SERGIPE, sua terra e sua gente.
segunda-feira, 31 de março de 2025
(...) Caso da expulsão dos estudantes do Atheneu em 1964
domingo, 30 de março de 2025
"Hermes-Fontes: um poeta e gênio atormentado", por Acácia Rios
Artigo compartilhado do site SÓ SERGIPE, de 21 de fevereiro de 2025
Hermes-Fontes: um poeta e gênio atormentado
Por Acácia Rios (*)
E saber que eu julguei que essa insensível
pudesse amar-me como a um seu irmão!
e possibilitei nesse impossível
dar forma eterna à minha aspiração!
Esfinge, esfinge! desgraçadamente.
maior, mais vasto que o deserto ambiente
é o deserto que tens no coração.
Esfinge, Hermes Fontes
Onome Hermes-Fontes atravessa a vida dos aracajuanos. As inúmeras placas ao longo dos seus 4 quilômetros, aproximadamente, não deixam esse sergipano de Boquim passar despercebido. Ainda mais para uma criança que acabara de aprender a ler. O mundo se me abria e as placas se tornavam parte do meu jogo do contente, que, no trajeto da antiga Cohab ao Centro, consistia em admirar as belas casas da avenida e memorizar os outros nomes com os quais a longa via fazia esquina.
Anos depois, Hermes-Fontes (o autor grafava seu nome com hífen, sintetizando assim o de batismo: Hermes Floro Bartolomeu Martins de Araújo Fontes) saltaria da placa para a página de um livro. Eis que me vejo diante de ‘A taça’ (título pelo qual ficou conhecido), um poema visual que faz uma ode a esse objeto.
Tornou-se o poema mais conhecido dele, presente em várias antologias, uma delas a de José Costa, que foi meu professor de Literatura Brasileira na UFS e organizou o livro Antologia poética de Hermes Fontes, editada pela Secretaria de Estado da Cultura em 2004.
A descrição da taça, que vai se confundindo progressivamente com uma mulher, é carregada de sensualidade e musicalidade. Começa e termina com versos dodecassílabos (doze sílabas), mas a métrica varia ao sabor do desenho da taça, estreitando a rima na haste, de forma que temos versos de apenas uma palavra, como o leitor pode observar.
A característica heterométrica (métricas diferentes) é o que o aproxima da poesia moderna. Essa sua versatilidade (e criatividade poética, diga-se de passagem), permitia-o transitar entre escolas.
Pouco acima daquela alvíssima coluna
que é o seu pescoço, a boca é-lhe uma taça tal
que, vendo-a, ou vendo-a, sem, na realidade, a ver,
de espaço a espaço, o céu da boca se me enfuna
de beijos — uns, sutis, em diáfano cristal
lapidados na oficina do meu Ser;
outros — hóstias ideais dos meus anseios,
e todos cheios, todos cheios
do meu infinito amor…
Taça
que encerra
por
suma graça
tudo que a terra
de bom
produz!
Boca!
o dom
possuis
de pores
louca
a minha boca!
Taça
de astros e flores,
na qual
esvoaça
meu ideal!
Taça cuja embriaguez
na via-láctea do Sonho ao céu conduz!
Que me enlouqueças mais… e, a mais e mais, me dês
o teu delírio… a tua chama… a tua luz…
Multifacetado, era considerado ao mesmo tempo parnasiano (ou neoparnasiano, segundo Otto Maria Carpeaux), simbolista e pré-modernista. Esse hibridismo estético o caracterizava. Também pudera, viveu num momento não só de grande efervescência cultural o Rio de Janeiro como também de mudança estética na literatura, proporcionada pela Semana de Arte Moderna de 22.
No Rio de Janeiro, conviveu com poetas de diferentes correntes e o ambiente de interlocução impregnou-o de diversas maneiras. A sua estreia, com o livro Apoteoses, projetou-o nacionalmente e chamou a atenção de João Ribeiro, Silvio Romero, Rocha Pombo e Olavo Bilac, só para citar alguns. “É Hermes-Fontes um moço, quase um menino, cujo livro Apoteoses é uma revelação de força lírica.”, disse Bilac, conforme menciona Assis Brasil em seu livro A poesia sergipana no século XX (1998).
Além de poeta, jornalista e cronista, era caricaturista e letrista. Suas caricaturas apareciam nos jornais O bibliógrafo, Tagarella e Brasil Moderno. Por meio dessa linguagem, satirizou a vacina obrigatória, a lei do Expurgo e o Código Civil. Também se posicionou em relação à Campanha Civilista em favor de Rui Barbosa e, posteriormente, da Revolução de 30. Quanto às suas composições ‘Luar de Paquetá’ e ‘À beira mar’, foram gravadas por Vicente Celestino e podem facilmente ser acessadas na internet.
Participou da organização da Academia Sergipana de letras e foi fundador da cadeira 16, cujo patrono foi Pedro de Calasans. Em seu Dicionário Biobibliográfico sergipano (1925), Armindo Guaraná nos informa que ele também foi membro correspondente da Academia Piauiense de Letras.
Um pouco do homem
A biografia de Hermes-Fontes é comovente. Nasceu em Boquim, região sul de Sergipe, em 1888. Aprendeu as primeiras letras em pouco tempo e foi levado para estudar em Aracaju aos 8 anos. Sua genialidade chamou a atenção de professores e figuras conhecidas, notícia que logo se espalhou pelo estado. De acordo com Ana Medina, em Cartas de Hermes Fontes: angústia e ternura (2006), “aos oito anos já era uma revelação, um prodígio de memória, lia jornais como se fosse um adulto e possuía grande talento para a música e o desenho”.
