quinta-feira, 9 de abril de 2020

Lembranças Noturnas da Aracaju de Outrora

 Obra de arte de Ana Denise Souza

Publicado originalmente na Linha do Tempo do Perfil no Facebook de Luduvice José, em 9 de abril de 2020

Lembranças Noturnas da Aracaju de Outrora
Por Luduvice José *

A artista ANA DENISE SOUZA, dona de um naif muito pessoal e plenificado de uma criatividade extraordinária, valoriza sempre, cada pincelada e, oportuniza ao expectador diante de suas telas, incursões valiosas, prenhes de estórias e histórias, o que configura uma visão diferenciada do trivial comum na iconografia artística, potencializando fortemente as suas composições por esta gama de elementares reforços que tornam suas telas fontes, não apenas de admiração, mas de estudo sobre tempo, espaço, ligação com a configuração local e seus costumes.

Esta recém criada tela de Ana Denise Souza é uma apoteose de festas inebriantes que marcaram fortemente a vida de Aracaju e, tornava o mercado local que começava na Avenida Otoniel Dória, um centro de atração, com habitués batendo ponto, num negócio de vender prazer, numa cidade de poucas atrações, que se transformava numa passarela sem ribalta, onde mulheres faziam a vida com valetes de vidas paralelas, em noitadas que aconteciam em pleno Vaticano, denominação dúbia de casas de tolerância que marcaram época na vida noturna de Aracaju, tornando o local abrangente, um comércio variado, salpicado de armazéns que ganharam status e notoriedade, mesclando-se com o mercado do sexo; uma verdadeira zona comercial na proximidade do que se chamou muito de cais. Ana Denise Souza, captadora de surpresas, diferenciais, etnias, costumes, , reavivou com sua arte, escaninhos de ninhos que senhores conhecidos, muitos notáveis, se regalavam em priscas eras de escondidas aventuras que eram contadas e recontadas em círculos fechados como troféus auferidos, que empalavam a licenciosidade que pululava ante uma cultura que rendeu, inclusive frutos humanos que, posteriormente ficaram difíceis esconder, pois ganharam domínio público, com a alcunha de filhas e filhos bastardos. Agora a artista sergipana, futucando o tempo e a memória, ressuscita em tela para testemunho e conhecimento das gerações que chegaram pós e continuam chegando neste hiato entre o ontem e o hoje, contando num belo e arrojado naif e policrômicas imagens, enredos que darão muito o que conversar, além de desvendar mistérios que ainda se escondem sem sobrenomes reais.

Uma revista no local e uma olhada no que restou, invoca-se a imaginação e as conversas que revolvem realidades esquecidas e, todas estórias ganham sentido. E a genialidade da pintora dá vida ao local festivo, remontado-se em cada imaginário, imagens que ganham vida na vida de alguns remanescentes senhores que, ainda devem, num revival imagético, situarem-se em alcovas acetinadas, iluminação num palco cativo, entre imagens de rodopios revividos, entre a realidade curtida e a efetiva paragem recreativa, que resguardam em miragens que ainda mostram réstias de prazeres, rostos e corpos esquecidos.

* Jornalista e crítico.

Texto e imagem reproduzidos do Facebook/Luduvice José

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