quinta-feira, 25 de setembro de 2025

Morre o sanfoneiro Zé Américo de Campo do Brito


Publicação compartilhada do site RADAR SERGIPE, de 25 de setembro de 2025

Morre o sanfoneiro Zé Américo de Campo do Brito

A música e a cultura sergipanas estão de luto, com a morte do sanfoneiro e comerciante Zé Américo de Campo do Brito. Dono de um restaurante no Mercado de Aracaju, era uma pessoa agradável e bastante receptiva.

A cultura sergipana e, em especial, o município de Campo do Brito, amanheceram de luto nesta quinta-feira, 25 de setembro de 2025, com a triste notícia do falecimento de José Américo Cavalcante de Souza, mais conhecido como Zé Américo de Campo do Brito. O sanfoneiro, que dedicou sua vida à preservação e celebração do autêntico forró nordestino, deixa um legado imensurável e uma lacuna profunda no cenário musical e cultural do estado.

Nascido em 1955, no pé da serra do município de Campo do Brito, no povoado de Caatinga Redonda, Zé Américo era filho de seu Albino e dona Laíza Albina. Desde a infância, o forró esteve presente em sua vida, moldando sua paixão pela música e pela cultura de sua terra. Sua trajetória musical começou de forma humilde, chegando a vender cabras e uma égua para adquirir sua primeira sanfona, um testemunho de sua dedicação inabalável à arte.

 Zé Américo não apenas tocou forró; ele viveu e respirou a essência do Nordeste. Suas canções, como a emblemática "A velha casa de farinha", retratavam com lirismo e autenticidade a vida na roça, o trabalho árduo e as tradições do povo sergipano. A música, gravada em 2005, é um retrato vívido da rotina de arrancar mandioca, tirar a manipueira e fazer beiju para vender na feira, um modo de vida que ele ajudou a eternizar através de sua arte.

 Após um período em São Paulo, onde buscou novas oportunidades, Zé Américo retornou a Sergipe em 1981, consolidando sua carreira no estado. Ele se tornou uma figura proeminente no cenário musical sergipano, participando de grandes festas e eventos, além de programas de televisão locais. O lançamento de seu CD "Sonho de um Agresteiro" marcou um ponto alto em sua carreira, projetando ainda mais seu talento e a riqueza do forró autêntico.

 Zé Américo de Campo do Brito era mais do que um sanfoneiro; ele era um embaixador da cultura sergipana. Sua música e sua presença eram sinônimos de orgulho para Campo do Brito, um município que, com aproximadamente 18.149 habitantes (censo de 2022), é um berço de tradições. Ele manteve vivo um vasto repertório que representava a alma do forró e a identidade cultural de Sergipe.

 A partida de Zé Américo deixa um vazio, mas sua voz e sua sanfona continuarão a ecoar nas memórias e nos corações de todos que tiveram o privilégio de conhecer sua obra. Seu legado, de dedicação, autenticidade e amor pela cultura nordestina, permanecerá como inspiração para futuras gerações de artistas e amantes do forró. Campo do Brito e Sergipe se despedem de um de seus maiores filhos, mas a melodia de Zé Américo será eterna.

Texto e imagens reproduzidos do  seite: radarse.com.br

quinta-feira, 18 de setembro de 2025

Morre aos 83 anos o cantor Djalma, o seresteiro de Aracaju

Foto compartilhada do Facebook/Ludwig Oliveira 

Publicação compartilhada do site F5 NEWS, de 18 de setembro de 2025

Morre aos 83 anos o cantor Djalma, o seresteiro de Aracaju

Artista deixa legado do seu amor pela música e por Sergipe que ultrapassou gerações  

Por Agência Sergipe

Morreu, nesta quinta-feira (18), aos 83 anos, o cantor sergipano Djalma Silva Oliveira, conhecido como o seresteiro de Aracaju.

Nascido no dia 26 de maio de 1942, no município de Boquim (SE), o artista se popularizou no estado com sua voz inconfundível que marcou as noites de serenata e alcançou gerações. Ele também fez parte do trio Atalaia, grupo que marcou a capital sergipana nas décadas de 1960 e 1970.

O corpo do artista será velado na Osaf localizada na rua Itaporanga, 436, a partir das 13h.

Texto e imagem reproduzidos do site: www f5news com br

segunda-feira, 1 de setembro de 2025

"Francisco José Alves: um memorável mestre", por Amâncio Cardoso

Professor Francisco José Alves, “Chico Padre”

Professor Francisco José Alves faleceu no último dia 28

Artigo compartilhado do site DESTAQUE NOTÍCIAS, de 31 de agosto de 2025

Francisco José Alves: um memorável mestre
Por Amâncio Cardoso *

No dia 28 de agosto de 2025, o campo historiográfico de Sergipe sofreu grande perda. Refiro-me ao falecimento do professor Francisco José Alves, do Departamento de História da UFS (Universidade Federal de Sergipe).