Tanto talento junto chamou a atenção do então presidente do Estado, Martinho Garcez, que o adotou, levando para o Rio de Janeiro com apenas 10 anos. Na capital federal, os estudos avançaram às expensas da família Garcez, mas tão logo pôde buscou a sua independência. Fez um concurso para os Correios, passando em primeiro lugar. Entrou na faculdade de Direito e foi morar numa pensão, onde conheceu Alice, o amor da sua vida, que representa um capítulo à parte na sua história.
O poeta perdeu a mãe nos primeiros anos da infância e foi arrancado do seio familiar muito jovem. Se a capital sergipana já era uma separação da cidade natal, imagine o Rio de Janeiro. Nas cartas dirigidas à família (com quem manteve longa correspondência epistolar), relatava a saudade da terra. Isso está demonstrado no livro Despertar! (1922), que ele dedica a “Sergipe, terra dos meu berço” e aos pais.
As cartas, que estão no Museu Raimundo Fernandes da Fonseca, em Boquim, revelam também que ele era arrimo de família. Sistematicamente, enviava quantias junto com as correspondências, em que sempre pedia notícias dos familiares, vizinhos e amigos.
Apesar de boa recepção crítica (publicou 11 livros em total) e de uma vida profissional intensa, Hermes-Fontes foi acumulando alguns dissabores ao longo da vida. Tentou entrar para a Academia Brasileira de Letras cinco vezes e, em todas elas, foi rechaçado. Também desejava ser Príncipe dos Poetas Brasileiros. No campo político, tentou ser deputado, mas não conseguiu.
Casou apaixonado, mas o sentimento não era correspondido à mesma altura. Sua mulher engravidou, mas perdeu a criança. Anos depois, soube que havia sido traído por ela e por pessoas próximas. Separaram-se, mas ainda nutria sentimentos por Alice. Além de tudo, tinha complexo de ‘físico acanhado’, pois media pouco mais de um metro e meio. Uma autorreferência à sua altura é o pseudônimo P.Q. Nino. Às vezes assinava com as iniciais H.F., ou F.H., invertidas. Leo-Zito, Leléo, Léo-Fábio, Rems, Rins e Roms também eram usados pelo poeta.
O poema ‘Esfinge’, cuja estrofe encabeça esta crônica, foi escrito por ele com o coração dilacerado. Era um homem romântico e, mesmo depois da separação, ainda se preocupava com o bem estar da sua amada, apesar de o coração dela ser um deserto, como diz o último verso.
Toda essa solidão, expressa na sua obra, culminou em uma profunda tristeza. Antes de suicidar-se com um tiro na cabeça, aos 42 anos, queixara-se com os amigos acerca do seu envolvimento na Revolução de 30. Mas diante da sua baixa autoestima e de tantas decepções, a amorosa sendo a pior de todas, tudo leva a crer na desilusão em relação à própria vida.
Cruzo diuturnamente a avenida Hermes Fontes, essa artéria sem a qual Aracaju não seria a mesma. Atravesso também as doze letras que compõem o seu nome e chego ao homem, esse poeta e gênio atormentado repleto de ternura.
---------------------------------
* Acácia Rios é jornalista, escritora, professora, mestra em Memória Social e Documental pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro e doutora em Ciências da Documentação pela Universidade Complutense de Madri. Leciona na Escola de Artes Valdice Teles.
Texto e imagens reproduzidos do site: www sosergipe com br
terça-feira, 25 de março de 2025
"Aracaju faz cem anos", por Maria Rita Soares de Andrade
terça-feira, 18 de março de 2025
A última lição do mestre José Abud
Legenda da foto: Doutor José Abud: com ele, morreu um pouco da humanidade - (Crédito da foto: reprodução com arte, de post no Facebook/Domingos Pascoal e postada pelo blog, para ilustrar o presente artigo).
Artigo compartilhado do site JLPOLÍTICA, de 17 de março de 2025
A última lição do mestre José Abud
Por Déborah Pimentel *
"Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção” (Paulo Freire).
Falar sobre o Dr. José Abud é revisitar um tempo de aprendizado intenso e exigente, uma época em que a propedêutica era ensinada com rigor e paixão por aqueles que compreendiam que a Medicina não era apenas técnica, mas também arte.
Para os que passaram por seus ensinamentos, ele não era apenas um professor. Era um mestre que exigia o máximo, pois sabia que o exercício da Medicina não permite superficialidades.
Fui sua aluna nos tempos de faculdade, na disciplina que molda a base de um médico: a Propedêutica. Aprendi com ele que examinar um paciente vai além de verificar sintomas e sinais físicos; é compreender a história que aquele corpo conta, a sutileza dos detalhes que fazem a diferença no diagnóstico e no cuidado.
Os anos passaram e quando fui presidente da Academia Sergipana de Medicina a vida nos proporcionou um reencontro. Dessa vez, não mais como professor e aluna, mas como colegas na Sociedade Brasileira dos Médicos Escritores, onde contribuímos juntos para todas as edições publicadas, em todas as antologias. Entre elas, recordo com carinho o lançamento da primeira antologia Vida, no Museu da Gente.
Naquela noite especial, meu conto Vida, Morte e o Morrer encontrou nele um dos seus leitores mais exigentes e generosos. A narrativa, que descrevia uma professora de Ética Médica recebendo de um ex-aluno - agora seu médico assistente - a notícia delicada de que estava com câncer, tocou profundamente Abud.
Como geriatra, ele conhecia o peso das más notícias e, ao final da leitura, disse-me algo que me emocionou profundamente: passaria a usar o passo a passo da comunicação descrito no conto como referência para lidar com seus próprios pacientes.
Receber aquele reconhecimento de um mestre tão rigoroso e exigente foi um dos momentos mais gratificantes da minha vida. José Abud e José Augusto Bezerra foram, sem dúvida, os professores que mais desafiaram minha geração.
