terça-feira, 27 de maio de 2025

Nota de Pesar pelo falecimento do Monsenhor José Carvalho de Souza

Nota compartilhada da ARQUIDIOCESE DE ARACAJU, de 26 de maio de 2025

Nota de Pesar pelo falecimento do Monsenhor José Carvalho de Souza

Nota de Pesar

Com profundo pesar e esperança cristã na Ressurreição, a Arquidiocese de Aracaju comunica o falecimento do estimado Monsenhor José Carvalho de Souza, ocorrido nesta segunda-feira, 26 de maio. Aos 98 anos, Monsenhor Carvalho encerra sua peregrinação terrena, deixando um legado extraordinário de quase sete décadas dedicadas ao serviço religioso, educacional e cultural ao povo sergipano.

Diretor do Colégio Arquidiocesano e voz marcante da fé, por meio da Rádio Cultura, Monsenhor Carvalho foi um incansável anunciador do Evangelho, cuja vida e obra marcaram profundamente nossa Arquidiocese. Logo após assumir o pastoreio desta Igreja Particular, em agosto de 2024, tive a alegria e a honra de visitá-lo pessoalmente, testemunhando de perto seu testemunho de fé e compromisso sacerdotal exemplar.

Sua memória permanecerá viva em nossos corações e nos frutos de sua ação pastoral, educacional e cultural. Consola-nos saber que sua vida foi sinal de entrega e fidelidade. Acolhido agora nos braços do Bom Pastor, permanece entre nós o testemunho de um sacerdote que amou com intensidade a Igreja e o povo que lhe foi confiado.

Que Nossa Senhora da Conceição, padroeira desta Arquidiocese, interceda pelo descanso eterno de Monsenhor José Carvalho e conforte os corações de todos os que sentem sua partida.

Em Cristo Ressuscitado,

Dom Josafá Menezes da Silva

Arcebispo Metropolitano de Aracaju

Texto e imagem reproduidos do site: arquidiocesedearacaju org

segunda-feira, 19 de maio de 2025

A saga dos Paes Mendonça: de supermercados aos shoppings

João Carlos Paes Mendonça é presidente do grupo, do 
conselho de administração e estrategista do JCPM

Mamede foi o primeiro Paes Mendonça a empreender na Bahia 
Crédito: Correio da Bahia

A Rede Paes Mendonça chegou a ter 87 lojas em Salvador 
Crédito: Correio da Bahia

O primeiro supermercado Paes Mendonça de Aracaju foi construído 
na praça da Estação Rodoviária Luiz Garcia

O Shopping RioMar, primeiro de Aracaju, pertencente ao Grupo JCPM

 Artigo compartilhado do site DESTAQUE NOTÍCIAS, de 19 de maio de 2025

A saga dos Paes Mendonça: de supermercados aos shoppings.
Por Donaldson Gomes

Pedro teve a ideia de oferecer uma caneca com água para os viajantes que passavam pela sua mercearia em Ribeirópolis, um povoado na Serra do Machado, em Sergipe. Aquele local provavelmente não seria o escolhido para um negócio de varejo com base nas ferramentas modernas de marketing que hoje guiam as grandes redes na escolha da melhor localização. Foi a inovação do pioneiro da família Paes Mendonça, de saciar a sede como um algo mais no negócio, que fez daquele local o berço do Grupo JCPM – hoje um dos maiores conglomerados empresariais do Nordeste, que tem na sua sigla as iniciais do filho de Pedro: João Carlos Paes Mendonça.

Na última segunda-feira (dia 12), a mercearia de Pedro Paes Mendonça ganhou vida novamente, para o espanto generalizado de quem estava na festa de celebração dos 90 anos do grupo. Além do balcão, com as lamparinas para iluminar as noites em 1935, estava ali a projeção holográfica do próprio Pedro, com a voz recriada por inteligência artificial, dando conselhos aos filhos e netos em relação ao futuro. “Uma caneca de água nos trouxe até aqui”, destacou a projeção com um realismo impressionante. Era apenas o início de uma ode ao empreendedorismo sertanejo que marca a história dos Paes Mendonça, que partiram da Serra do Machado para conquistar os principais mercados nordestinos.

Na Bahia, o mais conhecido representante da família foi Mamede Paes Mendonça, irmão de Pedro e tio de João Carlos. Muitos anos antes do “ali, pertinho do Bompreço”, já existia o “se precisar de alguma coisa, vai no Paes Mendonça”, rede que chegou a ter 86 lojas somente na capital baiana. Em Feira de Santana, as unidades que ficavam perto da rodoviária e a do bairro do Sobradinho eram garantia de encontrar com facilidade produtos normalmente vistos nas grandes capitais.

Na década de 90, a rede vendeu as 59 lojas que ainda lhe restavam para um grupo de investidores, que criou a Unimar, encerrando a trajetória da marca no estado. O sobrenome Paes Mendonça, entretanto, seguiu vivo no varejo supermercadista por mais tempo, com a marca Bompreço, de Pedro e João Carlos. Hoje, o Grupo JCPM mantém dois dos principais shoppings centers da capital baiana, o Salvador e o Salvador Norte.

A emoção de ver a imagem do pai projetada fez o seu João Carlos quebrar rapidamente o protocolo. Tinha um discurso escrito, mas olhou para o Teatro RioMar, dentro do shopping de mesmo nome construído por ele, respirou e disse, sem muito sucesso ao tentar conter a emoção: “é duro minha gente, receber a indicação do meu pai do que fazer. Ele voltou para nos dizer o que fazer”.

“Esta é uma noite para celebrar os encontros de uma família forte e guerreira”, destacou João Carlos, já lendo o discurso. Segundo ele, o pai , que por toda a sua vida tinha se dedicado ao campo, não imaginava que estava plantando a semente de um gigantesco grupo empresarial. Mais cedo, numa conversa informal com jornalistas, o empresário atribuiu à capacidade de inovação o sucesso empresarial da família. Neste sentido, se o pai teve a ideia de oferecer água aos passantes, João Carlos, com o Bompreço, foi o responsável por colocar no mercado o cartão de crédito Hipercard e o Bomclube, um dos primeiros cartões fidelidade no ramo supermercadista do Brasil.

Nem é preciso que seu João Carlos argumente muito para provar a capacidade de inovação do Grupo JCPM. Num país em que apenas 0,01% das empresas chegam ao primeiro século de atividade, sobreviver por 90 anos, driblando planos econômicos e a insegurança jurídica, que são marcas do Brasil, demonstram que há algo diferente na empresa. E foi justamente esta certeza que fez o empresário de 86 anos encerrar as suas palavras em Recife convidando os presentes para a celebração do centenário do JCPM.

Gratidão é uma palavra muito presente no discurso e nas ações do empresário. O tio Mamede foi lembrado na história do grupo por ter ajudado, junto com outros empresários locais, Pedro e João Carlos a reconstruírem um armazém que foi incendiado em 1949. A solidariedade se sobrepôs à lógica concorrencial e gerou uma gratidão que ultrapassou décadas.

O incêndio é contado no primeiro capítulo do livro ‘JCPM – O grupo e a trajetória de João Carlos Paes Mendonça, o empresário que gosta de gente, de trabalho e de mudar a vida das pessoas’. Seu Pedro precisou conter o filho, na época com 20 anos, para evitar que ele tentasse enfrentar as labaredas. “Se entrar, você morre”. A biografia, escrita pelo jornalista Saulo Moreira, faz questão de registrar os nomes de quem estendeu a mão no momento crítico. Mamede e Euclides, irmãos de Pedro, o concorrente Gentil Barbosa, além de amigos da família, como Antônio e Manoel Andrade, estão entre os que se fizeram presentes. Antônio avisou à sua tesouraria que todos os recursos pedidos por João deveriam ser providenciados.

Há dois capítulos que merecem ser lidos com muita atenção. O número 6 conta a história do Bompreço, do seu nascimento nos anos 70, passando pela conquista do Nordeste, até o final da saga nos anos 2000. No 10º, o recomeço do grupo traz o retorno de seu João Carlos a Salvador. Destaques para a história da compra do terreno em que seria construído o Hiper Bompreço na Avenida ACM e, anos mais tarde, do Salvador Shopping, na Avenida Tancredo Neves, com um investimento de R$ 300 milhões na época – quase R$ 1 bilhão em valores atualizados. Alguns anos depois, foi a vez do Salvador Norte, com investimento de R$ 200 milhões (cerca de R$ 516 milhões em números atuais).

O advogado João Paulo Cavalcante Filho, responsável pelo prefácio do livro, diz que a obra conta “a história improvável de um menino que trocou sua infância pela aventura (quase insana) de conquistar o mundo”. E não há nada de exagero nestas palavras. João Carlos gosta de repetir que começou a trabalhar aos 9 anos e fez questão de comprovar isso durante a comemoração pelos 90 anos do grupo. Ao entregar uma placa comemorativa para Isaias de Assis Oliveira, 89 anos, fez questão de registrar: “este daqui é a única prova viva de que eu comecei a trabalhar com 9 anos, porque ele começou com 11 na mesma época que eu. Todas as outras testemunhas já estão em um outro plano”.

Idade para se aposentar ele já tem, mas parar não está nos planos do presidente do grupo, do conselho de administração e o principal estrategista do JCPM. “Espero viver até os 100 anos para continuar discutindo estratégia e expandir o trabalho de compromisso com as pessoas e as novas gerações”, projeta.

Apesar do protagonismo empresarial, seu João diz não gostar muito de aparecer. Diante de quase 20 jornalistas, ele, que é dono do Sistema Jornal do Commercio de Comunicação, avisa o diretor Laurindo Ferreira que na edição da última terça-feira (dia 13) estavam liberadas fotos dele e da esposa, Auxiliadora. “Eu acho o trabalho dos cronistas sociais uma coisa formidável, mas não gosto de aparecer lá”, riu. “Estou a 35 anos perdendo dinheiro com jornal”, diz.

