domingo, 23 de fevereiro de 2020

Por Onde Anda Você: Artêmio Barreto, por Radar Sergipe

Foto: César Cabral

Publicado originalmente no site RADAR SERGIPE, em 21 de fevereiro de 2020

Por Onde Anda Você: Artêmio Barreto

O desembargador José Artêmio Barreto, nasceu em Boquim, no dia 15 de julho de 1938. Seus pais, João Muniz Barreto (exator) e D. Josefa Alves Barreto. Teve apenas dois irmãos: Luiz Augusto e o professor e historiador Luiz Antônio Barreto.

Estudou o curso primário na sua terra natal, aprendendo as primeiras lições com a saudosa professora Antônia. Como o seu pai fora transferido para a cidade de Tobias Barreto, concluiu essa primeira etapa estudantil no Grupo Escolar Tobias Barreto, daquela cidade. Contra a sua vontade e por desejo do seu pai, veio para Aracaju estudar o curso ginasial no Colégio Estadual Atheneu Sergipense, onde prestou exame de admissão.

Com o presidente Fernando Henrique Cardoso

Estudou contabilidade (segundo grau) na antiga Escola Técnica de Comércio de Sergipe, sendo aluno da última turma de Técnicos em Contabilidade, no ano de 1965. Fez vestibular para Direito, em 1966, e ingressou na tradicional Faculdade de Direito que funcionava na avenida Ivo do Prado, cuja formatura ocorreu no dia 8 de dezembro de 1970.

A sua turma teve apenas 20 formandos, dentre os quais os conhecidos advogados sergipanos Benedito Figueiredo, Suzana Carvalho, Moacir Mota, João Augusto Gama, Wellington Paixão, Wellington Mangueira, Célia Barreto e Abelardo Souza. O patrono fio o professor Olavo Ferreira Leite e o paraninfo o Dr. José Bonifácio Fortes Neto.

O Dr. Artêmio Barreto começou a trabalhar, ainda jovem, no Tesouro do Estado, no cargo de escriturário. Foi Chefe da Exatoria de Riachuelo (1061/62), Fiscal de Tributos da Secretaria da Fazenda (1062/65) e no IBGE foi agente de estatística e técnico em documentação e divulgação (1966/79). Atuou no magistério como professor de Direito Usual e Legislação Aplicada na Escola Técnica de Comércio.


No jornalismo, foi colunista do jornal Tribuna de Aracaju, onde escreveu diversos artigos sobre os mais variados temas e assuntos.

Após concluir o curso de direito, também dividiu o seu tempo atuando como advogado, cujo escritório funcionava na rua João Pessoa, em Aracaju. Fez concurso para Juiz de Direito e, aprovado, assumiu a Comarca de Boquim, no dia 22 de fevereiro de 1979, tendo sido titular por 2 anos e 4 meses. Em seguida, foi promovido para a Comarca de Estância, onde ficou por quatro anos. Também atuou como Juiz substituto nas Comarcas de Tobias Barreto e Itabaianinha.

No ano de 1985 foi removido para Aracaju, onde instalou a 1ª Vara Privativa de Assistência Judiciária, a primeira do país, cuja função era atender a população carente. O convite para executar essa missão foi formulado pelo desembargador Luiz Carlos Fontes de Alencar e a Vara Privativa, responsável pelo registro civil (casamento, nascimento e óbito), foi instalada pelo então presidente do Tribunal de Justiça de Sergipe, desembargador Luiz Rabelo Leite. Dr. Artêmio recorda que, durante o período em que esteve à frente da mesma, pode realizar muito pela população de baixa renda. Dotada de uma estrutura adequada, contando com dez defensores públicos e uma assistente social, a 1ª Vara Privativa realizou ao longo dos 15 anos sob o seu comando, cerca de 35 mil casamentos.

O Dr. Artêmio Barreto teve uma trajetória marcante na Justiça Eleitoral de Sergipe. Foi Juiz Eleitoral em Boquim (4ª zona), Estância 6ª zona) e Aracaju (27ª). Juiz suplente do Tribunal Regional Eleitoral. Foi presidente da Turma Julgadora dos Juizados Especiais (1993/95).

No ano de 2.000 foi promovido a desembargador, tendo sido vice-presidente de 2001/03. Foi presidente da Escola Superior da Magistratura de Sergipe, no mesmo período. Presidente do Tribunal Regional Eleitoral (2003/05) e Presidente do Tribunal de Justiça do Estado de Sergipe ((2007/08), quando se aposentou, ao fim do mandato. Ao longo da sua vida recebeu diversas honrarias e condecorações.