Suas notas eram conquistadas com suor, esforço e dedicação. Eu nunca me considerei a mais brilhante da turma, mas sempre fui disciplinada e estudiosa.
Entre os professores que marcaram minha jornada, Abud, com seu jeito durão, sempre me elogiava - primeiro nos bancos escolares, depois como colega. Décadas depois, reencontrá-lo e vê-lo reconhecer em meu texto um ensinamento aplicável na prática médica foi um momento que uniu nossas trajetórias de uma maneira inesperada e profundamente emocionante.
Dr. José Abud não era apenas um mestre da propedêutica. Ele era um mestre da humanidade. Exigia perfeição porque sabia que a vida de um paciente depende da excelência técnica, mas também do acolhimento, da escuta, da presença sensível do médico. Sua memória permanecerá viva em todos aqueles que tiveram a honra de aprender com ele, dentro e fora da sala de aula.
Hoje, escrevendo este texto, celebro o legado de um professor que não apenas ensinou a examinar um paciente, mas também a enxergá-lo em sua totalidade.
A Medicina se despede de um grande mestre, mas sua essência permanecerá em cada um de nós que tivemos o privilégio de ser tocados por sua sabedoria e generosidade. Como médicos, como professores e como seres humanos, seguimos construindo, aprendendo e ensinando.
Afinal, como disse Paulo Freire, ensinar é criar possibilidades. E José Abud fez isso com maestria. Como sua aluna e colega, carrego suas lições e, agora, também como professora, desejo seguir seu exemplo, deixando meu próprio legado. Que meu ensino, assim como o dele, inspire, transforme e prepare não apenas médicos, mas seres humanos capazes de enxergar além do óbvio.
* Articulista Déborah Pimentel - É médica, pesquisadora da saúde mental e psicanalista.
Texto reproduzido do site: www jlpolitica com br
domingo, 9 de fevereiro de 2025
Meu "Padim Ciço", por Lilian Rocha
Post compartilhado da fanpage no Facebook/Lilian Rocha, de 8 de fevereiro de 2025
Meu "Padim Ciço"
Por Lilian Rocha
Era assim que eu o chamava, sempre que queria roubar um sorriso dele, ainda que fosse um sorriso tímido, de canto de boca. Pra mim, era uma vitória!
Porque sorrir, para ele, era algo que ele quase nunca se permitia. Ele expressava seu contentamento de outro jeito, "servindo" aos outros.
Servindo sua amizade, sua educação, sua delicadeza, sua presteza, sua disponibilidade.
Como dentista e professor, serviu aos seus alunos, por quase 20 anos, seus conhecimentos, sua habilidade, sua paciência e seu amor pela docência.
Como amigo, foi sincero, leal e disponível. Aprendeu até a cozinhar para servir (de bandeja!) as mais finas e deliciosas iguarias...
Como marido de tia Sylvinha, foi um servo fiel de Deus, que honrou o matrimônio até o fim, emprestando-lhe os olhos, os braços, as pernas e todo o seu tempo para cuidar e zelar por ela.
Era um homem carente de afeto, que nunca soube pedir nem receber. Foi educado à moda antiga, para ser forte e corajoso e nunca chorar, pois "homem que é homem não chora"...
Mas, aos pouquinhos, fui ousando brincar com ele, falar um monte de bobagens, só pra ter o prazer de ver toda aquela carapaça de homem sério cair por terra e se desmanchar num sorriso.
Que sorte a minha tê-lo tido como padrinho! Um exemplo de coragem, honestidade e retidão. Meu "padim ciço" dos belos olhos azuis e que ficava todo vermelho quando eu dizia que o amava...
"A recíproca é verdadeira", respondia ele.
Ainda bem que deu tempo de visitá-lo no hospital. De dar-lhe um beijo, dizer-lhe, mais uma vez, que o amava e levar comigo, para sempre, o
último sorriso que ele me deu...
Sentirei saudades!
Com todo o carinho da sua afilhada,
Lilian Rocha.
Texto e imagem reproduzidos da fanpage no Facebook/Lilian Rocha
terça-feira, 4 de fevereiro de 2025
Dr. Afrânio José Bastos (1927 - 2025)
Trecho de texto publicado no perfi do Facebook, do Conselho Regional de Odontologia de Sergipe, em 3 de fevereiro de 2025.
Afrânio José Bastos (1927 - 2025)
"(...) Nascido em 1927, em Salvador, e formado em Odontologia pela Universidade Federal da Bahia em 1952, o Dr. Afrânio Jose Bastos começou a trabalhar nos Correios e Telégrafos em 1946. Em 1955, já graduado, transferiu-se para Aracaju, onde passou a assumir funções de cirurgião-dentista no gabinete dentário recém-adquirido pela empresa, nele atendendo até 1975. Entre 1976 e 1979 esteve lotado no INAMPS (hoje INSS).
Foi professor da Universidade Federal de Sergipe de 1971 a 1992, quando se aposentou como professor titular, sendo homenageado como Patrono e Paraninfo de diversas turmas. Ministrou a primeira aula do curso de Odontologia da UFS, sendo responsável pela disciplina Dentística Operatória, e atuando na Clínica Integrada e Estágio em Clínica. Ao longo da sua trajetória acadêmica, foi professor atuante do curso, desenvolvendo uma série de ações extensionistas e estando sempre envolvido na gestão acadêmica".
Trecho de texto publicado no Facebook/Conselho Regional de Odontologia de Sergipe.
Morre o professor aposentado Afrânio José Bastos
Texto publicado originalmente no site da UFS, em 3 de fevereiro de 2025
UFS informa o falecimento do professor aposentado Afrânio José Bastos
Afrânio participou ativamente do processo de implantação do curso de Odontologia da UFS
A Universidade Federal de Sergipe (UFS) informa, com pesar, o falecimento do professor aposentado Afrânio José Bastos nesta segunda-feira, 3. Nascido em Salvador, em 10 de setembro de 1927, Afrânio exerceu sua profissão em Aracaju e participou ativamente do processo de implantação do curso de Odontologia da UFS, do qual foi professor entre abril de 1972 e maio de 1992, quando se aposentou.