Num momento de autocrítica, seu João afirma que um dos seus principais erros na atividade empresarial foi entrar em mercados em que não tinha conexão. Talvez por isso tenha concentrado suas atividades em Pernambuco, Ceará, Sergipe, sua terra natal, e Bahia. Em todos estes mercados, o empresário destaca, sem precisar de pesca, os investimentos já realizados e os planos para o futuro.

Em Salvador, ele enfatizou o trabalho social desenvolvido pelo Instituto JCPM nos bairros de Pernambués e São Cristóvão. Em Salvador, os institutos formam todos os anos entre 3,5 mil e 4 mil jovens em cursos de formação profissional ou de preparação para o Enem.

Na área empresarial, anunciou uma expansão de 10 mil metros quadrados no Salvador Norte. Além de ampliar o espaço para estacionamentos, o aumento servirá para abrigar a primeira unidade do Mix Mateus na capital baiana e de mais duas mega lojas, cujas bandeiras não foram anunciadas por ele. “Um aumento de 10 mil metros não é pouca coisa. Aquela área (o bairro de São Cristóvão), é simples, economicamente não é tão forte, mas um dia será”, acredita.

Apesar do olhar para o futuro e da enorme capacidade de inovação, o empresário guarda pelo menos uma semelhança com empresários mais tradicionais: não gosta de trabalhar com níveis elevados de alavancagem em seus negócios. Em resumo, não gosta de pagar juros elevados. “Me perguntam muito sobre as condições da economia. Eu tenho um amigo reclamando muito dos juros. Quem reclama de juros altos é quem está tomando crédito. Para mim está baixo, porque eu estou investindo”, diz.

O cuidado em relação à busca de crédito, explica, se dá pelo perfil do negócio de shopping, que João Carlos acredita ser de risco. “Somos alugadores de espaços. Estamos entre as quatro maiores empresas deste tipo no Brasil e entendemos que quem fatura neste negócio são os lojistas e não nós. As nossas receitas crescem o IGP-M (índice de referência para reajustes de aluguéis no país)”, afirma.

Para o empresário, a indústria de shoppings precisa acompanhar as mudanças nos hábitos dos consumidores, mas ele não vê o negócio como ameaçado pelo avanço do e-commerce ou das ferramentas digitais. “Não se pode negar que o avanço do e-commerce é uma bronca para os negócios, com produtos chineses entrando em todos os mercados. Mas tem uma coisa que o shopping é capaz de oferecer: o calor. O consumidor quer tocar, sentir o cheiro, e o e-commerce é frio”, compara.

“Nós pensamos os nossos shoppings como espaços para as pessoas conviverem. Estamos crescendo em serviços, lazer e restaurantes”, explica.

Fonte: Site Correio da Bahia

Texto e imagens reproduzidos do site: destaquenoticia com br

segunda-feira, 12 de maio de 2025

O mundo visto pela lente da cultura: o perfil de Aglaé D’Ávila Fontes

Perfil compartilhado do site FAN F1, de 6 de maio de 2025

O mundo visto pela lente da cultura: o perfil de Aglaé D’Ávila Fontes

De Perfil

Por Larissa Gaudêncio

Quando o Centro de Criatividade de Aracaju ainda dava seus primeiros passos no atual bairro Getúlio Vargas, junto à comunidade da Maloca, de raízes quilombolas, houve quem compreendesse que o exercício da coletividade exige o conhecimento da própria história. 

Naquele momento, sensível à efervescente e rica cultura sergipana, Aglaé Fontes escreveu a peça teatral “O Auto do Menino do Quilombo” e conseguiu mobilizar cerca de 40 moradores na atuação. A produção artística tomou forma por meio do engajamento dos próprios cidadãos locais. Foi reescrita e transmitida a partir das vivências compartilhadas.

Esse movimento, segundo Aglaé, idealizadora do Centro de Criatividade, reflete sua visão sobre a cultura popular: um espaço de memória e história.

“Eu não tinha o desejo de chegar de mala e bagagem numa comunidade, eu queria que ela crescesse comigo, que ela fosse descobrindo o valor que ela tinha”

E como não se pode plantar palavras e colher prática, sua própria trajetória revela um compromisso contínuo com a compreensão da cultura como tudo aquilo que é produzido para que as pessoas possam construir suas existências.

Hoje, aos 90 anos, entre os arquivos e documentos que fazem parte da história e estão preservados no prédio do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe (IHGS), onde ocupa a presidência, Aglaé ainda observa o mundo com o mesmo vigor artístico que enxergou na Maloca.

A armação quadrangular dos óculos repousando sobre o nariz é quase uma metáfora: como se cada lente revelasse, com nitidez, o que muitos não enxergam: o mundo visto pela ótica da cultura.

Cultura em todo lugar ao mesmo tempo 

Adjetivos não faltam para descrever a personalidade multifacetada de Aglaé D’Ávila Fontes, nascida no município de Lagarto, em 1934. Professora, escritora e teatróloga, teve sua vida entrelaçada com a educação e as artes.

Criou uma escola de música para crianças, transitou pelos meios de comunicação como o rádio e a televisão, escreveu livros, fundou e dirigiu grupos de teatro, sempre colocando em destaque a cultura popular sergipana.

A educação que incorpora a arte como uma de suas principais aliadas foi, segundo Aglaé, moldada por experiências da infância. Filha de Marieta d’Ávila Fontes, dona de casa, e Teófilo Fontes de Almeida, funcionário público federal, conheceu a dor e a beleza de mudar de cidade várias vezes. Passou por Riachuelo e Itabaianinha antes de se fixar na capital sergipana.

“Isso teve um lado ruim, que foi uma criança se acostumar numa escola e, daqui a pouco, o pai se mudar. Mas também teve um lado muito bom, porque morando em várias cidades do interior, depois de Lagarto, a gente foi conhecendo a cultura daquelas regiões e minha mãe era muito sensível para isso”

Foi nessa verdadeira jornada de aprendizagem que os folguedos e a história das cidades despertaram nela o desejo de estudar a cultura sergipana. Das apresentações de grupos folclóricos nas festividades religiosas ou em datas comemorativas, surgiram os questionamentos que viriam a fundamentar suas pesquisas.

“Quando você vai ficando adulto, vêm as perguntas: ‘De onde é que veio isso?’, ‘Como é que esses costumes se incorporaram no território sergipano?’. Vou dizer uma palavra até muito sergipana, vem uma ‘futucação’ de ideias. Isso constitui aquilo que nós chamamos hoje, sabiamente, de identidade cultural. E eu estava interessada nisso”

Ao relembrar os pais, destaca que o incentivo à leitura e aos estudos foi fundamental para sua formação artística.

“Quando minha mãe me colocou para aprender música, isso foi uma coisa muito importante. Ela e meu pai eram pessoas muito ligadas a gostar de ler, a que os filhos estudassem. Eu acho que a arte é um dos elementos, seja ela de linguagem musical, teatral ou plástica, uma forma de descoberta do mundo. E quando você é fisgado por esses estímulos, a sua tendência é cada dia mais você aprofundar”

A partir daí, para compreender Sergipe, Aglaé nunca deixou de considerar suas manifestações artísticas, seus gestos cotidianos e suas histórias populares. Esse olhar atento começou a aflorar quando ela se fixou em Aracaju, em 1955, e fundou uma Escola de Música na capital sergipana, após concluir sua formação pelo Instituto de Música e Canto Orfeônico de Sergipe.

Mais tarde, ampliou ainda mais esse repertório cultural e intelectual com um bacharelado em Filosofia pela Universidade Federal de Sergipe e a pós-graduação em Educação Infantil.

Hoje, aos 90 anos, mas com a lucidez afiada de quem dedicou a vida ao saber, Aglaé integra a Academia Sergipana de Letras e a Academia Lagartense de Letras, além de presidir o IHGS. A apresentação de si, no entanto, é feita com simplicidade.

“Eu sou professora aposentada, claro, pela idade você já tá vendo, mas eu me chamo professora, porque eu sou professora a vida toda”

E é assim que ela se reconhece: professora, antes de qualquer título, cargo ou condecoração. Foi na UFS que construiu boa parte desse legado, após ser aprovada em concurso público para lecionar Psicologia da Educação, disciplina à qual se dedicou por décadas.

Essas experiências ganharam corpo, e palco, quando Aglaé foi convidada a idealizar um dos projetos culturais mais emblemáticos de Sergipe: o Centro de Criatividade de Aracaju.

O Centro de Criatividade

Localizado no Morro do Cruzeiro, no bairro Getúlio Vargas, na capital, o centro foi pensado como um espaço democrático, onde diversas linguagens artísticas se encontravam. Aglaé  fala com emoção desse tempo fértil em que arte e comunidade se tornaram indissociáveis.

“O centro era de uma efervescência muito grande, mas ele foi projetado para trabalhar com várias áreas, várias linguagens de arte. Como teatro de palco, teatro de bonecos, a música coral, música instrumental, todos os tipos. O Centro era realmente um espaço com 1000 possibilidades”

Foi lá, por exemplo, que ela escreveu e dirigiu O Auto do Menino do Quilombo, um espetáculo com forte raiz africana encenado por 40 moradores da comunidade local, muitos deles pisando em um palco pela primeira vez.

“Tinha 40 pessoas daquela comunidade que tomavam parte. Então, eles não só aceitavam o Centro, mas eles se integravam na sua totalidade, nos fazeres do Centro”

Mas para Aglaé, mais importante que implantar um centro cultural era compreender e valorizar o território onde ele se inseria. Por isso, antes mesmo da primeira oficina, realizou uma pesquisa profunda sobre a história e os moradores da região.

E essa é, talvez, uma das maiores lições de sua trajetória. Cultivar o território é também cultivar a identidade de um povo.