Assumiu o Governo de Sergipe, por uma semana, em janeiro de 2008, num gesto do então governador Marcelo Déda (PT), que lhe disse, naquele momento, que o ato nada mais era do que um reconhecimento do povo sergipano pelo muito que ele fez pelo Estado. Reconhece, também, a importância do então deputado estadual Ulices Andrade, presidente à época da Assembleia Legislativa, que viabilizou essa vontade de Déda.

Foi casado com D. Maria de Jesus Santos Barreto, que conheceu ainda adolescente, cujo casamento durou 40 anos. Com ela teve os filhos João Muniz Barreto Neto, Maria da Conceição Barreto Amaral, Maria Artêmia Barreto Calazans e Pedro Muniz Barreto.

O dia 12 de setembro de 2.000 marcou, para sempre, a vida deste magistrado. Momentos antes da sua posse como desembargador, a sua esposa, Maria de Jesus, sentiu-se mal, e, prontamente, foi levada para um hospital em Aracaju. Terminada a solenidade, ele foi até a Casa de Saúde e recebeu a notícia de que ela acabara de falecer. Uma situação bastante difícil e quase indescritível. Não foi fácil superar tamanha dor num momento tão importante da sua vida profissional.

A vida seguiu e o Dr. José Artêmio Barreto superou tamanha adversidade, com a sua fé em Deus e o apoio da sua família. E assim, por mais oito anos, continuou prestando serviços ao Estado de Sergipe, na condição de desembargador, até aposentar-se no final de 2008.

Viúvo, após três anos, casou-se com a senhora Maria Gidinelde Barreto e residem em Aracaju, no edifício Di Cavalcanti, no bairro 13 de julho.

Texto e imagens reproduzidos do site: radarsergipe.com.br

terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

O Meu Amigo Intelectual, por Jorge Carvalho do Nascimento


Publicado originalmente no Perfil/Facebook/JorgeNascimento Carvalho, em 10/02/2020

O Meu Amigo Intelectual
Por Jorge Carvalho do Nascimento*

A segunda metade do século XX no Brasil conviveu predominantemente com dois tipos de intelectual: o herdeiro das tradições da cultura literária e o especialista profissional que verticalizou o conhecimento sobre determinado tema nas academias universitárias. Todavia, alguns intelectuais incorporaram a herança da cultura literária, mas foram bem diferentes da geração com a qual aprenderam, mantendo pari-passu uma relação de parceria em eventuais trabalhos e permanente desconfiança em face da produção acadêmica universitária. Há no Brasil nomes muito importantes situados nessa interseção, não obstantes as distintas escolhas teóricas e ideológicas que fizeram: Antônio Paim, Paulo Mercadante, Jacob Gorender, Leôncio Basbaum, Paulo Cavalcante, Bráulio do Nascimento, Jackson da Silva Lima, Paulo de Carvalho Neto, Paschoal Lemme e Umberto Peregrino, dentre outros.

Com um deles tive o privilégio de conviver e ser parceiro em muitos trabalhos, além de desenvolver uma relação fraternal que ajudou a moldar as minhas formas de ver e estar no mundo: Luiz Antônio Barreto. Certamente foram poucas as áreas do conhecimento das humanidades que não receberam a sua contribuição. Uma nossa amiga comum, costumava afirmar: a curiosidade de Luiz não tem limites. Ele estudou “de formiga a elefante”. Quando morreu aos 68 anos de idade, em 2012, LAB, como gostávamos de chama-lo era fonte importante de referência e análise aos que desejavam compreender a cultura brasileira. A obra deixada por ele, continua a cumprir tal papel, não obstante a dificuldade da dispersão própria do trabalho desse tipo de intelectual, pois a maior parte dos seus textos continua dispersa em artigos de jornais e revistas e em blogs e sites da rede web com os quais contribuiu durante os 53 anos nos quais se dedicou ao ofício de pesquisar e escrever.