Em sua trajetória acadêmica de três décadas de dedicação ao ensino da Odontologia, com ênfase na Dentística Restauradora, professor Afrânio ficou conhecido por inspirar seus estudantes a seguir o caminho da docência. Casado com Sylvia de Andrade Bastos, também cirurgiã dentista, teve quatro filhos: Marcia, Cristiane, Kleyton e Afrânio, sendo os dois últimos também professores da UFS.
O velório será realizado nesta segunda-feira, 3, na Organização Social de Assistência à Família (Osaf), às 19h.
Ascom UFS
Texto reproduzido do site: www ufs br
segunda-feira, 3 de fevereiro de 2025
Artigo de Fedro Portugal (Filho de Dr. Fedro Portugal)
Post compartilhado do site INSTAGRAM/FEDRO POSTUGAL, de 1 de fevereiro de 2025
Durante esta semana, recebi inúmeras mensagens repletas de carinho e reconhecimento pelo meu pai, ressaltando suas qualidades como médico, professor e amigo. Cada palavra demonstra o quanto ele foi importante para todos que tiveram o privilégio de conviver com ele.
Mas hoje, gostaria de falar sobre Fedro, o esposo, o pai e o avô. O privilégio de compartilhar sua presença todos os dias, de ouvir suas opiniões, seus conselhos e até suas reclamações. Conversávamos sobre tudo: política, religião, futebol, música, cinema. Meu pai estava sempre atualizado, sempre curioso, sempre envolvido.
Homem simples e humilde, ele combinava liberdade com conservadorismo, carregando um profundo amor pela medicina, pela música, pelo cinema e, acima de tudo, pela família. Sua fé inabalável em Deus e sua dedicação incondicional a nós fizeram dele um verdadeiro guardião do lar.
Foram 5 anos de namoro e 55 anos de casamento com minha mãe, Selma. Sou testemunha viva de seu intenso amor por ela. Cumpriu fielmente cada promessa feita no altar, em momentos de alegria e desafios, sempre com respeito, carinho e cumplicidade.
Desse amor nasceram três filhos: eu, Glorinha e Joaninha. Depois vieram os netos – Fernanda, Flávia, Fedro Neto, Dioguinho e João Pedro – e os agregados, em especial Fabiana, minha esposa, quase uma filha, André e Diogo, os quais ele acolheu com o mesmo carinho. Meu pai sempre nos ensinou que família é um elo sagrado e inquebrável.
Como primogênito, herdei seu nome e, com ele, a responsabilidade de preservar os valores que ele tanto prezava. Ao longo da minha vida, incontáveis vezes ouvi relatos emocionantes de gratidão por seu trabalho como médico. Ele tinha o dom da cura, e para muitos, meu pai foi um verdadeiro super-herói.
Quando surgia alguma dúvida quanto a origem genealógica de alguma pessoa, bastava conversar com meu pai que ele desenterrava toda a ancestralidade da pessoa até chegar em gênesis.
Em casa, sua postura era de firmeza, mas sempre respeitando nossas escolhas, nos deixando livres para aprender com os próprios caminhos, sem jamais nos negar acolhimento e amor.
Prático e avesso à burocracia, deixava as questões administrativas para minha mãe. Em troca, a enchia de carinho e reconhecimento, demonstrando o quanto ela era essencial em sua vida, o quanto eles se completavam.
Nos encontros familiares, ele nos unia ao redor da mesa, mesmo que não gostasse de pizza, apenas para ver a família reunida. Gostava de contar histórias, brincar com os netos e se manter presente em nossas vidas.
Como a família de minha mãe morava em Fortaleza/Ceará, quando éramos criança, viajávamos anualmente de carro até lá, para visitar meus avós e tios. Lembro que ele adorava fotografia, tinha uma câmera Olympus moderna que usava no trabalho, e levava na viagem para registrar nossos momentos de lazer em família.
Com a fé sempre fortalecida, participou ativamente da Igreja, dedicando-se ao Cursilho de Cristandade e ao Encontro de Casais com Cristo, onde testemunhou sua crença com amor e devoção. Rezava seu terço de seis mistérios, pois, segundo ele, era melhor pecar pelo excesso do que pela falta.
Como avô, foi um segundo pai para os netos, aconselhando, guiando e, sobretudo, demonstrando a importância da educação, da fé e dos valores éticos e morais.
E agora, cumprindo o ciclo da vida, meu super-herói partiu para os braços do Pai Celestial. Ficamos com a saudade de sua presença espirituosa, de suas apresentações musicais, das nossas reuniões familiares, da pizza aos domingos, do terço de seis mistérios, de seu pedido de ajuda com as tarefas administrativas, da sua voz forte e acolhedora. Mas, ficamos também com a imensa gratidão por termos tido a honra de chamá-lo de esposo, pai e avô.
Que sua luz continue brilhando em nós, inspirando-nos a sermos melhores, a valorizarmos a família, a fé e o amor incondicional.
Descanse em paz, meu querido pai.
Texto reproduzido do perfil instagram/fedroportugal
--------------------------------------------------------------------------
sexta-feira, 31 de janeiro de 2025
'Alegria e Saudade', por Odilon Machado
Legenda da foto: Eu e meu neto Pedro Henrique com cabelos alourados por Calourada do Colégio Master.
Artigo compartilhado do site INFONET, de 30 de janeiro de 2025
Alegria e Saudade.
Por Odilon Machado (do blog Infonet).