Educação artística transformadora

No terceiro mandato como presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe (IHGS), Aglaé D’Ávila Fontes caminha pelos corredores com a mesma paixão com que entrou ali pela primeira vez, em 2018. 

A presidência no Instituto é mais uma página de uma história repleta de protagonismo. Aglaé foi produtora e apresentadora do primeiro programa infantil no rádio sergipano, O Gato de Botas, transmitido pela Rádio Cultura, e ocupou funções de liderança em instituições fundamentais para a vida cultural do estado, como o já citado Centro de Criatividade, a Fundação Cultural Cidade de Aracaju (Funcaju) e a Secretaria de Estado da Cultura. 

Em 1978, estimulou a criação do Grupo de Teatro de Bonecos Mamulengo de Cheiroso, voltado à valorização das tradições populares nordestinas.

Depois de uma carreira dedicada à educação e à cultura, assumiu o desafio de preservar e valorizar a memória sergipana em um dos espaços mais tradicionais do estado.

A atuação de Aglaé no instituto vai muito além das funções administrativas. Com um olhar atento e sensível, para ela, a cultura não é um tema que deve ficar restrito a espaços de pesquisa. É parte essencial da formação do indivíduo, e deveria estar mais presente nas salas de aula.

“Eu acho que a escola não pode ser indiferente a isso. Eu acho que há muita falta de uma cultura sergipana na escola, para que a criança se habitue desde cedo a conviver com a literatura, através dos contos populares. Às vezes uma escola trabalha com temas muito fora do Brasil e se esquece que a gente tem uma cultura tão rica e tão diversificada”

No IHGS, a missão continua: ampliar o acesso ao conhecimento e, sobretudo, construir pontes entre gerações.

“Eu tenho um carinho muito especial por essa educação voltada para criança, eu também estou contando a história do meu jeito com brincadeira, com música, porque se você não alicerça nada na infância, você não pode cobrar do adulto. A escola é muito responsável por essa questão de conhecimento. O conhecimento é uma coisa muito importante”

Aglaé conta que a vontade de pensar, criar e compartilhar ainda se mantém viva, mesmo com as limitações físicas que a idade começa a impor. Por isso, ainda deseja colocar muitos projetos em andamento.

“Eu ando com algum problema, por exemplo, no meu joelho, mas a cabeça tá boa. Então eu quero aproveitar cada vez mais enquanto a minha cabeça estiver produzindo”

Com essa intenção, aparentemente simples, Aglaé reafirma sua missão: fazer da cultura um instrumento de pertencimento, e do conhecimento, um caminho de liberdade.

“Eu digo que o sergipano tem que ter orgulho da origem dele, da história dele e buscar cada vez mais a sua identidade. Isso aí só se tem com conhecimento. Então, estudar e pesquisar, para mim, é a coisa mais importante da vida”

Texto e imagem reproduzidos do site: fanf1 com br

quinta-feira, 8 de maio de 2025

Pedro Barreto de Andrade, promotor público e desembargador


 Artigo compartilhado do site DESTAQUE NOTÍCIAS, de 5 de maio de 2025

Pedro Barreto de Andrade, promotor público e desembargador

Por Gilfrancisco*

É doloroso escrever sobre um amigo morto. Até porque todos nós sucumbimos um pouco quando os nossos companheiros desaparecem. A solidariedade no desenlace assume então motivações pessoais, eis que a morte extingue a presença amiga e fecha definitivamente a possibilidade do convívio. Acostumamo-nos à vida, crescendo-a permanente com suas expectativas e aspirações e, quando não esperamos, vem um choque violento – a velha Parca ceifa alguém ao nosso lado, advertindo-nos de que há um termo necessário no tempo, inevitável para cada um dos humanos.

Manoel Cabral Machado, Aracaju, 30 de outubro de 1984

Amigo de Manoel Cabral Machado desde a infância, prestou uma homenagem ao escrever um longo e judicioso artigo, marcando os traços fundamentais de sua valiosa existência. Esse artigo foi incluído no livro de Machado, “Brava Gente Sergipana e outros Bravos”, 1999, 2ª edição revista e aumentada, EDISE/TCE, 2016. Filho de Pedro de Andrade, Juiz de Direito de Riachuelo e depois de Simão Dias e de D. Ester Dantas Vieira de Andrade. Pedro Barreto de Andrade nasceu em Simão Dias a 23 de março de 1918, sendo batizado na igreja Matriz em 31 de março pelo Cônego Domingos Almeida.

Com pouco mais de um ano, ficara órfão de pai. A jovem viúva com três filhos menores (Maria Ester, Pedro e Cenira) retorna à Capela, passando a morar com o pai, Dr. Francisco Vieira de Andrade, Juiz de Direito e rico usineiro na Comarca. Fez o curso primário no Colégio Santa Inez, em Capela, dirigido pela professora Adelina da Silva Vieira, concluindo-o em 1928. Neste ano Domo Ester veio morar em Aracaju para melhor educar os filhos. Dois anos depois como interno no Colégio Salesiano encontra o amigo de infância Cabral Machado, mas em seguido, Pedro transfere-se para o Liceu Salesiano do Salvador, onde conclui o 2º e 3º anos ginasiais, vindo a terminá-lo no Colégio Tobias Barreto, dirigido pelo professor Zezinho Cardoso.

Pedro não levava o estudo a sério, sendo seguidamente reprovado nos estudos, fazendo com que seus familiares suspendessem a mesada. Levado pela dificuldade financeira torna-se propagandista de remédios. Anos depois retornou os estudos na Faculdade de Direito do Rio de Janeiro, formando-se finalmente em 12 de dezembro do ano de 1946. A convite do então governador do Estado de Sergipe, Dr. José Rollemberg Leite, retornou para Aracaju, vindo a dirigir, a partir de 30 de dezembro de 1948, o Serviço de Assistência Municipal e no ano seguinte a Imprensa Oficial.

Pedro Barreto de Andrade assumiu vários cargos públicos: Promotor Público de Itabaiana no ano seguinte; 2º Procurador da Fazenda Pública do Estado de Sergipe (1951); Secretário da Justiça e Interior do Estado de Sergipe e Presidente do Conselho Estadual de Serviço Social (1951); Chefe de Polícia do Estado de Sergipe, no governo de Arnaldo Rollemberg Garcez (cargo correspondente a Secretário de Estado da Segurança Pública) (1952); Professor das disciplinas Direto Público e Privado e História das Doutrinas Econômicas, da Faculdade de Ciências Econômicas de Sergipe (1953). Deputado Estadual nas legislaturas de 1954, 1958 e 1962.

Em 1964 Pedro Barreto foi nomeado Desembargador do Tribunal de Justiça de Sergipe, representando o quinto constitucional da advocacia. E preside o mesmo Tribunal em 1973, além de ter presidido o Tribunal Regional Eleitoral de Sergipe, no biênio 1970 a 1972. Aposentou-se da magistratura em 15 de maio de 1980.

Posse no TJS

Com a presença do Governador Paulo Barreto, autoridades civil e militares, juízes, promotores e advogados, além dos senadores Lourival Baptista e Augusto Franco, o Desembargador Pedro Barreto de Andrade foi empossado em 7 de fevereiro de 1973, na presidência do Tribunal de Justiça de Sergipe. Vejamos o que informa a imprensa local:

Ao transmitir o cargo de Presidente do Tribunal de Justiça ao seu sucessor, o desembargador Prado Vasconcelos apresentou um relatório completo de sua gestão. Linguagem sóbria, elegante e enérgica, expressara a realidade de um Poder, cujo orçamento não correspondia às suas necessidades fundamentais. A dignidade da Magistratura exigira, todavia, uma economia exemplar, a fim de corresponder às reformas físicas e administrativas do Poder, em suas instâncias.

Em seu discurso de posse, que confirmou a sua imagem de magistrado íntegro, estudioso e hábil, o novo presidente do Tribuna de Justiça do Estado, pretende harmonizar o direito positivo com os ditames da moral e dom bem comum:

A solenidade de posse compreendeu ainda a investidura dos Desembargadores Antônio Vieira Barreto e Antônio Xavier de Assis como vice-Presidente e Corregedor Geral da Justiça Sergipana, que juntamente com o novo presidente foram saudados pelo seu colega Dr. Raimundo Rosa, pelo Procurador Geral do Estado, Dr. Eduardo Cabral Menezes, Dr. Antônio Ferreira, Juiz de Direito de Simão Dias, em nome da Associação dos Magistrados de Sergipe, advogados, e promotora Creusa Batalha Figueiredo, representando a Associação do Ministério Público.

Morte na Imprensa

Pedro Barreto de Andrade afirmara-se na vida, sobretudo, como um líder. Por sua inteligência e habilidade, fazia e conservava amigos em qualquer relacionamento, entre ricos e podres. Segundo Manoel Cabral Machado, era homem de caráter e firmeza, sobretudo com muita coragem pessoal e cívica, fez-se respeitado e até temido por pura perversidade, mas porque capaz e se defender e dar dignidade às funções públicas ocupadas.

O deputado Estadual e Desembargador aposentado, Pedro Barreto de Andrade, faleceu na Casa de Saúde São Lucas em 14 de setembro de 1984, deixando viúva, filhos e netos. O sepultamento ocorreu no Cemitério Santa Isabel, com o grande féretro sendo acompanhado por um grande número de pessoas, entre as quais, autoridades, familiares, amigos e ex-colegas.

Durante o velório do Deputado no Plenário da Assembleia, om colega Luiz Machado em nome da Casa, fez a seguinte elegia. Vejamos um trecho:

Deputado Pedro Barreto de Andrade

Vossa Excelência que se acostumou a me ouvir falar de improviso desta tribuna, nos arroubos de minhas orações, neste momento não poderia eu deixar de em nome do Poder Legislativo, saudá-lo pela última vez.

Sinto que a pobreza de meus vocábulos não me permita interpretar as profundas emoções que invadem os corações de todos nós, deputados, seus companheiros e funcionários, seus amigo e admiradores, em suma, do povo sergipano.

