quarta-feira, 28 de setembro de 2022

'O Hugo Gurgel que admiro', por Lúcio Prado

Legenda da foto: Dr. Hugo Gurgel

Publicação compartilhada do site do Portal INFONET, de 12 de setembro de 2022

O Hugo Gurgel que admiro
Por Lúcio Prado (blog Infonet) 

“Cada um de nós tem o seu Canto de Cisne, – como que anunciando névoas do passado, claridades do presente e dúvidas do futuro – e sabemos, por igual, que o destino de cada qual não vem escrito nas fórmulas dos adivinhos. Terá isso sim, de ser construído em meio aos arrecifes de uma luta multifacetada, na qual o homem deve fazer de si um instrumento de fé”. ( Benjamim Alves de Carvalho)

Hugo Bezerra Gurgel foi meu professor de obstetrícia na Faculdade de Ciências Médicas da UFS, nos idos de 1976/77. Foi fácil se acostumar com a sua pontualidade britânica. Poucos minutos antes das sete da manhã, ele chegava elegantemente, parecendo sim um lorde inglês. Arrumava os clássicos slides no carretel e iniciava a aula com um sonoro “Bom-dia!”. Ainda sonolento, ressacado pelas noites insones, víamos à nossa frente o professor metódico, formal, sóbrio, que transmitia pra gente uma enorme sensação de domínio da matéria, senhor pleno da situação. Cumpria rigorosamente a grade curricular da disciplina, sempre no primeiro horário da manhã. Literalmente, um professor “de primeira hora” na nossa incipiente Faculdade de Medicina. Pioneiro e engajado, ele foi também um esteio para o sucesso da nossa primeira escola médica.

No entanto, gostaria de destacar com mais ênfase no eminente esculápio era a sua produtiva saga associativa, como fundador do Clube dos Médicos e da Sociedade Sergipana de Ginecologia e Obstetrícia, diretor do Centro de Estudos e da Maternidade Francino Melo, do Hospital Cirurgia, presidente do Conselho Regional de Medicina, chegando a assumir a presidência da Sociedade Médica de Sergipe de 1967 a 1969, em profícua administração que deixou uma marca indelével: a construção da sede própria, em terreno doado pelo Governo de Sergipe. Isso só foi possível graças ao prestígio pessoal do Dr. Hugo e de outros colegas que formavam, na década dos sessenta, um bloco altamente consistente e influente na sociedade sergipana, no que considero a “década de ouro da medicina sergipana”.

Hugo Gurgel foi um líder destacado, ao lado de outros ícones como Benjamin Carvalho, Lourival Bomfim, Aloysio Andrade, Antonio Garcia, Walter Cardoso, José Augusto Barreto, Lauro Porto, Hyder Gurgel, só pra citar estes. As sessões científicas da Somese eram realizadas na maioria das vezes no Instituto Histórico e na Biblioteca Pública. Graças ao empenho e determinação de Hugo, os médicos sergipanos ganharam a sua primeira sede própria, em fevereiro de 1968.

Pois bem, no último dia 28 de agosto, se vivo estivesse, o professor Hugo Gurgel estaria comemorando o seu centenário de nascimento. Nascido na cidade de Lavras da Mangabeira, Ceará, no remoto 1922. Para se tornar médico, um sonho tão acalentado, não foi tarefa fácil. Teve que se deslocar para Salvador em 1940 e seis anos após graduava-se na vetusta Faculdade de Medicina do Terreiro de Jesus. Ainda estudante, acompanhou com grande interesse o professor Almir Oliveira, catedrático de obstetrícia, que muito ajudou o futuro médico na sua formação. Entretanto, Almir não pôde deixar de atender a um pedido do seu colega Benjamim Carvalho, que precisava de um especialista para atender às pacientes obstétricas no Hospital Cirurgia, em Aracaju. Almir então indicou o nome de Hugo para vir a Sergipe. Já no início de 1947, ele iniciava as suas atividades na Maternidade Francino Melo, deixando de lado o desejo que possuía de morar em Londrina, praticar a medicina naquela cidade paranaense. Na década de 60, com os colegas Gileno Lima e Ciro Tavares, fundou a primeira clínica obstétrica privada de Sergipe – a Clínica Santa Lúcia. Anos depois foi a vez da Clínica Santa Helena, que funciona até os dias de hoje, com estrutura complexa, destacando-se como o maior prestador de assistência obstétrica privada no Estado.

Essas gratificantes recordações, singelas frente à dimensão do esculápio na vida médica de Sergipe, vem a propósito da celebração do seu Centenário de Nascimento, que a Academia Sergipana de Medicina levará a efeito em 21 de setembro, às 19 horas e trinta minutos, em sessão especial que acontecerá no auditório da Sociedade Médica de Sergipe, entidade octogenária que o idealismo de Hugo Gurgel ajudou a construir e consolidar ao longo dos anos.

Hugo Gurgel teve a sua vida construída em meio aos arrecifes de uma luta multifacetada, fazendo dela  um instrumento de fé e realizações!

