Por Lilian Rocha
Meu pai tinha uma grande admiração por ele. Dizia que ele
era um homem de grande visão empreendedora. E ele, por meu pai. Não apenas uma
admiração pelo homem culto que foi meu pai, mas nutria também uma gratidão
profunda, por causa de uma gentileza que meu pai lhe fizera, lá pelos idos de
1977.
Sabendo que ele e a esposa estavam de viagem marcada para
Madrid, meu pai pediu à minha irmã Suzana, que morava lá, para servir de
cicerone ao casal. Prontamente, minha irmã concordou e só no dia seguinte, foi
que ela soube que o tal casal era o então prefeito de Aracaju, João Alves
Filho, e sua esposa, Maria do Carmo.
Mas não foi com “o prefeito” que ela passou o dia todo, pra
cima e pra baixo, de táxi e de metrô, visitando praças, monumentos, fontes
luminosas e galerias. Foi com o amigo de meu pai, homem simples, gentil e
educado, que jamais esqueceu a atenção e a prestimosidade que recebera dela.
Só anos mais tarde, como assessora do secretário de
Planejamento, foi que minha irmã teve a oportunidade de trabalhar para “o
governador” João Alves e conhecer mais de perto “aquele homem perspicaz, que
adorava ler, escrevia muito bem e tinha uma inteligência acima da média”, como
ela mesma costuma dizer, ao se referir a ele.
Além de Dr. João, meu pai também tinha outra grande
admiradora naquela família: D. Lourdes, a mãe dele. Ela era uma ouvinte assídua
do programa “Rádio Revista”, que meu pai fazia na Rádio Cultura, não perdia um.
E normalmente ligava para ele ao final do programa, para cumprimentá-lo. Com
isso, meu pai também passou a ser muito grato a Dr. João, pelo carinho genuíno
que sua mãe lhe dedicava, sem ao menos conhecê-lo.
Essa mistura de ‘admiração e gratidão’ de ambos foi
crescendo ao longo dos anos e se estendendo por toda a nossa família. Lá em
casa, João Alves era unanimidade.
Mas João Alves entrou na minha vida indiretamente, através
de sua irmã Marlene. Nós nos conhecemos na Escola Normal, quando éramos
professoras da mesma disciplina, e a partir dali, nos tornamos amigas e
parceiras de trabalho. Graças à Marlene, me tornei professora de português e
também radialista, como meu pai. Passei a ter por ela não só uma grande
admiração, mas também uma profunda gratidão, que foi se estendendo ao longo dos
anos.
Marlene também era uma fã incondicional de meu pai e assim
que se tornou superintendente da Fundação Aperipê, convidou-o para fazer um
programa de rádio lá.
Certo dia, quando João Alves estava governando o estado pela
segunda vez e nós estávamos trabalhando juntas na Aperipê, Marlene me levou
para conhecer sua mãe, D. Lourdes.
Conhecer a mãe de alguém é o mesmo que entrar na intimidade
daquela pessoa. É conhecer suas origens, entender o que está por trás de tudo,
ver de perto a árvore que gerou aquele fruto.
D. Lourdes era uma senhorinha gentil e simpática que vivia
sorrindo. Sempre muito discreta, era feliz na sua simplicidade e avessa a
qualquer tipo de exibição e holofotes. Nem parecia ‘a mãe do governador’.
Porque no coração dela, João era apenas João, seu filho. Ele não precisava ser
prefeito nem governador para ela sentir orgulho. Ser seu filho já lhe bastava.
Foi essa simplicidade dela que me cativou logo de cara e me
fez entender por que meu pai também lhe queria tanto bem.
Poucos meses depois que a conheci, ela se foi. E eu passei
toda aquela madrugada triste ao lado de Marlene. Foi uma dor que também doeu em
mim e, no dia seguinte, ainda emocionada, acabei escrevendo um texto sobre D.
Lourdes que posteriormente li no meu programa de rádio.
Na missa de sétimo dia, Marlene pediu emprestado esse texto
e o leu na igreja. Ao final da missa, aquela fila interminável para os
cumprimentos. E como era uma missa pela mãe do governador, a fila tinha três
vezes mais gente do que comumente teria...
Quando estava quase chegando a minha vez de cumprimentar a
família, comecei a ficar nervosa. Eu iria falar pessoalmente com ninguém mais,
ninguém menos, que João Alves, o governador do Estado! Seria a primeira vez que
eu estaria tão próxima de um chefe de estado!
Mas não foi a mão do governador que eu apertei naquele dia.
Nem do prefeito, nem do político nem do engenheiro. Foi de um filho sofrido que
havia perdido a mãe.
E de súbito, ele olhou pra mim e com os olhos cheios d´água,
me disse: “Foi muito bonito o que você escreveu pra minha mãe. Muito obrigado!”
Eu nunca conheci pessoalmente o João Alves de quem todos
falavam. O João Alves da Coroa do Meio, o João Alves da Orla, o João Alves da
ponte. Mas por alguns segundos, estive frente a frente com o filho de D.
Lourdes, doce e gentil como ela, que não conseguia esconder a emoção por ter
que dar adeus a ela.
Poucos são aqueles que conseguem passar pela vida deixando
uma marca. Mas por onde quer que olhemos hoje, vamos ver as inúmeras marcas
deixadas por João Alves em Aracaju.
Despeço-me, portanto, do amigo de meu pai e de minha irmã,
do filho querido de D. Lourdes, do irmão e companheiro de Marlene e daquele
homem simples, que me apertou a mão e me agradeceu.
Foi muito bonito ver o estado todo lhe prestando homenagens,
sinal de que ele realmente foi um grande estadista.
Mas foi muito mais bonito sentir que aquele grande político,
capaz de tão grandes feitos e o filho de D. Lourdes, doce e gentil como ela,
eram a mesma pessoa...
Texto e imagem reproduzidos do Facebook/Lilian Rocha
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