Dr. Pedro Barreto

Seus olhos se fecharam, hoje, para este mundo de realidades efêmeras. Seus ouvidos se cerram para sempre ao clamor de nossas vozes. Mas o seu espírito está vigilante.

Vigilante como sempre foi durante a sua vida.

Vigilante porque atento aos problemas do Estado e aos apelos da sociedade sergipana.

Vigilante como atalaia, em defesa e preservação da ordem pública. Guardião da Justiça e baluarte da Ciência Jurídica. Defensor dos direitos humanos dos cidadãos de qualquer categoria social.

São estas as marcas, os estigmas que V. Excelência, Pedro Barreto deixou impressos nas funções que exerceu e nos cargos que ocupou.

Relembrá-lo é evocar um passado honroso e um convívio saudável de um homem público íntegro e de um amigo sincero.

A data 23 de março de 1918 assinalou om começo de sua existência preciosa.

Vocacionado para a vida pública. Exerceu importantes e variados cargos no cenário da magistratura e da política sergipana, em todos se havendo com dignidade e honradez.

Foi Secretário de Segurança Pública non Governo Arnaldo Rollemberg Garcez.

Foi Desembargador emérito.

Presidente do Tribunal Regional Eleitoral, em 1974.

Corregedor Geral da Justiça.

Consolidou sua posição como magistrado emérito e respeitado por todos os sergipanos, exercendo a Presidência do egrégio Tribunal de Justiça do Estado.

Com seu prestígio e diplomacia, soube sensibilizar o Governo na administração José R. Leite para construção do atual Palácio da Justiça.

Foi Secretário de Estado da Segurança Pública pela segunda vez, no Governo do Dr. Augusto do Prado Franco, muito contribuindo para a manutenção da ordem pública em nosso Estado.

Suplente de Deputado, na atual legislatura, o Dr. Pedro Barreto, apesar de seu estado precário de saúde, sempre participou das sessões legislativas. E nunca se omitiu a oferecer sua parcela de contribuição para as decisões deste Poder Legislativo.  (…)

Análise Política

Com a morte do Desembargado aposentado Pedro Barreto de Andrade, que vinha exercendo, o mandato de Deputado, a sociedade sergipana perdeu, segundo correligionários, amigos e pessoas da área, um dos seus mais importantes homens públicos. Pedro sofreu um acidente vascular cerebral (derrame). Levado imediatamente ao hospital, entrou em coma e não resistiu. Vejamos a crônica publicado no Jornal da Cidade. Aracaju, 15 de setembro de 1984:

Difícil formar uma biografia onde ressaltam a imagem do político partidário atuante, e também a figura do magistrado, Pedro Barreto de Andrade, quem ontem faleceu, conseguiu a proeza de deixar marcada a traços fortes na sua vida, a presença participante do cidadão, que vestiu a toga da magistratura, assumindo por isso, a postura serena e grave de quem julga. E ele foi também o parlamentar combativo, tendo atravessado uma das mais duras e atribuladas fases da política sergipana, quando as paixões partidárias com relativa facilidade extravasavam dos debates, da disputa ferrenha pela conquista do eleitor, para assumir características que deram a Sergipe, naquela época; a feição de um Estado violento.

Pedro Barreto de Andrade, com Djenal Tavares Queiroz ne alguns outros, formavam nas fileiras do velho PSD, uma espécie de grupo de “jovens turco”, os que desafiavam as restrições que eram impostas pelo poder quando o partido estava na oposição; os que chegavam primeiro aos locais onde se dizia que o partido não poderia fazer comícios.

Por trás de uma aparência e extremamente metódica e calma, Pedro Barreto tinha uma invulgar energia, uma capacidade de luta somente comparável à sua competência como articulador político, como homem para quem o diálogo era sempre uma forma de convencer e fazer amigos. E com essas qualidades, ele marcou a sua forma muito particular de liderança. Uma liderança que exerceu durante a vida política e que se manifestou também quando como Desembargador, foi no Tribunal de Justiça um dos seus integrantes mais destacados, uma experiência sempre requisitada, e uma inteligência arguta, ágil na descoberta de fórmulas, onde se mostravam compatibilizadas sua sensibilidade política e seu equilíbrio de Juiz.

Pedro Barreto foi por duas vezes Secretário de Segurança, a primeira quando a política sergipana era acirrada e polarizada no Governo Arnaldo Garcez, o primeiro que no PSD elegeu em Sergipe. Depois de passar pela Assembleia Legislativa e chegando a Desembargador nomeado no Governo Celso Carvalho, Pedro Barreto foi novamente Secretário de Segurança no Governo de Augusto Franco, numa fase em que os hábitos da política sergipana haviam sofrido uma transformação quase radical. Ao falecer, ele era outra vez deputado estadual. Como suplente, vinha sempre ocupando uma cadeira com as licenças de Cleonâncio Fonseca e agora de Francisco Passos. Com a morte de Pedro Barreto, desaparece um estilo muito particular de fazer política, uma característica que também parece ter desaparecido quando em 1966 o Ato Institucional nº 2 extinguiu os partidos políticos e em seu lugar criou ficções representadas pela ARENA e MDB.

Opinião dos Amigos

Pedro Barreto sempre foi um político muito inteligente. Desaparece um companheiro que fará muita falta ao Estado de Sergipe.

Augusto Franco

A passagem de Pedro Barreto na vida pública de Sergipe, deve servir de exemplo para as gerações futuras, pelo caráter e pela dedicação com que ele se houve em todos os cargos que exerceu administrativamente ne politicamente.

Reinaldo Moura

Pedro Barreto foi uma das mais importantes figuras que Sergipe teve em todos os setores em que atuou. Grande advogado, juiz exímio e político dos mais combativos.

Guido Azevedo

Pedro Barreto foi, antes de tudo um lutador que desenvolveu seu trabalho com garra e talento. Daí ter se imposto como político, como secretário de Estado e como Desembargador, pois as ações eram pautadas na ordem e na justiça.

Francisco Paixão

*Gilfrancisco é jornalista, escritor, Doutor Honoris Causa concedido pela Universidade Federal de Sergipe. Membro do Grupo Plena/CNPq/UFS e do GPCIR/CNPq/UFS

gilfrancisco.santos@gmail.com

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Texto e imagem reproduzidos do site: destaquenoticias com br

Ao mestre, com justiça e com muito carinho - Por Álvaro Maia - 17/04/2003

 
Com D. Bezinha, recebe a visita do amigo Dr. Marcos Prado Dias

Artigo compartilhado do site RADAR SERGIPE, de 17 de abril de 2025

Hoje, o professor Valquírio Correia Lima faria 101 anos

O professor Valquírio Correia Lima, faleceu no dia 23/07/2008, aos 84 anos. Hoje (17/04/2025) completaria 101 anos. O RADAR SERGIPE publica um artigo escrito pro Álvaro Maria, em 2003, destacando o legado deixado para os sergipanos por esse admirado cearense.

Ao mestre, com justiça e com muito carinho - Por Álvaro Maia - 17/04/2003

Entendemos a primazia de uma homenagem a alguém quando ela é prestada em vida, pois, ao se extinguir a chama da existência, “Ninguém é ninguém”. O presente artigo poderia ser titulado com qualquer uma das designações seguintes, dentre outras: “Obrigado, Professor”; “Titã da Bondade”; “Dádiva Cearense”; “Construtor de Sucessos”; “Justa Homenagem”; “Preito de Gratidão”. Optamos pelo acima epigrafado por entendermos ser o mais completo para o que nos propusemos.

A história é a seguinte: vive em Sergipe, desde os idos de 1952 um Cearense especial que, egresso de Várzea Alegre – Ceará, cidade do arroz, mais conhecida como “Pérola do Vale do Machado”, ao cumprir a sua enobrecida missão de educador em nosso Estado, sempre ajudou a engrandecer, de forma excepcional, a educação e a cultura de muitas famílias sergipanas acatadas, caritativamente, com denodo, graça e amor, pelos bondosos corações seu e de sua excelsa esposa. – A sua cidade natal se sobressai em função, principalmente, de duas características distintas: A primeira, por servir de berço a ilustres personalidades do Brasil e do mundo, a exemplo de Flávio Primo, competente Agrônomo de 1ª linha, que foi um grande Líder na condução de Empresa Pública do Estado de Sergipe e da Agremiação Desportiva Confiança, que presidiu.

Ele continua a cultivar, com perseverança e galhardia, o que mais gosta: Boas e verdadeiras amizades, dentre as quais, modestamente, nos incluímos. Raimundo Ferreira, importante locutor da BBC de Londres; José Morões, Médico há mais de 40 anos no Rio de Janeiro; e Otacílio Correia (de saudosa memória), empresário e político de valor, além de ter sido um excelente contador de estórias. A outra distinção dessa cidade é o fato de ser conhecida como a “Terra dos Contrastes”. Lá, o “Zé Preto”, era branco e o “Zé Branco”, era preto; o Cruzeiro, ficava atrás da Igreja; o Juiz, era uma mulher (possivelmente, a primeira Juíza do Brasil); o Padre Otávio, era casado; o Avô paterno de Flávio Primo, militava na “UDN” e era inimigo do Avô materno, que pertencia ao PSD; A via de acesso ao cemitério da cidade chamava-se “Rua da Alegria”; E, para completar, o Padroeiro da cidade, São Braz, é São Raimundo Nonato. Vejam bem: “Nonato” – “Não Nascido!”.