Em 1994, fiz uma tentativa de construir um roteiro intelectual da vida de Luiz Antônio Barreto. Ele estava completando 50 anos de idade. Sentei com ele em diferentes sessões e gravamos cerca de seis horas de entrevistas. Com a colaboração dele reuni textos tendo o seu depoimento como roteiro. Organizei e entreguei a ele um presente de aniversário que ele publicou sob o título de CULTURA: UM ROTEIRO DE ALUSÕES, com apresentação de Bráulio do Nascimento e prefácio de Jackson da Silva Lima. Eu me responsabilizei pela organização, introdução, comentários e notas.

Foi a melhor oportunidade que tive de aprofundar o meu conhecimento intelectual sobre aquele amigo conterrâneo de Sílvio Romero, como ele nascido em Lagarto, no Estado de Sergipe. Luiz, em 1944. Um intelectual que estudou as primeiras letras em escolas públicas e particulares da Bahia e Sergipe, concluindo o curso primário na Escola Rural do município de Pedrinhas, onde o seu pai, José Barreto, era o chefe da Exatoria. Os cursos ginasial e científico ele fez em Aracaju, nos colégios Pio Décimo e Tobias Barreto. Depois disto estudou Direito na Faculdade de Direito de Sergipe e na Faculdade Nacional de Direito, no Rio de Janeiro, onde também estudou música e literatura.

O jornalismo foi a carreira abraçada por LAB, a partir de 1959, no jornal Correio de Aracaju, onde foi repórter e colunista. Depois, trabalhou no Sergipe Jornal e na Folha Popular. No difícil ano de 1964, Luiz Antônio Barreto foi amparado pelo jornalista Orlando Dantas e ingressou nos quadros do jornal Gazeta de Sergipe, onde chegou a editorialista, editor e diretor. Integrou as redações de outros veículos e fundou a revista Perspectiva.

Foi também em 1964 que LAB fez sua estreita na Literatura, com Monólogo, mais tarde adaptado para o teatro pelo Grupo Arena da Ilha, do Rio de Janeiro. Depois disto, publicou poemas, artigos de crítica literária, ensaios, crítica de arte e história, destacando-se A Arte Sergipana; Tobias Barreto; A Abolição da Escravatura e a Organização da Sociedade; Um Novo Entendimento do Folclore; A Organização do Poder Legislativo em Sergipe; O Poder Judiciário de Sergipe: 100 Anos de História. Dirigiu a edição em 10 volumes das Obras Completas de Tobias Barreto.

Foi ainda um importante executivo do serviço público nas áreas de Cultura e Educação. Dirigiu a Galeria de Arte Álvaro Santos; chefiou a Assessoria Cultural do Governo do Estado; foi Secretário Municipal de Educação e Cultura de Aracaju; foi Subsecretário de Comunicação Social do Governo do Estado de Sergipe; Assessor Cultural do Instituto Nacional do Livro; Superintendente do Instituto de Documentação da Fundação Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais; Secretário de Estado da Cultura de Sergipe; e, Secretário de Estado da Educação de Sergipe.

Como Secretário de Estado da Educação desenvolveu alguns programas que revolucionaram o ensino público estadual. Quando assumiu o comando da pasta, o Estado de Sergipe somente oferecia ensino médio em 17 municípios. Quando deixou o cargo, os 75 municípios sergipanos tinham escolas estaduais de ensino médio em funcionamento. Dentre as suas iniciativas de maior ousadia, vale o registro do Programa de Qualificação Docente – o PQD. Enfrentando todo tipo de incompreensão e resistências, Luiz ousou, implantou cinco polos regionais de ensino no interior do Estado de Sergipe e, em quatro anos, levou às salas de aula 2600 professores de escolas públicas estaduais e municipais que possuíam formação apenas em nível médio e ofereceu ensino de graduação, conferindo-lhes diplomas de licenciados em áreas como História, Língua Portuguesa, Matemática, Geografia, Química e Física.

Ao ousar e enfrentar resistências, Luiz Antônio pagou um preço político muito caro. Todavia, o tempo se encarregou de mostrar que ele estava correto. Sua ação mudou Sergipe, principalmente os municípios do interior, onde boa parte da população passou a viver melhor, graças ao seu trabalho.

Se vivo estivesse, LAB completaria hoje 76 anos de idade. Suas ideias e o resultado do seu trabalho ficaram entre nós. As boas lembranças, permanecem vivas no afeto dos verdadeiros amigos. A sua grandeza o fez eterno.

Saudades.

*Doutor em Educação, Membro da Academia Sergipana de Letras e Presidente da Academia Sergipana de Educação.

Texto e imagem reproduzidos do Facebook/JorgeNascimento Carvalho