Texto e imagem reproduzidos do site: infonet.com.br

terça-feira, 20 de setembro de 2022

'Dançando na Cavalheiros da Noite', por Marcos Melo

Legenda da Foto: Sede da antiga S.R. Cavalheiros da Noite

Artigo compartilhado do site RADAR SERGIPE, de 18 de setembro de 2022

Dançando na Cavalheiros da Noite 
Por Marcos Melo *

Aos 14 anos, em 1959, tornei-me sócio da Sociedade Recreativa Cavalheiros da Noite. Era um adolescente vaidoso: pente Flamengo no bolso para de meia em meia hora ajeitar o pimpão a la Elvis, imitação de óculos Ray Ban no rosto pontuado de espinhas, sapatos Clark nos pés, lustrado por 111, o engraxate inventor do cotonete, trajando calças e camisas feitas em Aracaju, na Cercal de José Lima Azevedo, o popular Chico Foca.

Tinha, ainda, dois paletós esporte, um vinho e outro beje, para usar na soirée dominical do Cine Propriá. Estudava na 3ª série do Ginásio Diocesano e estava decidido a aprender a dançar a fim de completar minha educação como um rapaz de fina estampa; e, claro, dar meus volteios na Cavalheiros da Noite, o clube da classe média, que tinha Nezinho Barros na presidência.

Antes de associar-me, tomei algumas aulas com minha irmã, Maria Helena, que entendia do riscado. “Vamos lá”, dizia ela mostrando como segurar a dama. “Você tem que segurar a parceira com leveza, sem apertá-la, tanto na mão como na cintura.” “Guarde certa distância a fim de não haver pisadas nos pés.” E acrescentava com gravidade: “Nada pior do que uma pisada. Quando isto acontece o dançarino fica marcado, ninguém quer dançar com ele.” “Outra coisa: mantenha o corpo relaxado. ” Agora vamos treinar.” E punha um disco “Feito para Dançar”, do Waldir Calmon, numa electrola, isto mesmo com “c”, adquirida na Galeria Cruzeiro, do economista Aloisio Campos, ex-prefeito de Aracaju e ex-reitor da UFS.

Minha vernissage como dançarino se deu numa matinal. No palco a banda de Mário Jeguinho. De repente, mandaram brasa na rumba El Manisero, minha conhecida dos treinos com minha irmã. Para criar coragem, tomei duas doses generosas de vodka Eristow e mirei uma morena que estava próxima. Chamei-a para dançar, mas com receio de levar uma taboca, recusa no jargão da terra. Ela prontamente levantou-se e levei-a para o meio do salão, a fim não ser visto pelos amigos, portanto longe de gozações.

Delicadamente abracei-a e, contando o ritmo, dei o primeiro passo para a direita e ela não foi; pra esquerda e ela também não foi. Fiquei aflito e parei. Olhei-a e ela rindo. Falei: vamos começar de novo. Ela: desculpe, mas não sei dançar. E foi sentar-se, deixando o paspalho a ver navios no meio do salão. Voltar naquele momento para a mesa onde estavam os amigos seria gozação na certa, pois todos estavam na expectativa de minha performance. De fininho fui ao banheiro e lá fiquei um Bom tempo.

Ao retornar, perguntaram o que aconteceu. Com seriedade lhes disse que a garota não sabia dançar. Todos riram. Olhei de soslaio para a morena e vi que ela também sorria discretamente. Até hoje tenho dúvidas se foi uma peça que me pregaram ou se a garota realmente não sabia dançar. Tendo a acreditar na última hipótese, já que um velho amigo que estava presente, até hoje, quando lhe pergunto, nega qualquer sacanagem. Ele acha que eu estava pra lá de Marrakesh, queimado. A moça percebeu e foi sentar-se. Coisa que eu rechaço. Acho mesmo que ela era aprendiz, como eu.

Bêbado ou não, não me deixei abater. Com um pouco mais de vodka voltei a me animar, eufórico, querendo dançar. E a oportunidade surgiu quando uma amiga das minhas irmãs, Carminha Vasconcelos, que já ia se mandar, passou em frente de nossa mesa e, sem hesitação, chamei-a para dançar. A banda atacava de “Lamento Borincano”, outra rumba, daquelas dos treinos.

Acho que me sai bem, tanto que, há uns 15 anos, depois de 45 sem ver Carminha, que foi morar no Rio, encontrei-a numa reunião anual de propriaenses, no hotel Velho Chico, em dia de festa de Bom Jesus dos Navegantes. Ao me reconhecer, depois de tantos anos, ela não titubeou: “Marcos, continua dançando?” É claro, Carminha. Venha cá, e fomos dançar o velho fox “Nada Além”, interpretado por Orlando Silva que estava sendo tocado naquele momento.