No mesmo dia em que eu estava sepultando o corpo de meu amigo, Fedro Menezes Portugal, o meu neto, Pedro Henrique Cabral Martins, estava sendo aprovado pelo SISU, no Curso de Medicina da nossa Universidade Federal de Sergipe.
É, portanto, com esse sentimento duplo de alegria, muita alegria, e de tristeza, muita tristeza e saudade pela perda de um grande amigo.
Dos amigos, nunca o saberemos perfeitamente, se continuarão sempre, afinal a geografia insere distâncias, o tempo amortece afagos, e até as divergências costumam afadigar carinhos, sem falar das comuns separações, por fatos outros do pensar não convergente, do perfilar não partilhado.
Não foi assim com Fedro; um amigo, companheiro de muitas viagens, longas conversas, o riso sendo comum e a divergência, se houve alguma, nunca fora nem citada, nem lembrada.
Para quê falar do que nos separava, se havia tanta coisa boa para curtir e nos unir, ele sendo uma companhia perfeita para mim, e eu sendo, penso eu, um pouco para ele também; eu com o meu modo comum de ser, com as minhas dificuldades de riso e verve, por longas épocas nos fizemos companheiros em conversas alegres, curtindo o sorriso de viver, nas nossas férias conjuntas, aqui, ali, acolá, desfrutando a boa mesa, o apetite continuado, tudo aquilo que a vida nos propõe a fruir com a companhia que nos preenche.
Mas, se eu pretendo falar de saudades, eu preciso antes acenar para o “porvir”, aquilo que está para vir, o futuro se fazendo presente com as primeiras vitórias de meu 1º neto, Pedro Henrique, o meu Pepo, ou PH, como o chamamos em carinho, ele que agora está louro, com a basta cabeleira descolorida, como acontece nos rituais de ingresso aos cursos superiores das nossas Universidades.
Pedro Henrique, 1º filho da minha primogênita, Daniela Garcia Moreno Cabral Martins, e do Cearense, Mario Henrique Tavares Martins, ambos Médicos, abraça agora a profissão dos pais, ingressando no Curso de Medicina da nossa Universidade Federal de Sergipe, ele que também se vitoriou no Vestibular da UNIT e da Escola Bahiana.
Desnecessário dizer da nossa alegria, que acompanhamos seu esforço desde a infância, estudioso, caprichoso, sempre galgando os primeiros lugares de suas turmas do Infantil ao Colegial, angariando elogios em sua simplicidade e correção.
Eu, que tive alguma presença na formação de meus filhos, sobretudo em Ciências Exatas, alguma Literatura e um pouco de Humanidades, tentei algumas vezes lhe servir de reforço nos estudos, foi inútil, pois de tudo que eu explanava ou arguia, ele me respondia com tanta segurança e domínio, que me fazia seguir por outros caminhos ainda não percorridos em suas aulas de colégio, muito rápido captando o assunto discutido, sobretudo em Física e Matemática, eu lhe sendo se não totalmente, quase um estorvo inútil.
A destacar sobremodo, a sua disposição para o estudo, haja visto que existem duas dificuldade no humano, a saber: quando jovem, possuir a vontade de ler, e quando velho, como eu, a de ter disposição e o anseio para fazer os recomendados exercícios físicos.
Ler e fazer exercícios físicos, devem ser hábitos continuados, dizem-nos alguns filósofos, por estetas e terapeutas, querendo no eximir da fadiga precoce, e da agridoce preguiça que nos afasta e contamina o existir.
Se não podemos ser bons atletas, sejamos pelo menos um pouco poetas, quem o sabe um pouco esteta, por bom asceta, quase um bardo ruim, um antipoeta rústico, nunca um quase pateta.
“Nulla dies sine linea”, eis a lição de Apeles, celebre pintor grego, ao não menos famoso Plinio, o Velho, válida para sempre a nós todos: Nenhum dia sem uma linha, ou seja: estudar sempre e exercitar-se continuadamente. Eis a velha lição aos jovens e aos não tanto assim, na basta luta contra o vulgo e a senilidade.
Se não conseguimos ser em suficiência bom estetas e/ou atletas, sejamos, pelo menos toscos poetas, afinal a boa rima pode soar melhor no ouvido que a arrima e a acolhe, e não o daquele que mal a recolhe e desanima, por contamino de esvazio e da pouca utilidade.
Pior, muito pior que o esvazio, é o esvaziar-se no nada fazer.
O nada fazer não é de bom afino nem para o moço, nem é bom acorde para o longevo, em tantos encantos baldios de sereias.
E nesse perquirir de outras coisas difusas, colcheias e semicolcheias, alguém disse, e foi Nietzsche que assim o fez em doutas ameias, clamando às portas de um cemitério, bradando aos túmulos o despertar de seus inquilinos residentes para uma nova vida, cheia de esperança e desafios, e a resposta sendo a acomodação indiferente nos jazigos em sono eterno, afinal “O nada fazer, ora, céus!, (“il dolce far niente”), o nada fazer tem aí os seus encantos!”
Sirvo-me deste mote, em louvação ao meu neto que vitorioso está com um meta concluída, em proximidade de novos desafios, firmando-o a preparar-se para ser como seus pais, Daniela e Mario Henrique, excelentes e dedicados Médicos, ela cuidando dos nossos Corações, mantendo-os no ritmo acertado, e ele vigiando as Vias Urinárias, sempre nos avisando que algo não vai bem e obstrui, o que é um caos e tanto incomoda..!
Você, Pedro Henrique, escolheu uma bela profissão, minorar as dores inerentes ao viver; lutar e pelejar sempre, mesmo sabendo que tudo será debalde, afinal ninguém vive eternamente, ao não ser na Crença e na Fé que cada um venha a possuir.
E nesse proceder, volto-me para o meu amigo Fedro Menezes Portugal, excelente Médico que nos deixou esvaziados com o seu convívio perdido, especialista notável nas moléstias de pele.
