se aproximando de quem está na rua e de quem não está, ficando em casa, como Reginaldo que não mais saia, morrendo sem que nós seus amigos pudéssemos louvá-lo em despedida.

Em tantos ídolos derrubados no noticiário, se o homem morre não mais deixando a fama, ficará sempre a lembrança naqueles que aquecidos permanecem em sua chama e sua luz, memória da sua presença e de sua passagem entre nós.

Que o Deus que é, que era, e que vem, receba em seus braços a alma imortal de Reginaldo de Oliveira Silva, um sergipano da melhor extirpe, para sempre amém.

Texto reproduzido do site: infonet.com.br

terça-feira, 16 de junho de 2020

Fundador do Hospital Renascença morre aos 74 anos

Foto: Divulgação/Assessoria de Comunicação

Publicado originalmente no site do JORNAL DA CIDADE, em 15 de junho de 2020

LUTO - Fundador do Hospital Renascença morre aos 74 anos

Ele estava internado devido a complicações da Covid-19

Da redação do JC Online

Faleceu, na manhã desta segunda-feira, 15, o médico Reginaldo de Oliveira Silva. Ele tinha 74 anos de idade e estava internado devido a complicações da Covid-19.

Fundador e proprietário do Hospital Renascença, um dos principais da capital, drº Reginaldo tinha mais de 40 anos de atuação, sendo referência nas áreas da ginecologia e obstetrícia. Além de médico, ele também atuou como professor do Departamento de Medicina da Universidade Federal de Sergipe (UFS).

O sepultamento será às 11h da manhã de hoje, porém, devido a causa de sua morte, será realizada uma cerimônia rápida, sem velório e sem presença de público.

Em nota enviada à imprensa, o hospital destacou a trajetória profissional e pessoal do médico, ressaltando os mais de seis mil partos realizados ao longo de sua carreira.

Confira a nota na íntegra

"O tempo é rápido, duro e imbatível, mas com ele, marcas profundas são deixadas na história. A trajetória de Dr. Reginaldo Oliveira Silva é um grande exemplo; ele nos deixará a certeza da saudade de um grande homem, pai e profissional, que tanto fez pela saúde da população sergipana.

Ao longo dos 40 anos que foram dedicados à Ginecologia e Obstetrícia, foram mais de seis mil partos e cirurgias ginecológicas realizados, priorizando sempre a humanização e o bem-estar das mães e recém nascidos. Foi professor concursado da Universidade Federal de Sergipe, professor titular do Departamento de Medicina, Diretor do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde da UFS e um visionário: conseguiu a cessão do antigo Hospital de Aracaju (Hospital Sanatório) do Ministério da Saúde para a UFS, tendo em vista a implantação do Hospital Universitário, fato que se concretizou, assim, se tornando além de fundador, o primeiro diretor do Hospital.

Em 1982, fundou o Hospital e Maternidade Renascença. Desde lá, mudanças transformadoras já aconteceram e inúmeros cidadãos já foram beneficiados.

Nós, do Hospital Renascença, esperamos que as lembranças e suas concretizações reforcem os bons momentos vividos ao seu lado. O seu legado empático, de imensas contribuições e de cuidado com a saúde da sociedade em Sergipe continuará sendo eternizado aqui, afinal suas ações e companhia farão parte da nossa história para sempre."

Texto e imagem reproduzidos do site: jornaldacidade.net

domingo, 14 de junho de 2020

O jornalista Márcio Rollemberg Leite


Publicado originalmente no site EVIDENCIE-SE

O jornalista Márcio Rollemberg Leite
Por GILFRANCISCO [*]

O nome de Márcio Rollemberg Leite me intriga desde 2008 quando iniciei as pesquisas sobre a formação do Partido Comunista em terras sergipanas. Foi seu companheiro de militância, o jornalista Célio Nunes (1938-2009) quem me contou algumas histórias e seus encontros políticos em uma de suas residências, localizada na Aruana. Mas seu nome era um mistério, ninguém tinha notícia do seu paradeiro.  Então, passei a colecionar textos do homenageado publicados em diversos periódicos, desde a época estudantil iniciada em 1934, alguns dos textos incluídos no livro Agremiações Culturais de jovens intelectuais na Imprensa Estudantil, publicado pela EDISE, 2019.