Então, lhe disse enquanto bailávamos: Carminha, quem algum dia dançou na Sociedade Recreativa Cavalheiros da Noite, nunca mais deixará de dançar. Ela deu uma solene gargalhada e concordando com a cabeça, arrematou: “É o nosso caso”.

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Marcos Melo é professor emérito da UFS e membro da ASL

Texto e imagem reproduzidos do site: radarsergipe.com.br

terça-feira, 13 de setembro de 2022

Tragédia ferroviária em Sergipe...

Legenda da foto: Suburbano, após o acidente, cercado por curiosos
 (Fonte: estacoesferroviarias)

Jornais do Rio de Janeiro apontaram grande número de vítimas e se apressaram em responsabilizar João Claro dos Santos pelo acidente (Abaixo, à esquerda, no sentido horário: Jornal A noite, de 22/03/1946; Diário de Notícias, 21/03/1946; Gazeta de Notícias, 21/03/1946; 
e Jornal Diário da Noite, 19/03/1946)

Acima: o engavetamento dos vagões do Suburbano provocou o grande número de mortos (Foto anexada ao processo); À esquerda: vítimas fatais ficaram irreconhecíveis (Foto anexada ao processo); À direita: mapa do local onde ocorreu o acidente 
(Fonte:  www.estacoesferroviarias)

Legenda da foto: João Claro dos Santos foi o único condenado na tragédia do Suburbano
 (Crédito da foto: anexada ao processo)

Legenda da foto: Luiz Paulo Bezerra reconstruiu a história do maior desastre ferroviário de Sergipe -  (Crédito da foto: Adilson Andrade - Ascom/UFS)

Publicação compartilhada do site CIÊNCIA UFS, de 24 de abril de 2018 

Tragédia ferroviária em Sergipe: dezenas de mortos e um julgamento controverso

Acidente ocorrido em 1946 é considerado um dos maiores desastres ferroviários do Brasil

Nas primeiras décadas do século XX, o trem era o principal meio de transporte de massa em Sergipe. Em um trecho da ferrovia entre as cidades de Laranjeiras e Riachuelo, dezenas de pessoas morreram em um desastre que comoveu o país - jornais chegaram a falar em centenas de vítimas fatais. O desfecho da investigação sobre o acidente, porém, deixou dúvidas sobre as causas e a condenação, que transformou em drama a vida de João Claro dos Santos.

O pesquisador Luiz Paulo Bezerra estudou o processo-crime do caso, combinado a fontes bibliográficas, para entender o que aconteceu no acidente que é considerado a maior tragédia ferroviária do Brasil. A pesquisa resultou na dissertação que Luiz apresentou ao Mestrado em História da Universidade Federal de Sergipe (UFS), orientado pelo professor Petrônio José Domingues.

No ano do ocorrido, 1946, o transporte de passageiros nas rodovias ainda era tímido. Era principalmente pelas ferrovias que se locomoviam pessoas e se transportavam mercadorias. Apelidado de Suburbano, o trem da empresa Viação Férrea Federal Leste Brasileiro percorria a principal linha de Sergipe: saía da capital, Aracaju, em direção ao norte do estado, passando por Laranjeiras e Riachuelo, concluindo o percurso em Capela.

Com capacidade para 240 passageiros sentados, o Suburbano saía sempre lotado da estação ferroviária da capital, no bairro Siqueira Campos. Segundo a empresa férrea, 246 pessoas compraram bilhetes no dia da tragédia, distribuídas na primeira e segunda classes.

No entanto, informações recuperadas por Luiz Paulo no processo judicial indicam que havia bem mais do que 246 passageiros naquela viagem. Nos depoimentos, todos os viajantes ouvidos pela polícia confirmaram a superlotação.

Um funcionário do Suburbano, João Félix, relatou que a quantidade de passageiros era “fora do comum”. “Razão pela qual os passageiros iam se apinhando por toda parte”*, diz o depoimento de João, que era o guarda-freio do trem, profissional responsável pela supervisão e acionamento dos freios de veículos ferroviários.

O viajante Benício Vieira narrou aos investigadores que foi obrigado a procurar um lugar entre o amontoado de pessoas e mercadorias. Manoel dos Santos, outro passageiro, viajava em pé em um dos vagões “num aperto medonho”, segundo seu depoimento no processo. A “enchente de pessôas era incalculável”, completa sua fala à polícia.

Jornais da época, encontrados por Luiz Paulo em sua pesquisa, apontavam que a superlotação nas ferrovias sergipanas era corriqueira. É o que mostra uma manchete do Diário de Sergipe, de 19 de agosto de 1946: “Socorro e Laranjeiras não se passaram nada de anormal a registrar-se. As classes superlotadas, os passageiros reclamando, tudo na forma do costume”.

Depois de passar por Laranjeiras, em caminho a Riachuelo, o Suburbano tem dificuldade para subir uma ladeira, segundo relatos de passageiros. O maquinista, então, para o trem, tenta nova arrancada e ultrapassa a subida, iniciando uma descida em alta velocidade, também confirmada pelos depoimentos - o soldado João Batista dos Santos, que viajava no Suburbano, “ouviu dizer” que “o maquinista dissera que iria tirar o atrazo, e assim parecia porque após a subida, o trem parecia um motociclo a toda velocidade”.

