terça-feira, 24 de janeiro de 2023

'O que a gente escreve...', por Paulo Roberto Dantas Brandão

Artigo compartilhado do Facebook/Paulo Roberto Dantas Brandão, de 23 de janeiro de 2019

O que a gente escreve...
Por Paulo Roberto Dantas Brandão

Nem sempre o que a gente escreve tem repercussão.  Ou tem a repercussão que o autor esperava.  Aprendi na prática, nos meus tempos na velha Gazeta.

Lá, na Gazeta, eu escrevia uma coluna chamada Tribuna.  Dividia o espaço com Luis Antônio Barreto e Gilvan Manoel.  Ao mesmo tempo era economista na Federação das Indústrias, e lá recebi previamente, antes da divulgação geral, um relatório sobre o Desenvolvimento Humano do PNUD, Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, para apreciação.  Como era um assunto que me fascinava, preparei um artigo sobre.  Estudei, li e reli, escrevi e reescrevi.  Conclui que a análise estava muito boa e teria uma baita repercussão.  Assim que o relatório foi liberado para divulgação, estava com meu artigo pronto.  Outra lida no que escrevi para melhorar a apresentação, uma penteada aqui outra ali, e voilà.  Publicado, esperei análises, comentários, quiçá parabéns, e nada.  Ninguém leu, ninguém deu a menor atenção.  Provoquei alguns amigos, e o máximo que recebi foi um “há vi!”.  Um foi ao ponto, vi seu artigo, mas o assunto é chato.  Decepção geral.

Poucos dias depois, já do meio para o final da tarde, ligam-me das oficinas da Gazeta.  Paulinho, só está faltando sua coluna para fecharmos a página.  Ok, estou indo para aí, e entrego logo a bendita coluna.  Mentira.  Não tinha ideia do que ia escrever.  Branco total.  Normalmente pela manhã lia os jornais, e já escolhia o tema.  Nesse dia nada, zero.

Peguei o carro e segui para a redação.  Não conseguia pensar sobre o que escrever.  Aí, num sinal, para ao meu lado um carro da polícia.  Um Santana, lembro bem.  Chamou-me a atenção porque o carro estava muito bem conservado, em estado de novo como dizem os vendedores.  E mais, estava brilhando, reluzente, algo raro em carros de polícia.  Ele se adiantou um pouco, e vi o brasão da unidade no vidro traseiro: uma caveira, sobre duas metralhadoras cruzadas, e mais algumas coisas do gênero.

Na falta de outro tema, foi esse mesmo para a coluna.  O brasão da polícia no carro.  A pergunta que abriu a coluna era “por que o símbolo da polícia tem que ser uma caveira e armas?”  Fiz uma análise meio apressada mostrando que não se podia relacionar polícia com morte.  Que isso era um desvio.  E perguntei, depois, por que o símbolo da polícia não podia ser uma flor.  Fiz mais algumas piadinhas, e mandei a coluna para complementar a página em aberto e satisfazer ao pessoal da oficina.

No outro dia cedo uma baita repercussão.  Gente me telefonou.  A polícia deu suas explicações.  Todo mundo comentava e até virou assunto político.  Um amigo meu oficial da polícia e grande gozador ligou para saber se eu queria policiais frescos, desatando a rir.  E durante alguns dias só se falou nisso.  E, parece-me que pelo menos por um tempo retiraram os brasões das caveiras dos carros da PM.

Até hoje eu me pergunto onde foi que errei.  O mesmo acontece hoje nas redes sociais.  As vezes escrevemos coisas que achamos inteligentes, e são tão ruins que ninguém lê.  Noutros dias enchemos linguiça para dizer apenas que estamos vivos, e a repercussão é grande.

Texto e imagem reproduzidos do Facebook/Paulo Roberto Dantas Brandão

Nenhum comentário:

Postar um comentário