De família tradicional e numerosa, descendente da linhagem dos “Leites”, os primeiros registros com o sobrenome Leite datam de 1258.  Filho do médico Sylvio Cezar Leite (1880-1943) e Lourença Dias Coelho e Melo Rollemberg (filha do Barão de Itaporanga) o casal tiveram cinco filhos: Gonçalo Rollemberg Leite (1906-1977), Francisco Leite Neto (1907-1964), José Rollemberg Leite (1912-1996), Alfredo Rollemberg Leite e Márcio Rollemberg Leite (1919-1980) e do segundo casamento com Guiomar Sampaio Leite nasceram os irmãos Fernando Sampaio Leite, Josefina Leite Campos e Clara Leite Resende (1940). Cada um dos seus filhos teve destaque em fortes áreas de articulação e poderio representativo do estado de Sergipe.

Márcio Rollemberg: importante na formação das ideias políticas no Estado

Nascido em Riachuelo (SE) há 29 quilômetros de Aracaju em 14 de abril de 1919 no Engenho Angico. Márcio Rollemberg Leite, intelectual importante na formação das ideias políticas no Estado, estudou as primeiras letras em escolas particulares, em Riachuelo e em Aracaju, fazendo o curso secundário no Colégio Salesiano Nossa Senhora Auxiliadora, passando pelo Colégio Tobias Barreto, em 1935, onde dirigiu com outros colegas o jornal estudantil Boletim nº 2 órgão do Grêmio Lítero-Científico Tobias Barreto, e finalmente matricula-se no curso complementar do Ateneu, onde teve como colegas Joel e seu irmão Paulo Silveira, João Nou e outros. Bacharelou em Direito pela Faculdade Nacional, do Rio de Janeiro, tendo atuação de destaque na União Nacional dos Estudantes – UNE. Regressando a Sergipe, fixa residência em Aracaju, onde inicia sua carreira de advogado e jornalista.

Militância Estudantil

Desde muito cedo, iniciou-se nos movimentos de agitação política estudantil, escrevendo artigos e poemas para os jornais estudantis, pessoa ligada ao estudo e à inteligência de um modo geral. O Boletim nº 2, Aracaju, Ano I, outubro, 1935, 4 páginas, dirigido por José Barreto, Márcio Rollemberg, Sindulfo B. Filho, Gustavo Dantas, Paulo Garcez e Durval Maynard. Vejamos o editorial, Umas Palavras:

Parece que dentre todas as classes sociais a estudantina é a que mais possui representantes da inconstância. Isto, ao menos em Sergipe, passa na fechadura da observação tal qualmente a chave das afirmações. Serve de exemplo aos vistos períodos, o caso deste Boletim que possui atrasadíssimo o seu segundo número.

Entretanto, não se culpe a diretoria. O desânimo dos colegas que em maioria desprezam a leitura e, portanto, não chegam a assinar um jornalzinho recreativo isto é que detém a marcha do órgão fundado para defesa e honra da mocidade.

Contudo, agora, com a prematura morte de Lyses não podia deixar de sair a luz este novo número do Boletim, que dará habilmente ao ilustre extinto o adeus saudoso dos sócios do G.L.C.T.B. E sai o número, ainda que sem o auxílio daqueles tão números alunos que não são principais leitores. Sai com o auxílio infalível das nobres autoridades do Colégio Tobias Barreto.

A morte que levou ao saudoso Lyses, não sabia talvez que inúmeras eram as pessoas que iriam ao enterro dele. Na verdade este foi descomunal. Pela manhã da sexta-feira, a pé colegiais e gente de várias classes prestaram homenagem ao morto em o acompanhando ao cemitério.

Aqui, antes do sepultamento, falaram pelo Ateneu (lugar onde estudava Lyses) Abelardo Horta, Rivaldo Oliveira, Gerson Pinto, Lauro Fontes, Adalberto Campos, Neide Albuquerque e Julieta Dias pelo Salesiano. Raul Leite e José Bittencourt, pelo Tobias Barreto, José Barreto Fontes (representando o Colégio) e Márcio R. Leite (representando o Grêmio a quem pertence este Boletim). Todos os discursos pronunciados mostraram ao público quanto Lyses, era querido por qualquer um dos oradores. Aqui vai um dos lidos discursos, e que, portanto, encerará as mesmas palavras que encerrou à hora fúnebre.