Momentos depois, ouve-se o barulho de uma das composições do Suburbano saindo dos trilhos, causando um engavetamento dos três vagões da composição. Em poucos segundos, a viagem se transforma em uma tragédia: dezenas de mortos e feridos, desespero, incredulidade.

A tragédia

Já havia anoitecido naquele 28 de março de 1946, quando ocorreu o acidente. O local da tragédia, o povoado Pedrinhas, se transformou em um cenário de dor e desolação. Pessoas mortas, mutiladas, feridas, sobreviventes desesperados.

É o caso do ajudante de caminhão Manoel Ferreira dos Santos, 19 anos de idade, que viajou em pé, na segunda classe. Ele ficou preso aos destroços até a chegada do salvamento - que não demorou, segundo testemunhas, apesar do difícil acesso e da escuridão.

Outro sobrevivente narrou seu tormento ao Sergipe-Jornal, sob anonimato. “Ouvi gritos de toda a parte, lamentos femininos e masculinos, choro de crianças, soluços profundos, e senti a primeira classe virando comigo, se fazendo em pedaços”, relatou.

Os muitos feridos foram levados a hospitais da região, de acordo com a gravidade das lesões. No entanto, Luiz Paulo não conseguiu recuperar os dados a respeito dos sobreviventes e possíveis óbitos resultantes do desastre. O fato contribui para dificultar a precisão no número de mortos.

“Fomos atrás dos próprios laudos médicos emitidos pelo hospital, mas, infelizmente, não conseguimos encontrar, o que nos preocupa. Tal material nos forneceria informações fundamentais sobre as gravidades dos ferimentos”, relata o pesquisador em seu trabalho. Ele visitou os hospitais Cirurgia e Santa Isabel, além do pequeno centro hospitalar de Riachuelo.

A quantidade de mortos e feridos era tão grande, que médicos e enfermeiros foram sobrecarregados, segundo o relato da polícia. Foram contabilizados naquele momento 30 mortos identificados e outros 13 não identificados. Quanto aos feridos, 53 foram avaliados pelos médicos, sendo 16 em estado muito grave.

A imprensa do Rio de Janeiro - então capital do Brasil - noticiava cerca de 200 mortos. Já os jornais de Sergipe, em sua maioria, atinham-se aos dados oficiais - o Sergipe-Jornal, porém, chegou a noticiar 120 mortos, com a possibilidade ainda de haver outros 60 sob os escombros.

Luiz Paulo não conseguiu recuperar informações que esclarecessem o caso. Mas acredita que os números sejam mesmo superiores aos oficiais, ainda que não alcancem os exorbitantes 200 mortos e 300 feridos noticiados pela imprensa fluminense.

“[De acordo com as fontes pesquisadas,] dá para entender que muitas pessoas que morreram no local foram levadas para outros locais para serem enterradas e não foram contabilizadas. Tudo indica que foram acima dos dados oficiais”, admite.

O desespero após o acidente foi também o início do drama de João Claro dos Santos, o maquinista da locomotiva. Naquele cenário de tumulto, sobreviventes tentaram linchar o condutor do trem, que fugiu para Laranjeiras, onde, por medo, se apresentou à polícia da cidade.

Enquanto isso, a perícia iniciava seu trabalho no povoado Pedrinhas. Três engenheiros realizaram a perícia técnica, enquanto a polícia investigava o ocorrido, colhendo depoimentos dos sobreviventes.

As investigações

As perícias e a apuração do caso caminharam junto à atuação da imprensa. Com uma postura sensacionalista, os jornais impressos cobravam pressa para que se chegasse a um responsável. Ao mesmo tempo em que exigiam das autoridades uma solução, os jornais - de Sergipe e do Rio de Janeiro - já tratavam João Claro como culpado pela tragédia.

A perícia realizada pelos engenheiros indicou que a linha férrea naquele trecho estava em perfeito estado de conservação. E concluiu que “a aplicação brusca de freios num momento em que a composição desenvolvia velocidade superior a admissível no trecho em que se deu o acidente”, segundo consta nos autos.

Por outro lado, a perícia identificou que a única pastilha de freios encontrada nos destroços do Suburbano estava desgastada. As demais pastilhas poderiam ter sido reutilizadas em outras máquinas, prática aparentemente costumeira.

Em seu depoimento, João Claro denunciou a superlotação do Suburbano, ocorrida, segundo ele, por uma invasão aos vagões. Afirma ainda que chamou a atenção do chefe de trem, Edgar Simas, sobre o excesso de passageiros.

O chefe acionou um policial que conseguiu fazer descer os passageiros excedentes. Porém, segundo o maquinista, a medida não funcionou, já que com o trem em movimento, ocorreu nova invasão. Outra vez, João Claro denunciou ao chefe de trem, mas nenhuma providência foi tomada.