Se muitos já falaram da sua dedicação promovendo a cura de tantas enfermidades medicadas, desejo falar só de amizade, afinal o nosso convívio vem desde a adolescência, quiçá a minha infância, vendo-o colega de minha irmã, Nina Maria, morta tão cedo, já lá vão 47 anos passados, minha irmã que como Fedro, fora aluna de Piano de Dona Maria Guimarães Gesteira, esposa do Professor José Gesteira, ambos de saudosa memória, pais de Luís, um menino danado do segundo trecho da Rua de Pacatuba, onde eu lhes era vizinho.
Inserindo um parêntese na minha narrativa, apresento aqui um vídeo do Fedro se exibindo no seu velho piano, tocando uma das “Polonaises” de Frédérik Chopin.
Fedro, para quem pouco dele conhece, era filho de Professores: o pai; Francisco Portugal, baiano de Canavieiras, era um homem volumoso e alto, uma presença de chamar atenção quando adentrava na Rua de Pacatuba, vindo da Praça Camerino onde morava, justo, sem ser mirado e admirado pela estátua de Silvio Romero, que ali está erguida ainda, única na cidade a contemplar, não o Sol Nascente, mas ao mesmo Sol no seu Poente, talvez por um acaso servil dos homens que a ergueram, mesurando o casario que lhes era então mais nobre, na Praça localizado, ou era um pouco assim por simples cortesia.
A senhora sua mãe, Professora Maria da Glória Menezes Portugal, ou Professora Glorita, deu ao “Fessô”, como assim o chamava, por seu antigo Mestre, os seguintes filhos: Eglantina, a mais velha, batizada assim como espécie de rosa selvagem com cinco pétalas rubras, nativa da Europa e Ásia Ocidental, utilizada como símbolo da ideologia socialista, Bióloga de formação, servidora do Instituto Parreiras Horta, primogênita que faleceu tragicamente num ataque de abelhas africanas em plena via pública, quando do seu retorno do trabalho entre a Rua Campo do Brito e a sua residência na Praça Camerino; Tornélia, segunda filha, outro nome de flor que também está falecida, Fortunato, homenageando o avô pai do “Fessô”, também falecido; Inácio, casado com Maria, Fedro, o nosso amigo médico, Eglélia, esposa do Professor Antônio Fontes Freitas, e Verbena, a rosa caçula.
Se o Professor Portugal era um cultor de muitos idiomas e poliglota, chegara a brigar muitas vezes com a menina, Glorita, sua jovem esposa, querendo que ela estudasse continuamente, chegando mesmo a encolerizar-se quando esta queria nas suas horas vagas, perder tempo costurando e bordando, e cuidando das coisas do lar.
Por tal insistência de Portugal, Glorita se fez Professora do Colégio Tobias Baretto do Professor Alcebíades Vilas-Boas, prestando depois concurso para Professor Catedrático de Francês do Colégio Atheneu Sergipense.
Do seu concurso para Professor Catedrático d Atheneu Sergipense, Glorita defendeu a tese “Traits Biograpiques de Madame de Sévigné et Une Étude Minutieuse de L’accord du Participe Passé”, da qual possuo uma publicação, quando foi aprovada com louvor.
Dos que assistiram a defesa da tese sobre Madame Sévigné e o Particípio Passado, conta-se que um dos examinadores a quis arguir em português, “a fim de que o auditório bem melhor pudesse acompanhar o exame”.
Glorita respondeu-lhe, algo assim na bucha. “Pardonnez-moi, Votre Excellence! Cést ici na pas um test de portugais, c’est un test de de Français! Votre Excellence peut demander en portugais, il n’y a pas de problème. Pour ma part, je demande a monsieur le President de la cour pour me autorizer a vous repondre en français”. “Isso aqui não é uma prova de Português, mas de Francês. Vossa Excelência pode perguntar em português que eu lhe responderei em francês, sem problema. Por minha parte, Senhor Presidente da Banca , peço que me autorize a responder em francês”.
E assim aconteceu, inclusive para alguns risos mal contidos da plateia; o examinador questionando em português, eGlorita respondendo a todos com um francês fluente e castiço.
Do filho, Fedro Menezes Portugal, enquanto vestibulando, conta-se que foi o único postulante que escolheu o Alemão, como disciplina eletiva, já que aquele tempo o candidato podia escolher Inglês, Francês ou Alemão.
Conta-se, e isso ficou no seu folclore, porque foi um problema encontrar um examinador que se arvorasse a examiná-lo no idioma de Johann Wolfgang von Goethe, o poeta teatrólogo de Fausto.
Em fáustica indecisão, convocaram o Professor Lourival Bonfim, recentemente chegado da Alemanha para arguir aquele rebento do Professor Portugal.
E o resultado sou eu quem o diz, floreando o feito e alardeando o fato, relatando que Lourival Bomfim lhe dera a nota máxima sem mesmo o arguir, o que fazia Fedro sempre sorrir, quando eu assim contava, mesmo moribundo me dizendo, pouco antes de nos deixar: – “Não foi bem assim, Odilon!. Isso é conversa sua!”
Conversa ou não, há um fato acontecido quando Fedro ainda era solteiro, e acadêmico de Medicina, quando chegou em sua casa, na Praça Camerino, uma carta perfumada pelo correio.
A carte chamou logo muita atenção, porque além de odorante, era endereçada a “Fedro Portugal, expoente lúcido da juventude atual”.
Seria um feito inusual e olvidável, não fosse a missiva recebida por sua noiva, Selma, e por Verbena, sua irmã, que juntas abriram o envelope no vapor de uma chaleira, e depois a fecharam com esmerado cuidado, colocando-a bem a vista de destinatário que estava ausente.