Aliás, é o do representante do Grêmio Lítero-Científico Tobias Barreto.

Provavelmente no início de setembro de 1937, os colegas Wilson Lima, Paulo Silveira, Abelardo Horta e Márcio Rollemberg Leite, alunos do Ateneu Pedro II, enviaram carta ao poeta mineiro Murilo Mendes (1901-1975), questionando alguns pontos sobre o integralismo. Católico ligado ao grupo do sergipano Jackson de Figueiredo (1881-1928), o poeta Murilo Mendes responde carta datado de 6 de outubro (Rio de Janeiro) a qual foi publicada no Correio de Aracaju com o seguinte título: “Carta aos jovens estudantes que combatem s extremismos”:

Vocês me desculparão por eu não lhes ter respondido há mais tempo. Ultimamente minha vida está complicadíssima. Além de tudo sou sujeito a uma gripe medonha que, quando me pega não quer largar nem a pau, e que me impossibilita e escrever nem que seja uma linha. Tanto assim que nos dois últimos números de Dom Casmurro não publica coisa alguma.

Não me tratem de Senhor, deixem a solenidade de lado. A carta de vocês me tocou profundamente – tanto mais quanto não os conheço pessoalmente. Vejo assim que meu esforço não tem sido útil. Tem repercutido e talvez possa causar utilidade aos outros. Não me move nenhum interesse subalterno, nem paixão partidária ou pessoal. Não conheço nenhum dos chefes integralistas. Move-me somente o respeito às instruções da Santa-Sé, guia seguro da Igreja Católica, depositaria da verdade total que não é outra senão a doutrina de Jesus Cristo, Deus encarnado o “único” Redentor da humanidade. O catolicismo não se identifica com nenhum partido, regime ou doutrina política, por mais aperfeiçoados que sejam. O primado da vida católica não reside na moral, mas sim na transcendência as virtudes teológicas, a Fé, a Esperança e a Caridade. A política – como a própria moral – é um aspecto secundário do catolicismo. A maioria dos integralistas são maurrasianos – partidários da fórmula “politique d’abord”, condenada pela Igreja.

Por outro lado, o comunismo é uma doutrina perversa, errada, unilateral – que não se sustenta hoje nem ao menos diante da ciência positiva. Se fosse aplicada, aumentaria o desespero n coração humano. Seus criadores são homens falíveis como nós, e se contradisseram muitas vezes. Só em Jesus Cristo o caminho, a verdade, a vida em Jesus Cristo cujas palavras não passarão, embora passem o céu e a terra – Só nele os homens poderão encontrar orientação definitiva para a sua vida total. O comunismo vive das parcelas cristãs de verdade que encerra. Mas quem possui o todo, não precisa de uma parte. Eis porque não sou comunista.

Agradeço-lhes com toda sinceridade este movimento espontâneo de vocês. Ele calou profundamente no meu espírito. Tenho-os desde já como amigos.

Aqui fico ao dispor de todos, enviando-lhes um afetuoso abraço. Murilo Mendes.                                                   

A militância na imprensa estudantil fez com que Márcio Rollemberg Leite participasse de inúmeras publicações. Em 1944 ele escreve especialmente para A Voz do Estudante o artigo Recordando o Ateneu, o qual foi publicado na edição de nº6, 30 de novembro..

Começo pedindo a vocês, os colegas de hoje, que o clamem sempre “velho Ateneu”. Os ecos saudosos de uma longínqua opinião pública me disseram no Rio que estudantes desta geração sergipana avançam e trunfam como os seus colegas de outrora. Não foi em vão que uma plêiade de moços fez o Grêmio Clodomir Silva um estudium de ruídos libertários. A Voz do Estudante já falava naquele tempo. Suas colunas adolescentes marchavam como átomos brilhantes do movimento modernista. Digo apenas pelo reflexo magnífico que me chegou daquela quadra do Ateneu. Não fui dos que se deixaram abalar de perto por aquelas primeiras emoções da cultura. Mas o Colégio Tobias Barreto, a despeito de todas as ressalvas, era o maior aliado do Ateneu. Os dois velhos estabelecimentos mantinham um intercâmbio, quase inacreditável, em Aracaju. Infelizmente, no Tobias, dominava, a princípio, a mística dos bons alunos, filatelistas de vários sem todos os meses. Não era possível organizar o Grêmio sem destacar-se à frente um estudante de boas notas. O Grêmio tinha de esperar que o mocinho retirasse os pés da bacia onde espinhava a memória e a força de vontade. Foi com muito trabalho que fundamos o “Silvio Romero” e lhe imprimimos um programa sem qualquer subordinação às cadernetas de notas nos estudos.