O maquinista relatou ainda que a parada que antecedeu a subida de uma ladeira e posterior descida em velocidade foi motivada por um problema na última classe, que precisou de reparo - o conserto foi feito pelo funcionário do trem responsável pela tarefa, o foguista.

Após iniciar a descida, outra vez o maquinista percebe o mesmo problema, a interrupção da torneira de ar, causando o isolamento dos freios de ar comprimido. João Claro acusa a superlotação como causa para o problema, já que os passageiros que viajavam em pé podiam ter provocado a obstrução.

Em depoimento, o maquinista auxiliar João Moura Cabral confirma o relato de Claro. Ele conta que em certo momento da viagem notou que a torneira da bomba de ar achava-se aberta, fechando-o logo em seguida. Outro maquinista presente no Suburbano, Manoel Leite da Silva, também testemunha essas informações.

Por fim, em seu depoimento João Claro assegura que a impossibilidade de controlar a velocidade da locomotiva e a existência de muitas pedras nos trilhos após uma curva provocaram o descarrilamento.

Em uma nova perícia realizada pelos mesmos engenheiros, a pedido e sob o acompanhamento dos advogados de Claro, percebeu-se que a locomotiva não possuía nenhuma baliza de freios, comprometendo certamente a qualidade da frenagem - considerando a quantidade e o peso dos vagões.

O relatório policial chegou a ponderar que não foram “encontrados nos autos provas suficientes para criminar dolosa ou culposamente o maquinista”. Apesar disso, o próprio relatório determina a investigação da vida pregressa do maquinista.

Um comunista nos trilhos

João Claro tinha 37 anos na data do acidente. Casado, morava com a família no bairro Siqueira Campos, em Aracaju. Era negro, o que no ano de 1946 significava ainda mais do que hoje.

Começou a trabalhar aos 13 anos na oficina da Viação Férrea como aprendiz de ajustador mecânico, sem receber nenhum salário durante o primeiro ano. Progrediu nos quadros da empresa até receber a formação de maquinista, em 1936, dez anos antes da tragédia de Pedrinhas.

Além de fundador da União Espírita Sergipana, João Claro foi o presidente da União Beneficente dos Ferroviários, uma espécie de sindicato dos funcionários da Viação Férrea. Sua atuação política junto aos trabalhadores e outros setores sociais o levou a ser eleito vereador de Aracaju pelo Partido Comunista.

Apesar da investigação sobre a vida do maquinista, nada foi encontrado que comprometesse sua reputação.

Por outro lado, diversos fatores contribuíram para o desastre. A Viação Férrea Federal Leste Brasileiro poderia ter sido melhor investigada por causa da situação em que se encontravam seus veículos, assim como pela superlotação do Suburbano.

Segundo os relatos da imprensa, os trilhos também não apresentavam condições adequadas, fator que talvez não influenciasse no processo por conta da conclusão do laudo pericial - que garantiu estar em bom estado pelo menos o trecho onde ocorreu o acidente. Mas o poder público também devia ser investigado, entre os responsabilizados pela tragédia, pois o controle da superlotação a partir da estação ferroviária de Aracaju era tarefa dos agentes públicos.

No entanto, apesar de os indícios apontarem múltiplas responsabilidades, João Claro foi o único condenado no processo criminal. A Promotoria da cidade de Laranjeiras denunciou João Claro como causador do “horrôroso desastre”, sendo o processo encaminhado para a Comarca de Aracaju.

Embora seja conhecida a condenação de João Claro, o pesquisador Luiz Paulo não conseguiu incluir a sentença em seu trabalho, pois o documento havia sido retirado do processo-crime.

Este não foi o único desaparecimento de documento sobre o caso. O historiador denuncia que, após ter defendido sua dissertação, voltou ao Arquivo Judiciário para colher mais informações e, para sua surpresa, o próprio processo-crime havia desaparecido. “Não está mais na pasta em que eu pesquisei”, afirma.

“Algumas partes do processo você não conseguia encontrar”, completa Luiz. O historiador especula que, talvez pela repercussão que o caso teve, algumas pessoas ou setores prefiram que a conclusão do processo não seja evidenciada.

Racismo

Luiz Paulo Bezerra foca suas pesquisas na história pós-abolicionista do povo negro no Brasil - período que sucedeu a libertação dos negros escravizados, que ocorreu em 1888. Ele acredita que o racismo foi preponderante para a condenação de João Claro.

“O protagonismo negro, ser negro naquela época, levava ainda dificuldade para pessoas que tentavam ultrapassar certos limites; João Claro foi um desses”, explica Luiz, “um personagem importante para a história de Sergipe, no sentido do que um negro poderia na década de 1940”.

A pressão dos jornais e a pressa da população, por se encontrar um responsável pelo desastre, foram fatores que, combinados com o racismo, levaram o maquinista a ser o “condenado conveniente”, acredita o historiador. “Um negro, comunista, líder de centro espírita… de repente podia incomodar”, considera Luiz.