 A propósito, é de se registrar que o “Rei do Baião”, o inesquecível Luiz Gonzaga, gravou uma música em homenagem àquela povoação, intitulada “Contrastes de Várzea Alegre” – “Mas diga moço, de onde você é... Eu sou da terra que de mastruz se faz café”... Sobre esse bendito pedaço do Ceará, pode-se discorrer à vontade, pois assunto não falta. Todavia, retomemos à figura do nosso preiteado. No dia 17 de abril ele completa idade. Neste ano, chega ao seu 79º (Septuagésimo nono) aniversário. Que grandeza! Parece que foi ontem o seu nascimento à Rua Major Joaquim Alves nº 160. Essa homenagem, é nosso presente. Pinçamos do seu “Curriculum Vitae” alguns dados e tomamos a liberdade de publicar aqui, conforme segue: Filho dos renomados Professores Leandro Correia Sobrinho e Dona Clara Correia Lima, enveredou, desde cedo, também, pelo caminho da educação.

E induziu, ainda, sua prole a abraçar a carreira do magistério de modo que, todos os seus filhos e filha possuem licenciatura plena em pedagogia, mestrado em educação, letras em inglês, e educação física sendo que somente um, já falecido, não teve tempo de se tornar um educador, preferindo, em vida, a área contábil. A conquista amorosa à rainha dos seus sonhos, D. Bezinha, ocorreu num leilão realizado em São Vicente de Paula, Várzea Alegre/CE.

O casamento foi realizado no dia 25 de dezembro de 1948, de modo bastante e merecidamente solene, na Igreja Matriz de São Raimundo Nonato. Tivemos a honra e o privilégio de, convidados, assistir às suas “Bodas de Ouro” que aconteceu da forma mais bonita e elegante na igreja do Salesiano, em 1998, em nossa querida Aracaju. Iniciou sua formação acadêmica no Grupo Escolar São Raimundo Nonato/Várzea Alegre/CE, em 1931. Possui, dentre os seus vastos conhecimentos, curso superior de Comunicação Social – Relações Públicas, concluído em Recife (PE) – 1973.

 Bacharel em Direito pela Universidade Federal de Sergipe, 1984, tendo prestado o exame da ordem OAB/Sergipe em janeiro de 1985. Dentre as atividades do magistério, é próprio relembrar: Professor do Curso para Idosos no Seminário São José – Crato/CE, 1940 e na Escola Apostólica Santo Inácio de Loiola S. J. – Baturité/CE – 1942, 1943 e 1944. Fundador, Diretor e Professor do Externato “São Raimundo Nonato” – Várzea Alegre/CE – 1946; Diretor, e Professor do Colégio “Dom José Thomaz”, desde 1952; Professor de “Introdução da Ciência da Comunicação” – Curso de Comunicação Social para as áreas de Relações Públicas e Jornalismo da Universidade Tiradentes – 1983 e 1984.

 Em suas atividades públicas, vale anotar: Membro fundador do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino e de sua Diretoria, a partir de 1958; Assessor de Relações Públicas da superintendência Regional do Instituto Nacional de Previdência Social INPS e IAPAS – 1968 a 1980; Fundador da Associação Brasileira de Relações Públicas – SE/1976, da qual foi Presidente por quatro mandatos por “Eleição” e por “Aclamação”. No campo político, foi Fundador e Secretário Municipal do Partido Social Democrático (PSD), Várzea Alegre/CE – 1945. Tendo sido também Vereador e Secretário da Câmara Municipal desse Município – 1946/1949. Nas atividades esportivas, marcou presença como Presidente da Associação Desportiva Confiança ADC, nos períodos de 1961/1963 e de 1970/1972 (Aracaju/SE), sendo Presidente do Conselho Deliberativo dessa agremiação desportiva por diversos períodos.

Coleciona Diplomas e medalhas as mais diversas, a exemplo do Diploma de Cooperador da Estação PX – Ministério do Exército – IV Exército – 6ª Região Militar – 19ª CSM – 28BC – 10 a 25 de agosto – Exército Brasileiro – Fator de Integração Nacional”; Diploma de Eficiência como participante do X Congresso Nacional dos Estabelecimentos Particulares de Ensino, por mérito. Diploma de Cidadão Aracajuano – dez/1976 e Sergipano – out/1979; Medalha de Honra ao Mérito “Ao Mestre Companheiro”. Reconhecimento do Lions Clube – Aracaju – Salgado Filho – 1996; Medalha Tiradentes – Edição Especial “Memória de Uma Grande Missão” – 1992. Atuação em jornais e rádios: Repórter do periódico “O Tempo” – Várzea Alegre/CE – 1949/1950; Responsável pela coluna diária da “Gazeta de Sergipe” – “O Dia no Olympio Campos” – 1958/1960; Fundador e locutor da “Voz de Várzea Alegre” – Serviço de auto-falantes com alcance urbano e rural – 1948/1952 e locutor político da Rádio Liberdade – Aracaju (SE) – 1956/1958. Para não se omitir dos contrastes da sua terra natal, é de se observar que o nosso “Carrapicho” (Apelidado assim por causa dos cabelos), possui seis irmãos – Rita Valdeliz, José Walter, Geraldo Elpídio, Francisco das Chagas (O China, irmão que sempre o acompanhou “Pari Passu” com amor, dedicação, participação e destemor permanecendo, ainda hoje, fiel à sua amizade e carinho). José Jussué e Terezinha. 

 E a sua prole registra, também, seis pérolas, sendo cinco filhos e uma filha: Raimundo Valquírio Filho (de saudosa memória), Luiz Cláudio (também falecido); Lúcio Flávio, Ítalo Augusto, Francisco Hamilton e a linda Clara Isabel. O “Manchinha” (alcunha herdada dos tempos juvenis quando jogava futebol com os amigos conterrâneos por causa de uma pequena mancha na perna) tem o seu legado especial a Sergipe a partir da sua presença primordial como proprietário, dirigente e professor do Colégio “Dom José Thomaz”, (nome dado em homenagem ao primeiro Bispo de Aracaju) porque, por ali, até hoje exercita os bondosos anseios do seu esplendoroso coração, ajudando a muitas pessoas: Tanto na aprendizagem escolar, quanto no apoio a uma colocação de emprego, ou até e muitas vezes, no aconselhamento paternal e familiar. Pelo Colégio “Dom José Thomaz” cuja divisa era “Nosso Lema é o Estudo” e hoje, passou a ser: “Dom de Aprender” “Dom de Ensinar”, transitaram e ainda hoje o fazem, sob a benquista e generosa orientação do Professor Raimundo Valquírio Correia Lima e sua incansável senhora, Dona Isabel Sobreira Correia – a querida “D. Bezinha”, muitas das eminentes figuras que hoje tão bem representam as simpáticas camadas sociais deste glorioso Estado nas suas diversas áreas – educação, engenharia, medicina, economia, advocacia, serviços públicos, dentre outras, uma grande parte, como nós, de origem pobre que, muitas vezes, nem sempre podia pagar a mensalidade do Colégio, mas ia ficando ali, sob a égide do indulgente beneplácito do bondoso casal.

Todavia, é lamentável que, presentemente, o insigne par, enfermo, permaneça enclausurado em seu lar, no seio da família, sem contar com a visitação e gratidão de tantos quantos “amigos”, que foram por eles ajudados a atingir os pináculos da glória, talvez em função do “tempo” e das suas “ocupações pessoais”. (Questões estas que, sabidamente, são motivos de preferência; de prioridade), fatores que nunca impediram nosso homenageado e família de ser presentes à dó de terceiros, quando solicitados. Mas, por dever de Justiça, reconhecemos as exceções onde anotamos da gratidão do Magnífico Reitor da Universidade Tiradentes, Professor Jouberto Uchoa de Mendonça que, em respeito à amizade, gratidão e seriedade, num exclusivo preito de carinho, deu à Vila Olímpica da Universidade Tiradentes o nome do Professor Raimundo Valquírio Correia Lima. Grande Gesto! Aplausos!.

O emérito professor Valquírio, que realizou o maior sonho da sua vida – a formatura de todos os seus filhos, continua a ser o homem simples que sempre foi. Não amealhou riquezas materiais como poderia, por causa do seu grandioso coração. Continua a morar numa residência sem qualquer luxo à Rua Laranjeiras. Gosta de roupas esportes. Adora um “Baião de Dois”, seu prato predileto, embora sobreviva hoje à base de regime alimentar, por orientação médica. E permanece em paz com Deus, alegre e participativo. Vale a pena visitá-lo. Sempre que o fazemos, saímos de lá, renovados e muito contentes. Que Deus o abençoe e o faça permanecer sempre assim, para a felicidade de muitos. Ao completar seu pré-octogésimo aniversário, que ele receba, da nossa e da parte da nossa família, os mais efusivos Parabéns! 

 NOTA: Para produção deste artigo, foi imprescindível a colaboração especial do amigo Flávio Primo e do ilustre Francisco José, este, sobrinho do homenageado. Obrigado.

 Álvaro Maia em 17/04/2003

Texto e imagens reproduzidas do site: radarse com br

domingo, 27 de abril de 2025

'Rosa Faria: arte e história como missão', por Acácia Rios

A artista plástica Rosa Faria 
Foto: André Moreira

Forno de Rosa Faria, em exposição no Memorial de Sergipe 
Foto: Valéria Vieira

Cine Teatro Rio Branco

Ponte do Imperador

Perfil de Tobias Barreto em prato de porcelana, por Rosa Faria

Memorial de Sergipe/Universidade Tiradentes

Homenageada com nome de rua, no bairro Inácio Barbosa 
Foto: Valéria Vieira

Artigo compartilhado do site SÓ SERGIPE, de 26 de abril de 2025 

Rosa Faria: arte e história como missão 
Por Acácia Rios (*)

Quero morrer ocupando minhas mãos. 
Em uma delas, levarei o terço 
que é a minha profissão de fé; 
na outra, levo o pincel, 
meu eterno e inseparável companheiro, 
e lá de cima, eu ainda quero pintar o sete. 
Rosa Faria

Aexposição de pinturas “Rosa Faria e a arte de retratar Aracaju”, que esteve em cartaz no Palácio Olímpio Campos até o último dia 5 e homenageou os 170 anos da capital, foi, para mim, uma verdadeira viagem temporal. Seus quadros, azulejos e porcelanas me remeteram à casa/museu da artista e historiadora, que ficava a poucos metros dali, na praça da Catedral.

