quinta-feira, 10 de outubro de 2019

Carlos Tirso é considerado um dos maiores goleadores do futebol sergipano

Carlos Tirso é considerado um dos maiores 
goleadores do futebol sergipano
Foto: Arquivo/FSF

Publicado originalmente no site [globoesporte.globo.com/se], em 10/10/2019

Histórias incríveis: o dia em que Carlos Tirso virou lenda ao marcar dez gols, ou "onze", em um só jogo

Considerado o maior artilheiro de todos os tempos do futebol sergipano, ele é um dos grandes ídolos da história do Cotinguiba, clube que completa 110 anos neste 10 de outubro

Por Thiago Barbosa — Aracaju

Messi e Cristiano Ronaldo virtuais, nas mãos de um talentoso gamer, certamente já fizeram dez gols em um só jogo. Contudo, os da vida real, apesar de geniais e de conseguirem, há décadas, enfileirar recordes, jamais alcançaram tal feito. Coube a um vigoroso avançado do Cotinguiba, no auge da forma física aos 19 anos, estabelecer essa marca até hoje lembrada por quem viveu o romantismo do futebol sergipano nos anos 50.

Na era do futebol amador em Sergipe, o Cotinguiba, carinhosamente conhecido como Tubarão da Praia, figurava entre os grandes clubes sergipanos, vinha de um título estadual em 1952. No ano seguinte, na tarde de domingo do dia 31 de maio, conseguiu um feito até hoje incomum ao atropelar o modesto Atlético de Cobrinha com um histórico 11 a 1, resultado que não coube no placar do antigo Estádio de Aracaju, como relatou o 'A Cruzada', jornal da época.

"Não é força de expressão, mas o placar não comportou a avalanche de tentos que marcou o campeão do Estado frente ao medíocre quadro do Atlético. Sim, pois o escore de 11 tentos a 1 não era uma numeração adequada para uma partida de futebol. Pelo menos pensava o garoto encarregado de anotar os gols que surgissem na partida. Evidentemente, estava com a razão quando conduziu para o estádio material suficiente para anotar até o máximo de dez gols" - trouxe a publicação.

É consagrada a história entre torcedores, desportistas e cronistas da época que a grande personagem daquela partida foi o atacante Carlos Tirso, pois teria marcado dez gols. Poderia ter sido onze, mas um detalhe tirou dele o décimo primeiro tento, como o próprio contou em uma entrevista ao site oficial da Federação Sergipana de Futebol em 2007.

- Na verdade, foram onze gols. Um deles chutei forte de fora da área, a bola desviou no bum bum do zagueiro e ganhou a linha de gol. O juiz, inexplicavelmente, considerou como gol contra. E não foi - explicou Carlos Tirso.

Só no primeiro tempo, o Tubarão da Praia já vencia por 6 a 0. Marcou os outros cinco gols na etapa complementar, conseguindo, até os dias de hoje, um dos placares mais inusitados de que se tem notícia.

Manchete da época compara o feito do Cotinguiba a um placar de basquete 
Foto: Reprodução/Jornal A Cruzada

Praticamente toda a carreira esportiva de Carlos Tirso foi no Cotinguiba. Além de campeão como jogador de futebol, ele conquistou títulos também como treinador, atuando no futsal e no basquete. No salão, defendeu ainda a seleção sergipana e foi campeão Norte/Nordeste. Faleceu no dia 16 de julho de 2012 aos 78 anos.

- Ele simplesmente marcou a história centenária do Cotinguiba. Um exemplo de atleta dedicado ao esporte e amante do desporto. Foi campeão pelo Cotinguiba como jogador e treinador. Mas não foi só no futebol que ele fez história. Ele jogou basquete pelo Cotinguiba e jogou também no time de futsal que conquistou o primeiro título do clube na modalidade, em 1959 - lembrou Wellington Mangueira, presidente do clube.

Carlos Tirso também foi campeão no Cotinguiba como treinador 
Foto: Arquivo/FSF

Seresta do Tirso

Carlos Tirso, Carlos Ouro, Tirso gol... foram muitas as alcunhas deste atleta aracajuano nascido na década de 30. Depois da aposentadoria como esportista, ganhou o apelido de Carlos Seresteiro. Isso porque aflorou nele também desde cedo a inclinação pela música. Foi um reconhecido seresteiro, gravou até discos. Suas músicas foram reproduzidas nas rádios sergipanas e ele cantou bastante na noite de Aracaju. Aprendeu a tocar e a cantar quando ainda era atleta.

