Foto: Reprodução
Publicado originalmente no site do CINFORM, em 10 de fevereiro de 2019
Vi a despedida de Athila
Por Sebastião de Sá Figueiredo*
Acho que foi ele, o menino lagartense Athila Paixão, que vi
domingo passado no Aeroporto de Aracaju. Havia um bocado de pessoas,
possivelmente familiares vindos do povoado Brasília, Lagarto, que estavam ao
seu lado no saguão do lugar vestidas com a camisa do Flamengo.
Faço agora a associação, porque o noticiário da tragédia do
Ninho do Urubu diz que ele viajou de volta no domingo à tarde para o Rio. Em
algum momento me detive no rosto do menino, porque seu tipo físico chamava a
atenção, além das pessoas ao seu lado.
Também olhava para outras pessoas além daquele grupo,
igualmente jovens, supondo que algumas delas iam embora definitivamente de
Sergipe.
Quase menino fui embora para buscar vida nova em outra
cidade. Fui e voltei depois de rodar meio mundo afora. Alguns de meus irmão não
voltaram, assim como outros parentes.
Enquanto ficava mais tempo no lugar, permita-me viajar entre
aspas, chegava mais avião e provavelmente Athila Paixão estava despachando sua
bagagem com a família ansiosa.
Ninguém sabia o que viria depois. Apenas estávamos ali,
desdenhando da vida. Fazia tempo que não ia ao Aeroporto e àquele domingo tinha
sido uma opção acertada e casual para me distrair.
Lembrei, fazia tempo, de uma despedida no Aeroporto de
Maceió, quando viajei para um país da Cordilheira dos Andes e teria que ficar
por quase um ano longe de meus dois filhos. Vendo-os de longe, sofregamente,
enquanto subia pela rampa da aeronave, em 1983.
Depois de tanto mexer com a emoção, era hora de ir embora
nesse domingo; afinal, meu filho me esperava para gozar os últimos momentos do
dia e se preparar para a aula de segunda-feira.
Enquanto isso, imaginava que o rapaz de 14 anos, que vestia
a camisa da base do Flamengo, deveria estar chegando ao seu destino. Lá, onde
ele buscava a vida e acabou chegando, dias depois, à estúpida morte com mais
nove jovens atletas, infelicitando a não só desportistas brasileiros.
Eita mundo não tão surpreendente!
Sobre o Autor:
* Sebastião de Sá é professor aposentado dos cursos de Comunicação
Social na Universidade Federal de Sergipe. Ex-presidente da Adufs (gestão
1995), o entusiasta do radialismo ajudou a trazer e a inaugurar os cursos de
Rádio e Jornalismo no estado.
Texto e imagem reproduzidos do site: cinform.com.br
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