Um dia, a caminho da casa dos meus tios, na Rua de Santo Amaro, a curiosidade de estudante me fez transpor a porta do Museu de Arte e História Rosa Faria, o primeiro que conheceria na vida. E que contava com um acervo com uma característica bastante peculiar: todas as obras eram da sua autoria. O seu trabalho de retratar a História de Sergipe em telas, painéis, azulejos e pratos de porcelanas durou décadas, resultando em um milhar de peças.

Entrar no museu significava ser guiado pela própria artista. As inúmeras obras eram dispostas simetricamente até o teto, quase tocando umas nas outras, formando um mosaico imagético da nossa história. Apesar do acervo numeroso e do pouco espaço para armazenar as obras, Rosa Faria continuava pintando, e o forno, funcionando a todo o vapor.

Durante a visita guiada, Rosa lia trechos dos seus painéis de azulejos e explicava alguns fragmentos. Eu olhava atentamente aquela jovem senhora de postura rígida, circunspecta, que, sem desperdiçar palavras, seguia impassível na sua missão de educar pela arte. Eu era jovenzinha, mas ela não fazia distinção de idade.

Em meio à sua fala, também citava as responsabilidades que envolvia aquele trabalho, levado adiante com recursos próprios. Mais de uma vez mencionou a urgência de ter um forno maior para secar a cerâmica, que aumentava cada vez mais, deixando entrever a necessidade de apoio institucional, ciente que era do seu papel social e do legado que estava construindo.

A poeta e professora Maria Lígia Madureira Pina, em texto publicado no blog Academia Literária de Vida, em 2012, corrobora esse aspecto: “Tudo com recursos próprios. Nunca contou com qualquer ajuda, pública ou particular. Nem as visitas ao museu ela cobrava. Seu único interesse era divulgar a sua arte e vê-la reconhecida”.

A minha admiração só aumentava no decorrer dos anos. Ainda mais ao acompanhar as celebrações do dia 17 de março em frente ao seu museu, momento em que recebia professores, estudantes e autoridades e fazia discursos veementes em defesa da preservação da memória histórica. Esses atos foram incorporados às comemorações de então, tornando-se parte dos eventos oficiais.

Um exemplo da sua dedicação nos é dado mais uma vez por Maria Lígia Pina, no blogue supra-citado: “Foi ela quem sensibilizou o prefeito Wellington Paixão para recolocar a estátua de Tobias Barreto no pedestal, que tinham colocado sobre a calçada numa reforma anterior. E acompanhou todo o trabalho, até a hora da reinauguração”. Paixão governou o município no período de 1989 a 1992.

Além do seu trabalho artístico, também compôs o Hino do 4° Centenário do início da colonização em Sergipe, cuja letra reproduzo aqui. Como o leitor poderá notar, é uma verdadeira declaração de amor à terra. A música é de Leozírio Guimarães. O texto foi publicado no Jornal da Cidade em 03/01/76.

Sergipe quatrocentão
Quem no teu berço nasceu
Há de se orgulhar 
de ser filho teu.

I
Há quatro séculos 
Jesus mandou,
Gaspar Lourenço, 
Seu embaixador
Fazer Cristão
Foi sua missão
Do grande Reino 
Do seu amor!

II
Oh’ meu Sergipe 
Oh’ minha terra
Meu grande mundo
Meu lindo torrão
A dar a todos 
os sergipanos
Um mundo novo
Um mundo irmão!

III
Olhando a tela
Da minha terra
Sentindo o Cristo
A me proteger
Pedindo a Ele
Bênçãos divinas
No meu trabalho
No meu lazer!

IV
Com meus amigos
Com minha gente
Com quem da vida 
Já se cansou
A dar semente
do amor da terra
Onde Jesus
Se hospedou!

Antes de deixar a exposição Rosa Faria e a arte de retratar Aracaju, olho suas obras mais uma vez, para gravá-las na retina. Não são imagens isoladas. Com profunda leveza, elas costuram tempo e espaço e nos fazem dialogar com uma cidade anterior a nós mesmos, dando-nos uma geografia poética e afetiva.

Anos depois, ao ver no acervo do Memorial de Sergipe o pequeno forno que usava, compreendi as suas palavras. Um equipamento mais acorde com o seu ritmo de trabalho teria significado, entre outras vantagens, encurtar a corrida contra o tempo na missão de abarcar a história em seu pincel.

Depois de falecer, em 1997, o museu foi fechado e o acervo passou a integrar o do Memorial. A acolhedora sala dedicada à retratista de Aracaju – Rosa Faria: o pincel do tempo – conta com inúmeras das suas porcelanas com preciosas imagens: paisagens urbanas, fatos históricos, breves perfis de vultos literários e políticos compõem a exposição permanente da instituição.

A Ponte do Imperador (1971), o Cine Theatro Rio Branco (s/d) e a Inauguração da Estátua do Dr. Fausto Cardoso (1973) e a fachada da casa de João Ribeiro, em Laranjeiras, por exemplo, são apenas alguns. Vale a pena a visita ao Memorial tanto pela diversidade temática quanto pela proposta museológica.
No que diz respeito ao acervo de Rosa Faria, é algo como estar num museu dentro de outro museu.

A artista

Rosa Faria (1917-1997) nasceu em Capela e aos 29 mudou-se para Aracaju, onde aprofundou seus estudos nas artes plásticas. Formada pela Escola Normal de Capela, foi professora, jornalista, escritora, taquígrafa, telegrafista e artista plástica. Especializava-se e atualizava-se constantemente. Num curso que teve lugar no Rio de Janeiro, foi aluna de Dom Hélder Câmara, do crítico literário Alceu Amoroso Lima e do matemático e escritor Malba Tahan (pseudônimo de Júlio César de Melo e Souza).

Pintou em telas, azulejos e porcelanato e suas pinturas refletiam paisagens de Aracaju como praças, ruas, casas, igrejas, bondes, festas populares, a maioria feita a partir de fotografias antigas. O acervo cresceu tanto que em 1968 criou a sua própria galeria, transformada no mesmo ano no Museu de Arte e História Rosa Faria.
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*Acácia Rios é jornalista, escritora, professora, mestra em Memória Social e Documental pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro e doutora em Ciências da Documentação pela Universidade Complutense de Madri. Leciona na Escola de Artes Valdice Teles.
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Texto e imagens reproduzidos do site: www sosergipe com br

quarta-feira, 9 de abril de 2025

Memória > Manuel Pascoal Nabuco d’ Ávila

Artigo compartilhado do site [portalweb mpse mp br/Memorial], de 24 de novembro de 2016

Memória > Manuel Pascoal Nabuco d’ Ávila

Manuel Pascoal Nabuco d’Ávila, filho de João Nabuco d’ Ávila e Maria de Lourdes Nabuco d’ Ávila, nasceu em Riachuelo/SE, no dia 17 de agosto de 1937. Viveu a meninice em Riachuelo, estudando as primeiras letras no Educandário Nossa Senhora da Conceição e no Grupo Escolar Francisco Leite, ambos em Riachuelo, onde seu pai era Coletor Federal. Em 1951, com a transferência do pai, a família transferiu-se para Estância. Manoel Pascoal Nabuco d’ Ávila, com 13 anos, passou a viver entre a família, naquela cidade, e os internatos dos Colégios Jackson de Figueiredo e Tobias Barreto, onde concluiu o curso secundário (Ginásio e Científico, hoje Ensino Fundamental e Médio).

Em 1957 fez Vestibular para a Faculdade de Direito de Sergipe, bacharelando-se com a turma de 1961, da qual participaram Ariosvaldo Figueiredo, histotirador recentemente falecido, José Amado Nascimento, professor e intelectual, José Arnaldo da Fonseca, aposentado como Ministro do Superior Tribunal de Justiça – STJ, Pedro Iroito Dória Leó, Procurador do Ministério Público, em vias de aposentadoria, Thiers Gonçalves de Santana, professor e Juiz de Direito, já falecido, dentre muitos outros. Nas salas de aula desfilavam nomes ilustres de professores, como Monsenhor Dr. Alberto Bragança de Azevedo, Manoel Cabral Machado, Manoel Ribeiro, pai do escritor e acadêmico João Ubaldo Ribeiro, Francisco Leite Neto, que foi Deputado Federal e Senador, Renato Cantidiano, depois professor na Faculdade Nacional de Direito, no Rio de Janeiro, Garcia Moreno, e muitos outros, sob a coordenação magnífica do Diretor e professor Gonçalo Rollemberg Leite.

Já acostumado ao ir e vire de Estância, no meio do curso de Direito, em 1959, resolveu fixar residência naquela cidade, atuando na imprensa local, como fazia em Aracaju, no jornal da própria Faculdade, o Academus e na Gazeta Socialista, mais tarde convertida em Gazeta de Sergipe, cuja direção, exercida, apaixonadamente, por Orlando Dantas, atraía para a redação intelectuais e jovens sedentos de mudanças, para o mundo, para o País e para o Estado.

Manuel Pascoal Nabuco d’Ávila foi fisgado pela política partidária da Estância, filiando-se ao Partido Trabalhista Brasileiro – PTB, que tinha, no Estado, a liderança de Francisco de Araújo Macedo, velho militante da agitação política, desde a década de 1930, apoiando a gestão interventorial de Augusto Maynard Gomes, editor do jornal O Nordeste, com forte presença na Estância, onde orientava o jornal Folha Trabalhista. No PTB, Manuel Pascoal Nabuco d’Ávila participaria da redação do jornal trabalhista estanciano e preparava uma candidatura a Prefeito.

