Artigo compartilhado do Facebook/Paulo Roberto Dantas Brandão, de 23 de janeiro de 2019
O que a gente escreve...
Por Paulo Roberto Dantas Brandão
Nem sempre o que a gente escreve tem repercussão. Ou tem a repercussão que o autor esperava. Aprendi na prática, nos meus tempos na velha Gazeta.
Lá, na Gazeta, eu escrevia uma coluna chamada Tribuna. Dividia o espaço com Luis Antônio Barreto e Gilvan Manoel. Ao mesmo tempo era economista na Federação das Indústrias, e lá recebi previamente, antes da divulgação geral, um relatório sobre o Desenvolvimento Humano do PNUD, Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, para apreciação. Como era um assunto que me fascinava, preparei um artigo sobre. Estudei, li e reli, escrevi e reescrevi. Conclui que a análise estava muito boa e teria uma baita repercussão. Assim que o relatório foi liberado para divulgação, estava com meu artigo pronto. Outra lida no que escrevi para melhorar a apresentação, uma penteada aqui outra ali, e voilà. Publicado, esperei análises, comentários, quiçá parabéns, e nada. Ninguém leu, ninguém deu a menor atenção. Provoquei alguns amigos, e o máximo que recebi foi um “há vi!”. Um foi ao ponto, vi seu artigo, mas o assunto é chato. Decepção geral.
Poucos dias depois, já do meio para o final da tarde, ligam-me das oficinas da Gazeta. Paulinho, só está faltando sua coluna para fecharmos a página. Ok, estou indo para aí, e entrego logo a bendita coluna. Mentira. Não tinha ideia do que ia escrever. Branco total. Normalmente pela manhã lia os jornais, e já escolhia o tema. Nesse dia nada, zero.
Peguei o carro e segui para a redação. Não conseguia pensar sobre o que escrever. Aí, num sinal, para ao meu lado um carro da polícia. Um Santana, lembro bem. Chamou-me a atenção porque o carro estava muito bem conservado, em estado de novo como dizem os vendedores. E mais, estava brilhando, reluzente, algo raro em carros de polícia. Ele se adiantou um pouco, e vi o brasão da unidade no vidro traseiro: uma caveira, sobre duas metralhadoras cruzadas, e mais algumas coisas do gênero.
Na falta de outro tema, foi esse mesmo para a coluna. O brasão da polícia no carro. A pergunta que abriu a coluna era “por que o símbolo da polícia tem que ser uma caveira e armas?” Fiz uma análise meio apressada mostrando que não se podia relacionar polícia com morte. Que isso era um desvio. E perguntei, depois, por que o símbolo da polícia não podia ser uma flor. Fiz mais algumas piadinhas, e mandei a coluna para complementar a página em aberto e satisfazer ao pessoal da oficina.
No outro dia cedo uma baita repercussão. Gente me telefonou. A polícia deu suas explicações. Todo mundo comentava e até virou assunto político. Um amigo meu oficial da polícia e grande gozador ligou para saber se eu queria policiais frescos, desatando a rir. E durante alguns dias só se falou nisso. E, parece-me que pelo menos por um tempo retiraram os brasões das caveiras dos carros da PM.
Até hoje eu me pergunto onde foi que errei. O mesmo acontece hoje nas redes sociais. As vezes escrevemos coisas que achamos inteligentes, e são tão ruins que ninguém lê. Noutros dias enchemos linguiça para dizer apenas que estamos vivos, e a repercussão é grande.
Texto e imagem reproduzidos do Facebook/Paulo Roberto Dantas Brandão
Nenhum comentário:
Postar um comentário