No Ateneu, ninguém queria saber se um Célio Araújo ou Joel Silveira tinha credenciais como “bom aluno” para escrever ou discursar. O Grêmio Clodomir Silva era um misto de idealista e foliões que falavam em solenidades e davam gargalhadas no oitão do Palácio. Realizavam mesmo um programa de cultura moça. Ninguém podia com eles. O Joel regou-se na presidência do Grêmio. Queria ser um presidente perpétuo, um Machado de Assis. Levantou-se contra ele uma oposição. Até o irmão Paulo Silveira falava nas retretas em dar um tombo no jovem caudilho as letras. Na hora ninguém o derrubava Joel prosseguia dando vida ao Grêmio com o apoio traquina da oposição. Entre os oposicionistas, estava Célio Araújo com a sua cabeleira romântica e a sua pena simples de ensaísta prematuro. Célio merece a nossa recordação mais avançada. Doente retirou-se do Ateneu em Maruim pouco depois que sumira das letras, sumia para sempre da vida. Teve a mesma sorte de Lyses Campos, o poeta jovem que sorriu até a morte. Estes dois amigos da cultura moça merecem ter os seus retratos na sala do Grêmio Clodomir Silva. São dois sócios de honra que muito fizeram por ele.

Quando saiu a turma de Joel e Lauro Fontes, o Grêmio continuou marchando com o mesmo espírito de luta. Ao matricular-me no curso complementar do Ateneu, encontrei Paulo Silveira, João Nou e outros à frente. Havia lá dentro gente de ideias desencontradas. Gente de ideias que em todo o Brasil se atracavam nas ruas. Paulo e João Nou, com rapidez elétrica, arrancaram-me um trabalho sobre Santos Dumont. Mas o momento virava s olhos para outras bandas. O Centro aparentemente arrefeceu a sua luta. Na verdade, ele mudou o seu campo de batalha para a praça pública. O nazi-fascismo que, sondava o destino de todos os povos, tinha-se azougado, ao extremo, como um decifra-se ou devora-te contra a cultura. Os estudantes foram em massa ao encontro do monstro verde. Professores mal orientados quiseram reprimir o Clodomir Silva. Foi inútil. Ele ressurgiu dos escombros da crise moral como a cultura vai restaurando-se gloriosa, de sob as ruínas da velha Europa libertada. O mesmo diretor que os alunos do Ateneu reconquistou é um grande amigo do Grêmio. O Estado, pela primeira vez, patrocina A Voz do Estudante, custeando-lhe as despesas. Compreendeu-me mesmo que os moços idealistas querem somente construir e que os moços destemidos em todo o mundo se molham de suor e de sangue para a redenção da liberdade e da cultura.                     

Após o falecimento do poeta Enoch Santiago Filho (1919-1945) em 7 de fevereiro,  o Grêmio Cultural Clodomir Silva para homenageá-lo, promoveu um Concurso de poesia social, para incentivar a cultura no meio estudantil, patrocinado pelo Dr. Enoch Santiago. A comissão julgadora do Concurso foi composta pela professora Ofenísia Soares Freire, Walter Sampaio e Márcio Rollemberg Leite e a entrega dos prêmios marcada para outubro. O aluno vencedor foi Florival Ramos de Souza que arrebatou a 1ª e 2ª colocação com os poemas: Despertar da Manhã e Canto da América. O amigo Mário Rollemberg, abatido pela perda publica no Diário de Sergipe, 8.fevereiro o artigo Adeus, Enoch.