Professor Francisco dedicou toda sua vida ao ensino e à pesquisa de História desde 1987, quando ingressou na UFS como docente efetivo. Nesse ano, fui seu aluno. E ali se iniciou uma amizade. A partir de então nosso vínculo acadêmico tornou-se também fraterno.

O professor era doutor em História pela UFRJ (1998), mestre em Antropologia pela UNB (1990) e graduado em História pela UFS (1984). Estas formações superiores lhe deram arsenal teórico e metodológico para tratar de problemas no campo das Ciências Humanas com clareza e vivacidade, o que encantava seu alunado.

A importância da atuação acadêmica e intelectual do professor Francisco nas últimas décadas, frente ao Departamento de História, é muito considerável. Afirmo isto porque fui seu aluno durante a graduação, nas disciplinas de Teorias e Metodologias da História, bem como de Fundamentos de Antropologia. Além disso, ele me acompanhou com leituras minuciosas, críticas, indicações, empréstimos e doações de livros durante a minha graduação e pós-graduação.

Fui testemunha ocular do mestre que nos apresentava os clássicos incontornáveis: Karl Marx, Friedrich Nietzsche e Max Weber. Assim como, aqueles que marcaram os estudos historiográficos no mundo ocidental: Lucien Febvre, Marc Bloch, Fernand Braudel, Georges Duby, Edward Carr, Philippe Ariès, Paul Veyne, Pierre Bourdieu, Michel Foucault, Heyden White, Keith Jenkins, Peter Burke, Robert Darnton, Carlo Ginzburg, só para citar alguns.

Para além da pesquisa, ele também se preocupava, obsessivamente, com a qualidade textual ou a síntese. Assim, sempre nos recomendou a ficção clara e objetiva de Graciliano Ramos, dentre outros, como exemplo. Ou ainda, várias crônicas ou contos machadianos para os exercícios da escrita. Além de clássicos manuais de redação.

Ele também nos receitava, por exemplo, a maestria imaginativa de um Gilberto Freyre; o conhecimento farto das fontes de um Capistrano de Abreu ou a riqueza temática de um Câmara Cascudo para o tirocínio da pesquisa. E de quebra, nos apresentava a análise refinada de um Antônio Cândido; a perspicácia inovadora de um Sérgio Buarque de Holanda, para ficar no âmbito dos estudos nacionais.

Já em Sergipe, ele nos ensinou a importância da compilação de documentos feita por Felisbelo Freire e Maria Tétis Nunes, como contribuição para futuras pesquisas. Além de nos fazer perceber a importância da catalogação das fontes, como gesto generoso e útil aos futuros pesquisadores, e para a melhoria da qualidade das pesquisas, uma de suas preocupações.

Aliás, ele sempre foi grato à professora aposentada da UFS, Beatriz Góis Dantas, por lhe ensinar os caminhos da pesquisa acadêmica, tendo a mestra como referência. Francisco também admirava seu antecessor na disciplina de Teoria, José Silvério Leite Fontes (1925-2005) como uma das inteligências de nossa historiografia.

Com esta base, professor Francisco não transigia com banalidades. Ele valorizava o contato direto do neófito com as fontes de época para respirar sua ambiência, perceber seus matizes e desviar-se do anacronismo, pecado maior do historiador. Suas oficinas de uso das fontes históricas foram inesquecíveis.

Enfim, o professor era um humanista apaixonado por nossas virtualidades no passado, diretamente influenciado pelo historiador e filósofo Henri Marrou (1904-1977). Professor Francisco nos aproximava de textos sempre com a preocupação da leitura que disseca, fragmenta, querendo nos fazer perceber o método do autor, analisar seu discurso, para chegar à síntese interpretativa.

Não esquecerei quando dizia que as palavras têm sabor, têm peso, que ponderássemos seus significados. Dava-nos indicações de obras literárias ou emprestava-nos livros de sua generosa biblioteca para esmerilhar o discente na arte de pesquisar e escrever: “pois qualquer pesquisa acaba em texto”, advertia-nos.

A contribuição do professor Francisco José Alves para a formação de novos historiadores era lastreada no conhecimento de uma literatura erudita e diversificada; na consciência da precariedade da verdade histórica e no respeito às diferentes formas de concepção e vivência da cultura.

O professor também não descurava do rigor científico, cobrava do aprendiz os procedimentos e normas do ofício historiográfico. Ele também insistia, como disse, na importância das fontes como matéria fundamental de nosso ofício. Porém, seria mister ultrapassá-las com doses de interpretação e imaginação. Assim, seria preciso unir engenho e arte, ensinava.

Hoje, uma fieira de ex-alunos do mestre Francisco José Alves continua seu legado. Eles contribuem para a historiografia com trabalhos que versam sobre os mais variados problemas, objetos e abordagens.

Assim, a memória do professor Francisco permanece viva nas salas de aula de História, em Sergipe ou em outros estados, no trabalho de seus discípulos.

Obrigado, mestre! Descanse em paz.

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* Historiador

Texto e imagens reproduzidos do site: destaquenoticias com br