- Quando eu treinava basquete na quadra do Cotinguiba, todos os domingos pela manhã o presidente do clube, o famoso Charuto (outro ídolo histórico do Cotinguiba), levava sua imensa coleção de discos do Orlando Silva e colocava para tocar. Passava a manhã toda ouvindo o cantor em sua época de auge e daí passei a gostar do cantor. Fui ao seu show em 52 e gostei muito. No mesmo momento, o Sr. Bessa fazia um sarau em sua residência com as músicas de Orlando Silva - explicou Carlos Tirso certa vez em uma entrevista ao colunista Osmário Santos.

Lenda do futebol?

Quem acompanhou o futebol sergipano naquele período sempre cita este jogo memorável em que o Cotinguiba aplicou a histórica goleada sobre o Atlético de Cobrinha por 11 a 1. Torcedores e cronistas da época também fazem questão de enaltecer a grande façanha de Carlos Tirso, autor de dez gols. Décadas depois, a diretoria do Tubarão da Praia procurou inscrever o episódio no Guinness Book, o Livro dos Recordes. Mas seria preciso uma prova material de que o fato realmente teria acontecido. Era o tempo em que a televisão ainda estava engatinhando no Brasil, portanto não havia imagens do jogo.

- Durante muito tempo, buscamos documentos que pudessem atestar esse feito histórico do Carlos Tirso. Fomos algumas vezes à Federação Sergipana procurar pela súmula. Entretanto, o documento não existe mais. Houve um incêndio certa vez que destruiu muitos arquivos históricos. Buscamos também jornais da época e não conseguimos encontrar. Quando o Carlos Tirso morreu, tentamos buscar com a família algum documento que ele tivesse guardado, mas não foi possível. Então, essa história atravessa o tempo na memória de quem testemunhou na época e quem viveu aquele período e sempre relembra esse feito que até hoje ninguém alcançou - explicou Wellington Mangueira, mandatário do clube.

Mangueira tentou inscrever o feito de Carlos Tirso no Guinness Book
Foto: Thiago Barbosa

O GloboEsporte.com pesquisou alguns jornais da época e encontrou duas reportagens referentes ao jogo. Na edição do Correio de Aracaju do dia 2 de junho de 1953, a manchete trazia uma dura crítica a atuação do Atlético, mas não há no texto nenhuma menção aos autores dos gols.

Edição do Jornal Correio de Aracaju fala sobre o jogo, mas não cita 
os autores dos gols (Foto: Biblioteca/UFS)

Na edição de A Cruzada de 7 de junho de 1953, existe uma reportagem mais detalhada sobre a acachapante goleada do Cotinguiba, citando 'um placar de basquete' para definir o que aconteceu no antigo Estádio de Aracaju, onde posteriormente foi erguido o Batistão. Porém, a crônica da partida contraria a memória de quem atribui a Carlos Tirso a autoria de todos aqueles gols. Na escalação informada, sequer aparece o nome dele: Albertino, Alfredo e Braz; Zebola, Alvinho e Edgar; Nicinho, Moraes, Wedemo, Nou e Charuto.

A reportagem ainda conta que o primeiro gol foi marcado por Charuto aos 11 minutos do primeiro tempo. O segundo também foi dele, aos 21. Moraes marcou o terceiro aos 23. Tom descontou para o Atlético. Nicinho ampliou, Charuto e Nicinho fecharam o placar do primeiro tempo em 6 a 1. Na etapa complementar, Moraes marcou todos os outros gols.

Matéria de 'A Cruzada' não traz registro da participação 
de Carlos Tirso neste jogo (Foto: Reprodução/A Cruzada)

Nas duas publicações de Viana Filho sobre a história da crônica esportiva e do futebol sergipano, também não há relato específico algum sobre esse dia iluminado de Carlos Tirso. Não se sabe ao certo o que ocasionou essa inconsistência nas informações sobre o fato. Duas hipóteses podem ajudar a explicar isso. A primeira é que esses dez gols, ou "onze", segundo Tirso, tenham sido marcados em um outro jogo perdido no tempo, o que acabou confundindo as testemunhas daquela proeza do mítico atacante. Ou então, como em vários outros 'causos' do futebol, a história nasceu como lenda, ganhou proporção e fincou-se no imaginário popular. Qualquer que seja a explicação, Tirso Gol está imortalizado como um dos maiores gênios do nosso futebol serigy. Os gols e grandes realizações dele estão na memória de quem, um dia, teve a oportunidade de ver Carlos Tirso jogar.

Texto e imagens reproduzidos do site: globoesporte.globo.com/se

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