Outro obstáculo para preencher algumas lacunas na pesquisa foi a impossibilidade de conversar com familiares de João Claro.

“Não consegui ter acesso à família”, diz. “Possivelmente pela repercussão negativa, porque, imagine: um negro, na década de 1940, que conseguiu ter acesso a coisas que dificilmente conseguiria ter… e de repente tem sua vida destruída por causa de um acidente…”, reflete o pesquisador, sugerindo a possibilidade de haver um sentimento, por parte dos descendentes de Claro, de ter havido injustiça na condenação.

O cientista compara o caso de João Claro ao chamado “crime do restaurante chinês”, que aconteceu em São Paulo na década de 1930. Um casal de chineses, donos de um restaurante, e dois funcionários foram brutalmente assassinados. Um ex-garçom foi condenado pelos homicídios. O historiador Boris Fausto publicou um livro sobre o massacre, também analisando o processo-crime e a atuação da imprensa.

Para Luiz, quando as evidências são nebulosas, existe uma tendência – que pode ser reforçada pelos meios de comunicação – de condenar aqueles personagens já censurados pela própria sociedade.

Rua Vereador João Claro

Desde 1954, ou seja, quase dez anos após o acidente, a rua Sergipe, no bairro Siqueira Campos, passou a se chamar Rua Vereador João Claro. É o endereço do Centro Espírita Irmãos Fêgo, na época comandada por Claro e que continua em atividade.

Para o historiador Luiz Paulo, a homenagem é mais um indício da inocência do maquinista. “Não seria nada ético e bem visto pela população uma rua ser denominada em nome de um criminoso que causou tantas mortes”, reflete.

Para saber mais

A dissertação intitulada “Nos trilhos da morte: tragédia ferroviária, debate judicial e racismo em Sergipe nos anos 40” pode ser acessada, na íntegra, no Repositório Institucional da UFS, clicando aqui.

* As falas dos personagens da tragédia foram transcritas como constam nos autos do processo, inclusive com a grafia da época.

Marcilio Costa
Ascom/UFS
comunica@ufs.br
Atualizado em: Sex, 25 de janeiro de 2019

Texto e imagens reproduzidos do site: ciencia.ufs.br

sábado, 10 de setembro de 2022

Conjunto musical "Os Bárbaros", com Augusto Popó na bateria


Publicação compartilhada do Perfil do Facebook/Fernando Cabral, de 4 de setembro de 2022

Publico hoje, uma lembrança de minha infância, o registro fotográfico do conjunto musical "Os Bárbaros", com a formação Tacão, Luizinho, Reynold e Augusto Popó. Momentos, que não saem da minha memória, as apresentações na Tv Sergipe, em sua fase experimental, subindo o morro da piçarra no Jeep de Seu Luiz Tarcísio.

Texto e imagem reproduzidos do Perfil do Facebook/Fernando Cabral

quinta-feira, 1 de setembro de 2022

REGISTRO (21/02/2022) > Sergipe se despede do fotógrafo Lineu Lins

Legenda da foto: Lineu Lins entre os vice-reitores da Unit à época, Jouberto Uchôa e Amélia Cerqueira Uchôa -  (Acervo da foto: Unit/2011)

Legenda da foto: Lineu Lins entre família durante inauguração de espaço no campus Centro da Unit. Na ponta da direita, sua filha Cristal Carvalho - (Crédito da foto: Acervo Unit/2011)

Lineu Lins






Crédito das fotos antigas: Acervo Lineu Lins

REGISTRO de publicação, em 21/02/2022

Publicação compartilhada do site do PORTAL UNIT, de 21 de fevereiro de 2022

Sergipe se despede do fotógrafo Lineu Lins

Lineu Lins foi responsável pela documentação fotográfica de importantes fatos e acontecimentos no estado. Unit tem acervo com mais de 25 mil fotos

Ontem, 20, Lineu Lins faleceu na cidade de Aracaju aos 84 anos. O conhecido fotógrafo de Sergipe era considerado por muitos um dos melhores profissionais da área da fotografia no estado. Lineu enfrentava problemas de saúde em decorrência do Alzheimer e marcou a história sergipana pela documentação fotográfica de importantes acontecimentos e fatos da vida empresarial em Sergipe.

Segundo o reitor da Universidade Tiradentes, Jouberto Uchôa de Mendonça,  Lineu foi além de um grande amigo pessoal, um parceiro da Unit e de Sergipe. “Sempre atento ao que mais de interessante havia na época, ele foi um homem à frente de seu tempo e que muito contribuiu com a nossa história e identidade cultural com seus registros históricos de uma Aracaju antiga que muita gente viveu e que a juventude precisa sempre conhecer para entender seu presente. Temos a alegria de termos sidos escolhidos para abrigar mais de 25 mil itens de seu acervo na Biblioteca Central da Unit, uma dádiva para a sociedade que hoje lamenta, profundamente, sua partida”, reflete Uchôa. 