O Brasil de 1962 estava conturbado. A renúncia de Jânio Quadros e a posse, negociada, do vice-presidente João Goulart, mexia com os grupamentos partidários e as tradicionais alianças e coligações. A UDN completava oito anos no Poder, e embora a gestão dos seus dois governadores fosse positiva e empreendedora, havia, em todo o Estado, um sentimento de mudança, de renovação, que parece ter a cada ciclo de mando. No plano estadual, então, aconteceu o inesperado: Parte da UDN, com Seixas Dória, Heribaldo Vieira, Albino Silva da Fonseca, defendia uma aliança com os velhos adversários PSD-PR, e mais com o Partido Socialista Brasileiro – PSB, de Orlando Dantas e parte do PTB, conduzida pelo prefeito de Aracaju, José Conrado de Araújo.

Leandro Maciel, que utilizou o slogan “Ninguém se perde na volta”, perdeu a eleição para Seixas Dória. Luiz Garcia perdeu a eleição para o Senado, e a UDN saía derrotada do pleito. A vitória de Seixas Dória enchia as novas gerações de políticos de esperança. Na Estância, derrotando o candidato da UDN – José Vieira Barreto, e o do PR – Partido Republicano – Marcelo Soares, filho do médico Pedro Soares, Manoel Pascoal Nabuco d’Ávila começava a colocar seu nome na história local, sendo eleito Prefeito Municipal prometendo, na praça pública, priorizar a Educação, a Saúde e o Desenvolvimento, trinômio essencial para a sociedade estanciana.

A atuação do Prefeito de Estância pode ser avaliada sob duas óticas, a primeira, interna, das providências para transformar a máquina pública em favor da comunidade, com a Organização da Lei Orgânica do Município, o Estatuto dos Servidores Municipais, o Código Tributário Municipal, o Código de Higiene e Saneamento, e o Código de Posturas Municipais, instrumentos da transformação política pretendida por Manoel Pascoal Nabuco d’Ávila. Foram muitas as providências em favor da educação, da cultura, da saúde, do saneamento, modernizando aquela cidade com serviços inovadores, como o Serviço Autônomo de Água e Esgoto.

A segunda ótica da administração do Prefeito de Estância pode ser considerada a partir da importância que deu à educação, melhorando as escolas do centro urbano e criando rede de escolas rurais, fortalecendo o ensino médio e valorizando a cultura. E, mais que isto, difundido entre os jovens, de Estância e do Estado, as idéias que davam sintonia com o Governo Seixas Dória, engajado na pregação das Reformas de Base, conjunto de ações reformadoras, para tirar o Brasil das velhas oligarquias que concentram o Poder e manipulavam a economia. Manuel Pascoal Nabuco d’Ávila fez conferências, esclareceu platéias jovens, visitou entidades, falou para o povo, enfim contribui com sua palavra e com seu exemplo, para alimentar entre os estancianos e entre os sergipanos a idéia das mudanças, que ainda tem fortalecido os discursos políticos dos candidatos.

O Presidente João Goulart foi deposto pelos militares que fizeram o movimento de 31 de março de 1964. Em Sergipe, na madrugada de 2 de abril, o Governador Seixas Dória foi deposto e preso, sendo levado para Salvador e depois para a ilha presídio de Fernando de Noronha. O Prefeito de Estância foi deposto e preso no dia 17 de abril de 1964. Começava a via crucis destes políticos e de milhares de brasileiros que sonhavam com as liberdades, o desenvolvimento, a reconstrução do País e a defesa e aproveitamento de suas grandes e últiplas riquezas.

Manuel Pascoal Nabuco d’Ávila foi preso duas vezes: a primeira, em 17 de abril de 1964, sendo liberado em 23 de junho do mesmo ano; a segunda, em 18 de setembro de 1969, quando foi julgado, na Auditoria Militar da 6ª Região, em Salvador/BA, e condenado a uma pena de 1 ano e 9 meses de detenção, dos quais cumpriu 8 meses de pena, pela revisão feita pelo Superior Tribunal Militar, julgando Recurso interposto pelo ex Prefeito de Estância.

De volta à Estância, já casado, com filhos, Manuel Pascoal Nabuco d’Ávila continua exercendo a advocacia, até ingressar no Ministério Público, graças ao concurso realizado em 1978. A demora na nomeação o obrigou a buscar, na Justiça, proteção ao seu direito de aprovado. O julgamento demorou muito, até o Governador Augusto do Prado Franco (1979-1982) o nomeou para a Comarca de Neópolis, de onde foi removido para a Comarca de Boquim, em 1980, de Propriá, em 1983, sendo promovido à Comarca de 2ª Entrância, removido para Estância, em 1984.

Com o retorno das eleições diretas para Governador do Estado, o nome de Manuel Pascoal Nabuco d’Ávila voltou a circular nos meios políticos. Hábil para dialogar, sempre disposto a conversar com amigos e com eventuais adversários, passou a influir nas administrações estaduais que nasceram das eleições diretas, como aquelas comandadas por João Alves Filho, de quem foi Secretário-Chefe da Casa Civil, sendo também Procurador Geral de Justiça, Antonio Carlos Valadares, como Procurador Geral de Justiça, e Albano do Prado Franco. Como Procurador Geral do Estado, sendo por este governador nomeado Desembargador do Tribunal de Justiça do Estado de Sergipe.

Desde 1984, portanto, quando foi o primeiro dos integrantes do Ministério Público a chefiar a Procuradoria Geral de Justiça, que de uma forma ou de outra, fosse com suas opiniões, fosse com suas ações, serviu de interlocutor acreditado, elevando o debate político do Estado. A experiência como Promotor de Justiça e o trânsito livre com os novos governantes do Estado, após as eleições diretas de 1982, deram a Manuel Pascoal Nabuco d’Ávila a chance de contribuir para o fortalecimento do Ministério Público, a partir dos dispositivos contidos na Constituição Brasileira de 1988. E mais do que incorporar ao texto constitucional as prerrogativas que representaram, por muitos anos, a luta do Parquet, o então Procurador Geral de Justiça, valendo-se do acesso ao Governador Antonio Carlos Valadares elaborou Projeto, aprovado pela Assembléia Legislativa, de Lei Orgânica do Ministério Público, que foi, em 12 de novembro de 1990, quando sancionada a Lei Complementar 02, foi considerado um avanço e um pioneirismo para Sergipe e para o País.

Na solenidade em que foi sancionada a Lei Orgânica do Ministério Público, o Procurador Geral de Justiça Manuel Pascoal Nabuco d’Ávila disse:

Da minha parte, Senhor Governador, como o último dos Procuradores Gerais de Justiça em Sergipe a integrar o Poder Executivo, como membro do seu Secretariado, porque doravante o Procurador Geral de Justiça passa a ser Chefe de uma instituição independente, autônoma, que não mais integra qualquer dos Poderes do Estado, mas que vela pelo harmonioso funcionamento dos mesmos, como órgão fiscal de sua atuação, posso dizer que tudo fiz e dei de mim para alcançarmos esta meta, a de legar ao povo de Sergipe um Ministério Público altaneiro e forte, apto a lhe servir no processo de sua auto-afirmação como povo livre, consciente e democrata.

Passando mais de 15 anos como integrante do Ministério Público, acumulando todas as experiências, juntadas aos períodos que atuou nas administrações públicas estaduais, e, ainda, considerando sua atuação como advogado, como gestor público municipal, como jornalista e como cidadão politicamente engajado, Manuel Pascoal Nabuco d’Ávila chegou ao Tribunal de Justiça do Estado de Sergipe, nomeado por Decreto do Governador Albano do Prado Franco, em 1996, disposto a coroar sua biografia de homem público, com a marca da opção de servir à sociedade.

No dia 5 de agosto de 1996, perante um auditório repleto de amigos e de admiradores, Manuel Pascoal Nabuco d’Ávila tomou posse como Desembargador, na vaga do professor e acadêmico Luiz Rabelo Leite, representante do Ministério Público no Tribunal de Justiça de Sergipe, desde a segunda metade da década de 1970. O simbolismo da posse, com todas as formalidades, coroava o esforço de uma vida dedicada à luta em favor da cidadania.

Diante daquele homem, amigos e admiradores, autoridades e colegas de Ministério Público, serventuários e juizes, todos reverenciavam a capacidade de resistir a todas as dificuldades encontradas pelo caminho da vida, e a férrea vontade de insistir na defesa das causas que abraçou, no curso do tempo. O Desembargador que tomava posse não diferenciava do jovem Prefeito de Estância, nem do advogado que patrocinava as suas próprias causas, para fazer prevalecer o direito.

No seu Discurso de posse, definindo-se, dentre outras coisas, disse:

O homem que recebem para compor este Egrégio Tribunal exerceu todos os papéis reservados aos participantes do drama humano com que Vossas Excelências estão acostumados a conviver cotidianamente em suas lides forenses: o do Réu, do Advogado e do Promotor. Por isso também dou graças a Deus, porque aqui chegando para exercer o dignificante papel de juiz, ao depois de haver exercido aqueles outros papéis, sinto-me capacitado para o desempenho de minhas futuras e nobilitantes funções.

Em tendo sido Réu, vivi suas angústias e aflições; mas que isso, sofri, na própria pele e tive angustiado o meu espírito, ante a importância do figurante que, sujeito aos sentimentos dos outros – advogados, promotores e juizes – vê sua vida depender da vontade daqueles, ao jurisdizerem como lhes pareceu mais acertado, decidiam o seu próprio destino.

Conheci o libelo e a condenação injustos e impostos pelo arbítrio e pelo totalitarismo dos que serviam aos donos do poder. Cumpri pena, consciente de que não a merecia. Amei ainda mais a liberdade, ocasionalmente a mim subtraída e busquei na cultura e na fé os freios inibitórios para a minha revolta. Recorri da decisão iníqua e purguei cadeia, por mais de oito meses, enquanto aguardava o julgamento de um Recurso. Vi meus familiares sofrerem. Melhor conheci os homens que, como diz Cícero, o grande orador romano, em sua maioria ‘São como andorinhas; acompanham-nos no verão da prosperidade e voam no inverno das aflições.’