Em 1943, em meio à repressão exercida por Getúlio Vargas, a UNE promove mobilizações estudantis em todo o país. A UNE realiza, entre outros movimentos, a Campanha Universitária Pro-Bonus da Guerra, Campanha Pro-Banco de Sangue, e o combate à Quinta Coluna. A Faculdade Nacional de Direito sofrerá a influência da dicotomia esquerda-direita que reinava na instituição, com a disputa entre os partidos acadêmicos “Movimento pela Reforma” de cunho socialista, e a “Aliança Liberal Acadêmica”, de direita. Na edição de 22 de agosto de 1942 do Diário Carioca entrevista o acadêmico Márcio Rollemberg Leite que fala sobre a ação dos estudantes na hora presente, alertando o povo contra o perigo da 5º Coluna e afirmam que os acadêmicos de Direito pretendem destruir o nazismo no Brasil.

Em Sergipe, Mácio Rollembeg Leite divide a direção do Diário de Sergipe com João Maynard Barreto, desde 1944 até a edição de 3 de março de 1945 e passa a militar no Jornal do Povo (órgão ligado ao Partido Comunista) a partir de janeiro de 1946 permanecendo até a edição de 12 de agosto do mesmo ano. Em junho de 1948 Márcio Rollemberg trava polêmica com o jornalista udenista Paulo Costa, diretor do Sergipe-Jornal, através do Diário de Sergipe. E publica: Paulo Costa e o furto da Malaria – dança de protelações suspeitas:

Jornal do Povo (1945-1948)

Tendo iniciado a sua publicação no final do mês de novembro, o semanário sergipano foi dirigido por vários jornalistas, começando pelo advogado Márcio Rollemberg Leite seguido pelo filósofo João Batista Lima e Silva e finalizando com o advogado Carlos Garcia. O periódico alcançou em edição de abril de 1946 uma tiragem de dois mil exemplares, caso raro para um semanário. A única coleção existente no Estado, pertencente ao acervo do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, encontra-se incompleta iniciando a partir do número 7, Ano I, 3 de janeiro de 1946 indo até o nº279, Ano III, 31 de dezembro, 1947. Foram muitos os seus colaboradores durante os três anos de existência  alguns como Austrogesilo Porto, Aluysio Sampaio, Armando Domingues, Astrojildo Pereira, Antonio Clodomir, Bonifácio Fortes, Camilo de Jesus Lima, Carlos Garcia, Franco Freire,  Florival Ramos, Hugo Tavares, Hernane Prata, J. Santiago, José Waldson Campos, João Batista Lima e Silva, Luiz Carlos Prestes, Mauricio Grabois, Márcio Rollemberg Leite, Monteiro Lobato, Nélson de Araújo, Pedro Pomar, Robério Garcia, Santos Morais, Walter Sampaio e outros.     Fechado pela polícia em 14 de maio de 1945, o Jornal do Povo impetrou uma ordem de habeas-corpus ao Egrégio Tribunal de Apelação, tendo como advogado da defesa o militante comunista Carlos Garcia. O jornalista Paulo Costa, diretor do Sergipe-Jornal, contesta a invasão do jornal popular, através do artigo “Uma Medida Arbitrária”

Flagelos e Esperanças

Capa do livro Flagelos e Esperanças Fotos: Arquivo Pessoal

Após o Golpe militar e civil de 1964, quando o juiz de Gameleira (PE) Márcio Rollemberg Leite foi preso, assumiu o exercício do cargo de juiz de direito desta Comarca, como segundo substituto, o bel, Claudio Américo de Miranda, da Comarca de Cortês. Segundo informa o Diário de Pernambuco em sua edição de 23 de maio “Três juízes de Direito enquadrados na Lei de Segurança: 21 processos” entre eles estavam os nomes de Márcio Rollemberg Leite (juiz de direito da Comarca de Gameleira, na zona da Mata), Edgar Homem de Siqueira (juiz de Direito da Comarca de Olinda) e João Batista Neto (juiz de Direito de Barreiros).