Cristal Carvalho, filha de Lineu Lins e professora do Unit Idiomas e afirmou, com emoção, a dedicação do seu pai à profissão. “Meu pai vivia pela família e pela arte de fotografar. A fotografia não era apenas registro, era a forma como ele enxergava o mundo e como queria mostrar aos outros o que via”, relata. 

O fotógrafo do Complexo de Comunicação Social (CCS) da Unit, Luiz Dinarte, endossa. Contemporâneo de Lineu, destaca sua importância para a evolução dos profissionais da fotografia em Sergipe. “Onde ele chegava, reunia-se um grupo de pessoas da área para conversar sobre fotografia. Ele era uma pessoa que se atualizava constantemente e passava esse conhecimento para todos os fotógrafos. Ele era considerado o nosso pai na área da fotografia”, conta. 

História imortalizada

A história contada pelas imagens de Lineu é imortalizada no acervo que tem curadoria da Universidade Tiradentes, por meio da Biblioteca Jacinto Uchôa. Nela, é possível encontrar um acervo com mais de 25 mil fotos, além de diversos microfilmes. Sendo o primeiro fotógrafo de Sergipe a fazer o uso da máquina digital, Lineu se dedicou, ao longo de sua vida profissional, a capturar imagens do dia a dia de Aracaju.

Para o diretor do Sistema Integrado de Bibliotecas da Unit, prof Marcos Wandir, o acervo permite que alunos da instituição conheçam aspectos importantes da cidade, estabelecendo um elo entre o passado e o presente. “O professor Uchôa, um sergipano que garimpa sempre o que há de melhor para nossas futuras gerações, trouxe para nossa biblioteca todo o acervo de imagens de Lineu Lins, um espaço de estudos e pesquisas para que os professores, pesquisadores e alunos produzam conteúdo e conhecimento. A fotografia é uma arte, mas também é uma ciência, que se aprende e que se admira. Muitos trabalhos de conclusão de curso terão esse acervo como referência em suas pesquisas. A biblioteca sede tem um laboratório de Imagens Lineu Lins e todo acervo de imagens está sendo inserido no Pergamum para facilitar o acesso”, reitera. 

Já o professor doutor do curso de História da Unit, Rony Rei do Nascimento Silva, reforça que Lineu é um dos grandes nomes do estado de Sergipe no século XX. “Sob seu olhar humanista, ele registrou o cotidiano de pessoas simples, eventos políticos, visitas de autoridades, artistas e intelectuais. Ele também registrou a arquitetura da capital e do  nosso interior. Fica o seu legado, conservado pela biblioteca da Unit e aberto a visitação para o público. Por toda a sua majestosa história, é conferido a Lineu Lins um lugar de autoridade na nossa lembrança e na nossa memória”. 

O velório aconteceu até às 16hs desta segunda-feira, 21, no OSAF, rua Itaporanga, 436, centro da capital.  A família informou que o corpo será cremado.

Texto e imagens reproduzidos do site: portal.unit.br

Artigo: Paulo Barreto e o livro de Lena, por Marcos Melo


Crédito das fotos: Reprodução/internet

Publicação compartilhada do site RADAR SERGIPE, de 06 de agosto de 2022  

Artigo: Paulo Barreto e o livro de Lena - Por Marcos Melo

Estudante em Maceió, fui gozar as férias de junho em casa. Nesse mês, de 1962, estava sendo encenada no Cineteatro Propriá o monólogo “O Homem Que Perdeu a Fé”, de autoria do dramaturgo Paulo Barreto (1911-1990).

A peça estava fazendo enorme sucesso. Lembro-me que quando fui vê-la, a ampla sala do Cine Propriá estava lotada. Tal êxito se devia a três fatores básicos: primeiro, porque o ator – Élinton Cunha –, Etinho na intimidade, era gente da terra, partícipe do recém-formado Grupo de Teatro Amador de Propriá – GTAP, sob a direção do mestre Manoel Ferreira Rocha. Todos queríamos ver a atuação de Etinho que, frise-se, se saiu muito bem.

 Segundo porque, àquela época, o teatro amador, ou melhor, o teatro brasileiro, estava de vento em popa, no auge, por assim dizer, no Brasil e em Sergipe. Isto devido a existência de grandes companhias profissionais, como o TBC, que tinham em seus quadros atores e atrizes talentosos a exemplo de Procópio Ferreira, Sérgio Cardoso, Paulo Autran, Rodolfo Mayer, Cacilda Becker, Cleyde Yáconis, Maria Della Costa, Tônia Carrero, Ruth de Souza, Bibi Ferreira, Fernanda Montenegro e por aí vai. 

 No que se refere ao teatro amador, basta lembrar o “Teatro do Estudante”, movimento criado pelo embaixador Paschoal Carlos Magno, que percorreu o país numa verdadeira maratona de divulgação das artes cênicas e que promoveu a descoberta de novos talentos. Houve, se não me falha a memória, um importante seminário sobre teatro, na histórica Penedo, realizado no portentoso Cine São Francisco inaugurado em 1960.