Sofri os dissabores que acarretam as partes a morosidade da Justiça. Conheci as mazelas decorrentes da justiça ser odiamente aplicada, que não redime a pena, nem compensa os prejuízos da espera. Conheci a prepotência e a tolerância do juiz despreparado para o cargo, porque, subserviente ao sistema, estava mais preocupado em condenar, para servir aos potentados, que julgar ante a prova dos autos; mais disposto a encontro causa para a condenação que aplicar a justiça, como do seu dever.

Alcancei a liberdade pelo julgamento do Superior Tribunal Militar que, por unanimidade, me absolveu da imputação absurda que me fora feita, mas isso após oito meses de cumprimento de uma pena sem razões e sem causas, uma vez reformada a sentença iníqua e arbitrária.

Diante disto, e apesar disto, quis Deus que o juiz que Vossas Excelências empossam, tenha a tudo vivido e sofrido para dar mais valor a liberdade individual, a lutar pela prestação jurisdicional com mais eficiência e presteza, e a condenar todas as formas de arbítrios e pressões, partam de onde partirem, que procuram sufocar no Magistrado o dever de ser imparcial e justo, sereno e independente, corajoso e digno.

No Tribunal de Justiça do Estado de Sergipe, o Desembargador Manuel Pascoal Nabuco d’Ávila tornou-se uma referência entre os seus pares, com atuação destacada nos diversos postos e funções que desempenhou, a começar como Corregedor Geral, na Mesa presidida pelo Desembargador Gilson Góis, de 3 de fevereiro de 1999 a 2 de fevereiro de 2001, quando é eleito e assume a Presidência do Tribunal Regional Eleitoral. A Frente do TER mais do que presidir a eleição de 2002, organizou e instalou o Centro de Memória Eleitoral, criado na gestão anterior, pelo Desembargador José Antonio de Andrade Góes, editou 100 anos de eleições em Sergipe, consolidando a história e a estatística eleitoral do Estado.

De volta ao Tribunal de Justiça é eleito, na sessão de 18 de dezembro de 2002, Presidente do Poder Judiciário do Estado de Sergipe, para o qual foi empossado no dia 3 de fevereiro de 2003.

No seu Discurso de posse, tratou, diretamente, da questão do Judiciário brasileiro, sempre atingido por críticas da mídia, mas sempre indeciso em algumas de suas posições. Para o novo Presidente do Tribunal de Justiça, que abarca em sua fala vários aspectos que estavam na ordem do dia dos debates nacionais, a visão estava clara:

(...) Afinal, de que se acusa o Judiciário Brasileiro? De ser caro, de difícil acesso, moroso e ineficiente. Mas, mesmo se conhecendo as causas da sua morosidade e de sua ineficiência, nada se faz para erradicá-las. Deixa-se até de reconhecer que os problemas do Judiciário decorrem da atitude dos outros poderes do Estado, até porque a cultura dominante é no sentido do Executivo descumprir contratos, desrespeitar direitos e abusar de ações e recursos desarrazoados, abarrotando o Judiciário de processos inadmissíveis.

Destarte, se o Governo cumprisse os contratos, respeitasse as leis, as normas constitucionais, os direitos dos cidadãos, inexistiria excessos de ações judiciais e os Tribunais Superiores não estariam abarrotados de recursos repetitivos e protelatórios interpostos pela União, Estados e Municípios, suas empresas e autarquias que objetivam apenas retardar o cumprimento das decisões judiciais. Por outro lado, se não estivessem os grandes devedores convencidos, como estão, suas obrigações, a demanda do Judiciário seria bem menor. Se não fosse o nosso sistema recursal absurdo, o Judiciário estaria a salvo da acusação de eternizar as lides. Enfim, se tivéssemos um numero de juizes compatível com a população usuária de serviços forenses e, se dispusesse o Poder de recursos materiais e humanos, a sua situação seria bem outra. Por fim, se todas as sentenças tivessem efeito mandamental, evitando-se o desnecessário processo de execução, a prestação jurisdicional seria mais efetiva, muito menos onerosa e mais barata.

O novo Presidente do Tribunal continua com sua leitura crítica da realidade brasileira, ligada ao Poder Judiciário, e diz:

(...) Sabe-se, de antemão, que não queremos o Judiciário tendo como função precípua a de acomodar a classe média e a de reprimir os pobres e marginalizados, como aliás sugere o capitalismo internacional, através da reforma que propõe o Banco Mundial para o Judiciário Latino-Americano.

É imprescindível que se lute por um Judiciário garantidor do Estado Democrático de Direito, tendo como função prioritária à estabilidade e continuidade democrática.

Importante dizer que devemos dotar o Judiciário brasileiro de adequadas estruturas para uma democracia moderna.

Deve-se ressaltar que o Judiciário, como qualquer outra instituição, não pode ter uma única função. É possível afirmar que é função manifesta do Judiciário, a jurisdição, ou seja dizer o direito. Dirimir conflitos é função manifesta do Judiciário. Mas não se pode olvidar de que outras funções lhe são cometidas: a de autogoverno e a da Justiça Constitucional, qual seja a de tutelar os direitos fundamentais e o controle constitucional das leis, advertindo o citado professor argentino que – ‘não é possível decidir conflitos sem uma prévia interpretação a lei (o que implica tomar em consideração as normas constitucionais que coroa o edifício na qual a lei se acha imersa), que, inevitavelmente, implica um âmbito de controle sobre o legislador ou uma correção constitucional no alcance de suas palavras”.

Na presidência do Tribunal de Justiça dinamiza a prestação da Justiça, cria a instala Fóruns Integrados, onde, no seu próprio dizer, “dezoito juizes prestam serviços gratuitos que abrangem Registro de Nascimento e Óbito, Casamentos, Ações de Alimento, de Investigação de Paternidade, Separação e Divórcio, Arrolamento de bens, Ações Possessórias e de Usucapião, Ações Cíveis, cujo valor não ultrapasse 40 salários mínimos, assim como o julgamento de crimes de menor potencial ofensivo”, tudo para tornar mais célere os serviços do Judiciário sergipano. Melhorou as instalações, nas várias Comarcas, construiu e reformou prédios de Fóruns, criou novas Varas, ampliou o diálogo com diversos segmentos da sociedade e dedicou atenção especial à cultura, com duas de suas obras, que têm especial importância, tanto para o próprio Poder Judiciário, como para o Estado e o povo de Sergipe: O Memorial do Poder Judiciário e o prédio sede do Arquivo do Judiciário.

Para instalar o Memorial do Poder Judiciário, com uma exposição permanente, foi restaurado, cuidadosamente, o velho edifício do Tribunal de Relação, exemplar da arquitetura do final do século XIX, localizado na Praça Olímpio Campos, nomeado pelo Desembargador Manuel Pascoal Nabuco d’Ávila como Palácio Silvio Romero. O Arquivo Judiciário ganhou um prédio novo e próprio, projeto arquitetônico grandioso, para abrigar e manter o acervo que desde 1982 vem sendo criteriosamente reunido e que atende as demandas internas e serve à pesquisa histórica. Os dois equipamentos – o Memorial e o Arquivo – contribuem para melhor conhecimento da história e do funcionamento do Poder Judiciário de Sergipe.

Aposentado desde 2007, quando completou 70 anos, o Desembargador Manuel Pascoal Nabuco d’Ávila foi substituído pelo advogado e militante da OAB de Sergipe Edson Ulisses de Melo.

Escrevendo em vários jornais, proferindo conferências, algumas delas publicadas, e discursos, igualmente divulgados graficamente, o ex-presidente do Tribunal de Justiça do Estado de Sergipe, assinando-se apenas Pascoal Nabuco publicou Tributo à cidadania – Minha opção de servir à sociedade (Aracaju: Gráfica e Editora J. Andrade, 2006), e atualmente tem trabalhado com a releitura da história política de Sergipe.

Enquanto exercia a Presidência do Tribunal de Justiça do Estado de Sergipe, o Desembargador Manuel Pascoal Nabuco d’Ávila assumiu, em 29 de maio de 2004, o Governo do Estado, por sete dias, na condição de terceiro na linha sucessória. A Vice-governadora Marília Mandarino estava licenciada e o Presidente da Assembléia, deputado Antonio Passos, estava na Europa, acompanhando o Governador João Alves Filho, em viagem de contatos para novos investimentos no Estado. Para o Governador, além do “carinho muito grande pelo Desembargador Pascoal Nabuco, com que aprendi a conhecer no dia-a-dia como chefe da Casa Civil” havia o respeito mútuo e a convivência salutar com o Poder Judiciário.

No seu pronunciamento, o Desembargador disse que era “Feliz do povo cujos chefes dos poderes constituídos vivem em harmonia e mútuo respeito integrados todos na governabilidade do Estado, visando o desenvolvimento e o bem estar de sua população”.

O Desembargador Manuel Pascoal Nabuco d’Ávila recebeu inúmeras homenagens, destacando-se aquela da Universidade Tiradentes, a Medalha do Mérito Parlamentar, da Assembléia Legislativa do Estado, a Medalha João Nascimento Filho, da Câmara Municipal de Estância, o Título de Cidadão Estanciano, da mesma Câmara Municipal, e a Medalha da Ordem do Mérito Serigy, no grau de Comendador, da Prefeitura de Aracaju, a Medalha da Ordem do Mérito Aperipê, no grau de Comendador, concedida pelo Governo do Estado, o Colar do Mérito Tobias Barreto, do Ministério Público do Estado de Sergipe, que guarda como demonstração de apreço e de estímulo ao seu esforço em favor da cidadania. (LAB)

Texto reproduzido do site: portalweb mpse mp br/Memorial