Pelo conteúdo da carta e pela carranca de Selma, o destinatário da missiva viu que a mesma fora violada, e assim melhor seria não dar qualquer bandeira do que seria e conteria.
Levou então a carta para o Pronto Socorro do Samdu onde estagiava, e ali a abrira com alguns colegas de Faculdade, recompondo-a com novo texto, imitando até a letra e o floreado, agora com o desplante do novo bilhete conter uma curiosidade patranha da pretensa “autora da carta”, ousando querer saber até notícias de “Selma, sua noiva, tão querida!”
Desta carta famosa, novamente fechada e sem deixar vestígios ou largando muitos rastros, Selma veio a saber, ficando como fato e proeza do deleite do casal, tudo sendo perdoado e motivo de muitos sorrisos, para sempre, num feito pacificado em cinquenta e cinco anos de felicidade conjugal.
Ou seja, se a carta viera para tumultuar o noivado, só fez apressar o casamento, num feito sempre relatado pelo casal nas nossas muitas lembranças em risos.
Se eu conhecia Fedro desde a infância, o Rotary nos aproximou, afinal Selma era muito amiga de Tereza, minha mulher, desde a infância também, e juntos nos enfronhamos sempre nas viagens e roteiros Rotários ou não, as nossas famílias crescendo e convivendo, eles com Fedrinho, Glorinha e Joaninha e aqueles que deles chegaram, e nós com Daniela, Machado e Junior, e o que nos chegaram também.
Neste texto já muito alongado, eu não quis falar do Médico, nem mesmo também do Professor, de minha filha Daniela.
Deixo tal testemunho para os seus companheiros de classe, muitos o fazendo em pira ardente, até porque ele onde esteve foi de grande destaque: na Sociedade Médica de Sergipe; na Academia de Medicina; na Sociedade de Dermatologia, Secção de Sergipe; e na Sobrames, esta entidade única que enaltece, tantos bons Médicos Escritores.
Do Professor da Universidade Federal de Sergipe, com a UFS não muito presente nas homenagens prestadas, bom seria que lhe outorgasse, quem o sabe, um título de Professor Emérito “Post Mortem”, se é que isso seja permitido por seus Estatutos, já que são vastos os seus grandes merecimentos em longa vida docente.
E neste testemunhar professoral, estou a lembrar três alunas residentes, oriundas de outros Estados da Federação, que o visitando no seu leito final, reconheceu-as todas, nomeando-as e ouvindo delas a sua admiração e carinho, por tudo quanto haviam aprendidos com a sua inteligência.
Foi um presente que me emocionou sobremodo, por ser explicitado na presença minha e de outros circunstantes, de um agradecimento explicitamente exaltado de um dever cumprido, firmado para sempre, na sua formação médico-científica.
Se dos professores, maior é a missão de plantar nos jovens a semente de esperança, aquelas três alunas como boa causa plantada, o faziam como vasta geração de estudantes do Atheneu por início, do Curso Beta de Vestibulares que fundou e lecionou Biologia, e de tantos estudantes médicos e residentes, ele que foi um lidimo continuador da obra de seu mestre mais próximo, o Professor Décio Calheiros.
De Selma, sua companheira única de todos os momentos, direi que foi dela o fraquejar que mais o abateu e debilitou em sua lucidez, que tudo via acontecer ao seu redor, e nada podia fazer para melhor interferir.
Muitas coisas eu poderia dizer ainda, mas as palavras seriam insuficientes para traduzir tanta saudade.
Direi apenas que perdi um grande amigo.
Ele nos deixou e a muitos, como eu, bem menores, ou bem piores, na nossa menor dimensão apequenada!
Mas a vida é sempre assim, sempre eivada de alegrias e saudades.
Pedro Henrique calouro de Medicina com o Pai e o Avô orgulhosos.
Se a saudade nos baqueia, a alegria nos avisa que a felicidade nos conduz sempre em novos desafios e continuadas esperanças.
Se Fedro Portugal, o Médico e Amigo nos deixou muitos pesares, eis que surge o meu neto Pepo, meu futuro Médico, Dr. Pedro Henrique, com a sua cabeleira ainda vasta por tingida de louro, nos dando imensas alegrias, em novo trâmite das calouradas renovadas, ingressando agora na UFS pelo próprio mérito, no elenco vitoriado pelo Colégio Master.
Ele será Médico, com os seus esforços com Fé em Deus!, que nos protege sempre!
Que seja também como Dr. Fedro Portugal, se imortalizando no feito e na memória!
Pedro Henrique, que por suas escolhas, irá amenizar a dor e o sofrimento, missão divina de tentar curar do homem os seus medos em tantos males.
Que Deus os abençoe, a ambos!
Texto e imagens reproduzidos do site: infonet com br/blogs
terça-feira, 28 de janeiro de 2025
Dr. Fedro Portugal: O Médico, O Gênio, O Mito
Dr. Fedro Portugal: O Médico, O Gênio, O Mito
Por Fausto Leite (do blog infonet)
Poucos homens conseguem deixar um legado tão imortal quanto Dr. Fedro Portugal. Ele não foi apenas um médico, foi um mestre, um cientista da medicina, um amigo leal, um marido apaixonado, um pai exemplar e um contador de histórias imbatível. Se Sergipe tivesse um panteão dos grandes nomes da medicina, o trono principal já estaria reservado para ele.
Esqueça aquela ideia de médico sisudo, de jaleco impecável e cara amarrada. Dr. Fedro era um furacão de sagacidade e inteligência prática! Ele não apenas entendia de medicina, ele vivia a medicina, dominando sua profissão com um conhecimento que parecia coisa de outro mundo. Mas o mais impressionante? Ele fazia tudo parecer fácil.