 Em Sergipe, à época, importantes iniciativas amadorísticas foram realizadas, no âmbito estudantil, pelos professores Caetano Quaranta e João Costa. Caetano, estudante de medicina e que foi meu professor de Química Geral, no Ateneu, dirigiu algumas peças, com destaque para “Zefa Entre os Homens”, que tinha Valfredo Neri, meu colega de turma, num importante papel. Essa peça também foi encenada no Cine Propriá, com êxito. Da mesma forma que a premiada “Recital Sem Opus”, do dramaturgo João Costa, encenada pelos estudantes Luiz Antônio Barreto, Chico Varella, João Gama, o ator Orlando Vieira e os professores Antônio Joaquim e João Costa. Essa peça foi muito aplaudida em João Pessoa e no Rio de Janeiro.

E, em terceiro, porque “O Homem Que Perdeu a Fé” é um texto maduro, pungente, que reflete a condição humana em suas dúvidas existenciais. Tem um quê shakespeariano na medida em que avulta a hesitação do personagem diante dos mistérios vida e da morte. É uma obra inserida nos cânones filosóficos do existencialismo, vigente nos anos 1940/1950, quando foi concebida. Ela atesta que Paulo Barreto tinha uma acurada leitura das angústias que povoavam corações e mentes de sua geração e que, intelectualmente, é a geração de Camus, Malraux e Sartre a santíssima trindade que decodificou tais padecimentos d’alma no pós-guerra.

 Portanto, “O Homem Que Perdeu a Fé” é uma obra seminal da dramaturgia sergipana e brasileira e, sem dúvida, Paulo Barreto pontifica na linha de frente dos autores que modernizaram o teatro brasileiro a exemplo de Ziembinski, Pongetti e Nelson Rodrigues. Seus textos teatrais, como bem ressalta seu filho Cleandro Barreto, na contracapa do recém lançado livro “Histórias de Meu Pai & Estórias por Meu Pai...” organizado por Lena Barreto, sua irmã, foram representados por atores do porte de Procópio Ferreira, Ítalo Cúrcio, Barreto Júnior, Rodolfo Mayer e Milton Carneiro.

Mas, Paulo Barreto, como muito bem ressalta o precioso livro de Lena, era um homem de inquebrantável fé cristã, de enorme compaixão pelos desvalidos da sorte, um escritor sensível à problemática social. Era, também, um bem-humorado cronista do cotidiano. Os textos selecionados por Lena Barreto, são biscoito fino de uma prosa elegante. Paulo, foi ainda, um poeta inspirado. O belíssimo “Mesa Vazia” diz muito da passagem do tempo no âmbito familiar, das idiossincrasias, do crescimento e das escolhas dos filhos, de suas partidas. Fez-me lembrar de “As Pombas”, belo soneto do parnasiano e diplomata Raymundo Correia. Como bem ressalta sua filha Cleia Tereza Barreto de Araújo: “Sensível como todos os poetas, apaixonado pela família e amigos, extremamente humano Paulo Barreto deixou um legado de honradez, dignidade, inteligência, simplicidade e humor nos seus trabalhos cômicos, trágicos, verdadeiros, sonhadores, sempre uma reflexão permanente sobre a condição humana.”

 Por fim, não se pode falar em Paulo Barreto, ou melhor, na família Barreto, sem que se mencione o Cine Teatro Rio Branco, histórica sala de projeção e representação localizada no epicentro da Rua João Pessoa. O cinema Rio Branco, como era chamado, fundado por Juca Barreto, irmão de Paulo, foi palco de grandes eventos cinematográficos, teatrais e políticos. Sim, políticos, porque era em suas dependências que os partidos realizavam suas convenções. Local de Inesquecíveis produções cinematográficas, como os filmes dos surrealistas Buñuel e Fellini, que em sua tela foram exibidos; e palco de grandes representações teatrais de companhias em passagem por Aracaju.

Lembro que, em uma de suas paredes, estavam afixadas placas de mármore ressaltando as presenças de renomados artistas em seu palco, a exemplo do icônico tenor lírico Tito Schipa, num ano da década de 1920.

Certamente, muito do aprendizado de Paulo Barreto, nas artes cênicas, se deveu às fitas que viu na tela do Cinema Rio Branco e dos espetáculos teatrais que foram encenados em seu palco.

O Livro de Lena Barreto – Histórias de Meu Pai & Estórias por Meu Pai – traça um perfil magistral do intelectual Paulo Barreto. É, também, uma comovente homenagem a Josefa Batista Barreto, Dona Joselita, esposa amantíssima de Paulo Barreto e mãe adorada pelos nove filhos, em face da recente passagem de seu centenário. Vale a pena conferir.

Marcos Melo é professor emérito da UFS e membro da ASL

Texto e imagens reproduzidos do site: radarsergipe.com.br