Em 1978 Márcio Rollemberg Leite publica pela Revista Continente Editora (RJ), 204 p. o livro de poemas Flagelos e Esperanças e fez lançamento em Aracaju conforme registro da Gazeta de Sergipe em 27 de dezembro deste ano:

Com a presença do Governador José Rollemberg Leite, do governador eleito, Augusto Franco e do Prefeito João Alves Filho, além de mais de uma dezena de autoridades e intelectuais sergipanos, o escritor Márcio Rollemberg Leite lançou em Aracaju o seu livro Flagelos e Esperanças. A solenidade de lançamento foi realizada às 17h30min horas de ontem, na Galeria de Artes Álvaro Santos, numa promoção conjunta da Universidade Federal de Sergipe, Conselho Estadual de Cultura e Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe. Na oportunidade em nome dos promotores falou o Presidente do Conselho de Cultura e Pró-Reitor de Extensão e Assuntos Comunitários da UFS, Dr. Antonio Garcia. O livro é uma coletânea de poemas que retrata em versos a realidade nordestina, um poema de amor e patriotismo, e sobre a obra assim se expressou Othon Garcia na época Presidente da Academia Carioca de Letras e da Academia Brasileira de História: É, como já foi dito, uma cartilha cívica e humana do Nordeste. O lançamento atraiu grande número de intelectuais.

Quando o juiz de Gameleira (PE) Márcio Rollemberg Leite foi preso, assumiu o exercício do cargo de juiz de direito desta Comarca, como segundo substituto, o bel, Claudio Américo de Miranda, da Comarca de Cortês. Segundo informa o Diário de Pernambuco em sua edição de 23 de maio “Três juízes de Direito enquadrados na Lei de Segurança: 21 processos” entre eles estavam os nomes de Márcio Rollemberg Leite (juiz de direito da Comarca de Gameleira, na zona da Mata), Edgar Homem de Siqueira (juiz de Direito da Comarca de Olinda) e João Batista Neto (juiz de Direito de Barreiros). Segundo depoimento de Fernando Augusto de Mendonça Filho, preso em 8 de abril de 1964 em Pernambuco diz que:

Nas masmorras da velha Casa de Detenção, a única coisa boa, foi a convivência, naquela triste situação, com homens da estirpe e do caráter de um Jáder de Andrade, Miguel Dália da Silveira, Zanoni Lins, Drumond Xavier, José Bonckvis, Luiz Iglésias de Holanda Cavalcanti, Jarbas de Holanda Cavalcanti, Márcio Rollemberg Leite, Edgar Sobreira Moura, Gerson Maciel Neto, Bianor Silva Teodósio, todos os companheiros de cela e de tantas outras insignes figuras da militância política e da intelectualidade pernambucana.

Outro companheiro de militância foi o Desembargador Edgar Sobreira, que em depoimento de 19 de novembro 2013 – Comissão Estadual da Memória e Verdade – Dom Helder Câmara – Pernambuco, diz que: lá atrás, há alguns anos passados, Márcio Rollemberg Leite, tinha sido estudante na Universidade do Rio de Janeiro, e talvez um dos fundadores da UNE. Eram tidos como revolucionários e comunistas, o seu passado deve ter influído nessa senda de crimes e ele foi preso, não sei o destino, se ele foi morto ou para onde foi. O pernambucano Aldo Lins e Silva, militante comunista e amigo de Luiz Carlos Prestes e Carlos Marighella, formado pela Faculdade Nacional de Direito do Rio em 1943, foi colega de Márcio Rollemberg e ambos foram convocados para a guerra, no instante em que se formava a Força Expedicionária Brasileira (FEB). Ambos escaparam por pouco de enfrentar os nazifascistas na Europa.

Militante comunista, tanto Márcio Rollemberg Leite quanto João Batista de Lima e Silva figuras que já desapareceram, mas que exerceram influência muito grande nas ideias da esquerda em Sergipe. Márcio colaborou em alguns periódicos: Revista Época (SE); Diário de Sergipe; Correio de Sergipe; Boletim nº2; O Seminário (RJ); A Juventude (SE); Voz do Estudante (SE); Diário Carioca (RJ) e outros. Márcio era casado com Haydée Gouveia Leite, pais do Desembargador do Tribunal de Justiça de Sergipe – TJSE Alberto Romeu Gouveia Leite. Desquitado e domiciliado no Rio de Janeiro, Márcio Rollemberg Leite faleceu aos 61 anos, as 10h00min horas em 25 de maio de 1980 num hospital de Aracaju, vítima de câncer de próstata, sendo seu corpo sepultado no Cemitério Santa Isabel.
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[*] É jornalista e professor universitário. E-mail:  gilfrancisco.santos@gmail.com

Texto e imagens reproduzidas do site: evidencie-se.com