O paciente entrava no consultório apreensivo, achando que ia encarar um diagnóstico complicado, e saía dali rindo, curado e sem nem perceber como aquilo aconteceu! Era quase mágico. Se duvidasse, ele ainda soltava uma piada no final da consulta e te mandava embora mais leve, tanto na saúde quanto na alma.
Teve um caso clássico de um amigo que, insatisfeito com sua pele, resolveu procurar um especialista em São Paulo. Perguntou ao Dr. Fedro quem ele recomendava. Sem rodeios, ele indicou um nome de peso. O paciente pegou um avião e foi cheio de expectativas.
Ao entrar no consultório do dermatologista paulistano e mencionar que era de Sergipe, ouviu a seguinte resposta: — Rapaz, você perdeu sua viagem! Em Sergipe, vocês têm o melhor dermatologista que já conheci na minha vida: Dr. Fedro Portugal. Esse era Dr. Fedro: referência nacional, mesmo sem precisar bater no peito ou ostentar títulos. Ele era um patrimônio vivo da medicina.
Se tem uma coisa que Dr. Fedro Portugal fazia com maestria—além de curar almas e corpos—era cuidar de quem ele amava. E ninguém foi mais sortuda do que Dra. Selma, a prova viva desse carinho incondicional. Quem convivia com os dois sabia: aquele homem era um romântico nato, daqueles que já não se fazem mais!
Não precisava de flores ou declarações melosas—o amor dele estava nos gestos, no jeito de abrir a porta do carro, na paciência tranquila ao esperar por ela, no olhar cúmplice que dizia tudo sem precisar de palavras. Um verdadeiro cavalheiro, que não só conquistou o coração de Selma, mas também o respeito e a admiração de todos que testemunharam esse amor bonito de se ver.
Ele tinha um ritual sagrado: sempre abria a porta do carro para ela. Sempre. Não importava se estavam na porta de casa ou pegando vento na Orla. Era um gesto pequeno, mas carregado de respeito, amor e elegância. E, quando queria algo dela, não era qualquer chamado. Era um grito de guerra – mas daqueles cheios de afeto: — Ô, Selma!
Quem escutava até podia pensar que era uma bronca, mas quem conhecia sabia: era pura devoção.
Na pandemia, muitas pessoas se isolaram, mas Dr. Fedro e Dra. Selma seguiam seus rituais. Andavam juntinhos, de mãos dadas, pelos lagos da Orla, depois pegavam o carro, e lá vinha Dr. Fedro abrindo a porta para ela de novo. Esse era ele: um cavalheiro sem esforço, elegante por natureza.
A casa de Dr. Fedro era mais movimentada do que a sala de espera de um hospital. Fedrinho, Joaninha, Glorinha, os netos, os amigos dos filhos, os sobrinhos… Todo mundo encontrava abrigo lá. Ele não era só pai e avô. Ele era um porto seguro.
E, como todo grande patriarca, sabia a hora certa de ser brando ou firme. Quando tudo estava bem, ele deixava a turma seguir seu caminho. Mas quando alguém saía da linha, bastava um olhar firme e um suspiro profundo para todo mundo entender o recado. Sem gritos, sem exageros. A autoridade vinha do respeito e da admiração que todos tinham por ele.
E olha que ele sabia soltar o verbo quando queria! Mas até quando dava uma bronca, fazia isso com classe e humor. E ninguém nunca ficava magoado – pelo contrário, saía da conversa dando risada e refletindo ao mesmo tempo.
Dr. Fedro não era só um mestre na medicina. Ele era um mestre na arte de contar histórias e fazer rir. Seus amigos sabiam: qualquer encontro com ele vinha acompanhado de piadas afiadas e inteligentes. Não era aquele humor bobo ou sem graça. Era humor de nível elevado, daqueles que faziam a gente rir e ainda aprender alguma coisa no processo.
Além de sua trajetória brilhante como médico, Dr. Fedro Portugal também reinava nas reuniões do Rotary e da maçonaria como um verdadeiro mestre do conhecimento e do bom humor. No Rotary Club, ele não era do tipo que só aparecia para bater palma e comer canapés—ele arregaçava as mangas e fazia acontecer! Se tivesse um projeto social, lá estava ele, liderando, orientando e, claro, soltando uma boa piada no meio do caminho.
Na maçonaria, sua presença era lendária. Não era daqueles que falavam bonito, mas no fundo não diziam nada—quando Dr. Fedro abria a boca, todo mundo parava para ouvir. Sua sabedoria era tão natural que até os mais antigos olhavam para ele com respeito. E nas reuniões? Era aprendizado garantido, com uma pitada de sarcasmo e um humor fino que deixava qualquer ambiente mais leve. Ele não precisava forçar nada—sua inteligência e seu carisma falavam por si só.
Até quando fumava, ele sabia fazer com estilo. Nada de gestos desleixados ou exageros. Tudo nele tinha uma estética própria. Ele sabia se portar, se vestir, se expressar – um verdadeiro gentleman da velha guarda.
Dizer que Sergipe perdeu um médico brilhante é reduzir demais a grandiosidade de Dr. Fedro Portugal. A medicina perdeu um de seus gigantes. A sociedade perdeu um dos seus maiores intelectuais. E todos nós perdemos um amigo, um mentor, um exemplo.
Mas algumas pessoas simplesmente não morrem. Elas seguem vivas nas histórias, nas memórias e no impacto que deixaram no mundo. E Dr. Fedro Portugal foi uma dessas raras pessoas.
Seus ensinamentos ecoarão nas salas de aula, nos corredores dos hospitais, nas piadas contadas entre amigos e, claro, nos corações de todos que tiveram o privilégio de conhecê-lo.
Obrigado, Dr. Fedro, por tudo que você fez, por tudo que você foi e por tudo que você continuará sendo na vida de quem teve o privilégio de te conhecer.
Texto reproduzido do site: infonet com br/blogs/fausto_leite