Foto: Carlos Cauê
Publicado originalmente no site JLPOLÍTICA, em 07 de Jul de
2020
Opinião - Um adeus a Amaral Cavalcante
Por Edson Júnior * (Coluna Aparte)
Nesta terça-feira, 7.7, comecei o dia com uma daquelas
notícias que a gente torce que seja uma brincadeira fora de época de 1º de
abril - o dia da mentira -, mas que logo descobrimos se tratar de uma terrível
verdade.
Na madrugada deste 7, o jornalista e poeta Amaral Cavalcante
fez sua passagem para o plano celestial. Sentiu-se mal em sua residência, foi
levado a um hospital, mas infelizmente veio a óbito.
O jornalismo e a cultura ficam órfãos desse genial cronista,
que contava a vida como se ela passasse em frente ao leitor. Amaral transmutava
as pessoas para a cena do que escrevia com um repertório vocabular simples e
também erudito. Fazia-se compreendido por todos.
Ninguém descreveu os movimentos de contracultura e as
décadas de 70 e 80 como Amaral, mais um simãodiense de “peia” que brilhou em
nosso Estado. Contou muitas passagens desse município, pródigo em talentos da
cultura e da política.
Foi também ator, produtor cultural e fundador do jornal
alternativo Folha da Praia, onde revelou brilhantes nomes do jornalismo
sergipano e fez a alegria nos bares da Orla da Atalaia. A edição do jornal era
presença certa nas mesas durante a cervejinha e o caranguejinho domingueiro.
O Folha da Praia era mais aguardado que os petiscos. Entre
uma conversa e um gole de cerveja, os olhos bebuns, como periscópios, caçavam o
entregador do jornal para disputar um exemplar. Muitas vezes a tiragem não dava
para quem queria: chegava e acabava.
Mas o espírito coletivo de Amaral reinava e quem já tinha
lido o exemplar cedia para quem estava na orfandade. E o Folha da Praia chegava
para todos, como um milagre da multiplicação.
Amaral deixou obras escritas e muitas crônicas em seu perfil
no facebook. Um espaço de abstração dos dias chatos. Várias vezes fugi de
domingos modorrentos encontrando em Amaral um pouco de anarquia e breve licença
da realidade. Sempre me recuperava com seus “causos”. E o dia ficava divertido.
Nosso poeta também integrou a Academia Sergipana de Letras.
Tornou-se um imortal. Foi um sopro de alegria e de qualidade nessa confraria de
letras que ele desfilou com galhardia e mérito.
Atrevo-me, sem receio, a dizer que ele não apenas foi
honrado com a láurea, como fez a academia se sentir honrada com um membro de
tão alto calibre, que como poucos conhecia a magia de articular letras,
transformando signos em vida bem vivida. Um bruxo das palavras.
E uma de suas alquimias recebe o nome de Cumbuca, revista
cultural com a assinatura e editoria de Amaral Cavalcante. Um espaço da
sergipanidade, com o refino de quem trilhou esse caminho e o venceu.
“Desde o início procuramos pautá-la (a revista) em função de
certa atemporalidade, abordando temas contemporâneos e registrando fatos
notáveis da nossa memória cultural, de modo a remetê-la ao interesse dos
leitores, agora e num futuro qualquer”, registrou o imortal em entrevista ao
Jornal do Dia, edição de 14 de março de 2018.
É e no presente, ou "num futuro qualquer", que
sempre encontraremos Amaral Cavalcante, seja em uma leitura, uma lembrança, ou
um dia chato para buscarmos nele uma inspiração.
Amaral Cavalcante partiu mas está entre nós através do seu
legado de vida, para que hoje e sempre possamos falar dos seus causos como ele
os contou, sem tirar nem pôr. Vamos falar de um tal Amaral Cavalcante, poeta
que fez da vida um lugar bom para passar os dias. Até breve, Amaral!
* É jornalista.
Texto e imagem reproduzidos do site: jlpolitica.com.br
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